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Mais Ocupação Pernambuco em São Paulo

Bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo em As Três Mulheres de Xangô. Foto: Divulgação

Maria Paula Costa Rêgo exibe As Três Mulheres de Xangô no Teatro do Contêiner. Foto: Divulgação

A Ocupação Pernambuco em São Paulo, no Teatro de Contêiner, da Cia Mungunzá, chega à segunda semana com apresentações de Amor, Segundo As Mulheres de Xangô e Abô, do Grupo Grial de Dança; Rei Lear, da Remo Produções e um show-festa do Coletivo Reverse. Essa programação especial começou no dia 18 e segue até 5 de novembro, no bairro de Santa Ifigênia.

As Três Mulheres de Xangô exaltadas na peça coreografia de Maria Paula Costa Rego são Iansã, Oxum e Obá. O trio briga pelo amor do orixá e cada uma utiliza as armas de sua feminilidade.  Já  Abô carrega a força, o mistério e a beleza dos mitos africanos na sua composição cênica, com interpretação de Anne Costa, Maria Paula e Silas Samarki. Na religião afro-brasileiro, Abô significa o banho de ervas para purificar o corpo e afastar as energias negativas. 

O Grupo Magiluth abriu a Ocupação Pernambuco com espetáculo O Ano em que Sonhamos Perigosamente, que problematiza o cenário político brasileiro e mundial a partir das articulações da cena e seus dispositivos. O projeto Estesia levou ao palco uma experiência híbrida de som e luz, envolvendo produtores musicais Pachka (Miguel Mendes e Tomás Brandão), o cantor e compositor Carlos Filho e o iluminador cênico Cleison Ramos.

Paula de Renor, em Rei Lear. Foto: Rogério Alves

Paula de Renor, Sandra Possani e Bruna Castiel em Rei Lear. Foto: Rogério Alves

Rei Lear é visto pelo teórico Jan Kott como uma peça sobre a decomposição e o declínio do mundo. Em Shakespeare nosso contemporâneo, ele argumenta que “dos doze principais personagens, metade é justa, a outra injusta. Uma metade de bons, uma metade de maus. A divisão é tão lógica e abstrata quanto numa peça de moralidade. Mas é uma peça de moralidade em que todos serão aniquilados: os nobres e os vis, os perseguidos e os perseguidores, os torturadores e os torturados”.

O diretor carioca Moacir Chaves destaca na cena as questões pertinentes aos dias de hoje: como se constroem as estruturas de poder, injustiças sociais, tratamento ao idoso e à mulher. As atrizes Paula de Renor, Sandra Possani e Bruna Castiel se desdobram em vários personagens.  Os músicos Miguel Mendes e Tomás Brandão executam ao vivo a trilha sonora (um diálogo da música eletrônica com a música popular) criada por eles especialmente para o espetáculo. Rei Lear conta com incentivo do Funcultura-Secretaria de Cultura- Fundarpe/Governo de Pernambuco para essa circulação.

PROGRAMAÇÃO

Amor, segundo as Mulheres de Xangô, do Grupo Grial de Dança 
Quando: 23 e 24  de Outubro, Segunda e terça às 20h
Onde: Teatro de Contêiner Mungunzá ((rua dos Gusmões, 47, Santa Ifigênia, fone: 97632-7852)
Quanto:R$ 30,00 / R$ 15,00 / R$ 5,00 (moradores)
Duração: 52 min.
Classificação: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Concepção e Direção: Eric Valença
Intérprete criador: Maria Paula Costa Rêgo
Trilha Sonora: Tarcísio Resende
Figurino: Gustavo Silvestre
Iluminação: Luciana Raposo

Abô, do Grupo Grial de Dança
Quando: 25 de outubro, às 20h
Onde: Teatro de Contêiner Mungunzá ((rua dos Gusmões, 47, Santa Ifigênia, fone: 97632-7852)
Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 5 (moradores da Santa Ifigênia)
Duração: 52 min.
Classificação: Livre
FICHA TÉCNICA
Concepção e Direção: Maria Paula Costa Rêgo
Intérpretes: Anne Costa, Maria Paula e Silas Samarki
Trilha Sonora: Berna Vieira e Lucas dos Prazeres
Figurino: Gustavo Silvestre
Cenário: Gustavo Silvestre e Maria Paula
Iluminação: Luciana Raposo

Rei Lear, da Remo Produções
Quando: de 27 a 29 de outubro e de 2 a 5 de novembro, às 21h
Ingressos: R$ 20, R$ 10 (meia) e R$ 5 (moradores da Santa Ifigênia)
No dia 26 de outubro, haverá ensaio aberto, com entrada gratuita.
Duração: 80 min.
Classificação: 14 anos
FICHA TÉCNICA
Texto: William Shakespeare
Diretor: Moacir Chaves
Atrizes: Bruna Castiel, Paula de Renor e Sandra Possani
Iluminação: Aurélio de Simoni
Montagem de luz e operação: Luciana Raposo
Cenografia original: Fernando Mello da Costa
Figurinos: Chris Garrido
Trilha sonora e execução ao vivo: Tomás Brandão e Miguel Mendes
Produção Executiva: Elias Vilar
Produção geral: Paula de Renor
Realização: Remo Produções Artística

Coletivo Reverse
Quando: 1º de novembro, às 20h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (moradores da Santa Ifigênia)
Classificação: 18 anos

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Solo visceral de Dielson encerra Mostra de Dança

Coreografia mostra as sensações da experiência do bailarino com a bipolaridade. Foto: Pedro Escobar / Divulgação

Coreografia mostra a experiência do bailarino com a bipolaridade. Foto: Pedro Escobar / Divulgação

O solo de dança contemporânea O Silêncio e o Caos explora, em movimentos frenéticos, os estágios de um surto psicótico. Criado pelo bailarino Dielson Pessoa de Melo, a peça propõe uma reflexão sobre a bipolaridade, transtorno que atingiu Dielson em 2010. A montagem encerra a programação da Mostra Brasileira de Dança no Teatro de Santa Isabel, neste sábado.

Os elementos disparadores da composição da cena foram os próprios transtornos mentais. Esses sofrimentos psíquicos normalmente atraem o olhar preconceituoso da sociedade. Dielson resolveu combater esse silenciamento com sua dança e principalmente, debater por meio da arte os atos excludentes e de pré-julgamento por parte dos que se acham normais.

As ações corporais intensas e desconexas, mas em sincronismo técnico com a música, procuram provocar a sensação de incômodo na plateia.

A encenação conta com três lances. A violência motivada pelo impulso de protestar contra as agruras do mundo. O erotismo, estranho e selvagem, com um corpo a pulsar fora do padrão. E o retorno a um território mais acolhedor, de amor e compreensão profunda pela aflição do outro.

Prêmio de melhor bailarino pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2007 quando ainda integrava o Balé da Cidade de São Paulo, Dielson é muito prestigiado no mundo da dança e já interpretou coreógrafos renomados como Cayetano Soto (da Espanha), Jorge Garcia (Brasil), Ohad Naharin (Israel), Mauro Bigonzzett (Itália), entre outros.

Pernambucano, ele foi, durante anos, um dos principais bailarinos da companhia de Deborah Colker. Com ela Dielson interpretou e protagonizou alguns espetáculos como 4X4, Velox e Tatyanna. Estava escalado para O Cão sem plumas, mas resolveu dar novo rumo à carreira e mergulhar em outro processo de autoconhecimento.

Ficha Técnica:
Intérpetre/Criador: Dielson Pessoa e Melo
Luz: Jathyles Miranda
Trilha e DJ: Lucas Ferraz
Classificação: 16 anos

O Silêncio e o Caos na Mostra Brasileira de Dança
Quando: Sábado (12/08) às 20h
Onde:Teatro de Santa Isabel. Praça da República, Bairro de Santo Antônio, Centro
Ingressos: R$ 10 (meia) e R$ 20

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As lutas pela Terra dos índios

Terra, Maria Paula Costa Rêgo. Foto: Guto Muniz /Dvulgação

Maria Paula Costa Rêgo espalha beleza no espetáculo que fala sobre indígenas Foto: Guto Muniz /Divulgação

Quanta deslealdade, covardia, desumanidade enfrentam os indígenas brasileiros até hoje. Os gananciosos da terra impingem a pecha de inimigo aos povos primordiais. E partem para o ataque pelas vias legais, com criações de leis que retiram direitos das tribos. Operam na parcialidade da mídia e constroem narrativas que tentam justificar o saque aos territórios. As ideias tacanhas de superioridade persistem na mente dos que defendem commodities, manipulados pela política neoextrativista do governo e pelos saqueadores legitimados em ruralistas e poderosas mineradoras. 
Os estragos são medonhos aos recursos naturais do País. É possível que não tenhamos noção.

Um pouco desse quadro inspirou a coreógrafa e bailarina Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial de Dança, a montar o solo Terra. O espetáculo rendeu o prêmio de melhor criadora-intérprete da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) para Maria Paula. Além de cinco troféus do Prêmio Apacepe de Dança 2014, do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, nas categorias Melhor Espetáculo, Trilha Sonora, Figurino, Bailarina e Iluminação. 

A peça coreográfica traz uma radicalidade política dos guerreiros que persistem na luta contra a destruição da Amazônia, suas riquezas e culturas e de outros territórios. Dos que resistem pela terra a dentro desse Brasil afora. Nos passos e gestos pulsam uma ligação com o solo venerável e com a natureza.

Após penúltima apresentação de Terra, sexta-feira (10/02), na curta temporada do espetáculo na Caixa Cultural Recife, pergunto o que Maria Paula encontrou no lugar mais próximo que chegou do índio brasileiro. Ela responde, tristeza. E explica que sua pesquisa ficou à margem de tribos de resistências, que não dão confiança ao “homem branco”, com razão; que sofrem com as manipulações governistas de entidades que deveriam defendê-las. 

Na sua investigação Maria Paula e seu diretor Eric Valença encontraram os indígenas desgarrados de suas tribos, bêbados e degradados vivendo das migalhas do capitalismo e ainda assim levando na bagagem sombras dos símbolos de sua cultura. Dessas raspas, dessas frestas, dos assombros cometidos pela barbárie de grupos anti-indígenas são erguidas imagens de uma força metafísica.

tera foto guto muniz

foto: Guto Muniz / Divulgação

 Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Maria Paula ocupa o espaço com seu virtuosismo e abraça a luz de Luciana Raposo. Com essa iluminação, o local é povoado de outros seres, a guerrear, brincar e fazer seus rituais. Os movimentos e a materialidade formada pela areia jogada ao ar e a iluminação precisa criam corpos que dialogam com a bailarina. A lona, que ora representa a terra invadida, que resiste, que esconde riqueza, possibilita ótimas combinações coreográficas.

A trilha sonora de Naná Vasconcelos convoca tribos diversas desses Brasil das desigualdades. Elas vão para a guerra, mas também mostram inocência e alegria da descoberta e muitos atributos estéticos, traduzidos nos efeitos sonoros desconcertantes, que criam  onomatopeias e sons da natureza com muito rigor.

São muitas problematizações desse estanho mundo contemporâneo levantadas pela encenação Terra, guiadas nos passos da tradição dos brincantes populares, que já fazem parte da pesquisa do Grial.

Plena e consciente do domínio da emoção que pode extrair do seu corpo, Maria Paula vivencia os vários estados de espírito dos índios nossos irmãos de misérias e de grandezas.

Para o índio, a terra é sagrada. Não pode ser encarada como algo que a cobiça desmedida do homem civilizado sangra até exaurir. A intérprete insiste nesse acorde e cria imagens que traçam um caleidoscópio histórico, desde os exploradores das primeiras colonizações europeias, aos violentados atuais nos seus direitos conquistados.

Esse é um dado aterrador. Mas, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, durante a ditadura militar brasileira, pelo menos oito mil indígenas foram assassinados, por ação ou por omissão do Estado. 

A invasão dos territórios continua, os massacres e todas as violências se inscrevem nos giros no ar desse espetáculo tão repleto de sentidos, nos rolamentos e em toda a habilidade da bailarina de jogar com meia tonelada de areia instalada na cena.

Como defende o organizador do livro Memórias sertanistas: Cem anos de indigenismo no Brasil (Ed. Sesc), “Não é preciso ‘genocidar’ os indígenas para que outros brasileiros, nas cidades, sejam felizes”. Terra grita pela defesa do índio e mostra as armas se for necessário ir pro ataque. Com coragem, humanidade e beleza.

Ficha técnica:
Direção: Maria Paula Costa Rêgo e Eric Valença
Intérprete: Maria Paula
Trilha sonora: Naná Vasconcelos
Figurino: Gustavo Silvestre
Luz: Luciana Raposo
Pintura de cenário: Manuel Dantas Suassuna.

Serviço
Terra – Grupo Grial de Dança
Onde: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Quando: 2 a 4 e 9 a 11 de fevereiro de 2016, às 20h
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)
Informações: (81) 3425-1915
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos

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Coragem de ser Terra para mãos, pés e vistas

 

Maria Paula Costa Rêgo no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz / Divulgação

Maria Paula Costa Rêgo no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz / Divulgação

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As conquistas e perdas dos povos indígenas e a certeza de que a luta continua. Foto: Guto Muniz/ Divulgação

O quanto de índio há em você, cidadão brasileiro? questiona o espetáculo Terra, derradeira parte da trilogia Uma história, duas ou três, do Grupo Grial, concebido e dançado pela bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo. E se posiciona a favor dos povos primordiais, que historicamente foram ameaçados, subjugados e rebelados; que tiveram seus territórios confiscados por leis feitas pelos beneficiários. Resistiu, Resiste.

Terra condena nos passos da dança contemporânea o genocídio desses povos e o preconceito que persiste até hoje. No corpo da bailarina pulsa a identidade e os movimentos das manifestações populares indígenas do Nordeste brasileiro.

Diálogo com o presente e com a luta. A peça coreográfica tem direção assinada por Maria Paula Costa Rêgo e Erick Valença. A trilha sonora, criada pelo percussionista Naná Vasconcelos, está carregada de efeitos sonoros, com onomatopeias e sons da natureza. E o cenário é assinado pelo artista plástico Manuel Dantas Suassuna.

A temporada integra as comemorações de 20 anos do grupo Grial, criada por Ariano Suassuna e Maria Paula Costa Rêgo e vai de 2 a 4 e de 9 a 11 de fevereiro de 2017, na CAIXA Cultural Recife.

A encenação é uma das mais premiadas do grupo. Terra ganhou o Prêmio APCA de 2013, na categoria Intérprete-Criadora, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. O solo também arrebatou cinco troféus do Prêmio Apacepe de Dança 2014, do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos.

Entrevista: Maria Paula Costa Rêgo

 Bailarina e coreógrafa do Grupo Grial. Foto: Victor Muzzi

Bailarina e coreógrafa do Grupo Grial. Foto: Victor Muzzi

Ariano Suassuna criou junto com você o Grupo Grial em 1997. Que falta faz Ariano Suassuna para você?
Eu gostava de mostrar a obra finalizada para Ariano, e discutir aquele material. A conversa era sempre muito maior, ele mostrava vídeos e músicas e dava muitas voltas em torno da arte almejada por nós. Este PAR, está me fazendo muita falta.

Qual a importância do Balé Popular na sua vida?
Foi minha segunda grande vivência, e sem ter passado pelo Balé Popular do Recife, eu certamente não teria chegado ao Grupo Grial.

Prêmio é importante? Por quê e para quê?
Quando uma instituição de respeito reúne pessoas conceituadas na sua área, para decidirem quem deve ganhar um prêmio pela sua obra, este prêmio tem um valor imensurável. Abre portas, chama olhares, além de confirmar que as suas escolhas estéticas reverberam de alguma forma.

Como você ultrapassou os limites territoriais e venceu o Prêmio APCA de 2013?
Os limites territoriais são ultrapassados quando acreditamos que ele não existe. Existe a dificuldade financeira, mas criamos espetáculos pensando em alcançar o mundo, então estas dificuldades diminuem.

Qual o seu pensamento em dança e como ele foi construído?
A minha primeira experiência de dança foi com Improvisação, e com o aprimoramento desta técnica, eu tive conhecimento do meu corpo e da capacidade que este corpo tem de materializar sentimentos através da qualidade dos seus movimentos. Ao vivenciar o Balé Popular, eu me joguei naquilo que, para mim, era muito mais que o movimento da dança popular, era o jogo cênico da brincadeira. Estava largada a minha jornada no universo das tradições.
Quando viajei para a França, meus estudos giravam em torno desta questão, mas eram sempre na teoria que eu evoluía. A prática deste discurso veio a se concretizar com a criação do Grupo Grial em 1997. De lá para cá, são as criações que me dão as respostas para minhas questões de construção de uma dança onde o cerne é a tradição popular. Cada criação coreográfica, uma pergunta e, certamente, 2500 respostas!

Poderia elucidar a frase de que o Grupo Grial faz criações com temas e inspirações populares trabalhadas numa chave erudita, porque isso parece um bordão.
O Grupo Grial trabalha com o UNIVERSO DAS TRADIÇÕES festivas e sagradas brasileiras. Quando adentramos nestes universos, os percebemos pelos nossos “olhos” de estrangeiros. Vivenciamos de dentro, ao mesmo tempo que ligamos uma segunda intenção que fica no alerta, “à cata” de elementos de criação contemporânea, de composição coreográfica (e tudo que ela engloba). Essa percepção pode acontecer muito rápido, como pode durar anos! Esse material (imaterial) se amalgama com nosso fazer de dança diário (estudos técnicos e teóricos), e que, juntos, ficam à serviço das nossas criações coreográficas.

Terra é um solo da Maria Paula, criação do grupo Grial que leva para a cena uma discussão densa sobre as origens do Brasil, através da metáfora da terra, do chão que pisamos. O que você acrescenta para falar de Terra.
TERRA, é também uma metáfora do homem moderno que tem se deixado roubar seus espaços (a palavra espaço significa também conquistas sociais).

O tempo traz experiência, mas deixa suas marcas no corpo, na presteza do gesto. Como criadora o que significa dançar hoje? Quais as diferenças de 20 atrás?
TODAS AS DIFERENÇAS! Antes eu colocava o vigor à serviço do que eu estava interpretando, hoje eu coloco a minha dramaturgia corporal a serviço da história.

Sempre me parece muito estranho traduzir corpo em movimento, energia, desenho coreográfico, a dança contemporânea para texto. Colocações como “O trabalho aborda temáticas como memória, tempo e transformações da nossa história” me parecem muito vagas.
Então o que significaria: “As coreografias trazem referências das manifestações populares do Nordeste transformadas em DNA para os passos de Maria Paula Costa Rêgo”?

DNA é algo que nos pertence, do que somos feitos. O Brasil tem muita dificuldade de assumir sua descendência indígena ou africana. Para a maioria de nós, somos descendentes apenas dos povos europeus!! Quando falamos que trago nos meus movimentos este DNA é que assumo a minha herança e a do lugar em que vivo, e coloco minhas criações à serviço deste norte.

Ficha técnica:
Direção: Maria Paula Costa Rêgo e Eric Valença
Intérprete: Maria Paula
Trilha sonora: Naná Vasconcelos
Figurino: Gustavo Silvestre
Luz: Luciana Raposo
Pintura de cenário: Manuel Dantas Suassuna.

Serviço
Terra – Grupo Grial de Dança
Onde:CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Quando: 2 a 4 e 9 a 11 de fevereiro de 2016, às 20h
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)
Bilheteria: vendas a partir das 10h do dia 1/02 (para os dias 2 a 4) e do dia 8/02 (para os dias 9 a 11)
Informações:(81) 3425-1915
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos

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A dança da resistência

Maria Paula Costa Rêgo, no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz/ Divulgação

Maria Paula Costa Rêgo, no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz/ Divulgação

Abril é mês de reivindicação e articulação artístico-política para artistas da dança em Pernambuco. Uma série de ações estão previstas, como debates políticos, performances, feira, aulas, consultorias, intercâmbios, espetáculos, mostra de fotografia e intervenções visuais.  A segunda edição do DDDança começa hoje às 19h30, no Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, 457, Boa Vista, Recife-PE), com a exibição do espetáculo Terra em outras terras, de Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial e convidados. E o ápice deve ocorrer no dia 29 de abril, Dia Internacional da Dança, na Torre Malakoff. Na ocasião, será entregue um documento oficial, com as exigências do setor, ao Ministro da Cultura Juca Ferreira.

O espetáculo Terra é a referência para polemizar sobre territórios – ocupação e perda – e chegar a Terra em outras terras. Bailarinos de várias linguagens vão participar – capoeira, hip hop, balé clássico, dança contemporânea e outras – numa demonstração do rizomático do DDDança. Entre os convidados estão Anne Costa, Orun Santana, Julyanne Rocha, Emerson Dias, Maria Agrelli, Pedro Salustiano, Paulinho Sete Flexas e FX. O Terra em outras terras dispõe de trilha sonora assinada por Naná Vasconcelos e homenageia o percussionista, que morreu recentemente.

O lugar dos corpos, cultura, sons e movimentos negros na dança irá orientar o laboratório de dramaturgia em dança Corpos em manifesto, na quarta-feira (6), a partir das 9h30, no Teatro Arraial. Dançarinos, pesquisadores, performers e demais interessados vão debater questões relativas ao tema A bailarina negra / O bailarino negro. Desse enfrentamento estéticos e de ideias resultará uma performance-manifesto a ser exibida às 19h30, aberta ao público.

Jorge Kildery em Elègún - um corpo em trânsito. Foto: Divulgação

Jorge Kildery em Elègún – um corpo em trânsito. Foto: Divulgação

Estão envolvidos bailarinos negros da cidade, como Orum Santana, Jorge Kildery, Manuel Castomo, Alê Carvalho, Anne Costa, Jaqson Gomes e Simone Silva, e os músicos Isaar, Bárbara Regina, Arnaldo do Monte e Aduni Guedes. Além de amanhã, o laboratório Corpos em manifesto ocorrerá em mais duas quartas-feiras de abril (nos dias 13 e 20), com temáticas renovadas a cada edição. Dia 13, o tema é Tradição e contemporaneidade – relação e conflito. Irão participar Pedro Salustiano, integrantes da Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, bailarinos da dança clássica e do hip hop. Dança numérica – a utilização da tecnologia pela dança é o mote do dia 20.

Na sexta-feira (8), no Espaço Experimental, a partir das 18h está marcada uma exposição com imagens da dança, clicadas por profissionais como Hans von Manteuffel, Rogério Alves e André Nery.

O DDDança busca potencializar o pensamento e a prática da dança como cadeia produtiva. Além de prever o diálogo entre realizadores, produtores e apreciadores dessa arte. Neste segundo ano, o evento é produzido em parceria com artistas, com apoio dos governos estadual, municipal e federal, e toda a programação é gratuita.

O Encontro Nacional da Dança será realizado no Recife nos dias 27, 28 e 29 de abril, com a presença de gestores, artistas e coletivos de vários estados brasileiros, com o propósito de fortalecer a articulação nacional da dança, E terá a presença do Comitê Gestor da Política Nacional das Artes e do Ministro da Cultura, Juca Ferreira. As inscrições para o encontro poderão ser feitas até o dia 25 no site.

O pessoal de Pernambuco, fora do Recife, deve inscrever propostas até o dia 12, em dddanca.wordpress.com. Um representante de uma das 12 Regiões de Desenvolvimento (RDs) pernambucanas terá sua vinda assegurada pelo governo do estado, incluindo alimentação e hospedagem. A seleção se dará por cartas de intenção e de currículos.

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