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HUB PE Criativo
Dossiê Aldeia do Velho Chico 2022
#3

Samba de Veio da Ilha do Massangano. Foto: Fernando Pereira / Divulgação

Maracatu Beira Rio. Foto: Fernando Pereira / Divulgação

Junina Renascer do Sertão. Foto: Fernando Pereira / Divulgação

Rudimar Constâncio, gerente de Cultura Regional do Sesc PE . Foto: André Amorim / Divulgação

Rita Marize, gestora do SescPE. Foto: André Amorim Divulgação

Diretor regional do Sesc Pernambuco, Oswaldo Ramos. Foto: André Amorim / Divulgação

Nas conversas durante o festival, muito se ouvia falar em HUB Criativo. Será algum aplicativo ou código de Internet? Parece com aquelas siglas de hospedagem de turismo.

Mas não é nada disso.

Projeto articulado pelo Sistema Fecomércio, através do Sesc Pernambuco e do Sebrae, o HUB PE Criativo é uma iniciativa que tem por objetivo “promover o desenvolvimento social e econômico de regiões do estado de Pernambuco, tendo a cultura como principal condutora desse processo”, explica Rudimar Constâncio, gerente de Cultura Regional do Sesc PE.

A Aldeia do Velho Chico foi escolhida para as primeiras ações do programa. “Consideramos a cultura como o grande vetor para impulsionar o desenvolvimento dos territórios, promover outras dinâmicas na economia”, advoga o diretor regional do Sesc Pernambuco, Oswaldo Ramos. “É muito importante a absorção da Aldeia, como evento tradicional, nesse engajamento coletivo. É uma sinergia para fortalecer o processo”, pensa. “Cultura faz as conexões dos ecossistemas, o Sesc faz a mediação dessa cadeia produtiva da arte e o HUB vai qualificar as pessoas e como desdobramento pensar a sustentabilidade. Somando expertises será possível beneficiar outros setores tradicionais, a cultura de tradição, a rede de apoio, a cadeia de turismo, a formação etc…”, defende.

A primeira ação do HUB Criativo PE ocorreu justamente em Petrolina, com a 18ª edição da Aldeia do Velho Chico e ocupou diversos espaços da cidade durante o período. #aldeiaemretomada.

A proposta é que o processo aconteça até junho de 2023. Rudimar Constâncio conta que estão previstas muitas ações, entre elas, 80 cursos presenciais e online, 45 palestras, sete Encontros de Negócios Criativos, sete mostras e festivais culturais, seis feiras criativas, quatro desfiles de moda com foco na criação artística, cinco exposições artístico-cultural, cinco roteiros para o desenvolvimento do Turismo Criativo, criação de sete museus orgânicos e aproximadamente quatro mil atendimentos a pequenos negócios e empreendedores.

“A ideia é unir a questão da economia criativa com o empoderamento dos artistas do brinquedo”, situa Rudimar. Em Nova Olinda, no Ceará, por exemplo, existem mais de 20 museus orgânicos, onde os mestres falam dos seus brinquedos. “É turismo de experiência”, se anima, numa parceria para os Museus Orgânicos, do Sesc com a Fundação Casa Grande, “que ressignifica as casas dos Mestres, transformando-as em lugares de memória afetiva com possibilidade de visitação e movimento do turismo local”.

Entusiasta do HUB PE Criativo, a gestora do Sesc Rita Marize diz que é um abraço que a cidade dá nos seus artistas, na busca de qualificar ainda mais. “Cada um pode viver melhor através da cultura”, pensa.

Essas atividades estão inseridas em oito grandes programas culturais, articuladas para ocorrerem em sete cidades do Grande Recife, Zona da Mata Norte, Agreste e Sertão. São elas: Petrolina, com Aldeia do Velho Chico; Jaboatão dos Guararapes, com Aldeia Yapoatã; Recife; com Transborda as linguagens de cena; Triunfo, com Festival Dona Marias; Arcoverde, com Festival de Economia Criativa na Pisada dos Cocos NE; Goiana, com Festival de Economia Criativa Brincantes da Mata Norte; e Garanhuns, com Mostra Marco Freitas e Webinário de Economia Criativa, Inovação e Tecnologias. Juntos, vão trabalhar os eixos de fruição, fomento, gestão, pesquisa, formação. Além de empreendedorismo conduzido pelo Sebrae.

Essa rede de projetos de economia criativa está em sintonia com o que essas instituições consideram como modelos inovadores para transformação socioeconômica dos territórios a partir das culturas locais. “O Hub é fruto de nosso entendimento da relevância do setor cultural para a sociedade. Buscamos fortalecer esse campo, e nossa meta é qualificar a malha criativa e robustecer os territórios onde estão inseridas”, arremata Oswaldo Ramos.

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Fluxos do Rio São Francisco
Dossiê Aldeia do Velho Chico 2022
#1

Junina Renascer do Sertão. Foto André Amorim / Divulgação

Marujada. Foto André Amorim / Divulgação

 Jailson Lima,  Thom Galiano, Galiana Brasil, André Vitor Brandão e Rita Marize na abertura da Aldeia do Velho Chico. Foto André Amorim / Divulgação

Reisado da Mata de São José. Foto André Amorim / Divulgação

Samba de Véio da Ilha do Massangano. Foto André Amorim / Divulgação

A Aldeia do Velho Chico instala /propõe / produz experiências para ficar viva na memória. Pelo espírito de celebração, por tudo que transborda do Rio São Francisco transformada em arte expandida, pela beleza captada de relance nas coisas simples, pelos momentos revigorantes, inspiradores e a convivência com os humanos com tudo que cabe nessa palavra nas múltiplas camadas. É aprendizado concentrado / na veia.

Realizado pelo Sesc de Petrolina, esse Festival de Artes do Vale do São Francisco, a Aldeia do Velho Chico alcançou a maioridade neste 2022. Em sua 18ª edição, essa jovem chegou sedenta de encontros, de confluência qualificada. A prática curatorial acionou a ideia de “retomada”. Depois da gravidade da pandemia e dos estragos do pandemônio, a vida em potência urge como ação, atuação, ato político e poético.

Assim se fez. Assim se vai fazendo.

Ser o que se é amplia o ato político e poético. A organização do festival articula o sentido de retomada de territórios e das identidades, que são coisas muito complexas, mas que podem estar refletidas até em gestos cotidianos. Projetado na programação.

A inclusão de artistas da cidade na equipe de produção, com a contratação de bailarinos e atores da cena petrolinense e de seus arredores, assegura uma renda para o pessoal. É prática constante dos gestores da unidade Sesc Petrolina, como braço de apoio aos artistas. Os exercícios utópicos estão antenados com as pautas afirmativas e levam para a roda questões dos pretos, das mulheres, das trans, contra a violência prioritária contra esses grupos.

A ação cultural ocorreu de 19 a 28 de agosto, em Petrolina, um município do estado de Pernambuco, distante da capital, Recife, cerca de 750 km, o que equivale a cerca de 12 horas de carro. A viagem de avião São Paulo-Petrolina dura 2h40, duração de voo menor do que para o Recife.

A cidade

Petrolina abriga uma população estimada em 350 mil habitantes. A cidade faz divisa com o município de Juazeiro (BA) e ambas são banhadas pelo Rio São Francisco. “Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina”, diz o refrão da música Petrolina-Juazeiro, de autoria de Jorge de Altinho, composta há mais de 40 anos e que até hoje embala os corações dos seus habitantes.

Essa foi a primeira vez que visitei Petrolina, apesar de já ter pisado em várias outras cidades do Sertão Pernambucano.

Sempre me disseram que Petrolina é uma cidade rica. São bem faladas suas vinícolas irrigadas pelas águas do São Francisco e indústrias de produção de vinho. Em um dos  dias do festival fui em comitiva percorrer uma vinícola, uma portuguesa. Quando um técnico da empesa disse que seus patrões portugueses estavam no Brasil há 18 anos, alguém de rápido raciocínio perguntou: “Só?!!!” Ai ai ai ai ai ai humor pernambucano. Certeiro, cortante.

O clima semiárido quente petrolinense cedeu espaço para os ventos e temperaturas mais frias nesses dias de agosto do festival, coisa que até os nativos estranharam.  O mundo está estranho e os efeitos do Antropoceno chegam aos quatro cantos do planeta.

A cidade orgulha-se das esculturas de Ana das Carrancas (1923 – 2008) e de outros rebentos artesãos. São comentadas suas frutas de exportação. São conhecidos os políticos antiquados (provincianos), de perfil oligárquico, com a família Coelho dando as cartas há mais de sete décadas.  

Na contracorrente da práxis do privilégio para poucos, resvala uma atmosfera libertária que contagia as corpas de artistas, gestores, fazedores e cidadãos da cultura ribeirinhes.  

Muitos flashes no decorrer dessas jornadas reforçam esse entendimento de que a Aldeia trabalha esse território em sintonia com as lutas e os avanços das chamadas pautas afirmativas, ou seja a busca por respeito, dignidade e protagonismo das pessoas que sempre estiveram alijadas desse processo: população negra, trans, LGBTQIA+, pobres e outros.

Exemplos felizes desses reconhecimentos foram vistos no desfile de abertura do festival, entre muitas cenas, a de um jovem de 16 anos que fazia malabarismos como a baliza desafiando os costumes obsoletos. Ou as funções de lideranças ocupadas por pessoas que geram representatividade, transformando o lugar que poderia ser de medo num espaço de vida.

Isso não é pouco. As ações para valorizar as manifestações tradicionais. Ou a valorização dos artistas da região, que permite criar uma sustentação de carreiras artísticas. Movimenta as bases do contexto social.

Rapaz da baliza, no desfile da Banda M Poeta C Drummond – Foto Andre Amorim / Divulgação

Ciel no Gogo. Foto Fernando Pereira / Divulgação

Ciel Foto Fernando Pereira / Divulgação

Fazendo um arco desse espírito de liberdade do início com o fechamento da programação destaco a atuação compositor, ator, bailarino e cantor de timbre raro Ciel dos Santos. Contratenor, ele solta a voz na tessitura feminina e seu canto vai do contralto ao mezzo soprano, o que alguns chamam de uma voz andrógina.

Ciel mistura um som nordestino com ritmos latinos, coco, afoxé, música de matriz africana, umas pitadas de jazz, outras sonoridades e com uma saia minúscula, músculos à mostra, batom e purpurina “joga fora no lixo” qualquer espécie de caretice. E performa uma liberdade que atravessa suas vivências rurais e contagia em grau avançado xs espectadores que se afinam com suas experiências. Ele tem atitude, representatividade.  

São contraditórios os cenários das cidades brasileiras. A partir dos paradoxos, percebo que a Aldeia do Velho Chico funciona como microcosmo experimental onde a cultura é regada como prioridade tanto na perspectiva do desenvolvimento econômico quanto da valorização humana.

Aldeia do Velho Chico

Produzida pelo Sesc de Petrolina, a Aldeia do Velho Chico foi concebida em 2005 pela então professora de artes visuais do Sesc Edneide Torres, pelo atual diretor do Sesc Petrolina Jailson Lima, pela gestora Galiana Brasil (agora no Itaú Cultural, mas à época no Sesc PE) e pelo artista Thom Galiano. Inspirado no fluxo do rio e suas reverberações, navegam no festival múltiplas linguagens. Seus criadores mantêm forte ligação com o festival e algum grau de ingerência na programação.

Com perspectiva multicultural, a Aldeia é um desdobramento do Palco Giratório, um projeto de circulação das artes cênicas, que foi reduzido nos últimos anos, mas tem muita importância para a área.

Na rota do festival está valorização da cultura de Petrolina, principalmente. E a ativação do senso de pertencimento na ocupação de territórios. Na execução isso se reflete num programa que considere os trabalhadores da cultura da região e revigore os intercâmbios entre criadores que atuam nos interiores do Nordeste. Sentir-se inserido e aceito faz parte do processo.

Cortejo Abre Alas Pro Velho Chico. Foto Fernando Pereira / Divulgação

Maracatu Beira Rio. Foto Fernando Pereira / Divulgação

Banda Marcial Osa Santana. Foto Fernando Pereira Divulgação

Junina Renascer do Sertão. Foto Fernando Pereira / Divulgação

Marujada. Foto André Amorim / Divulgação

Galiana Brasil, Jailson Lima, Ana Dias, Oswaldo e Rudimar no Cortejo Abre Alas Pro Velho Chico. Foto Fernando Pereira / Divulgação

Desfile e Apresentações Palco Porta do Rio

Desde o primeiro dia da Aldeia do Velho Chico, um fim de tarde da sexta-feira 19 de agosto de 2022, a pisada seguia coesa à reconquista de identidades negro-indígenas. Sejam nas coreografias das quadrilhas juninas Buscapé, de Juazeiro e Renascer do Sertão, de Petrolina, que fizeram o esquente em frente ao Sesc Petrolina.

Ou nas apresentações no palco Porta do Rio do Reisado da Mata de São José (Orocó/PE), Reisado do Lambedor (Lagoa Grande/PE), Os Kongos (Sento Sé/BA), Marujada (Curaçá/BA) e Samba de Véio da Ilha do Massangano (Petrolina/PE).

Em cada passo, em cada gesto, nos cantos, palmas, partituras coreográficas, jogos de corpo eram reveladas constelação de lutas, orações e celebrações; a ancestralidade atravessada e manifesta, suas memórias de resistência, suas rotas de vivências negras e indígenas no Sertão do São Francisco.

Reisado do Lambedor na apresentação de abertura, no Palco Porta do Rio. Foto Fernando Pereira / Divulgação

O Reisado do Lambedor, da Comunidade Quilombola do Lambedor, localizada na zona rural de Lagoa Grande, por exemplo, tem quase 300 anos de tradição. Seus integrantes contam que Isaac Borges, um negro escravizado que fugiu das terras em que era explorado, no interior baiano, foi um dos fundadores da comunidade. O filho de Isaac, o líder quilombola José Borges formou a brincadeira do Reisado do Lambedor. Tornou-se uma das manifestações culturais mais tradicionais do Vale do São Francisco.  

No dia seguinte conhecemos um pouco mais da Comunidade Quilombola do Lambedor. Lá na comunidade, entre mugidos de bezerros, bodejar de bodes, os integrantes do Lambedor expõem suas lutas e desafios. Da sobrevivência do grupo à valorização do brinquedo para as novas gerações. Generosamente compartilham seus cânticos e danças, e oferecem uma mesa farta de alimentos que produzem no local.

Da abertura ao fechamento, muitas águas correram por baixo da ponte. O início estava carregado de uma ansiedade indisfarçável, a volta do evento à presencialidade. O Cortejo Abre-Alas para o Velho Chico com Bonecos Gigantes Zé Pereira e Vitalina, de Belém de São Francisco, e os petrolinenses Frevuca, Maracatu Beira Rio e Banda Marcial Osa Santana tomaram as ruas.

Esse ocupar as ruas tem também um sentido de resguardar corpas em festas pela vida, pela alegria e pela esperança.

Antes de chegar à beira do rio para as saudações, inalamos o cheiro do acarajé, atravessamos as bandeiras tremulando dos candidatos políticos locais a cargos elegíveis e flagrei olhares desatentos de uns, curiosos de outros e desejosos daqueles ainda “presos” às rotinas de trabalho.

O gerente do Sesc Petrolina, Jailson Lima enfatiza que o cortejo anuncia, vibrando, ao comércio que o Sesc produz cultura. “Chegue junto. Estamos há 18 anos celebrando a produção da cidade, independente do gosto”, assinala. “A tradição tem uma influência muito grande na produção cênica”, diz ele para mencionar ou assinalar que “aposta na produção daqui que não é visibilizada. Buscamos trazer o Rio em diálogo com a cidade. Olhar o contexto”, indica.

 

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Um minuto para dizer que te amo emociona

Elenco de Um Minuto pra dizer que te amo. Foto: Divulgação

Elenco de Um Minuto pra dizer que te amo: Lucas Ferr, Célia Regina, Carlos Lira e Vanise Souza. Foto: Divulgação

Há muitas formas de abraçar o espetáculo Um minuto para dizer que te amo, produção do pernambucano Matraca Grupo de Teatro, do Sesc Piedade. E analisar. A montagem vem de uma trajetória notável de reconhecimento do público e de seus pares. Carrega no currículo seis prêmios do Janeiro de Grandes Espetáculos deste ano (Melhor Diretor: Rudimar Constâncio; Melhor Atriz: Célia Regina Rodrigues Siqueira; Melhor Atriz Coadjuvante Vanise Souza; Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora: Samuel Lira; Melhor Iluminação: João Guilherme de Paula e Melhor Maquiagem: Vinicius Vieira.

Bem, o Prêmio Apacepe é a principal premiação na área do teatro pernambucano (outro dia me sugeriram que o Yolanda criasse uma premiação) e parece-me ser importante para a classe como instância de distinção. Não vou me ater aos procedimentos específicos de escolhas do Prêmio Apacepe que, talvez, mereçam uma outra reflexão.

A recepção dos pares ao espetáculo Um minuto para dizer que te amo é recheada de adjetivos, que tentarei evitar. A peça tematiza uma doença incurável, o Alzheimer, que atinge 15 milhões de pessoas em todo mundo. Quando ela chega muda a vida. Mas mesmo quem não tem um parente ou amigo que sofra do Mal de Alzheimer pode ser tocado pela encenação, que foi trabalhada na direção de emocionar o público.

Em cenas alternadas acompanhamos a relação de um homem velho com o seu filho e de uma mulher e sua cuidadora, separados pela doença. Amélia tenta resgatar os fios das lembranças da mãe de Lúcio.

A montagem de Rudimar Constâncio chama para camadas do real na interpretação. Mas busca outras expressões para alardear fantasmas e materializar labirintos de seres deslocados de sua memória.

A peça amplifica as fragilidades humanas. E isso é explorado com maestria pela encenação. Os canais de comunicação trazem sentimentalismo caro a todos nós. Ninguém é pleno de sua existência. Até os mais poderosos não podem prever com certeza o que irá ocorrer com seu corpo ou seu futuro.

Esse sentimento, meio esquecido, de finitude, é convocado na construção da peça e isso causa efeitos na plateia. Ver o declínio das funções cognitivas dos personagens e o impacto disso na cena pode atinge os nervos da plateia.

Um minuto para dizer que te amo merece uma análise mais detalhada – e espero que a encenação tenha uma vida longa – mas por ora digo algumas palavras sobre o elenco.

A composição de Célia Regina Siqueira para a personagem da velha é convincente e comovente. Nos gestos e andar, na fala, nos gritos, nas atitudes pueris ou nas vontades cheias de si. É uma interpretação para se aplaudir de pé. Existe possibilidade de identificação do espectador com aquela figura.

Carlos Lira também se supera no personagem do pai deslocado de sua própria história de vida. É um grande ator pernambucano e tem uma atuação tocante, com nuances de leveza e olhares perdidos. Seus deslocamentos falam com todos os sentidos da ameaçadora solidão. Vanise Souza faz uma cuidadora entre amorosa e enérgica. Também estão na peça Edes di Oliveira, Douglas Duan e Lucas Ferr.

O texto de Luiz Navarro e dramaturgismo de Moisés Monteiro de Melo Neto compõem esse mosaico afetivo. Mas tem falas que atritam o ouvido (ou a minha sensibilidade) quando fazem uso de frases feitas depois da exibição de uma potente malha poética. A música ao vivo é executada e cantada pelos atores. O cenário de Séphora Silva trabalha com uma simbologia de esconder e descortinar, que dá margem para uma viagem lúdica pelo tempo da memória. A maquiagem/ caracterização de Vinicius Vieira ganha uma importância grande nessa peça, já que se torna pele e alma dos atores.

O que se deve esquecer? Ali no palco, recordações perdidas se embaralham com memórias impossíveis de se deslembrar e também com lembranças inventadas. É uma visão da vida no seu ocaso, das perdas de si mesmo e da certeza que o ser humano – apesar de toda arrogância – é muito pequeno diante do Universo.

Ficha Técnica:
Texto: Luiz de Lima Navarro
Encenação: Rudimar Constâncio
Elenco: Carlos Lira, Célia Regina Rodrigues Siqueira, Vanise Souza, Edes di Oliveira, Douglas Duan e Lucas Ferr
Dramaturgia e cenas adicionais: Moisés Monteiro de Melo Neto
Assistente de direção e partitura do ator: Sandra Possani
Partitura do corpo: Paulo Henrique Ferreira
Partitura da voz do ator: Leila Freitas
Direção musical, músicas originais e arranjos: Samuel Lira
Cenografia, figurinos e adereços: Séphora Silva
Maquiagem e visagismo: Vinicius Vieira
Projeto de luz e execução: João Guilherme de Paula
Programação visual: Claudio Lira
Orientação da pesquisa e organização do programa: Rudimar Constâncio
Revisão dos textos: Acrimôri Araújo
Cenotécnico e contrarregra: Elias Vilar
Execução de cenário, adereços e figurinos: Manuel Carlos
Pintura da malha do espectro: Altino Francisco
Costureiras: Helena Beltrão, Irani Galdino e Ana Paula Tavares
Serralheiro: Israel Galdino
Direção de produção: Ana Júlia
Direção geral: Rudimar Constâncio
Realização: Grupo Matraca de Teatro/Sesc Piedade

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Angelicus Prostitutus vai ao shopping dos endinheirados

 

 Angelicus Prostitutus. Foto: Ivana Moura

Marcelino Dias e Lucrécia Forcioni em Angelicus Prostitutus. Fotos: Ivana Moura

A hipocrisia é uma praga. Os humanos se vendem por cargos, ascensão social, sexo e dão um jeitinho de legitimar suas ações degradantes. Com visual colorido, Angelicus Prostitutus amplia a escala dessas corrupções para provocar cócegas na plateia. A peça detona seu arsenal de comicidade em 3 de fevereiro, no Teatro RioMar (shopping recifense dos endinheirados).

Na peça, o cidadão comum Angelicus – quando recebe uma pressão a mais da vida – mata, rouba e mente. Vai a julgamento, mas os juízes são mais confiáveis: Nossa Senhora e Demônio. Humor na veia extraído do jogo teatral que provoca o riso crítico.                                                                                                                                                                                                            100 palavras

Angelicus Foto: Ivana Moura

Célia Regina observa performance de Nossa Senhora (Mauricio Azevedo) e do Demônio (Douglas Duan)

Angelicus Foto: Ivana Moura

Carlos Lira no papel do Padre na peça dirigida por Rudimar Constâncio

FICHA TÉCNICA
Elenco:
Marcelino Dias: Angelicus e Coro
Carlos Lira: Padre e Coro
Célia Regina: Mulher de Prendas Domésticas e Coro
Douglas Duan: Palhaço e Coro
Lucrécia Forcioni: Terezinha e Coro
Bruna Bastos: Prostituta e Coro
Luciana Lemos: Prostituta e Coro
Edes di Oliveira: Policial e Coro
Marinho Falcão: Policial e Coro
Mauricio Azevedo: Cidão e Coro
Gabriela Fernandes: Jornaleiro e Coro
Gabriel Conolly: Músico e Coro
Texto: Hamilton Saraiva
Encenação: Rudimar Constâncio
Assistência de Direção: Almir Martins
Direção de Arte (figurinos, cenários, adereços e maquiagem): Célio Pontes
Assistente de Direção de Arte: Manuel Carlos
Músicas e Arranjos: Demetrio Rangel e Douglas Duan
Direção musical: Demetrio Rangel e Douglas Duan
Iluminação e Operação de Luz: Luciana Raposo
Preparação Corporal e Coreografias: Saulo Uchôa
Preparação da Voz para a cena: Leila Freitas
Preparação Circense: Boris Trindade Júnior
Preparação da Voz para o canto: Douglas Duan
Preparação Percussiva: Charly Du Q
Contrarregragem e Cenotécnica: Elias Vilar e Clovis Júnior
Vídeo Maker: Almir Martins
Direção de Produção: Ana Júlia da Silva
Produção Executiva: Lucrécia Forcioni
Confecção de Adereços: Manuel Carlos, Jerônimo Barbosa
Confecção de Figurinos: Manuel Carlos, Helena Beltrão, Irani Galdino
Confecção de Máscaras: Douglas Duan e Célia Regina
Confecção de Materiais de Iluminação: Luciana Raposo
Execução de Cenários: Manuel Carlos.
Programação Visual: Claudio Lira
Fotos e Filmagem: Maker Mídia
Direção Geral: Rudimar Constâncio
Realização: Sesc Piedade

Realização: Opus, Ministério da Cultura e Governo Federal

SERVIÇO
Angelicus Prostitutus
Quando: Dia 3 de fevereiro (sexta), às 21h
Onde:</strong> Teatro RioMar: Av. República do Líbano, 251, 4º piso – RioMar Shopping
www.teatroriomarrecife.com.br

Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos

Ingressos:
Balcão: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Plateia Alta: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)
Plateia Baixa: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia)

Canais de vendas oficiais: bilheteria do Teatro RioMar Recife (terça a sábado, das 12h às 21h, e domingos e feriados, das 14h às 20h)
Vendas online: www.ingressorapido.com.br
Televendas: 4003-1212

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Para rir dos desejos pecaminosos

A peça ridiculariza e crítica figuras de poder e prestígio social. Foto:

A peça ridiculariza e crítica figuras de poder e prestígio social. Foto: Markermídia/ Divulgação

Os desejos humanos podem ser coisas medonhas. Tem potência para elevar ou arrasar com as criaturas. O espetáculo Angelicus Prostitutus, com texto de Hamilton Saraiva e direção de Rudimar Constâncio, explora os desejos pecaminosos, sob a ótica cristã. A humanidade corrompida pelas prostituições, no plural, é triturada pelas linguagens de comédia, da farsa, do circo, entre outras.

A prostituição abre um leque bem maior que o sexual. Há muitas outras maneiras. A depravação pode se inserir nas relações ideológicas; a imoralidade, na igreja; a devassidão, na família; a promiscuidade, no estado; o vício, na escola ou a perdição na polícia. Mas todos esses julgamentos são feitos a partir do riso.

Angelicus é um homem comum, mas daqueles que têm propensão a cometer erros. Não titubeia em mentir ou roubar e pode cometer até assassinatos. O personagem é julgado por Nossa Senhora e pelo Demônio, depois que morre. E os companheiros da vida pregressa assumem os papeis de   testemunhas e acusadores.

O espetáculo cumpre curta temporada no no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, nesta quinta-feira (7) e nos dias 14 e 21 de abril, às 20h. A montagem é do o grupo Matraca, do Sesc Piedade, e leva à cena 12 personagens, entre padre, policial, prostituta, jornaleiro, músico.

A arrecadação da bilheteria dessas apresentações será utilizada para custear a viagem do grupo ainda este ano para Portugal. A montagem foi convidada para compor a programação do ENTREtanto MIT Valongo – Mostra Internacional de Teatro. E já tem agenda para o festival Porto Alegre Em Cena.

Ficha técnica

Texto: Hamilton Saraiva
Encenação: Rudimar Constâncio
Elenco: Marcelino Dias, Carlos Lira, Célia Regina, Douglas Duan, Lucrécia Forcioni, Bruna Bastos, Luciana Lemos, Luiz Gutemberg, Marinho Falcão, Mauricio Azevedo, Gabriela Fernandes e Gabriel Conolly
Assistência de Direção: Almir Martins
Direção de Arte (figurinos, cenários, adereços e maquiagem): Célio Pontes
Assistente de Direção de Arte: Manuel Carlos
Músicas e Arranjos: Demetrio Rangel e Douglas Duan
Direção musical: Demetrio Rangel e Douglas Duan
Iluminação e Operação de Luz: Luciana Raposo
Preparação Corporal e Coreografias: Saulo Uchôa
Preparação da Voz para a cena: Leila Freitas
Preparação Circense: Boris Trindade Júnior
Preparação da Voz para o canto: Douglas Duan
Preparação Percussiva: Charly Du Q
Contrarragragem e Cenotécnica: Elias Vilar e Clovis Júnior
Direção de Produção: Ana Júlia da Silva
Produção Executiva: Lucrécia Forcioni
Confecção de Adereços: Manuel Carlos, Jerônimo Barbosa
Confecção de Figurinos: Manuel Carlos, Helena Beltrão e Irani Galdino
Confecção de Máscaras: Douglas Duan e Célia Regina
Confecção de Materiais de Iluminação: Luciana Raposo
Execução de Cenários: Manuel Carlos.
Programação Visual: Claudio Lira
Fotos e Filmagem: Makermídia
Direção Geral: Rudimar Constâncio
Realização: Sesc Piedade

SERVIÇO

Angelicus Prostitutus
Quando: Dias: 7, 14 e 21 de abril, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu, Boa Viagem
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

 

 

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