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Revirando o Angu de Teatro

Fábio Caio e Hermila Guedes em Angu de Sangue, peça que movimenta a maratona do coletivo

Fábio Caio e Hermila Guedes em Angu de Sangue, peça que integra a maratona do coletivo

O Coletivo Angu de Teatro é admirável pela concentração de talentos e por sua força de realização. A trupe junta no mesmo caldeirão artístico Marcondes Lima, Fábio Faio, Arilson Lopes, Hermila Guedes, Gheuza Sena, Ivo Barreto e André Brasileiro, só para ficar nos componentes que atuam desde o início. Sabemos que não é fácil concretizar ideias e desejos neste estado de Pernambuco que, os fatos provam, dá pouca importância à cultura. Há outros grupos admiráveis na terrinha, graças aos deuses do teatro, à fórmula indestrutível de paixão pela arte e uma tenacidade que mobiliza os artistas.

Em 14 anos o Angu ergueu cinco espetáculos. Três deles – Angu de Sangue, Ossos e Ópera – estão na Maratona Angu de Teatro, que o coletivo apresenta de 29 de junho a 15 de julho na CAIXA Cultural Recife.

Os processos criativos do Angu também são abertos com as oficinas gratuitas sobre técnica e pensamento teatrais: Mexendo com O Pós-Dramático, O Pensamento dos Elementos Visuais na Cena “Operando” sobre a Arte da Trucagem no Teatro. O encenador e cenógrafo do grupo, Marcondes Lima e o ator Ivo Barreto são os responsáveis pelas atividades do Mexendo com o  Pós-Dramático, que ocorre no dia 1º de julho, das 9h às 13h.

Marcondes Lima também ministra o minicurso O Pensamento dos Elementos Visuais na Cena, sobre concepção de cenário, caracterização visual de personagens e iluminação nos espetáculos do Coletivo. O programa ocorre no dia 8 de julho, das 9h às 13h.

Exercícios práticos e estudos reflexivos sobre técnicas da arte transformista são focos de “Operando” sobre a Arte da Trucagem no Teatro, marcado para o dia 15 de julho, das 9h às 13h, oficina facilitada por Marcondes Lima e pelo ator Arilson Lopes.

As inscrições para Mexendo com O Pós-Dramático estão abertas até o dia 27 de junho. Para O Pensamento Dos Elementos Visuais Na Cena vão até 4 de julho e “Operando” Sobre A Arte Da Trucagem No Teatro seguem até 11 de julho. Interessados devem enviar breve currículo e carta de intenção para o e-mail infos.angu@gmail.com

Gheuza Sena no papel da manicure. Foto: Alex Ribeiro

Gheuza Sena no papel da manicure, na peça Angu de Sangue. Foto: Alex Ribeiro

Angu de Sangue marca a estreia do coletivo. A peça leva ao palco textos curtos do escritor pernambucano Marcelino Freire. São dez histórias que problematizam temas da solidão, desigualdade social, descaso e preconceito, da miséria material e existencial, violência, exclusão, dor no cotidiano das grandes cidades. Angu de Sangue é baseada em contos do livro homônimo e de Balé Ralé, ambos de  Freire. A direção é de Marcondes Lima.

A montagem está dividida em quadros. Que inclui histórias como a de Socorrinho, uma menina sequestrada e violentada por um pedófilo, numa narrativa cantado por Hermila Guedes e com uma boneca manipulada por Fábio Caio. Tem a manicure expansiva, interpretada por Gheuza Sena, que faz sua crítica ao Brasil a partir de fatos cotidiano. A catadora de lixo, que defende o lixão que vai ser desativado, no quadro Muribeca, com Fábio Caio. E a homenagem ao artista Pernalonga, símbolo do grupo Vivencial, que sangrou na rua até morrer sem socorro. As cenas estão carregadas de crítica e humor.

O espetáculo faz sobreposição de imagens da cena com outras projetadas em telão e a música traça muitas conexões entre os episódios.

O diretor Marcondes Lima interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

O diretor Marcondes Lima interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

André Brasileiro e Daniel Barros numa cena de Ossos. Foto: Divulgação

André Brasileiro e Daniel Barros numa cena de Ossos. Foto: Divulgação

Ossos é o quinto espetáculo do Coletivo pernambucano, o terceiro com texto de Marcelino Freire. É uma história de amor, autoexílio, morte e dignidades possíveis. O espetáculo traça um arco, não-linear, da trajetória do dramaturgo Heleno de Gusmão das brincadeiras de teatro no sertão de Pernambuco à consagração como escritor em São Paulo. No meio disso tudo a solidão, o abandono, a sobrevivência emocional entre garotos de programa.

Heleno de Gusmão sob o pretexto de entregar os restos mortais de seu amante aos familiares, percorre um caminho tortuoso de lembranças e reencontro com suas origens.

Um coro de Urubus comenta os acontecimentos da peça, que se esenvolve em vários cenários; nos guetos paulistanos, nas esquinas dos michês, nos bastidores de um teatro amador, no interior de Pernambuco onde os ossinhos de bois são material para nutrir a imaginação do futuro escritor, na estrada de volta para à terra natal.

São fragmentos de memória do escritor aparecem como sonho ou um estado hiper-real. A iluminação de Jathyles Miranda instaura um clima de traços expressionistas, com sombras e deformidades visuais. E tem ainda a trilha sonora incrível do músico pernambucano Juliano Holanda.

Ópera é a segunda montagem do Coletivo Angu de Teatro, que faz apresentações no Santa Isabel

Tatto Medini, ao centro, em Ópera é a segunda montagem do Coletivo Angu de Teatro

Ópera é o espetáculo mais querido do Coletivo Angu de Teatro. A temática LGBT vai ao palco nem como herói nem como vilã. Sem ser nem vilanizada nem vitimizada, Ópera expõe quatro histórias divertidas, com criticidade aguda e até com doses de crueldade que vem do texto ácido de Newton Moreno e da direção criativa de Marcondes Lima. As cenas são apresentadas como radionovela dos anos 1950, fotonovela, telenovela e, por último, uma ópera.

O cão, a radionovela, expõe o ocorre com uma família quando descobre que seu cachorrinho Surpresa é gay. O drama de de Pedro (ou Petra), que não se sente adequado em seu corpo masculino é explorado como uma fotonovela dos anos 1960, no episódio O troféu. Com muito humor e inspirado nas telenovelas da década de 1980, o quadro Culpa, mostra um personagem soropositivo que tenta encontrar um novo parceiro para o namorado. O último quadro explora os ridículos atos de uma criatura apaixonada, no caso um barítono que se submete a situações bem estranhas por um michê. A peça tem a participação de  Andréa Valois.

FICHA TÉCNICA
Autores: Marcelino Freire (Angu de Sangue e Ossos) e Newton Moreno (Ópera)
Encenador: Marcondes Lima
Elenco Angu de Sangue: André Brasileiro, Fábio Caio, Gheuza Sena, Hermila Guedes e Ivo Barreto
Elenco Ossos: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima e Robério Lucado
Elenco Ópera: André Brasileiro, Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Robério Lucado e Tatto Medini
Participação especial em Ópera: Andréa Valois
Trilha sonora original – Angu de Sangue: Henrique Macedo e Carla Denise
Trilha sonora original – Ópera: Henrique Macedo
Trilha sonora original – Ossos: Juliano Holanda
Light designer: Jathyles Miranda
Direção de arte: Marcondes Lima
Direção de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Arquimedes Amaro e Nínive Caldas
Assessoria de imprensa: Moinho Conteúdos Criativos (André Brasileiro e Tiago Montenegro)
Designer gráfico: Thiago Liberdade
Operação de luz: Sávio Uchôa e Jathyles Miranda
Operação de som: Tadeu Gondim/Fausto Paiva
Fotógrafo: Diego Melo / Flávio Ferreira (Moinho Conteúdos Criativos)
Captação de imagens em vídeo/edição: Diego Melo / Flávio Ferreira (Moinho Conteúdos Criativos)
Realização: Atos Produções Artísticas e Coletivo Angu de Teatro

SERVIÇO
MARATONA ANGU – MOSTRA DE REPERTÓRIO DO COLETIVO ANGU DE TEATRO
Onde: CAIXA Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Fone: (8)1 3425-1915
Quando: 29 de junho a 15 de julho de 2017
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia para estudantes, professores, funcionários e clientes CAIXA e pessoas acima de 60 anos)
Classificação Indicativa: Angu de Sangue – 14 anos / Ossos e Ópera – 16 anos

ANGU DE SANGUE
Dias 29 e 30 de junho, às 20h – 1º de julho, às 17h (com tradução em LIBRAS) e às 20h
OSSOS
Dias 06 e 07 de julho, às 20h – 8 de julho, às 17h (com tradução em LIBRAS) e às 20h
ÓPERA
Dias 13 e 14 de julho, às 20h – 15 de julho, às 17h (com tradução em LIBRAS) e às 20h

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Algumas opções teatrais do fim de semana

O-Lançador de Foguetes faz sessão gratuita domingo às 16h30, no Marco Zero, no Bairro do Recife. Foto: Raquel Durigon/ Divulgação

Espetáculo gaúcho faz sessão gratuita domingo às 16h30, no Marco Zero. Foto: Raquel Durigon

O Lançador de Foguetes integra o repertório do Grupo de Teatro De Pernas pro Ar – da cidade gaúcha de Canoas – desde 2006. A montagem com o ator Luciano Wieser (que também assina a direção e cenografia) está na programação do 18º Circuito Palco Giratório Sesc.

A trupe faz várias apresentações gratuitas em Pernambuco e a primeira delas é no domingo às 16h30, no Marco Zero, no Bairro do Recife.

O bando borra as fronteiras de técnicas circenses, formas animadas e música para realizar seus experimentos de linguagens. Em O lançador de foguetes a cenografia, figurinos excêntricos e bonecos com mecanismos de manipulação únicos colaboram para a comunicação com o espaço urbano. O protagonista procura um lugar ideal para sua experiência cientifica. Ele anda no seu triciclo abarrotado de elementos cênicos, calcula os fenômenos físicos e busca encontrar a energia da plateia.

SERVIÇO
Espetáculo gaúcho O Lançador de Foguetes
Quando: domingo às 16h30
Onde: Marco Zero, no Bairro do Recife
Quanto: Grátis

Outras apresentações do espetáculo O Lançador de Foguetes em PERNAMBUCO – Palco giratório 2015
02/06 – BELO JARDIM (PE)
03/06 – BUIQUE (PE)
05/06 – BODOCÓ (PE)
06/06 – OURICURI (PE)
07/06 – ARARIPINA (PE)
11/06 – PETROLINA (PE)

Algodão doce faz apresentação dentro do projeto Palco Giratório. Foto: Ivana Moura

Algodão doce faz apresentação no Teatro Marco Camarotti. Foto: Ivana Moura

O grupo Mão Molenga (PE), também está no Palco Giratório com a encenação em teatro de bonecos Algodão doce. A apresentação está marcada para às 16h do sábado, no Teatro Marco Camarotti (Rua do Pombal, s/n, Santo Amaro).

A montagem foi erguida a partir da chamada Civilização de Açúcar e da textura de algodão dos bonecos, em variados tamanhos e técnicas de manipulação. Além da dança inspirada na tradição cultural pernambucana, principalmente o cavalo-marinho São narradas três histórias de assombração, Comadre Fulozinha, As desventuras de Ioiozinho e O Negrinho do Pastoreio.

A direção cênica e direção de arte são de Marcondes Lima. O argumento e roteiro são assinados por Marcondes Lima e Carla Denise. O elenco é formado por Elis Costa, Íris Campos, Fábio Caio, Fátima Caio e Marcondes Lima. O espetáculo é indicado para crianças a partir de 8 anos. O ingresso custa R$ 20 e R$ 10 (meia).

SERVIÇO
Espetáculo Algodão doce
Quando: Sábado (30/05) às 16h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua do Pombal, s/n, Santo Amaro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)

Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver inicia nova temporada

Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver inicia nova temporada

ACONTECE ENQUANTO VOCÊ NÃO QUER VER
A nova temporada do espetáculo Acontece enquanto você não quer ver, começa amanhã, no Espaço Caramiolas (Avenida Dantas Barreto, 324, 7º andar, Santo Antônio). A encenação foi criada para um espaço de teatro domiciliar, e está dividida em dois atos: Bem guardado e Rua Garopaba, 410. A produção avisa que a peça faz um desafio à moralidade vigente e mostra situações que podem ser consideradas desagradáveis. No elenco estão Daniel Barros e Fábio Calamy
SERVIÇO
Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver
Onde: Espaço Caramiolas (Avenida Dantas Barreto, 324, 7º andar, Santo Antônio)
Quando: 30 de maio, 06, 13 e 20 de junho, sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 9790-8251.

NA BEIRA
Amanhã, sábado, às 19h30, é a última sessão desta temporada do monólogo Na beira. A peça é inspirada em histórias risíveis e comoventes da vida do ator Plínio Maciel. As reservas devem ser feitas pelo email teatrodefronteirape@gmail.com. O endereço completo do espetáculo, na Boa Vista, será fornecido na confirmação da reserva. A capacidade da casa é de 20 espectadores.Ingresso: R$ 20 (inteira).

OBSESSÃO
A rivalidade entre duas ex-amigas chega às raias da desrazão. A vingança é o tema da comédia Obsessão, com texto de Carla Faour e direção de Henrique Tavares, em cartaz no Teatro Boa Vista. Com Simone Figueiredo, Nilza Lisboa, Silvio Pinto, Diógenes Lima e Tarcísio Vieira.
SERVIÇO
Espetáculo Obsessão
Onde: Teatro Boa Vista (Colégio Salesiano)
Quando: sábado (30), às 21h.
Ingressos: R$ 60, R$ 30 (meia) e R$ 20 (promocional, à venda na bilheteria do teatro até às 17h).
Informações: 2129-5961.

H(EU)STÓRIA – O TEMPO EM TRANSE
A partir das cartas escritas para o poeta Jomard Muniz de Britto e o ex-governador Miguel Arraes foi erguido o espetáculo, que projeta as relações do cineasta baiano Glauber Rocha com o estado de Pernambuco.
SERVIÇO
Espetáculo H(Eu)stória – O Tempo em Transe
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados, às 20h (até o dia 20 de junho).
Ingresso: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

A RECEITA
A receita apresenta uma mulher que tempera sua vida de abandono e violência com comida. O solo é com a atriz Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas. O texto e a encenação são de Samuel Santos.
SERVIÇO
Espetáculo A receita
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, loja 1, Boa Vista).
Quando: De 29 de maio a 26 de junho, todas as sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 8484-8421.

VIVA RAUL – O TRIBUTO
A carreira de Raul Seixas é revisitada pelo ator e músico Renato Ignácio, junto com uma banda no espetáculo Viva Raul – o Tributo.
SERVIÇO
Espetáculo Viva Raul – O tributo
Quando: 30 de maio, às 21h.
Onde: Teatro Guararapes (Avenida Professor Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda).
Ingresso: Plateia R$ 120 e R$ 60 (meia). Balcão: R$ 100 e R$ 50 (meia).
Informações: 3182-8020

Última semana desta temporada de Em Nome do pai. Foto: Zé Barbosa

Última semana desta temporada de Em Nome do pai. Foto: Zé Barbosa

EM NOME DO PAI
Os caminhos tortuosos para estabelecer uma relação amorosa entre pai e filho é exibida no drama Em nome do pai, escrito pelo mineiro Alcione Araújo. O espetáculo marca a estreia na direção de Cira Ramos. Última semana.
SERVIÇO
Espetáculo Em nome do pai
Onde: Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do RioMar Shopping. Avenida República do Líbano, 251, Pina).
Quando: De 25 de abril a 31 de maio. Sextas e sábados, às 20 horas.
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3256-7500 ou 9157-5555

DANÇA

Percussionista Lucas dos Prazeres e Anne Costa em Abô

Percussionista Lucas dos Prazeres e Anne Costa em Abô

ABÔAbô é o nome do banho de ervas que purifica o corpo e afugenta os maus espíritos na prática do candomblé e umbanda. O espetáculo Abô tem direção e coreografia de Maria Paula Costa Rêgo e conta com o percussionista Lucas dos Prazeres, estreando como bailarino profissional e a bailarina Anne Costa no elenco.

O Grupo Grial leva para a cena um olhar bem peculiar sobre os movimentos das celebrações religiosas afro-brasileiras, mas tendo como base a estética e a linguagem da dança contemporânea. Fala sobre a poética dos orixás. O trabalho recebeu patrocínio do Prêmio Afro 2014, da Petrobras.
SERVIÇO
Espetáculo Abô
Onde: Sítio Trindade (Estrada do Arraial, s/nº, Casa Amarela).
Quando: de 28 a 31 de maio, às 19h30.
Ingresso: Entrada gratuita

ELÉGÙN – UM CORPO EM TRÂNSITO
A corporeidade e a performatividade são os dois elementos de pesquisa do espetáculo Elégùn. O título remete àquele que incorpora um arquétipo em sete cenas.
SERVIÇO
Espetáculo Elégùn
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados (até o dia 18 de julho), sempre às 19h.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

Espetáculo retrata vida e obra de Dorival Caymmi. Foto: Paula Alencastro/ Divulgação

Espetáculo retrata vida e obra de Dorival Caymmi. Foto: Paula Alencastro/ Divulgação

DORIVAL OBÁ
O compositor baiano Dorival Caymmi cresceu dentro de um terreiro de candomblé, onde era preparado para ser o obá (um tipo de coordenador do terreiro). Abandonado pela mãe quando tinha 3 anos, foi no candomblé que ele praticou sua religiosidade, e se descobriu filho de Xangô.

O grupo Vias da Dança homenageia o baiano no espetáculo Dorival Obá, que tem coreografia do ator e bailarino Juan Guimarães. No elenco estão Thomas de Aquino Leal, Júlia Franca, Natália Brito, Rayssa Carvalho e Simone Carvalho.

O Vias da Dança, da diretora Heloísa Duque, utiliza depoimentos de Dorival em áudio, a partir de entrevistas, além de músicas e trechos de percussão do repertório do cantor como É doce morrer no mar, Samba da minha terra, O que é que a baiana tem e Canto de Nanã.
SERVIÇO
Espetáculo Dorival Obá
Onde: Espaço Experimental (Rua Tomazina, 199, 1º andar, Bairro do Recife).
Quando: 30 de maio, às 20h.
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3224-1482.

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Retrô 2011

Os artistas aguardaram: apoio, resultados dos editais atrasados, pagamento de fomentos. Como – ainda bem-diz a música de Marcelo Camelo (Casa pré-fabricada), “nessa espera, o mundo gira em linhas tortas”. Os caminhos não serem retos não é, definitivamente, ruim para a arte. Se o atraso no resultado do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) prejudicou a cena teatral pernambucana em 2011, serviu também ao propósito de mostrar que o teatro continua sendo uma arte de resistência; e que é possível sim levar ao palco produções de qualidade, a duras penas, mesmo sem incentivos oficiais. Para 2012, se as promessas e os prazos de editais forem realmente cumpridos, é bem provável que tenhamos um panorama de peças mais amplo, pelo menos em quantidade. Qualidade não foi o problema.

No Janeiro de Grandes Espetáculos, que começa na próxima quarta-feira, teremos pelo menos três estreias: Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, Caxuxa, da Duas Companhias, e O pássaro de papel, com direção de Moncho Rodriguez e produção de Pedro Portugal e Paulo de Castro. Para o Magiluth, que tem sete anos de atividades, 2011 foi um ano de aprimoramento e, mais ainda, de alargar as possibilidades criativas. Estrearam a peça O canto de Gregório, sem apoio estadual ou municipal, “o que não é um mérito, é porque fazer teatro é mais forte do que a gente, mas é muito difícil”, conta Pedro Wagner, que interpreta Gregório. Ainda participaram do projeto Rumos Itaú Cultural, que possibilitou, através de edital, intercâmbios entre grupos.

Magiluth vai estrear Aquilo que meu olhar guardou para você. Foto: Thaysa Zooby

O Magiluth trabalhou com o Teatro do Concreto, de Brasília. E daí surgiu o novo espetáculo, que tem direção de Luis Fernando Marques, do grupo paulista XIX de Teatro. O grupo passa por um momento limite. “Eles já não são um grupo ‘de novos’. E precisam se manter. Espero que eles consigam esse equilíbrio de produção. Além de ser artista, tem que ter estrutura de produção, gestão”, complementa o professor Luís Reis.
Caxuxa, outra estreia, é uma remontagem, uma adaptação do texto de João Falcão. “Foi uma ideia de Claudio Ferrario. Fizemos essa peça, um musical, há 20 anos”, conta Lívia Falcão, que fez parte do elenco de Divinas, ao lado de Fabiana Pirro e Odília Nunes, que estreou ano passado.

Luiza Fontes, Regina Medeiros e Sofia Abreu estão no elenco de O pássaro de papel. Foto: Pedro Portugal

Ao longo de 2012, outras produções estão previstas. Jorge de Paula, Thay Lopes e Kleber Lourenço devem trabalhar a partir de um texto de Luiz Felipe Botelho, com direção de Tiche Vianna, do Barracão Teatro, de Campinas. Rodrigo Dourado está na direção de Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases, que tem no elenco Fátima Pontes e Leidson Ferraz. A Cênicas Companhia de Repertório, que fez o infantil Plutf – O fantasminha, está em fase de pré-produção do espetáculo baseado na formação de clowns, e deve montar outro infantil.

Cinema é uma coprodução entre a Cia Clara e o Espaço Muda. Foto: Nilton Leal

Jorge Féo, do Espaço Muda, está trabalhando em parceria com Anderson Aníbal, da Cia Clara, no projeto Cinema, com estreia prevista para abril. A Fiandeiros deve abrir o seu espaço, na Boa Vista, para a realização de temporadas, planeja fazer o infantil Vento forte para água e sabão, e ainda vai lançar o Núcleo de Teatro Novelo, com alunos saídos dos cursos ministrados pela companhia. Breno Fittipaldi e Ana Dulce Pacheco devem estrear, em maio, Encontro Tchekhov, também sem incentivos.

– Colaborou Tatiana Meira

Alguns registros:

Carla Denise fez documentário sobre Hermilo Borba Filho

Leda Alves, viúva de Hermilo Borba Filho, acalenta o projeto de lançar um livro sobre a obra de Hermilo e o Teatro Popular do Nordeste (TPN). “Seria uma obra envolvendo vários pesquisadores”, conta. No último mês de dezembro, a dramaturga e jornalista Carla Denise lançou o DVD Coleção Teatro – Volume 3 – Hermilo Borba Filho, que além de entrevistas com atores, diretores, pessoas que conviveram com Hermilo, traz ainda uma entrevista antiga com o próprio diretor.

O livro TAP – Sua cena & sua sombra: O Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991), de Antonio Edson Cadengue, foi lançado em novembro. Esse regaste, fundamental para entender a trajetória do teatro em Pernambuco, está disponível em edição rica em detalhes e fotos. Outra publicação importante foi o livro Transgressão em 3 atos: Nos abismos do Vivencial, escrito por Alexandre Figueirôa, Stella Maris Saldanha e Cláudio Bezerra.

O Teatro Experimental de Arte de Caruaru comemora 50 anos em 2012 com muitos motivos para comemorar. Se neste ano o Festival de Teatro do Agreste (Feteag) não ocorreu por falta de apoio e recursos, a Câmara Municipal de Caruaru já aprovou, no mês de novembro, uma verba de R$ 100 mil para que a mostra seja realizada. O grupo deve ainda estrear O pagador de promessas e lançar um livro. Neste ano, pela primeira vez, o TEA participou do Festival de Curitiba.

A publicitária Lina Rosa Vieira está com a agenda lotada para 2012. Em junho, o Festival Internacional de Teatro de Objetos (Fito) será realizado em Belo Horizonte e deve passar por Florianópolis e Curitiba. Está quase certo que o Fito, que foi sucesso de público no Marco Zero, seja realizado aqui, em setembro, trazendo o espetáculo francês Transports Exceptionnels. Já está confirmado é que o Sesi Bonecos do Mundo virá a Pernambuco em novembro.

Lina Rosa Vieira deve trazer o Sesi Bonecos do Mundo e o Fito novamente ao Recife


Pé na estrada

O compromisso com o teatro de grupo está levando as produções pernambucanas para outras cercanias. Não são peças organizadas apenas para cumprir uma temporada, mas fruto da pesquisa, da investigação de uma linguagem e estéticas próprias de cada coletivo. O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, que estreou em 2010, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, rodou vários festivais do país e deve circular em 2012.

O grupo já está em fase de pesquisa para o novo projeto, que encerra a trilogia em homenagem ao diretor e professor Marco Camarotti. “Crescemos esteticamente. Começamos como um coletivo, mas não tínhamos organização de grupo, gestão. E conseguimos perceber o quanto isso é importante. Nós nos mobilizamos e conseguimos levar o público ao teatro”, conta o diretor Jorge de Paula.

Já o grupo O Poste Soluções Luminosas está comemorando a aprovação nos editais do Myriam Muniz e Procultura, que vão possibilitar que o espetáculo Cordel do amor sem fim, que estreou também em 2010 e passou por vários festivais, faça circulação por lugares cortados pelo Rio São Francisco. Nessas cidades, o grupo também fará formação e já deve começar a pesquisar sobre os jogos e brincadeiras das crianças do Nordeste e as africanas.

Circuito

Valmir Santos, curador deste ano do Festival Recife do Teatro Nacional, fez uma mostra ousada. Em vez de trazer grupos renomados, que de alguma forma sempre fazem parte do festival, como o Galpão e a Armazém Companhia de Teatro, optou por trazer peças que dificilmente viriam ao Recife, por conta da falta de apoio e das distâncias, e que compõem o repertório de alguns grupos com propostas e trabalhos estéticos interessantes. Vimos por aqui, por exemplo, duas montagens que depois foram premiadas pela Associação Paulista de Críticos de Arte: Luis Antonio – Gabriela, da Cia Munguzá, e O jardim (Cia Hiato).

O Jardim, da Cia Hiato, de São Paulo, emocionou o público. Foto: Ivana Moura

Ainda assim, os grupos tradicionais não deixaram de vir ao Recife. A Armazém trouxe o novo trabalho Antes da coisa toda começar; bem antes disso, Marieta Severo e Andrea Beltrão apresentaram, finalmente, a peça de Newton Moreno, com direção de Aderbal Freire-Filho, As centenárias; Marco Nanini trouxe sua premiada Pterodátilos; e Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Débora Evelyn vieram ao Recife com Deus da carnificina.

Para 2012, a produtora Denise Moraes já promete novas produções. Velha é a mãe, com Louise Cardoso e Ana Baird, e direção de João Fonseca, deve ser apresentada no Recife de 9 a 11 de março, no Teatro de Santa Isabel. Já de 11 a 13 de março, Denise Fraga encena Sem pensar, direção de Luiz Villaça.

Muitos planos, pouco tempo

Muitas promessas e projetos, mas um prazo apertado. Afinal, este ano é de eleição municipal. Só no último mês de agosto, o diretor de teatro Roberto Lúcio assumiu oficialmente a Gerência Operacional de Artes Cênicas da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, e agora a correria é grande para que os projetos possam sair do plano das ideias. No fim de novembro, a gerência fez uma reunião com a classe (João da Costa nem de longe tem a aprovação dos artistas, como ficou claro nesse encontro). Maria Clara Camarotti, gerente de serviço de teatro, apresentou um plano que contempla, entre muitas ações, um seminário de políticas públicas para as artes cênicas, o lançamento de edital específico para ensaios dos grupos nos equipamentos da prefeitura, a elaboração de uma proposta de criação de uma escola técnica (que será apresentado ao governo do estado), a realização do Mascate: Mercado das Artes Cênicas, ações formativas em gestão, produção e elaboração de projetos, e a realização do Fórum dos Teatros.

Perdemos

José Renato Pécora
Faleceu em maio, aos 85 anos. Fundador do Teatro de Arena de São Paulo e responsável pela peça Eles não usam black-tie, que marcou os anos 1950. Morreu após sessão de 12 homens e uma sentença, dirigida por Eduardo Tolentino.

No mês de agosto, perdemos Ítalo Rossi


Ítalo Rossi

Mais de 400 montagens e 50 anos de carreira estão no legado de Ítalo Rossi, que morreu aos 80 anos, em agosto. Nascido em Botucatu, em São Paulo, seu último personagem foi no humorístico Toma lá dá cá, da Globo.

Enéas Alvarez
Jornalista, crítico de teatro, ator do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), advogado, padre da Igreja Siriana Ortodoxa de Olinda, Enéas Alvarez morreu aos 64 anos, em 21 de novembro. Há 20 anos, sofria com problemas de saúde agravados pela obesidade.

Sérgio Britto
Considerado um mestre do teatro brasileiro, o ator e diretor Sérgio Britto faleceu no dia 17 de dezembro, de problemas cardiorrespiratórios. Tinha 88 anos e 60 anos de carreira. Atuou e dirigiu mais de 130 peças e apresentava na TV o programa Arte com Sérgio Britto.

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Ouvindo Hermilo falar

Dramaturgo e diretor Hermilo Borba Filho

Uma entrevista de mais de 40 minutos concedida pelo dramaturgo e diretor Hermilo Borba Filho (1917-1976) em 1973, para o Sistema Nacional do Teatro, é um dos grandes trunfos do DVD Coleção Teatro – Volume Três – Hermilo Borba Filho, que será lançado hoje, às 19h, pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e Massangana Multimídia.

O material é um bônus do documentário Hermilo no grande teatro do mundo, dirigido e roteirizado pela jornalista e dramaturga do grupo Mão Molenga de Teatro, Carla Denise, que será exibido gratuitamente no Cinema da Fundaj, no Derby. Na mesma ocasião também será relançada pela Edições Bagaço a tetralogia Um cavalheiro da segunda decadência formada pelos romances Margem das lembranças, A porteira do mundo, O cavalo da noite e Deus no pasto.

“A ideia desse vídeo surgiu de forma institucional, foi uma solicitação à Fundaj (onde Carla trabalha) quando se estavam homenageando os 90 anos de nascimento de Hermilo, em 2007. Eu fui convidada para dirigir esse documentário, mas depois de uma pesquisa, percebi que não existia um material em audiovisual sobre Hermilo”, explica a jornalista. Dois anos depois, em 2009, durante uma semana e meia, Carla entrevistou atores, diretores, professores, pesquisadores. Algumas dessas pessoas conviveram com Hermilo e foram capazes de recriar a sua trajetória pessoal e profissional, principalmente no teatro.

Há entrevistas com o ator Germano Hauit, com Abelardo da Hora, com o diretor Lúcio Lombardi, com o pintor José Claúdio, com Ariano Suassuna, com a atriz Geninha da Rosa Borges, com o ator Reinaldo de Oliveira e a viúva Leda Alves, além de pesquisadores como Luis Reis e João Denys.

“Era bricalhão, espirituoso, inteligente, mas na hora do ensaio, era rigoroso”, lembra Reinaldo de Oliveira, ator e diretor do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Na realidade, Hermilo começou no teatro ainda em Palmares, na Sociedade de Cultura de Palmares, onde nasceu. Quando veio estudar no Recife, se ligou ao grupo Gente Nossa, de Samuel Campelo. Durante quase dois anos, ganhava dois mil réis para ser “ponto” dos atores, ditar o texto para que eles repetissem. Era um repertório para fazer rir, peças de costumes da década de 1920.

Quando Samuel morreu, Valdemar fundou o TAP e Hermilo começou traduzindo peças de autores como Oscar Wilde. Foi também ator no TAP, mas aquele não era o teatro que ele queria.

No Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), entre 1946 e 1953, a obra de Hermilo toma os contornos políticos que a marcariam. Montou Garcia Lorca, Ibsen, Tchekhov. “Acho que, em certas épocas de crise, em certas épocas em que o homem necessita de ser politizado, acho que o teatro deve, como qualquer arte, não ficar abstraído dessa função política do homem. Ele tem que entrar nessa discussão”, diz Hermilo na entrevista. “O Teatro do Estudante de Pernambuco achava que não se poderia falar num teatro nacional sem a fixação de um autor nacional”, complementa. Em São Paulo, Hermilo começou como encenador profissional. Passou cinco anos por lá, foi crítico de teatro da Última hora e da Revista Visão, mas como explica Luis Reis, o teatro moderno que estava acontecendo em São Paulo não o interessava, porque copiava modelos europeus.

De volta ao Recife, Hermilo funda o Teatro Popular do Nordeste (TPN), cujo manifesto foi escrito por Ariano Suassuna. Estreou em 1960 com A pena e a lei, de Ariano, musicada por Capiba, no Teatro do Parque. “O TPN era um teatro de trincheira, denunciava o que estava acontecendo no Brasil”, conta Leda. Antes de montar uma peça, Hermilo sentava com os seus atores em volta de uma mesa – esse era, aliás, o momento mais importante; além de levar os intérpretes para frequentar terreiros e conhecer as manifestações populares. “Apesar de ele ter nascido no início do século, é contemporâneo, muito importante no cenário nacional. Um dos que primeiro viu o potencial das tradições populares para além da ideia do folclore. E ele bebeu nessa fonte para recriar a arte dele”, avalia Carla Denise.

O TPN encerrou suas atividades em 1975 e Hermilo faleceu um ano depois, de problemas cardíacos. O DVD Hermilo no grande teatro do mundo e a tetralogia estarão sendo vendidos no lançamento e o DVD depois estará disponível nas lojas da Fundaj.

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O gosto amargo do açúcar

Simião e a assustadora cumadre Fulozinha. Fotos: Ivana Moura

Em 25 anos de companhia, é a primeira vez que o Mão Molenga Teatro de Bonecos decide investir na dança como um dos elementos fundamentais da sua montagem. Em Algodão doce, que estreou neste último fim de semana no Teatro Hermilo Borba Filho, os passos inspirados no cavalo marinho e nas danças populares nordestinas tomam a cena, mas muitas vezes não conseguem se harmonizar com o restante do espetáculo. É como se os movimentos enérgicos tivessem mais espaço do que deveriam e, em alguns momentos, até “brigassem” mesmo com a cena que está sendo mostrada contada através dos bonecos.

As bailarinas Íris Campos e Elis Costa se uniram ao trio de atores do Mão Molenga

A peça, concretizada graças ao Prêmio Myriam Muniz, traz três histórias de assombração arraigadas no imaginário nordestino: O encontro de Simião com a Cumadre Fulozinha, As desventuras de Ioiozinho e O negrinho do pastoreio. Bem antes disso, são os atores que convidam o público a entrar no teatro e até fazem algodão doce para as crianças. De tanto açúcar, os dentes ficaram podres e o trabalho na lida os deixou cansados. A montagem começa quase com uma contação de histórias, com Fábio Caio explicando a origem do açúcar.

Marcondes Lima e Fátima Caio

Na primeira história de assombração, bonecos até maiores do que os próprios atores são levados ao palco. A cumadre Fulozinha, por exemplo, causou medo na criança que pulou para o colo da irmã (o espetáculo é indicado para maiores de oito anos). Marcondes Lima, ator, diretor e autor do argumento da montagem, se supera na manipulação do boneco Simião.

No sábado, um dos problemas da apresentação principalmente nesta primeira história, é que foi muito difícil ouvir e entender o áudio pré-gravado pelo atores. Não sabemos se era um problema da gravação mesmo ou do som do teatro.

Nos outros dois quadros, os bonecos são pequenos e bem mais graciosos (embora alguns deles não tenham olhos!), todos eles feitos com uma textura que lembra algodão doce. Aí as cenas adquirem outra potência. Se em As desventuras de Ioiozinho ela é mais tradicional, com aquela caixa que faz referência aos espetáculos de mamulengo apresentados no interior, em O negrinho do pastoreio os diálogos acontecem em módulos móveis que remetem aos grandes carros que levam canas nas usinas de açúcar. Uma história que ganha contornos muito mais delicados, embora seja cruel e amarga como todas as outras.

O negrinho do pastoreio

Outra questão que pode ser discutida é o fato de a montagem representar os negros com bonecos cor de rosa, como o algodão doce. Até que ponto o preconceito é realmente debatido na peça? Ou ela apenas joga questões, como o abuso do senhorzinho com os escravos, sem se demorar em trazer reflexão ao que está sendo exibido? Basta só Ioiozinho ser levado pelo “ser do mal”? Com a montagem, o grupo constrói imagens que, apesar de aparentemente delicadas, revelam intolerância, preconceito, resquícios de uma história que de doce não tem nada e que merece ser conversada com as crianças tanto no teatro quanto fora dele.

Ficha técnica Algodão doce
Direção cênica/ Direção de arte: Marcondes Lima
Argumento e Roteiro: Marcondes Lima
Diálogos e letras de músicas: Carla Denise
Elenco: Elis Costa, Íris Campos, Fábio Caio, Fátima Caio e Marcondes Lima.
Produção: Mão Molenga Teatro de Bonecos e Renata Phaelante
Criação dos bonecos: Marcondes Lima e Fábio Caio
Execução dos bonecos: Atelier do Mão Molenga
Design de luz: Sávio Uchôa
Adereços: Mão Molenga
Direção musical: Henrique Macedo

Serviço:
Algodão doce, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Quando: sábados e domingos, às 16h30, até 21 de agosto
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, Bairro do Recife
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Informações: (81) 3355-3320

Espetáculo cumpre temporada no Teatro Hermilo

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