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Tom cômico da traição

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Obsessão com os atores Tarcísio Vieira, Nilza Lisboa, Silvio Pinto, Simone Figueiredo e Diógenes D. Lima 

O reverso da amizade pode ser muito cruel. Com pitadas de inveja, rodelas de ciúme, nacos de hostilidade. O antagonismo põe em litígio competências. E a disputa chega a picos de desinteligências de guerra. Vale tudo para derrotar o inimigo… sim, aquele mesmo que já foi cúmplice, confidente, porto seguro de afetos mais nobres. O espetáculo Obsessão trata dessas reviravoltas na vida de duas mulheres, quase irmãs, de um vínculo que azedou e o orgulha e a arrogância impediram a superação. A montagem pernambucana faz uma sessão especial nesta sexta-feira, às 20h, no Teatro de Santa Isabel, no Recife. 

Então tá, elas vibram no diapasão da vingança. Sem direito a bandeira branca. E tudo começa porque uma delas “rouba” o namorado da outra, que não perdoa a traição. Guerra declarada. Motivo fútil para uns, torpe para outros. Mas o texto de Carla Faour explora uns quiproquós para arrancar o riso da plateia e expor a banalidade da situação. É certo que relacionamentos extraconjugais já renderam de tragédias a comédias rasgadas.

O diretor Henrique Tavares posiciona a peça como um “melodrama moderno”, com quebra cronológica e flutuações do espaço. Passado e presente se revezam em  por meio de flashback e avanços no tempo.

Em tom cômico, peça mostra que mulheres traídas podem ser perigosas. Fotos: João Rogério 

Em tom cômico, peça mostra que mulheres traídas podem ser perigosas. Fotos: João Rogério Filho

Marina (Simone Figueiredo) e Lívia (Nilza Lisboa) gravitam em torno do homem para traçar os embates, alimentando um vínculo passional de mútua dependência; dão pistas que são  obcecadas uma pela outra. Das maquinações vingativas brota Ana Lee, uma escritora de romances e publicações de autoajuda, subliteratura de sucesso. Essa personagem projeta as frustrações, e mágoas na páginas dos livros.  Até que o destino arma o cenário para a vingança.

No jogo cênico oscila a densidade das questões que tocam as relações humanas – anseios frustrações, autoestima, casamento e solidão e o tom bem-humorado dado aos temas. Essas mulheres são cáusticas e podem ser perigosas, não sabem perder e são arquitetas da revanche. E giram a metralhadora de mágoas e ofensas, frustrações e anseios.

São paixões turbulentas traduzidas no predomínio do vermelho na cenografia e nos figurinos. No elenco, estão Simone, Nilza e Silvio Pinto – também produtores do espetáculo, que não contou com financiamento público. Além de Diódenes D. Lima e Tarcísio Vieira. A direção de arte é assinada por Célio Pontes e a assistência de direção fica a cargo de Henrique Celibi.

A encenação estreou no ano passado e a marcou a volta da atriz e produtora cultural Simone Figueiredo aos palcos, após uma ausência de 15 anos. Nesse ínterim ela exercer cargos públicos, entre eles, o de secretária de Cultura do Recife e o de diretora do Teatro de Santa Isabel.

A primeira versão do texto estreou em 2012, no Rio de Janeiro, onde teve uma carreira bem-sucedida, inclusive com a autora no elenco. O texto foi construído em um projeto de  experimentação dramatúrgica na internet que incluiu sete autores da cena contemporânea carioca. Carla Faour postou trechos de Obsessão no site www.dramadiario.com. Foram publicados 15 capítulos com posts semanais durante quatro meses.

Serviço
Espetáculo Obsessão
Quando: Sexta (02/12), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, s/n, Santo Antônio, Centro do Recife
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
Informações: 81 3355.3323 / 81 3355.3324

 

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Sessão especial de Obsessão

Mulheres apaixonadas, ideias  fixas e traições alimentam a peça

Mulheres apaixonadas, ideias fixas e traições alimentam a peça

Amizade e rivalidade duelam na comédia Obsessão, que faz uma sessão especial no Teatro de Santa Isabel, nesta quinta-feira, às 20h. A peça é uma adaptação pernambucana de uma montagem de sucesso que está em cartaz desde 2012, no Rio de Janeiro. A dramaturgia é de Carla Faour (Tapas e Beijos), indicada ao Prêmio Shell 2012 de Melhor Autor. A direção é do carioca Henrique Tavares (Amor e Sexo), também indicado ao Prêmio Shell 2012 de Melhor Diretor pela peça.

A Obsessão pernambucana é encabeçada pelos atores Simone Figueiredo, Nilza Lisboa e Silvio Pinto, que também assumem a produção sem nenhum apoio de Leis de Incentivo.

O espetáculo fez curta temporada no Teatro Boa Vista, no último mês de maio. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).

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Algumas opções teatrais do fim de semana

O-Lançador de Foguetes faz sessão gratuita domingo às 16h30, no Marco Zero, no Bairro do Recife. Foto: Raquel Durigon/ Divulgação

Espetáculo gaúcho faz sessão gratuita domingo às 16h30, no Marco Zero. Foto: Raquel Durigon

O Lançador de Foguetes integra o repertório do Grupo de Teatro De Pernas pro Ar – da cidade gaúcha de Canoas – desde 2006. A montagem com o ator Luciano Wieser (que também assina a direção e cenografia) está na programação do 18º Circuito Palco Giratório Sesc.

A trupe faz várias apresentações gratuitas em Pernambuco e a primeira delas é no domingo às 16h30, no Marco Zero, no Bairro do Recife.

O bando borra as fronteiras de técnicas circenses, formas animadas e música para realizar seus experimentos de linguagens. Em O lançador de foguetes a cenografia, figurinos excêntricos e bonecos com mecanismos de manipulação únicos colaboram para a comunicação com o espaço urbano. O protagonista procura um lugar ideal para sua experiência cientifica. Ele anda no seu triciclo abarrotado de elementos cênicos, calcula os fenômenos físicos e busca encontrar a energia da plateia.

SERVIÇO
Espetáculo gaúcho O Lançador de Foguetes
Quando: domingo às 16h30
Onde: Marco Zero, no Bairro do Recife
Quanto: Grátis

Outras apresentações do espetáculo O Lançador de Foguetes em PERNAMBUCO – Palco giratório 2015
02/06 – BELO JARDIM (PE)
03/06 – BUIQUE (PE)
05/06 – BODOCÓ (PE)
06/06 – OURICURI (PE)
07/06 – ARARIPINA (PE)
11/06 – PETROLINA (PE)

Algodão doce faz apresentação dentro do projeto Palco Giratório. Foto: Ivana Moura

Algodão doce faz apresentação no Teatro Marco Camarotti. Foto: Ivana Moura

O grupo Mão Molenga (PE), também está no Palco Giratório com a encenação em teatro de bonecos Algodão doce. A apresentação está marcada para às 16h do sábado, no Teatro Marco Camarotti (Rua do Pombal, s/n, Santo Amaro).

A montagem foi erguida a partir da chamada Civilização de Açúcar e da textura de algodão dos bonecos, em variados tamanhos e técnicas de manipulação. Além da dança inspirada na tradição cultural pernambucana, principalmente o cavalo-marinho São narradas três histórias de assombração, Comadre Fulozinha, As desventuras de Ioiozinho e O Negrinho do Pastoreio.

A direção cênica e direção de arte são de Marcondes Lima. O argumento e roteiro são assinados por Marcondes Lima e Carla Denise. O elenco é formado por Elis Costa, Íris Campos, Fábio Caio, Fátima Caio e Marcondes Lima. O espetáculo é indicado para crianças a partir de 8 anos. O ingresso custa R$ 20 e R$ 10 (meia).

SERVIÇO
Espetáculo Algodão doce
Quando: Sábado (30/05) às 16h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua do Pombal, s/n, Santo Amaro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)

Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver inicia nova temporada

Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver inicia nova temporada

ACONTECE ENQUANTO VOCÊ NÃO QUER VER
A nova temporada do espetáculo Acontece enquanto você não quer ver, começa amanhã, no Espaço Caramiolas (Avenida Dantas Barreto, 324, 7º andar, Santo Antônio). A encenação foi criada para um espaço de teatro domiciliar, e está dividida em dois atos: Bem guardado e Rua Garopaba, 410. A produção avisa que a peça faz um desafio à moralidade vigente e mostra situações que podem ser consideradas desagradáveis. No elenco estão Daniel Barros e Fábio Calamy
SERVIÇO
Espetáculo Acontece enquanto você não quer ver
Onde: Espaço Caramiolas (Avenida Dantas Barreto, 324, 7º andar, Santo Antônio)
Quando: 30 de maio, 06, 13 e 20 de junho, sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 9790-8251.

NA BEIRA
Amanhã, sábado, às 19h30, é a última sessão desta temporada do monólogo Na beira. A peça é inspirada em histórias risíveis e comoventes da vida do ator Plínio Maciel. As reservas devem ser feitas pelo email teatrodefronteirape@gmail.com. O endereço completo do espetáculo, na Boa Vista, será fornecido na confirmação da reserva. A capacidade da casa é de 20 espectadores.Ingresso: R$ 20 (inteira).

OBSESSÃO
A rivalidade entre duas ex-amigas chega às raias da desrazão. A vingança é o tema da comédia Obsessão, com texto de Carla Faour e direção de Henrique Tavares, em cartaz no Teatro Boa Vista. Com Simone Figueiredo, Nilza Lisboa, Silvio Pinto, Diógenes Lima e Tarcísio Vieira.
SERVIÇO
Espetáculo Obsessão
Onde: Teatro Boa Vista (Colégio Salesiano)
Quando: sábado (30), às 21h.
Ingressos: R$ 60, R$ 30 (meia) e R$ 20 (promocional, à venda na bilheteria do teatro até às 17h).
Informações: 2129-5961.

H(EU)STÓRIA – O TEMPO EM TRANSE
A partir das cartas escritas para o poeta Jomard Muniz de Britto e o ex-governador Miguel Arraes foi erguido o espetáculo, que projeta as relações do cineasta baiano Glauber Rocha com o estado de Pernambuco.
SERVIÇO
Espetáculo H(Eu)stória – O Tempo em Transe
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados, às 20h (até o dia 20 de junho).
Ingresso: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

A RECEITA
A receita apresenta uma mulher que tempera sua vida de abandono e violência com comida. O solo é com a atriz Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas. O texto e a encenação são de Samuel Santos.
SERVIÇO
Espetáculo A receita
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, loja 1, Boa Vista).
Quando: De 29 de maio a 26 de junho, todas as sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 8484-8421.

VIVA RAUL – O TRIBUTO
A carreira de Raul Seixas é revisitada pelo ator e músico Renato Ignácio, junto com uma banda no espetáculo Viva Raul – o Tributo.
SERVIÇO
Espetáculo Viva Raul – O tributo
Quando: 30 de maio, às 21h.
Onde: Teatro Guararapes (Avenida Professor Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda).
Ingresso: Plateia R$ 120 e R$ 60 (meia). Balcão: R$ 100 e R$ 50 (meia).
Informações: 3182-8020

Última semana desta temporada de Em Nome do pai. Foto: Zé Barbosa

Última semana desta temporada de Em Nome do pai. Foto: Zé Barbosa

EM NOME DO PAI
Os caminhos tortuosos para estabelecer uma relação amorosa entre pai e filho é exibida no drama Em nome do pai, escrito pelo mineiro Alcione Araújo. O espetáculo marca a estreia na direção de Cira Ramos. Última semana.
SERVIÇO
Espetáculo Em nome do pai
Onde: Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do RioMar Shopping. Avenida República do Líbano, 251, Pina).
Quando: De 25 de abril a 31 de maio. Sextas e sábados, às 20 horas.
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3256-7500 ou 9157-5555

DANÇA

Percussionista Lucas dos Prazeres e Anne Costa em Abô

Percussionista Lucas dos Prazeres e Anne Costa em Abô

ABÔAbô é o nome do banho de ervas que purifica o corpo e afugenta os maus espíritos na prática do candomblé e umbanda. O espetáculo Abô tem direção e coreografia de Maria Paula Costa Rêgo e conta com o percussionista Lucas dos Prazeres, estreando como bailarino profissional e a bailarina Anne Costa no elenco.

O Grupo Grial leva para a cena um olhar bem peculiar sobre os movimentos das celebrações religiosas afro-brasileiras, mas tendo como base a estética e a linguagem da dança contemporânea. Fala sobre a poética dos orixás. O trabalho recebeu patrocínio do Prêmio Afro 2014, da Petrobras.
SERVIÇO
Espetáculo Abô
Onde: Sítio Trindade (Estrada do Arraial, s/nº, Casa Amarela).
Quando: de 28 a 31 de maio, às 19h30.
Ingresso: Entrada gratuita

ELÉGÙN – UM CORPO EM TRÂNSITO
A corporeidade e a performatividade são os dois elementos de pesquisa do espetáculo Elégùn. O título remete àquele que incorpora um arquétipo em sete cenas.
SERVIÇO
Espetáculo Elégùn
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados (até o dia 18 de julho), sempre às 19h.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

Espetáculo retrata vida e obra de Dorival Caymmi. Foto: Paula Alencastro/ Divulgação

Espetáculo retrata vida e obra de Dorival Caymmi. Foto: Paula Alencastro/ Divulgação

DORIVAL OBÁ
O compositor baiano Dorival Caymmi cresceu dentro de um terreiro de candomblé, onde era preparado para ser o obá (um tipo de coordenador do terreiro). Abandonado pela mãe quando tinha 3 anos, foi no candomblé que ele praticou sua religiosidade, e se descobriu filho de Xangô.

O grupo Vias da Dança homenageia o baiano no espetáculo Dorival Obá, que tem coreografia do ator e bailarino Juan Guimarães. No elenco estão Thomas de Aquino Leal, Júlia Franca, Natália Brito, Rayssa Carvalho e Simone Carvalho.

O Vias da Dança, da diretora Heloísa Duque, utiliza depoimentos de Dorival em áudio, a partir de entrevistas, além de músicas e trechos de percussão do repertório do cantor como É doce morrer no mar, Samba da minha terra, O que é que a baiana tem e Canto de Nanã.
SERVIÇO
Espetáculo Dorival Obá
Onde: Espaço Experimental (Rua Tomazina, 199, 1º andar, Bairro do Recife).
Quando: 30 de maio, às 20h.
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Informações: 3224-1482.

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Versão pernambucana do melodrama Obsessão

Simone Figueiredo (segunda da direita para a esquerda) volta ao palco depois de 15 anos. Crédito: João Rogério Filho/Divulgação

Simone Figueiredo (loura) volta ao palco depois de 15 anos. Foto: João Rogério Filho

A vingança desperta forças inimagináveis. Confidentes de uma vida, Lívia e Marina nutrem uma pela outra um sentimento ambíguo que mistura amor e ódio. Nada nessa relação é simples. Elas compartilham venturas e desventuras do amor, experiências do dia a dia, expostas em cenas curtas que embaralham o tempo cronológico. A traição muda a consistência dessa amizade.

Quando Livia se apaixona por Marcelo, Marina passa a acompanhar (e cobiçar) a felicidade da amiga. Chega à conclusão que também deseja o rapaz.

Obsessão é uma comédia de costumes escrita por Carla Faour; um melodrama como diz o diretor Henrique Tavares. O texto foi construído e postados nas páginas do www.dramadiario.com — site que reúne nomes da nova dramaturgia carioca.

A peça faz sucesso no Rio de Janeiro há três anos e recebeu o prêmio APTR 2012 de Melhor Autor; e duas indicações ao Prêmio Shell. Uma encenação pernambucana, com direção de Henrique Tavares, o mesmo que assina a versão carioca, estreia amanhã, no Teatro Boa Vista.

O espetáculo traz de volta aos palcos a atriz Simone Figueiredo, afastada da ribalta há 15 anos. Simone, que foi secretária de cultura do Recife, interpreta Marina. Ao seu lado, rivalizando pelo mesmo homem está Nilza Lisboa como Lívia. As duas mergulham no universo feminino e amoroso, repleto de sutilezas e perversões. Também estão no elenco os atores Silvio Pinto, Diógenes D. Lima e Tarcísio Vieira.

A direção de arte está sob responsabilidade de Célio Pontes e a assistência é assinada por Henrique Celibi. A produção do espetáculo está a cargo das duas atrizes Simone e Nilza junto com Silvio Pinto e Ulisses Dornelas.

SERVIÇO
Espetáculo Obsessão
Quando: De 22 de maio a 14 de julho; sextas e sábados, às 21h e domingos, às 19h30
Onde: Teatro Boa Vista – Rua Dom Bosco, 551, Boa Vista
Ingresso: R$ 60 e R$ 30 (meia), à venda de segunda a sexta, das 10h às 17h, e nos dias do espetáculo, na bilheteria do teatro
Informações: 2129-5961

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Peça As Confrarias expõe lado podre do poder

Espetáculo As confrarias, montagem da Cia Teatro de Seraphim. Foto: Larissa Moura

Uma mulher do povo contra um mundo injusto, desumano e cruel. Como Antígona, heroína de Sófocles, Marta desafia os poderosos para sepultar seu ente querido. O dramaturgo Jorge Andrade (1922 -1984) foi buscar material no Brasil colonial (tempo da mineração) para falar das atrocidades que brasileiros anônimos foram vítimas no final da década de 1960. Uma estratégia para estabelecer o distanciamento crítico.

O espetáculo As Confrarias leva para o centro da cena a trajetória de uma mãe, Marta, na sua determinação por enterrar seu filho, José, um ator assassinado. As autoridades desconfiaram que ele participava de movimentos revolucionários e o extinguiram. Sua morte, como sua vida, vale pouco para os detentores do poder, mas não para a sua mãe. José multiplicava seu corpo em muitas vidas, nas suas metamorfoses de ator. Morto vira uma arma em mãos maternas para lutar contra a prepotência e a hipocrisia desses “clubes” que se arrogam ser senhores do destino material e espiritual de toda comunidade. No final do espetáculo ela fala: “(…) Sabe por que o deixei naquele adro? Por que usei seu corpo? (…) porque… se eu o enterrasse com minhas mãos, esqueceriam que você viveu… e porque morreu”.

Nilza Lisboa, como Marta, Roberto Brandão (José) e Carlos Lira (Sebastião)

Não, não é uma peça fácil de ser erguida. A começar pelo número de personagens, mais de 40. As mudanças temporais também exigem uma engenharia (produção, verba para traduzir a opulência das confrarias) e criatividade para não cair no didatismo. E também uma pulsação contemporânea para que a peça não seja encarada como um episódio longínquo do passado. Criar nervuras que toquem e signifiquem no presente.

Escrita em 1969, a peça As Confrarias ficou inédita até este ano, quando a Cia. Teatro de Seraphim encarou o desafio de encená-la. A montagem fez temporada no Teatro Barreto Júnior, no Recife, e participou há pouco do  Aldeia Yapoatan – II Mostra de Artes em Jaboatão dos Guararapes.

O encenador Antonio Cadengue diminuiu a peça, cortou cenas, personagens, multiplicou papéis para um mesmo intérprete. O espetáculo de um único ato está dividido em dois planos de ação: presente e passado. A Marta do presente é interpretada por Lúcia Machado. A do passado, por Nilza Lisboa. Alternando entre passado e presente, estão as passagens – muito bonitas, por sinal – da mãe e de Quitéria, namorada de José, carregando uma rede com o corpo inerte do filho de Marta. As portas do cenário significam, fecham e abrem, em movimentos de revelação/ocultação. A cenografia é assinada por Doris Rollemberg.

Portas se abrem para revelar a passagem do morto

Um dado histórico é de fundamental importância para o entendimento dessa luta. Não existiam cemitérios públicos no período colonial brasileiro. Os que existiam funcionavam junto às igrejas, em solo dito sagrado. As igrejas guardavam os registros de nascimento, casamento ou morte. Pense num poder!!! Isso passa a ser um problema para Marta, porque seu filho não era vinculado a nenhuma ordem.

E os integrantes das irmandades e confrarias não eram santos e estavam muito mais preocupados com o reino da Terra e os seus prazeres materiais do que com o reino do Céu. Funcionavam como clubes fechados que serviam aos interesses de determinados grupos sociais. Para participar de cada uma delas havia uma longa lista de exigências. E por trás dessas exigências se escondiam a tirania de seus dirigentes, que manipulavam discursos e regras a partir de seus interesses, dando interpretações bem pessoais às leis.

Pároco da Irmandade de São José (Rudimar Constâncio) pressiona Marta

Pároco da Irmandade de São José (Rudimar Constâncio) pressiona Marta

Marta, uma desclassificada, questiona o poder das confrarias ao aparecer em cada uma delas para pedir um lugar para sepultar o corpo de José. É um embate individual contra o mundo hostil que a cerca. Os diálogos estão repletos de tensão e ironias de todos os lados.

A peleja de Marta é travada em um único dia, em Vila Rica (hoje Ouro Preto, Minas Gerais), no século XVIII, à época da Inconfidência Mineira. Andrade não enfocou os que a Pátria consagrou como heróis. O dramaturgo põe uma lente de aumento na relação de despotismo dos religiosos para com os marginalizados. E desnuda os procedimentos de exclusão por parte de quem estigmatiza os abandonados da sociedade. No caso os confrades desqualificam, eliminam de seus quadros tendo como parâmetros – não muito claros – questões de cor e raça. Muitas profissões também são alvo de perseguição, a de ator é uma delas.

A protagonista de As Confrarias também é personagem de outra peça de Jorge Andrade, O Sumidouro, em um papel secundário de uma empregada questionadora. Em As Confrarias, Marta conduz a trama. O debate sobre o papel social do produtor de arte também é levantado pelo autor em O Sumidouro, só que lá as crises de criação se concentram na figura do dramaturgo.

Os bastidores do poder são expostos a partir das confabulações, intrigas e decisões das irmandades e confrarias.

Os bastidores do poder são expostos a partir das confabulações, intrigas e decisões das irmandades

Como sabemos desde as bancas do colégio, devido à exploração do ouro, Minas Gerais teve um desenvolvimento muito grande. As “ligas” dirigidas pelos religiosos gostavam de exibir opulência. Na peça aparecem quatro de muitas que existiram em Vila Rica, no século XVIII. São elas: Irmandade do Carmo (confraria dos brancos e ricos); Irmandade do Rosário (dos negros puros); Irmandade de São José (dos pardos que recebia os artistas) e Irmandade da Ordem Terceira das Mercês (que juntava negros, brancos e mulatos).

A primeira Confraria visitada é a da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, que recusa o pedido:

Ministro – Não sabe que infiéis, suicidas e atores não podem ser enterrados em igrejas?

Marta – Uma confraria cativa em gargalheiras de sangue, de crença, interesses, de leis, torna-se covil de tiranos. Não seria aqui que deixaria o corpo do meu filho…

Antes desse arremate há todo um jogo de revelações até a conclusão de que o filho era ator, uma profissão considerada perigosa e marginal.

A Confraria do Rosário, que reúne escravos e ex-escravos, foi a segunda a ser visitada. “Meu filho viveu entre pessoas como vocês(…) e amou mulher de sua raça”, argumenta Marta. Mas por meio do embate discursivo ela chega à conclusão de que essa irmandade é tão preconceituosa quanto a outra: “A única diferença entre vocês e o Carmo é a cor da pele. Escondem-se atrás dela, e só sabem se lamentar. O que geram seus pais é produto de venda, compra ou troca. Escravizam também por este ouro! São tão odientos quantos os brancos”.

A Irmandade São José, dos mulatos, é a terceira a ser visitada por Marta. Lá também é rechaçada. Gananciosos e ávidos pelo poder, tentam conseguir informação sobre os inconfidentes para negociar em benefício próprio. Marta dá o troco deixando uma sacola de areia, que eles pensam que é ouro.

Cobiça é um dos pecados desses grupos

Cobiça é um dos pecados desses grupos

A quarta e última visitação de Marta é feita à Ordem Terceira da Mercês, irmandade que, teoricamente, admite sujeitos de todas as origens. O debate dos seus integrantes é o mesmo das outras confrarias, ouro, poder e desta vez se divertem com a notícia de que Marta pregou uma peça na irmandade de São José.

“Devem estar aqui os que pensam como meu filho, os homens que ele procurava. É esta a minha igreja”, provoca Marta. Depois de uma longa e torturante inquirição por parte dos religiosos, a protagonista grita: “Por quem meu filho morreu? Por vocês? Malditos hipócritas!”

Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses

Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses

As cenas seguem uma ordem de revelações. Abre com o ator Gilson Paz como o Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses (algumas carregando flores) para celebrar as imagens do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989), famoso por suas fotografias de nus masculinos, carregadas de erotismo homossexual. Esse Anjo volta a parecer no decorrer do espetáculo, ou para saturar sentidos Terra/Céu, para investir na cena de sensualidade ou estabelecer conexões entre cenas.

A interpretação dos atores salienta o jogo de teatralidade. Isso ganha grandes proporções nos embates entre Marta e os confrades. Mas não há muitas variações entre presente e passado. No geral há uma frieza na montagem, que não aquece as palavras do autor. É como se as interpretações seguissem uma linha monocromática e previsível – mesmo com a alternância entre planos e a exposição de episódios soturnos, não ganham relevo.

O texto de Jorge Andrade é complexo e vai desfiando aos poucos a história de Marta, de seu marido Sebastião e de seu filho José. Em cada irmandade é revelada um pouco mais dessa trajetória.

Lúcia Machado

Lúcia Machado

Lúcia Machado vive a Marta da via-crucis. Com maestria faz o jogo teatral, provocando seus interlocutores, explorando com riqueza expressões faciais e gestuais. Mas houve problemas com a voz. Na apresentação no Teatro Luiz Mendonça, por exemplo, estava com pouca projeção vocal, o que dificultou a audição.

Brenda Ligia está bem no papel de Quitéria (namorada de José) que ganhou a liberdade com o dinheiro ganho como cortesã e desafia os costumes.

A opção do encenador de dobrar papéis é válida. Mas como os atores que se revezam nas confrarias pouco se diferenciam entre si, parece que há apenas trocas de figurino. Mesmo as reações mais fortes de um ou outro intérprete, como Rudimar Constâncio ou Ivo Barreto, Marcelino Dias ou Taveira Júnior, não demarcam as diferenças entre eles.

Não enxerguei individuações entre os representantes de cada confraria. E chego a pensar que isso poderia ter sido proposital para produzir o sentido de que todos agem da mesma forma. Mas o preconceito dos diferentes ganharia mais relevo.

A narrativa vai se encaixando e revelando detalhes terríveis da constituição humana. Mas sinto falta de vigor na montagem. Ela não vibra, com exceção da atuação de Lúcia (embora prejudicada pela projeção vocal). A história desperta interesse, mas não toca. Parece parada num passado distante sem que isso nos diga respeito.

A ideia de espelhamento de Marta, entre passado e presente é bem interessante. A Marta do passado (Nilza Lisboa) parece mais presa, meio sufocada em suas vestes. O melhor momento é quando ela desafia o religioso que tenta “catequizar” Quitéria. Marta busca chocar o homenzinho da igreja ao afirmar que assiste às cenas de amor de seu filho com a namorada.

Roberto Brandão interpreta José

Roberto Brandão interpreta José e Brenda Lígia, Quitéria

A atuação de Roberto Brandão, ator que faz José, é correta, mas sem brilho. Não traduz a juventude de seus anos nem a ousadia de suas escolhas. Parece acanhado, tímido demais para desafios tão grandes. O link com o presente – da insatisfação contra o mundo e manifestações que ocorrem mundo afora – poderia ter potência nas cenas das buscas do jovem ator, mas isso não se estabelece.

No metateatro (nas representações cênicas de José à partir da memória de Marta), falta fôlego a essa “apologia da expressão teatral”. Na tragédia Catão ele faz Marco-Bruto, com roupa de centurião, e falta peso, densidade, vigor.

Não podemos deixar de registrar que há uma meticulosa precisão na marcação cênica feita pelo encenador. Mas essa ocupação de espaços com suas hierarquias não é suficiente para incendiar a mente do espectador.  As marcas do encenador estão lá, mas parece um registro dobrado de si mesmo.

A revolta transforma um pacato cidadão

A revolta transforma um pacato cidadão

Carlos Lira, que interpreta Sebastião, não destaca a transformação pela qual passa esse pacato cidadão que plantava e colhia nas terras de Morro Velho. Encontraram ouro e anunciam que o subsolo pertencia ao Estado e à Igreja. Suas terras são confiscadas. Os momentos da revolta inicial, passando pelo engajamento político – de fazer justiça com as próprias mãos –, ao desfecho de ser enforcado, não são devidamente ressaltados em sua riqueza de detalhes.

Os figurinos e adereços de Anibal Santiago e Manuel Carlos são elegantes com seus ternos e opas. A iluminação tem momentos de envolvimentos, como nas aberturas das portas e passagem das mulheres carregando a rede, mas em outros parece errar a mão e a marcação, deixando atores no escuro, por exemplo.

A trilha sonora de Eli-Eri Moura dá textura às situações dramáticas; cria climas com os cruzamento das músicas sacras, barroca, até o toque do maracatu. É uma presença.

De todo modo, a Cia. Teatro de Seraphim e seu diretor Antonio Cadengue prossegue e persegue um teatro crítico, que leva à reflexão.

*Este texto é resultado de uma parceria com o Sesc Piedade, realizador do Aldeia Yapoatan

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