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Vitalino com louvor

Auto das 7 luas de barro. Foto: Pollyanna Diniz

Ô Mestre Vitalino!
Muito obrigada. Por ter retratado de forma tão singela e eficaz o nosso povo. Somos tantas vezes bonecos mesmo – e de barro, não há dúvida. Se não tomar cuidado, como bem disse o senhor, chega dá uma dó! Quebra tudinho tão fácil! Obrigada por que a sua história não se encerra no senhor mesmo; se repetiu tantas vezes. Como lembrei de Ana das Carrancas, de Petrolina, e suas carrancas de olhos furados; como lembrei do Seu Nuca, dos seus leões de cachinhos, da situação tão precária em que certa vez o entrevistei. De cortar o coração.

E sua história vai além – fala de cada homem simples. Das conversas nas vendas e nas feiras. Muito boas as suas respostas para quem se faz de besta e metido. Que de dialética só entende na teoria. Muito bom o seu agradecimento diante dos tantos prêmios e homenagens que…de tutu mesmo, não trouxeram nada!

Muito obrigada, Vital Santos. Por ter traduzido de forma tão linda essa história em Auto das 7 luas de barro. Pela forma como você consegue reunir poesia, música, dizer tudo que é preciso, evocar sentimentos e não ser piegas (talvez piegas esteja sendo eu agora…). Lindo texto, linda direção. Transformar os atores da Cia Feira de Teatro Popular de Caruaru em bonecos é uma sacada tão simples e que funciona perfeitamente no palco. Sua iluminação nos leva à beira do rio, ao barro, ao forno onde esse barro é assado. A música ao vivo nos transporta para o Alto do Moura, para a casa simples, para a vida noutros tempos.

Cia Feira de Teatro Popular de Caruaru

A todos do elenco (Iva Araújo, William Smith, Walter Reis, Adeilza Monteiro, Nadja Morais, Jailton Araújo, Gilmar Teixeira, Mateus Souza, Gil Leite e Edu Oliveira, que fica de stand by) e aos músicos (Jadilson Lourenço e Israel Pinheiro), muito obrigada. Vocês dão vida à dramaturgia e fazem tudo de maneira tão simples. É o povo de Caruaru que está em cena, são os bonecos, é a feira, somos nós. É o nosso espírito, a nossa alegria. E por isso o reconhecimento é inevitável.

Sebá Alves em cena como mestre Vitalino

Sebá Alves. Não citei seu nome entre os atores por que o agradecimento a você tinha que ser em separado. Desde o início desse texto, desde a noite de ontem, no Teatro Barreto Júnior, eu já pensava em como iria te agradecer. Você me faz chorar enquanto escrevo na tarde seguinte. Só a sua lembrança no palco me emociona, assim como emocionou tanta gente. Sua força, sua garra, seu amor pela arte, sua coragem em subir naquele palco – tendo chegado há cinco minutos do hospital. Talvez você me diga que isso nem é coragem, não é mesmo? Entendo. É missão. É respirar direito quando se está no palco, diante de uma plateia. E por isso é tão mágico. Nunca mais vou esquecer o seu Mestre Vitalino, disso tenha certeza. Muitos outros podem vir. Afinal, como você mesmo disse, o Auto das 7 luas de barro é visto desde 1979 e será visto em mais 30 anos. Que assim seja! Mas você será para sempre o meu Vitalino.

(A montagem Auto das 7 luas de barro, texto e direção de Vital Santos, da Cia Feira de Teatro Popular de Caruaru, foi encenada ontem, no Teatro Barreto Júnior, dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos).

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Ópera de Albéniz é apresentada pela 1ª vez na América Latina

José Renato Accioly é o diretor musical e regente de Pepita Jiménez. Fotos: Festival Debussy/Albéniz

O Teatro de Santa Isabel recebe hoje e amanhã, às 20h, a ópera Pepita Jiménez. É uma comédia lírica em dois atos, composta pelo espanhol Isaac Albéniz, a partir da novela homônima do político, diplomata e escritor argentino Juan Valera. “É uma comédia lírica, mais popular. Conta a história de uma viúva que se apaixona por um seminarista, mas está prometida ao pai dele”, explica a pianista Elyanna Caldas, diretora artística do festival Debussy-Albéniz, que foi realizado durante todo o mês de setembro e será encerrado com a ópera.

Esta é a primeira vez que essa ópera é apresentada na América Latina. “O argumento de Pepita Jiménez gira em torno do despertar do amor do jovem seminarista Luis de Vargas, que antes de pronunciar seus votos regressa a seu povoado para passar o verão. Ali conhecerá a jovem viúva, Pepita, pela qual se enamora e com a qual o seu pai pretende se casar. A luta entre o amor e a vocação – tema que vai aparecer também em La Dolores, de Tomás Breton –, e a figura paterna, em quem Don Luis vê um rival, atormentam o jovem futuro sacerdote, que trata de se distanciar de sua amada e do povoado. Mas quando Pepita ameaça suicídio, caso ele vá para longe dela, se impõe um final feliz e os enamorados terminam juntos”, antecipa Maria Luz González Peña, diretora do Centro de Documentação e Arquivo da Sociedade Geral de Autores e Editores de Madri, no programa do festival Debussy-Albéniz.

Cantores, músicos e atores se dedicam desde março para que a obra possa sair do plano das ideias. A direção de cena é assinada por Marcelo Gama, paulista que mora há 20 anos na Europa e assina o segundo trabalho deste porte no Brasil (o primeiro foi Dido e Eneas em São Paulo, em 2009). A direção musical e regência são de José Renato Accioly: ele vai reger a Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório. Quem fará Pepita é Anita Ramalho, que já participou de quatro óperas; o elenco tem entusiastas da ópera no Recife, como a mezzosoprano e professora Virgínia Cavalcanti.

As duas apresentações são gratuitas. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro. A produção solicita que o público leve um quilo de alimento não-perecível, que será doado a instituições carentes.

Ficha técnica:

Pepita Jiménez (Comédia Lírica em dois atos)
Libreto de Francis B. Money-Coutts com tradução para o castelhano de José Soler

Virgínia Cavalcanti está no elenco da ópera

Anita Ramalho – soprano (Pepita)
Virginia Cavalcanti – mezzo soprano (Antoñona)
Jadiel Gomes – tenor (Don Luis)
Charles Santos – baixo (O Vigário)
Eudes Naziazeno – tenor (Don Pedro)
Hedielson Rodrigues – tenor (O Conde)
Daniel Francisco – tenor (1º Oficial)
Amaury Veras – tenor (2º Oficial)
Marcelo di Paula – bailarino

Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música
José Renato Acioly – regente

Coro lírico
Sopranos I: Clara Natureza | Florisbela Campos | Josiane Emmanuele | Natália Duarte | Kellyta Martins | Tarcyla Perboire
Sopranos II: Ângela Barbosa | Amanda Coelho | Amanda Mangueira | Mariane Mariz | Norma Lopes
Contraltos e Mezzo-Sopranos: Débora Barros | Rafaela Almeida | Vanessa Santana | Waldcelma Silveira | Surama Ramos
Tenores: Amaury Veras (2º Oficial) | Daniel Francisco (1º Oficial) | Lucas Melo | Manoel Theophilo | Sealtiel Sergio
Baixos e Barítonos: Adriano Sampaio | Adriano Soares | Alysson Dinoá | André Arruda | Ricardo Alves | Riva Gervásio

Equipe artística
Diretor musical e regente: José Renato Accioly
Diretor de cena: Marcelo Gama
Direção do balé: Lucia Helena Gondra e Ruth Rosenbaum
Preparadora do balé: Jane Dickie
Preparadores do coro: Armindo Ferreira e Virginia Cavalcanti
Pianistas correpetidores: Rachel Casado e Glauco César
Bailarinas: Alunas do Stúdio de Danças
Cenografia e figurino: Marcondes Lima
Iluminação: Luciana Raposo Recebemos a informação de que a iluminação foi, na realidade, de Cleison Ramos e Dado Sodi

SERVIÇO:
Pepita Jimenez
Quando: Sábado (1) e domingo (2), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Recife)
Quanto: Gratuito. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro
Informações: (81) 3355-3323

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De janeiro a janeiro, tem festival!

Essa febre que não passa (foto) e Aquilo que meu olhar guardou para você estarão no Festival de Curitiba. Foto: Ivana Moura

Duas montagens pernambucanas – Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro, e Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth – estão na programação da mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba. Depois do Janeiro de Grandes Espetáculos e do hiato no mundo das artes – para tudo que não é música e folia carnavalesca, claro – é Curitiba quem abre o calendário de festivais de teatro no país.

De janeiro a janeiro, tem festival em vários lugares do Brasil, com enfoques e objetivos diferentes, mas sempre proporcionando a circulação dos espetáculos e, geralmente, o acesso do público a montagens que dificilmente conseguiriam ser vistas sem o suporte de um festival – já que não há patrocínio para todas as peças e bilheteria definitivamente não garante a possibilidade dos grupos viajarem.

Conversamos com diretores e curadores dos principais festivais do país – Festival de Curitiba, Porto Alegre em Cena, Londrina, Festival de São José do Rio Preto, Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac), Cena Contemporânea e Tempo_Festival. Procuramos saber quais as propostas para este ano e, mais ainda, tentamos revelar os méritos de cada um deles para, de alguma forma, contribuir para que os nossos próprios festivais (ao menos os três maiores) – Janeiro de Grandes Espetáculos, Palco Giratório e Festival Recife do Teatro Nacional (esses também foram ouvidos, obviamente) – consigam avançar (ou também servir de espelho) em diversos aspectos.

Curitiba, por exemplo, recebe muitas críticas de que prioriza e incentiva na cidade a proliferação do teatro comercial. Apesar disso, o festival que já vai para a 21ª edição é, indiscutivelmente, um dos mais bem-sucedidos do Brasil. Consegue reunir produções de qualidade na cena nacional, inclusive muitas estreias acontecem lá, e ainda fomentar o experimentalismo, graças à mostra paralela intitulada Fringe, que foi inspirada no Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia. Este ano, o Fringe deve ter 368 espetáculos. O grupo Magiluth, que nunca participou do festival, além de estar na mostra oficial, apresenta outros dois espetáculos: 1 Torto e O canto de Gregório, numa mostra dentro do Fringe organizada pela Companhia Brasileira de Teatro, que será realizada no Teatro HSBC.

Los pájaros muertos abre festival no Paraná

A mostra oficial do festival, que acontece entre 27 de março e 8 de abril, terá 29 espetáculos de seis estados brasileiros – São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco -, além de dois internacionais – da Espanha e da Inglaterra. “Apesar dessas atrações, não queremos ser um festival internacional. O nosso grande mote é a produção nacional e mantemos esse foco”, explica Leandro Knopfholz, um dos criadores e diretor geral do evento.

A abertura da mostra será com a peça espanhola Los pájaros muertos; mas o festival tem ainda duas remontagens da companhia carioca Os Fodidos Privilegiados – O casamento e Escravas do amor -, as duas textos de Nelson Rodrigues; a estreia de Eclipse, do grupo Galpão; e de Licht & Licht, da Cia de Ópera Seca; e ainda montagens como Gargólios, de Gerald Thomas; O idiota, de Cibele Forjaz; e O libertino, de Jô Soares.

Recorte holandês no Rio de Janeiro

Qual o teatro feito na Holanda? Você já se fez essa pergunta? Os diretores e curadores Márcia Dias, Bia Junqueira e César Augusto, do Tempo_Festival das Artes – Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro, já. Tanto que um recorte dessa cena teatral poderá ser visto entre 5 e 12 de outubro no chamado 2° Tempo do festival. “O festival é realizado em três tempos: o primeiro é dedicado ao pensamento – trazemos artistas internacionais para fazer residência, debates, encontros com filosófos, pessoas de outros segmentos. Já o segundo é aquele dedicado à programação artística propriamente dita. E há ainda o Tempo_Contínuo, que é o site, um suporte permanente”, conta Márcia.

Para quem duvida sobre o quanto o teatro na Holanda é profícuo, Márcia Dias responde: “Estou com material de mais de 60 espetáculos, entre teatro e dança, para que possamos fazer a curadoria”. Ano passado, o Tempo fez um recorte da cena argentina – inclusive co-produziu (com o Festival Internacional Santiago a Mil, o Festival d’Automne de Paris e a Maison des Arts et de la Culture de Créteil, na França), O vento num violino, do Teatro Timbre 4, que esteve pela primeira vez no Recife no último Janeiro de Grandes Espetáculos.

Espetáculo do grupo argentino Timbre 4 foi co-produzido por festival carioca

Londrina tem o festival de teatro mais antigo do Brasil

O festival de teatro mais antigo do Brasil é o Festival Internacional de Londrina – Filo. São 44 anos (a mostra só não foi realizada uma única vez e, por isso, o festival vai para a sua 43ª edição) e a programação inclui não só teatro, mas dança, circo, música. “Tentamos montar uma programação diversificada. E conseguimos uma média de 80, 90 e até 100 mil pessoas por edição”, conta o diretor da mostra, Luiz Bertipaglia.

A relação do Filo com a cidade, explica Bertipaglia, é bastante especial. “O festival tem 44 anos e a cidade 77. O festival foi crescendo com Londrina. As pessoas entendem que o festival faz parte da história da cidade”. Outra facilidade com relação à público é que Londrina não é tão grande – tem cerca de 600 mil habitantes e aí as ações conseguem ser mais efetivas junto ao espectador.

Segundo o diretor, a cena teatral londrinense foi impulsionada pelo Filo. “Muitas companhias foram criadas em função do festival. E acho que foi fundamental também para a criação, em 1998, do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual”.

Grupo belga vai encenar texto de Alejandro Jodorowsky no Filo

As inscrições para os grupos nacionais no Filo terminaram no dia 9 de fevereiro. A curadoria dos internacionais é feita pelo próprio Luiz Bertipaglia. Em primeira mão, o diretor nos confirmou a apresentação de The ventriloquist’s school, do grupo belga Poit Zero (um texto de Alejandro Jodorowsky), e Translunar paradise, montagem do grupo da Inglaterra Theatre Ad Infinitum (uma história sobre vida, morte e amor eterno que começa depois que a esposa de William morre e ele vai para uma ilha da fantasia, das suas memórias passadas). O festival será realizado entre 8 e 30 de junho.

Teatro africano no Distrito Federal

Geralmente o festival Cena Contemporânea, de Brasília, é realizado em agosto ou setembro. Esse ano, no entanto, será um pouco mais cedo: de 17 a 29 de julho. Guilherme Reis, coordenador do festival, diz que a mudança é por conta de um convite da Universidade de Brasília (UnB), que está completando 50 anos. “Vamos fazer uma edição especial, voltada para América Latina e África. Em 1987 e 1989, a UnB realizou o Festival Latino Americano. Por isso essa ação”, explica Reis que garante que terá liberdade para realizar suas escolhas, de forma independente da universidade.

El rumor del incendio, do México, estará no Cena Contemporânea

“Tenho uma oferta grande de espetáculos africanos e algumas co-produções que passam também por Portugal, Canadá e Espanha”. A grade de programação ainda não está fechada, mas o coordenador adianta que devem ser 12 ou 13 espetáculos internacionais, sendo seis ou sete latino-americanos e o restante de espetáculos africanos, além da produção nacional com a presença de montagens de diretores como Henrique Dias e Cibele Forjaz. Dos internacionais, estão confirmados The butcher brothers, da África do Sul, e El rumor del incendio, do México.

O Cena é um festival privado que nasceu em 1995, mas está indo para a 13ª edição. “Em alguns anos, não conseguimos realizar. Mas desde 2003 não paramos mais. Brasília tem uma situação atípica com relação a apoio. Pela primeira vez, ano passado, recebemos incentivo do Distrito Federal”, conta Reis. Um dos méritos do Cena é envolver a cidade – mesmo quem não vai ao teatro, não fica ileso ao Ponto de Encontro, um espaço montado na Praça do Museu Nacional da República, que abriga apresentações musicais.

Teatro de dois em dois anos

O Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FitBH), em Minas Gerais, acontece de dois em dois anos. “Essa já era a proposta desde que ele foi criado, em 1994. Era para ter fôlego mesmo, para fazer sempre um grande festival”, explica Marcelo Bones, diretor do evento que, ao lado da diretora Yara de Novaes e da atriz Grace Passô, fará a curadoria da mostra. O evento está marcado para acontecer entre 12 e 24 de junho. A grade de programação ainda não está fechada, mas já há algumas definições. Bones adianta que devem ser 12 espetáculos internacionais, 15 nacionais e ainda 10 montagens de Belo Horizonte – que ocupam não só os palcos dos teatros, mas também as ruas.

“Vamos trabalhar a partir de três conceitos: o teatro e a cidade; o teatro e outras linguagens artísticas; e a cooperação e o intercâmbio entre criadores”, explica Marcelo Bones. O festival, que vai para a 11ª edição, é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte – responsável por 60% dos custos do evento. “Apesar de depender da agenda política, é um evento consolidado, importante para a cidade. Todas as pessoas sabem que o evento está acontecendo, gera movimentação”, diz o diretor.

Expandindo fronteiras

Where were you on January 8th? integrou programação do festival em São José do Rio Preto ano passado

O teatro contemporâneo é sempre o mote do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (Fit). Cerca de 40 companhias participam da programação que, este ano, vai de 4 a 14 de julho. Para se ter uma ideia, o festival recebeu 570 inscrições de grupos interessados em participar – desses, seis são pernambucanos. A curadoria é formada por Kil Abreu (que, durante quatro anos, foi curador do Festival Recife do Teatro Nacional), Sérgio Luis Venitt de Oliveira, Beth Lopes e Natália Noli Sasso. “Como festival internacional, estamos indo para a 12ª edição, mas o festival já tem 43 anos. Só na época da ditadura militar é que a programação não aconteceu uns dois ou três anos”, conta Marcelo Zamora, diretor do Fit.

“A gente achava que o festival precisava do recorte internacional”, complementa Zamora. O festival é realizado pela prefeitura, embora, o órgão seja responsável por apenas 10% do orçamento. “Somos um festival que vai atrás de propostas mais radicais, conceituais, com riscos maiores. E isso é sempre uma provocação para o nosso público”, diz o diretor. 60% da programação do festival em São José do Rio Preto, em São Paulo, é gratuita.

Relacionamento internacional

Em 18 anos, o festival Porto Alegre em Cena conseguiu estabelecer uma relação invejável com grupos internacionais. Muitas companhias vêm ao Brasil apenas para se apresentar lá. Ano passado, por exemplo, o diretor Bob Wilson só passou por Porto Alegre com A última gravação de Krapp, em que ele mesmo está em cena. “O trabalho sério e de respeito aos grupos ampliou muito os contatos do festival. É um meio onde as informações circulam. Então hoje conversamos com o mundo inteiro e, quando há um cenário propício, convidamos esses grupos”, diz Luciano Alabarse, que além de diretor é muito da alma do festival de Porto Alegre.

Bob Wilson era o diretor e o ator de A última gravação de Krapp, espetáculo apresentado no último POA em Cena. Foto: Mariano Czarnobai/Divulgação

Apesar de toda dedicação de Alabarse, a mostra não é privada, mas realizada pela Secretaria de Cultura da cidade. “A equação da qualidade é um grande desafio. Harmonizar a burocracia pública com a agilidade requerida por um festival internacional de grande porte é difícil. Há momentos em que penso em pegar em armas”, brinca Alabarse. “Importante é que não haja concessões artísticas. O festival não flerta com sucessos televisivos, celebridades duvidosas, peças de apelo comercial. O que está em jogo é a discussão cênica que faz diferença. Essa postura estabelece limites”, complementa.

Como um festival que já tem uma carreira consolidada, as negociações para que os grupos participem do POA em Cena podem durar anos. “Em 2012, o Berliner Ensemble vai visitar Porto Alegre pela primeira vez. O compositor inglês Michael Nyman, da mesma forma. E o Fuerza Bruta, sucesso mundial, vai aterrisar nos pampas. Essas são atrações já confirmadas”, adianta Luciano Alabarse.

O mais jovenzinho entre os festivais

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac) só teve quatro edições e, ao que parece, um longo percurso pela frente. A data da próxima edição já está marcada: será de 28 de setembro a 6 de outubro. “Como nos anos anteriores, não direcionaremos a seleção em torno de um conceito pré-definido. Adotamos um caráter mais panorâmico, buscando alcançar uma mostra caracterizada pela diversidade e levando espetáculos que, de alguma forma consideramos, significativos, seja pela proposta de inovação na linguagem, aposta em um processo artístico ou experimentação, ou pelo ineditismo de grupos ou artistas importantes”, explica Ricardo Libório, coordenador do Fiac.

Um dos desafios do festival, aliás, não só dele, mas de praticamente todos no Brasil, é a formação de plateia. “Estamos amadurecendo algumas ações, que vão desde a ampliação do número de sessões por espetáculos, o fortalecimento de nossa coordenação de formação de platéias e a busca de parcerias estratégicas com a Secretaria de Educação, além de buscar modelos de promoção focada em grupos específicos que tenham potencial de ampliar o público ‘consumidor’ de teatro, para beneficiar não apenas o alcance do Festival em si, mas a atividade teatral em Salvador ao longo de todo o ano”, finaliza. A grade do festival ainda não foi definida.

OS PERNAMBUCANOS

Janeiro de Grandes Espetáculos faz escala em Portugal

O próximo Janeiro de Grandes Espetáculos pode ser aberto por uma montagem idealizada na ponte áerea Recife – Portugal. A ideia é que cinco atores daqui façam um intercâmbio com o Centro Póvoa de Lanhoso, que fica na vila de mesmo nome no distrito de Braga. O projeto é de Paulo de Castro, um dos produtores do festival, ao lado de Paula de Renor e Carla Valença. “Ainda estamos fechando os detalhes; porque devemos lançar uma seleção para essa escolha. Queremos proporcionar essa vivência com um centro internacional”, explica Paula de Renor.

Curadores do Janeiro pensam em estruturar intercâmbios e parcerias

Desde 2011, o Janeiro de Grandes Espetáculos é um dos integrantes do Núcleo de Festivais Internacionais do Brasil. “Aqui em Pernambuco, somos o único festival internacional. E o que queremos realizando parcerias é melhorar a programação e ainda trabalhar o público para essas montagens, porque as pessoas ainda têm receio da qualidade; talvez pela língua, embora as montagens tenham legenda sempre que preciso”, comenta Paula.

Realmente, não são todas as montagens internacionais que empolgam o público mesmo – ao contrário da programação das peças locais. É delas, independente de quantos meses ficaram em cartaz durante o ano anterior, o maior público do festival. “Esse é realmente o nosso foco. Dar visibilidade à produção local e possibilitar melhorias na cadeia do teatro para o resto do ano”, complementa Paula.

Além do intercâmbio com Portugal, provavelmente começam aqui as comemorações dos 20 anos da companhia Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, no Janeiro do próximo ano. “Queríamos fazer uma residência com atores daqui e talvez com outros grupos. O Teatro Timbre 4, por exemplo, da Argentina, quer voltar com outros dois espetáculos. Achamos que talvez o formato de vivência seja mais interessante do que a oficina”, diz a produtora.

Espetáculo de Petrolina abre o Palco Giratório em maio

É do Sesc o festival que proporciona a maior circulação de espetáculos no país – o Palco Giratório. Em Pernambuco, além de promover a exibição de montagens em vários locais do estado, em maio, Recife recebe uma edição especial do Palco Giratório. Será praticamente um mês inteiro de programação – incluindo os espetáculos que estão circulando nacionalmente e ainda montagens convidadas, entre elas espetáculos internacionais. Este ano, o Palco Giratório no Recife será aberto no dia 4 de maio, com o espetáculo Eu vim da Ilha, da Companhia de Dança do Sesc Petrolina, no Teatro Barreto Júnior, que ganhou o Prêmio Apacepe 2012 de melhor espetáculo de dança pelo júri oficial – por conta da apresentação no Janeiro de Grandes Espetáculos.

Dois motes especiais: 15 anos e Nelson Rodrigues

Este ano, o Festival Recife do Teatro Nacional vai comemorar 15 primaveras. Como “adolescente” está no momento de repensar o seu papel para a cidade. “Sou positivo, otimista. Espero um festival muito bom. Nas conversas internas, a ideia é que a gente proponha que o mote para o festival seja essa data: os 15 anos”, explica Vavá Schön-Paulino, coordenador da mostra, promovida pela Prefeitura do Recife. Um dos desafios é agregar público; fazer parte do calendário não só para os artistas, mas para a cidade.

Segundo Vavá, Nelson Rodrigues não será o homenageado do festival – porque já foi uma vez, mas os eventos especiais devem lembrar a efeméride dos 100 anos de nascimento do dramaturgo pernambucano. “Tudo ainda vai ser conversado, mas existe sim a possibilidade de termos algum espetáculo de Nelson na grade”, complementa. A data do festival ainda não está fechada, mas deve ser provavelmente entre 15 e 30 de novembro.

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Frescor de Nelson Rodrigues

Montagem mineira de A mulher sem pecado. Fotos Ivana Moura

A montagem do texto de Nelson Rodrigues (1912-1980), A mulher sem pecado, da Cia Arlecchino de Belo Horizonte (MG) explora com maestria os dois lados da situação de um ciumento compulsivo, que exercita tortura psicológica para saber se sua mulher é fiel ou não. Olegário é extremamente possessivo e morre de ciúmes de Lídia. Ele coloca seus empregados para vigiar Lídia, e exige que ela cuide da sogra doente. Ele tem ciúmes até do irmão da mulher. Mas isso é todo o dia, o dia todo. Tem quem aguente?

A imaginação doentia do protagonista rende alucinações e imagens interessantes na encenação. Sua desconfiança de que está sendo traído piora quando ele fica paralítico.

Performance admirável do protagonista Paulo Rezende

Dirigido por Kalluh Araujo, A mulher sem pecado apresenta um clima enevoado e sinistro, que destaca as desgraças psicológicas dos personagens, mas por trás disso também investe no tom novelesco e folhetinesco do texto, o que rende algumas gargalhadas com as frases de efeitos de Nelson Rodrigues. Coisas que parecem tão distantes e tão próximas. O machismo exarcebado, que gera a cegueira, a temida traição e a morte.

A mulher sem pecado marcou a estreia de Nelson nos palcos, em meio à consagrada carreira de romancista e cronista. Ainda não existe a sofisticação do dramaturgo maduro, mas sua essência já está lá. O diretor já é um conhecido do universo rogrigueano: encenou antes A serpente e Perdoa-me por me traíres.

O ator Paulo Rezende, que interpreta o maníaco Olegário com tiques e sutilezas, é para se aplaudir. O cínico e dissimulado Umberto é vivido por Alexandre Vasconcelos em boa atuação assim como Ana Luiza Amparado no papel de Lídia,que também faz movimentos de dança para revelar o tumulto interior.

Magadale Alves no papel da criada

A atriz Magdale Alves está bem e faz dois papeis opostos, a criada Inézia e D. Márcia, ex-lavadeira e mãe de Lídia. Lógico que gostaríamos de ver nossa querida Magdale em papel maior, mas reparem nos detalhes desses pequenas performances para perceber a grandeza do talento da intérprete.

Eliana Esteves faz D. Aninha (doida pacífica, mãe de Olegário) e passa a peça inteira no alto torcendo seus paninhos, ignorada ou sendo maltratada pela nora. Marcos Eurélio Pereira faz o empregado de Olegário. Dirlean Loyola faz primeira esposa de Olegário, já falecida e dá suporte em algumas cenas. A atuação de Diego Krisp como o irmão de criação virgem de Lídia é pouco convincente. As aparições da menina Ludmilla Cristine me pareceram dispensáveis.

Além de dirigir, Kalluh Araújo assina iluminação, sonoplastia, figurinos e cenários. Os cenários são um grande trunfo da montagem, com várias escadas que não vão a lugar nenhum. Esse cenário foi inspirado na obra do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972), que criou imagens com grande poder de ilusão de ótica, representando construções impossíveis, explorações do infinito e metamorfoses.

Na peça, além das escadas, Kalluh criou calabouços de onde surgem personagens e outras entradas e saídas surpreendentes.

Cenários, figurinos e iluminação também são assinados por Kalluh Araujo

A iluminação sombreada como num folhetim policial, e com seus focos de luzes nos personagens atravessado o palco, faz o jogo de revelações em doses homeopáticas. Já a sonoplastia é rasgada e entrega quando toca.

Os figurinos apontam para a década de 1940, com suas peças sóbrias. Um detalhe importante e revelador são os forros das roupas das personagens (assim como sapatos) de tecido vemelho, que indicam que por trás da do cotidiano sem grandes emoções, e até maçante, existe um vulcão sensual disposto a explodir.

É um bom Nelson.

A filha do dramaturgo, Maria Lúcia Rodrigues, estava aqui e recebeu flores do grupo.

Serviço:
A mulher sem pecado
Quando: hoje, 19h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 1h50

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Mais Janeiro!

O pranto de Maria Parda. Foto: Rui Pitaes

Teatro Adulto

Caetana – Texto: Weydson Barros Leal e Moncho Rodriguez. Direção: Moncho Rodriguez e Walter Nascimento. Elenco: Lívia Falcão e Fabiana Pirro. Benta, uma rezadeira, após indicar o caminho do além para várias almas perdidas, se depara com a própria morte. Hoje, às 20h30, no Teatro Barreto Júnior. Ingresso: R$ 10. Informações: (81) 3355-6398.

Caetana. Foto: Daniela Nader

O pranto de Maria Parda – Texto: Gil Vicente. Direção: Moncho Rodriguez. Elenco: Gilberto Brito. Comédia luso-nordestina. Um fusão de linguagens, sonoridades, memórias, safadezas e picardias, transpondo a personagem portuguesa de Gil Vicente para o universo dos poetas e repentistas do Nordeste brasileiro. Sexta, sábado e domingo, às 20h, no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela. Ingressos: R$ 10. Informações: (81) 3267-4400.

A mulher sem pecado. Foto: Eliane Torino

A mulher sem pecado – Com a Cia. Arlecchino de Teatro (Belo Horizonte). Texto: Nelson Rodrigues. Direção: Kalluh Araújo. Olegário, um homem ciumento compulsivo, consegue poluir a cabeça da mulher com fantasias sexuais e luxúria. Lídia é pura e fiel, mas tomará uma atitude que mudará a vida do casal. Sábado, às 21h; e domingo, às 19h, no Teatro de Santa Isabel. Ingressos: R$ 10. Informações: (81) 3355-3322.

Niñas araña – Da Compañía CIT / Centro de Investigación Teatral (Santiago/Chile). A história de três adolescentes que se tornaram conhecidas porque subiam no mais alto dos edifícios perguntando se, assim, alguém as iria notar. Sábado e domingo, às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: (81) 3355-3321.

Flor de macambira. Foto: Anderson Silva

Flor de macambira – Do grupo Ser tão teatro (João Pessoa/PB) – A bela e jovem Catirina sucumbe aos vícios e tentações mudanas e tem que mergulhar nas profundezas da sua alma para salvar a si e a seu amado, o pobretão Mateus. Sábado, às 20h, na Praça Laura Nigro, na Ribeira, em Olinda. Gratuito.

Estar aqui ou ali? – Do Visível Núcleo de Criação. Criação, pesquisa e elenco: Kleber Lourenço. O intérprete-criador busca diálogo entre corpo e espaço urbano, processando em si a experiência do trânsito e suas diferentes paisagens. Sábado, às 18h, no Alto da Sé. Gratuito.

Dança

Sobre mosaicos azuis. Foto: Camila Sérgio

O solo do outro – Realização do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo. Helijane Rocha, Jefferson Figueirêdo e Januária Finizola são os três bailarinos que mostram suas criações em dança contemporânea (respectivamente Ela sobre o silêncio, abordando as limitações impostas ao feminino; A face da falta, tocando no sentimento da recordação; e Sobre mosaicos azuis, questionando a linha tênue que separa as patologias psiquiátricas da loucura cotidiana. Hoje, às 22h, na Casa Mecane (Av. Visconde de Suassuna, 338, Boa Vista). Ingresso: R$ 10. Indicação: 16 anos. Informações: (81) 3423-6562.

Horas possíveis…enquanto seu lobo não vem – Do Camaleão Grupo de Dança (BH). A obra rata de termas urbanos como o espaço privado, a individualidade excessiva e a falta de comunicação. Sábado e domingo, ás 16h, no Alto da Sé, em Olinda. Gratuito.

Diálogos sobre Nijinsky. Foto: Marcelo Zamora

Diálogos sobre Nijinsky – Com a Virtual Companhia de Dança, de São José do Rio Preto (SP). Livremente inspirado na biografia do bailarino e coreógrafo Vaslav Nijinsky, com concepção cênica minimalista. Teatro Barreto Júnior (Rua Jeremias Bastos, Pina). Sábado e domingo, às 20h30. Ingressos: R$ 10 (único). Informações: (81) 3355-6398.

Teatro para Infância e Juventude

Algodão doce – Com o Mão Molenga Teatro de Bonecos. Direção: Marcondes Lima. Texto: Carla Denise. Bonecos com textura de algodão ajudam a contar três histórias de assombração, partindo do universo açucareiro. Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro). Domingo, às 16h. Ingressos: R$ 10 (único). Informações: (81) 3216-1728.

Algodão doce. Foto: Ivana Moura

O pássaro de papel – Direção: Moncho Rodriguez. Pássaro cor de mel aprende a voar, mas é rejeitado por seus pares por ser diferente. Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu). Sábado, às 16h. Domingo, às 18h. Ingresso: R$ 10 (único). Informações: 3355-9821.

Valentim e o Boizinho de São João – Da Cia. Máscaras de Teatro. Direção: Sebastião Simão Filho. Valentim é um viajante que tenta ajudar Mateus e Catirina no resgate de um boizinho fujão. Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro). Sábado, às 16h. Ingresso: R$ 10 (único). Informações: (81) 3216-1728.

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