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O Magiluth desnuda as engrenagens do colapso
Crítica do espetáculo Estudo Nº1: Morte e Vida

Temporada comemorativa dos 20 anos do grupo. Foto: Vitor-Pessoa

                                           Por Ivana Moura

“Não faltaram alertas. As sirenes apitaram o tempo todo. A consciência dos desastres ecológicos é antiga, viva, fundamentada, documentada, provada, mesmo desde o início da chamada ‘era industrial’ ou ‘civilização da máquina’. Não podemos dizer que não sabíamos.  Contudo, existem muitas maneiras de saber e de ignorar ao mesmo tempo”, pondera o filósofo francês Bruno Latour no seu livro Diante de Gaia: Oito Conferências sobre a Natureza no Antropoceno (Ubu Editora, 2020), um dos mais contundentes manifestos sobre as alterações climáticas que assombram nosso presente. Para Latour, vivemos um momento de profunda ruptura, em que as certezas da modernidade desmoronam diante de Gaia, essa força indomável que reage às agressões humanas e nos obriga a repensar radicalmente nossa relação com a Terra.

É nesse cenário de urgência e perplexidade que se insere Estudo Nº1: Morte e Vida, um mergulho visceral nas entranhas do nosso tempo, conduzido por um grupo de artistas-pesquisadores que se lançam no desafio de atualizar a obra de João Cabral de Melo Neto à luz das urgências do presente. Nessa travessia, o Grupo Magiluth – formado pelos atores Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Lucas Torres e Pedro Wagner (que não está no elenco desta montagem) – mobiliza um arsenal de recursos cênicos e dramatúrgicos para expor as engrenagens do capitalismo global e seus impactos sobre a vida humana e o planeta. A peça está em cartaz no Teatro Arraial Ariano Suassuna como parte das comemorações dos 20 anos de trajetória da trupe recifense.

Com direção de Luiz Fernando Marques e direção musical de Rodrigo Mercadante, o Magiluth implode as fronteiras entre o teatro, a performance e a instalação para dissecar as vísceras expostas de um sistema que produz morte e desigualdade em escala mundial. No palco-mundo, os “severinos” do nosso tempo ganham carne, osso e grito: refugiados climáticos, trabalhadores precarizados, populações deslocadas pela seca, pelas guerras e pela fome.

Ao longo do espetáculo, somos chacoalhados por imagens que nos arrancam da zona de conforto e nos obrigam a encarar a realidade crua da crise que nos devora. Das enchentes que arrasaram o sul do Brasil à elevação do nível dos oceanos que ameaça engolir nações insulares como Kiribati, o Magiluth cartografa a geografia desigual dos desastres ambientais, expondo como eles atingem de forma desproporcional os mais pobres e marginalizados. Uma radiografia implacável da insustentabilidade do modelo de desenvolvimento predatório que rege nossa civilização.

Ressoa no palco as consequências da crise climática no Rio Grande do Sul, que são devastadoras: mais de 1 milhão de pessoas impactadas, mais de cem mortos e desaparecidos. Um cenário de guerra alertado pela ciência há décadas e que hoje é parte da nova (e grave) realidade do clima. Uma realidade que se impõe de forma brutal, escancarando a negligência e a ganância dos políticos abutres que historicamente trataram a questão ambiental com desprezo no Brasil.

É importante lembrar que Estudo Nº1: Morte e Vida estreou em janeiro de 2022, em um momento de grande tensão política no país, às vésperas de uma eleição presidencial decisiva. Naquele contexto, o espetáculo já trazia em suas camadas de sentido uma reflexão sobre o papel crucial do Nordeste e de seu povo na resistência democrática, como ficou evidente com a vitória de Lula sobre Bolsonaro, graças em grande parte aos votos nordestinos.

Agora, em maio de 2024, na temporada comemorativa dos 20 anos do Magiluth, as questões ambientais abordadas na peça ganham ainda mais relevância e urgência, diante da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

Mas Estudo Nº1: Morte e Vida não se limita a um diagnóstico sombrio do presente. Ele é, sobretudo, um grito de alerta e convocação, que nos desafia a reimaginar radicalmente nossa relação com a natureza, com os outros seres e com o próprio sistema econômico que nos governa. Ao atualizar a obra de João Cabral à luz das urgências do nosso tempo, o Magiluth reafirma o papel da arte como trincheira de luta por um mundo mais justo e sustentável, capaz de fabular outros futuros possíveis a partir dos escombros do Antropoceno.

Essa postura implica em reconhecer que não há saídas fáceis ou individuais para a crise sistêmica que vivemos, e que precisamos construir coletivamente novas formas de existência e coexistência na Terra. Formas que passam necessariamente por uma reinvenção radical de nossa relação com os outros seres, com os ecossistemas e com os próprios limites do planeta. Uma reinvenção que exige criatividade, coragem e compromisso ético-político, para além das fórmulas prontas e das soluções de mercado.

É nesse sentido é preciso prestar atenção e dar visibilidade às histórias, práticas e modos de vida que brotam nas brechas e nas ruínas do capitalismo. Modos de vida que muitas vezes são invisibilizados ou desqualificados pelos discursos hegemônicos, mas que carregam consigo sementes de resistência e reinvenção.

Cena do canavial, trabalhador da cana dança Michael Jackson. 

Sugiro que o espetáculo do Magiluth se alinha a uma postura ético-estética de habitar as contradições do presente e de buscar saídas coletivas para a crise que nos assola. Uma postura que se traduz na própria forma fragmentária e multivocal da encenação, que recusa as narrativas lineares e totalizantes em prol de uma dramaturgia mais aberta e porosa, em condições de acolher diferentes vozes, saberes e modos de existência.

Ao mesmo tempo, ao trazer para o palco os corpos e as histórias dos “severinos” do nosso tempo – os refugiados climáticos, os trabalhadores precarizados, as populações deslocadas pela seca e pela fome -, o Magiluth parece abraçar a densidade poética desses modos de vida que resistem e reexistem nas margens do capitalismo. Modos de vida que carregam consigo não apenas o testemunho da catástrofe em curso, mas também a potência de outros mundos possíveis.

Bruno Latour no prefácio de Diante de Gaia, escrito para a edição brasileira lançada em 2020, fala que, naquele momento, o Brasil enfrentava uma verdadeira “tempestade perfeita”, com a sobreposição de múltiplas crises – sanitária, política, ecológica, moral e religiosa. Um cenário agravado pela postura negacionista e irresponsável do governo Bolsonaro, que não apenas negligenciou a gravidade da pandemia, mas também aprofundou o desmonte das políticas ambientais e o ataque aos direitos dos povos indígenas e das populações mais vulneráveis.

Na estreia de Estudo Nº1: Morte e Vida em janeiro de 2022, vivíamos em meio às incertezas de um ano eleitoral decisivo para os rumos do país. Naquele momento, a cena em que os atores entoam “olé, olé, olá, Severino, Severino” ganhava uma conotação política explícita, com o público progressista respondendo com o grito de “Lula lá”. Uma manifestação espontânea da esperança de que a eleição de Lula representasse uma inflexão no enfrentamento das crises que assolavam (e ainda assolam) o Brasil.

Passados dois anos, e com Lula novamente à frente do governo, o espetáculo ganha novas camadas de sentido em sua temporada comemorativa dos 20 anos do Magiluth. Se, por um lado, a cena do “olé, olé, olá”” perde protagonismo, por outro ela se reveste de uma dimensão histórica, como um lampejo da memória de um tempo que não podemos esquecer. Um tempo em que a própria possibilidade de vislumbrar outros futuros parecia ameaçada pela sombra do autoritarismo.

Paralelamente, as questões das migrações e da crise climática, que já estavam presentes no espetáculo desde sua estreia, ganham ainda mais relevância e urgência no contexto atual.

Mudar nossa ideia sobre a Terra, sobre a vida, sobre nós mesmos. Eis o desafio que o Magiluth nos lança, com a coragem de quem sabe que a arte não pode mais se dar ao luxo da inocência.  E é nessa travessia incerta, feita de perguntas sem resposta e de gestos de reinvenção, que o teatro se faz trincheira e semente, luto e luta, morte e vida severina. Um teatro que nos ajuda a fabular outros mundos, antes que seja tarde demais.

Serviço
Espetáculo Estudo nº1: Morte e Vida
Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, 457, Boa Vista – Recife-PE)
Dias: 9, 10, 11, 12, 16, 17, 18 e 19 de maio de 2024
Horários: Quintas, sextas e sábados, às 20h; Domingos, às 17h
R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), à venda no Sympla
Classificação indicativa: 16 anos

Leia Mais. A crítica da temporada de estreia em 2022:  Ensaio nº 1: Morte e Vida. 2022.

 

Este texto integra o projeto arquipélago de fomento à crítica, com apoio da Corpo Rastreado.

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Poesia e dramaturgia, tentativa e esperança de vida
Crítica do espetáculo Miró: Estudo nº2

Miró: Estudo nº2, do grupo Magiluth. Foto: João Maria Silva Jr

– Prédios não caem. Prédios são demolidos.

Essa é uma das falas-síntese do espetáculo Miró: Estudo nº2, do grupo Magiluth. Na noite de 27 de abril, cerca de trinta ou quarenta minutos depois que a peça havia terminado na Avenida Paulista, em São Paulo, mais um prédio caia na Região Metropolitana do Recife. Seis pessoas morreram e cinco ficaram feridas, entre elas uma mulher de 32 anos, e sua filha, uma adolescente de 16 anos. Os corpos foram encontrados abraçados debaixo dos escombros.

O edifício Leme, no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, era do tipo caixão, possuía 16 apartamentos e estava condenado desde o ano 2000. Como não tinha sido demolido, o prédio acabou ocupado. O jornal Folha de Pernambuco publicou que, de acordo com a Defesa Civil de Olinda, a cidade tem 110 imóveis com risco iminente de desabamento, todos prédios do tipo caixão que, como explicam as matérias de jornal, são edifícios construídos com uma técnica de alvenaria na qual as paredes fazem a função de sustentação da estrutura, sem que vigas ou pilares sejam utilizados.

Os 70 prédios do Conjunto Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, também Região Metropolitana do Recife, eram desse tipo. Como reforça o texto do espetáculo do Magiluth, foram construídos com recursos do antigo BNH, Banco Nacional da Habitação. Em 1995, um dos prédios foi interditado pela Defesa Civil por conta de rachaduras. Em 2005, todos os blocos foram interditados.

Muribeca dá nome ao conjunto habitacional, ao bairro em Jaboatão dos Guararapes, ao lixão desativado em 2009, que era o maior aterro sanitário de Pernambuco (“o sonho da casa própria ali, lado a lado com o lixão”, diz mais ou menos assim a dramaturgia do Magiluth), e ao poeta Miró, Miró da Muribeca.

Miró da Muribeca (1960-2022), João Flávio Cordeiro da Silva, era uma figura icônica do Recife. Era orgulhoso de viver de sua poesia. Ele próprio vendia seus livros e performava de um jeito único os poemas – sobre a cidade, o cotidiano, os problemas sociais, os encontros, os amores, o que poderia até ser considerado banal e, a partir do olhar de Miró, da sua elaboração, escrita e enunciação, ganhava forma e relevância.

Miró morreu em 2022 em decorrência de um câncer, mas também era alcoólatra.

Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Bruno Parmera. Foto: João Maria Silva Jr.

E foi a partir dessa pessoa que o Magiluth enveredou na criação de mais uma peça, num processo que também se debruça sobre o teatro, o ofício, o como fazer. Em Estudo nº 1: Morte e Vida (2022), a partir de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, a pergunta que disparava a encenação era “como montar uma peça?”. Agora, o grupo se questiona “como fazer uma personagem?”.

Essa pergunta é apresentada logo no início da peça e, a partir dela, discussões e possibilidades vão sendo compartilhadas com o público. Miró é uma pessoa ou uma personagem? O que é um protagonista? Um antagonista? Um coadjuvante? Figurantes? Elenco de apoio? E outras interrogações vão ecoando puxadas pela provocação inicial: quando estava performando, Miró era personagem? E nós, quando somos personagens? Só no vídeo para as redes sociais?

Para além das definições que enveredam pelas artes da cena, que podemos falar daqui a pouco, as fricções mais interessantes se dão quando esses conceitos tensionam as questões sociais alinhavadas pela dramaturgia.

A situação que desencadeou a escrita de um dos primeiros poemas de Miró, por exemplo, é trazida ao palco: uma abordagem policial a cinco jovens que estavam a caminho do Centro do Recife. Dali viria Quatro horas e um minuto*, poema publicado em seu primeiro livro, Quem descobriu o azul anil?:

quatro horas
quatro ônibus
levando vinte e quatro
pessoas
tristonhas e solitárias

quatro horas e um minuto
acendi um cigarro
e a cidade pegou fogo

cinco horas
cinco soldados
espancando cinco pivetes
filhos sem pai e
órfãos de pão

seis horas
o Recife reza
e eu voando
pra ver Maria

(Quatro horas e um minuto)

Na cena criada pelo Magiluth, os cinco jovens do bairro dos Coelhos, na periferia do Recife, estão andando e tirando onda pela rua até que um deles é abordado por um policial: “Tá rindo do quê, boy?”. A pergunta é seguida por um tapa.

Quando esses jovens se tornam protagonistas? De que forma eles são protagonistas? Qual a diferença entre um João “dos Coelhos” e um João? Entre um João da Muribeca e um João de Casa Forte? João de Casa Forte precisa ser nomeado? Quais outras estruturas podem servir para nomear João de Casa Forte? O colégio Santa Maria ou o Mackenzie, por exemplo, servem a esse propósito? Por outro lado, quais estruturas inexistem na construção do João da Muribeca, dos Coelhos, do Jardim Romano, de São Miguel Paulista? Um poeta marginal pode ser protagonista?

Um dos trunfos do Magiluth em Estudo nº2 é a engenhosidade na construção da dramaturgia. Poesia virou texto de teatro. Foi cortada, recortada, mudou de lugar, outros textos foram acrescentados, mas a poesia está lá. A obra de Miró está lá, adaptada ao teatro de um jeito imbricado, sem começo, meio ou fim, sem delimitações, invadindo todos os espaços no palco e espraiada.

Além disso, não há uma tentativa de fazer uma peça biográfica ou documental, apesar de alguns elementos biográficos e documentais nos ajudarem a ter pistas dessa pessoa-personagem, como alguns depoimentos de vizinhos de Miró. Mas não há muitas explicações – por exemplo: em nenhum momento o grupo conta que a cena desses jovens virou um dos primeiros poemas de Miró. Ela apenas está, existe, como dramaturgia e poesia, sem a necessidade de muitas explicações, a própria cena dando conta do seu contexto.

Depois de um prólogo estendido, guiado pela pergunta sobre como fazer uma personagem, o Magiluth expõe as suas escolhas para levar Miró personagem ao teatro. E essas escolhas, ao que me parece, carregam certo ineditismo na trajetória do grupo. O que o espectador acompanha é quase um processo de simbiose entre Erivaldo Oliveira, ator protagonista que interpreta Miró, e o poeta. Desde a dramaturgia, quando as fotos de Erivaldo se misturam às referências de Miró. Qual o nome da mãe de Erivaldo mesmo? E do poeta? Quem é filho único? Quem tem muitos irmãos? Os dois perderam as suas mães e esse buraco impactou a vida dos dois, talvez com pesos diferentes.

E essa construção vai alcançando de mansinho a cena – o conhaque que Erivaldo bebe repetidas vezes, a imagem da Muribeca na projeção do telão – e o corpo do ator, que é primeiro Erivaldo, personagem de si mesmo no palco, e vai aos poucos mimetizando Miró. Que imita o seu jeito de andar, de abrir os braços, de se expressar, que carrega a guia no pescoço com o dorso nu. Até que Erivaldo e Miró são um e são múltiplos: ator-personagem no palco, poeta-performer no vídeo.

Não tem como não exaltar o trabalho de Erivaldo Oliveira como ator em Miró. Principalmente para quem, como eu, acompanho o trabalho do grupo há muito tempo. Como quase tudo na vida, o trabalho do ator também é uma construção. Treino, repetição, aperfeiçoamento, faz de novo e novo. Uma das palavras-síntese para Magiluth é processo. Em Miró estão o Erivaldo de Viúva, porém honesta (2012) e da mãe fabulosa que ele ergueu em Apenas o fim do mundo (2019) e que tinha uma cena inesquecível com o Luiz de Pedro Wagner. Erivaldo tem mapeado Miró em sua consciência, em seu corpo, ora ao se conter, ora ao se expandir.

A cena em que se banha é como um nascimento, um batismo, um banho de mar no chuveiro, a cura para o porre de realidade e conhaque e, ao mesmo tempo, uma ode ao que pode vir. As ligações que faz aos poetas amigos, Wellington (Wellington de Melo), Cida (Cida Pedrosa) e Wilson (Wilson Freire), revelam a dor e os dramas internos do poeta-pessoa-personagem em cenas tristes e lindas.

Mas, como disse, a escolha me parece inédita ao grupo: levar uma personagem real à cena mimetizada. Interpretá-la de tal modo que o público possa se impressionar com as semelhanças entre ator e pessoa-personagem.

De outro modo, os polos colocados em cena quando o grupo apresenta, de um lado, a construção de uma personagem dramática, de modo tradicional, com caracterizações, como na cena de Giordano Castro; e de outro, o ator mais cru, que segue a sua intuição, é personagem de si mesmo, como na cena de Bruno Parmera, também não são escolhas recorrentes do grupo ao longo do seu repertório.

O Magiluth geralmente vai por outro caminho, o do ator-performer que não está necessariamente interessado em mimetizações, que ajudou a construir uma dramaturgia em sala de ensaio e, a partir do texto, das ações propostas e do corpo consegue estabelecer um estado de presença que alcança o espectador. Um estado de presença que, do palco, idealmente, integra o espectador à encenação. E o mais interessante no grupo é que esse estado, essa energia que os atores vão erguendo em cena, se dá no coletivo, no jogo e na interação entre aqueles atores, como se um puxasse e mobilizasse o outro até o lugar que desejam alcançar, todos juntos.

E essa é uma das quebras em Miró: Estudo nº2. Esse estado de presença coletivo, do modo como ele acontece em outras encenações, como O ano em que sonhamos perigosamente (2015), Dinamarca (2017) e Estudo nº1: Morte e Vida, por exemplo, não se estabelece da mesma maneira. O protagonismo, neste caso, também está relacionado à presença. Então, na maior parte do tempo, essa linha de forças está desnivelada. É um demérito do espetáculo? Não, é apenas um modo diverso de colocar as peças no tabuleiro da encenação e uma experiência diferente na trajetória do grupo.

Um dos momentos em que essa energia está um pouco mais equilibrada, embora em níveis menores de força, é quando os atores voltam ao procedimento recorrente de criação de cenas curtas, que se desenrolam como um jogo, e incorporam referências e citações de trabalhos anteriores. Se, como disse, processo é palavra-síntese do Magiluth, essas cenas são antropofagia. Olhar para si mesmo, para o mundo, voltar ao que foi, trazer coisas novas, acrescentar camadas de significação.

Por exemplo: pelo menos desde O ano em que sonhamos perigosamente (ou talvez desde Aquilo que o meu olhar guardou para você, 2012) o grupo traz à cena questionamentos sobre a ocupação do espaço urbano e a especulação imobiliária. Em Miró, os diálogos entre um engenheiro e um aprendiz, Giordano Castro e Bruno Parmera, sobre as especificidades na construção de um conjunto habitacional explicitam o descaso com o direito à moradia digna diante da sanha capitalista de construtores – aqueles da mesma laia dos que estão erguendo não sei quantas torres no Cais José Estelita, no Recife. Se antes o grito desesperado chamava por Stella, de Um bonde chamado desejo, em O ano em que sonhamos perigosamente, agora chama por Norma.

(…)

domingo era o dia mais feliz
antes de norma beijar um outro na boca

(Onde estará Norma?)

O casal de Todas as histórias possíveis, experimento criado durante o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19, aquele que se forma despretensiosamente e depois ganha a chave da casa do outro, recebe um áudio dizendo o que tem na geladeira e um convite para que fique à vontade, se sinta em casa, pode ser o mesmo casal que passa 22 anos juntos em Miró e depois não consegue imaginar a vida sem o outro?

estou pronto
eu também
foram
deixando para trás 22 anos juntos
naquele apartamento
dentro do elevador nenhuma palavra
térreo
agora teriam 22 mil ruas para seguir
seguiram

nenhum dos 2 sabia pra onde

(Separação)

O morto, que “é bom porque a gente deixa ele lá, no lugar, e quando volta ele tá lá, igual, na mesma posição” e que a gente coloca “flores por cima para esconder o cadáver”, de O ano em que sonhamos perigosamente, aquele que morre de exaustação pela precarização do trabalho em Estudo nº1: Morte e vida e permanece lá, no mesmo lugar, até o fim da peça, talvez aqui haja esperança, talvez ele não tenha morrido, cancelem o coveiro. O coração ainda bate.

(…)

ele pensou que agora estava
definitivamente morto
quando o legista disse:
não
não levem agora
o coração ainda bate
(…)

(Muita hora nessa calma)

Miró talvez seja a resposta mais imediata e ainda um pouco crua e, por isso tão verdadeira e bonita, ao que estamos vivendo. A resposta e a contribuição do Magiluth, porque é o que eles sabem fazer, continuar fazendo teatro, mesmo que o mundo lá fora esteja acabando como foi em O ano… ou nos experimentos durante a pandemia. Se, como dizem na dramaturgia, tentativa é a palavra mais importante no espetáculo, não é também uma das que mais fazem sentido hoje? Se vivenciamos tantas mortes, se perdemos Miró, como trabalhamos esse luto coletivamente, fazemos viva a sua obra e o seu legado, e entregamos juntos beleza e arte? A cidade pega fogo há bastante tempo. Foi o cigarro que eu acendi? Que acendemos juntos e não soubemos como apagar? Agora é hora de voltar a construir a cidade, oxalá sobre bases mais sólidas.

*Os poemas ao longo do texto não necessariamente são citados na íntegra no espetáculo.

Ficha Técnica:
Miró: Estudo nº2, do grupo Magiluth
Direção: Grupo Magiluth
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Atores: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira e Giordano Castro
Stand in: Mário Sergio Cabral e Lucas Torres
Fotografia: Ashlley Melo
Design gráfico: Bruno Parmera
Colaboração: Grace Passô, Kenia Dias, Anna Carolina Nogueira e Luiz Fernando Marques
Realização: Grupo Magiluth

Serviço:
Miró: Estudo nº2
Quando: 9 de maio, terça-feira, às 20h, no Teatro de Santa Isabel (ingressos esgotados)
13, 14, 20 e 21 de maio, sábado e domingo, às 19h, no Teatro Apolo (ingressos à venda)
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada), à venda no Sympla

Estudo nº1: Morte e Vida
Quando: 16, 17, 18 e 19 de maio, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada), à venda no Sympla

Este texto integra o projeto arquipélago de fomento à crítica, com apoio da Corpo Rastreado.

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Corpo e poesia: Magiluth e Miró no teatro

Miró: Estudo Nº2 estreia em curta temporada no Itaú Cultural. Foto: Ashlley Melo

“A minha poesia, ela não é só a minha poesia, ela é o meu corpo.”
Miró da Muribeca em entrevista para a Trip TV

Giordano Castro, ator e dramaturgo do grupo Magiluth, do Recife, disse que já viu acontecer: “As pessoas pegarem o livro e alguém dizer, ah, mas tu tem que ver, bota o vídeo dele na internet. Caralho! Não, porra. Lê, caceta. Ele é foda e tal, mas a gente é finito. Ele morreu, a gente vai morrer, todo mundo vai. E o que vai ficar é o que o cara produziu. E obviamente era incrível ver a performance dele, mas isso era ele. E o que cabe ao Magiluth? O que vai caber a outra pessoa fazer?”, questiona.

Nesta quinta-feira, 20 de abril, o encontro entre o grupo de teatro pernambucano e Miró da Muribeca, poeta que andava pelas ruas do Recife vendendo os próprios livros e fazendo poesia do que via, vai estrear no Itaú Cultural. Miró: Estudo nº2 segue a trilha aberta por Estudo nº1: Morte e Vida, inspirada em Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, que também estreou em São Paulo, em janeiro de 2022, no Sesc Ipiranga.

Mas, antes desses dois, tiveram também os trabalhos da sobrevivência, quando só dava para criar de dentro de casa e o corpo era materializado na imaginação de quem ouvia a voz dos atores em Tudo que coube numa VHS, Todas as histórias possíveis e Virá. E, se a gente puxar, o novelo vai longe, porque as coisas estão entrelaçadas e vão se desdobrando na trajetória de um grupo que permanece junto desde os tempos dos corredores do Centro de Arte e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, em 2004, quando o grupo foi formado.

Se a principal pergunta de Estudo nº1 é “como montar uma peça de teatro?”, a pergunta evocada em Estudo nº2 é “como fazer um personagem?”, a partir da obra e da figura de Miró, que morreu em julho de 2022, aos 61 anos. “A gente tem uma perspectiva muito particular sobre personagem, sobre se colocar em cena. Não há uma investigação muito stanislavskiana ou aprofundada mesmo. É algo muito mais perto do jogo, do estado de presença, do que da ideia da própria figura”, conta Castro.

Miró escrevia poesia sobre a cidade, o amor, a violência e tudo que via. Foto: Ashlley Melo

O grupo pensou em montar uma peça a partir da obra de Miró em 2015, quando ocupava uma sala no Edifício Texas, no bairro da Boa Vista, região central do Recife, e passou a encontrar e conviver com Miró mais de perto. Em parceria com o diretor Pedro Escobar, chegaram a gravar alguns vídeos com poesias e mostraram ao cronista lírico do cotidiano, como se definia João Flávio Cordeiro da Silva, nome de registro de Miró.

O poeta, que sim, performava suas poesias de maneira única, disse algo que marcou os atores. “Nossa, eu gosto muito de ver os vídeos de vocês porque eu vejo a minha poesia e isso é muito forte. Sempre quando me dizem poeta, dizem que minha poesia é minha performance, como se uma coisa estivesse sempre ligada a outra e quando eu vejo vocês fazendo, eu não vejo a minha performance, eu vejo o meu texto, a minha poesia”, relembra Giordano Castro.

E ainda que palavra seja corpo, principalmente depois da morte de Miró, vincular sua poesia à sua performance não seria matar ou deixar morrer também a poesia? E o quanto a pecha de performático, que nesse caso carrega muitos julgamentos, como àqueles relacionados ao consumo de álcool, uma questão com a qual Miró teve que lidar principalmente depois da morte da mãe, pode reduzir ou restringir a obra em tantos âmbitos?

Se as coisas não mudaram (já que essa conversa com Giordano Castro foi no fim de março), você, espectador, pode esperar uma cena de 20 minutos, só com textos de Miró. “E vai ser uma cena de teatro”, avisa. “E a gente diz, velho, vê como é possível a poesia desse cara se transformar e ir para lugares além dele! Não, nós não vamos reduzir a poesia de Miró a ele mesmo”.

Miró: Estudo N°2, do Grupo Magiluth

Quando: de 20 a 30 de abril, de quinta-feira a domingo
Horário: Quinta-feira a sábado, às 20h; domingos e feriados às 19h
Quanto: Gratuito.
Ingressos: Para retirar ingressos com antecedência, é preciso acessar o site do Itaú Cultural. Os ingressos reservados valem até 10 minutos antes do início da sessão. Após esse horário, os ingressos que não tiverem o check-in feito na entrada do auditório, perdem a validade e serão disponibilizados para a fila de espera organizada presencialmente. A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar para retirada de uma senha, que posteriormente pode ser trocada pelos ingressos de pessoas que não compareceram.
Duração: 90 minutos

Ficha Técnica:
Direção: Grupo Magiluth
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Atores: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira e Giordano Castro
Stand in: Mário Sergio Cabral e Lucas Torres
Fotografia: Ashlley Melo
Design gráfico: Bruno Parmera
Colaboração: Grace Passô, Kenia Dias, Anna Carolina Nogueira e Luiz Fernando Marques
Realização: Grupo Magiluth

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Percurso teatral
#Dossiê Aldeia do Velho Chico 2022
#6

Formigas, Lampião, É da carne dos homens, Cia. Biruta e  Ana Paula Ribeiro . Fotos: Divulgação

Cada vez mais me convenço da necessidade de fortalecimento da prática da crítica teatral. Isso inclui a urgência de remuneração dos espaços já existentes na internet (são muitos e é preciso ampliar), com a inclusão desses trabalhos no sistema das artes da cena a partir de editais e similares. Digo isso porque eu mesma, na raça, escrevo há anos sem uma remuneração direta, como muitos dos meus colegas. Alguns festivais investem na movimentação de análises acerca da programação (mas são poucos), o que permite e incentiva a valorização de uma fortuna crítica e de um painel reflexivo sobre a cena.

A ausência de análise, de diálogo, enfraquece uma possível discussão e muitas encenações não recebem um olhar crítico. Enquanto os que recebem várias perspectivas críticas vê dinamizado o próprio trabalho da cena e ganha reforço na projeção do grupo.

São reflexões que chegam como constatação e desafio para que muitos diálogos entre cena e pensamento crítico se estabeleçam e se expandam.

Nada é inocente. Nem a cena. Nem sua recepção nem qualquer avaliação crítica. A análise crítica da qual estou falando aqui é a que se posiciona publicamente, por escrito, por vídeo, por áudio, por outro meio ou tudo isso junto e misturado. A crítica feita entre amigos, na mesa do bar, nos ambientes hermeticamente fechados são importantes com exercício individual de expressão. Mas a que estou pondo em consideração é aquela do contexto da crítica pública, que corre mais riscos – de todo tipo.

Essas questões ficaram bem acesas durante o acampamento da Aldeia do Velho Chico, em Petrolina, e depois, enquanto tudo aquilo reverberava na minha cabeça e no meu corpo, acerca da criação, da recepção e da feitura crítica.

A Aldeia do Velho Chico é um festival multilinguagem. Há uma forte predominância das expressões da cultura tradicional com suas danças e cantos atravessadas de histórias, da ancestralidade que não conseguimos detectar as origens.

Outro dado forte do evento são as apresentações das artes da cena – dança, performance, teatro etc – em formatos de espetáculos ou em processo de criação, células em formação, pílulas carregadas de muita potência, mas ainda sem formatação estética estabelecida.

Então vamos fazer um breve percurso por entre os espetáculos e cenas da Aldeia do Velho Chico.

Formigas bebem absinto no armazém do caos

Cena de Formigas bebem absinto – Foto Tássio Tavares / Divulgação

Público participante do espetáculo Formigas bebem absinto. Foto Tássio Tavares / Divulgação

Nesse percurso começo pelo mais difícil, enquanto recepção no evento.

Formigas bebem absinto no armazém do caos estreou no dia 5 de março, no Theatro Santa Roza, em João Pessoa, na Paraíba. Com direção de José Manoel Sobrinho, texto de Everaldo Vasconcelos e no elenco Anderson Lima, Antônio Deol, Larissa Santana, José Maciel, Margarida Santos, Mônica Macedo, Emmanuel Vasconcelos. Procurei e não encontrei registro crítico acerca da peça.

A montagem tem direção de arte de Tainá Macedo, direção musical de Samuel Lira, preparação corporal de Luiz Velozo, fotografias e designer de iluminação de Bruno Vinelli e produção de Aelson Felinto.

A expectativa em torno da peça era grande, principalmente pelo nome de José Manoel Sobrinho – funcionário do Sesc Pernambuco por muitos anos – ,  que anunciou que o espetáculo seria um outro jeito de experiência estética em relação ao seu próprio percurso.

A teoria do caos é convocada como referencial teórico da cena para falar de uma dinâmica da vida social. É uma teoria cientifica recente e de alto grau de complexidade, que vem sendo aplicada para elucidar fenômenos antes considerados incompreensíveis. O Caos torna questionáveis as nossas maiores certezas e suscita novas indagações no que se refere a nossa própria realidade.

Fala-se que mudança mínima no início de um evento pode ocasionar consequências  imprevisíveis, metaforicamente justificado pelo chamado “Efeito Borboleta”. É muito citado o exemplo do vestibulando que perde o exame porque o pneu do ônibus furou e partir desse imprevisto prosaico toda sua vida futura é mudada (universidade, amigos, amores, trabalho, filhos etc.)

O que salientam os artigos dessa teoria é que o Caos não é desordem, mas sim imprevisibilidade. Existe uma ordem no suposto acaso, determinada por leis precisas. Não vou além, para não me perder, pois o caminho é matemático, de lógica bem específica.

O que me parece o primeiro problema do espetáculo Formigas bebem absinto no armazém do caos é que a direção aproxima a peça mais da ideia do senso comum de desordem, remete para os efeitos da instabilidade brasileira, do que perseguir na cena uma regra que testifique o imprevisível.

A utilização de procedimentos e elementos recorrentes do que é considerado teatro contemporâneo no Brasil – uso de microfone, projeção de vídeo, música tocada ao vivo, luz que fragmentando o corpo, luz difusa, atores manipulando a iluminação com holofotes na mão, inclusão do público na cena, não funcionam como uma dramaturgia que dê conta da proposta.  

A dramaturgia textual de Everaldo Vasconcelos emprega em excesso ditos populares, que empobrecem o jogo de cena. A fábula, mesmo com intenção de ser fragmentada, apresenta  uma trupe artística que se encontra e viaja a partir do consumo do absinto. Interpretam personagens clássicos, se relacionam entre si, expõem preconceitos como demonstrações misóginas dentro do grupo, reproduzem a violência do patriarcado.

Há choques entre as camadas dessa leitura do mundo, de uma intenção criativa libertadora, que não se realiza no palco. Pelo menos na sessão apresentada em agosto de 22 em Petrolina.

Se o desejo era explorar o cenário catastrófico desses tempos em fúria talvez as disrupções no palco necessitassem de outras escolhas para essas formigas.

Eu Cá com meus Botões

Ator e bailarino bailarino Adriano Alves em Eu Cá Com Meus Botões – Foto André Amorim / Divulgação

Plateia da peça Eu Cá Com Meus Botões. Foto André Amorim / Divulgação

Ao lado do Teatro Dona Amélia, no beco entre a quadra e o caminho da piscina, foi instalado o ambiente para espetáculos curtos, experimentos em processos que chamo de pílulas e a ação Tecendo Ideias. Uma área de passagem, que às vezes abrigava bem a exibição, às vezes não. As interferências sonoras dos esportes incomodaram algumas vezes, mas não foi a maioria.

A programação artística nesse local começou com o infantil Eu Cá com meus Botões, solo do bailarino Adriano Alves com direção de Thom Galiano. Praticamente sem palavras, mas inspirada na poesia de Neruda e nos textos de Pedro Bandeira, e outros, a cena envereda pela experimentação lúdica, embarca no território das lembranças das infâncias. Com uma partitura corporal de gestos suaves, que sugere uma viagem por aconchegos e afetos com pessoas e animais – reais ou fantasiosos – e brincadeiras encantatórias aos olhos da criança.     

Terceira obra infantil do Coletivo Trippé, que atua há 11 anos no Sertão do São Francisco, a peça Eu Cá com meus Botões aprofunda a investigação do diálogo entre dança e poesia. Os pequenos estavam vidrados no desenrolar da peça, e responderam com alegria às interações do artista. Este é o primeiro solo do bailarino Adriano Alves, que aposta no jogo cênico inspirado nos poetas desde 2012.

Lampião no Reino dos Infernos

Cena de Lampião no Reino dos Infernos. Foto: André Amorim / Divulgação

Espetáculo Lampião no Reino dos Infernos foi apresentado na área externa do Sesc. Foto: André Amorim

O ator e multiartista Sebastião Simão Filho já plantou muitas sementes; já contribuiu na criação de grupos e na formação de atores em Petrolina, Recife e outras regiões. É sua vocação. E ele entende essa arte como essencialmente coletiva e vai agregando.

Para a Aldeia do Velho Chico chegou com Lampião no Reino dos Infernos para apresentar na área externa, no estacionamento, com uma lona sem teto montada onde a equipe manipulava os bonecos (de vários tamanhos e categorizações), os dispositivos de luz e instrumentos sonoros e outras coisinhas mais.

A galeria de bonecos do espetáculo permite uma movimentação interessante, e o elenco jogava afinado no gestual do boneco.

No que trate da dramaturgia, escolher Lampião como protagonista de uma história é sempre um risco. Persona que dependendo do olhar pode ser entendida como “defensora” de pobreza ou um bandido sanguinário. Na peça, ele vai de um a outro.

A trupe de Simão bebe nas tradições populares dos mestres mamulengueiros, nas alegorias do juízo final, sátiras que envolvem moralidade, teatro vicentino e vai antropofagicamente devorando essas e outras referências. Dá seu recado. A manipulação funciona, há sinuosidade, os bonecos são bonitos. O publico gosta e aplaude.

Como a sessão foi no dia em que as apresentações concorriam umas com as outras, em vários espaços da unidade do Sesc-Petrolina, me pareceu que a opção mais acertada para esse Lampião seria de proposta mais compacta.

Estudo Nº1: Morte E Vida

Estudo Nº 1 – Morte e Vida – Foto: André Amorim / Divulgação

Grupo Magiluth e seu Estudo Nº 1 – Morte e Vida – Foto: André Amorim / Divulgação

Situar Estudo Nº1: Morte e Vida, do Grupo Magiluth como uma peça-palestra ainda diz pouco sobre a obra, só para pegar o estribilho da própria montagem. Inspirada no poema dramático Morte e Vida Severina, do pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e na multiplicação de Severinos, o trabalho investiga as causas e os efeitos da atuação humana sobre o clima, que produz refugiados, do Nordeste do Brasil a Kiribati, no Oceano Pacífico.

Essa questão tão séria da ação humana sobre o planeta, as crises que nos deixa a todes por um triz do extermínio, avança na poética desse espetáculo que vibra nas urgências desses dias.

Com direção de Luiz Fernando Marques, o Lubi, essa encenação cutuca o nervo, não poupa a ferida aberta desses tempos tão terríveis. Já assisti algumas vezes ao espetáculo e a cada nova vez detecto um detalhe do posicionamento político libertário do grupo. Os rapazes estão plenos em suas atuações.

Profusão de imagens, corpo, jogos, linguagens, texto, fala, luz e som, podcast. E eles repetem em espiral para falar das ações migratórias à uberização e abrem novos caminhos para pensar, repensar o que estamos fazendo com o mundo, o que mundo dos poderosos está fazendo com os artistas, o que é ser artista nesse mundo da mercadoria. Escrevi na estreia uma critica desse  Estudo Nº 1. Se interessar, vai lá.

Caminhos – Cirkombi

Pedrinho Milhomens, o Palhaço Sequinho em Caminhos Cirkombi. Foto: Tassio Tavares / Divulgação

Exibição de Caminhos Cirkombi no Sesc Petrolina. Foto: Tassio Tavares / Divulgação

Ele tem as pernas tão finas que parecem que vão quebrar quando anda. Um dos seus charmes. Não o único. Pedrinho Milhomens, o Palhaço Sequinho, aventureiro, cozinheiro, marginal, –como se autodefine nas redes – contagia com o seu gosto pela vida. Atuou com seu brincar na Aldeia do Velho Chico.

Marcou presença no último dia da programação, quando aconteciam muitas coisas em sequência acelerada ou ao mesmo tempo. Sua cena foi exibida num espaço exíguo embaixo da escada amarela, naquele corredor… Espaço suficiente para Palhaço Sequinho dar o seu show.  

Caminhos é o nome da brincadeira e tem assinatura na direção de Odilia Nunes, atriz e palhaça de Afogados da Ingazeira. Não pense numa história linear, mas em muitas histórias que entram umas dentro das outras para produzir muita graça. O trabalho é simples, utiliza os truques da palhaçaria para acionar a fabricação do riso.

O tempo do espetáculo é o da preparação de um bolo, que inclui assar e distribuir com a plateia. Mesmo quem não come – porque não tem fatia para todo mundo – o público sai saciado de alegria. Uma delícia de cena. Tão simples que conquista .

Luanda Ruanda – Histórias Africanas

Stephany Metódio em Luanda Ruanda – Foto Fernando Pereira / Divulgação

Como parte da ação A Escola Vai ao Sesc foi exibida a peça Luanda Ruanda – Histórias Africanas, do Coletivo Tear, de Garanhuns. A arte-educadora Stephany Metódio e os músicos Alexandre Revoredo e Nino Alves conduzem o público por uma viagem fascinante.

Durante a encenação, a plateia é brindada com histórias e intervenções musicais, baseadas nos ritmos da cultura africana, com a participação forte das crianças nas bruxarias e preparativos culinários para a reinvenção do mundo. As técnicas teatrais utilizadas por Stephany Metódio envolveram a plateia nesse percurso pelas lendas e costumes afro-brasileiros.   

O espetáculo foi apresentado em dois momentos na Aldeia do Velho Chico: na Ilha do Massangano e no Sesc. Luanda Ruanda é fruto de pesquisas das artistas Stephany Metódio e Marília Azevedo efetivadas em comunidades quilombolas de Garanhuns.

Lady Macbeth: Coroas de Poder e Sangue no Sertão

Maria Santorini em Lady Macbeth: Coroas de Poder e Sangue no Sertão, Foto André Amorim / Divulgação

Lady Macbeth: Coroas de Poder e Sangue no Sertão, da Trupe Holística de Salgueiro parte de uma ideia interessante – de aproximar as tragédias que ocorreram/ocorrem no semiárido nordestino do texto inspirador, mas sua realização conceitual me parece complicada. Muito já se fez com essa personagem intrigante, e poderosa, de William Shakespeare. Sua complexidade se abre a muitas outras interpretações.

A cena com a jovem atriz Maria Santorini é curta. Praticamente uma célula. O trabalho precisa amadurecer em várias camadas. Existe uma versão em vídeo que foi veiculada durante a pandemia, para quem tiver curiosidade. Não é a mesma experiência, mas dá para ter uma ideia.

O experimento diz que Lady Macbeth ousou seguir seu coração e não mais a sua adaga (nome genérico de um tipo de espada curta, com duplo corte).

O propósito de levar a figura de poder para o Sertão é interessante. Compor a personagem com figurino que faz alusão às vestes elisabetanas cria um atrito de imagem positivo, a meu ver. Mas o conteúdo do discurso carece de sustança. Acho estranho o tom de deboche ao falar em morte de rei e de general. E colocar um texto de Osman Lins no meio das falas não me parece muito adequado.  

É da Carne das Mulheres que Nascem os Homens

É da Carne das Mulheres que Nascem os Homens. Foto: Tassio Tavares / Divulgação

 A atriz Ana Vicente, de Juazeiro, Bahia, trabalha cenicamente a energia concentrada para valorizar a força ancestral feminina em É da Carne das Mulheres que Nascem os Homens cena emocionante.

Sua reconexão com esse algo tão valioso e maltratado por milênios e até hoje pelo patriarcado, que é a energia feminina, vai sendo desenvolvida em pequenas ações que clamam por sua ancestralidade. A roupa é acrescida simbolizando peles de outras mulheres, ela mesma saudando ausências.

Essa carne que enaltece as mulheres persegue o equilíbrio das energias criativas Yin (feminina) e Yang (masculina). Nessa luta é primordial a defesa dos direitos de existir, contra qualquer crime.

Eu Vim da Ilha

Trecho da dança Eu Vim da Ilha. Foto: Fernando Pereira / Divulgação

Eu Vim da Ilha, da Cia de Dança do Sesc Petrolina, erguida em 2011, é uma das criações artísticas de maior projeção da cidade, mas ainda com muito espaço para o devido reconhecimento. A inspiração da peça vem do Samba de Véio da Ilha de Massangano, uma dança tradicional que existe há mais de 100 anos e é passada de geração a geração.

São corporificadas na coreografia as práticas das pessoas ribeirinhas, a noção de travessia, as brincadeiras e a cultura do lugar.

A dramaturgia concentra os afetos das relações da Ilha de Massangano (habitada por cerca de 200 famílias), o sentido de pertencimento dos moradores, que os intérpretes incorporam em suas danças.

Com tamboretes nas mãos, roupas coloridas, alegria e muito requebro, remelexo e malemolência, os dançarinos recriam esse encontro dançante, que é uma síntese do espírito festivo e guerreiro dessa ilha situada no Rio São Francisco.

Foi apresentado um pequeno trecho do espetáculo no mesmo beco que leva à quadra poliesportiva.

Criando Peixes no Bolso

Criando Peixes no Bolso. Foto André Amorim

Na tocante cena Criando Peixes no Bolso, o Grupo Mundaú de Experimentos Cênicos, de Garanhuns, trilha caminhos das simbologias dos círculos, da fertilidade da terra, das águas conduzidas em potes e bacias, na oscilação dos sons, no aquecer das chamas. Os elementos da natureza inspiram a criação dessa peça.

É um trabalho de atravessamentos para os envolvidos. O corpo-experimento dos intérpretes que flerta com a poesia de Manoel de Barros. De olhos famintos e atentos aos cursos, deslocamento, mudança. A partitura corporal aponta para o fortalecimento de laços, pelas pulsações da vida, pela busca do sagrado.

O elenco, com Criando Peixes no Bolso insiste em expressar a renovação dos ciclos e a coragem de enfrentar as estações da vida.

Incubadora Teatral e mais

Partilha de processos criativos – Seminário de Teatro – Foto Fernando Pereira

Público da Incubadora teatral. Foto Tassio Tavares / Divulgação

Cris Crispim e Camila da Cia Biruta. Foto Tassio Tavares / Divulgação

Trup Errante apresentou a cena Velho Novo Otelo. Foto Tassio Tavares / Divulgação

Sessão Loré, com Bruna Florie. Foto André Amorim / Divulgação

A noite das apresentações da Incubadora Teatral foi a mais disputada no Teatro Dona Amélia. E que ótimo que essa sessão com quatro experimentos cênicos tenha sido tão prestigiada. Isso pode ser traduzido em indícios de formação de público e valorização do artista local pelo público da Aldeia.

A Cia Biruta, grupo que desenvolve importante trabalho de pesquisa e de formação em Petrolina e região exibiu o trabalho Notícias do Dilúvio – Um canto a Canudos. Essa investigação resgata para a cena o desempenho de mulheres na Guerra de Canudos, fato sempre escamoteado pela história. Cris Crispim e Camila Rodrigues atuam como Das Dores e Dos Anjos, personagens desse trabalho que rememoram cenicamente essa experiência de resistência. Uma versão desse estudo em andamento foi apresentada em 2021, no Cena Agora: Encruzilhada Nordestes…, do Itaú Cultural.

Mistura potente das práticas culturais, danças populares do sertão, fé, estratégias de guerra de aquilombamento pela ótica feminina.

Mais três experimentos integraram a ação da Incubadora Teatral. O solo de Ana Paula Ribeiro explorou a força da mulher, a violência historicamente sofrida, o combate a essas agressões, a postura de uma nova mulher, a partir de um corpo insubmisso e vibrante. A Trup Errante, de Petrolina mostrou a cena Velho Novo Otelo. A cia Teatral Pé na Estrada exibiu o seu trabalho em processo Pensando em Nelson, baseada na obra A Vida como ela É, de Nelson Rodrigues.

O Núcleo de Teatro do Sesc Petrolina, liderado com paixão pelo ator e professor Paulo de Melo compartilhou o processo de uma dramaturgia coletiva que eles estão construindo a partir das (des)lembranças das bisavós. Células poéticas tocantes foram exibidas por um grupo de jovens dedicados e criativos, entregues a essa arte. A proposta amorosa de mergulhar na história de cada um promete frutos deliciosos e comoventes. Os afetos que atravessam. Foi bonito de ver.

A Sessão Loré – 100 anos do Theatro Cinema Guarany, de Bruna Florie, um espetáculo de Teatro Lambe Lambe cuidou de exibir no pequeno formato como era o acesso do público mais pobre ao cineteatro construído em 1922, em Triunfo, interior de Pernambuco.

Muitas outras coisas aconteceram das artes da cena nesta Aldeia que foram ressignificadas, ampliadas, aprofundadas durante a realização da Aldeia. E continuam reverberando no corpo dos artistas, do público e da cidade.

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Cena Expandida na reta final

Um Mero Deleite, com a Nalini Cia de Dança, está no Cena CumpliCidades. Foto Daniel Calvet / Divulgação

Gabriela Holanda é atração do Feteag – Festival de Teatro do Agreste com Sopro D’Água. 

Leitura dramatizada do Festival Reside, com direção de Rodolfo García Vázquez

Com leituras de peças, lançamento de livros da dramaturgia holandesa, shows, espetáculos de teatro e dança, três dos festivais que integram o Cena Expandida finalizam a edição de 2022 nesta semana. São eles: CenaCumplicidades, Feteag – Festival de Teatro do Agreste e Reside Festival. Também integram o Cena Expandida, ação de articulação e colaboração entre os festivais, o Transborda -as linguagens da cena, do Sesc/PE e o Festival Estudantil de Teatro e Dança, todos eles realizados neste mês de setembro.

O Cena CumpliCidades, que privilegia a dança e a performance, oferece no seu quadro de programação Um Mero Deleite, da Nalini Cia de Dança, na quinta-feira (29/09) e na sexta-feira (30/09) no Teatro Hermilo Borba Filho, O espetáculo que resgata o Mito do Andrógino, do livro  O Banquete de Platão, para discutir a busca inquietante pelo amor conjugal.

O Mito do Andrógino fala de seres completos e quase perfeitos, que foram partidos ao meio pelos deuses e, se sentindo mutilados, vagam por toda a vida em busca da sua outra metade. O trabalho cutuca essa característica humana de buscar no outro uma completude. Um Mero Deleite pergunta em movimentos coreográficos se a solução para a inquietude humana é o amor romântico.

Na sexta-feira (30/09) tem uma obra inspirada em Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o mais importante e reconhecido maestro brasileiro, chamado Dançando Villa, do Curitiba Cia de Dança, no Teatro de Santa Isabel. Villa-Lobos alargou o imaginário do Brasil para os brasileiros, valorizando a diversidade cultural, identitária e sonora. No espetáculo de dança contemporânea, as coreógrafos Nicole Vanoni e Rosa Antuña levam ao palco partituras que destacam um corpo coletivo desejoso, que comungam alegria e fé de suas origens, das expressões das danças brasileiras.

Ainda na sexta ((30/09), tem Santa Barba, com Paulo Emílio, de Portugal, no Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro. Culmina com uma festa, no próprio museu, o MUAFRO, com as participações de Santa Barba, Dinian Calazans e Samba no Canavial.

Desde março de 2017, que Santa Barba (Paulo Emílio) circula por cafés e espaços culturais do Porto e Coimbra, em Portugal, semeando seu universo poético performativo de canções e muitas memórias. Essa curadoria artística carrega uma mistura de alegria e dor, reminiscências da descoberta da sexualidade e a consciência de abusos sexuais e morais sofridos na infância e adolescência. Acompanhada por dois amigos, músico e DJ, a artista projeta as referências impregnadas na corpa, como Santa Paula Barbada, de Ávila, Espanha; Carmen Miranda; Clovis Bornay; Elke Maravilha; Ney Matogrosso; Dzi Croquetes; Frenéticas…, e suas vivências religiosas, amorosas, etc. etc. etc.

Ivam Cabral, tradutor; Esther Gerritsen, dramaturga e Rodolfo García Vázquez, tradutor e diretor da leitura

Os atores Romualdo Freitas, Iara Campos e Edjalma Freitas. Foto: Divulgação

Já o trunfo da 4ª edição do Reside Festival é o Projeto de Internacionalização de Dramaturgias, que ganha duas ações nesta quarta-feira (28/09) no Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h. A leitura dramatizada de Planeta Tudo, de Esther Gerritsen, com tradução de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. E o lançamento da coleção de cinco textos de autores holandeses contemporâneos, traduzidos por artistas brasileiros e editados pela editora Cobogó.

A leitura, com o Coletivo Caverna, é resultado de uma residência artística com o diretor Rodolfo García Vázquez, da Cia Os Satyros, de São Paulo.

Planeta Tudo –  Alles (planeet Alles) é uma comédia absurda, crítica do comportamento  dos  humanos. A lupa de aumento sobre os procedimentos dos terráqueos ocorre quando três alienígenas, do Planeta Tudo, chegam à Terra para arranjar uma pecinha para um botão de volume deles. Como no território desses ETs tem de tudo, mas apenas uma unidade, quando quebra eles correm o universo para consertar. No caso, a Terra, que tem uma abundância de trecos diferentes.

A autora de Planeta Tudo –  Alles (planeet Alles), a holandesa Esther Gerritsen, além de dramaturga é romancista e roteirista. Em 2014 recebeu o prêmio Frans Kellendonk pelo conjunto de sua obra. Ela assina o roteiro do filme Instinct (Instinto), de 2019.

Semana passada, o Reside apresentou dois textos criados dentro do contexto do Bombón Gesell-Violência e Justiça na Ibero-América, outro projeto curatorial colaborativo internacional esse realizado em parceria com o Festival de Teatro Bombón, da Argentina. Foram lidos os textos O Aquário, de Janaína Leite e Colors Bars, de Giordano Castro, ambos com direção Juliana Piesco e elenco formado por alunos de Artes Cênicas da UFPE. Além de Os Titãs, da dramaturga argentina Paola Trazuk, com o ator potiguar José Neto Barbosa e direção de Monina Bonelli.

Idealizado por Márcia Dias, diretora e curadora do TEMPO_FESTIVAL, o Projeto de Internacionalização de Dramaturgias foi fortalecido com o envolvimento do Núcleo dos Festivais. O Núcleo produziu as duas primeiras edições, que traduziram as obras de autores espanhóis e franceses contemporâneos seguidas de encenação.

A diretora do Reside, Paula de Renor, insiste que seu festival oferece um contato estreito do público e dos artistas pernambucanos com expressões dramáticas contemporâneas. Com a residência do coletivo A Caverna com o diretor Rodolfo Garcia Vazquez e o workshop Arte e Comunidade com Monina Bonelli  e Sol Salinas, do Teatro Bombón, na Argentina, o Reside planta outras sementes e faz articulações para verticalizar sua vocação de difusão, formação e  reflexão da cena teatral.

A´s situações hídricas estão no centro da pesquisa de Gabriela Holanda. Foto Divulgação

Estudo N°1 Morte e Vida, do Grupo Magiluth. Foto: Vitor Pessoa / Divulgação

Rubi. Foto Victor Soldano / Divulgação

Em Caruaru, a preocupação com as mudanças climáticas ganha potência de arte. Sopro D’Água, com Gabriela Holanda (Olinda/PE) é exibido no Teatro Rui Limeira Rosal, nesta quarta-feira (28/09) às 20h. Essa peça reivindica a reconexão com o mundo aquático e pergunta:  qual o lugar da água numa sociedade à beira de um colapso ambiental? A dança de Gabi Holanda parte da tríade água-corpo-ambiente, e se sustenta na compreensão de que somos e viemos da água,

A questão da migração motivada por condições “melhores”, a  relação do ser com a a terra, com o trabalho, com a morte e com o poder político estão na base do espetáculo Estudo Nº1: Morte e Vida, do Grupo Magiluth, do Recife. As urgências alarmantes dos últimos tempos atravessam essa peça-palestra, que dialoga com João Cabral de Melo Neto, e segue tecendo sua própria linguagem teatral. Com posicionamento político, com alegrias estéticas.  “Olé, Olé, Olé, Olá, Severino, Severino”. Está na programação do Feteag desta quinta-feira (29/09), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal em Caruaru

Nem toda pausa é espera, do cantor Rubi faz o show de despedida da Feteag deste ano, na sexta (30/09), às 20h, no  Teatro Rui Limeira Rosal, em Caruaru. Dono de voz afinadíssima e forte presença de palco, Rubi ganha relevo no cenário nacional por saber editar a vida, isso inclui a escolha de repertório, que revisita a tradição da música brasileira e adota compositores contemporâneos. Impressionou positivamente por sua força cênica e vocal quando participou de shows de Elza Soares, A Mulher do Fim do Mundo e Deus é mulher.

 

Reside Festival

Dia 28/09 

Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Leitura dramatizada do texto Planeta Tudo(planeet Alles), 
de Esther Gerritsen/Holanda,
com tradução de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez – Satyros (Brasil-São Paulo).
Direção de Rodolfo García Vázquez com Coletivo Caverna/PE.
Elenco: Edjalma Freitas, Iara Campos, Mozart Oliveira e Naruna Freitas. 
Iluminação: João Guilherme de Paula, 
Vídeo: Gabriel de Godoy, 
Adereços: Romualdo  Freitas, 
Produção: Luiz  Manuel.
Transmissão da leitura ao vivo, pelo canal no YouTube do RESIDE, com a participação da dramaturga holandesa Esther Gerritsen, direto da Holanda, e com Ivam Cabral (um dos tradutores), que estará em Estocolmo.

Lançamento da Coleção Holandesa: após a leitura, haverá o lançamento da coleção de livros com cinco volumes, editada pela editora Cobogó:
– Ressaca de palavras, (Spraakwater) de Frank Siera, tradução: Cris Larin
– No canal à esquerda (Bij het kanaal naar links), de Alex van Warmerdam, tradução: Giovana Soar
– Planeta tudo (Alles – planeet Alles),  de Esther Gerritsen; tradução: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
– Eu não vou fazer Medeia (I won’t play Medea), de Magne van den Berg, tradução Jonathan Andrade
– A Nação – Uma peça em seis episódios ( The Nation), de Eric de Vroedt / Het Nationale Theater, tradução: Newton Moreno e Almir Martines

Cena CumpliCidades

29/09, quinta-feira, às 19h
30/09, sexta-feira, às 19h

UM MERO DELEITE
com Nalini Cia de Dança
Teatro Hermilo Borba Filho
55 minutos
Classificação: 10 anos
FICHA TÉCNICA
Direção Geral e Coreografia: Valeska Vaishnavi (Valeska Gonçalves)
Assistente de Direção e Produção: Gandha Leite
Intérpretes Criadores: Isabel Mamede, Inaê Silva, Roh Witcth, Gandha Leite, Gabriela Neri
Trilha Sonora Original: Erick Galdino
Desenho de Luz e Figurino: Gandha Leite e Valeska Vaishnavi
Produção Executiva: Marcilene Dornelas
Apoio: World Group Company e Centro Cultural UFG

 

30/09, sexta-feira, às 20h

Dançando Villa. Foto: Divulgação

DANÇANDO VILLA
Curitiba Cia de Dança

Teatro de Santa Isabel
50 minutos
Classificação: Livre
FICHA TÉCNICA
Direção Artística e Geral: Nicole Vanoni
Coreografia: Rosa Antuña
Produção: Flávia Sabino
Direção de Produção: Augusto Ribeiro
Assistente de Direção: Hamilton Felix
Iluminação: Fábia Regina
Integrantes da Companhia: Patrich Freire, Nicole Vanoni, Rubens, Jackson, Giulia Santos, Julia Melo, Davi Nascimento, Nathalia Tedeschi, Fábia Regina, Lucília Maria, Leonardo Kabitschke, Isabela Venâncio, Isaías Estevam, Hamilton Felix, Vanessa Santos, Tatiana Araújo

30/09, sexta-feira, 22h

Santa Barba. Foto: Dori Nigro

SANTA BARBA
Paulo Emílio (Portugal)
Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro
90 minutos
FICHA TÉCNICA
Criação e performance: Paulo Pinto
Músico: Maurício Alfaya
Dj: Coby
Produção: Dori Nigro e Patrícia Alfaya

FESTA
Santa Barba / Dinian Calazans / Samba no Canavial
Local: MUAFRO

Feteag – Festival de Teatro do Agreste 

28/09, quarta-feira, 20h

Gabriela Holanda. Foto: Divulgação

Sopro D’Água
Gabriela Holanda( PE)
Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)

29/09, quinta-feira, 20h

A bandeira de Kiribati e as mãos levantadas como pedido de socorro, no espetáculo do Magiluth

Estudo Nº1: Morte e Vida
Grupo Magiluth (Recife/PE)
Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)

30/09, sexta-feira, 20h 

Show – Nem toda pausa é espera
Rubi (Brasília/DF)
Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)

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