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Clara e Conceição foram ver o mar
Crítica de Transbordando Marias

Clara e Conceição Camarotti (foto) trabalham juntas em Transbordando Marias. Foto: Reprodução de tela

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

No meu corpo, sou muitas. As que vieram antes, as que virão depois. Carrego comigo todas elas. Em Transbordando Marias, espetáculo que abriu a programação de encenações do festival Reside Lab – Plataforma PE, no corpo da atriz e bailarina Maria Clara Camarotti estão imbricadas as vivências da sua mãe e da sua avó, numa teia complexa que traça paralelos, coincidências e viradas de rumo entre histórias temporalmente distintas, mas ligadas pela ancestralidade.

Há algum tempo, ando absorvida pela leitura do livro Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Mergulhada na história de Kehinde, nascida em Savalu, no reino de Daomé, na África, em 1810. É uma personagem forte, que sente a ancestralidade pulsando no corpo, nos sonhos, nas crenças compartilhadas com o seu povo. Transbordando Marias me levou de volta às primeiras páginas do livro.

Kehinde era uma ibêji, como são chamados os gêmeos entre os povos iorubás. Pela tradição, ibêjis eram símbolo de boa sorte e de riqueza. Com Kehinde e Taiwo atadas ao próprio corpo, uma na frente e outra atrás, a mãe das crianças dançava no mercado para ganhar dinheiro. A primeira lembrança de existência de Kehinde eram os olhos da Taiwo. “Éramos pequenas e apenas os olhos ficavam ao alcance dos olhos, um par de cada lado do ombro da minha mãe, dois pares que pareciam ser apenas meus e que a Taiwo devia pensar que eram apenas dela. Não sei quando descobrimos que éramos duas, pois acho que só tive certeza disto depois que a Taiwo morreu. Ela deve ter morrido sem saber, porque foi só então que a parte que ela tinha na nossa alma ficou somente para mim”.

Clara Camarotti dança, não no mercado, mas no espaço de um casa, como se fosse a mãe de Kehinde. Com a mãe e a avó, que também podem significar casa. Assim como o corpo que habitamos, com todas as suas singularidades, casa. Sabe que não é apenas uma. Tem consciência de que são três. São várias, incontáveis, presentes ali naquela sala, através da sua dança.

O elo entre as três mulheres é o número 9, aquele que simboliza o encerramento de ciclos. Que rompe com as estruturas de violência reproduzidas a cada geração. A avó foge dos maus-tratos do marido depois de nove anos, deixando a filha de nove anos, levando consigo apenas a mais nova, de nove meses. A mãe foge de casa com o circo, aos nove anos, porque queria ser atriz. A rejeição sofrida pelo grupo de amigas aos nove anos com a justificativa de que era uma criança feia.

Clara Camarotti dança a história das mulheres da família. Foto: Reprodução de tela

A perspectiva documental, autobiográfica, é uma das potências do trabalho, que consegue estabelecer zonas fluidas entre ficção e realidade. Afinal, memória também é construção, (re)elaboração de sentidos e narrativas. Quando contamos, nos insurgimos contra o esquecimento. Damos uma oportunidade, traço de imensa generosidade, para que os outros também se apropriem da narrativa, carreguem consigo, passem adiante.

Ao trazer para a cena a mãe, a atriz Conceição Camarotti, 67 anos, Clara entrega um presente precioso ao espectador. Conceição é uma atriz gigante, que preenche a tela, que instaura um tipo estranho e raro de cumplicidade imediata. Está em cena sendo questionada pela filha se gostaria de interpretar um papel, se preferia improvisar ou simplesmente ser ela mesma. Consegue fazer as três coisas. Ora provando o figurino, ora contando histórias deliciosas de uma jovem destemida numa sociedade patriarcal, sentada numa mesa, na cozinha de um sítio, ora reproduzindo, livremente, as falas da velha Maria Josefa, louca, mãe de Bernarda Alba, personagem célebre de Federico Garcia Lorca.

Texto tem trechos inspirados na personagem Maria Josefa, de Lorca. Foto: Reprodução de tela

Nesta situação de pandemia, quando morremos literalmente sem fôlego, numa metáfora materializada, triste e cruel da nossa realidade, Conceição pede que a filha abra a porta, que a deixe ver o mar. Assim como ela, a filha e os filhos da filha também terão cabelos brancos, como a espuma da onda do mar, bubuia, que é doce, beija a praia, mas tem a força de levar tudo embora. O tema da velhice perpassa a dramaturgia como condição inerente, espelho-tela refletindo a imagem da velha atriz preta, potência de vida, encarando o soco no estômago das limitações trazidas pelos anos. Ao mesmo tempo, existência, resistência.

Transbordando Marias foi criado em conjunto por uma equipe de artistas: além de Maria Clara Camarotti, Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas, Maria Agrelli, Silvinha Góes e Conrado Falbo, esses últimos parceiros de Clara no Coletivo Lugar Comum. O trabalho foi possível graças ao edital emergencial Cultura em Rede do Sesc Pernambuco. Gestado durante a pandemia, as questões técnicas, desde a captação das imagens e do som até a edição, são o ponto mais frágil do trabalho. A sensação é de que, embora tenha uma dramaturgia e uma atuação consistentes, com muitas possibilidades, trata-se ainda de uma semente, de um experimento que pode virar árvore frondosa.

Dá esperança pensar que podemos ter, em algum momento de um futuro que quiçá nos seja próximo, um espetáculo documental, Clara e Conceição Camarotti pisando o palco de um teatro. Ou um filme, já que as telas amam o talento de Conceição. Vou puxar a sardinha para o nosso lado, que venham logo, sem demora, as três batidas de estaca do Teatro de Santa Isabel, anunciando que a sessão já vai começar.

Clara Camarotti. Foto: Reprodução de tela

Ficha Técnica:
Concepção e direção geral: Maria Clara Camarotti
Elenco: Conceição Camarotti e Maria Clara Camarotti
Texto livremente inspirado na personagem Maria Josefa, da peça A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca
Equipe de criação: Maria Clara Camarotti, Nana Sodré, Maria Agrelli, Silvinha Góes, Conrado Falbo
Trabalho contemplado pelo edital emergencial Cultura em Rede do Sesc Pernambuco.

 

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Festival recifense potencializa
protagonismo de artistas negros

Peça Negra palavra-Solano Trindade, que expõe a trajetória e luta do poeta pernambucano, abre a programação

Meia-Noite, com Orun Santana. Foto: Livia Neves / Divulgação

Francisco Solano Trindade (1908-1974), foi um grande poeta brasileiro. Artista negro nascido no Recife, ele também atuou como folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. Apesar de ter abalado as estruturas em várias áreas, nas cidades onde morou – Recife, Rio de Janeiro, São Paulo – ele não é devidamente conhecido e valorizado. Isso se deve, em parte, ao racismo estrutural da sociedade brasileira.

Combater o racismo, a discriminação, o colonialismo e explorar o protagonismo do artista negro nas mais diversas linguagens são propostas do Festival Luz Negra — O negro em estado de representação, que chega à quarta edição e abre justamente com o espetáculo Negra Palavra – Solano Trindade.

O 4º Festival Luz Negra é executado com incentivos do edital de Festivais da Lei Aldir Blanc Pernambuco. O programa totalmente online, conta com oito espetáculos teatrais de Pernambuco, das quatro macrorregiões de Pernambuco (Sertão, Agreste, Mata e Região Metropolitana do Recife), sendo seis para o público adulto e dois para a infância e a juventude; dois espetáculos de fora do estado; quatro espetáculos de dança, um deles com mulheres trans e outro com jovens da comunidade de Peixinhos; um solo de ópera, uma palestra sobre a história do negro em Pernambuco e uma oficina teatral.

O homenageado desta edição é Guitinho da Xambá, cantor e compositor do grupo Bongar, que morreu em fevereiro.

Realizado desde 2017 pelo grupo O Poste Soluções Luminosas, coletivo formado pelos artistas negros Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos.

“A ação potencializa a construção de identidades e territórios dinâmicos, ambivalentes e de negociação. Queremos com o projeto o rompimento de paradigmas de preconceito através da própria representação negra nos palcos”, afirma Agrinez Melo, atriz, figurinista e integrante d’O Poste.

ENTREVISTA – Grupo O Poste Soluções Luminosas

O trio do grupo O Poste: Naná Sodré, Samuel Santos e Agri Melo.

Qual a importância do festival na descolonização dos sentidos para as artes cênicas de Pernambuco?

Na realidade, queremos trazer um novo sentido ou dar mais um outro sentido à cena pernambucana. O teatro historicamente seja do ponto de vista estrutural e no seu fazer sempre negou o direito dos sentidos, do sentir, do fazer, do ser, do ter, do artístico e da poética negra. Até o direito de ser plateia foi negado!

As histórias pernambucana e brasileira, como um todo, excluíram a nossa cultura, religião, os nossos ancestrais. Todo esse processo colonizador, que perdurou por séculos, afetou consecutivamente o teatro feito em Pernambuco, direcionando o olhar apenas para uma cultura, um teatro eurocêntrico ou “eurocentralizado”. São poucos os registros de uma cena afrocentrada aqui no estado. No período do Brasil império, república, democracia, ditadura, democracia, a presença do artista preto na cena era quase inexistente. Isso só vem a melhorar um pouco no final da década de setenta e foi evoluindo nas décadas seguintes, mas sem muitas projeções, pois a cena continuava na sua totalidade com o mesmo tom de pele, e a mesma cultura do colonizador.

Aí entra a importância de descolonizar e decolonizar, no sentido de colocar também o nosso trabalho nessa estrutura excludente. E o festival Luz Negra entra nesse vago histórico e com essa proposta.

Aí entra a importância de
descolonizar e decolonizar, no
sentido de colocar também o
nosso trabalho nessa estrutura,
que ainda se mostra excludente.

Que conquistas vocês identificam ao longo desses quase cinco anos que o Luz Negra é realizado?

Primeiramente é importante afirmar que a realização do festival já é uma conquista. Se levarmos em consideração a construção da história do estado, que foi o último a abolir a escravidão. Realizar um festival desse porte já traz novos horizontes em relação a outro olhar para a arte negra daqui e que reverbera em todo país.

Fora isso, o festival é transdisciplinar, entra não só nas esferas artísticas, mas educacional, filosófica, sociológica, antropológica… E os espetáculos abordam temas que ampliam o discurso do negro e sua representatividade de forma positiva. O festival também circula por muitos lugares, evidenciando artistas negres das várias regiões do estado, abrindo espaço para os jovens que moram nas periferias mostrar seus trabalhos, mulheres pretas evidenciando suas conquistas e ampliando discursos, oferece formação e abre espaço de construção desse discurso com o público. Além de ocupar espaços que são nossos por direito. A cada realização nos fortalecemos e ampliamos nossa autonomia. O festival independente de seu formato vem se agigantando e nós do grupo e enquanto indivíduos vamos crescendo com ele.

Realizar um festival desse porte já
traz novos horizontes em relação
a outro olhar para a arte negra
daqui e que reverbera em todo país.

Como vocês analisam a situação das cênicas em Pernambuco no contexto da pandemia. Ou como vocês atravessam esse período?

A nossa pandemia começou bem antes do coronavírus.  E não falo do período colonial.  Não dá para falar do tempo presente, sem falar do tempo antes. A pandemia arrematou algo que já vinha pandêmico para as artes cênicas. Incentivo, apoio, patrocínio, política pública para as artes cênicas em algumas esferas do poder executivo simplesmente dificultou a fruição, a formação, o intercâmbio e sobrevivência dos artistas cênicos.  imagina para o povo preto?

Houve uma mudança de gestão, que particularmente achamos positiva e nos enche de esperança. Mas essa esperança precisa mexer nas estruturas para buscar uma equidade nas artes. O que fizemos nesse período pandêmico foram cursos, oficinas online, criamos o projeto Terças Pretas , onde exibimos no formato live pelo Instagram cerca de dez cenas com  dramaturgias autorais de artistas pretos  e que virou audiovisual e está sendo comercializado, criamos o festival Pretação Online com mulheres negras,  fizemos campanha de financiamento  colaborativo para manter o Espaço O Poste, escrevemos em editais online nossos espetáculos, nossos cursos, oficinas. Costuramos, bordamos, chuleamos, cavamos, plantamos… 

A curadoria do Luz Negra foi feita em que bases?

Dentro da base emergencial. Pouco tempo para tudo. Não dava para criar um conceito único ou basilar. Mas tínhamos e temos um objetivo que era a da valorização das produções pernambucanas, pois edital do LAB é local e teríamos que salvaguardar as nossas produções, os nossos artistas. Não deu para nacionalizar o festival como gostaríamos, mas trouxemos dois espetáculos bem significativos. Negra Palavra- Solano Trindade e Luz Gama ambos do Rio de Janeiro e de poéticas distintas. Temos também a valorização de jovens e produções periféricas, onde suscitamos o fomento para que artistas de Peixinhos criasse um espetáculo para o festival.  Temos espetáculo com mulheres trans. Temos na programação espetáculo de canto lírico, dança contemporânea, dança popular, dança-teatro. Temos uma palestra com historiador, oficina. O público vai acompanhar um festival de várias poéticas distintas.

O que vocês querem dizer que eu não perguntei?

O que é ancestralidade para vocês ?

Vocês vão responder?

Na verdade, nós perguntamos. É uma pergunta que a gente faz. Porque a gente vem falando o tempo inteiro dentro do nosso festival o que é ancestralidade e aí a gente resolve perguntar para o público e para Satisfeita, enfim, para quem quiser responder. O que é ancestralidade? Essa pergunta é tem um cunho reflexivo, para entender a importância real do nosso festival. 

 

PROGRAMAÇÃO
4º Festival Luz Negra — O negro em estado de representação

Negra palavra – Solano Trindade. Foto: Raphael Elias

Dia 18/03 (quinta) — Abertura

19h — Espetáculo gravado Negra Palavra – Solano Trindade – Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (RJ)
20h — O mesmo espetáculo ao vivo, em novo formato e com audiodescrição.
Corpo, música e poesia são tramadas para refletir a história Solano em seu tempo e a dos homens negros contemporâneos.
Ficha técnica:
Poesias: Solano Trindade
Direção Geral: Orlando Caldeira e Renato Farias
Roteiro: Renato Farias
Elenco: Adriano Torres, André Américo, Breno Ferreira, Drayson Menezzes, Eudes
Veloso, Jorge Oliveira, Leandro Cunha, Lucas Sampaio, Orlando Caldeira, Rodrigo
Átila e Thiago Hypólito
Direção Musical: André Muato
Direção de Movimento: Orlando Caldeira
Direção de Atores: Drayson Menezzes
Assistente de Direção: Thati Moreira
Direção de Arte: Raphael Elias
Assistente de Arte: Julia Marques
Figurino: Julia Marques
Idealização: Renato Farias
Produção: Saideira Produções
Realização: Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo
Classificação etária: 12 anos.

Orun Santana. Foto:  Amanda Pietra 

Dia 19/03 (sexta)

20h — Espetáculo Meia-noite – Orum Santana (PE)
A relação do bailarino Orun Santana com seu pai Mestre Meia Noite, nome artístico de Gilson Santana, movimenta o espetáculo Meia-Noite a partir da capoeira. Das memórias dos corpos, Orun foi buscar na performance solo do pai e mestre artístico, feita para o espetáculo Nordeste, do Balé Popular do Recife, a inspiração para a prática indentitária dos corpos políticos, ousados, buliçosos e inconformados.
Ficha técnica
Intérprete-criador e diretor: Orun Santana
Consultoria artística: Gabriela Santana e Janaina Gomes
Trilha Sonora: Vitor Maia
Iluminação: Natalie Revorêdo
Produção: Danilo Carias/Criativo Soluções
Cenografia: Victor Lima
Classificação etária: 10 anos

Agrinez Melo em Cordel do amor sem fim. Foto: Divulgação

Dia 20/11 (sábado)

20h — Espetáculo Cordel do Amor sem fim – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens do rio São Francisco, três irmãs convivem com suas diferenças – a misteriosa Madalena, a dissimulada Carminha e a jovem Tereza – por quem José é apaixonado. Mas a vida não é tão simples assim. Carminha sonha com José, que ama Tereza que nutre esperança da volta de Antônio, um viajante forasteiro. Nesse compasso de espera, a vida testa a paciência de cada um dos personagens.
Ficha técnica:
Texto: Claudia Barral
Encenação e Cenografia: Samuel Santos
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Atrizes e ator: Agrinez Melo, Roberta Marcina, Naná Sodré e Madson de Paula
Preparadora Vocal: Naná Sodré
Preparador de Canto: Diogo Lopes
Concepção de Figurino: Agrinez Melo
Diretor de Arte: Fernando Kehrle
Design de Luz: Samuel Santos
Operação de Luz: Samuel Santos
Sonoplastia, violão, Efeitos, instrumentos de bambu Didgeridoo: Diogo Lopes
Efeitos Percussivos: O elenco
Classificação etária: 12 anos

A boneca Ester manipulada pela atriz Odília Nunes . Foto Divulgação

Dia 21/03 (domingo)

10h — Espetáculo infantil Ester – Odília Nunes (PE)
* Com intérprete de libras.
A peça Ester é curtinha, mas chega como um afago aos nossos sentidos tão cansados. A boneca Ester tem apenas 18 centímetros de altura e o sentimento do mundo. Manipulada pela atriz Odília Nunes, a intervenção teatral se derrama em poesia. Do seu teatro portátil – uma caixa-teatro-realejo, Ester semeia esperanças, faz chover e colhe flor.
Ficha técnica:
Criação geral: Odília Nunes
Confecção da boneca: Genifer Guerard
Câmera: Fran Marinho
Classificação: livre.

A atriz Jhanaina Gomes segue em busca de sua ancestralidade

18h — Espetáculo Mi madre – Jhanaina Gomes (PE)
A artista Jhanaina Gomes foi buscar nas imagens e histórias narradas durante sua infância o material para o espetáculo solo de dança teatro. Dessa memória ancestral ela constrói uma partitura de mulheres fortes, mas feridas no percurso em tensão com a presença masculina e retraça uma convergência com seus próprios passos
Ficha técnica:
Produção executiva: Jhanaina Gomes, Arnaldo Rodrigues e Maria da Conceição
Direção, concepção, dramaturgia, cenografia e coreografia: Jhanaina Gomes
Intérprete: Jhanaina Gomes
Comunicação visual: Júnior Melo
Fotos: Morgana Narjara
Figurino: Aline Lohou
Iluminação: Dado Sodi
Classificação etária: 18 anos

Dia 22/03 (segunda)

9hOficina teatral – O Poste Soluções Luminosas (PE).
Atividade de formação artística que tem como objetivo inserir o participante no universo teatral, utilizando sua presença física e mental em estado de representação artística, buscando desenvolver técnicas e vivências para os atores/intérpretes dentro de uma dimensão transcultural.
Oficineiros: Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos
Carga Horária: 3 horas
Público-alvo: pessoas a partir dos 14 anos
Local: Plataforma digital
Vagas: 20
Inscrições: oposte.oposte@gmail.com

20h — Espetáculo de dança Sem Carnaval – Guerreiros do Passo (PE)
* Contará com intérprete de libras.
Concebido para homenagear foliões e foliãs que passaram este 2021 sem os festejos de Momo, o vídeo Sem Carnaval mostra uma reportagem sobre as ações desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas e Ações em Frevo Guerreiros do Passo. O coletivo atua há 15 anos no Recife, mantendo a metodologia do Mestre Nascimento do Passo.

Ficha técnica:
Passistas: Lucélia Albuquerque, Carlos Mascena (Limão), Laércio Olímpio, Valdemiro Neto e Jamerson Júnior.
Roteirização: Eduardo Araújo e Lucélia Albuquerque
Direção, captação de imagens e fotografia: Eduardo Araújo
Música: Suíte Nordestina (Maestro Duda)
*Reportagem da TV Globo exibida no carnaval de 2018, no programa Carnaval de Pernambuco.
Classificação: Livre

Dia 23/03 (terça)

19h — Espetáculo Faca – Grupo O tabuleiro de Teatro (PE)
Faca é um monólogo de Ingrid Martins, com relatos verídicos de mulheres que sofreram violência, psicológicas, sexuais, físicas, morais. É o primeiro espetáculo do grupo O Tabuleiro de Teatro
Ficha técnica:
Texto: Ingrid Martins
Atriz: Rizo Silva
Sonoridade: Carlinhos Aril
Iluminação: Leo Batista
Direção: Felipe Vidal
Produção: Grupo O tabuleiro de teatro
Classificação: 18 anos

20h — Espetáculo Histórias bordadas em mim – Doce Agri (PE)
sentada em um baú, a atriz conta histórias que viveu. Inspirada em uma pesquisa no griot (povo ancestral africano que passava conhecimento através da oralidade), ela alicerça sua narrativa em técnicas do teatro físico, valorizando a matriz ancestral africana através da energia do Orixás.
Ficha técnica:
Dramaturgia, direção e atuação: Agrinez Melo
Assessoria em Dramaturgia: Ana Paula Sá
Assessoria em Direção: Naná Sodré, Quiercles Santana e Samuel Santos
Concepção Musical: Talles Ribeiro
Execução da Sonoplastia: Talles Ribeiro
Assessoria em toadas: Maria Helena Sampaio (YaKêkêrê do Terreiro Ilê Oba Aganju Okoloyá)
Concepção Maquiagem: Vinicius Vieira
Concepção Figurino: Agrinez Melo
Execução Figurino: Agrinez Melo e Vilma Uchôa
Aderecista: Álcio Lins
Cenotécnico: Felipe Lopes
Designer: Talles Ribeiro
Filmagem do espetáculo na integra: I Pele Ti Odun
Classificação: 12 anos

24/11 (quarta)

18h30 — Palestra Ó pretos, nada de negócios de brancos!: sociabilidades, cultura e participação dos homens de cor no processo de fundação do Estado e da Nação. – Flávio Cabral (PE)
Flavio Cabral é historiador, doutor em História pela UFPE, professor de História da Graduação e do Programa de Pós-Graduação na Unicap. Dedica-se à História de Pernambuco e aos temas ligados à Formação do Estado Nacional. Publicou vários livros e artigos em revistas científicas nacionais e internacionais.
Classificação: Livre

25/03 (quinta)

18h30Oferenda — Recital de canto lírico – Anastácia Rodrigues (PE)
O recital é fruto de pesquisa, vivência e estudo que norteiam o trabalho da mezzosoprano recifense Anastácia Rodrigues. Um olhar de profundo respeito e pertencimento aos povos originários e africanos que deixaram um acervo vivo inestimável e que de alguma forma foi registrado, ou lembrado em partituras. A performance contará com a instrumentação inédita para este formato: Emerson Rodrigues no vibrafone, Sônia Guimarães no ilú.
Ficha técnica:
Canto, agbê: Anastácia Rodrigues
Xilofone, vibrafone: Emerson Rodrigues
Tambor de fala, ilú, motor d´água, maracá: Sonia Guimarães
Classificação: Livre

Espetáculo A Receita, com Naná Sodré. Foto: Thais Lima

19h — Espetáculo A Receita – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Uma mulher num processo de libertação. A anônima confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha… Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo explorando diversos pontos de vistas.
Ficha técnica:
Atuação e maquiagem: Nazaré Sodré
Autor, diretor, figurinista, sonoplasta e iluminador: Samuel Santos
Técnica em artes marciais: Mestre Sifu Manoel Ramos
Classificação: 18 anos

Naná Sodré e Agrinês Melo. Foto: Lucas Emanuel/Divulgação

26/03 (sexta)

20h — Espetáculo Ombela – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Ombela (a chuva) após cair resolve deixar duas gotas que se transformam em duas entidades. Essas Ombelas inventam rios e desdobram-se ao som do vento e a cada gota faz nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. A peça além de ser interpretada em português tem partes faladas e cantadas na língua africana de Angola, Umbundo.
Ficha técnica:
Texto: Manuel Rui
Encenação, cenografia e plano de luz : Samuel Santos
Desenho de cenografia. Douglas Duan
Atrizes: Agrinez Melo e Naná Sodré
Consultoria/Estudos em Antropologia: Daniele Perin Rocha Pitta
Composição de trilha sonora: Isaar França
Preparação musical: Surama Ramos
Preparação Dança do Jarro: Sylvya Olyveyra
Concepção de figurino e execução: Agrinez Melo
Contra- regra e Video Maker: Talles Ribeiro
Identidade Visual: Curinga Comuniquê e Vicente Simas
Plano de Maquiagem: Naná Sodré
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Classificação: 18 anos

Periferia quebra tudo, com jovens de Peixinhos, bairro do Recife. Foto. Thales Ribeiro / Divulgação

27/03 (sábado)

17h — Espetáculo Periferia quebra tudo – Jovens de Peixinhos (PE)
O espetáculo de dança Periferia Quebra Tudo é pautado pela experiência de quatro jovens pretos, periféricos, participantes de movimentos culturais desenvolvidas na comunidade de Peixinhos. Com coreografias de afro, afoxé, coco, passinho e brega funk, eles querem mostrar o que acontece na comunidade. As cenas foram gravadas no Nascedouro de Peixinhos.

Ficha técnica:
Bailarinos e coreógrafos: Fabilio Silva, Luana Vitória, Nandis Vasconcelos e Victor Vicente
Edição musical: Fabilio Silva
Agradecimentos: Balé Afro Raízes, Festival Luz Negra, Ioneide da Silva, Marcos Júnior, Paulo Queiroz e Projeto Artes da Gente -PJMP –JCC
Classificação: Livre

Espetáculo: Luiz Gama Foto: Vivian Fernández

20h — Espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade – MS Eventos (RJ)
Jornalista, poeta e advogado abolicionista, Luiz Gama libertou mais 500 escravos do cativeiro ilegal. É a sua biografia que é encenada na peça Luiz Gama: uma voz pela liberdade, que traça um paralelo entre as lutas de ontem e hoje contra as desigualdades.
Ficha técnica:
Dramaturgia: Deo Garcez
Direção, figurino e cenografia: Ricardo Torres
Elenco: Deo Garcez e Soraia Arnoni
Áudio de apresentação (voz): Milton Gonçalves
Trilha sonora: Deo Garcez e Ricardo Torres
Iluminador: Mário Seixas, Vinícius Gaspar e Alan Leite
Operador de luz: André Calazans
Técnico de som: Tom Rocha
Operador de som: Ricardo Torres
Produção: MS Events
Produção executiva: Alan de Jesus e Mário Seixas
Coprodução: Olhos D´Água e Nova Criativa
Programação Visual: Mário Seixas
Caracterização [barba]: Márcia Elias
Assessoria de imprensa: Alan de Jesus e Márcia Araújo
Fotos: Jean Yoshii, Vivian Fernández, Maurício Code e Valmyr Ferreira
Classificação indicativa: 12 anos

Ubuntu. Foto Leandro Lima

28/03 (domingo)

10h — Espetáculo Ubuntu: uma linda aventura na floresta afrobrasilândia infantil – São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções (PE)
A criação do mundo a partir do olhar africano. Entoada pelos sons, ritmos, cores, músicas e muito axé, a montagem apresenta duas lindas flores pretas, que vivem num colorido jardim na floresta Afrobrasilândia, mas que se questionam todos os dias porque suas cores não estão representadas no arco íris. E elas decidem desbravar toda floresta em busca da resposta.
Ficha técnica:
Inspirado na obra de Raul Loudy
Dramaturgia: Coletiva
Encenação: Anderson Leite.
Direção Musical: Helio Machado
Elenco: André Lourenço, Brunna Martins, Clau Barros, Halberys Morais e Monique Sampaio.
Músicos: Dinho Dumonte e Helio Machado.
Cenário: Anderson Leite
Figurino: André Lourenço
Mascareiro/Bonequeiro: Alex Apolônio
Iluminação: Anderson Leite
Adereços: Anderson Leite, André Lourenço.
Produção Cultural: Anderson Leite e Halberys Morais.
Produtora Executiva: Elis Hellen
Realização: São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções.
Classificação: Livre

18h — Espetáculo Transpassar | Coletivo Agridoce (PE)
Um conto sobre sonhos perdidos por causa da violência e do preconceito, sobre a solidão da mulher trans, e sobre os problemas sociais passados por esse corpo em transição, como ele é visto e marginalizado pela sociedade. Tudo pela perspectiva de uma garota que tem o sonho de ser tirada para dançar.

Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Sophia William
Colaboração dramatúrgica: Aurora Jamelo
Direção artística: Sophia William e Aurora Jamelo
Sonoplastia: Flávio Moraes
Desenho de luz: Natalie Revorêdo
Execução de luz: Nilo Pedrosa
Figurinos: Sophia William e Aurora Jamelo
Preparação de elenco: Sophia William
Preparação de voz: Flávio Moraes
Argumento: Sophia William
Visagismo: Aurora Jamelo
Social media: Nilo Pedrosa
Produtor técnico: Igor Cavalcante Moura
Fotos: Any Stone
Realização: Coletivo de dança-teatro Agridoce
Classificação: 12 anos

SERVIÇO:
Festival Luz Negra – O negro em estado de representação
De 18 a 28 de março, no perfil O Postes Soluções Luminosas, no YouTube (http://bit.ly/canaloposte)
Todas as ações serão gratuitas. Duas delas contarão com intérprete de libras e uma com audiodescrição.

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Grupos que mantêm sedes e atividades de formação sem perspectiva de apoio

Fiandeiros possui Escola há dez anos

Enquanto os trabalhadores da cultura de todo o país aguardam a votação da Lei de Emergência Cultural, os dias vão passando. Para os grupos e coletivos de artes cênicas pernambucanos, as incertezas e inseguranças são potencializadas pela falta de ação também nos âmbitos estadual e municipal. O cenário é de preocupação – com a subsistência desses trabalhadores e com a manutenção dos espaços físicos.

O Poste Soluções Luminosas, grupo de teatro negro, possui um espaço cultural desde 2014, no térreo do prédio na Rua da Aurora, esquina com a rua Princesa Isabel, no bairro da Boa Vista. Neste primeiro semestre, finalizaríamos a segunda fase do projeto Música no Espaço O Poste e começaríamos a terceira edição do projeto Escola O Poste de Antropologia Teatral.  Tivemos que suspender toda a agenda de shows, assim como a continuidade dos processos que envolvem a produção da Escola”, explica Naná Sodré, atriz, diretora e produtora do grupo. “Sim, há risco de fechamento, pois quando ocorre a interrupção dessas atividades que são fundamentais para a manutenção, não temos como prosseguir”, avalia.

A Cênicas Companhia de Repertório inaugurou o Espaço Cênicas em 2010, no segundo andar de um prédio na Rua Vigário Tenório, no Recife Antigo. “Quem possui um espaço cultural sem patrocínio público ou privado neste país convive permanentemente com o risco de fechamento. Agora, com o agravamento desta pandemia, esse risco se torna ainda mais iminente. A nossa receita caiu praticamente mais de 80%. Só temos uma turma de alunos ativa e as despesas mensais continuam. Nossa receita vem dos cursos e atividades artísticas do espaço e a nossa reserva financeira já está no limite”, explica Antônio Rodrigues, diretor do grupo.

Diante da fragilidade das políticas públicas – o que nunca foi novidade para a classe artística, mas se acentuou com a pandemia -, os enredos são bem parecidos. O grupo Fiandeiros se preparava para comemorar os 10 anos da Escola Fiandeiros, que funciona no prédio na Rua da Matriz, na Boa Vista, e serve também como sede e espaço cultural. “Os impactos já são enormes. O Espaço é nossa principal fonte de arrecadação e, ao mesmo tempo, a nossa principal fonte de despesas. Interrompemos abruptamente a arrecadação, mas as despesas continuaram as mesmas mesmo com ele fechado. Nosso sustento enquanto grupo e, principalmente, enquanto Espaço, depende da renda que vem dos cursos, dos espetáculos e das atividades que geramos nele. A outra fonte de receitas, que viria da venda de espetáculos, temporadas, e tudo mais, está completamente parada. Estamos, ao final desses dois meses, tentando administrar um cronograma financeiro com muito esforço, vindo das ações remotas, que possa ao menos permitir a subsistência do Espaço pelo tempo que der”, avalia Daniela Travassos, atriz e diretora do grupo Fiandeiros.

Os Espaços O Poste Soluções Luminosas, Cênicas e Fiandeiros possuem uma característica significativa em comum: os três também são locais para formação e atividades pedagógicas. No caso da Cênicas e da Fiandeiros, algumas turmas prosseguiram no formato online. “A Turma do Curso de Teatro Cênicas Cia 2020 estava praticamente fechada, deveria ter iniciado no final de março, porém com a quarentena instalada, as aulas foram adiadas por tempo indeterminado, juntamente com o Curso Dramaturgia do Ator. Atualmente, estamos com uma única turma de teatro ativa, que já tinha iniciado as aulas em 2019. O Curso de Iniciação Musical para o Teatro está acontecendo com aulas online, duas vezes por semana, com duração de três horas diárias”, conta Rodrigues.

Aula virtual da Cênicas Cia de Repertório

Na Escola Fiandeiros, quatro turmas estão com aulas pela internet. “Adaptamos todos os planejamentos, revimos conteúdos para serem repassados remotamente e estamos, aos poucos, inserindo a corporalidade, o treinamento vocal e o exercício da interpretação experimentado à distância. Estamos nos surpreendendo com o resultado e com o envolvimento dos alunos, embora saibamos que falta o essencial, que é a presença. Mas, talvez, a realidade imposta e a necessidade da troca estejam aquecendo essa relação que acreditamos que fosse ser fria a princípio. Perdas existem. Teatro é coletividade, é troca, é presença. Mas também é reinvenção. É adaptação aos momentos e às tecnologias existentes”, avalia Daniela Travassos.

No Poste, ainda estão abertas as inscrições para a Escola de Antropologia Teatral. As aulas desta terceira turma do programa, que tem como incentivadores Eugenio Barba e Julia Varley, deveriam ter começado no dia 2 de abril. O grupo aderiu às lives para a divulgação da campanha “Apoie o Espaço O Poste, não deixe fechar!”, que está com link no Catarse.

Eugenio Barba e Julia Varley, em visita ao Espaço O Poste

Cênicas e Fiandeiros ainda não fizeram campanhas de arrecadação, mas não excluem a ideia. Afinal, não há nenhuma expectativa para um suporte governamental, seja para artistas, grupos ou espaços. Para Daniela Travassos, “quando não há uma política estruturada para uma classe, fica difícil até atuar em cenários de urgência. Agora, o que tem são alguns artistas aguerridos lutando e falando por uma classe inteira, tentando achar uma maneira de dividir migalhas entre todos, porque o governo até agora acha que manter os editais já é o suficiente. Nós seguimos fazendo o que podemos: contribuindo para as discussões, inscrevendo em todos os editais possíveis, investindo grana pessoal, trabalhando em prol do nosso Espaço, que é da cidade e das pessoas, investindo na formação e tentando manter as ações que podemos”.

Para saber mais sobre as ações dos grupos, siga os espaços e companhias na rede:

@oposteoficial

@fiandeirosdeteatro

@espacocenicas | @cenicascia

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Mostra de Mulheres Pretas discute visibilidade

Aline Gomes performa Mãe Maria. Foto: Shilton Araújo

Nesta quinta-feira, 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18, O Poste Soluções Luminosas abre a programação de uma iniciativa fundamental: a PretAção – I Mostra de Mulheres Pretas.

A invisibilidade da mulher negra é um dos muitos reflexos do racismo institucional. Quando pensamos no contexto da arte, essa realidade não é diferente. Talvez por isso, os trabalhos que compõem a PretAção tratem sobre representatividade, o enfrentamento cotidiano do preconceito e de todas as formas de violência sofridas pelas mulheres negras.

“Queremos visibilizar todas essas artistas que estão participando da primeira edição da PretAção, visibilizar as que vieram antes de nós e, inclusive, quem vem depois, como Eloísa, minha filha, que tem só dois anos. A gente quer deixar esse espaço de representatividade, esse lugar de fala, para que outas pretas, as que estão vindo, as que vão chegar, possam assumir esse lugar. E que o discurso não seja de resistência, mas de existência”, afirma Agrinez Melo, uma das idealizadoras da ação, que não conta com nenhum apoio governamental.

Muitos dos espetáculos e performances transitam pelo documental, pelo autobiográfico, como é o caso de Mi Madre, de Jhanaína Gomes, que traça relações entre a sua história e as histórias de mulheres da sua família, explicitando uma relação de tensão entre a presença masculina e feminina. Ou do solo da própria Agrinez Melo, Histórias Bordadas em Mim, um convite para um chá e para ouvir sobre a trajetória da atriz.

Na PretAção, essas mulheres pretas, artistas, são protagonistas das próprias narrativas. “Os quatro espetáculos falam de nós mesmas, das nossas experiências, das novas vivências ressignificadas. Ressignificar é uma palavra forte neste momento. A partir das nossas vivências, falamos de várias questões, como empoderamento, a reafirmação da mulher negra na sociedade e da artista negra nesse espaço, questionar o porquê dessa invisibilidade”, comenta Agrinez. Para a atriz, a mostra é também um espaço de irmandade. “É uma mostra de comemoração, que festeja o nosso encontro, a nossa união. E nada melhor do que essa data, que nos representa”.

A programação montada por Agrinez e Naná Sodré, ambas do grupo O Poste Soluções Luminosas – um espaço de referência e resistência do teatro negro em Pernambuco e no Brasil –, em parceria com várias artistas, inclui espetáculos, performances e rodas de diálogos.

A programação vai até o próximo domingo (28), no O Poste Soluções Luminosas (Rua da Aurora, 529, Boa Vista). Os ingressos custam R$ 15 + 1 quilo de alimento não perecível ou R$ 20. Os alimentos arrecadados serão doados a instituições que trabalham com o empoderamento da mulher negra e contra a violência.  

Agrinez Melo no solo Histórias Bordadas em Mim. Foto: Fernando Azevedo

Programação:

25 de julho (quinta-feira), às 18h
Abertura PretAção – I Mostra de Mulheres Pretas
Onde:  Ao ar livre, no entorno do Espaço O Poste
Performance de abertura com Camila Mendes (Nós), Jhanaína Gomes (Mi Madre), Yasmmyn Nejaim (poesia) e Odailta Alves (poesia).

26 de julho (sexta-feira)
Onde: Espaço O Poste Soluções Luminosas
19h: A Receita
Sinopse: Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo, que traz uma personagem no seu processo limite. A dramaturgia é de Samuel Santos. Atuação: Naná Sodré
20h: Performances Mãe Maria, De Corpo e Dandara
Sinopses:
Mãe Maria: A personagem Mãe Maria nasceu dentro do espetáculo O Mensageiro, a partir da necessidade da atriz, dançarina e pesquisadora Aline Gomes de trazer à cena a condição feminina no início do século XX na Região Metropolitana do Recife. Atuação: Aline Gomes
De Corpo: Resgata a exposição das maranhas ancestrais que percorrem o corpo feminino. Dos fios que cercam de chagas nativas e genéticas a vivência da pele negra. Narra em movimentos o grito do pulso, da pausa, da prosa, da carne, da víscera, da dor e da beleza da mulher preta. Atuação: Brunna Martins
Dandara: Inspirada na heroína Dandara, que lutou ao lado de homens e mulheres nas muitas batalhas e ataques a Palmares, a atriz Érika Nery nos mostra sua força, fé e ancestralidade traduzida em arte. Atuação: Érika Nery
20h30: Roda de Diálogo com as performers

Dandara. Foto: Fernando Azevedo

27 de julho (sábado)
Onde: Espaço O Poste Soluções Luminosas
17h: Mi Madre
Sinopse: Inspirada por imagens e histórias contadas durante seu período de infância, Jhanaína Gomes remonta memórias de suas antepassadas alinhavando pontos de convergência entre sua própria história e a de suas matriarcas, tecendo uma correlação de tensão entre a presença masculina e o feminino ferido no percurso da vida dessas mulheres. Atuação: Jhanaína Gomes
18h15: Performances Kami** e Nada Mais me Deixará Calada
Sinopses:
Kami**: Traz à tona o corpo presente e potente da mulher. Construída a partir de técnicas utilizadas no Teatro Antropológico, das referências dos orixás Oxum e Iansã, e de elementos da natureza, mostra de forma muito simples, coesa e poética, que as mulheres querem liberdade. Atuação: Camila Mendes
Nada Mais me Deixará Calada: Durante sua jornada, enfrentando o processo de aceitação, a mulher negra se depara sempre com a solidão. Entretanto, em um momento crucial, ela acaba descobrindo que toda sua essência foi posta em segundo plano, e depois de ser enganada, maquiada e sexualizada, ela se rebela, mostrando que não irá aguentar mais nada e nem ficará mais calada. Atuação: Yasmmyn Nejaim
19h: Histórias Bordadas em Mim
Sinopse: Uma atriz, um baú, uma borboleta e uma conversa…é assim que se inicia Histórias Bordadas em Mim. Um convite para um chá, acompanhado de tareco e pão doce, e assim vão se alinhavando as histórias reais, vividas pela atriz em diversos momentos de sua vida. Atuação: Agrinez Melo
20h: Roda de Diálogo com as performers

28 de julho (domingo)
18h: Ombela
Sinopse: Ombela é uma palavra africana na língua Umbundo angolana, que em português significa “chuva”. É através da sacralidade da água que o espetáculo se desvela ao público; do elemento físico, Ombela se transforma em duas entidades que ganham corpo e voz. Atuação: Agrinez Melo e Naná Sodré.
19h10: Roda de Diálogo com as performers e encerramento da mostra

Ingressos: R$15,00 + 1kg de alimento não perecível ou R$20,00, sem o alimento.

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Marcas do passado escravocrata

Espetáculo A Última Cólera no Corpo de Meu Negro

Espetáculo A Última Cólera no Corpo de Meu Negro

Raphael Gustavo, autor e intérprete de A Última Cólera no Corpo de Meu Negro, expõe o racismo da sociedade brasileira e enfoca as tensões entre casa grande e senzala com os elementos de sexualidade e religiosidade. Nessa história situada no século 19, o protagonista Bastião trava uma luta, um jogo de humilhações com outro ser humano. Amor, ódio e perversidade fazem uma trama de segredos e prisões que o tempo irá cobrar.

O espetáculo faz apresentações neste sábado e domingo, na sede do Poste. A Cia Experimental de Teatro, de Vitória de Santo Antão, interior de Pernambuco, desenvolve há quase uma década trabalhos com a questão da herança afrodescendente. Em A Última Cólera no Corpo de Meu Negro a montagem contou com a colaboração dos artistas d’O Poste Soluções Luminosas, Samuel Santos e Naná Sodré, que também investigam o universo da cultura negra para combater o preconceito. 

Ficha técnica
Texto: Raphael Gustavo
Direção: César Leão
Preparação Corporal: Cleiton Santiago
Preparação De Ator: O Poste- Soluções Luminosas (Samuel Santos, Naná Sodré)
Sonoplastia: Fabiano Falcão
Cartazes: Ian de Andrade
Fotos: Lucivânio Moura

SERVIÇO
A Última Cólera no Corpo de Meu Negro, com a Cia Experimental de Teatro
Onde: Espaço O Poste- Rua da Aurora- 529- Boa Vista
Quando: Sábado, 11/03, às 20h e domingo, 12/03, às 19h
Quanto: R$ 20

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