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A Mulher Monstro no Festival de Curitiba

Foto: Ivana Moura

Peça inspirada em Caio Fernando Abreu critica setores retrógrados da sociedade brasileira. Foto: Ivana Moura

A Mulher Monstro veio debater os panelaços no Festival de Curitiba. O espetáculo erguido entre Natal (RN) e Recife (PE) expõe as características de uma burguesinha intolerante que se enxerga de forma distorcida (para muito melhor). Racista, homofóbica, gordofóbica, elitista, sexista, ela destila veneno e fica cega pelo ódio. A personagem tem essas características, mas a peça faz crítica aos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade brasileira, que foram às ruas para pedir o golpe. A peça é baseada no conto Creme de Alface, de Caio Fernando Abreu, e recheada por comentários nas redes sociais que traduzem o preconceito, descriminação, desejo de aniquilamento do outro que pensa diferente do pré-impeachment para cá. O ator José Neto Barbosa (que atua, dirige e assina a dramaturgia da peça) cruzou as opiniões de internautas com o texto de Caio para formar a dramaturgia do espetáculo.

A peça faz apresentações no Fringe, a mostra paralela do Festival de Curitiba – no Teatro Mini Guaíra, de 2 a 5 de abril, sendo, domingo às 15h; segunda, às 18h; terça às 21h; quarta às 12h. O Fringe é uma mostra aberta, sem curadoria, que pode surpreender e que alimenta a esperança dos participantes de serem “descobertos” por algum curador de festival ou receber uma crítica favorável.

Espetáculo com Neto. Foto: Jorge Almeida

Espetáculo com José Neto Barbosa. Foto: Jorge Almeida

A transeunte errante do espaço urbano inventada por Fernando Abreu capta o mundo de forma hostil e responde com violência emotiva. Creme de Alface foi escrito em 1975 e publicado 20 anos depois. José Neto Barbosa, da S.E.M. Cia de Teatro (RN), atuando no Recife, acredita que o conto é exemplar para revelar os abismos da condição humana. Mas Neto Barbosa também ajuíza que essa “mulher monstro” existe dentro de cada um de nós.

O ator leva ao palco resíduos de memória da figura da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos. “Aquele fenômeno ficou na minha cabeça, pois foi a minha primeira experiência teatral. Após estudar teatro identifiquei naquela pequena encenação algo que passei acreditar: a arte relacional, como explica Nicolas Bourriaud. Aquela estética relacional da Monga, também enraizada de machismo e de exposição do corpo feminino como business, foi a inspiração para transformar não o humano em monstro, mas o monstro em humano”.

O texto de Abreu expõe uma mulher intransigente com as pessoas da sua vida. No trajeto pelas ruas na intenção de pagar alguns crediários a personagem revela sua malevolência com os outros e o mundo e a benevolência consigo mesma. Suas ações salientam principalmente duas questões: a fragilidade dos laços afetivos e o consumismo como válvula de escape. O ator também carrega a dramaturgia com suas histórias pessoais, dos preconceitos e intolerâncias sofridos.

A encenação transcorrer em três movimentos. A performance de título A Mulher Monstro. Cotidiano Contradição, uma avalanche de pensamentos e identificações da personagem. E a terceira que ele chama de Escarro Sobre Si, fincada na sequência do enredo criado pelo Caio Fernando Abreu. E se completa com o diálogo com a plateia.

SERVIÇO
A Mulher Monstro, da S.E.M. Cia de Teatro; dentro do Fringe, do Festival de Curitiba
Quando: De 2 a 5 de abril, sendo, domingo às 15h; segunda, às 18h; terça às 21h; quarta às 12h. 
Onde: Teatro Mini Guaíra, Centro Cultural Teatro Guaíra (Rua XV de Novembro, 971 – Centro)
Ingressos: R$ 20 

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De janeiro a janeiro, tem festival!

Essa febre que não passa (foto) e Aquilo que meu olhar guardou para você estarão no Festival de Curitiba. Foto: Ivana Moura

Duas montagens pernambucanas – Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro, e Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth – estão na programação da mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba. Depois do Janeiro de Grandes Espetáculos e do hiato no mundo das artes – para tudo que não é música e folia carnavalesca, claro – é Curitiba quem abre o calendário de festivais de teatro no país.

De janeiro a janeiro, tem festival em vários lugares do Brasil, com enfoques e objetivos diferentes, mas sempre proporcionando a circulação dos espetáculos e, geralmente, o acesso do público a montagens que dificilmente conseguiriam ser vistas sem o suporte de um festival – já que não há patrocínio para todas as peças e bilheteria definitivamente não garante a possibilidade dos grupos viajarem.

Conversamos com diretores e curadores dos principais festivais do país – Festival de Curitiba, Porto Alegre em Cena, Londrina, Festival de São José do Rio Preto, Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac), Cena Contemporânea e Tempo_Festival. Procuramos saber quais as propostas para este ano e, mais ainda, tentamos revelar os méritos de cada um deles para, de alguma forma, contribuir para que os nossos próprios festivais (ao menos os três maiores) – Janeiro de Grandes Espetáculos, Palco Giratório e Festival Recife do Teatro Nacional (esses também foram ouvidos, obviamente) – consigam avançar (ou também servir de espelho) em diversos aspectos.

Curitiba, por exemplo, recebe muitas críticas de que prioriza e incentiva na cidade a proliferação do teatro comercial. Apesar disso, o festival que já vai para a 21ª edição é, indiscutivelmente, um dos mais bem-sucedidos do Brasil. Consegue reunir produções de qualidade na cena nacional, inclusive muitas estreias acontecem lá, e ainda fomentar o experimentalismo, graças à mostra paralela intitulada Fringe, que foi inspirada no Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia. Este ano, o Fringe deve ter 368 espetáculos. O grupo Magiluth, que nunca participou do festival, além de estar na mostra oficial, apresenta outros dois espetáculos: 1 Torto e O canto de Gregório, numa mostra dentro do Fringe organizada pela Companhia Brasileira de Teatro, que será realizada no Teatro HSBC.

Los pájaros muertos abre festival no Paraná

A mostra oficial do festival, que acontece entre 27 de março e 8 de abril, terá 29 espetáculos de seis estados brasileiros – São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco -, além de dois internacionais – da Espanha e da Inglaterra. “Apesar dessas atrações, não queremos ser um festival internacional. O nosso grande mote é a produção nacional e mantemos esse foco”, explica Leandro Knopfholz, um dos criadores e diretor geral do evento.

A abertura da mostra será com a peça espanhola Los pájaros muertos; mas o festival tem ainda duas remontagens da companhia carioca Os Fodidos Privilegiados – O casamento e Escravas do amor -, as duas textos de Nelson Rodrigues; a estreia de Eclipse, do grupo Galpão; e de Licht & Licht, da Cia de Ópera Seca; e ainda montagens como Gargólios, de Gerald Thomas; O idiota, de Cibele Forjaz; e O libertino, de Jô Soares.

Recorte holandês no Rio de Janeiro

Qual o teatro feito na Holanda? Você já se fez essa pergunta? Os diretores e curadores Márcia Dias, Bia Junqueira e César Augusto, do Tempo_Festival das Artes – Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro, já. Tanto que um recorte dessa cena teatral poderá ser visto entre 5 e 12 de outubro no chamado 2° Tempo do festival. “O festival é realizado em três tempos: o primeiro é dedicado ao pensamento – trazemos artistas internacionais para fazer residência, debates, encontros com filosófos, pessoas de outros segmentos. Já o segundo é aquele dedicado à programação artística propriamente dita. E há ainda o Tempo_Contínuo, que é o site, um suporte permanente”, conta Márcia.

Para quem duvida sobre o quanto o teatro na Holanda é profícuo, Márcia Dias responde: “Estou com material de mais de 60 espetáculos, entre teatro e dança, para que possamos fazer a curadoria”. Ano passado, o Tempo fez um recorte da cena argentina – inclusive co-produziu (com o Festival Internacional Santiago a Mil, o Festival d’Automne de Paris e a Maison des Arts et de la Culture de Créteil, na França), O vento num violino, do Teatro Timbre 4, que esteve pela primeira vez no Recife no último Janeiro de Grandes Espetáculos.

Espetáculo do grupo argentino Timbre 4 foi co-produzido por festival carioca

Londrina tem o festival de teatro mais antigo do Brasil

O festival de teatro mais antigo do Brasil é o Festival Internacional de Londrina – Filo. São 44 anos (a mostra só não foi realizada uma única vez e, por isso, o festival vai para a sua 43ª edição) e a programação inclui não só teatro, mas dança, circo, música. “Tentamos montar uma programação diversificada. E conseguimos uma média de 80, 90 e até 100 mil pessoas por edição”, conta o diretor da mostra, Luiz Bertipaglia.

A relação do Filo com a cidade, explica Bertipaglia, é bastante especial. “O festival tem 44 anos e a cidade 77. O festival foi crescendo com Londrina. As pessoas entendem que o festival faz parte da história da cidade”. Outra facilidade com relação à público é que Londrina não é tão grande – tem cerca de 600 mil habitantes e aí as ações conseguem ser mais efetivas junto ao espectador.

Segundo o diretor, a cena teatral londrinense foi impulsionada pelo Filo. “Muitas companhias foram criadas em função do festival. E acho que foi fundamental também para a criação, em 1998, do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual”.

Grupo belga vai encenar texto de Alejandro Jodorowsky no Filo

As inscrições para os grupos nacionais no Filo terminaram no dia 9 de fevereiro. A curadoria dos internacionais é feita pelo próprio Luiz Bertipaglia. Em primeira mão, o diretor nos confirmou a apresentação de The ventriloquist’s school, do grupo belga Poit Zero (um texto de Alejandro Jodorowsky), e Translunar paradise, montagem do grupo da Inglaterra Theatre Ad Infinitum (uma história sobre vida, morte e amor eterno que começa depois que a esposa de William morre e ele vai para uma ilha da fantasia, das suas memórias passadas). O festival será realizado entre 8 e 30 de junho.

Teatro africano no Distrito Federal

Geralmente o festival Cena Contemporânea, de Brasília, é realizado em agosto ou setembro. Esse ano, no entanto, será um pouco mais cedo: de 17 a 29 de julho. Guilherme Reis, coordenador do festival, diz que a mudança é por conta de um convite da Universidade de Brasília (UnB), que está completando 50 anos. “Vamos fazer uma edição especial, voltada para América Latina e África. Em 1987 e 1989, a UnB realizou o Festival Latino Americano. Por isso essa ação”, explica Reis que garante que terá liberdade para realizar suas escolhas, de forma independente da universidade.

El rumor del incendio, do México, estará no Cena Contemporânea

“Tenho uma oferta grande de espetáculos africanos e algumas co-produções que passam também por Portugal, Canadá e Espanha”. A grade de programação ainda não está fechada, mas o coordenador adianta que devem ser 12 ou 13 espetáculos internacionais, sendo seis ou sete latino-americanos e o restante de espetáculos africanos, além da produção nacional com a presença de montagens de diretores como Henrique Dias e Cibele Forjaz. Dos internacionais, estão confirmados The butcher brothers, da África do Sul, e El rumor del incendio, do México.

O Cena é um festival privado que nasceu em 1995, mas está indo para a 13ª edição. “Em alguns anos, não conseguimos realizar. Mas desde 2003 não paramos mais. Brasília tem uma situação atípica com relação a apoio. Pela primeira vez, ano passado, recebemos incentivo do Distrito Federal”, conta Reis. Um dos méritos do Cena é envolver a cidade – mesmo quem não vai ao teatro, não fica ileso ao Ponto de Encontro, um espaço montado na Praça do Museu Nacional da República, que abriga apresentações musicais.

Teatro de dois em dois anos

O Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FitBH), em Minas Gerais, acontece de dois em dois anos. “Essa já era a proposta desde que ele foi criado, em 1994. Era para ter fôlego mesmo, para fazer sempre um grande festival”, explica Marcelo Bones, diretor do evento que, ao lado da diretora Yara de Novaes e da atriz Grace Passô, fará a curadoria da mostra. O evento está marcado para acontecer entre 12 e 24 de junho. A grade de programação ainda não está fechada, mas já há algumas definições. Bones adianta que devem ser 12 espetáculos internacionais, 15 nacionais e ainda 10 montagens de Belo Horizonte – que ocupam não só os palcos dos teatros, mas também as ruas.

“Vamos trabalhar a partir de três conceitos: o teatro e a cidade; o teatro e outras linguagens artísticas; e a cooperação e o intercâmbio entre criadores”, explica Marcelo Bones. O festival, que vai para a 11ª edição, é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte – responsável por 60% dos custos do evento. “Apesar de depender da agenda política, é um evento consolidado, importante para a cidade. Todas as pessoas sabem que o evento está acontecendo, gera movimentação”, diz o diretor.

Expandindo fronteiras

Where were you on January 8th? integrou programação do festival em São José do Rio Preto ano passado

O teatro contemporâneo é sempre o mote do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (Fit). Cerca de 40 companhias participam da programação que, este ano, vai de 4 a 14 de julho. Para se ter uma ideia, o festival recebeu 570 inscrições de grupos interessados em participar – desses, seis são pernambucanos. A curadoria é formada por Kil Abreu (que, durante quatro anos, foi curador do Festival Recife do Teatro Nacional), Sérgio Luis Venitt de Oliveira, Beth Lopes e Natália Noli Sasso. “Como festival internacional, estamos indo para a 12ª edição, mas o festival já tem 43 anos. Só na época da ditadura militar é que a programação não aconteceu uns dois ou três anos”, conta Marcelo Zamora, diretor do Fit.

“A gente achava que o festival precisava do recorte internacional”, complementa Zamora. O festival é realizado pela prefeitura, embora, o órgão seja responsável por apenas 10% do orçamento. “Somos um festival que vai atrás de propostas mais radicais, conceituais, com riscos maiores. E isso é sempre uma provocação para o nosso público”, diz o diretor. 60% da programação do festival em São José do Rio Preto, em São Paulo, é gratuita.

Relacionamento internacional

Em 18 anos, o festival Porto Alegre em Cena conseguiu estabelecer uma relação invejável com grupos internacionais. Muitas companhias vêm ao Brasil apenas para se apresentar lá. Ano passado, por exemplo, o diretor Bob Wilson só passou por Porto Alegre com A última gravação de Krapp, em que ele mesmo está em cena. “O trabalho sério e de respeito aos grupos ampliou muito os contatos do festival. É um meio onde as informações circulam. Então hoje conversamos com o mundo inteiro e, quando há um cenário propício, convidamos esses grupos”, diz Luciano Alabarse, que além de diretor é muito da alma do festival de Porto Alegre.

Bob Wilson era o diretor e o ator de A última gravação de Krapp, espetáculo apresentado no último POA em Cena. Foto: Mariano Czarnobai/Divulgação

Apesar de toda dedicação de Alabarse, a mostra não é privada, mas realizada pela Secretaria de Cultura da cidade. “A equação da qualidade é um grande desafio. Harmonizar a burocracia pública com a agilidade requerida por um festival internacional de grande porte é difícil. Há momentos em que penso em pegar em armas”, brinca Alabarse. “Importante é que não haja concessões artísticas. O festival não flerta com sucessos televisivos, celebridades duvidosas, peças de apelo comercial. O que está em jogo é a discussão cênica que faz diferença. Essa postura estabelece limites”, complementa.

Como um festival que já tem uma carreira consolidada, as negociações para que os grupos participem do POA em Cena podem durar anos. “Em 2012, o Berliner Ensemble vai visitar Porto Alegre pela primeira vez. O compositor inglês Michael Nyman, da mesma forma. E o Fuerza Bruta, sucesso mundial, vai aterrisar nos pampas. Essas são atrações já confirmadas”, adianta Luciano Alabarse.

O mais jovenzinho entre os festivais

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac) só teve quatro edições e, ao que parece, um longo percurso pela frente. A data da próxima edição já está marcada: será de 28 de setembro a 6 de outubro. “Como nos anos anteriores, não direcionaremos a seleção em torno de um conceito pré-definido. Adotamos um caráter mais panorâmico, buscando alcançar uma mostra caracterizada pela diversidade e levando espetáculos que, de alguma forma consideramos, significativos, seja pela proposta de inovação na linguagem, aposta em um processo artístico ou experimentação, ou pelo ineditismo de grupos ou artistas importantes”, explica Ricardo Libório, coordenador do Fiac.

Um dos desafios do festival, aliás, não só dele, mas de praticamente todos no Brasil, é a formação de plateia. “Estamos amadurecendo algumas ações, que vão desde a ampliação do número de sessões por espetáculos, o fortalecimento de nossa coordenação de formação de platéias e a busca de parcerias estratégicas com a Secretaria de Educação, além de buscar modelos de promoção focada em grupos específicos que tenham potencial de ampliar o público ‘consumidor’ de teatro, para beneficiar não apenas o alcance do Festival em si, mas a atividade teatral em Salvador ao longo de todo o ano”, finaliza. A grade do festival ainda não foi definida.

OS PERNAMBUCANOS

Janeiro de Grandes Espetáculos faz escala em Portugal

O próximo Janeiro de Grandes Espetáculos pode ser aberto por uma montagem idealizada na ponte áerea Recife – Portugal. A ideia é que cinco atores daqui façam um intercâmbio com o Centro Póvoa de Lanhoso, que fica na vila de mesmo nome no distrito de Braga. O projeto é de Paulo de Castro, um dos produtores do festival, ao lado de Paula de Renor e Carla Valença. “Ainda estamos fechando os detalhes; porque devemos lançar uma seleção para essa escolha. Queremos proporcionar essa vivência com um centro internacional”, explica Paula de Renor.

Curadores do Janeiro pensam em estruturar intercâmbios e parcerias

Desde 2011, o Janeiro de Grandes Espetáculos é um dos integrantes do Núcleo de Festivais Internacionais do Brasil. “Aqui em Pernambuco, somos o único festival internacional. E o que queremos realizando parcerias é melhorar a programação e ainda trabalhar o público para essas montagens, porque as pessoas ainda têm receio da qualidade; talvez pela língua, embora as montagens tenham legenda sempre que preciso”, comenta Paula.

Realmente, não são todas as montagens internacionais que empolgam o público mesmo – ao contrário da programação das peças locais. É delas, independente de quantos meses ficaram em cartaz durante o ano anterior, o maior público do festival. “Esse é realmente o nosso foco. Dar visibilidade à produção local e possibilitar melhorias na cadeia do teatro para o resto do ano”, complementa Paula.

Além do intercâmbio com Portugal, provavelmente começam aqui as comemorações dos 20 anos da companhia Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, no Janeiro do próximo ano. “Queríamos fazer uma residência com atores daqui e talvez com outros grupos. O Teatro Timbre 4, por exemplo, da Argentina, quer voltar com outros dois espetáculos. Achamos que talvez o formato de vivência seja mais interessante do que a oficina”, diz a produtora.

Espetáculo de Petrolina abre o Palco Giratório em maio

É do Sesc o festival que proporciona a maior circulação de espetáculos no país – o Palco Giratório. Em Pernambuco, além de promover a exibição de montagens em vários locais do estado, em maio, Recife recebe uma edição especial do Palco Giratório. Será praticamente um mês inteiro de programação – incluindo os espetáculos que estão circulando nacionalmente e ainda montagens convidadas, entre elas espetáculos internacionais. Este ano, o Palco Giratório no Recife será aberto no dia 4 de maio, com o espetáculo Eu vim da Ilha, da Companhia de Dança do Sesc Petrolina, no Teatro Barreto Júnior, que ganhou o Prêmio Apacepe 2012 de melhor espetáculo de dança pelo júri oficial – por conta da apresentação no Janeiro de Grandes Espetáculos.

Dois motes especiais: 15 anos e Nelson Rodrigues

Este ano, o Festival Recife do Teatro Nacional vai comemorar 15 primaveras. Como “adolescente” está no momento de repensar o seu papel para a cidade. “Sou positivo, otimista. Espero um festival muito bom. Nas conversas internas, a ideia é que a gente proponha que o mote para o festival seja essa data: os 15 anos”, explica Vavá Schön-Paulino, coordenador da mostra, promovida pela Prefeitura do Recife. Um dos desafios é agregar público; fazer parte do calendário não só para os artistas, mas para a cidade.

Segundo Vavá, Nelson Rodrigues não será o homenageado do festival – porque já foi uma vez, mas os eventos especiais devem lembrar a efeméride dos 100 anos de nascimento do dramaturgo pernambucano. “Tudo ainda vai ser conversado, mas existe sim a possibilidade de termos algum espetáculo de Nelson na grade”, complementa. A data do festival ainda não está fechada, mas deve ser provavelmente entre 15 e 30 de novembro.

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Inscrições para o Fringe, do Festival de Curitiba

Só até domingo, o Fringe, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, recebe as propostas dos grupos que desejam participam da próxima edição do programa.

O Festival será realizado de 27 de março a 8 de abril. E o Fringe começa no dia 28. Podem participar companhias, produtoras, grupos e artistas independentes de teatro, música, dança e das mais diversas manifestações culturais. O único pré-requisito é que pelo menos 80% dos componentes da montagem tenham registro profissional. O cadastro está disponível em www.fringe.com.br.

Após a realização do cadastro online, a confirmação de participação no evento será feita pela Organização do Festival, no máximo, até o dia 21 de dezembro de 2011. As companhias que se apresentam em espaços de rua são isentas do pagamento da taxa de participação e recebem auxílio para estadia em Curitiba.

O Fringe é formado por espetáculos de diversos gêneros e formatos, inéditos ou não, para adultos ou crianças, em espaços tradicionais, alternativos ou de rua. A participação é livre e depende unicamente de concordar com os termos do Regulamento Oficial do Fringe 2012, disponível no www.fringe.com.br e da disponibilidade dos espações de apresentação. Não há curadoria para a seleção dos espetáculos. O Fringe está presente no Festival de Teatro de Curitiba desde a 7ª edição, em 1998.

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Vinte anos de festa cênica

Sua Incelença Ricardo III

Começa nesta terça-feira, com o espetáculo Sua Incelença, Ricardo III, do grupo Clowns de Shakespeare, de Natal (RN), o Festival de Teatro de Curitiba. A montagem dirigida por Gabriel Villela, reúne cantoria de funerais nordestinos com rock and roll para tratar de poder. É o encontro entre o sertão brasileiro e a Inglaterra elisabetana. São duas apresentações, hoje, dia do aniversário da cidade, e amanhã, ambas no Bebedouro do Largo da Ordem, um dos cartões postais da capital paranaense.

Este ano, o Festival de Curitiba completa 20 anos e busca “reconhecer no teatro brasileiro atual uma sintonia com o país vibrante e intenso” e que reflita a renovação da linguagem cênica.

Com uma perspectiva de reunir na capital do Paraná quase 3 mil artistas em 31 peças da mostra principal e quase 400 no Fringe, o festival vai até o dia 10 de abril.

Vinte anos depois da primeira edição, o teatro continua a ocupar o centro da cena, mas hoje tem coadjuvantes que enriquecem o encontro, com produções de dança, circo, stand up, música, cinema e gastronomia, além de inovações tecnológicas. Entre outros, o festival vai abrigar shows musicais, com Maria Gadú e Música de brinquedo, do Pato Fu.

Para a mostra principal foram selecionadas 11 companhias. Os mineiros do Galpão, atacam com uma versão de Tio Vânia, escrito entre 1896 e 1897 por Anton Tchekhov, com direção de Yara de Novaes. Cláudio Botelho e Charles Moeller levam o Carnaval para o Teatro Guairão com o musical É com esse que eu vou.

Marina une o conto A Sereiazinha, de Hans Christian Andersen, com as canções praieiras de Dorival Caymmi.

Marina

Nascida no Paraná e radicada no Rio de Janeiro, a Armazém Cia de Teatro apresenta o premiado Antes da coisa toda começar. É a 19ª montagem da companhia, desta vez uma dobradinha dramatúrgica de Maurício Arruda de Mendonça e Paulo de Moraes, esse último também assina a direção. A trupe do Armazém faz quatro apresentações no Festival.

A Cia. de Dança Deborah Colker fará a pré-estreia de Tathyana, peça baseada em Eugene Onegin, o romance em versos publicado em 1832 por Aleksander Puchkin.

Tathyana

Os Satyros estreiam O último stand up, com direção de Fábio Mazzoni; uma investigação sobre pessoas comuns do centro de São Paulo, onde fica a sede do grupo. A encenação é inspirada no poema Pátroclo ou o Destino, de Marguerite Yourcenar. Já a Sutil Companhia encena Trilhas Sonoras de Amores Perdidos.

Tercer Cuerpo é a montagem internacional da mostra, espetáculo do diretor argentino Cláudio Tolcachir.

Para montar a grade da programação principal, os curadores se guiaram por quatro linhas: movimento forte de teatro de grupo, influência de textos nacionais, onda de musicais e confusão de gêneros. “O público está mais participante, exigente e questionador”, atesta o diretor do festival, Leandro Knopfholz. Segundo ele, o festival cresceu mais do que os criadores (o próprio Knopfholz, Cássio Chamecki e Victor Aronis) imaginaram em 1992. De lá pra cá, foram contabilizados 2,8 mil espetáculos, com cerca de 1,6 milhão de espectadores.

De Caruaru – Dos quase 400 espetáculos do Fringe, a mostra paralela do Festival, um deles é pernambucano. Trata-se de A metamorfose, produzido pelo Teatro Experimental de Arte (TEA), de Caruaru. Dirigido por Fábio Pascoal, o espetáculo é baseado na obra de Franz Kafka. No elenco estão as atrizes: Julliana Soares e Geysiane Melo, que irão se apresentar dias 4, 5 e 6 de abril.

Metamorfose Foto Euclides Ferreira

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Desafio Kafka em Curitiba

Teatro Experimental de Arte / Foto: Euclides Ferreira

Numa miscelânea de 373 espetáculos que vão participar da mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, no Paraná, entre os dias 29 de março e 10 de abril, apenas um deles é pernambucano. Na mostra principal, que tem 31 montagens, não há nenhum representante do estado.

A metamorfose é uma produção do Teatro Experimental de Arte (TEA), de Caruaru. O Fringe, como é chamada essa programação de espetáculos que não participa da grade principal, e ocupa todos os espaços possíveis da cidade, não custeia despesas como passagens aéreas, hospedagem e alimentação para os grupos que vão se apresentar. O maior interesse para esses espetáculos é a divulgação, e ainda o fato de integrar um festival que está completando 20 anos.

É nisso que aposta Fábio Pascoal, diretor da encenação pernambucana. “Acompanho o festival em Curitiba regularmente, desde 2003, como curador do Festival de Teatro do Agreste (Feteag), realizado em Caruaru. E o que vejo em Curitiba é uma grande vitrine. Uma possibilidade de outras pessoas acessarem o espetáculo, inclusive curadores”, explica.

A montagem de Caruaru é baseada na obra de Franz Kafka. “É uma peça que se divide muito bem entre momentos de narrativa e ação, a partir das experiências vividas por mãe e filha”, conta. No palco, apenas duas atrizes: Julliana Soares e Geysiane Melo. Isso, aliás, facilitou a ida ao Paraná. “São duas atrizes e dois técnicos. Uma equipe pequena. Estamos imaginando gastar em torno de R$ 5 mil”, avalia o diretor, que também assina a iluminação. A sonoplastia é de Paulo Henrique.

Teatro Experimental de Arte / Foto: Euclides Ferreira

A estreia de A metamorfose foi em 2006; em 2008, o grupo fez uma temporada no Teatro Joaquim Cardozo, no Recife. Mas é possível dizer que a peça já tem uma carreira nacional: participou dos festivais de Londrina, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, esteve em João Pessoa.

Em Curitiba, os pernambucanos vão fazer três apresentações – nos dias 4, 5 e 6 de abril, em horários bem distintos: às 11h, às 14h, e às 20h. “Como são muitos espetáculos se apresentando ao mesmo tempo, sabemos que é difícil ser visto, ganhar a concorrência. Contratamos até uma assessoria de imprensa local, para tentar buscar ainda mais espaço”, conta.

Essa é a primeira vez que o Teatro Experimental de Arte, criado há 49 anos por nomes como o casal de atores Argemiro Pascoal e Arary Marrocos, participa do festival. É também a primeira direção de Fábio Pascoal. A última montagem do grupo, que tem como sede o Teatro Lício Neves e cerca de 20 integrantes, estreou ano passado. Foi Auto da Compadecida, com direção de José Carlos.

Clowns de Shakespeare

Grupo potiguar abre festival – Se ano passado nenhum espetáculo nordestino entrou na grade da mostra principal do Festival de Curitiba, nesta edição, uma companhia do Rio Grande do Norte vai abrir a programação, no dia 29, mesma data do aniversário da capital paranaense. É a Clowns de Shakespeare, que vai estrear a montagem Sua Incelença, Ricardo III. A direção é do mineiro Gabriel Villela. “Há três anos trabalhamos com essa ideia. É um espetáculo a céu aberto, que é primo-irmão do Romeu e Julieta”, explica o diretor. A montagem, aliás, vai participar de um festival de teatro na Rússia, em maio; se apresenta em Moscou e ainda excursiona por outras cidades do interior.

Para montar a programação curitibana, o diretor Leandro Knopfholz diz que os curadores perceberam quatro tendências no teatro brasileiro. “O teatro de grupo está voltando. É também mais forte a influência dos textos nacionais; temos uma onda de musicais; e vimos a confusão de gêneros que se estabelece”, afirma o diretor. Todas essas questões apontadas por Knopfholz, se refletem nas escolhas para esta 20ª edição do festival.

Armazém Companhia de Teatro

Três dos grupos mais importantes do país, por exemplo, estão na mostra principal: o Galpão, de Minas Gerais, os Satyros, de São Paulo, e a Armazém Companhia de Teatro, radicada no Rio de Janeiro. Essa última, vai apresentar o seu 19º espetáculo: Antes da coisa toda começar, fruto da parceria dramatúrgica de Maurício Arruda de Mendonça e Paulo de Moraes, que assina a direção. Os Satyros estreiam O último stand up, com direção de Fábio Mazzoni; uma investigação sobre pessoas anônimas do centro de São Paulo. E o Galpão estreia Tio Vânia, direção de Yara de Novaes, a partir da obra de Tchekhov, que tem no sentimento do fracasso humano um de seus nortes.

Os Satyros

Grupo Galpão

Além da mostra principal e do Fringe, outros eventos também se agregam ao festival, como o Risorama, que promove apresentações de stand up (aliás, o pernambucano Murilo Gun, um dos precursores do stand up por aqui, também participa do festival), o Gastronomix, É tudo improviso, PUC Ideias (que terá debates), e Sesi dramaturgia. Este ano, o festival tem ainda shows musicais, como Maria Gadú e Música de brinquedo, do Pato Fu. “O Festival de Curitiba não perde o foco. Continuamos sendo um festival que mostra as tendências do teatro brasileiro, um ponto de eixo e de encontro de quem faz e assiste teatro”, finaliza o diretor.
(Essa minha matéria foi publicada neste domingo, 27 de fevereiro, no Diario de Pernambuco)

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