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Teatro em tempo de peste

Edjalma Freitas encena três poemas da Tetralogia da Peste, de Antonio Martinelli. Foto: Toni Rodrigues

“Toda hora é de luto em Guayaquil”, diz o texto de Antonio Martinelli, Tetralogia da Peste. Aqui no Brasil também. O Jornal Nacional, há mais de um ano, divulga o número de mortos diariamente. Ontem, 23 de abril, eram 386.623 pessoas. É nesse contexto que o ator e produtor cultural Edjalma Freitas lança Poema. As apresentações serão neste sábado (24), às 20h, e domingo (25), às 18h e às 20h.

“É a urgência da hora. Um espetáculo de quarentena, pandêmico, com as condições que temos, com a pouca verba da Aldir Blanc, com as dificuldades de ensaiar presencialmente, com os adiamentos da estreia porque o diretor pega covid, porque o estado decreta lockdown. Tudo isso está refletido nesse trabalho”, explica Freitas. Com texto do jornalista e gestor cultural Antonio Martinelli, o espetáculo tem direção de Quiercles Santana e direção audiovisual de Tuca Siqueira.

Três poemas da Tetralogia da peste [+ dois tempos, uma cidade], lançado pela N-1 Edições, compõem a dramaturgia do espetáculo: Brasilândia, Zona Norte, Calvário e O Eco de Bérgamo. Edjalma Freitas se deparou com a obra por meio de um post no Instagram. “Quando o livro foi lançado, Galiana Brasil fez uma postagem nos stories dela. Achei bonito aquilo que ela escreveu, achei o nome Tetralogia da Peste interessante e, logo na sequência, fui ler. Fiquei tomado pelo texto, pela força das palavras, pela capacidade de geração de imagens que aqueles poemas tinham – que eu nem chamava de poema ainda. Era muito dramático, trágico. Quando terminei a primeira leitura, na segunda já li em voz alta, muito mexido, com vontade de performar essas palavras”. O mote é a pandemia, enquanto esse fim do mundo ainda está acontecendo e as feridas expostas.

Traduzir a linguagem do palco para o audiovisual foi uma das inquietações da equipe de criação. A opção pela transmissão ao vivo e não pela gravação acirrou os questionamentos com relação à linguagem. “O espetáculo chega às pessoas através do meio digital e a gente nunca pegou numa câmera!”, conta o ator. Foi aí que a diretora Tuca Siqueira entrou na história. “Quando o espetáculo já estava de pé, nessa reta final, ela veio fazer a direção de fotografia: como essa câmera se desloca, o que essa câmera pega, como se movimenta. São saberes do audiovisual, que ela quem trouxe. Eu não me atreveria a fazer uma coisa transmitida, flertando com essa linguagem, sem uma pessoa do audiovisual presente. É uma peça de teatro, os saberes do teatro, está tudo ali, desde a minha atuação, os signos, os elementos. A gente construiu uma peça de teatro, mas que flerta diretamente, arranha, fricciona com os saberes do audiovisual, já que as pessoas vão ter acesso por meio de um celular, de um computador, de uma tv”, explica.

Como conta com o apoio da Lei Aldir Blanc, a peça tem ingressos gratuitos, que podem ser retirados pelo Sympla. O projeto que ainda tem ares de sonho é levar a peça aos palcos, assim que possível.

Espetáculo será ao vivo, com transmissão pelo YouTube

Ficha técnica:
Poema
Atuação: Edjalma Freitas
Autoria: Antonio Martinelli
Direção: Quiercles Santana
Direção audiovisual: Tuca Siqueira
Trilha sonora original: Pedro Huff e Tarcísio Resende
Cenografia e figurino: Luciano Pontes
Iluminação: Luciana Raposo
Provocação corpovoz: Henrique Ponzi

Serviço:
Quando: sábado (24), às 20h, e domingo (25), às 18h e às 20h
Onde: Transmissão pelo YouTube
Quanto: Gratuito. É preciso retirar ingressos pelo Sympla 

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4º Crítica em movimento traz espetáculos, debates, podcasts e publicações

Épico, da Tercer Abstracto. Foto: Brendo Trolesi

Tempos de Errância – lado B [vídeo teatro], espetáculo do Núcleo 2 Coletivo de Teatro. Foto: Polly Rosa

A 4ª edição do Crítica em Movimento, realizado pelo Itaú Cultural, vai acontecer a partir desta quinta-feira (1) até domingo (4) com espetáculos, debates, lançamentos de podcasts e cadernos digitais, com textos sobre crítica e teatro, que serão publicados paulatinamente, de 1 a 22 de abril.

A abertura da programação será com a mesa “Considerações sobre a recepção crítica na vida contemporânea” nesta sexta-feira, às 20h. Valmir Santos, co-curador do Crítica em Movimento, jornalista e crítico do site Teatrojornal, conversa com a pernambucana Clarissa Diniz, curadora, pesquisadora e crítica de artes visuais, atualmente professora e curadora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e com Alcir Pécora, professor e crítico literário da Universidade Estadual de Campinas.

Na sexta-feira (2), às 20h, começam as apresentações de espetáculos com Épico, peça do grupo Tercer Abstracto, que trabalha com artistas do Chile e do Brasil desde 2012. No espetáculo, o grupo coloca em paralelo uma peste mortífera que assolou a Europa em 1348 e a situação da Covid-19 no mundo desde o ano passado. O espetáculo faz parte do Projeto Manifestos, que investiga na cena as propostas e manifestações teatrais do início do século XX. Neste caso, o ponto de partida é Bertolt Brecht. Depois da apresentação, haverá uma conversa com o professor-adjunto do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, Héctor Briones.

A programação continua no sábado (3), às 20h, com Tempos de Errância – lado B [vídeo teatro], espetáculo do Núcleo 2 Coletivo de Teatro, de Minas Gerais. O espetáculo parte de três fotogramas recentes e contemporâneos da paisagem latino-americana, buscando rastros de devastação pela violência armada. Pós-apresentação, o público acompanha o bate-papo do diretor artístico Narciso Telles com a atuadora gaúcha Tânia Farias.

No domingo (4), a companhia Enxame Circo, de São Paulo, apresenta o espetáculo Enxame. A sinopse diz que quatro indivíduos à espera de que algo aconteça acabam subvertendo a ordem das coisas dentro de um fluxo de acontecimentos não-rotineiros. A encenação traz técnicas circenses tradicionais, como corda lisa, malabarismo, palhaçaria e paradas-de-mão, elementos do teatro e da dança, e ainda projeção de vídeo. Logo depois, a conversa será conduzida por Fátima Pontes, atriz, produtora cultural e professora de teatro, que há 20 anos coordena as áreas executiva e artística da Escola Pernambucana de Circo.

O podcast Crítica em Movimento possui cinco episódios, que serão liberados todos ao mesmo tempo a partir desta sexta (1), no site do Itaú Cultural e nos aplicativos de podcast. O primeiro episódio tem como tema “Quais os enfrentamentos da prática da crítica de teatro hoje?”, com participação do crítico e jornalista Macksen Luiz e da crítica e pesquisadora Daniele Avila Small, da revista Questão de Crítica, com a mediação de Valmir Santos. No segundo programa, participam Lourdes Macena, pesquisadora e artista cearense, e o ator e diretor Rogério Tarifa, com mediação do professor paraibano Diógenes Maciel, a partir do tema “Como a crítica se relaciona com a noção do popular nas artes cênicas?”.

Maria Fernanda Vomero, jornalista, crítica, curadora e pesquisadora, faz a mediação do terceiro episódio que tem como pergunta disparadora “Qual a percepção de quem cria a respeito do travalho da crítica?”. Participam a atuadora Tânia Farias, da gaúcha Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, e o dramaturgo e diretor Edyr Augusto Proença, do paraense Grupo Cuíra. No quarto programa, o tema é “Como exercer olhares e escutas a partir da cena remota?”, com mediação da jornalista e crítica Luciana Romagnolli, do site Horizonte da Cena. O último episódio, com mediação da professora, crítica e jornalista Julia Guimarães tem como tema “Qual o lugar da resistência na formação da crítica?”, com Dodi Leal, professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal do Sul da Bahia, e Henrique Saidel, diretor, performer, curador e professor gaúcho.

O Crítica em Movimento traz ainda a publicação de oito caderno com 24 textos. Ivana Moura, jornalista e crítica aqui do Satisfeita, Yolanda? escreveu para o primeiro caderno, que sai nesta quinta-feira (1), com o tema “O papel da crítica de teatro no Brasil: do jornal impresso à plataforma digital”. Também escrevem neste caderno Edson Fernando (PA) e Macksen Luiz (RJ) a partir do tema O papel da crítica de teatro no Brasil: do jornal impresso à plataforma digital.

No caderno 2 “O vão entre a crítica e o circo” escrevem Alice Viveiros de Castro (RJ), Daniel Lopes (SP), Ermínia Silva (SP) e Fátima Pontes (PE). O caderno 3 traz textos de Carlos Alberto Pereira dos Santos (RS), Daniel Kairoz (SP) e Rosa Primo (CE) com o tema “Estados da crítica de dança”.

Pollyanna Diniz, jornalista e crítica aqui do Yolanda escreveu para o caderno 4 a partir do tema “Espaços digitais empenhados em artes cênicas”, que tem ainda como autores Diogo Spinelli (RN) e Walmeri Ribeiro (RJ). No caderno 5 “A dificuldade da crítica em contracenar com o teatro de rua” os autores são Altemar DiMonteiro (CE), Lindolfo Amaral (SE) e Marta Haas (RS). Fernando Cruz (MS), Nena Inoue (PR) e Onisajé (Fernanda Júlia|BA) escrevem no caderno 6 “A cena engajada no contexto contemporâneo”. O caderno 7 propõe o tema “Teatros peculiares na mão dupla com Cuba e Brasil”, com os autores Camila Scudeler (Colômbia), Luis Alonso-Aude (BA) e Luvel Garcia (Cuba). E, por fim, o caderno 8 “Panorama do teatro latino-americano visto da ponte” reúne textos de Alice Guimarães (Bolívia), Andrea Hanna (Argentina) e Héctor Briones (Chile/CE).

PROGRAMAÇÃO CRÍTICA EM MOVIMENTO

Mesa Considerações sobre a recepção crítica na vida contemporânea
Com Alcir Pécora (SP), Clarissa Diniz (RJ) e Valmir Santos (co-curador desta edição do Crítica em Movimento – SP)
Quando: Quinta-feira (1), às 20h
Onde: Pela plataforma Zoom, com ingressos via Sympla
Quanto: Gratuito
* Com tradução simultânea em espanhol

Clarissa Diniz (foto: Portrite) e Valmir Santos (foto: Agência Ophélia) participam de mesa de abertura

Épico, da Cia Teatral Tercer Abstracto (Chile/Brasil)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com mediação de Héctor Briones (CE)
Quando: Sexta-feira (2), às 20h
Onde: Pela plataforma Zoom, com ingressos via Sympla
Quanto: Gratuito
* Com legenda em espanhol

Tempos de Errância – lado B [vídeo teatro], do Núcleo 2 Coletivo de Teatro (MG)
Após a apresentação, acontece bate-papo com o ator Narciso Teles, mediado por Tânia Farias (RS)
Quando: sábado (3), às 20h
Onde: Pela plataforma Zoom, com ingressos via Sympla
Quanto: Gratuito
* Com legenda em espanhol

Enxame, da companhia Enxame Circo. Foto: Daniel Carvalho

Enxame, do Enxame Circo (SP)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com mediação de Fátima Pontes (PE)
Quando: domingo (4), às 20h
Onde: Pela plataforma Zoom, com ingressos via Sympla
Quanto: Gratuito

PROGRAMAÇÃO DE PUBLICAÇÕES, no site do Itaú Cultural

1 de abril, quinta-feira:
Caderno 1: O papel da crítica de teatro no Brasil: do jornal impresso à plataforma digital
Autores: Edson Fernando (PA), Ivana Moura (PE) e Macksen Luiz (RJ)

Caderno 2: O vão entre a crítica e o circo
Autoras: Alice Viveiros de Castro (RJ), Daniel Lopes (SP), Ermínia Silva (SP) e Fátima Pontes (PE)

8 de abril, quinta-feira:
Caderno 3: Estados da crítica de dança
Autores: Carlos Alberto Pereira dos Santos (RS), Daniel Kairoz (SP) e Rosa Primo (CE)

Caderno 4: Espaços digitais empenhados em artes cênicas
Autores: Diogo Spinelli (RN), Pollyanna Diniz (PE) e Walmeri Ribeiro (RJ)

15 de abril, quinta-feira:
Caderno 5: A dificuldade da crítica em contracenar com o teatro de rua
Autores: Altemar DiMonteiro (CE), Lindolfo Amaral (SE) e Marta Haas (RS)

Caderno 6: A cena engajada no contexto contemporâneo
Autores: Fernando Cruz (MS), Nena Inoue (PR) e Onisajé (Fernanda Júlia | BA)

22 de abril, quinta-feira:
Caderno 7: Teatros peculiares na mão dupla com Cuba e Brasil
Autores: Camila Scudeler (Colômbia), Luis Alonso-Aude (BA) e Luvel Garcia (Cuba)

Caderno 8: Panorama do teatro latino-americano visto da ponte
Autores: Alice Guimarães (Bolívia), Andrea Hanna (Argentina) e Héctor Briones (Chile/CE)

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Festival recifense potencializa
protagonismo de artistas negros

Peça Negra palavra-Solano Trindade, que expõe a trajetória e luta do poeta pernambucano, abre a programação

Meia-Noite, com Orun Santana. Foto: Livia Neves / Divulgação

Francisco Solano Trindade (1908-1974), foi um grande poeta brasileiro. Artista negro nascido no Recife, ele também atuou como folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. Apesar de ter abalado as estruturas em várias áreas, nas cidades onde morou – Recife, Rio de Janeiro, São Paulo – ele não é devidamente conhecido e valorizado. Isso se deve, em parte, ao racismo estrutural da sociedade brasileira.

Combater o racismo, a discriminação, o colonialismo e explorar o protagonismo do artista negro nas mais diversas linguagens são propostas do Festival Luz Negra — O negro em estado de representação, que chega à quarta edição e abre justamente com o espetáculo Negra Palavra – Solano Trindade.

O 4º Festival Luz Negra é executado com incentivos do edital de Festivais da Lei Aldir Blanc Pernambuco. O programa totalmente online, conta com oito espetáculos teatrais de Pernambuco, das quatro macrorregiões de Pernambuco (Sertão, Agreste, Mata e Região Metropolitana do Recife), sendo seis para o público adulto e dois para a infância e a juventude; dois espetáculos de fora do estado; quatro espetáculos de dança, um deles com mulheres trans e outro com jovens da comunidade de Peixinhos; um solo de ópera, uma palestra sobre a história do negro em Pernambuco e uma oficina teatral.

O homenageado desta edição é Guitinho da Xambá, cantor e compositor do grupo Bongar, que morreu em fevereiro.

Realizado desde 2017 pelo grupo O Poste Soluções Luminosas, coletivo formado pelos artistas negros Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos.

“A ação potencializa a construção de identidades e territórios dinâmicos, ambivalentes e de negociação. Queremos com o projeto o rompimento de paradigmas de preconceito através da própria representação negra nos palcos”, afirma Agrinez Melo, atriz, figurinista e integrante d’O Poste.

ENTREVISTA – Grupo O Poste Soluções Luminosas

O trio do grupo O Poste: Naná Sodré, Samuel Santos e Agri Melo.

Qual a importância do festival na descolonização dos sentidos para as artes cênicas de Pernambuco?

Na realidade, queremos trazer um novo sentido ou dar mais um outro sentido à cena pernambucana. O teatro historicamente seja do ponto de vista estrutural e no seu fazer sempre negou o direito dos sentidos, do sentir, do fazer, do ser, do ter, do artístico e da poética negra. Até o direito de ser plateia foi negado!

As histórias pernambucana e brasileira, como um todo, excluíram a nossa cultura, religião, os nossos ancestrais. Todo esse processo colonizador, que perdurou por séculos, afetou consecutivamente o teatro feito em Pernambuco, direcionando o olhar apenas para uma cultura, um teatro eurocêntrico ou “eurocentralizado”. São poucos os registros de uma cena afrocentrada aqui no estado. No período do Brasil império, república, democracia, ditadura, democracia, a presença do artista preto na cena era quase inexistente. Isso só vem a melhorar um pouco no final da década de setenta e foi evoluindo nas décadas seguintes, mas sem muitas projeções, pois a cena continuava na sua totalidade com o mesmo tom de pele, e a mesma cultura do colonizador.

Aí entra a importância de descolonizar e decolonizar, no sentido de colocar também o nosso trabalho nessa estrutura excludente. E o festival Luz Negra entra nesse vago histórico e com essa proposta.

Aí entra a importância de
descolonizar e decolonizar, no
sentido de colocar também o
nosso trabalho nessa estrutura,
que ainda se mostra excludente.

Que conquistas vocês identificam ao longo desses quase cinco anos que o Luz Negra é realizado?

Primeiramente é importante afirmar que a realização do festival já é uma conquista. Se levarmos em consideração a construção da história do estado, que foi o último a abolir a escravidão. Realizar um festival desse porte já traz novos horizontes em relação a outro olhar para a arte negra daqui e que reverbera em todo país.

Fora isso, o festival é transdisciplinar, entra não só nas esferas artísticas, mas educacional, filosófica, sociológica, antropológica… E os espetáculos abordam temas que ampliam o discurso do negro e sua representatividade de forma positiva. O festival também circula por muitos lugares, evidenciando artistas negres das várias regiões do estado, abrindo espaço para os jovens que moram nas periferias mostrar seus trabalhos, mulheres pretas evidenciando suas conquistas e ampliando discursos, oferece formação e abre espaço de construção desse discurso com o público. Além de ocupar espaços que são nossos por direito. A cada realização nos fortalecemos e ampliamos nossa autonomia. O festival independente de seu formato vem se agigantando e nós do grupo e enquanto indivíduos vamos crescendo com ele.

Realizar um festival desse porte já
traz novos horizontes em relação
a outro olhar para a arte negra
daqui e que reverbera em todo país.

Como vocês analisam a situação das cênicas em Pernambuco no contexto da pandemia. Ou como vocês atravessam esse período?

A nossa pandemia começou bem antes do coronavírus.  E não falo do período colonial.  Não dá para falar do tempo presente, sem falar do tempo antes. A pandemia arrematou algo que já vinha pandêmico para as artes cênicas. Incentivo, apoio, patrocínio, política pública para as artes cênicas em algumas esferas do poder executivo simplesmente dificultou a fruição, a formação, o intercâmbio e sobrevivência dos artistas cênicos.  imagina para o povo preto?

Houve uma mudança de gestão, que particularmente achamos positiva e nos enche de esperança. Mas essa esperança precisa mexer nas estruturas para buscar uma equidade nas artes. O que fizemos nesse período pandêmico foram cursos, oficinas online, criamos o projeto Terças Pretas , onde exibimos no formato live pelo Instagram cerca de dez cenas com  dramaturgias autorais de artistas pretos  e que virou audiovisual e está sendo comercializado, criamos o festival Pretação Online com mulheres negras,  fizemos campanha de financiamento  colaborativo para manter o Espaço O Poste, escrevemos em editais online nossos espetáculos, nossos cursos, oficinas. Costuramos, bordamos, chuleamos, cavamos, plantamos… 

A curadoria do Luz Negra foi feita em que bases?

Dentro da base emergencial. Pouco tempo para tudo. Não dava para criar um conceito único ou basilar. Mas tínhamos e temos um objetivo que era a da valorização das produções pernambucanas, pois edital do LAB é local e teríamos que salvaguardar as nossas produções, os nossos artistas. Não deu para nacionalizar o festival como gostaríamos, mas trouxemos dois espetáculos bem significativos. Negra Palavra- Solano Trindade e Luz Gama ambos do Rio de Janeiro e de poéticas distintas. Temos também a valorização de jovens e produções periféricas, onde suscitamos o fomento para que artistas de Peixinhos criasse um espetáculo para o festival.  Temos espetáculo com mulheres trans. Temos na programação espetáculo de canto lírico, dança contemporânea, dança popular, dança-teatro. Temos uma palestra com historiador, oficina. O público vai acompanhar um festival de várias poéticas distintas.

O que vocês querem dizer que eu não perguntei?

O que é ancestralidade para vocês ?

Vocês vão responder?

Na verdade, nós perguntamos. É uma pergunta que a gente faz. Porque a gente vem falando o tempo inteiro dentro do nosso festival o que é ancestralidade e aí a gente resolve perguntar para o público e para Satisfeita, enfim, para quem quiser responder. O que é ancestralidade? Essa pergunta é tem um cunho reflexivo, para entender a importância real do nosso festival. 

 

PROGRAMAÇÃO
4º Festival Luz Negra — O negro em estado de representação

Negra palavra – Solano Trindade. Foto: Raphael Elias

Dia 18/03 (quinta) — Abertura

19h — Espetáculo gravado Negra Palavra – Solano Trindade – Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (RJ)
20h — O mesmo espetáculo ao vivo, em novo formato e com audiodescrição.
Corpo, música e poesia são tramadas para refletir a história Solano em seu tempo e a dos homens negros contemporâneos.
Ficha técnica:
Poesias: Solano Trindade
Direção Geral: Orlando Caldeira e Renato Farias
Roteiro: Renato Farias
Elenco: Adriano Torres, André Américo, Breno Ferreira, Drayson Menezzes, Eudes
Veloso, Jorge Oliveira, Leandro Cunha, Lucas Sampaio, Orlando Caldeira, Rodrigo
Átila e Thiago Hypólito
Direção Musical: André Muato
Direção de Movimento: Orlando Caldeira
Direção de Atores: Drayson Menezzes
Assistente de Direção: Thati Moreira
Direção de Arte: Raphael Elias
Assistente de Arte: Julia Marques
Figurino: Julia Marques
Idealização: Renato Farias
Produção: Saideira Produções
Realização: Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo
Classificação etária: 12 anos.

Orun Santana. Foto:  Amanda Pietra 

Dia 19/03 (sexta)

20h — Espetáculo Meia-noite – Orum Santana (PE)
A relação do bailarino Orun Santana com seu pai Mestre Meia Noite, nome artístico de Gilson Santana, movimenta o espetáculo Meia-Noite a partir da capoeira. Das memórias dos corpos, Orun foi buscar na performance solo do pai e mestre artístico, feita para o espetáculo Nordeste, do Balé Popular do Recife, a inspiração para a prática indentitária dos corpos políticos, ousados, buliçosos e inconformados.
Ficha técnica
Intérprete-criador e diretor: Orun Santana
Consultoria artística: Gabriela Santana e Janaina Gomes
Trilha Sonora: Vitor Maia
Iluminação: Natalie Revorêdo
Produção: Danilo Carias/Criativo Soluções
Cenografia: Victor Lima
Classificação etária: 10 anos

Agrinez Melo em Cordel do amor sem fim. Foto: Divulgação

Dia 20/11 (sábado)

20h — Espetáculo Cordel do Amor sem fim – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens do rio São Francisco, três irmãs convivem com suas diferenças – a misteriosa Madalena, a dissimulada Carminha e a jovem Tereza – por quem José é apaixonado. Mas a vida não é tão simples assim. Carminha sonha com José, que ama Tereza que nutre esperança da volta de Antônio, um viajante forasteiro. Nesse compasso de espera, a vida testa a paciência de cada um dos personagens.
Ficha técnica:
Texto: Claudia Barral
Encenação e Cenografia: Samuel Santos
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Atrizes e ator: Agrinez Melo, Roberta Marcina, Naná Sodré e Madson de Paula
Preparadora Vocal: Naná Sodré
Preparador de Canto: Diogo Lopes
Concepção de Figurino: Agrinez Melo
Diretor de Arte: Fernando Kehrle
Design de Luz: Samuel Santos
Operação de Luz: Samuel Santos
Sonoplastia, violão, Efeitos, instrumentos de bambu Didgeridoo: Diogo Lopes
Efeitos Percussivos: O elenco
Classificação etária: 12 anos

A boneca Ester manipulada pela atriz Odília Nunes . Foto Divulgação

Dia 21/03 (domingo)

10h — Espetáculo infantil Ester – Odília Nunes (PE)
* Com intérprete de libras.
A peça Ester é curtinha, mas chega como um afago aos nossos sentidos tão cansados. A boneca Ester tem apenas 18 centímetros de altura e o sentimento do mundo. Manipulada pela atriz Odília Nunes, a intervenção teatral se derrama em poesia. Do seu teatro portátil – uma caixa-teatro-realejo, Ester semeia esperanças, faz chover e colhe flor.
Ficha técnica:
Criação geral: Odília Nunes
Confecção da boneca: Genifer Guerard
Câmera: Fran Marinho
Classificação: livre.

A atriz Jhanaina Gomes segue em busca de sua ancestralidade

18h — Espetáculo Mi madre – Jhanaina Gomes (PE)
A artista Jhanaina Gomes foi buscar nas imagens e histórias narradas durante sua infância o material para o espetáculo solo de dança teatro. Dessa memória ancestral ela constrói uma partitura de mulheres fortes, mas feridas no percurso em tensão com a presença masculina e retraça uma convergência com seus próprios passos
Ficha técnica:
Produção executiva: Jhanaina Gomes, Arnaldo Rodrigues e Maria da Conceição
Direção, concepção, dramaturgia, cenografia e coreografia: Jhanaina Gomes
Intérprete: Jhanaina Gomes
Comunicação visual: Júnior Melo
Fotos: Morgana Narjara
Figurino: Aline Lohou
Iluminação: Dado Sodi
Classificação etária: 18 anos

Dia 22/03 (segunda)

9hOficina teatral – O Poste Soluções Luminosas (PE).
Atividade de formação artística que tem como objetivo inserir o participante no universo teatral, utilizando sua presença física e mental em estado de representação artística, buscando desenvolver técnicas e vivências para os atores/intérpretes dentro de uma dimensão transcultural.
Oficineiros: Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos
Carga Horária: 3 horas
Público-alvo: pessoas a partir dos 14 anos
Local: Plataforma digital
Vagas: 20
Inscrições: oposte.oposte@gmail.com

20h — Espetáculo de dança Sem Carnaval – Guerreiros do Passo (PE)
* Contará com intérprete de libras.
Concebido para homenagear foliões e foliãs que passaram este 2021 sem os festejos de Momo, o vídeo Sem Carnaval mostra uma reportagem sobre as ações desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas e Ações em Frevo Guerreiros do Passo. O coletivo atua há 15 anos no Recife, mantendo a metodologia do Mestre Nascimento do Passo.

Ficha técnica:
Passistas: Lucélia Albuquerque, Carlos Mascena (Limão), Laércio Olímpio, Valdemiro Neto e Jamerson Júnior.
Roteirização: Eduardo Araújo e Lucélia Albuquerque
Direção, captação de imagens e fotografia: Eduardo Araújo
Música: Suíte Nordestina (Maestro Duda)
*Reportagem da TV Globo exibida no carnaval de 2018, no programa Carnaval de Pernambuco.
Classificação: Livre

Dia 23/03 (terça)

19h — Espetáculo Faca – Grupo O tabuleiro de Teatro (PE)
Faca é um monólogo de Ingrid Martins, com relatos verídicos de mulheres que sofreram violência, psicológicas, sexuais, físicas, morais. É o primeiro espetáculo do grupo O Tabuleiro de Teatro
Ficha técnica:
Texto: Ingrid Martins
Atriz: Rizo Silva
Sonoridade: Carlinhos Aril
Iluminação: Leo Batista
Direção: Felipe Vidal
Produção: Grupo O tabuleiro de teatro
Classificação: 18 anos

20h — Espetáculo Histórias bordadas em mim – Doce Agri (PE)
sentada em um baú, a atriz conta histórias que viveu. Inspirada em uma pesquisa no griot (povo ancestral africano que passava conhecimento através da oralidade), ela alicerça sua narrativa em técnicas do teatro físico, valorizando a matriz ancestral africana através da energia do Orixás.
Ficha técnica:
Dramaturgia, direção e atuação: Agrinez Melo
Assessoria em Dramaturgia: Ana Paula Sá
Assessoria em Direção: Naná Sodré, Quiercles Santana e Samuel Santos
Concepção Musical: Talles Ribeiro
Execução da Sonoplastia: Talles Ribeiro
Assessoria em toadas: Maria Helena Sampaio (YaKêkêrê do Terreiro Ilê Oba Aganju Okoloyá)
Concepção Maquiagem: Vinicius Vieira
Concepção Figurino: Agrinez Melo
Execução Figurino: Agrinez Melo e Vilma Uchôa
Aderecista: Álcio Lins
Cenotécnico: Felipe Lopes
Designer: Talles Ribeiro
Filmagem do espetáculo na integra: I Pele Ti Odun
Classificação: 12 anos

24/11 (quarta)

18h30 — Palestra Ó pretos, nada de negócios de brancos!: sociabilidades, cultura e participação dos homens de cor no processo de fundação do Estado e da Nação. – Flávio Cabral (PE)
Flavio Cabral é historiador, doutor em História pela UFPE, professor de História da Graduação e do Programa de Pós-Graduação na Unicap. Dedica-se à História de Pernambuco e aos temas ligados à Formação do Estado Nacional. Publicou vários livros e artigos em revistas científicas nacionais e internacionais.
Classificação: Livre

25/03 (quinta)

18h30Oferenda — Recital de canto lírico – Anastácia Rodrigues (PE)
O recital é fruto de pesquisa, vivência e estudo que norteiam o trabalho da mezzosoprano recifense Anastácia Rodrigues. Um olhar de profundo respeito e pertencimento aos povos originários e africanos que deixaram um acervo vivo inestimável e que de alguma forma foi registrado, ou lembrado em partituras. A performance contará com a instrumentação inédita para este formato: Emerson Rodrigues no vibrafone, Sônia Guimarães no ilú.
Ficha técnica:
Canto, agbê: Anastácia Rodrigues
Xilofone, vibrafone: Emerson Rodrigues
Tambor de fala, ilú, motor d´água, maracá: Sonia Guimarães
Classificação: Livre

Espetáculo A Receita, com Naná Sodré. Foto: Thais Lima

19h — Espetáculo A Receita – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Uma mulher num processo de libertação. A anônima confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha… Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo explorando diversos pontos de vistas.
Ficha técnica:
Atuação e maquiagem: Nazaré Sodré
Autor, diretor, figurinista, sonoplasta e iluminador: Samuel Santos
Técnica em artes marciais: Mestre Sifu Manoel Ramos
Classificação: 18 anos

Naná Sodré e Agrinês Melo. Foto: Lucas Emanuel/Divulgação

26/03 (sexta)

20h — Espetáculo Ombela – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Ombela (a chuva) após cair resolve deixar duas gotas que se transformam em duas entidades. Essas Ombelas inventam rios e desdobram-se ao som do vento e a cada gota faz nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. A peça além de ser interpretada em português tem partes faladas e cantadas na língua africana de Angola, Umbundo.
Ficha técnica:
Texto: Manuel Rui
Encenação, cenografia e plano de luz : Samuel Santos
Desenho de cenografia. Douglas Duan
Atrizes: Agrinez Melo e Naná Sodré
Consultoria/Estudos em Antropologia: Daniele Perin Rocha Pitta
Composição de trilha sonora: Isaar França
Preparação musical: Surama Ramos
Preparação Dança do Jarro: Sylvya Olyveyra
Concepção de figurino e execução: Agrinez Melo
Contra- regra e Video Maker: Talles Ribeiro
Identidade Visual: Curinga Comuniquê e Vicente Simas
Plano de Maquiagem: Naná Sodré
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Classificação: 18 anos

Periferia quebra tudo, com jovens de Peixinhos, bairro do Recife. Foto. Thales Ribeiro / Divulgação

27/03 (sábado)

17h — Espetáculo Periferia quebra tudo – Jovens de Peixinhos (PE)
O espetáculo de dança Periferia Quebra Tudo é pautado pela experiência de quatro jovens pretos, periféricos, participantes de movimentos culturais desenvolvidas na comunidade de Peixinhos. Com coreografias de afro, afoxé, coco, passinho e brega funk, eles querem mostrar o que acontece na comunidade. As cenas foram gravadas no Nascedouro de Peixinhos.

Ficha técnica:
Bailarinos e coreógrafos: Fabilio Silva, Luana Vitória, Nandis Vasconcelos e Victor Vicente
Edição musical: Fabilio Silva
Agradecimentos: Balé Afro Raízes, Festival Luz Negra, Ioneide da Silva, Marcos Júnior, Paulo Queiroz e Projeto Artes da Gente -PJMP –JCC
Classificação: Livre

Espetáculo: Luiz Gama Foto: Vivian Fernández

20h — Espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade – MS Eventos (RJ)
Jornalista, poeta e advogado abolicionista, Luiz Gama libertou mais 500 escravos do cativeiro ilegal. É a sua biografia que é encenada na peça Luiz Gama: uma voz pela liberdade, que traça um paralelo entre as lutas de ontem e hoje contra as desigualdades.
Ficha técnica:
Dramaturgia: Deo Garcez
Direção, figurino e cenografia: Ricardo Torres
Elenco: Deo Garcez e Soraia Arnoni
Áudio de apresentação (voz): Milton Gonçalves
Trilha sonora: Deo Garcez e Ricardo Torres
Iluminador: Mário Seixas, Vinícius Gaspar e Alan Leite
Operador de luz: André Calazans
Técnico de som: Tom Rocha
Operador de som: Ricardo Torres
Produção: MS Events
Produção executiva: Alan de Jesus e Mário Seixas
Coprodução: Olhos D´Água e Nova Criativa
Programação Visual: Mário Seixas
Caracterização [barba]: Márcia Elias
Assessoria de imprensa: Alan de Jesus e Márcia Araújo
Fotos: Jean Yoshii, Vivian Fernández, Maurício Code e Valmyr Ferreira
Classificação indicativa: 12 anos

Ubuntu. Foto Leandro Lima

28/03 (domingo)

10h — Espetáculo Ubuntu: uma linda aventura na floresta afrobrasilândia infantil – São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções (PE)
A criação do mundo a partir do olhar africano. Entoada pelos sons, ritmos, cores, músicas e muito axé, a montagem apresenta duas lindas flores pretas, que vivem num colorido jardim na floresta Afrobrasilândia, mas que se questionam todos os dias porque suas cores não estão representadas no arco íris. E elas decidem desbravar toda floresta em busca da resposta.
Ficha técnica:
Inspirado na obra de Raul Loudy
Dramaturgia: Coletiva
Encenação: Anderson Leite.
Direção Musical: Helio Machado
Elenco: André Lourenço, Brunna Martins, Clau Barros, Halberys Morais e Monique Sampaio.
Músicos: Dinho Dumonte e Helio Machado.
Cenário: Anderson Leite
Figurino: André Lourenço
Mascareiro/Bonequeiro: Alex Apolônio
Iluminação: Anderson Leite
Adereços: Anderson Leite, André Lourenço.
Produção Cultural: Anderson Leite e Halberys Morais.
Produtora Executiva: Elis Hellen
Realização: São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções.
Classificação: Livre

18h — Espetáculo Transpassar | Coletivo Agridoce (PE)
Um conto sobre sonhos perdidos por causa da violência e do preconceito, sobre a solidão da mulher trans, e sobre os problemas sociais passados por esse corpo em transição, como ele é visto e marginalizado pela sociedade. Tudo pela perspectiva de uma garota que tem o sonho de ser tirada para dançar.

Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Sophia William
Colaboração dramatúrgica: Aurora Jamelo
Direção artística: Sophia William e Aurora Jamelo
Sonoplastia: Flávio Moraes
Desenho de luz: Natalie Revorêdo
Execução de luz: Nilo Pedrosa
Figurinos: Sophia William e Aurora Jamelo
Preparação de elenco: Sophia William
Preparação de voz: Flávio Moraes
Argumento: Sophia William
Visagismo: Aurora Jamelo
Social media: Nilo Pedrosa
Produtor técnico: Igor Cavalcante Moura
Fotos: Any Stone
Realização: Coletivo de dança-teatro Agridoce
Classificação: 12 anos

SERVIÇO:
Festival Luz Negra – O negro em estado de representação
De 18 a 28 de março, no perfil O Postes Soluções Luminosas, no YouTube (http://bit.ly/canaloposte)
Todas as ações serão gratuitas. Duas delas contarão com intérprete de libras e uma com audiodescrição.

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“Os ratos não estão no porão”,
uma provocação em
videodança de Mônica Lira

Mônica Lira questiona as políticas públicas para as artes. Foto: Ivan Dantas / Divulgação

Em trabalho solo, mas com uma grande equipe nos bastidores, a artista reflete inquietações atuais. Foto: Ivan Dantas

Com o sugestivo título Os ratos não estão no porão, a diretora, coreografa e bailarina do Grupo Experimental, do Recife, Mônica Lira elabora uma inquietante reflexão sobre as políticas públicas e os sacrifícios que artistas exercem para garantir a mínima dignidade de seus trabalhos. A videodança solo dessa artista pernambucana assume-se como um “manifesto” dançado, no intuito de explicitar o descaso que os artistas sofrem no cenário pandêmico e as angústias vividas por muitos, que fazem parte da cadeia cultural.

Financiado pela Lei Aldir Blanc, no edital de Criação, Fruição e Difusão do Governo de Pernambuco, a videodança estreia nesta terça, 16 de março, às 19h, em uma live no Instagram do grupo (@grupoexperimental).

“Ser um trabalhador
de arte é, antes
de tudo, indagar o
tempo presente e
questionar o tempo
futuro”.

Mônica Lira dança um desassossego antigo: o desamparo do trabalhador de arte. Para isso desenha em movimentos a própria labuta, repleta de inseguranças, enigmas e abandono vivido pelo setor cultural, que mesmo diante dos recursos das leis emergenciais, fica refém dos governantes e de suas vontades políticas.

A obra Os ratos não estão no porão foi concebida num casarão antigo do bairro do Recife, sem teto, Rede Moinho, que sedia o atelier a céu aberto do artista Sérgio Altenkirch, também cenógrafo da obra. A videodança faz uma analogia irônica da reexistência do artista contemporâneo, que encara um panorama de extrema vulnerabilidade.

“O grupo Experimental carrega
muita história e muita gente,
e todas elas estão comigo na
poesia e nas narrativas desse
trabalho”,

A própria Mônica relata as adversidades, sem perspectivas, que enfrenta com seu grupo: “Antes da pandemia fomos para as ruas com a nossa obra Pontilhados, um passeio dançado por algumas cidades com um elenco de quase 20 artistas. Há quase 3 anos ficamos sem teto, sem a casa desse corpo Experimental, onde podíamos criar, dançar, pesquisar, fazer aulas, assistir espetáculos e realizar projetos. E agora, neste momento sem horizontes, como continuar dançando?”, indaga.

A arte de Os ratos não estão no porão quer provocar as pessoas a pensarem nos motivos de termos chegado a esse lugar de incertezas e sofrimento. “Ser um trabalhador de arte é, antes de tudo, indagar o tempo presente e questionar o tempo futuro. E sendo assim, como poderemos viver, continuar a existir, quando opera no nosso país uma política que pode nos exterminar?”. Pergunta que não quer calar.

FICHA TÉCNICA:
 
Concepção, direção geral, figurino e intérprete: Mônica Lira
Direção artística e figurino: Rafaella Trindade
Direção de fotografia, câmera e montagem: Silvio Barreto
Desenho cenográfico e criação das peças: Sérgio Altenkirch
Desenho de luz e execução: Beto Trindade
Produção e assistente de iluminação: Caio Trindade
Ambiente sonoro e trilha original: Diego Drão e Ivo Thavora
Registro fotográfico: Ivan Dantas
Locação filmagem: RedeMoinho da Ilha (Sergio Altenkirch)
Design gráfico: Carlos Moura
Assessoria de comunicação: Marta Guimarães

SERVIÇO:
Lançamento do videodança: Os ratos não estão no porão
Quando: Terça-feira, 16 de março, 20h
Onde: Instagram do Grupo Experimental – @grupoexperimental

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MITsp lança plataforma com programação inédita e de acervo

Réquiem, direção de Romeo Castellucci, abre programação. Foto: Pascal Victor/ArtComPress

 

Pensamento em Processo com elenco de Isto é um negro? está disponível na plataforma. Foto: Nereu Jr

O ano era 2014. Na plateia cheia do Auditório Ibirapuera, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, muita gente conhecida da cultura. Havia um burburinho, pairava um clima que era uma mistura de ansiedade e entusiasmo. Há muito tempo, talvez desde os festivais de Ruth Escobar, que o Brasil não tinha um festival internacional na dimensão que se projetava a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, sob a direção de Guilherme Marques e Antonio Araújo.

Naquele ano, além da abertura com Romeo Castellucci e o seu Sobre o conceito de rosto no filho de Deus, vimos espetáculos de nomes como Mariano Pensotti, Guillermo Calderón, Rodrigo Garcia, Angélica Lidell, Marcelo Evelin. Só para citar alguns. Quem não tinha ingresso garantido, como era o nosso caso, já que estávamos contratadas para fazer críticas, enfrentava filas gigantescas, três horas de espera para conseguir o tíquete para ver os espetáculos.

Acompanhamos ainda, talvez o grande diferencial da MITsp desde aquele ano inicial, uma programação crítica e reflexiva com uma potência que era… incrível. Sei o peso do adjetivo, mas escolho usar com consciência, não encontro outro nome olhando para trás. Debates a partir dos espetáculos com pessoas de outras áreas que não o teatro, conversas com todos os encenadores, publicação de críticas diárias, um catálogo, com textos de vários acadêmicos.

Lembro que, depois daqueles dias, do tanto de troca que aconteceu naquele curto período, voltamos ao Recife com a sensação de que tinha rolado uma pós-graduação inteira. A cabeça fervilhava. Dali surgiu, por exemplo, a DocumentaCena – Plataforma de Crítica.

Nunca mais deixamos de acompanhar a MITsp como críticas e, durante alguns anos, como equipe de produção, já que eu assumi a coordenação de conteúdo editorial da mostra durante três edições: 2017, 2018 e 2019. Claro que sempre fizemos a propaganda do quão importante seria ter mais pernambucanos acompanhando a programação da MITsp. E voltávamos com as malas pesadas, carregadas de catálogo para quem pedia.

A distância, os custos financeiros, a disponibilidade de tempo para se ausentar da cidade por um período mais longo, sempre foram impeditivos para que tivéssemos mais pernambucanos vivendo essa experiência conosco.

Com a pandemia, o fechamento dos teatros, o suporte da internet, as coisas mudaram. A partir desta sexta-feira (12), começa a programação da MIT+ (www.mitmais.com), um dos braços do festival, que é uma plataforma virtual de conteúdo de arquivo e de outros inéditos. O acesso é gratuito, sendo necessário apenas um cadastro. Para as exibições de espetáculos, no entanto, há horários pré-definidos, assim como um festival tradicional. O acervo de encenações não fica disponível por todo tempo.

“Democratizar o acesso a todo esse arquivo era uma ideia de 2016. A gente também queria conhecer o público da MIT, uma informação muito importante, para saber onde estávamos chegando, para ter um canal mais direto”, explica Natalia Machiaveli, idealizadora e diretora da plataforma. “Queremos disponibilizar todo o acervo da parte reflexiva e pedagógica, porque os espetáculos temos sempre uma questão de direitos autorais. Essa disponibilização vai ser ao longo do tempo, porque estamos reeditando, fazendo legendas, dando a cara da MIT+, o que leva um tempo e tem um custo”, complementa.

A abertura dessa programação inicial é com Réquiem, versão de Romeo Castellucci para a missa fúnebre de Mozart, com orquestração do maestro Raphael Pichon. Depois do espetáculo, será exibida uma entrevista feita por Julia Guimaraes com o encenador italiano sobre sua trajetória.

A artista em foco da edição é a sul-africana Ntando Cele que, em 2018, apresentou Black Off. Imagina a imagem de uma negra, pintada de branco, peruca loura, como apresentadora de um talk show, querendo fazer piada com a plateia sobre racismo. Foi um dos principais destaques daquela edição, que será reexibido agora, ao lado do inédito Go Go Othello, onde a artista faz um paralelo com Otelo e intercala cenas de stand-up, videoarte, dança e música, perpassando a história de artistas negros, questionando os estereótipos racistas no mundo da arte. Ntando Cele vai conduzir ainda um workshop, uma residência e vai participar de uma conversa com a filósofa Denise Ferreira da Silva e a bailarina Jaqueline Elesbão.

Go Go Othello. Foto: Manaka Empowerment

A sul-africana Ntando Cele apresenta o inédito Go Go Othello. Foto: Manaka Empowerment

Janaina Leite, artista em foco na MITbr (braço com a programação nacional na mostra) no ano passado, abre o processo de Camming – 101 Noite. Janaina faz um paralelo entre o livro As Mil e umas Noites e as camgirls profissionais, que precisam garantir a atenção dos clientes. Depois das exibições, no dia 14 de março, vai acontecer também uma conversa sobre o processo de criação.

Da programação do acervo disponibilizada na plataforma e aberta a qualquer momento, há mesas e debates que fizeram parte dos eixos Olhares Críticos e Ações Pedagógicas, como uma conversa com o elenco de Isto é um negro? e todas as edições da Revista Cartografias, catálogo da mostra, além de conteúdos inéditos.

PROGRAMAÇÃO:

ESPETÁCULOS

Réquiem
Em sua versão de Réquiem, o encenador italiano Romeo Castellucci faz da missa fúnebre de Mozart um espetáculo de celebração à vida. O espetáculo é conduzido pela orquestração do maestro Raphaël Pichon, que faz uma costura entre a composição original e outras peças sacras, menos conhecidas, do compositor austríaco.
Quando: 12, 13, 14 e 15 de março, às 19h
Duração: 1h40min

Ntando Cele apresentou Black Off na MITsp 2018. Foto: Guto Muniz

Black Off
A sul-africana Ntando Cele aborda e enfrenta estereótipos racistas. Na primeira parte do espetáculo, numa espécie de comédia stand-up, a performer assume o seu alter ego, Bianca White, uma comediante, viajante do mundo e filantropa. Depois, numa mistura de performance musical e vídeo, Ntando passa a destrinchar estereótipos de mulheres negras e tenta descobrir como o público a vê.
Quando: 13, 14, 15, 16 e 17 de março, às 21h
Duração: 1h40min

Go Go Othello
Para discutir o espaço do negro no meio artístico, Ntando Cele faz um paralelo com Otelo, o mouro de Veneza, um dos raros protagonistas negros da história do teatro. Ela intercala cenas de comédia stand-up, performance, videoarte, dança e música num ambiente que remete a uma casa noturna. A sul-africana perpassa a história de artistas negros e se transforma em personagens diversos para questionar estereótipos racistas no mundo da arte.
Quando: 16, 17, 18, 18, 20 e 21 de março, às 20h
Duração: 1h20min

Descolonizando o conhecimento
Na palestra-performance, Grada Kilomba faz um apanhado de seu próprio trabalho e utiliza vários formatos, de textos teóricos e narrativos a vídeo e performance, para questionar as configurações de poder e de conhecimento.
Quando: 17 e 18 de março, às 18h
Duração: 1h10min

Entrelinhas
Num diálogo entre o passado e o presente, a coreógrafa e intérprete Jaqueline Elesbão discute a violência contra a mulher e evidencia como a voz feminina, em especial a da mulher negra, é historicamente silenciada dentro de uma sociedade machista e de mentalidade escravocrata.
Quando: 19, 20, 21, 22, 23 e 24 de março, às 20h
Duração: 30min

O encontro. Foto: Stavros Petropoulos

O encontro, de Simon McBurney. Foto: Stavros Petropoulos

O Encontro
Por meio de tecnologias de som, o inglês Simon McBurney leva o espectador a uma imersão pela Amazônia brasileira. Inspirado no livro Amazon Beaming, de Petru Popescu, ele conta a história de um fotógrafo que, no fim dos anos 1960, se viu perdido em meio à terra indígena do Vale do Javari.
Quando: 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31 de março, às 20h
Duração: 2h17min

sal., espetáculo de Selina Thompson, visto na MITsp 2018, está na programação. Foto: Guto Muniz

sal.
Em 2016, Selina Thompson embarcou em um navio cargueiro para refazer uma das rotas do comércio transatlântico de escravos: do Reino Unido à Gana e, de lá, à Jamaica. As memórias, questionamentos e sofrimentos desse percurso levaram a performer ao universo de um passado imaginário.
Quando: 26 de março, às 19h
Duração: 1h

Em Legítima Defesa
A performance, encenada em meio à plateia, logo após alguns espetáculos da MITsp 2016, traz discursos históricos entrelaçados a depoimentos pessoais, músicas e poesias. Em suas falas, os artistas do Coletivo Legítima Defesa remetem à diáspora negra e a seus desdobramentos históricos, numa ação que busca resistir à narrativa hegemônica e dar voz à própria história.
Quando: 28, 29 e 30, às 19h
Duração: 20min

ABERTURAS DE PROCESSO

Camming – 101 Noites
Janaina Leite faz um paralelo entre o livro As Mil e uma Noites – no qual Sherazade precisa entreter o rei – e as camgirls profissionais, que têm que garantir a atenção dos clientes, num trabalho que vai além do sexual, passando também pela narrativa imaginária, dramatúrgica e até terapêutica.
Quando: 12 e 13 de março, às 23h
Duração: 1h
Bate-papo: 14 de março, às 16h

Ué, Eu Ecoa Ocê’ U É Eu?
Celso Sim, Cibele Forjaz e Manoela Rabinovitch abrem o processo da performance audiovisual, que dialoga com a pandemia e o caos político. Os artistas apresentam dois ritos: um de antropologia funerária, em homenagem aos indígenas mortos em decorrência da Covid-19, e outro de canibalismo guerreiro, uma reação de caça ao inimigo. A performance tem duas versões, uma censurada (ela precisou receber cortes para ser apresentada em Brasília, em dezembro de 2020) e outra sem censura. Ambas serão transmitidas na sequência.
Quando: 22, 23 e 24, às 22h
Duração: 45min (as duas versões)

Um Jardim para Educar as Bestas
O ator Eduardo Okamoto, a diretora Isa Kopelman e o músico Marcelo Onofri realizam abertura de processo de duo para piano e atuação. A encenação alterna dança, música e a história de Seu Inhês, um sertanejo de olhos apertados que, como forma de evitar uma predição de morte da esposa, decide construir um jardim de pedras em meio ao sertão.
Quando: 26, 27 e 28 de março, às 18h30
Duração: 20min

WORKSHOPS

Petformances
A performer Tania Alice e a veterinária Manuela Mellão propõem aos participantes realizar práticas artísticas diversas (performances, escrita, fotografia, pintura etc.), sempre permeadas pelo afeto, ao lado de seus pets.
Quando: 18 de março, das 15h às 17g, e 19 de março, das 15h às 18h
Número de vagas: 20 (os participantes serão escolhidos por ordem de inscrição)

Curando a Branquitude
A sul-africana Ntando Cele propõe um trabalho em conjunto na tentativa de sanar traumas de uma sociedade marcada pela hegemonia da branquitude. A artista busca sabedorias ancestrais e pré-colonialistas na tentativa de reimaginar um futuro e criar um espaço não violento, em que se possa enfrentar a crise global de maneira coletiva.
O workshop será ministrado em inglês, com tradução para o português.
Quando: 20 de março, das 10h às 13h

RESIDÊNCIA

Inter Pretas
A residência virtual é voltada a mulheres artistas e ativistas, em especial pessoas não brancas, que queiram trabalhar com materiais biográficos. Nos encontros, a sul-africana Ntando Cele foca o autocuidado na prática artística e algumas estratégias de empoderamento, além de propor um espaço não violento para “sonhos coletivos”. Ela se alterna entre atividades em grupo e conversas individuais com as participantes.
Quando: de 25 a 28 de março, das 10h às 13h. Os horários dos atendimentos individuais serão combinados com as participantes
Número de vagas: 12

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