Macbeth mexicano
Crítica do espetáculo Mendoza

Plateia participa na cena dos fantasmas. Foto: Cultura UDG / Divulgação

Rosario e Mendoza. Foto: Fernanda Luz / Divulgação

Mendoza, peça do grupo mexicano Los Colochos Teatro, é uma adaptação ousada de Macbeth de William Shakespeare, transposta para o contexto da Revolução Mexicana. Dirigida por Juan Carrillo, com dramaturgia de Antonio Zúñiga e Carrilo, a obra integrou a programação do 7º MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, após uma década de sucesso em temporadas e festivais internacionais. Estreada em 2014, Mendoza faz parte de uma pentalogia shakespeariana desenvolvida pelos Los Colochos, que inclui adaptações de Romeu e Julieta, Otelo, Rei Lear e Tito Andrônico

O grande trunfo dessa montagem é a intimidade criada com o público, que fica sentado ao redor do palco em quatro bancadas. A disposição cênica e o jogo dos atores permitem que a plateia se sinta testemunha ou até parte da história, com momentos de interação direta, como segurar utensílios ou usar máscaras para encarnar fantasmas.

Assim como Macbeth, José Mendoza, inicialmente um leal escudeiro do Comandante Montaño (análogo ao Rei Duncan), encontra-se com uma santera enigmática, que incorpora as três bruxas originais. Nessa reimaginação, Lady Macbeth reencarna em Rosario Mendoza, Banquo transforma-se em Aguirre, e Macduff assume a identidade de García.

O espetáculo seduz pelo impacto visual e pela força interpretativa do elenco. O cenário minimalista, composto por mesas e cadeiras desmontáveis com logotipo da cerveja Corona e outros artefatos, é utilizado criativamente para criar diversos ambientes.

Marco Vidal interpreta Mendoza com energia e vigor; Mónica del Carmen, por sua vez, brilha nos papéis de Rosario e da santera. O elenco, formado por Erandeni Durán, Leonardo Zamudio, Martín Becerra, Germán Villarreal, Ulises Martínez, Alfredo Monsivais, Roam León e Yadira Pérez, demonstra uma sinergia extraordinária, com cada intérprete complementando o trabalho do outro de forma estratégica. Suas interpretações são marcadas por uma grande entrega emocional.

A peça é permeada por uma energia masculina intensa, com violência e brutalidade palpáveis em cada cena. A ação física é manifestada através de movimentos bruscos e confrontos intensos, coreografados com precisão. A proximidade do público amplifica essa experiência, permitindo que os espectadores vejam de perto o suor, o esforço e a dor nos rostos dos atores.

Mesas e cadeiras desmontáveis com logotipo de cerveja compõem o cenário. Foto: Fernanda Luz / Divulgação

Ao analisar a peça sob uma perspectiva feminista, emergem problematizações sobre a representação de gênero, poder e violência.

Duas cenas específicas chamaram minha atenção por sua aparente demonstração de machismo, desnecessário e equivocado no contexto. A primeira ocorre quando Rosario insiste na trama da ambição, e Mendoza, perdendo a paciência, desafivela o cinto e ameaça agredi-la. Embora não concretize o ato, o gesto em si é bastante perturbador. A segunda, que se segue imediatamente, mostra Rosario abraçando Mendoza para acalmá-lo após o ápice da tensão, uma ação que parece normalizar o comportamento agressivo anterior.

Penso na Lady Macbeth, uma figura emblemática do século 16, que encapsula as tensões e contradições da sociedade elisabetana, projetando as complexidades do reinado de Elizabeth I. Elizabeth, uma monarca poderosa em uma sociedade patriarcal, adotou a imagem de “Rainha Virgem” e se declarou “casada com a nação”, utilizando retórica masculina em seus discursos públicos para afirmar sua autoridade. Esse paradoxo ressoava em uma era onde as normas de gênero eram rígidas e as mulheres geralmente subordinadas aos homens. Lady Macbeth, com sua ambição desmedida e manipulação astuta, desafia essas expectativas femininas. Através dela, Shakespeare oferece uma crítica às limitações impostas às mulheres, analisando indiretamente o reinado de Elizabeth I. Assim, Lady Macbeth materializa as contradições de seu tempo, explorando as nuances do poder feminino e as consequências de desafiar as expectativas sociais.

Então, não reclamo que a personagem de Lady Macbeth/Rosario em Mendoza não esteja atualizada à altura das demandas do século 21. No entanto, é importante notar que houve mudanças consideráveis na representação do feminino no teatro e nas artes em geral nos últimos dez anos. Desde a estreia da peça em 2014, testemunhamos mudanças significativas, entre outras coisas, uma perspectiva mais crítica dos estereótipos de gênero. Essas transformações traduzem movimentos sociais importantes e uma crescente conscientização sobre questões de gênero nas artes vivas. Embora Mendoza não incorpore essas tendências mais recentes, sua interpretação pode ser compreendida dentro do contexto histórico que retrata e do momento em que foi criada.

Mónica del Carmen no papel da santera. Foto: Fernanda Luz / Divulgação

Yadira Pérez e Mónica del Carmen (deitada). Foto: Fernanda Luz / Divulgação

Há, pelo menos, dois momentos que apontam para a perenidade da violência na manutenção do poder: uma referência ao desaparecimento dos 43 estudantes no México em 2013, e a celebração final que tematiza a história oficial com ironia.

O desfecho apresenta uma variação culturalmente relevante: García (Macduff) opta por um método institucionalizado de justiça, ordenando a execução de Mendoza por fuzilamento. A cena final se transforma em uma celebração vibrante, com os personagens sobreviventes entoando uma ranchera ao redor da mesa de Corona. O elenco distribui cervejas ao público. Mas me vem uma inquietação: o que exatamente estamos comemorando? Sabemos? Essa celebração parece refletir as complexas dinâmicas de poder e as trocas de mãos na liderança, um aspecto preocupante nas estratégias de manipulação de massas.

 

 

A jornalista Ivana Moura viajou a convite do Sesc São Paulo

 

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

 

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Fragmentos da solidão gay
Crítica de Bicha Oca

Rodolfo Lima, como Alceu, em Bicha Oca, Foto: Ivana Moura

A dramaturgia reúne textos de Marcelino Freire

Só conheci a Bicha Oca 15 anos após sua estreia, no Espaço Extranho, situado na rua Barbara Heliodora, na Lapa, São Paulo. Minha curiosidade foi aguçada pela reputação da peça, que  tem como base os textos de Marcelino Freire. Considerando o longo percurso da peça, questionei-me sobre sua relevância em 2024. Afinal, o cenário LGBTQIA+ passou por diversos avanços (e reposicionamentos) desde a estreia do espetáculo. Será que Bicha Oca ainda teria algo a dizer ao público contemporâneo?

A resposta é sim. Bicha Oca mantém sua relevância, trabalhando com franqueza temas cruciais: a dignidade da população LGBTQIA+ idosa e os direitos humanos de indivíduos  em situação de vulnerabilidade econômica. A peça destaca que, mesmo com avanços sociais, a luta por igualdade e respeito continua. Isso é especialmente válido para aqueles que enfrentam uma tríplice vulnerabilidade: idade avançada, orientação sexual divergente da heteronormatividade e situação econômica precária. Em uma sociedade impregnada de preconceitos, Bicha Oca atua como lembrete das batalhas que ainda precisam ser travadas pela comunidade LGBTQIA+.

Criada pelo Núcleo Teatro do Indivíduo e dirigida por Rodolfo Lima, a peça adapta contos homoeróticos de Marcelino Freire, tecendo um relato que explora o universo arredio, impiedoso e aterrorizante da velhice gay. No centro desta trama está Seu Alceu, um homossexual de comportamento arcaico, que revisita seu passado, expondo as crueldades e isolamentos de sua existência.

A adaptação está calcada nos contos A volta da Carmen Miranda, Coração, Meus amigos Coloridos e Os Atores, além do micro conto inédito Seu Alceu. Esta colagem literária reverbera os práticas dos homossexuais, expondo mudanças entre passado e presente.

Alceu emerge como uma figura peculiar e o ator explora com seu físico – calvície incipiente e pelagem esparsa adornando seu torso e abdômen – e gestos as marcas do tempo e das decepções. Sua presença na cena é marcada por um olhar crítico e desencantado sobre a sociedade que o circunda, encarnando a melancolia e a decadência. Sua solidão é amplificada pela ausência deliberada de qualquer trilha sonora reconfortante.

O protagonista cita hábitos da comunidade gay, explorando cenários emblemáticos das rotinas dos encontros furtivos na Praça da República, das interações veladas em salas de cinema e dos contatos efêmeros nos transportes públicos. O conceito da “bicha oca” é personificado de maneira complexa: uma entidade simultaneamente extravagante, cômica e profundamente melancólica.

Como uma ilha de anacronismo, Alceu sustenta o descompasso com o hoje e apresenta um discurso deslocado em uma época onde a comunidade LGBTQ+ conquistou visibilidade e direitos. Sua inadaptação aos novos paradigmas sociais pulsa no confinamento em sua própria casa, que reflete sua alienação do mundo exterior.

Rafael Rudolf, de costas, representa o corpo jovem e desejável. Foto: Ivana Moura

Ao longo de seus 15 anos de trajetória, a peça passou por diversas interações, com Rodolfo Lima trabalhando com vários atores jovens e incorporando suas contribuições à versão final. A atual parceria com Rafael Rudolf traz um teor mais afetivo à produção, explorando a dinâmica complexa entre um corpo jovem e uma “bicha velha”.

A entrada de Rafael – e dos outros atores nas temporadas anteriores – marca um ponto de inflexão crucial no espetáculo. Até então, Alceu havia exposto exaustivamente sua solidão, a nostalgia pelos tempos de juventude e suas críticas mordazes ao comportamento contemporâneo da comunidade gay. Sua miséria existencial e material havia sido esmiuçada a ponto de quase esgotar a paciência do espectador. Neste momento crucial, o jovem Rafael surge como uma aparição quase etérea – uma projeção do desejo de Alceu ou talvez a materialização de um sonho há muito acalentado. Sua presença catalisa uma transformação na narrativa, introduzindo novas camadas à trama.

O relacionamento entre Alceu e Rafael é permeado por contradições que espelham questões profundas do universo LGBTQIA+. Oscila entre momentos de ternura genuína e dinâmicas claramente tóxicas, oferecendo um retrato nuançado das complexidades das relações intergeracionais na comunidade gay. Esse entrosamento poliédrico serve como um microcosmo, refletindo e amplificando diversas questões pertinentes ao mundo LGBTQIA+: o culto à juventude e a marginalização dos mais velhos, a dinâmica de poder em relacionamentos com grande diferença etária, o conflito entre diferentes gerações e suas visões de mundo, e a busca por conexão emocional em um ambiente muitas vezes hostil. Através deste relacionamento contraditório e caleidoscópico, o espetáculo consegue levantar, de forma sutil e impactante, uma miríade de temas relevantes, proporcionando uma reflexão profunda sobre as complexidades e desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ em diferentes fases da vida.

Bicha Oca chega ao Recife para apresentações na Escola Pernambucana de Circo nos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, em um espaço com capacidade para 80 pessoas. Já no Espaço Cênicas, as apresentações serão nos dias 6 e 7 de outubro, às 18h e 20h, respectivamente, com ingressos a R$50 (inteira) e R$25 (meia), para um público de até 60 pessoas.

Nesses 15 anos de trajetória, Rodolfo Lima já trabalhou com 10 atores jovens. Foto: Ivana Moura

O final dessa versão com Rafael Rudolf tem uma conotação mais afetivas. 

O espetáculo navega por temas como a volatilidade dos relacionamentos, a busca incessante por conexão, o espectro do envelhecimento e as nuances menos glamourosas da experiência homossexual. “Pegação”, encontros casuais, práticas sexuais específicas e a realidade de um corpo em declínio são expostos sem filtros, expondo verdades incômodas, mas necessárias.

Esta produção teatral encara o desconforto, abraça-o, apresentando as mazelas da comunidade gay com coragem. A dramaturgia ousada flerta com o ridículo, com o grotesco.

Em essência, Bicha Oca é um exercício de desconstrução e reconstrução. Desafia percepções, quebra tabus e tece uma narrativa que ressoa profundamente com as experiências vividas e imaginadas da comunidade LGBTQ+. Reflete as camadas mais profundas e por vezes dolorosas da existência gay contemporânea, oferecendo uma experiência teatral que permanece impactante.

Ficha técnica
Bicha Oca a partir do originais de Marcelino Freire
Direção e adaptação: Rodolfo Lima
Elenco: Rafael Rudolf e Rodolfo Lima
Concepção Geral: Núcleo Teatro do Indivíduo
60 minutos
18 anos
Produção local: Rodrigo Dourado
Design Gráfico: Betinho Neto
@teatrodoindividuo

SERVIÇO

Bicha Oca no Recife
Escola Pernambucana de Circo (Avenida José Américo de Almeida, 05 – Macaxeira – Recife)
Quando: 03 e 04 de outubro de 2024, às 20h (ambos os dias)
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia)
Capacidade: 80 pessoas
@escolapecirco
Link para compra antecipada:
03/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-03-10/2633756
04/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-04-10/2633785

Espaço Cênicas Rua Vigário Tenório 199 Edf. Álvaro Silva Oliveira 2º andar 201 – Recife Antigo)
Quando: 06 de outubro: 18h e 07 de outubro: 20h
Ingressos: R$50 (inteira) e R$25 (meia)
Capacidade: 60 pessoas
@espacocenicas Link para compra antecipada:
06/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-06-10/2633760
07/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-07-10/2633801

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

Postado com as tags: , , , , , , , , , ,

Hello, stranger
Crítica de Apenas o fim do mundo

Depois de anos de ausência, Luiz volta à casa da Mãe e de Suzana. Foto: Humberto Araújo

– Boa noite! Entre, seja bem-vindo. Mas não espere ficar muito à vontade. Você pode ser surpreendido com a exposição de uma intimidade que não esperava, desconcertante. Os cumprimentos iniciais aparentam uma suposta formalidade, um distanciamento comedido: “Estou bem. E você, como é que vai você?”. Há, no entanto, palavras que aguardam por serem ditas. Faz anos que estão sendo maturadas. Talvez sejam faladas, num “domingo, evidentemente, ou ainda, ao longo de quase um ano inteiro”, naquele reencontro familiar na casa da Mãe e de Suzana.

O espetáculo Apenas o fim do mundo, do grupo pernambucano Magiluth, é um convite para que sejamos testemunhas. Sabe aquela vontade de, às vezes, se transformar numa mosquinha para presenciar como foi aquela conversa, o que teria sido dito, como a pessoa reagiu, o clima que se instaurou? Na montagem do Magiluth, o compartilhamento da intimidade é consentido e, assim como a mosquinha, neste jogo somos voyeurs, observadores do que acontece à nossa revelia, como se não estivéssemos ali, não fôssemos notados, algo incomum na trajetória do grupo em relação aos espectadores.

Suzana (Bruno Parmera) e Luiz (Pedro Wagner). Foto: Annelize Tozetto

Estamos à porta e somos chamados a entrar e a acompanhar a volta de Luiz, um escritor, filho mais velho da família, que saiu de casa há bastante tempo. A Mãe e os irmãos, Antonio e Suzana, permaneceram. Há também Catarina, esposa de Antonio, que o cunhado só viria a conhecer nessa visita. Luiz nunca tinha voltado, mas agora havia um motivo concreto para o retorno. O escritor queria anunciar que, “mais tarde, no ano seguinte – era a minha vez de morrer”.

Ao longo dos anos, o primogênito, que “nunca esquecia as datas importantes das nossas vidas, os aniversários, fossem quais fossem”, mandava “pequenos bilhetes”, lacônicos, que vinham “sempre escritos em cartões postais”: “Eu estou bem e espero que vocês também estejam bem”. Uma frase que não gera nem ao menos uma expectativa por ser respondida.

Há, portanto, um hiato complexo que abarca dimensões múltiplas que se entrecruzam –tempo, relações, desejos, frustrações, ausências, acusações – para ser descortinado neste reencontro. O texto do francês Jean-Luc Lagarce, dramaturgo e diretor, escrito em Berlim em 1990, e montado pela primeira vez em 1999, quatro anos depois de sua morte, escolhe conceder o foco a cada personagem por vez, promovendo mergulhos verticais em suas subjetividades. Quando decidem falar, em poucos minutos, vislumbramos o que dói, como dói, por que dói. São conversas que se estabelecem geralmente como solilóquios, já que uma das pessoas, Luiz, se coloca como alguém que escuta o que a outra tem a dizer. São discursos longos, com diminutas pausas, quase que para confirmar que o interlocutor ainda está ali, disponível à escuta. Cada fala é um jorro, um fluxo de pensamentos que nos enovela.

Em Curitiba, as sessões de Apenas o fim do mundo foram no Palácio Garibaldi. Foto: Humberto Araújo

Quanto a nós, espectadores, somos desafiados a estar presentes na escuta para não perdermos uma palavra, uma digressão, um instante de hesitação, enquanto esses personagens se esvaziam ao menos do discurso que carregaram por tanto tempo. Terão como resposta um “sorriso” ou “duas ou três palavras”. “E eles se lembrarão, mais tarde, a seguir, na sequência, à noite adormecendo, eles se lembrarão apenas desse sorriso, é a única coisa que vão querer guardar de você, e é esse sorriso que eles vão discutir e discutir de novo”.

Nessa torrente, há um passado idealizado que, diante do correr dos anos, nem sabemos se aconteceu exatamente daquele modo, se era mesmo feliz. É assim, por exemplo, na cena da mãe contando o passeio que a família fazia aos domingos. Quem não tem uma avó, um pai, uma tia, que reconta a mesma história seguidas vezes, como se de alguma forma a lembrança fosse capaz de se materializar? Até que essa lembrança vira melancolia pelo que foi e já não é mais, “como é que podemos saber como tudo desaparece”.

Em consonância com a idealização do passado, a ausência desemboca no desconhecimento e na imaginação. Depois de tantos anos, aquelas pessoas não se conhecem mais, não sabem mais quem são e quais serão suas reações diante do inesperado da realidade do outro. “Ele não muda, eu imaginava ele exatamente assim, você não muda, ele não muda, é assim que eu o imagino, ele não muda, o Luiz”.

São família, são estranhos entre si. Assim como na balada Hello stranger (coloque aí para ouvir no seu tocador de música!) de 1961, da norte-americana Barbara Lewis, que faz parte da trilha sonora, sempre especial nas peças do Magiluth, mas aqui em particular, pelos achados que são dramaturgia. “Hello, stranger. It seems so good to see you back again. How long has it been? Oh, seems like a mighty long time” ou, em português: “Olá, estranho. É tão bom vê-lo novamente. Quanto tempo se passou? Oh, parece ter passado um longo tempo”.

A relação familiar se organiza em torno da matriarca, a única personagem que não tem nome, descrita apenas como a Mãe, como se a sua subjetividade estivesse restrita ao papel materno, encarado de modo coletivo. A quem serve a máxima ‘mãe é tudo igual’? Aqui a Mãe medeia os conflitos, prevê o que vai acontecer, mas não se coloca como autoridade, deixando entrever a sua fragilidade diante do que se desenrola ao redor. “Eles vão querer te explicar e é provável que o façam, e sem jeito, o que eu quero dizer, porque eles vão ter medo do pouco tempo que você dá para eles, do pouco tempo que vocês vão passar juntos”. Uma das cenas mais tocantes do espetáculo é justamente a conversa entre a Mãe e Luiz, quando ela tece uma radiografia precisa da realidade íntima daqueles personagens, dos seus anseios e frustrações. “O que eles querem, o que eles queriam, talvez, é que você os encorajasse – não foi sempre isso que faltou para eles, que a gente os encoraje?”.

A conversa entre a Mãe (Erivaldo Oliveira) e Luiz (Pedro Wagner). Foto Humberto Araújo

Talvez uma das principais qualidades do texto de Lagarce, que é brilhante e aqui o adjetivo cabe sem receios, é que o dramaturgo consegue experimentar a oralidade ao limite, encadeando longos textos de cunho pessoal, íntimo, psicológico. As frases são entrecortadas por tempos verbais distintos, pensamentos que vão se justapondo, que podem ser interrompidos e retomados instantes adiante, logo que eu terminar de falar uma coisinha que lembrei e quero dizer e talvez faça sentido ser dita aqui, assim como se dá numa situação cotidiana. Mas quando isso é levado ao teatro, à efemeridade da experiência única, esse texto se mantém e ganha proporção pela consistência e qualidade para ser compreendido em sua integralidade, proposta desta dramaturgia especificamente.

E esse foi o principal desafio com o qual o Magiluth se deparou: o rigor na enunciação que o texto demanda. O cuidado com as palavras, com os seus significados, sua ordem de encadeamento, com o modo e o tempo no qual elas precisam ser ditas. Foram poucas as montagens nas quais o Magiluth se dedicou a um texto dramático previamente escrito, levando-o tal e qual como escrito ao palco: O canto de Gregório, de 2011, texto de Paulo Santoro, e Viúva, porém honesta, de 2012, em comemoração ao centenário de Nelson Rodrigues. Mas, em ambas, especialmente em Viúva, porém honesta, o registro da encenação, que era o do humor, o do sarcasmo, da ironia, não demandava exatamente rigor na enunciação da dramaturgia.

Nas outras montagens do repertório, textos dramáticos foram utilizados como disparadores para o processo artístico, como em Dinamarca, de 2018, releitura de Hamlet, e Estudo nº1: morte e vida, a partir de Morte e vida severina, ou os atores criaram as dramaturgias a partir de outras referências, mas o trabalho coletivo na sala de ensaio, contemplando inclusive propostas e desejos individuais, sempre foi mais determinante na elaboração dos textos, escritos em processo e, talvez por isso, mais livres de amarras.

Apenas o fim do mundo estreou em abril de 2019, depois de quase um ano de momentos imersivos, entrecortados por meses de distância, de residências artísticas com Giovana Soar, tradutora do texto do francês para o português, atriz à época da companhia brasileira de teatro, primeiro grupo a montar a dramaturgia no país, no ano de 2006; e com Luiz Fernando Marques Lubi, diretor parceiro do grupo desde Aquilo que o meu olhar guardou para você, em 2012, um dos artistas que mais conhece e se alinha com a dinâmica do grupo. Depois de Apenas o fim do mundo, Lubi assinou ainda a direção de Estudo nº1: morte e vida, que estreou em 2022.

Esses momentos com os dois amigos e artistas colaboradores, que assinam conjuntamente a direção da peça, geralmente eram marcados por oficinas e resultavam na apresentação de ensaios ao público, um processo recorrente no Magiluth: a abertura dos trabalhos aos espectadores antes que eles possam ser tidos como “prontos”. No Sesc Avenida Paulista, por exemplo, dias antes da estreia, os oficineiros puderam acompanhar o trabalho de mesa dos atores, de leitura do texto, de entendimento do modo de enunciação que a dramaturgia solicitava.

Esse encontro entre o grupo, Giovana Soar e Lubi era o que o Magiluth precisava para erguer a lindeza que é Apenas o fim do mundo, em toda sua humanidade, delicadeza e proximidade com o espectador. Veio de Giovana Soar o rigor no entendimento e na enunciação do texto de Lagarce e o convite ao espaço íntimo proposto por essas palavras. E de Lubi, com quem o grupo tem a intimidade dos anos de trabalho conjunto, vieram a experiência e a sagacidade com montagens site-specific, amealhada desde a criação do XIX, grupo do qual Lubi é um dos fundadores.

Neste tipo de espetáculo, as montagens são criadas ou se adaptam a lugares que não necessariamente são locais tradicionais de exibição de peças, como teatros. Essas obras dependem da interação com os espaços para que possam alcançar suas potências. No caso do Magiluth, a ideia é que o espectador experiencie esse reencontro entre Luiz e sua família no espaço proposto pela dramaturgia, uma casa. Parte da intimidade que a encenação propõe com o espectador vem do espaço cênico: vamos andando pelos cômodos da casa, acompanhando como se dá cada conversa. No entanto, mesmo assistindo a tudo de muito perto, estando nas bordas da cena, somos voyeurs (a mosquinha, lembra?), não participamos da cena, e por isso o distanciamento, como se não estivéssemos ali.

Em 2019, a peça estreou no 13º e no 14º andares do Sesc Avenida Paulista, em São Paulo. Apesar de toda a engenhosidade da divisão de cômodos e da cenografia, da beleza da vista da Paulista, mesmo que a encenação fluísse, havia uma compressão. Eram espaços às vezes apertados demais para muitas pessoas assistirem a cenas longas. E era preciso imaginação para visualizar uma casa. No Recife, ainda em 2019, o espetáculo foi apresentado no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) e o próprio grupo diz que aquele espaço era o ideal para a peça e que a cena da chegada de Luiz ganhava outra dimensão tendo como vista a Rua da Aurora, o Rio Capibaribe e, ao fundo, a Rua do Sol.

Em Curitiba, a peça ocupou o Palácio Garibaldi, um lindo casarão cuja construção começou em 1887, hoje conhecido como “a casa da cultura italiana em Curitiba”. Ali, o espaço abraçou a encenação, mesmo com todos os deslocamentos necessários, estávamos numa casa, que se não tinha uma geladeira amarela como nas versões anteriores, ostentava um fusca azul na garagem que serviu para uma discussão icônica que terminou com Catarina, a cunhada, sozinha dentro do carro, com uma impagável cara de paisagem. Fato é que o espaço nos fez viver com mais verticalidade a encenação.

Outra questão que pode ser levada em conta quando pensamos nas diferenças entre a estreia, em 2019, e a participação no Festival de Curitiba, em 2024, com seis sessões esgotadas, é o próprio tempo de maturação da peça. Ainda em 2019, o grupo precisou lidar com as especificidades do espetáculo, que dificultam sua circulação, e depois com a parada obrigatória imposta pela covid-19 a partir de março de 2020. Inclusive, naquele ano, eles estariam no Festival de Curitiba com o espetáculo.

Vivemos o fim do mundo, em escala global. Se, de algum modo, a epidemia de Aids que vitimou Lagarce e que mataria Luiz, “alguns meses mais tarde, um ano no máximo”, era o fim do mundo, a covid-19 levou o fim a níveis que não conhecíamos. E os garotos que estavam na faculdade e que criaram um grupo em 2004, depois de uma atividade para uma disciplina no curso de Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), se tornaram homens, alguns são pais, viveram a pandemia e o medo do fim em múltiplas escalas. As dores sobre as quais o texto fala encontraram outros corpos em 2024.

É fundamental dizer que o Magiluth é um grupo formado por homens e que essa é sempre uma questão no momento de escolher um projeto. Em Apenas o fim do mundo, estão em cena Pedro Wagner (que não fazia a peça desde 2019; na temporada que o grupo cumpriu no ano passado no Mamam, ele foi substituído por Edjalma Freitas), Mário Sérgio Cabral, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Bruno Parmera. Lucas Torres, o único integrante que não possui personagem na peça, assina a assistência de direção, faz todo o apoio técnico da montagem e ainda faz uma participação, entrando em cena para tocar bateria.

Três dos atores interpretam personagens femininas: Giordano Castro é a cunhada, Catarina; Erivaldo Oliveira é a Mãe; Bruno Parmera é a irmã, Suzana. Mário Sérgio Cabral é o irmão, Antonio; e Pedro Wagner interpreta Luiz. A meu ver, a opção sempre perigosa de ter homens interpretando mulheres deu certo porque eles não fazem caricaturas das figuras femininas ou exageram nos gestos e nos trejeitos das personagens.

Giordano Castro é a cunhada, Catarina. Foto Humberto Araújo

Mário Sérgio Cabral é Antonio, o irmão. Foto: Annelize Tozetto

Nesta montagem, o elenco do Magiluth, como grupo, alcança maturidade na atuação. Pedro Wagner tem o domínio do ofício, faz um Luiz cheio de hesitações, que lida com a sua inabilidade para se contrapor às acusações de abandono, mostrando isso ao espectador a partir da expressão silenciosa do seu corpo. Antonio, de Mário Sérgio Cabral, “há muito tempo, é o que eu acho, eu me tornei um homem cansado”, foi se deixando endurecer pelas responsabilidades, e nos traz nuances entre a raiva e o medo de se permitir amar este irmão. O seu último monólogo é um descarrego, cheio de força e humanidade.

Giordano Castro faz uma Catarina comedida em gestos, de língua afiada e intervenções certeiras que se expressam no corpo. Erivaldo Oliveira é o que talvez mais se apoie no gestual na construção dessa Mãe que lê a todos, que lida com as imperfeições de cada um, inclusive com as suas próprias, e que mesmo assim é afeto. “Ela, ela me acaricia uma única vez o rosto, lentamente, como para me explicar que ela me perdoa não sei bem quais crimes”. E Bruno Parmera é uma Suzana eufórica com o reencontro com Luiz, que nos deixa tontos, mas que tem respiro para se auto traduzir ao irmão.

A maturidade, que é da própria trajetória como artistas, traz o autoconhecimento do que eles gostam e se permitem experimentar em cena. E, por isso, está lá, no meio da peça, uma banda de rock em decibéis altíssimos, como que para mostrar que o espírito, em si, permanece o mesmo de Viúva, porém honesta. Naquela tensão discursiva, é uma catarse que nos surpreende e captura.

De repente, uma banda de rock. Foto: Annelize Tozetto

Ao comemorar 20 anos em 2024, o Magiluth envereda na vivência dessa família com muito mais propriedade. Eles próprios são família, possuem laços, estão criando os filhos nessa comunidade que é um grupo de teatro. E isso é poderoso, na arte e na vida. Quando se tratam, na vida corrente, por “minhas queridas irmãs”, uma herança tchekhoviana que restou de O ano em que sonhamos perigosamente, o espetáculo que talvez seja o mais emblemático para a continuidade do grupo, revelam o afeto construído ao longo de duas décadas que permite projeção de futuro.

O espetáculo Apenas o fim do mundo foi apresentado nos dias 3, 4 e 5 de abril de 2024 no Festival de Curitiba.

* Pollyanna Diniz escreveu críticas de espetáculos que participaram do Festival de Curitiba a convite do Festival. A crítica foi originalmente publicada no site do Festival de Curitiba.

O grupo de críticos que trabalhou no festival incluiu ainda Annelise Schwarcz, Guilherme Diniz (Horizonte da Cena) e Kil Abreu (Cena Aberta).

Ficha técnica:
Direção: Giovana Soar e Luiz Fernando Marques Lubi
Assistente de direção: Lucas Torres
Dramaturgia: Jean-Luc Lagarce
Tradução: Giovana Soar
Atores: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner
Técnico: Lucas Torres
Desenho de luz: Grupo Magiluth
Direção de arte: Guilherme Luigi e Luiz Fernando Marques Lubi
Design gráfico: Guilherme Luigi
Realização: Grupo Magiluth

Apenas o fim do mundo em Curitiba. Foto: Humberto Araújo

Postado com as tags: , , , , , , , , , , ,

Grupo Magiluth encena Édipo REC:
Quando a tragédia grega encontra o Big Brother

Édipo REC faz parte das celebrações dos 20 anos do Grupo Magiluth. Foto: Estúdio Orra / Divulgação

Pedro Wagner, Giordano Castro e a atriz Nash Laila. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Nash Laila e Giordano Castro. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Em um mundo dominado por câmeras e redes sociais, onde cada movimento é potencialmente gravado e compartilhado, como seria a história de Édipo, – aquele herói grego que sem saber, mata seu pai e casa-se com sua mãe, cumprindo uma profecia e enfrentando um destino devastador? O grupo Magiluth, celebrando seus 20 anos de trajetória, propõe essa instigante reflexão no novo espetáculo, Édipo REC, que estreia nesta sexta-feira, 27/09, no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo. A temporada vai até 26 de outubro, com apresentações de quinta a domingo. 

Imagine o Recife como uma Tebas futurista de 2024, onde o Coro da tragédia grega se transforma em uma onipresente câmera, capturando cada detalhe da vida do protagonista. É nesse cenário que o Magiluth reinterpreta o clássico de Sófocles, mesclando a ancestralidade do mito com a urgência contemporânea da exposição excessiva.

O Magiluth, grupo recifense conhecido por sua pesquisa continuada e provocações cênicas, completa duas décadas de uma jornada artística marcada pela experimentação e diálogo com diferentes linguagens. Ao longo desses 20 anos, o grupo desenvolveu 15 espetáculos, explorando desde clássicos da dramaturgia até criações autorais. Sua perspectiva singular combina elementos do teatro físico, da performance e das artes visuais, buscando novas formas de engajar o público e questionar as fronteiras do fazer teatral.

A peça, dirigida pelo paulista Luiz Fernando Marques, o Lubi, marca o quarto trabalho da parceria entre o diretor e o grupo. Édipo REC joga com a cronologia e questiona a percepção de tempo no teatro, convidando o público a investir em uma experiência que vai da euforia de um reino em festa à tensão crescente de uma tragédia inevitável.

Erivaldo Oliveira na fase festa do espetáculo. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Lucas Torres e Bruno Parmera. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Na busca por referências cinematográficas, o grupo se inspirou em obras emblemáticas. Édipo Rex (1967), de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), foi uma influência crucial, com sua atualização do mito para a Bolonha dos anos 1960 e sua estrutura narrativa em flashbacks. O experimentalismo de Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto (1932-2017), com seu mergulho no mundo noturno das drags de Tóquio, serviu como referência poética. Além disso, o grupo buscou inspiração em Hiroshima, meu amor (1959) de Alain Resnais (1922-2014), Cinema Paradiso (1990) de Giuseppe Tornatore (1956-); e Cabaret (1972) de Bob Fosse (1927-1987), ampliando o diálogo entre teatro e cinema.

No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner e a atriz Nash Laila, conhecida por trabalhos audiovisuais do grupo. Juntos, eles dão vida a personagens que transitam entre o mítico e o contemporâneo, explorando as nuances do humano em diferentes tempos e espaços.

Édipo REC questiona o poder da imagem na sociedade atual. Como pontua o diretor Luiz Fernando Marques, no material de divulgação: “O Édipo acredita tanto nessa projeção que criou para si mesmo, de que é um tirano, que não consegue mais enxergar a sua verdadeira essência. O mesmo acontece hoje, já que as pessoas montam as suas vidas para as redes sociais, independente daquilo que elas estejam de fato vivendo.”

O processo de criação do espetáculo contou com o apoio do FETEAG (Festival de Teatro de Garanhuns), um dos mais importantes eventos teatrais do Nordeste. O festival proporcionou ao Magiluth uma residência artística, oferecendo espaço para ensaios e suporte financeiro aos artistas durante o período de desenvolvimento da peça. Esta parceria permitiu ao grupo aprofundar sua pesquisa e experimentação, além de desenvolver um processo pedagógico, abrindo os ensaios para observadores interessados no processo criativo.

O espetáculo promete ser uma experiência provocativa, mesclando elementos de vídeo mapping, trilha sonora original e uma cenografia que dialoga diretamente com a linguagem cinematográfica.

O Magiluth convida o público a refletir: em uma era de hiperexposição, quanto tempo dura uma tragédia? 20 anos? Uma vida inteira? Ou talvez, na era do REC perpétuo, por toda a eternidade? Édipo REC revisita um clássico, reinventando-o para nossos tempos, indagando nossa relação com a imagem, a memória e a identidade em um mundo cada vez mais mediado por telas e câmeras.

Mário Sergio Cabral com a camisa do Santa Cruz Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

SERVIÇO
Édipo REC
Quando: De 27/9 a 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Exceto dias 6 e 27/10. Dia 12/10, sábado, 17h. Dias 9 e 23/10, quartas, 20h. Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Meu Corpo Está Aqui, com artistas com deficiência,
marca presença no FETEAG

Haonê Thinar, Bruno Ramos, Pedro Fernandes,  Juliana Caldas e ao fundo, Jadson Abraão. Foto Silvia Machado 

Meu Corpo Está Aqui faz sessões com acesso gratuito no FETEAG, no Recife. Foto Renato Mangolin / Divulgação

O espetáculo Meu Corpo Está Aqui, dirigido por Julia Spadaccini e Clara Kutner, traz uma contribuição significativa para a cena teatral brasileira ao romper o silêncio que frequentemente envolve temas como afeto e sexualidade de pessoas com deficiência (PCDs). Ao apresentar essas histórias com franqueza e sensibilidade, a peça catalisa reflexões cruciais sobre inclusão, representatividade e a complexidade da experiência humana, confrontando estereótipos e expandindo os horizontes do teatro contemporâneo brasileiro. Programado para hoje e amanhã (19 e 20 de setembro), às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife, este trabalho de 60 minutos é uma das atrações da 33ª edição do Festival de Teatro do AgresteFETEAG.

O que torna Meu Corpo Está Aqui verdadeiramente único é seu elenco, composto inteiramente por atores PCDs que compartilham suas próprias vivências de forma corajosamente franca. No palco, Bruno Ramos (surdo não oralizado), Haonê Thinar (pessoa amputada), Juliana Caldas (que tem nanismo) e Pedro Fernandes (com paralisia cerebral, cognitivo preservado e usuário de cadeira de rodas) desafiam estereótipos e oferecem uma perspectiva poderosa sobre corpos frequentemente marginalizados pela sociedade. Jadson Abraão, como ator-intérprete de Libras, adiciona uma camada extra de expressividade e acessibilidade à performance.

O texto, desenvolvido a partir das experiências pessoais dos atores e habilmente ficcionalizadas por Spadaccini (ela própria uma pessoa com deficiência) e Kutner, navega entre o pessoal e o coletivo, propondo reflexões importantes sobre identidade, desejo e aceitação. A produção mergulha em questões cruciais de representatividade e avança ao estabelecer novos padrões de inclusão no teatro brasileiro.

Esta obra celebra a diversidade e convida o público a ver além das limitações impostas pela sociedade. Ao trazer esta produção para o FETEAG, o festival reafirma seu papel como catalisador de diálogos contemporâneos e plataforma de democratização cultural.

A produção é da Fábrica de Eventos, do Rio de Janeiro. Foto: Silvia Machado / Divulgação

Meu Corpo Está Aqui (Fábrica de Eventos/RJ)
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quando: 19 e 20 de setembro, 19h
Quanto: Gratuito
Duração: 60 minutos
Classificação etária: 16 anos

FICHA TÉCNICA

Texto: Julia Spadaccini e Clara Kutner
Direção: Clara Kutner e Julia Spadaccini
Elenco: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes
Ator-Intérpretes de Libras: Jadson Abraão
Direção de Produção e Coordenação Geral do Projeto: Claudia Marques
Diretor Assistente: Michel Blois
Produção: Fabricio Polido
Pesquisa de dramaturgia: Marcia Brasil
Colaboração de texto: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes
Figurino e Cenografia: Beli Araujo
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Direção de Movimento: Laura Samy
Música: Luciano Camara
Visagismo: Cora Marinho
Operador de Luz: João Gioia
Operador de som: Carlos Gabriel
Realização: Fábrica de Eventos

Postado com as tags: , , , , , , , , ,