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A força política e estética do Feteag 2025

A mon seul désir, de Gaëlle Bourges (França), abre programação. Foto: Danielle Voirin / Divulgação

Cocina Publica, do Teatro Container (Chile). Foto: Adelano

Germaine Acogny, que encerra o festival, é uma das grandes referências mundiais da dança contemporânea. Foto: Thomas Dorn

Abrir um festival com uma peça francesa que reflete sobre representações femininas medievais expressa um posicionamento curatorial questionador das desigualdades. Levar teatro contemporâneo que discute a alimentação no mundo para um assentamento de luta pela terra tem também algo de subversivo. Encerrar a programação com uma bailarina senegalesa de 81 anos que revolucionou a dança em seu país afirma uma visão de mundo que aposta na circulação de saberes. O Festival de Teatro do Agreste, em sua 34ª edição, estabelece diálogos diretos entre criação artística contemporânea e as urgências sociais do nosso tempo.

Dirigido por Fabio Pascoal, o Feteag 2025 reúne 21 espetáculos de 9 e 26 de outubro, entre nacionais e internacionais, todos com entrada gratuita. A seleção das peças aponta para inquietações contemporâneas sobre exclusão, resistência e identidade que perpassam as criações escolhidas.

A seleção desta edição opera segundo uma lógica que articula diversidade geográfica com urgências temáticas. A curadoria geral, conduzida por Fabio Pascoal, aproveitou estrategicamente a Temporada França-Brasil 2025 para trazer criações de Burkina Faso (África Ocidental), Camarões (África Central) e Guadalupe (Caribe francês), além da própria França.

Esta escolha curatorial carrega uma compreensão particular sobre como usar as relações bilaterais para amplificar vozes frequentemente marginalizadas nos circuitos internacionais.

A mostra principal leva o nome de Argemiro Pascoal, um dos fundadores do Teatro Experimental de Arte – TEA, realizador do Feteag

Les Sans adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro. Foto: Julie Cherki / Divulgação

Les Sans (Os Sem), do coletivo Les Récréâtrales-ELAN, de Burkina Faso, investiga diretamente a questão dos sem-teto e excluídos sociais através de linguagem cênica que combina tradições orais africanas com teatro político contemporâneo. A peça adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro através do reencontro de dois ex-companheiros de luta. Ali Kiswinsida Ouédraogo explora o conflito entre Franck e Tiibo, interpretados por Ali K. Ouédraogo e Noël Minougou, onde um mantém ideais revolucionários enquanto o outro foi cooptado pelo sistema que combatiam. Sob direção de Freddy Sabimbona, a obra interroga as limitações da independência burkinabê, investigando se a libertação formal constitui verdadeira descolonização ou apenas mudança de máscaras do poder colonial.

Quando esta criação dialoga com La Cocina Pública, do grupo chileno Teatro Container, estabelece-se uma reflexão transnacional sobre precariedade e solidariedade. A obra chilena propõe a preparação coletiva de uma refeição como ato político e comunitário, questionando quem tem direito à alimentação e ao espaço público através de performance participativa que dissolve fronteiras entre arte e vida cotidiana.

Gaëlle Bourges propõe a desconstrução de Imaginários conservadores sobre o Feminino. Foto: Thomas Greil  

À mon seul désir, de Gaëlle Bourges, que abre o festival, parte da tapeçaria medieval A Dama e o Unicórnio para reavaliar construções históricas sobre feminilidade. A coreógrafa francesa examina como a cultura europeia associou mulheres ao mundo vegetal e animal, perpetuando ideais de virgindade e pureza através de imagens aparentemente poéticas.

Bourges desenvolve uma investigação coreográfica que expõe as violências simbólicas embutidas nessas representações românticas, utilizando movimento e voz para evidenciar como tapeçarias medievais funcionavam como dispositivos de controle sobre corpos femininos. Sua pesquisa conecta-se com debates contemporâneos sobre representação e autonomia feminina, oferecendo ao público brasileiro uma análise sobre como imaginários europeus ainda influenciam percepções sobre feminilidade.

Un endroit du début com Germaine Acogny. Foto: Thomas Dorn

Por sua vez, Germaine Acogny, que encerra o festival no Teatro Santa Isabel, é uma das grandes referências mundiais da dança contemporânea. Nascida no Senegal em 1944, ela fundou a primeira escola de dança contemporânea da África Ocidental em 1977 e desenvolveu uma técnica própria que combina danças tradicionais africanas com metodologias contemporâneas ocidentais.

Em Un endroit du début, criado com Mikaël Serre, ela explora memórias corporais e ancestralidade através de movimentação que articula gestualidade ritual com linguagem cênica contemporânea. Aos 81 anos, permanece ativa como pesquisadora corporal e formadora, tendo influenciado gerações de bailarinos e coreógrafos em todo o mundo através de sua escola, onde formou centenas de artistas. Escrevi uma crítica a partir do trabalho gravado da artista em vídeo e que integrou a edição de 2021 do festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Leia texto AQUI.

Assentamento Normandia: Arte em Território de Resistência

Espetáculo trabalha a ideia de patrimônio alimentar compartilhado

A apresentação de La Cocina Pública no Assentamento Normandia, em Caruaru, estabelece uma das escolhas mais incisivas desta edição. O Assentamento Normandia constitui um território conquistado através da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), expressando décadas de organização popular pela reforma agrária na região.

Programar uma obra sobre alimentação e participação comunitária para este espaço cria camadas de significado que expandem o artístico e o político. O Teatro Container, grupo chileno responsável pela criação, desenvolve há anos pesquisas sobre arte e alimentação como atos políticos, investigando como o preparo e partilha de comida funcionam como tecnologias de organização social.

La Cocina Pública transforma o preparo coletivo de uma refeição em ritual de partilha e reflexão sobre direitos básicos, utilizando metodologia participativa que convoca o público para ações concretas. No contexto do assentamento, onde a conquista da terra relaciona-se diretamente com o direito à alimentação, a criação ganha ressonâncias particulares sobre soberania alimentar e autonomia popular.

Mostra PE: Diversidade da Cena Local

A Mostra PE, com curadoria de Vika Schabbach e Igor Lopes, selecionou cinco trabalhos entre 57 inscrições através de chamada pública. Schabbach, crítica e pesquisadora teatral, e Igor Lopes, diretor e dramaturgo, construíram uma seleção que busca evidenciar a potência criativa da produção pernambucana contemporânea.

Itaêotá, do Grupo Totem

Bolor. Foto: Morgana Narjara

Itaêotá, do Grupo Totem, apresenta o resultado de seis anos de investigação artística que conecta ancestralidade indígena e africana com urgências contemporâneas. Este espetáculo de teatro-dança utiliza rituais coletivos e elementos como urucum para propor caminhos de regeneração social diante do colapso civilizatório, materializando a pesquisa Metamorfismo de (R)existência através de performance que dissolve fronteiras entre linguagens artísticas.

Bolor (Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi) confronta diretamente a mitologia freyreana do açúcar, empregando fungos como protagonistas metafóricos de processos de decomposição e renascimento. A criação aponta a violência estrutural da plantation açucareira através de estética da decomposição que valoriza redes subterrâneas de resistência, dialogando criticamente com pensadores como Malcom Ferdinand e Anna Tsing para imaginar futuros decoloniais.

 Joesile Cordeiro navega pela memória afetiva de ser um jovem gay em busca de reconexão com sua infância perdida na encenação Tempo de vagalume. Esta performance autobiográfica criada em Garanhuns constrói pontes poéticas entre passado e presente através de teatro intimista que busca transformar experiência pessoal em pensamento coletiva sobre identidade e pertencimento LGBTQIA+.

Eron Villar e DJ Vibra protagonizam o encontro entre música contemporânea e teatro épico que ressignifica o legado político de Malcolm X para o contexto brasileiro em Se eu fosse Malcolm?  A performance articula crítica decolonial e questões de raça e gênero através de linguagem cênico-musical que dissolve fronteiras entre som e cena, construindo um perspectiva antirracista contemporânea.

Circo Godot (Cia. Circo Godot de Teatro) acompanha dois artistas de rua em suas peripécias cotidianas, explorando relações de poder e subsistência através de humor que transita entre o universal e o particular. A comédia convoca o espírito itinerante do teatro dos espaços não convencionais para questionar hierarquias sociais através da jornada de Gatropo e Tropino.

Corpo, Memória e Resistência

Aquelas – uma dieta para caber no mundo convida para um jantar para falar de uma santa popular assassinada. Foto Raissa Dourado

Monique Cardoso investiga invisibilização da beata Maria de Araújo, protagonista do Milagre da Hóstia em 1889, no espetáculo Cavucar. Foto: Henrique Cardozo / Divulgação

As criações nacionais e internacionais estabelecem diálogos temáticos que ultrapassam fronteiras geográficas, trazendo inquietações compartilhadas sobre corpo, memória e resistência. 

O Manada Teatro, do Ceará, desenvolve Cavucar, do projeto Pote e Navalha, através da performance solo de Monique Cardoso, que também assina direção em parceria com Murillo Ramos, sobre dramaturgia de Tércia Montenegro. A obra ficcionaliza possível descoberta dos restos mortais da beata Maria de Araújo, protagonista do Milagre da Hóstia em 1889, provocando e tensionando as violações eclesiásticas que resultaram no desaparecimento de seus vestígios e invisibilidade na história de Juazeiro do Norte. A encenação utiliza elemento fantástico para convocar o público a fabular os fatos e reconstruir a história através de suposições que questionam a construção de um dos maiores centros de fé católica do mundo.

Aquelas – uma dieta para caber no mundo reconstrói a trajetória de Maria de Bil, santa popular de Várzea Alegre assassinada em 1926 pelo companheiro, através de performance participativa dirigida por Murillo Ramos e interpretada por Juliana Veras e Monique Cardoso. O espetáculo convida o público a participar do preparo de jantar envolvendo facas, carne, sangue oferecidos à mesa com os corpos das próprias atrizes, construindo encenação delicada e cruel que apresenta caleidoscópio das violências machistas através de quadros performativos que misturam história da santa com pessoalidades das intérpretes.

Sonho de uma noite de verão, montagem da Trupe Ave Lola, no Paraná. Foto: Caique Cunha / Divulgação

A Trupe Ave Lola (PR) desenvolve duas experiências distintas da dramaturgia clássica e contemporânea sob direção de Ana Rosa Genari Tezza. Sonho de uma noite de verão revisita Shakespeare através de encenação popular com tradução de Bárbara Heliodora, reunindo nove artistas em cena – Cesar Matheus, Helena de Jorge Portela, Helena Tezza, Kauê Persona, Larissa de Lima, Marcelo Rodrigues, Pedro Ramires, Wenry Bueno e Willa Thomas – e música original composta por Arthur Jaime, Breno Monte Serrat e Julia Klüber, executada ao vivo pelos músicos Arthur Jaime e Breno Monte Serrat, criando atmosfera festiva que convida o público a testemunhar momentos de paixão, magia e loucura através de linguagem teatral popular.

Já com O Vira-lata, a Trupe Ave Lola explora amizade improvável entre uma jovem romântica que sonha com grande amor e um homem-cachorro maltratado pela fome e desamparo, questionando convenções sociais quando surge um pretendente desconhecido que desperta ciúmes do fiel amigo, construindo fábula contemporânea sobre solidariedade, abandono e os conflitos entre sonhos românticos e lealdade verdadeira.

 Lucas Torres e Bruno Parmera em Édipo REC. Foto: Estúdio Orra: Zé Rebelatto e Grabriela Passos 

O Grupo Magiluth, de Pernambuco, em seu 16º trabalho que celebra duas décadas de pesquisa continuada, comparece ao Feteag com  Édipo REC, um trabalho com direção de Luiz Fernando Marques e dramaturgia de Giordano Castro. O elenco composto por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner constrói releitura não-linear da tragédia sofocliana que joga com a cronologia para questionar a noção de tempo no teatro.

Tebas transforma-se no Recife fantasmagórico onde o Corifeu é representado pela câmera, espelhando a produção excessiva de imagens contemporâneas das redes sociais e câmeras de segurança. A linguagem audiovisual busca inspiração no cinema experimental, desde Édipo Rex (1967) de Pasolini até Funeral das Rosas (969) de Matsumoto, questionando se teatro e cinema conseguem dar conta das múltiplas tragédias contemporâneas e por que o público sairia de casa para assistir história tão antiga.

Mas mesmo a vida sendo decepcionante, como proclama o personagem de Erivaldo Oliveira, tem festa nesta Tebas-Recife-Caruaru no primeiro ato desta peça-peste, que convoca seu povo a dançar até o pé inchar.

Cartografias Francófonas: Trabalho, Identidade e Memória Colonial

Le Quai de Ouistreham fala da situação de mulheres que trabalham em empregos precários e invisíveis

Zora Snake em L’Opéra du villageois. Foto: Agir pour le Vivant

Corpos, da Cie Mangrove, (Guadalupe/Brasil). Foto: Divulgação

As criações francófonas constroem considerações convergentes sobre precariedade, identidade e legados coloniais através de perspectivas estéticas diversificadas.

Le Quai de Ouistreham, da Compagnie la Résolue, da França, adapta investigação jornalística de Florence Aubenas sobre mulheres que trabalham em empregos precários e invisíveis, especialmente na limpeza e na manutenção, e que vivem à sombra da crise econômica. Dirigido por Louise Vignaud, com atuação de Magali Bonat.

L’Opéra du villageois, da Compagnie Zora Snake, de Camarões, manifesta resistência através de performance-ritual que ressuscita potência das máscaras africanas roubadas pelos museus europeus. Zora Snake atravessa dimensão sagrada para questionar pilhagem cultural colonial, utilizando bandeira da União Europeia, rituais com ouro e sal para despertar força ancestral das comunidades aldeãs consideradas “incivilizadas”.

Corpos (Cie Mangrove, Guadalupe/Brasil) explora estigmatização do corpo negro através de laboratório coreográfico desenvolvido por Hubert Petit-Phar e Augusto Soledade, questionando representações corporais e sexuais no cruzamento entre culturas caribenhas e brasileiras, investigando singularidades corporais diante de fronteiras estéticas e políticas contemporâneas.

palestra-performance La Vérité vaincra / A Verdade Vencerá recria entrevista de Lula a Ivana Jinkings 

La Vérité vaincra / A Verdade Vencerá, da Cie KastôrAgile, (França) desenvolve palestra-performance que adapta o livro homônimo de Luiz Inácio Lula da Silva, baseando-se nas entrevistas concedidas à editora Ivana Jinkings em janeiro de 2018, momento crucial anterior à prisão do ex-presidente. Gilles Pastor transforma documento político em teatro de resistência através das interpretações de Alizée Bingöllü e Jean-Philippe Salério, que recriam cenicamente os diálogos sobre julgamento, vida pessoal e trajetória política de Lula.

A obra materializa voz de resistência do homem afastado injustamente da arena política, expondo raiva sagrada contra injustiças através de linguagem cênica que articula testemunho pessoal com denúncia estrutural. No contexto do Feteag, esta criação francófona estabelece pontes diretas entre público brasileiro e reflexão internacional sobre democracia e autoritarismo, questionando como arte pode amplificar vozes silenciadas pelo poder judiciário e construir solidariedade transnacional diante de perseguições políticas contemporâneas.

Experiências Imersivas e Linguagens Expandidas

Dancemos… que o mundo se acaba!, da BiNeural-MonoKultur, da Argentina. Foto: Reprodução

Fábulas de nossas fúrias explora o universo gay. Foto: Rogério Alves / Divulgação

peça Neva, de Guillermo Calderón, em montagem de Marianne Consentino (PE)

Três criações exploram possibilidades de imersão e participação através de dispositivos que expandem linguagens teatrais tradicionais. Dancemos… que o mundo se acaba!, da BiNeural-MonoKultur, da Argentina, propõe áudio-obra interativa que transforma público em dançarinos, questionando coreomanias, epidemias de dança e comportamentos coletivos através de jogo que reflete sobre sedução, pandemia e medo de dançar sozinho.

Fábulas de nossas fúrias (Coletivo Atores à Deriva, RN) articula contação de histórias com afirmação política da raiva como elemento transformador, inspirando-se em Paulo Freire para questionar hierarquias conservadoras através de viados que justificam suas fúrias expondo modos de amar, invertendo lógicas que classificam “bichos” em estruturas de poder.

Neva, montagem de Marianne Consentino (PE), ambienta-se no Domingo Sangrento de 1905 em São Petersburgo, friccionando arte e política através de três atores refugiados em teatro durante massacre nas ruas. A peça de Guillermo Calderón questiona a serventia do teatro através de Olga Knipper, viúva de Tchekhov, que encena repetidamente a morte do marido enquanto cidade desaba, oscilando entre necessidade absoluta e total irrelevância da arte.

Formação de público como letramento cênico

No que se refere à formação de público, a Mostra Erenice Lisboa, voltada para estudantes da rede pública, desenvolve uma compreensão específica sobre letramento teatral. Através das apresentações de O Vira-lata, da Trupe Ave Lola, seguidas de conversas entre artistas e estudantes, o festival promove o desenvolvimento de repertórios simbólicos e críticos.

Este letramento teatral envolve a construção de ferramentas interpretativas que permitam aos jovens ter apreciar as criações teatrais em suas potencialidades expressivas. As conversas pós-apresentação funcionam como espaços de processamento coletivo da experiência estética, fundamentais para a formação de público crítico e engajado com as artes cênicas.

Atividades Formativas: Aprendizado e Troca de Saberes

Paralelamente, as oficinas propostas pelo festival desenvolvem lógicas distintas mas complementares de formação artística. A oficina com Gaëlle Bourges permite aprofundamento na pesquisa específica da artista francesa sobre feminilidade e construção de imagens corporais. Já a oficina do Teatro Container integra os participantes no processo de montagem de La Cocina Pública, criando vínculos entre formação teórica e prática artística concreta.

Vendas e Mordaças, oficina exclusiva para mulheres conduzida por Faeina Jorge, Juliana Veras e Monique Cardoso, propõe vivência sensorial e afetiva em torno de identidades femininas através de exercícios que articulam corpo, voz e memória pessoal. Por outro lado, o workshop Corpos e Territórios, ministrado por Hubert Peti-Phar, articula fundamentos culturais brasileiros e guadalupenses através de práticas corporais que dialogam com tradições ancestrais e princípios contemporâneos da dança.

Larissa Lisboa apreenta espetácuo Inquieta, com participação de Gabi da Pele Preta

A programação musical está garantida com o espetáculo Inquieta, performance de Larissa Lisboa com participação de Gabi da Pele Preta, evidenciando nova cena musical pernambucana focada em compositoras negras e LGBTQIA+. Larissa Lisboa, cantora e multi-instrumentista recifense, constrói repertório que mistura criações autorais com obras de compositoras contemporâneas locais, enquanto Gabi da Pele Preta, de Caruaru, desenvolve sonoridade inovadora que mescla maracatu, coco, afoxé com jazz, soul e reggae, celebrando identidade negra através de conscientização social musicada.

Sustentabilidade e Articulação Institucional

Quanto à sustentabilidade, a rede de apoios do FETEAG 2025 demonstra capacidade articulatória entre diferentes esferas: federal (Ministério da Cultura), estadual (Funcultura, Fundarpe), municipal (Fundação de Cultura de Caruaru) e privada (Banco do Nordeste, Rede Itaú, Vale). A parceria com o Consulado Geral da França viabiliza a programação francófona dentro da Temporada França-Brasil 2025, demonstrando como acordos bilaterais podem amplificar recursos para programação cultural.

Com 34 edições no currículo, o Feteag confirma a qualidade artística com relevância social, diversidade internacional com fortalecimento da produção local, formação de público com experimentação estética. Esta programação evidencia como festivais podem funcionar como plataformas de articulação entre diferentes mundos – artísticos, sociais, educacionais, políticos. Neste contexto, o festival afirma o teatro como necessidade social e política em tempos de urgência democrática, construindo experiências coletivas de pensamento e sensibilidade.

Programação Completa do FETEAG 2025

RECIFE
09 e 10/10

À mon seul désir (Ao meu único desejo),
de Gaëlle Bourges (França)
Local: Teatro Luiz Mendonça | Horário: 20h | Classificação: 18 anos

CARUARU
15/10

Dancemos… que o mundo se acaba!,
de BiNeural-MonoKultur (Argentina)
Local: Estação Ferroviária | Horário: 19h | Classificação: Livre

Édipo REC, do Grupo Magiluth (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 18 anos

16/10

Fábulas de nossas fúrias, de Cia de Atores à Deriva (RN)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 16 anos

17/10

NEVA,
de Marianne Consentino (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 16 anos

18 e 19/10

Sonho de uma noite de verão,
da Trupe Ave Lola (PR)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 17h | Classificação: 12 anos

A Cozinha Pública (La Cocina Pública),
Teatro Container (Chile)
Local: Centro de Formação Paulo Freire (Assentamento Normandia) | Horário: 17h | Classificação: Livre

20 a 24/10

O Vira-lata,
da Trupe Ave Lola (PR) – 
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 9h | Classificação: Livre

20/10

Itaêotá,
do Grupo Totem (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Cavucar,
da MANADA Teatro (CE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

21/10

Circo Godot,
da Cia. Circo Godot de Teatro (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: Livre

Aquelas – uma dieta para caber no mundo,
do MANADA Teatro (CE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

22/10

Se eu fosse Malcolm?,
de Eron Villar & DJ Vibra (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

Le Quai de Ouistreham (O cais de Ouistreham),
da Compagnie la Résolue (França)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

23/10

Tempo de vagalume,
de Joesile Cordeiro (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

A Verdade Vencerá/LULA (La Vérité vaincra/LULA),
de Gilles Pastor – KastôrAgile (França)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

24/10

Bolor,
de Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Les Sans (Os sem),
de Les Récréâtrales-ELAN (Burkina Faso)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

25/10

L’Opéra du villageois (A ópera do camponês),
da Compagnie Zora Snake (Camarões)
Local: Estação Ferroviária | Horário: 17h | Classificação: Livre

Corpos,
da Cie Mangrove (Guadalupe/Brasil)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Inquieta (Música),
de Larissa Lisboa com Gabi da Pele Preta (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 16 anos

RECIFE
26/10

À un endroit du début (Em algum lugar no início),
de Germaine Acogny e Mikaël Serre (Senegal/França)
Local: Teatro de Santa Isabel | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

Oficinas e Atividades Formativas

Workshop Corpos e Territórios – Hubert Peti-Phar
Oficina de Criação – Teatro Container
Pesquisa Corporal – Gaëlle Bourges
Vendas e Mordaças – Faeina Jorge, Juliana Veras e Monique Cardoso (exclusiva para mulheres)

Serviço

📍 Período: 09 a 26 de outubro de 2025
🎭 Entrada: Gratuita mediante retirada de ingressos no Sympla
🏛️ Locais: Teatro Santa Isabel (Recife), Teatro Luiz Mendonça (Recife), Teatro Lycio Neves (Caruaru), Teatro Rui Limeira Rosal (Caruaru), Estação Ferroviária (Caruaru), Centro de Formação Paulo Freire – Assentamento Normandia (Caruaru)
🎯 Direção Geral: Fabio Pascoal
👥 Curadoria Mostra PE: Vika Schabbach e Igor Lopes
💰 Apoio: Ministério da Cultura, Funcultura, Fundarpe, Fundação de Cultura de Caruaru, Banco do Nordeste, Rede Itaú, Vale, Consulado Geral da França
ℹ️ Mais informações: @feteag

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CENA EXPANDIDA em Pernambuco
Iluminando os festivais de artes cênicas

Dançando Villa, da Curitiba Cia de Dança participou do Cena Cumplicidades. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Stabat Mater, um dos destaques da programação do FETEAG. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Leitura dramatizada do texto Planeta Tudo, (planeet Alles), no RESIDE FIT-PE. Em cena Iara Campos, Romualdo Freitas, Edjalma Freitas e Naruna Freitas e o viodeomaker Gabriel de Godoy, Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Cordel Estradeiro, Uma Viagem Impressionante ao Sertão, da Escola Municipal Maria De Lourdes Dubeux Dourado do Recife, em apresentação no FETED. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

ITAÊOTÁ, do Grupo Totem na programação do Transborda. Foto: Divulgação

Cinco festivais de artes cênicas de Pernambuco participaram de uma experiência inédita e promissora no estado chamada CENA EXPANDIDA. O Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena, de Arnaldo Siqueira; o FETEAG – Festival de Teatro do Agreste, de Fábio Pascoal; o FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança, de Pedro Portugal; o Transborda – As Linguagens da Cena, com curadoria de Ariele Mendes e equipe do Sesc-PE, e o RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco, de Paula de Renor, se juntaram numa ação conjunta no mês de setembro no intuito de produzir um bom impacto cultural nas cidades envolvidas (Recife e Caruaru)  e seus entornos, testar a força da união de seus realizadores e articular novas possibilidades de futuros a partir das atividades formativas e espetaculares propostas.  

A atriz, curadora e produtora Paula de Renor salienta que a CENA EXPANDIDA deste ano foi uma experiência, um teste, uma espécie de projeto-piloto, já provado em pequenas doses em 2018 e 2019. “Em 2022 fomos bem além! Unimos cinco festivais, ordenamos as programações, distribuindo-as nos teatros (o que acho foi o mais complicado, pelos poucos teatros que dispomos) e tentamos que programações dirigidas a um mesmo público não se chocassem em seus horários”. 

A CENA EXPANDIDA viabilizou uma aproximação e um diálogo mais ampliado entre os produtores dos festivais envolvidos, ressalta Ariele Mendes, do Transborda. O produtor, curador e professor Arnaldo Siqueira considera que foi um passo bem importante, “oxalá tenha continuidade e ampliação do apoio dos poderes públicos”. Fábio Pascoal, produtor e curador do FETEAG,  lembra que projetos como esse são importantes para o fortalecimento da rede produtiva e para ampliar público e o acesso.

“Essa prática tem sido uma constante com o FETEAG”, situa Pascoal, pois assegura que seu festival busca a cada edição construir novas parcerias e fortalecer as existentes. “Em 2013 fizemos uma edição partilhada com o TREMA!, em 2014 com a Mostra Capiba/SESC Casa Amarela e em 2017 com o TEMPO Festival/RJ, FIAC/BA e com a Bienal de Dança do Ceará. Acreditamos em parcerias”.

Ariele reforça o papel desse entrecruzamento. “Nesta rede que se estabeleceu, conseguimos vivenciar uma integração de maneira muito mais efetiva, o que possibilitou, por exemplo, a busca por soluções para imprevistos (eles sempre acontecem) que, normalmente, acarretariam um desgaste muito grande para a equipe de cada festival específico, mas que neste movimento, foi possível compartilhar e buscar apoio junto às lideranças de cada projeto, facilitando os processos”.

Já o Arnaldo Siqueira entende que a relação profissional e solidária dos/entre produtores foi incrível na CENA EXPANDIDA. “Apenas a título de exemplo, o próprio Cena Cumplicidades abriu mão de pautas/dias e horários para oportunizar que colegas de outros festivais pudessem pautar certos trabalhos”. Mas salienta que “de outra parte, o Cena Cumplicidades foi beneficiado com a força comunitária da articulação junto aos teatros e à FCCR (Fundação de Cultura Cidade do Recife).

Outro exemplo de cooperação citado por Siqueira foi a disponibilidade de Pedro Portugal, produtor do FETED e fotógrafo, que substituiu de pronto uma fotógrafa do Cumplicidades, que adoeceu de repente. “Tal comportamento demonstra o nível de entrosamento e colaboração, algo que põe por terra o mito do caranguejo na lata que puxa para baixo o que está subindo”, situa Arnaldo.

Pedro Portugal, mencionado por Siqueira, considera que a CENA EXPANDIDA trouxe benefício para o seu festival estudantil. “Por ser um festival mais ligado às escolas, uma coisa amadora, não é menor (*faz questão de frisar!), mas posso até dizer mais caseira, possibilitou mais visibilidade. Então nós ganhamos uma dimensão maior. Quanto mais estivermos juntos melhor”.

Paula de Renor. Foto Pedro Portugal

Paula de Renor, do RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco. Foto Pedro Portugal

Arnaldo Siqueira. Foto: Christina Rufatto

Arnaldo Siqueira, do Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena Foto: Christina Rufatto

Fábio Pascoal, do FETEAG – Festival de Teatro do Agreste. Foto: Reprodução do Facebook

Pedro Portugal, do FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança. Foto: Divulgação

Breno Fittipaldi, curador e produtor do Transborda Casa Amarela; Luiza Cordeiro, diretora-presidente do Centro Social Dom João Costa e Ariele Mendes, curadora e analista de artes cênicas do Sesc Pernambuco. Foto: Divulgação

Essa edição da CENA EXPANDIDA é só uma parte do que foi idealizado, conta Paula de Renor. “Essa ação de colaboração é mais ampliada, com a participação de mais festivais e uma divulgação potente e eficaz, com grupos de mediação em comunidades, nos teatros, mapeando públicos diversos e oferecendo um cardápio grande de atrações durante um mês em teatros e na rua”, arquiteta.

Mas como todos nós sabemos, as verbas são fundamentais para o bom andamento dos projetos. “Infelizmente sem dinheiro é muito difícil fazer qualquer festival, por menor que seja”, frisa Pedro Portugal. “Também tivemos muito pouco tempo para fazer uma coisa maior, uma cena expandida maior, com mais abrangência e divulgação”, diz ele. 

Paula de Renor fornece outros dados: “Trabalhamos dividindo recursos para pagamento de despesas de divulgação e algumas vezes potencializando ações com o compartilhamento de atrações, sem tirar a autonomia de cada festival”.

Ao ser perguntado o que pode ser melhorado na CENA EXPANDIDA, Arnaldo Siqueira foi bem suscinto: “Proatividade na relação com os entes públicos. E seletividade”. Paula de Renor reconhece que precisava de mais divulgação. A falta de patrocínio dificultou o que foi idealizado. “Conseguimos apoio da Prefeitura do Recife via Secult e FCCR, o que foi decisivo para darmos o ponta pé inicial e apresentar ao público nosso intensão, mas não chega perto dos valores de patrocínio que precisamos para que tenhamos investimento em uma coordenação de produção geral do projeto e divulgação em mídias espontâneas e pagas”, posiciona.

Fábio Pascoal diz que é necessário fazer uma “avaliação precisa do papel de cada festival dentro da rede, respeitando suas individualidades e programações”. Outro ponto que ele visualiza para as próximas edições é o compromisso das instituições parceiras, “que acreditam no potencial da iniciativa e possam apoiar financeiramente a proposta, tendo em vista que é uma iniciativa de produtores independentes, que deve ser reconhecida como tal”. Paula de Renor acrescenta: “Não buscamos captar verbas para cada festival que participe da CENA, esse não é nosso objetivo. Para isso cada festival luta individualmente na procura de recursos para sua realização. E justamente pela falta de verbas de patrocínio vários festivais deixaram de acontecer este ano”.

A experiência suscita diversas reflexões e inquietações que miram o futuro, na opinião de Ariele Mendes. “Entendo a CENA EXPANDIDA como um movimento, e desta forma, não a vejo iniciando ou se encerrando no mês de setembro. Ela precisa permanecer por todo ano, de maneira contínua e articulada, em diálogo com a classe, com as instituições, coletivizando junto a outros produtores, se colocando em atuação nas diversas esferas… A realização dos festivais é o momento de festa, da celebração… Mas para que eles possam acontecer, é necessário uma série de processos e conquistas, que só é possível quando se ocupa certos espaços nos debates contínuos da cultura, construindo pontes estruturadas, no dia a dia…” Ariele entende que “todos os produtores envolvidos já são muito atuantes nestes diálogos. Juntos, conseguiremos ainda mais força”.

“O que propomos”, evidencia Paula de Renor, “é que a CENA EXPANDIDA seja entendida como uma ação que, potencializada, pode entrar no calendário da cidade, movimentando o turismo cultural, atraindo público das cidades vizinhas”. Ela cita como exemplo a cidade de Edimburgo na Escócia. “Durante um mês, Edimburgo envolve uma quantidade enorme de festivais que acontecem simultaneamente e sua população de 500 mil habitantes chega a 1 milhão nesse período. A cidade vive deste turismo cultural. Essa é uma construção de muitos anos, mas se a gente não acreditar e não começar agora, nunca saberemos se em Recife poderá dar certo.
Estamos provocando e motivando Prefeitura e Governo do Estado para que percebam o que estamos oferecendo à cidade!”, alerta.

Se liga Recife!!!  Parodiando Carlos Pena Filho, é do sonho de mulheres como Paula de Renor que uma cidade se inventa.

Poeta Preto, da Trupe Veja Bem Meu Bem no FETEAG. Foto: Pedro Portugal Divulgação

Um Mero Deleite, da Nalini Cia de Dança (Go) , integrou a programação do Cumplicidades. Foto: Ivana Moura

Arnaldo Siqueira – Entrevista

Arnaldo Siqueira. Reprodução de tela do Youtube

Encaminhei perguntas para os representes dos cinco festivais no início da programação. Ariele Mendes respondeu pelo Transborda; Fábio Pascoal pelo seu FETEAG, Pedro Portugal pelo seu FETED, Paula de Renor deu um truque e Arnaldo Siqueira respondeu, agora já como balanço. 

Os números do Cena Cumplicidades chegaram a 23 trabalhos artísticos, em 40 apresentações de 3 Países (Portugal/Moçambique/Brasil), 6 estados da federação (PE/ RN /PB/ GO/ PR/ RJ), sendo de Pernambuco obras de Recife e Jaboatão dos Guararapes. Além disso o Cumplicidades teve como atividades complementares 5 workshops, uma residência artística de videodança (on line e presencial) e uma mostra de videodança. “Certamente não teria sido assim sem a articulação da CENA EXPANDIDA”, destaca.

Arnaldo, o Cumplicidades já levou espetáculos incríveis para os palcos de Pernambuco,
montagens internacionais ousadas, que contribuíram para a ampliação do olhar sobre a cena contemporânea. Pergunta: o que te motiva, o que te move a tocar o Cumplicidades? O que você busca com isso?
O que me motiva é fomentar as artes da cena, sobretudo a dança que, sendo uma arte da juventude, como tal, necessita de doses regulares de informações artísticas. Num mundo de acessos fáceis e reprodutibilidade, onde a cópia deu lugar à reprodução do original, sendo ela
mesma um (outro) original. Acredito que as artes do corpo, e a dança em especial, é a joia rara que só se capta na presencialidade (por isso joia, e também rara). Não há meio termo possível (a tela não dá conta disso), é preciso que súbito se tenha a impressão de ver e sentir algo que só naquele momento de presencialidade foi possível. E que um rosto adquira de vez em quando uma expressão só encontrável no orgasmo. É preciso que tudo isso que está na cena seja sem ser, mas que desabroche no olhar do espectador. E se plasme no encontro com o inesperado.

Qual a posição do seu festival no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo?
O festival enfoca as artes da cena com atenção à singularidade da dança, do corpo e da performance. Desde 2008 o festival cultiva a experimentação de linguagem, a formação de plateias no Recife (que já foi um dos centros das artes cênicas), mas também se dedica ao
fomento de novos talentos na cidade, e à cooperação dos artistas locais e regionais com estrangeiros, dando ênfase ao intercâmbio com a produção ibero-americana. Enfim, busca a atualização estética tanto do público quanto dos artistas de cena, principalmente os da dança.

Como você interpreta as políticas públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente?
Indiferente e sem compreensão NENHUMA do papel dos festivais.

Fale brevemente do cardápio dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a produção?
A edição de 2022 enfocou à produção artística considerada de superação e enfrentamento tanto dos impactos da pandemia do Covid 19, como das agruras do atual cenário de descaso e precariedade do país no âmbito da cultura. O Festival deu visibilidade a uma produção local que investiu em criação artística presencial, oportunizou a contratação de coreógrafos, técnicos e bailarinos locais, e, assim, contribuiu com a cadeia produtiva da dança do Recife. No âmbito internacional (e seguindo o mesmo raciocínio de consideração de investimento na produção local) o Festival programou os trabalhos desenvolvidos na Região NE (PB e PE) por artistas estrangeiros com artistas brasileiros (Oráculo do Corpo e Orivayá – o vento pediu para a folha dançar), ou trabalhos desenvolvidos fora do país por artistas nordestinos (Pin Dor Ama primeira lição e Santa Barba, ambos de Portugal, são alguns exemplos).
A formação da equipe atendeu aos mesmos requisitos de quem, a despeito das necessidades, manteve-se na produção cultural, resistindo. Diferentemente de anos melhores, nas últimas edições venho, eu mesmo, fazendo a produção executiva. “Bato o escanteio e corro para
cabecear para o gol”.

A praxe dos festivais em Pernambuco é tocar essas iniciativas “na raça”. Isso é motivo de orgulho ou preocupação? E como você vem realizando nos últimos anos?
É motivo de preocupação sobretudo para os festivais consolidados como o Cena
Cumplicidades. Nos últimos anos estamos realizando “na raça” como vc disse.

Neste ano, com previsão para os seguintes, o seu festival integra o CENA EXPANDIDA com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?
Uma pluralidade incrível de opções e a oportunidade de perceber a força das artes da cena da cidade.

Qual a pergunta que não quer calar?
Quando o poder público vai atentar para o valor de festivais consagrados? Tem resposta? Está no tempo…

 

Deslenhar, do Teatro Miçanga, se apresentou no Transborda

José Neto Barbosa, na leitura Os Titãs, de Paola Trazuk, com direção de Monina Bonelli, na programação do RESIDE FIT-PE. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

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A resistência dos vaga-lumes
Feteag chega à 31ª edição
*Ação Cena Expandida*

Trans(passar), peça com Sophia William. Foto Divulgação 

Stabat Mater, com Janaina Leite e Amália Fontes. Foto: André Cherri / Divulgação

A Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru) faz seu protesto com Poeta Preto. Foto: Divulgação

Luiz Lua Gonzaga, com o Grupo Magiluth. Foto: Divulgação

Apesar de todas as tentativas de paralisar o pensamento, o abraço, a emoção; a pulsação humana ainda é possível. O filosofo Didi-Huberman defende a plena experiência no livro Sobrevivência dos vaga-lumes. Os vaga-lumes do título espelham as múltiplas formas de resistência da cultura, do corpo, da ideia e diante dos fulgores ofuscantes do poder da política, da mídia e do capitalismo. O Feteag – Festival de Teatro do Agreste escolheu o livro de Didi-Huberman como farol para seguir a caminhada na edição deste ano.

A partir da articulação do mapa programático de espetáculos e ações formativas, o Feteag se propõe a refletir sobre a resiliência de grupos e ideias que acendem novas trilhas e formas de existência. A curadoria, então, aposta em proposições que investigam artisticamente as questões sociais, identitárias, políticas e afetivas. O caráter humana é friccionado, tensionado em peças de teatro, a dança, performance, circo e outras linguagens.

Criado há 41 anos, o Feteag chega à 31ª (pois não foi realizado em alguns anos) e enaltece a resistência dos artistas e fazedores de cultura; o papel transformador dessas atuações. O programa ocorre de 16 e 30 de setembro, no Recife e em Caruaru, com espetáculos pernambucanos, de outros estados do Brasil e internacionais, além de atividades formativas.

Na programação estão Pela Nossa Pele, de Yael Karavan (Israel) e Rita Vilhena (Portugal). O espetáculo  aponta para o lugar onde vivemos e adverte que somos natureza. E que ações humanas estão provocando as catástrofes no planeta Terra, como enchentes, crises de refugiados, incêndios florestais e pandemias.

O inquieto Grupo Magiluth, do Recife, apresenta dois trabalhos Luiz Lua Gonzaga e Estudo Nº1: Morte e Vida. Já o Grupo São Gens que vem furando a bolha e se apresentando em vários festivais com Narrativas Encontradas Numa Garrafa PET na Beira da Maré, tem uma cena que destaca o espaço urbano do Recife e sua relação com as margens, do ponto de vista da favela e seus fluxos.

A atriz Janaína Leite (São Paulo), articula de forma radical temas historicamente inconciliáveis como maternidade e sexualidade. Apresenta Stabat Mater, peça que a participação de sua mãe Amália Fontes e um ator pornô.  

A Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru) faz seu protesto com Poeta Preto, um grito, um desabafo com o ator Rosberg Adonay, que revisita os medos, angústias de homem negro, e apresenta-se como porta voz de todos aqueles que foram e são silenciados todos os dias.

O Teatro Agridoce (Recife) participa do Feteag com Trans(passar), peça com Sophia William e Aurora Jamelo, que expõe a vivência da mulheridade trans, evidenciando as dificuldades sociais sofridas por essa população no Brasil.

Sopro dÁgua. Foto: Thais Lima / Divulgação

Odília Nunes em Decripolou Totepou. Foto: Silvia Montico /Divulgação

Lavagem, com a Cia REC  do Rio de Janeiro. Foto: Christopher Mavric

Narrativas Encontradas Numa Garrafa PET na Beira da Maré. Foto Gabriel Melo / Divulgação

Gabriela Holanda (Olinda), em Sopro D’Água aposta na dimensão aquática, na materialidade ancestral-geológica a partir da compreensão de que somos água. Enquanto a e Cia REC (Rio de Janeiro), usa baldes, água, sabão e espuma para realizar a ação de limpar como gesto performativo e político em Lavagem.

O Coletivo FusCirco (Fortaleza)  expõe sua comicidade com A Risita. Odília Nunes (Afogados da Ingazeira), mostra seu encanto de palhaça e bonequeira com Decripolou Totepou. O músico Rubi (Brasília), encerra a programação com o show Nem Toda Pausa É Espera. 

Além dos espetáculos, o Feteag 2022 oferece duas atividades formativas. No dia 22, a diretora, atriz e dramaturga Janaína Leite participa da conversa Conexões entre teatro e pesquisa, com mediação dos professores Luís Reis e Virginia Maria Schabbach. O encontro acontece das 14h às 15h, no Teatro Milton Baccarelli (Centro de Artes e Comunicação da UFPE), com acesso livre.

Em Caruaru, Odília Nunes ministra a oficina Corpos brincantes – pensando a comicidade, de 26 a 30 de setembro, no Teatro João Lyra Filho. A oficina foca na prática e criação de cenas, a partir da experimentação de repertórios vivenciados pela orientadora. As inscrições podem ser feitas através deste link: https://forms.gle/nNwWSMzL8XDLcLPC6. 

O FETEAG 2022 é uma realização do Teatro Experimental de Arte (TEA) e conta com incentivo do Funcultura e apoio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Fundação de Cultura de Caruaru e SESC PE.

O FETEAG 2022 é uma realização do Teatro Experimental de Arte (TEA) e conta com incentivo do Funcultura e apoio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Fundação de Cultura de Caruaru e SESC PE.

Este programa cênico integra a Cena Expandida, articulação que reúne o Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena @ccumplicidades e cenacumplicidades.com.br (10 a 30 de setembro), o FETEAG – Festival de Teatro do Agreste – @feteag e feteag.com.br (20 a 30 de setembro); o FETED – Festival Estudantil de Teatro e Dança – @feted.pe (8 a 18 de setembro), o Reside – Festival Internacional de Teatro de PE – @residefestivalbr e residefestival.com.br (22 a 28 de setembro), e o Transborda – as linguagens da cena – @sescpe (1º a 17 de setembro), do SESC PE.

PROGRAMAÇÃO

16/09

Luiz Lua Gonzaga
Grupo Magiluth  (Recife/PE)
Local: Largo da Imperial Matriz da Várzea (Paróquia Nossa Srª do Rosário – Recife)
Horário: 17h

17/09

Poeta Preto
Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru/PE)
Local: Teatro João Lyra Filho (R. Visc. de Inhaúma, 999 – Maurício de Nassau, Caruaru)
Horário: 20h

20/09

Pela Nossa Pele
Yael Karavan e Rita Vilhena (Portugal)
Local: Teatro Apolo-Hermilo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h

21/09

Stabat Mater
Janaína Leite (São Paulo/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h

22/09

Stabat Mater
Janaína Leite (São Paulo/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h

23/09

Poeta Preto
Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru/PE)
Local: Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (Rua Mariz e Barros, 328, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h

24/09

A Risita
Coletivo FusCirco (Fortaleza/CE)
Local: Academia das Cidades (R. Maria Antonieta, 578, Salgado – Caruaru)
Horário: 17h

Lavagem
Cia REC (Rio de Janeiro/RJ)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

25/09

A Risita
Coletivo FusCirco (Fortaleza/CE)
Local: Estação Ferroviária (Rua Silva Filho, s/n, Maurício de Nassau – Caruaru)
Horário: 17h

Lavagem
Cia REC (Rio de Janeiro/RJ)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

26/09

Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professora Cesarina Moura Vieira Costa (Rua Profª. Mirian Vieira Costa Vila do Rafael 2° Distrito – Vila Do Rafael, Caruaru)
Horário: 8h

Trans(passar)
Teatro Agridoce (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

27/08

Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professor José Florêncio Neto Machadinho (R. Olegário Bezerra, s/n, São Francisco – Caruaru)
Horário: 8h

Narrativas Encontradas Numa Garrafa PET na Beira da Maré
Grupo São Gens de Teatro (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

28/09

Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Presidente Kennedy (R. Antonio Teles, Agamenon Magalhães – Caruaru)
Horário: 10h

Sopro D’Água
Gabriela Holanda (Olinda/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

29/09

Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professora Teresa Neuma Pereira Pedrosa (Rua Maria Júlia da Conceição, s/n, Cedro – Caruaru)
Horário: 9h

Estudo Nº1: Morte e Vida
Grupo Magiluth (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

30/09

Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professor Leudo Valença (Rua Odilon Ramos da Silva, Rendeiras – Caruaru)
Horário: 8h

Show – Nem toda pausa é espera
Rubi (Brasília/DF)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h

 

Entrevista: Fábio Pascoal – diretor do Feteag

Fábio Pascoal, idealizador e diretor do Festival do Teatro do Agreste – Feteag. Foto: Divulgação

– Fábio, o Feteag tem mais de 50 anos e nesse tempo festival mudou de perfil? Quais as marcas dessas mudanças, antes e de agora?

O Feteag foi criado em 1981 com o objetivo de expandir as ações de formação praticadas pelo TEA – Teatro Experimental de Arte, ou seja ele tem 41 anos, e sua atualização faz parte do próprio percurso do teatro, com foco principal na profissionalização, porém sem perder o seu grande norte que é a formação de público, desenvolvido através de um trabalho contínuo junto a classe estudantil, principalmente do ensino fundamental da rede pública de ensino.

– O que te motiva, o te move a tocar o Feteag? O que você busca com isso?

Nascido e criado nas coxias do teatro, seria impossível não desenvolver o gosto por ele, conforme Bourdieu, e realizá-lo é sempre me colocar em novos desafios, pois isso é o que move a vida.

– Qual a posição do seu festival no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo?

Primeiro gostaria de lembrar que o FETEAG é uma ação conjunta de produtores, curadores e artistas, que juntamente com o público compõem o grupo de “fazedores de festivais”, como nos lembra Felipe de Assis do FIAC-BA,  e o que procuramos é sempre nos colocar em risco, para que a cada edição possamos proporcionar uma nova experiência ao espectador, com uma curadoria que busca aprofundar o diálogo com a cena contemporânea nacional e internacional.

– Como você interpreta as políticas públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente?

O Recife, Caruaru, Pernambuco e o Brasil andam a passos curtíssimos quando pensamos em políticas de incentivos culturais. Em Pernambuco temos um edital de fomento que se encontra estagnado, em termos de valores de aportes, há anos, e com uma lei de fomento via mecenato que não sai do papel e que poderia ser a salvação para as produções já consolidadas no calendário cultural, como os festivais, que a cada ano tem que concorrer com os iniciantes e que, sinceramente, acho isso muito desleal.

– Fale brevemente do “cardápio” dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a edição?

 Para elaborarmos o “cardápio” de cada edição começamos a sonhar pelo menos 2 anos antes para assim podermos estabelecer parcerias importantes, como com os institutos internacionais. Esta edição foi pensada em 2020, quando já estávamos sondando possíveis atrações e está sendo viabilizada pelo edital Funcultura PE, nosso incentivador, e os apoios fundamentais da Prefeitura de Caruaru/Fundação de Cultura, SESC e Prefeitura do Recife/Secult que nos apoio via ação Cena Expandida.

– A praxe dos festivais em Pernambuco é tocar essas iniciativas na raça. Isso é motivo de orgulho ou preocupação?

É um motivo de MUITA preocupação, pois realizar um festival deve ser encarado como um trabalho e não um sacrifício, pois não temos a obrigação de fazê-lo, fazemos pois acreditamos na sua importância para nossa evolução enquanto profissional e humano.

– Neste ano, com previsão para os seguintes, o seu festival integra a Cena Expandida com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?

Esta é uma ação gestada desde 2018 e que finalmente colocamos para rodar e que busca, neste momento específico, mobilizar o público e trazê-lo de volta ao teatro, depois de um período muito difícil para as artes presenciais que foi a pandemia.

– Qual a pergunta que não quer calar? Tem resposta?

Melhor será o amanhã.

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Cena Expandida em Pernambuco
Uma ação articulada com cinco festivais

Participam os festivais Transborda, do Sesc-PE; FETEAG de Fábio Pascoal, Reside de Paula de Renor, Feted de Pedro Portugal e Cena Cumplicidades, de Arnaldo Siqueira, que juntam projetos com perfis diferentes para potencializar os cinco programas. Foto: Divulgação

A força de cinco festivais de artes cênicas de Pernambuco forma uma constelação. Cena Expandida é articulação inédita que junta o Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena, o Festival de Teatro do Agreste (Feteag), o Festival Estudantil de Teatro e Dança (Feted), o Reside – Festival Internacional de Teatro de PE e o Transborda – As linguagens da cena para movimentar os palcos do Recife e Caruaru no mês de setembro. A programação ocorre entre os dias 8 e 30 de setembro, com mais de 60 atividades, como exibições artísticas e de formação.

O objetivo é vivo e urgente: fortalecer o circuito das artes cênicas, chamar a atenção do público e contribuir para a formação de novas plateias e pressionar o poder publico para os reajustes de políticas públicas para a área.

Essa primeira edição da Cena Expandida chega como um projeto piloto, mas que mantém as características individuais dos participantes, suas programações e recortes curatoriais independentes. Os cinco firmaram uma cooperação em torno de um calendário para o mês de setembro.

O projeto é ambicioso e pretende nos próximos anos oferecer um cardápio de atrações que reforce o Recife e outras cidades participantes como destinos para a fruição cultural. “O movimento para criar um circuito que trace um diálogo entre as programações desses festivais começou em 2018”, conta a atriz e produtora Paula de Renor, do Reside.

Os impactos da pandemia e os desinvestimentos por parte do governo federal para a cultura, para ser mais exata, todos os cortes para a área criaram dificuldades que esses produtores buscam encarar coletivamente. Arnaldo Siqueira, do Cena Cumplicidades avalia que o “cenário de crise se instaurou em 2019 e que piorou a partir de 2020”. Foi um destampar de mazelas com a demonização da produção cultural.

Muito trabalho para reverter esse quadro e o compartilhamento de expertises, a reconstrução das redes são trunfos dessa turma para fortalecer a cena e atrair novos públicos nesse retorno à presencialidade.  

O negócio é unir forças desses festivais pernambucanos já consolidados e reconhecidos nacionalmente, destacou o produtor Fabio Pascoal, do Feteag na coletiva de imprensa virtual realizada nesta quarta-feira (31/08). Pedro Portugal, do Feted, aposta que o diálogo é enriquecedor e que esse corredor de festivais em fluxo deve contribuir para o desenvolvimento da cadeia cultural. Ele mesmo transferiu seu festival de agosto para setembro por reconhecer a importância da iniciativa.

Os integrantes da ação reforçam que a Cena Expandida não é um festival, mas sim um calendário que ocupa o mês de setembro e une cinco iniciativas já consolidadas. A programação tem início no dia 8 de setembro, com atividades do Feted – Festival Estudantil de Teatro e Dança e do Transborda – as linguagens da cena. As peças artísticas do Cena Cumplicidades iniciam no dia 10. O Feteag exibe os trabalhos a partir do dia 20, e o Reside, a partir de 22.

As atrações vão ocupara vários espaços da cidade do Recife, como a unidade do Sesc em Santo Amaro, os teatros do Parque, de Santa Isabel, Hermilo Borba Filho, Apolo, Luiz Mendonça, Barreto Júnior, Muafro, Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo, praças e parques.

Além do investimento e articulação do Cena Cumplicidades, Feteag, Feted, Reside e do Transborda, a Cena Expandida conta com apoio da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura da Cidade do Recife.

SERVIÇO

Cena Expandida – de 8 a 30 de setembro (@cenaexpandidarec)

Feted – 8 a 18 de setembro (@feted.pe)

Transborda – 8 a 18 de setembro (@sescpe e sescpe.org.br)

Cena Cumplicidades – 10 a 30 de setembro (@ccumplicidades e cenacumplicidades.com.br)

Feteag – 20 a 30 de setembro (@feteag e feteag.com.br)

Reside – 22 a 28 de setembro (@residefestivalbr e residefestival.com.br)

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Feteag com peças gratuitas no Recife e Caruaru

A merda foto Gal Oppido

A Merda (La Merda), com Christiane Tricerri. Foto: Gal Oppido

Aquela que é considerada “feia” por um certo padrão vigente expõe sua revolta em forma de confidência pública no espetáculo A Merda (La Merda), com Christiane Tricerri, que dirigiu e protagoniza o solo. A peça é apresentada no dia 6 de outubro no Teatro de Santa Isabel, na abertura do braço recifense da programação da 26ª edição do Festival de Teatro do Agreste – FETEAG 2016. Essa fêmea do monólogo, escrito pelo italiano Cristian Ceresoli, busca um lugar no mundo machista em que vivemos. Como uma musicista, a intérprete toca uma nota poética, para falar desse nosso tempo com seus horrores e misérias.

As ações artísticas do Feteag  começam nesta sexta-feira (30 de setembro). Em Caruaru, a performer Flávia Pinheiro, do argentino Colectivo Mazdita, apresenta o trabalho  Contato Sonoro. Nele, a artista experimenta a produção de ruído em qualquer superfície e explora o corpo humano como circuito de som.

Land foto Divulgação

Land um ensaio poético sobre o tecido da cidade. Foto Divulgação

No Recife, o ator, performer e músico português Bruno Humberto expõe LAND – Instalação Coreográfica no tecido urbano da cidade, para uma audiência em movimento, no Pátio de São Pedro, às 16h. A apresentação é resultado da oficina Land, desenvolvida durante esta semana no Teatro Hermilo Borba Filho. São coreografias efêmeras e instalação criadas num diálogo entre indivíduos e a paisagem urbana, arquitetônica e cultural da cidade. Serão mostradas micronarrativas criadas a partir da oficina.

Land é um projeto já passou por Gateshead-Newcastle (Inglaterra), San Jose (Costa Rica) e Porto (Portugal) e que fez brotar poéticas diferentes em cada centro urbano. A oficina também será ministrada de 3 a 7 de outubro, em Caruaru.

O programa comemora 35 anos de existência e resistência e tem toda sua programação gratuita. São 12 espetáculos profissionais, quatro peças estudantis e uma roda de diálogo dos alunos com especialistas. Ao todo somam 21 sessões em Caruaru e mais quatro no Recife. Essa temporada festeja os 54 anos de fundação do TEA (Teatro Experimental de Arte), coordenado por Argemiro Pascoal (falecido) e Arary Marrocos, pais de Fábio Pascoal, diretor do Feteag. Este ano, o Feteag conta com incentivo do Fundo de Incentivo à Cultura – Funcultura.

Com o tema Corpos Fluidos – Liminaridade entre Teatro, Dança e Performance, o festival procura aprofundar o olhar e proporcionar espaços de discussão sobre os limites, muitas vezes tênues, na nossa contemporaneidade.  Há algo desse mote que reverbera nos espetáculos do festival.

Espetáulo O filho, do Tetro da Vertigem, tem oito sessões em Caruaru. Foto: Flavio Morbach Portella

Espetáulo O filho, do Teatro da Vertigem, tem oito sessões em Caruaru. Foto: Flavio Morbach Portella

A principal atração deste ano é o Teatro da Vertigem, que chega a Caruaru com Kafka na Estrada – um projeto de viagem, que inclui oito sessões da peça O Filho, mostra de filmes, roda de conversa com os diretores da companhia e Laboratório Cênico com a diretora Lili Monteiro, que vai escolher cinco pessoas para participarem do coro da peça.  A fragilidade das relações familiares na contemporaneidade é explorada na montagem dirigida por Eliana Monteiro e inspirada em Carta ao Pai, de Franz Kafka (1883-1924), escrita em 1919, destinada a seu pai e nunca enviada.

No fundo e na superfície, a peça investiga o que é ser um homem nos dias que correm, a partir dos embates apresentados, o corrosivo acúmulo de raiva e frustração, e do revezamento no papel de pai.

A utilização de locações inusitadas, como presídios, igrejas, hospitais, rios ou andaimes é um das marcas do Teatro da Vertigem, que desta vez transforma o Espaço Cultural Tancredo Neves em um brechó de móveis usados. O cenário de Marisa Bentivegna arma um clima sombrio, com dezenas de objetos domésticos empilhados caoticamente. O texto é de Alexandre Del Farra, com dramaturgia de Antônio Duran. No elenco estão  Edison Simão, Mawusi Tulani, Paula Klein, Rafael de Bona e Sergio Pardal.

Além de A Merda (La Merda), o roteiro do festival no Recife inclui  Pupik: Fuga em 2, do Lume Teatro e Karavan Ensemble no dia 7; Conversas Com Meu Pai, com Janaina Leite, no dia 8 e A Morte da Audiência (A Morte do Público), no dia 9. Essas três últimas com apresentações no Teatro Hermilo Borba Filho.

Pupik – Fuga em 2 cavouca os sentidos da condição de estrangeira nesse dueto cênico de Naomi Silman, do Lume Teatro, e da israelense Yael Karavan.  Em hebraico, Pupik significa umbigo. Naomi nasceu na Inglaterra, morou em Israel e França e agora vive no Brasil. Yael nasceu em Israel, cresceu na França e Itália e hoje está radicada na Inglaterra. Usando a bagagem de mais de 20 anos de pesquisas em teatro físico e visual, dança e palhaço, as atrizes se espraiam nas múltiplas linguagens e deslizam por cenas cômicas, poéticas, de movimentos abstratos e imagens, improvisos e depoimentos.

Desdobramento da pesquisa sobre teatro documentário, que a atriz Janaina Leite (do paulista grupo XIX de Teatro) desenvolve desde 2008, Conversas Com Meu Pai passa pelos nervos, ossos e emoções da intérprete. Os bilhetes escritos por seu pai Alair, que sofreu uma traqueostomia, foram a base da dramaturgia de Janaina em parceria com o dramaturgo Alexandre Dal Farra.

O público não vai ficar indiferente ao espetáculo A Morte da Audiência, do português Bruno Humberto. O artista  provoca a plateia a participar da ação, com orientações e detonadores de situações.

Alexandre Guimaraes em O acougueiro. Foto: B. Emanuel

Alexandre Guimaraes em O açougueiro. Foto: B. Emanuel

Com boa receptividade na circulação que vem realizando pelos festivais no Brasil, o pernambucano Alexandre Guimarães apresenta O Açougueiro. Na peça o ator se multiplica em sete personagens para narrar, entre aboios e toadas de vaqueiros, uma história de paixão e intolerância.

O caruaruense Severino Florêncio leva seu personagem Antônio a resgatar parte de sua infância para tentar encher de vida o seu coração no espetáculo A visita, que tem texto de Moncho Rodiguez.

O valor da amizade e as aventuras que ficam impregnadas na alma com a alegria desse encontro estão na essência do espetáculo infantil Vento forte para Água e Sabão, da companhia Fiandeiros, que faz sessão em Caruaru. A partir das aventuras entre uma Rajada de Vento e uma Bolha de Sabão, o público é convidado a pensar sobre o vasto território dos afetos.

O Grupo Magiluth apresenta sua oitava montagem, O Ano em que Sonhamos Perigosamente, baseada no livro homônimo, do esloveno Slavoj Zizek e inquietações filosóficas do cotidiano.

Quatro espetáculos compõem a Mostra Estudantil, em Caruaru: Quem Roubou o Branco do Mundo?, do Grupo de Teatro Exato – Exato Colégio e Curso; Era Uma Vez no Fundo do Mar…, da Garagem Cia de teatro – Espaço Criança Esperança de Jaboatão; Zapt e Zupt – Traques e Truques Para Manter O Verde Vivo, do- Grupo Jesuína de Teatro – Escola Jesuína Pereira Rego e É Verdade, É Mentira, do Cacos Grupos de Teatro. E, no dia 15 de outubro, o dramaturgo e diretor  Luiz Felipe Botelho e o gestor Jorge Clésio traçam os Diálogos Sobre A Produção Estudantil , das 9 às 12h,  com participantes da Mostra Estudantil.

O 26º FETEAG homenageia Zácaras Garcia e Edson Tavares. Zácaras foi presidente da FETEAPE – Federação de Teatro de Pernambuco de 1998 a janeiro de 2003, diretor teatral e atuou como assistente de produção durante quinze edições do FETEAG. E Edson, professor de Literatura da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, foi coordenador do festival durante 10 anos.

PROGRAMAÇÃO

ESPETÁCULOS – MOSTRA PROFISSIONAL
DIA: 30 DE SETEMBRO
CONTATO SONORO – Colectivo Mazdita/ARG
15h
Local: Marco Zero/Praça da Conceição – CARUARU

DIA: 1º DE OUTUBRO
CONTATO SONORO – Colectivo Mazdita/ARG
às 7h
Local: Portal da Feira – CARUARU
CONTATO SONORO – Colectivo Mazdita/ARG
às 10 horas
Local: Feira de Artesanato CARUARU

DIA: 6 DE OUTUBRO
A MERDA (La Merda) – Christiane Tricerri/SP
20h
Local: Teatro de Santa Isabel – RECIFE

DIA: 7 DE OUTUBRO
LAND – Instalação Coreográfica no tecido urbano da cidade, para uma audiência em movimento – Bruno Humberto/PORTUGAL
Local: Marco Zero/Praça da Conceição CARUARU
16h

A MERDA (La Merda) – Christiane Tricerri/SP
20h
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU

PUPIK: FUGA EM 2 – Lume Teatro/SP e Karavan Ensemble/ING
20H
Local: Teatro Hermilo Borba Filho RECIFE
Classificação etária: 16 anos

DIA: 8 DE OUTUBRO
CONVERSAS COM MEU PAI – Janaina Leite/SP
20H
Local: Teatro Hermilo Borba Filho – RECIFE
Classificação etária: 16 anos

A MORTE DA AUDIÊNCIA (A MORTE DO PÚBLICO) – Bruno Humberto/POR
20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 16 anos

DIA: 9 DE OUTUBRO
A MORTE DA AUDIÊNCIA (A MORTE DO PÚBLICO) – Bruno Humberto/POR
20H
Local: Teatro Hermilo Borba Filho – RECIFE
Classificação etária: 16 anos

PUPIK: FUGA EM 2 – Lume Teatro/SP e Karavan Ensemble/ING
20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 16 anos

DIA: 10 DE OUTUBRO
CONVERSAS COM MEU PAI – Janaina Leite/SP
20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 16 anos

DIA: 11 DE OUTUBRO
A VISITA – Grupo Arte em Cena/PE
20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 16 anos

O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
20h
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU

DIA: 12 DE OUTUBRO
VENTO FORTE PARA ÁGUA E SABÃO – Grupo de Teatro Fiandeiros
16h
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: Livre

DIAFRAGMA: Ensaio sobre a impermanência – Colectivo Mazdita/ARG
ÀS 20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC Caruaru
Classificação etária: Livre

O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
20h
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU

DIA: 13 DE OUTUBRO
O ANO EM QUE SONHAMOS PERIGOSAMENTE – Grupo Magiluth/PE
ÀS 20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 18 anos

O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
20h
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU CARUARU

DIA: 14 DE OUTUBRO
O AÇOUGUEIRO – Alexandre Guimarães/PE
ÀS 20H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: 18 anos

O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
20h
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU

DIA: 15 DE OUTUBRO
O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
17h30 e 20h30
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU

DIA: 16 DE OUTUBRO
O FILHO – TEATRO DA VERTIGEM
17h30 e 20h30
Local: Espaço Cultural Tancredo Neves. CARUARU

ESPETÁCULOS – MOSTRA ESTUDANTIL – CARUARU
DIA: 10 DE OUTUBRO
QUEM ROUBOU O BRANCO DO MUNDO? – Grupo de Teatro Exato – Exato Colégio e Curso – Caruaru/PE
10H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: Livre

DIA: 11 DE OUTUBRO
ERA UMA VEZ NO FUNDO DO MAR… – Garagem Cia de teatro – Espaço Criança Esperança de Jaboatão/PE
10H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC Caruaru
Classificação etária: Livre

DIA: 13 DE OUTUBRO
ZAPT E ZUPT – TRAQUES E TRUQUES PARA MANTER O VERDE VIVO – Grupo Jesuína de Teatro – Escola Jesuína Pereira Rego – Caruaru/PE
ÀS 10H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: Livre

DIA: 14 DE OUTUBRO
É VERDADE, É MENTIRA – Cacos Grupos de Teatro
ÀS 10H
Local: Teatro Rui Limeira Rosal – SESC CARUARU
Classificação etária: Livre

DIA: 15 DE OUTUBRO

DIÁLOGOS SOBRE A PRODUÇÃO ESTUDANTIL – Luiz Felipe Botelho/Jorge Clésio
DAS 9 às 12h
Local: Teatro Lício Neves/Caruaru
Público Alvo: Participantes da Mostra Estudantil e interessados em geral

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