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A beleza não dura para sempre

Doroteia comemora os 60 anos de carreira de Rosamaria Murtinho e tem Letícia r no elenco. Foto: Carol Beiriz

Doroteia celebra os 60 anos de carreira de Rosamaria Murtinho e tem Letícia Spiller no elenco. Foto: Carol Beiriz

Depois de perder o filho, Doroteia (Letícia Spiller), procura as primas puritanas Dona Flávia (Rosamaria Murtinho), Maura (Alexia Deschamps) e Carmelita (Jacqueline Farias). Ela quer largar a vida de prazeres, mudar sua trajetória, se redimir dos pecados. Linda de viver, Doroteia é recebida com desconfiança. As mulheres duvidam do parentesco porque existem dois sinais hereditários da família, que elas não identificam na visitante: os olhos não enxergam os homens e todas, desde a bisavó, sentiram náuseas após a primeira relação sexual nas noites de núpcias. Para oferecer abrigo, Dona Flávia, a prima mais velha, impõe que a bela aceite as condições de se tornar tão feia quanto o resto da estirpe.

A praga começou com a bisavó, que amou um homem e se casou com outro. Com isso recaiu sobre todas as gerações de mulheres da linhagem  a “maldição do amor”. Elas casam com um marido invisível e sofrem da náusea nupcial.

Doroteia comemora os 60 anos de carreira de Rosamaria Murtinho e tem Letícia r no elenco. Foto: Carol Beiriz

Montagem da peça de Nelson Rodrigues faz curta temporada no Recife. Foto: Carol Beiriz

Escrita em 1949 por Nelson Rodrigues (1912-1980), a peça foi classificada e agrupada pelo crítico Sábato Magaldi no rol dos textos míticos, composta também por Álbum de família, Anjo negro e Senhora dos afogados.

Com direção e encenação de Jorge Farjalla, assistido por Diogo Pasquim e por Raphaela Tafuri, Doroteia faz duas apresentações no Recife, nos dias 20 e 21 de agosto, no Teatro RioMar.

Doroteia tem direção de arte e cenografia de Zé Dias, figurinos de Lulu Areal, e maquiagem e visagismo de Anderson Calixto, desenho de luz do diretor, do cenógrafo e de Patrícia Ferraz.  A encenação traz um coro masculino batizado como Homens Jarro, alusão às figuras que passaram pela vida da ex-prostituta, defendido pelos atores/músicos Bastian Estevan, Pablo Vares, André Américo, Du Machado, Daniel Veiga Martins e Rafael Kalil, que executam ao vivo os sons e a trilha do espetáculo. A direção musical é assinada por João Paulo Mendonça com trilha original dele, de Leila Pinheiro e de Fernando Gajo.

Encenação compõe uma mistura de sonho, pesadelo, desatino e destino irremediável . Foto:

Encenação compõe uma mistura de sonho, pesadelo, desatino e destino irremediável . Foto: Carol Beiriz

A peça trabalha com o mito da beleza, de uma sensualidade latente, mas reprimida. A linda e loura Letícia precisa se enfear na peça, enquanto Rosamaria Murtinho, aos 80 anos, também desconstrói a imagem que defendeu em personagens ricas, elegantes e glamorosas.

A montagem traça diálogo com questões contemporâneas. As três viúvas pudicas e repugnantes não dormem para não sonhar. Com o amor, com o exercício sexual. Ao recusar o prazer, exaltar a feiura e o insulamento social a peça também aponta para posicionamentos religiosos retrógrados, em comportamento de condenação do diferente.

Das Dores, filha de Dona Flávia, cuja noite de núpcias ocorre ao longo da encenação, é a única personagem que parece não sentir culpa após a relação sexual. A expectativa é a de que a noiva sinta as náuseas como as outras mulheres do clã. No texto de Nelson Rodrigues, ela não nasceu; isto é, saiu morta do ventre da mãe e adolesceu sem consciência dessa condição.

Ficha Técnica
Dorotéia, de Nelson Rodrigues
Direção: Jorge Farjalla
Assistente direção: Diogo Pasquim
Elenco: Rosamaria Murtinho, Letícia Spiller, Alexia Deschamps, Dida Camero, Anna Machado e Jaqueline Farias
Homens jarro (músicos): Fernando Gajo, Pablo Vares, André Américo, Du Machado, Daniel Veiga Martins e Rafael Kalil
Cenografia: Zé Dias
Figurino: Lulu Areal
Direção Musical: JP Mendonça
Direção de produção: Bruna Petit
Produção executiva: Sandra Valverde
Coordenação de Produção: Lu Klein
Realização: Duka Produções
Apoio: Avianca – transportadora oficial
Produção Local: Art Rec Produções

SERVIÇO
Dorotéia
Quando: Dia 20 de agosto (sábado), às 21h; Dia 21 de agosto (domingo), às 19h
Onde: Teatro RioMar Recife: Av. República do Líbano, 251, 4º piso – RioMar Shopping
Informações: (81) 4003.1212
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 16 anos
Ingressos:
Balcão Nobre: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia)
Plateia: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia)
Canais de venda oficiais: bilheteria do teatro (terça a sábado, das 12h às 21h, e domingos e feriados, das 14h às 20h) e site Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br)
* Meia-entrada válida para maiores de 60 anos, professores estudantes e assinantes do Jornal do Commercio.

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Obsessões rodrigueanas

Ricardo Guilherme em Flor de obsessão. Foto: Bruno Soares

Ricardo Guilherme em Flor de obsessão. Foto: Bruno Soares

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Em Flor de obsessão, o ator e diretor de teatro cearense Ricardo Guilherme trilha um caminho de desejo dual oposto ao mundo de incerteza e extrema insegurança em que vivemos. As fragilidades nas relações sociais de que fala Zygmunt Bauman são substituídas por uma ideia obsessiva de amor, a partir de três contos de Nelson Rodrigues (Morte pela boca, Missa de sangue e Unidos na vida e na morte). O material fez parte da coluna A vida como ela é, publicada pelo escritor em jornais cariocas nos anos 1950.

Na montagem, erguida em 1993, a dramaturgia de Flor de obsessão traz figuras transpassadas pelo trágico, que enxergam como única saída a morte. Além de dois depoimentos, em primeira pessoa, que formam o prólogo e o epílogo.

Largada pelo amante, a personagem de Morte pela boca revela ao marido a prevaricação e ordena que o traído abata o rival com um tiro na boca. Em Missa de sangue, a infidelidade só é constatada pelo homem enganado nos delírios de febre da mulher, que clama pelo amante. O amor também é uma prisão em Unidos na vida e na morte, mas dessa vez nem a morte configura-se como liberdade.

Na encenação, o ator Ricardo Guilherme dramatiza e comenta as ações narradas. Quando o público entra no teatro, o artista já está no palco, deitado em uma bancada que lembra um caixão. Nos informes sobre o espetáculo, o ator (que também é o diretor da peça) diz que são dois movimentos para cada um dos tópicos narrados. Ao todo, oito movimentos matriciais. No prólogo, de pé, Ricardo Guilherme usa as mãos para realizar ações verticais para cima e para baixo no rosto, formando máscaras da comédia e da tragédia. Em Morte pela boca, com os dedos em forma de garras, simula ferir alguém ou a si mesmo. O gesto de Missa de Sangue, apresenta o ator de braços abertos e cruzados, imagens que aludem ao abraço esperado/ desejado e abraço rejeitado. Já em Unidos na vida e na morte, enlaça e desenlaça as mãos. E por fim, no prólogo, levanta-se, fala ao público e sai.

Os traços expressionistas são evidenciados com grande potência pelo intérprete de grandes recursos técnicos, vocais e corporais. Criador do que chama de teatro radical (método em que a figura do ator traça os significados, a partir de imagens do corpo, que permitam ao espectador participar com sua imaginação e projetar sua subjetividade), ele utiliza o conceito de repetição criativa: a ação se reproduz, mas a repetição lhe acrescenta novos significados. Uma luz quase na penumbra valoriza as expressões.

Autor com gosto pelos paradoxos, como afirma o estudioso Eudinyr Fraga, Nelson Rodrigues coloca a mulher – historicamente massacrada pelos crimes provocados por ciúme doentio e mórbido – como as detonadoras das pulsões de vida e morte nos contos escolhidos para a peça. Em Flor de obsessão as mulheres são possessivas, manipuladoras e se não são por suas mãos que os homens matam, ou se suicidam, são elas quem incitam o ato.

O crítico Sábado Magaldi, também estudioso de Nelson Rodrigues, assinala que a obra do autor de Senhora dos Afogados carrega consigo a fórmula cristã: desejo, pecado, punição/redenção. O personagem mata ou se suicida para se redimir do sentimento de culpa.

A frase de Nelson Rodrigues “Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor”, que sustenta a ideia do espetáculo, e é dita no início da peça remete, talvez, a um ideal romântico em que era bonito até morrer por amor. Na primeira vez em que assisti ao espetáculo, lá pelos anos 1990, fiquei absolutamente encantada com as frases do texto em harmonia com o gestual do artista, o que era música para meus olhos cansados de uma desilusão amorosa. Anos depois, tenho outra visão do espetáculo.

Ator inicia peça deitado sobre um plataforma. Foto: Suewellyn Cassimiro

Ator inicia peça deitado sobre um plataforma. Foto: Suewellyn Cassimiro

Bem, Flor de obsessão não está estruturada no social, mas é palco de revelações de desejos íntimos e inconfessáveis, tablado para lançar luz a deformidades psíquicas. Mas mesmo tendo a mulher como o ser mais algoz, que trai e dissimula (e como já disse o paradoxo rodrigueano não pode ser entendido somente como misoginia; penso no texto com uma tendência para o anedótico), a construção do espetáculo não me parece dialogar com as atuais questões que pulsam na sociedade. E disso sinto falta.

O controle social dos impulsos é estudado por Freud em Totem e Tabu e o pai da psicanálise aponta que o sujeito nunca internaliza completamente a interdição. Daí ocorre o conflito de duas grandes forças: o desejo da violação das normas e o recalque do desejo. Nelson Rodrigues faz emergir nas ações de seus personagens os impulsos mais secretos.

Fazendo uma aproximação com a ideia de Bauman, que está lá no começo do texto, a qualidade das relações diminui vertiginosamente no mundo contemporâneo, ou como ele define, na modernidade líquida. E, para compensar esse dado, a tendência é o aumento no número de parceiros. Bauman chama isso de conexão e a característica é não haver responsabilidade mútua.

O sociólogo polonês trabalha com conceitos de Afinidade e Parentesco para expor sua defesa de que vivemos em uma sociedade de extrema descartabilidade. O parentesco seria o laço irredutível e inquebrável. E a afinidade, eletiva.

Mesmo que o cenário do amor em Nelson Rodrigues seja povoado por prisões emocionais, que escravizam e clamam pela morte, é preciso não esquecer que esse autor genial era um provocador. Para alguns, reacionário, por suas posições conservadoras sobre temas polêmicos à época em que viveu.

Seus personagens se revestem de ambiguidades. No livro A menina sem estrela: memórias, Nelson Rodrigues. Defende: “O amor normal não tem imaginação, nem audácia, nem as grandes abjeções inefáveis. É um sentimento que vive de pequenos escrúpulos, de vergonhas medíocres, de limites covardes”.

Na ótica desse autor, o sofrimento humano é um processo de redenção para redimir a culpa. Nesse contexto de Flor de obsessão, outras camadas de afetos poderiam fazer vibrar outras notas, inclusive as dissonantes, desse universo doentio que o autor pinta nos seus textos com tintas bem carregadas.

Ficha técnica:
Texto, direção e atuação: Ricardo Guilherme
Produtora executiva: Elisa Gonçalves de Alencar
Assistente de produção: Suewellyn Cassimiro Sales

Escrito no contexto da II Bienal Internacional de Teatro da USP (27/11 a 18/12).

DocumentaCena – Plataforma de Crítica articula ideias e ações do site Horizonte da Cena, do blog Satisfeita, Yolanda?, da Questão de Crítica – Revista Eletrônica de Críticas e Estudos Teatrais e do site Teatrojornal – Leituras de Cena. Esses espaços digitais reflexivos e singulares foram consolidados por jornalistas, críticos ou pesquisadores atuantes em Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A DocumentaCena realizou cobertura da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp (2014 e 2015); do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015); da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, em São Paulo (2014 e 2015); e do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (2013).

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Estreia // Anjo negro

Montagem do diretor Samuel Santos do texto Anjo negro estreia hoje

Montagem do diretor Samuel Santos do texto Anjo negro estreia hoje

Ismael não se aceita como negro e isso gera uma série de conflitos externos e internos para o protagonista de Anjo negro. Ele provoca a cegueira de um irmão, é amaldiçoado pela mãe e se casa com um moça branca, Virgínia, que mata os filhos do casal.

A pesquisa sobre a gestualidade africana levou o grupo de Samuel Santos ao texto Anjo negro, de Nelson Rodrigues. O espetáculo faz duas apresentações, hoje e amanhã às 19h, no Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro), dentro da programação do 20º Janeiro de Grandes Espetáculos.

Com essa encenação o diretor prossegue com a busca de linguagem em que entram em cena, de alguma forma, o universo ancestral africano, os ritos católicos, numa linha expressionista extraída do teatro físico.

No elenco estáo Agrinez Melo, Ângelo Fábio, André Caciano, Maria Luísa Sá, Nana Sodré e Smirna Maciel.

Serviço
Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, direção geral de Samuel Santos e direção de arte de Fernando Kehrle
Quando: Hoje, às 19h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua Treze de Maio, 455, Santo Amaro. Fone: 3216 1616)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

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O beijo de Nelson

O beijo no asfalto tem direção de Claudio Lira. Foto: Pollyanna Diniz

O beijo no asfalto tem direção de Claudio Lira. Foto: Pollyanna Diniz

Ah, Nelson Rodrigues. O nosso clássico tão controverso. Que nos desestrutura com suas posições ideológicas, suas frases de efeito, seus textos de palavras ditas na hora certa, no momento exato, sem excessos. Que usa os instintos mais primitivos para falar de quem somos nós, das nossas capacidades, dos limiares da moral. Em O beijo no asfalto, o enredo tem muitas nuances. Da sujeira da imprensa em busca da venda de exemplares até a polícia corrupta, a relação entre duas irmãs, a confiança no outro, a homossexualidade.

O diretor pernambucano Claudio Lira, que estreou a sua versão de O beijo no asfalto no dia em que Nelson Rodrigues comemoraria seu centenário, ano passado, no Rio de Janeiro, tem sensibilidade e perspicácia para lidar com o texto de Nelson. Criou uma pequena vila de casas todas juntinhas. As fachadas são passagens que abrem possibilidades para a história, que permitem o olhar invasivo ou discreto dos espectadores da vida dos outros – embora a execução dessa ideia se deixe levar pelo caminho mais fácil: homens e mulheres de óculos escuros, jornal empunhado, figurinos cinzas, uma relação cinematográfica desnecessária.

Dona Matilde, a vizinha fofoqueira, é desdobrada em várias outras que participam da discussão através da projeção de vídeos. Há também a participação de Gino César e de Cardinot, o primeiro um popular apresentador de um programa de rádio e o segundo de televisão, comentando o caso. O bordão “durma com uma bronca dessas” levou a plateia ao delírio na primeira apresentação que o elenco fez no Recife, no Teatro de Santa Isabel. Afinal, os julgamentos continuam sendo feitos a priori e como é difícil destrinchar o real.

O elenco cresceu bastante (já vi a peça em três oportunidades – no Teatro de Santa Isabel, no Teatro Luiz Mendonça e no Barreto Júnior), mas as nuances e gradações ainda precisam ser perseguidas. Selminha, interpretada por Andrêzza Alves, vai da felicidade idealizada à desestruturação. Mas, principalmente no início da montagem, nas primeiras conversas com o pai e a irmã, o texto nem sempre consegue ter ressonância na atriz: “papai, papai” soa falso e descolado aos ouvidos dos espectadores.

Pascoal Filizola, Andrêzza Alves e Ivo Barreto

Pascoal Filizola, Andrêzza Alves e Ivo Barreto

Os principais destaques estão no elenco masculino. Pascoal Filizola, como o delegado Cunha, e Ivo Barreto, interpretando Amado Ribeiro (embora estereotipado principalmente pelos figurinos, um problema de toda a montagem) têm um jogo muito interessante em cena. Há ainda Arthur Canavarro (Arandir), numa atuação bastante convincente, Eduardo Japiassu (Aprígio), Sandra Rino (Viúva, D. Judith e Aruba), Daniela Travassos (Dália) e Lano de Lins (Barros, Werneck e travesti).

O mais interessante é realmente ouvir esse texto sendo dito na íntegra e o quanto ele consegue nos atingir, causando as reações mais diversas. Os diálogos são as pérolas desse espetáculo e o diretor sabe muito bem disso. Não precisa de enfeites. Precisa de sutilezas e nuances para que o texto possa nos inquietar ainda mais. Todo o resto é quase dispensável – inclusive a última cena da montagem. O texto termina no seu ápice. Não tem sentido colocar adendos que não agregam à dramaturgia, à encenação, que parecem sem objetivo.

*Este texto é fruto de uma parceria entre o Sesc Piedade e o Satisfeita, Yolanda? para a apreciação crítica de alguns espetáculos que participaram da mostra Aldeia Yapoatan.

O Beijo no asfalto será encenado hoje (27) e amanhã (28) no Teatro Marco Camarotti (com a proximidade é possível que o espetáculo ganhe bastante), no Sesc Santo Amaro, às 20h, dentro da programação do Festival Recife do Teatro Nacional. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)

Arthur Canavarro e Daniela Travassos

Arthur Canavarro e Daniela Travassos

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Festival Recife de teatro – tempo de editais

Galpão apresenta Os Gigantes da Montanha no Sítio Trindade, dia 22, na abertura do festival

A programação do Festival Recife do Teatro Nacional – FRTN foi anunciada nesta quinta-feira. A curadoria, que atuou nos últimos anos com recortes para a formação de sentidos, ficou para trás. A 16º edição é norteada por editais – instrumento defendido pela atual gestão como a forma mais democrática de formatar os eventos promovidos pela Prefeitura do Recife.

A grade da programação inclui 18 espetáculos em dez dias de apresentações – do dia 22 deste mês a 1º de dezembro. O mineiro Galpão abre o festival, às 20h, no Sítio da Trindade, com a peça Os gigantes da montanha, participação que o Satisfeita, Yolanda? anunciou ainda em julho. A secretária Leda Alves assistiu à peça no Festival de Inverno de Garanhuns e após a sessão fez o convite à trupe.

Os outros grupos foram garimpados de 150 projetos inscritos, segundo informou o gerente do Centro Apolo- Hermilo, Carlos Carvalho, que coordena o FRTN. Trinta e seis passaram na peneira e uma comissão formada pelo ator Paulo Mafe, representante do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife; o diretor do Teatro Williams Santanna; e a diretora e pesquisadora Clara Camarotti, fechou os grupos.

Gustavo Catalano, Carlos Carvalho e Leda Alves durante coletiva do festival

“Fizemos um edital para dar a possibilidade de as pessoas se oferecerem para vir ao Recife. Isso despertou o interesse dos grupos”, disse Carlos Carvalho.

Bem, dessas companhias, algumas ainda não passaram pelo Recife com os espetáculos que trazem. O próprio Galpão, a carioca Armazém Cia. de Teatro com A Marca da Água; a gaúcha Casa de Madeira com As Bufa; as catarinenses Traço Cia de Teatro/Companhia Zero com As Três Irmãs, o grupo paulista Clariô de Teatro, com Hospital da Gente; a mineira Cia. Pierrot Lunar com Acontecimento em Vila Feliz. Além da outra mineira, Cortejo Cia de Teatro, com Uma História Oficial.

O Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, de São Paulo, apresentou recentemente Homens e Caranguejos na cidade. E Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços da Paraíba vem com um espetáculo de repertório, Como Nasce um Cabra da Peste, que esteve no Recife há muitos anos.

Das montagens locais para o público adulto, todas já fizeram temporada ou foram vistas algumas vezes na cidade. São elas Vestígios (Relicário/PE), com texto de Aimar Labaki e direção de Antonio Cadengue; Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth; O Beijo no Asfalto, com texto de Nelson Rodrigues e direção de Claudio Lira; As Confrarias, da Companhia Teatro de Seraphins, com texto de Jorge Andrade e Antonio Cadengue. E Cafuringa, com o Grupo Cafuringa.

As peças infanto-juvenis também já estiveram em cartaz no Recife. São elas As Levianinhas em Pocket Show para Crianças, da Cia Animée; De Íris ao Arco-Íris, de Produtores Independentes e O Menino da Gaiola, Bureau de Cultura e Turismo.

O espetáculo Coisas do Mar, do Grupo Teatral Ariano Suassuna e Escola Estadual Santos Cosme e Damião, de Igarassu, ganhou visibilidade ao conquistar vários prêmios no 11º Festival Estudantil de Teatro e Dança, realizado em setembro, na categoria Teatro Para Crianças. A encenação levou para casa os troféus de melhor espetáculo, direção (Albanita Almeida e André Ramos), ator (Elton Daniel), cenário (André Ramos), figurino (Kattianny Torres) e texto inédito (o grupo).

O orçamento desta edição encolheu em R$ 400 mil em relação ao do ano passado. Ficou em R$ 700 mil – sendo R$ 50 mil da Caixa Econômica Federal e o restante dos cofres da Prefeitura. A Prefeitura não conseguiu renovar o Pronac – Lei Rouanet, nem a prestação de contas da Funarte e por isso não pode concorrer a esses incentivos.

O teatrólogo Samuel Campelo é o homenageado desta edição

O homenageado deste ano é o diretor Samuel Campelo, fundador do Grupo Gente Nossa no Recife dos anos 1930. A pesquisadora Ana Carolina Miranda da Silva vai lançar um livro sobre Campelo e também vai fazer palestra sobre O Grupo Gente Nossa e o Movimento Teatral no Recife.

“Vamos ter um grande festival, que oportuniza espetáculos que não teriam oportunidade de estar aqui. A gente tem grupos que nunca vieram ao Recife e tem grupos que já vieram como a Cia. Armazém ou o Galpão. E ter a possibilidade de ter os que já vieram com aqueles que nunca vieram isso nos enriquece. Isso abre pra gente uma felicidade de dizer nos estamos abrindo o FRTN para o Brasil, pelo meio mais democrático, que é o edital”, entusiasma-se Carvalho.

16º Festival Recife do Teatro Nacional

Programação

Sexta-feira (22)
Os Gigantes da Montanha (Grupo Galpão/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 20h
Duração: 80 minutos

Sábado (23)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As bufa. Foto: Mariana Rocha

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

Banda de palhaças mostram repertório para crianças. Foto: Lana Pinho

Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

Montagem comemora 25 anos da Armazém Companhia de Teatro

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

História da curiosa lagarta, que quer chegar ao reino encantado. Foto: Angélica Gouveia

Domingo (24)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

A Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Dois policiais e um professor de história numa peça sobre a tortura. Foto: Américo Nunes

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 50 minutos

Homenagem do Grupo Magiluth ao rei do baião

Segunda-feira (25)

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 50 minutos

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Obra do dramaturgo Anton Tchékhov a partir da técnica do clown. Foto: Nassau Souza

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

A partir dos contos de Marcelino Freire, Grupo Clariô de Teatro/SP mostra a vida dura de vários personagens

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 55 minutos

Versão teatral da Cia. Pierrot Lunar para o conto homônimo de Aníbal Machado

Terça-feira (26)

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 60 minutos

Conhecido como Homem da Cobra, o mestre Cafuringa é acompanhado por vários bonecos

Quarta-feira (27)

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 60 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Quinta-feira (28)

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 50 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O protagonista, o garoto Vito, de 9 anos, quer libertar o sonho das pessoas

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Sexta-feira (29)

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 60 minutos

Sábado (30)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Espetáculo de estreia da Cortejo Cia de Teatro reflete sobre os autoritarismos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

Família foge da seca e chega à cidade e aos mangues do Recife

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

A Conspiração Mineira por um ângulo incomum, com texto de Jorge Andrade e direção de Antonio Cadengue.

Domingo (1)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

Oficinas:

Por uma Metodologia da Encenação Teatral
Ministrante: Antonio Edson Cadengue
Local: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Oficina de Teatro de Rua
Ministrante: Lindolfo Amaral
Local: Escola Pernambucana de Circo (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Exercícios para uma Cena Dialética
Ministrante: Márcio Marciano
Local: Museu Murilo La Greca (a confirmar)
Data: De 25 a 27 de novembro, das 13h às 17h

Palestras:

A Experiência do Cooperativismo em São Paulo
Palestrante: Ney Piacentini
Data: 26 (terça-feira)
Local: Espaço Fiandeiros, às 18h0

O Grupo Gente Nossa e Movimento Teatral no Recife
Palestrante: Ana Carolina Miranda da Silva
Data: 26 (terça-feira)
Local: Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel, às 18h

Tecendo Redes – A Redemoinho no Recife
Palestrante: Fernando Yamamoto e Ney Piacentini
Data: 28 (quinta-feira)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h

Serviço
Ingressos espetáculos nos teatros: R$ 10 e R$ 5 (meia entrada).
Os espetáculos de rua são gratuitos

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