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Não se enganem, Dinamarca é pedreira!

Encenação tem direção de Pedro Wagner e dramaturgia de Giordano

Encenação tem direção de Pedro Wagner e dramaturgia de Giordano Castro. Foto: Ivana Moura

Como o país mais feliz do mundo se reveste a Dinamarca. E onde fica essa paragem? O Grupo Magiluth fez desse “lugar” cena e jogo para dilacerar o conceito de felicidade, bolha, predestinados, mentiras e verdades. Borrando fronteiras, subvertendo distâncias e desmascarando injunções. Dinamarca, do coletivo recifense, que estreou na última quarta-feira (2), no Teatro Marco Camarotti, no Recife, é sobre Hamlet, de Shakespeare? Sim e não. O príncipe ali parece ainda mais frágil. Sua Mãe mais cruel. Seu Tio mais perverso e abominável. Sua namorada mais… Mas o verniz é nórdico.

A montagem atravessa muitas questões urgentes, para uns, como tudo na vida. Como a própria existência. Nada é absoluto. Maneja com habilidade os relativismos. Embrenha-se em círculos de invenções sociais. Com a ironia até a tampa, que às vezes transborda em riso (da plateia inclusive), o espetáculo lacera com palavras e com a articulação sutil das dobraduras da ficção, que se aproxima da realidade dolorosa. A trama de Shakespeare entra na cena de Dinamarca como um trampolim para avistar o Brasil e o mundo de um capitalismo acelerado e excruciante. A montagem é armada para tornar palpável sentimentos molestadores que nos assaltam em 2017. Os golpes invadem o jogo de forma violenta em raios de ironia e cinismo dos discursos dos encastelados.

Magiluth. Foto: Ivana Moura

Numa festa de casamento, a risadagem revela a massa podre. Foto: Ivana Moura

A dramaturgia em fragmentos, como um quebra-cabeças, escrita por Giordano Castro, recolhe fios de Hamlet, acentuando os defeitos prosaicos de um príncipe mimado, de uma Mãe egóica e de um Tio déspota. Mas a peça não se atém a um possível psicologismo. Os atores abraçam e trocam de figuras, entram e saem de personagens, como numa corrida de revezamento. E reverbera o contrário do que eles dizem. Uma festa de casamento dá o suporte para exaltar a euforia, alimentada pelo consumo de estimulantes líquidos e sólidos. Enquanto aquele grupo risonho (um bando que se considera superior em todos os aspectos), desliza pelo salão a arrotar merecimentos com incentivo da mão divina, a sensação de sufocamento é acentuada e o sentimento de exílio espreita em meio a tanto estranhamento do humano.

No dia da estreia do espetáculo, no Planalto Central estava engatilhado mais um circo de horrores. Personagens bizarros atuavam em mais uma farsa (por que essas coisas pavorosas remetem aos nomes/ procedimentos do teatro?) para investigar o “gerente” da quadrilha. Esses perfis que transitam com autoridade de herói ou justiceiro se materializam na peça numa realidade paralela. A encenação fala indiretamente disso – da política daqui, desse país do “Bloco de Ensaio”, e de alhures.

Em Dinamarca, o mundo é dividido em três partes: “Blocos Auxiliadores, Blocos Auxiliados, Blocos de Ensaio. Os Blocos de Ensaio são dos países miseráveis que ainda não encontraram um modelo social que os represente, que funcione de fato. E nós, do bloco dos auxiliadores, trabalhamos e ajudamos para que eles enfim saiam dessa situação, certo?”, diz lá o texto. A atuação da fauna política provoca náuseas em qualquer lugar.

Bruno Parmera, em Dinamarca. Foto: Ivana Moura

Bruno Parmera, em Dinamarca. Foto: Ivana Moura

Cinco atores entram e saem de linhas de personagens. Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Lucas Torres. Lucas Torres toma três Heinekens, no início, enquanto expressa dúvidas sobre pontos de acesso para estabelecer esse contato com a plateia. Bruno Parmera fala em inglês que é uma adaptação da tragédia mais famosa do dramaturgo inglês mais célebre. E que trata do “drama” de um príncipe que descobre que seu pai foi morto por seu Tio, sujeito que logo depois se casou com a rainha, Mãe do príncipe. Esse fato desperta no herdeiro do trono um desejo de desforra pela morte do pai, o velho rei. Entre vinganças e desejos ocultos, todos os personagens morrem no final.

Dinamarca lembra uma sinfonia, repleta de movimentos e contramovimentos. Os músicos Miguel Mendes e Tomás Brandão, que formam o duo PACHKA, e criaram e executam a música, garantem o andamento, dando ênfase em certas notas e pausas mantendo o ritmo vivo e presente.

O garotinho levando uma lição de sua mãe. Foto: Ivana Moura

O Garotinho levando uma lição de sua Mãe. Foto: Ivana Moura

A certa altura, Giordano Castro tenta explicar o conceito de “hygge”, que não tem uma tradução precisa, mas tem a ver com conforto, bem-estar. “Nada de falar de política, religião, questões raciais, questões de gênero ou questões de superioridade biológica…”, determina. Isso me lembra um ex-amigo que não queria escavar nada ou mergulhar em profundezas que podem causar dor. Mas somos todos amigos, como diz a primeira lâmina do texto.E somos dinamarqueses, que é o segredo da felicidade. Essa felicidade, no entanto, é traidora.

Os atores sorridentes recebem o público com espumante servido em taças de plástico duro. Os artistas produzem uma festa fake, com flores de plástico e bolo falso e reforçam esses dispositivos dos simulacros para tornar mais forte o efeito da pedrada. As armações dos discursos lembram as amizades das redes sociais. E do Facebook rei com sua gente virtual a projetar fantasias de si mesmas em grandiloquência, uma turma que tudo curte e não quer saber de dor, política, problemas. Captou? De figuras que descartam gente que usou e alijou do seu convívio social. Na guerra das entrelinhas, os inventores de narrativas aparentam sempre estar bem. Dá até para identificar figuras distantes, próximas ou não mais.

Depois da montagem de O Ano em que Sonhamos Perigosamente, esse Magiluth mais maduro e intenso não vai agradar a todos, nem vai se comunicar com todos. Mas a vida é assim, não é? E mesmo que eu (ou você) não goste de algumas coisas, o espetáculo em seu conjunto inquieta e lanha.

A mão do diretor Pedro Wagner se expõe liricamente em dó menor, com altas doses de sarcasmo, e explora os baixos sentimentos em Sol Maior. É hábil a condução. A movimentação é frenética, com situações simultâneas, e provocações que conquistam por sua falsa ingenuidade, como na charada do Imagina. (Se fôssemos honestos! Ou se pudéssemos entender as entrelinhas…)

As urdiduras cênicas erguem espelhos que refletem monstrengos, inclusive voltados para a plateia. Nesses traçados eles elegem algum jargão como “Isso é uma indireta?” e enchem de significados uma pergunta banal, carregando de dúvidas as relações sociais, as amizades, a honestidade, tirando sarro da meritocracia. Para chegar outra vez ao “…somos dinamarqueses, lembra?”. Novamente acionam as engrenagens que fazem girar o mundo. Aquele que interessa aos encastelados, que exclui, mas que compra e dissemina narrativas de que eles são democráticos, libertários, fraternos e igualitários. Vez por outra em meio a tantos mecanismos, há erupções diretas (quase como um ato falho) de um “Foda-se… eu estou feliz!”. Então tá. Quem se sente assim não tem nenhuma preocupação com o corte que provoca com sua espada.

Participação do público na festa

Participação do público na festa. Foto: Ivana Moura

Entre Titanium, de David Guetta, Danubio Azul, valsa composta por Johann Strauss e Quando o amanhã chegar, de Leonardo Sullivan, os atores operam coreografias e em algum momento chamam o público para a dança. Essa cena dialoga com Nós, do Galpão, e outros grupos que investem na participação da plateia. A música acentua o clima entre o exílio e a cerceamento, aquele falta de ar, disfarçado de festa.

Vão e voltam para a questão da felicidade, salientando um pensamento da elite. De que a felicidade pode ser produzida para pequenos grupos de eleitos, totalmente desconectada com os universos de gente carente ou miserável. Esses giros revelam outras palhetas; “Eu encontro a felicidade comendo um japonês…”, solta um. “Eu seria feliz se eu tivesse um país”, dispara outro. “Se não existisse a Noruega já estava bom pra mim”, articula mais um. E a dramaturgia vai dosando, com canais de entrada do sujeito comum. “Se eu falasse com meu pai já estaria feliz”, confessa aquele. “Eu seria feliz desbravando e conquistando coisas e pessoas”, dispara aquele outro. E mais outro: “se eu tivesse família!” E outro: “Eu seria feliz se eu fosse 2”.

O que era riso na plateia cede lugar a incômodos, porque o mundo não está desconectado, em que os felizes orbitem por si sós. É valioso perceber essas rufadas de ilusão.

Giordano Castro ao centro) . Foto: Ivana Moura

Giordano Castro ao centro . Foto: Ivana Moura

Com astúcia, eles flertam com a problemática e os limites da representação. A partir de perguntas “O que você sabe sobre mulher? Você sabe o que é uma mulher? Você sabe o que é ser uma mulher?” chamam a atenção para dilemas, como se artistas brancos podem se imiscuir sobre conteúdos, manifestações e personagens negros. Ou sobre questões de gênero ou de idade. “…Antes de falar qualquer coisa sobre mim… viva o que eu vivi! Ande por onde eu andei… pise onde eu pisei! Calce os meus sapatos… antes de falar qualquer coisa minha, pois você não conhece porra nenhuma! Porra nenhuma…”, diz a Mãe, na voz de Giordano. E não poupam humor sobre atestados e limites da contemporaneidade.

Esses traquejos reflexivos e exercícios especulativos se manifestam em argumentos e ações calculadas. Personagens, ou seus esboços, viram escudos para forjar reflexões. O grupo transita bem ao explorar a promiscuidade entre público e privado. A fala da Mãe do Garotinho é exemplar: “Ele era um homem como qualquer outro! Tão honesto quanto qualquer homem que tem o poder nas mãos. Você sabe o que é ter um reino na mão?”

Ah! Hamlet, esse poço inesgotável de inspiração. A ideia de massa “muito embolada” é um chamamento viral. O mundo não é fofinho e há formas inteligente e criativas de vociferar essa ideia. E como pergunta alguém na peça “Isso foi uma metáfora?”

beijo

O beijo surge como desdobramento da peça anterior, O Ano que Sonhamos Perigosamente. Foto: Ivana Moura

Ficha técnica
Direção:Pedro Wagner
Dramaturgia:Giordano Castro
Elenco:Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Lucas Torres
Desenho de Som:Miguel Mendes e Tomás Brandão (PACHKA)
Desenho de Luz:Grupo Magiluth
Direção de Arte:Guilherme Luigi
Fotografia:Bruna Valença
Design Gráfico:Guilherme Luigi
Técnico:Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

Serviço:
Dinamarca
Quando: Sábado (05/08) e domingo (06/08), às 20h
Onde:Teatro Marco Camarotti, Sesc Santo Amaro
Quanto:R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Duração:1h20min
Classificação: 16 anos

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Magiluth no reino feliz da Dinamarca

Magiluth estreia Dinamarca, 9º espetáculo do grupo. Foto: Bruna Valença

Magiluth estreia Dinamarca, 9º espetáculo do grupo. Foto: Bruna Valença

Não é de hoje que o Magiluth pensava em enveredar por uma dramaturgia clássica. Lembro que, quando o grupo estava prestes a comemorar dez anos, o ator e dramaturgo Giordano Castro falava com entusiasmo em Otelo. A vida foi levando para outros caminhos, mas no processo de criação do espetáculo anterior, O ano em que sonhamos perigosamente (2015), eles chegaram a cogitar utilizar trechos de Shakespeare em meio ao caos fragmentado que se tornou a encenação; na ocasião, Tchékov se impôs, cabia perfeitamente, e ocupou quaisquer possíveis espaços. Ao decidirem continuar investigando o tempo presente, nas palavras do ator e diretor Pedro Wagner, “um terreno fértil para golpes, para uma direita extremamente conservadora que está tomando conta de todo os lugares do mundo”, chegaram a Hamlet.

Dinamarca, no entanto, que estreia nesta quarta-feira (2), no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, no Recife, não se trata de uma adaptação ou versão do bardo inglês. Shakespeare foi ponto de partida, mas pelas palavras dos integrantes do grupo, talvez funcione mais como esteio ou trampolim. Trechos, frases e sentidos de Shakespeare estão lá, mas não a linearidade, ou mesmo todos os personagens. “Dinamarca só existe porque existiu O ano. Entendemos que a maneira como a gente estava dialogando com o texto vinha da atmosfera e das coisas que tínhamos discutido enquanto dramaturgia ou exercício de cena para a criação do Ano“, explica Pedro Wagner, que assume a direção e, desta vez, não integra o elenco. “Não foi uma escolha inicial de ter um olhar de fora para dirigir. O que aconteceu foi que passei muito tempo durante os ensaios fazendo outros trabalhos, no audiovisual, no teatro com Felipe Hirsch e, quando voltei, o jogo entre os meninos já estava muito estabelecido. Era difícil conseguir me inserir. Foi incompetência minha mesmo”, brinca. Estão no elenco Giordano Castro, que também assina a dramaturgia, Erivaldo Oliveira, Lucas Torres, Mário Sérgio Cabral e o estreante Bruno Parmera (que já estava em cena substituindo Pedro Wagner em apresentações de Luiz Lua Gonzaga, mas ainda não tinha participado efetivamente de um processo de criação com o grupo).

O personagem disparador para as discussões que o grupo pretende levar à cena foi Claudius, tio de Hamlet, que casa com a cunhada um mês depois da morte do rei, pai de Hamlet. “Ele fala pro Hamlet que está tudo bem, que ele é como um filho, que Hamlet não pode ficar chorando pra sempre. Isso nos interessava, esse estado de saber que não está tudo bem, mas olhar no olho e fazer o outro acreditar nisso”, diz Wagner. No espetáculo, um grupo de pessoas participa de uma festa de casamento. Dizem beber, mesmo que não haja nenhuma bebida. Evitam conflitos. Querem viver momentos agradáveis. “No Ano, aquele grupo estava no epicentro de um furacão. Agora, estamos na periferia, e pensamos que esse furacão não nos afeta. Vivemos em bolhas. Você só vê o que quer ver, só lê o que quer, e aí desperdiçamos a possibilidade de diálogo, de crescimento, de perceber que existem pontos revelantes do outro lado. Essas bolhas não são privilégio da esquerda ou da direita”, defende Giordano Castro.

Há também uma tentativa de problematizar nossa identidade em relação ao que nos parece um modelo a ser seguido. “Elsinore não cabe na Dinamarca contemporânea, o povo mais feliz do mundo, que está em todas as listas de melhor distribuição de renda, qualidade de vida. O que seria tentar ser esse dinamarquês aqui? Vestir essa camisa que não me cabe, mas que eu tento vestir mesmo assim?”, questiona o diretor. O que pode significar, por exemplo, Erivaldo Oliveira dizer que é dinamarquês, tem olhos azuis e cabelos ruivos? Mesmo sendo óbvio que não? A felicidade a todo custo, que se instaura teoricamente pela ausência de conflitos, é uma das questões em Dinamarca.

Ainda que seja uma decorrência do O ano em que sonhamos perigosamente ( e não há a decisão sobre uma possível trilogia) a relação que o grupo vai tentar construir com o espectador é outra. Digamos…mais palatável. Talvez pela dramaturgia menos entrecortada, menos cheia de referências, por uma construção mais fluida de pensamento. Ainda assim, avisa Giordano Castro, “pedimos que as pessoas cheguem mais perto, mas não tão perto assim”, ri. De qualquer forma, as influências, seja do pop, do brega, de fácil identificação e adesão, presentes em muitos trabalhos do Magiluth, em certa medida estão de volta. Pode aguardar David Guetta ou Leonardo Sullivan, por exemplo. “Quando o amanhã chegar, vou te esperar sorrindo”, assumem em algum momento. Será mesmo?

Espetáculo é uma consequência da montagem anterior, O ano em que sonhamos perigosamente

Espetáculo é consequência da montagem anterior, O ano em que sonhamos perigosamente

Um dos destaques no trabalho deve ser a trilha sonora executada ao vivo pelo duo Pachka, formado pelos músicos Miguel Mendes e Tomás Brandão (os mesmos que trabalharam com a Remo Produções em Rei Lear). Eles fazem música não só com instrumentos, mas com dispositivos eletrônicos, e participaram de todo o processo de criação do espetáculo ao lado do Magiluth. O grupo também contou com a colaboração de Giovana Soar e Nadja Naira, da Companhia Brasileira de Teatro, como provocadoras, e voltaram a trabalhar na direção de arte com Guilherme Luigi.

Depois das poucas apresentações no Teatro Marco Camarotti (dias 2, 3, 5 e 6, às 20h), o Magiluth segue para o Barreto Júnior, no Pina. Provavelmente, no mês de setembro, o grupo faz uma temporada em São Paulo.

Ficha técnica
Direção: Pedro Wagner
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Lucas Torres
Desenho de Som: Miguel Mendes e Tomás Brandão (PACHKA)
Desenho de Luz: Grupo Magiluth
Direção de Arte: Guilherme Luigi
Fotografia: Bruna Valença
Design Gráfico: Guilherme Luigi
Técnico: Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

Serviço:
Dinamarca
Quando: Quarta (2), quinta (3), sábado (5) e domingo (6), às 20h
Onde: Teatro Marco Camarotti, Sesc Santo Amaro
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Duração: 1h20min
Classificação : 16 anos

 

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Aquilo que o meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Aquilo que o meu olhar guardou para você

Fotos do espetáculo Aquilo que o meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, feitas no dia 11 de maio, durante sessão no Teatro de Contêiner Munguzá, em São Paulo, por Blenda Souto Maior.

*Blenda Souto Maior é pernambucana, atualmente moradora de São Paulo. Fotógrafa freelancer, também se dedica à arte-educação. No Recife, atuou como fotojornalista, integrando a equipe do jornal Diario de Pernambuco.

Ficha técnica do espetáculo:

Aquilo que o meu olhar guardou para você
Direção: Luiz Fernando Marques e grupo Magiluth
Dramaturgia: Giordano Castro
Atores: Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sérgio Cabral e Pedro Wagner Direção de Arte: Thaysa Zooby e Guilherme Luigi
Iluminação: Pedro Vilela
Projeto Gráfico: Guilherme Luigi
Produção e Realização: Grupo Magiluth

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Fragilidades do apego

Espetáculo Alegria de náufragos (ou A Capacidade de Suportar), com o Ser Tão Teatro (PB),. Foto: Rafael Passos

Espetáculo Alegria de náufragos (ou A Capacidade de Suportar), com o Ser Tão Teatro (PB). Foto: Rafael Passos

Tudo está no seu lugar. A vida corre sem contratempos para o emérito professor Nicolai Stiepánovitch. De currículo impecável, com família bem constituída, ele é encarado como um “homem feliz”. Mas nos derradeiros atos da existência uma análise sobre si mesmo deflagra um doloroso processo de falência interior. E seus sentidos se abrem para enxergar o lado patético da sociedade e suas instituições. Stiepánovitch visualizar – sem cortina de fumaça – o mar da mediocridade humana.

O espetáculo Alegria de Náufragos (ou A Capacidade de Suportar), do grupo paraibano Ser Tão Teatro, participa do I Festival Pague Quanto Puder de Artes Integradas nesta sexta-feira e sábado, às 20h, no Edf. Texas, 3° andar, bairro Boa Vista.

O grupo queria falar das inquietações contemporâneas, mas que não fosse um texto pronto. A partir de temas como desumanização, coisificação, egocentrismo e insônia a trupe chegou ao conto A História Enfadonha, do russo Anton Tchekhov.

Ao fazer um retrospecto da vida, o acadêmico percebe que não tem muito sentido o que construiu. As coisas às quais ele mais se apegou não lhe acrescentam e constata as fragilidades existentes no próprio lar e na coletividade.

Enquanto Nicolai vivencia seu dilema interno, Kátia, sua pupila, resolve jogar tudo para o alto para perseguir seu sonho de ser atriz de teatro. E troca cartas com seu mestre sobre sua decisão.

Os três intérpretes se alternam entre os papeis e lançam mão do tom farsesco e da ironia e insere críticas aos editais de incentivo e piadas com altas doses de acidez.

Giordano Castro, do pernambucano Grupo Magiluth, e César Ferrário, do potiguar Clowns de Shakespeare, atuaram como “provocadores” na construção do espetáculo, tanto na dramaturgia quanto na encenação.

No elenco estão os atores Thardelly Lima, Rafael Guedes e (a convidada do Grupo Graxa de Teatro) Cely Farias.

Peça fala das inquietações do grupo.

Peça fala das inquietações do grupo. Foto: Helena Longo

FICHA TÉCNICA
Encenadores: César Ferrario e Giordano Castro
Atuação: Cely Farias, Rafael Guedes e Thardelly lima
Dramaturgia: Diálogo do Grupo Ser tão com Uma história enfadonha, de Anton Tcheckov
Cenografia: Maria Botelho
Trilha Sonora Original: Marco França
Iluminação: Thiago Santino
Figurino: Vilmara Georgina

SERVIÇO
Espetáculo Alegria de náufragos (ou A Capacidade de Suportar), com o Ser Tão Teatro (PB), dentro do Festival Pague Quanto Puder.
Quando:  sexta-feira (12) e sábado (13), às 20h
Onde: Edf. Texas, 3º andar (R. Rosário da Boa Vista, 163, Boa Vista – Recife)
Quanto: contribuição voluntária

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Sopro na dramaturgia para criança

O esetáculo Vento Forte para Água e Sabão, com montagem do Grupo de Teatro Fiandeiros. Foto: Rogério Alves /Divulgação

O espetáculo Vento Forte para Água e Sabão, da Companhia Fiandeiros de Teatro. Foto: Rogério Alves

A vida é breve e imprevisível. É preciso aproveitar cada segundo, entende a Bolonhesa depois que fez amizade com Arlindo. Metáfora poderosa, essa curiosa relação entre a bolha de sabão e a rajada de vento. Juntos eles vão experimentar as belezas e os sabores do mundo, mesmo sabendo que é tudo muito arriscado. O oitavo espetáculo da Companhia Fiandeiros de Teatro e o segundo voltado ao público da infância e juventude, Vento Forte para Água e Sabão está em cartaz aos sábados e domingos, às 16h, no Teatro Hermilo Borba Filho até o final do mês.

Para falar da fugacidade dessa passagem pela Terra e a ameaça constante da morte, o diretor levou para cena alusões a planetas, astros, estrelas, galáxias em contraponto lúdico com a bolha de sabão. No elenco da peça, incentivada pelo Funcultura, estãoTiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras.

O musical tem texto assinado por Giordano Castro e Amanda Torres. O ator do Grupo Magiluth fala um pouco sobre a dramaturgia, na entrevista a seguir.

Giordano Castro, ator e dramaturgo. Reprodução do FAcebook

Giordano Castro, ator e dramaturgo. Reprodução do Facebook

Como foi o processo para criação da peça Vento Forte para Água e Sabão?
Esse processo surgiu na oficina Fronteiras da Linguagem, na Fundaj, ministrada por Luiz Felipe Botelho. Um dos exercícios da oficina era experimentar a escrita a partir de um universo. Eu e Amanda, que éramos um grupo, ficamos com o universo do fantástico. E aí a gente enveredou por essa escrita. Eu e Amanda tínhamos vontade de escrever para criança. Queria escrever de como falar sobre morte para criança. Essa foi a proposta inicial e foi daí que surgiu a história da bolha de sabão e do vento.

Que valores você destaca na peça?
Acho bastante subjetivo. Na verdade, a gente enquanto fazedor artístico se propõe a criar uma obra. As leituras dessa obra, como ela é recebida, quais as mensagens e os valores que cada um tira dela é um processo de fruição pessoal. Acho que seria até uma arrogância minha. Sei o mote, a abordagem da morte para criança. O importante é apreciar e ver o que ela suscita em cada pessoa.

Como a peça dialoga com o Brasil de hoje?
Essa peça foi escrita há um bom tempo. Faz uns 4, 5 anos, não lembro bem. Se esse viés é o momento que a gente está vivendo agora, crise politica e tudo mais, acho que ela não dialoga diretamente com isso. Ela dialoga com uma questão que vai ser sempre falada, que é a vida e dentro dessa vida, a morte, que também faz parte dela. E é sempre um assunto delicado para qualquer pessoa, mas falar para uma criança… A primeira experiência com a morte pode se dar em várias linhas, mas quando se fala que é uma pessoa mais próxima, tudo é mais difícil. Mas tenho absoluta certeza que as crianças conseguem lidar e resolver conflitos muito melhor do que os adultos. Então é isso, a peça dialoga com a vida, com o que fazer e o que viver, porque a gente não sabe quando vai morrer.

É mais difícil escrever teatro para crianças do que para adultos?
Tenho achado cada dia mais que o difícil é escrever. Com as tecnologias, principalmente as redes sociais, blogs etc, todo mundo tem a possibilidade de escrever, de se expressar mais do que antigamente, que era preciso um veículo para expor as suas ideias. E hoje a internet democratizou isso. Então cada vez mais tem aparecido pessoas com escritas e estéticas bem interessantes. Escrever para adulto ou para criança acho que é indiferente com relação à dificuldade. O que acho que é importante perceber e olhar é saber o que você quer falar para esse determinado público. Eu tenho uma crença muito forte que a gente não tem que colocar a criança no lugar de uma tábula rasa, que precisa encher de informações. Como eu disse, elas conseguem lidar com muitas coisas do dia a dia, da vida muito melhor do que qualquer adulto. Assim em vez de olhá-las de cima para baixo, vamos olhá-las de frente, olho a olho e saber lidar com essa informação. Então, acho que existe uma preocupação, principalmente pra mim, de um texto para crianças e tal e não colocá-las no lugar de infantiloide ou do bobinho e sim levar em consideração que ela sabe lidar muito bem com o mundo ao redor dela.

O que percebe do teatro pernambucano atual?
O teatro Pernambuco atual hoje acho que tá da mesma forma que todos esses anos… assim. Tá do jeito que tá… não sei responder muito isso não. A gente tá passando por um momento bastante delicado principalmente por causa desse viés político, que a gente não tem muito como separar uma coisa da outra. Essa administração municipal e estadual é extremamente omissa quanto às questões culturais. Vemos cada vez mais os espaços cênicos da cidade não receberem o cuidado que eles merecem. Enfim, acho que a gente passa por momento delicado.

E o que é feito para o público infantil no Recife?
Sobre o teatro feito para infância aqui no Recife, pelo menos os que eu acompanho e eu admiro, eu acho incrível e de ótima qualidade. Eu me refiro a alguns autores. Eu gosto muito de Carla Denise e do pessoal do Mão Molenga. Admiro pra caramba o trabalho de Luciano Pontes. Alexsandro Souto Maior escreve muito para criança e eu adoro. Sempre fui muito fã das coisas de Marco Camarotti também. Então acho que a gente tem uma leva muito boa, de pessoas que escrevem com muita responsabilidade para criança, com muito cuidado. Esse teatro é bem bom. O teatro para criança mais comercial acho que ele tem o seu lugar, apesar de eu não acompanhar, de não curtir, acho que há espaço para todo mundo, que tem lugar pra eles na cidade.

Qual é a peça de teatro que você mais gostou de fazer? Como dramaturgo e intérprete?
A peça que eu mais gostei de fazer… Ah! não sei. Cada peça tem o seu sabor especial. Os trabalhos que faço junto ao Magiluth… Enfim, toda minha experiência teatral está no Magiluth. Cada espetáculo é uma experiência importante e o mais interessante é estar com os meus companheiros, com os meus amigos. A gente se sente bem em cena. É uma continuação da nossa vida, na sala de ensaio, no dia-a-dia. Então estar em cena é mais um momento com eles, que é tão bom quanto. Cada espetáculo a gente se diverte de forma diferente. Eu gosto muito muito muito muito de fazer Aquilo que meu Olhar Guardou para Você; O Viúva porém Honesta é bem cansativo, mas me divirto bastante. Luiz Gonzaga ele tem um lugar também muito legal, adoro estar na rua. O ano em que sonhamos perigosamente é o trabalho que eu me sinto mais concentrado, mais focado, mais cuidadoso enquanto estou fazendo, mas me divirto; mas é em outro lugar, com um cuidado maior.

O que é preciso para ser um “bom” dramaturgo?

O que é preciso para ser um bom dramaturgo?! Eu também estou querendo saber. Quem souber responder por favor me diga, que eu também quero aprender a ser um bom dramaturgo. O que eu busco é sempre ler coisas novas, presto atenção no dia a dia, nos assuntos que as pessoas estão discutindo. Tentando ver, ouvir e prestar atenção em tudo.

Ficha Técnica
Texto: Giordano Castro e Amanda Torres
Direção geral: André Filho
Elenco: Tiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras
Direção musical e arranjos vocais: Samuel Lira
Direção de arte: João Denys e Manuel Carlos
Direção de produção: Daniela Travassos
Iluminação: João Guilherme de Paula
Operação de luz: João Victor e João Guilherme de Paula
Preparação corporal: Jefferson Figueirêdo
Produção executiva: Renata Teles
Apoio: Charly Jadson e Jefferson Figueiredo
Aderecistas: João Denys e Manuel Carlos
Equipe de apoio confecção de adereços: Maria José Araújo, Marco Antônio, Emerson Soares e Jerônimo Barbosa
Costureira: Ira Galdino e Georgete Bezerra
Cenotécnico: Israel Marinho
Fotografias: Rogério Alves
Design gráfico: Hana Luzia
Assessoria de Imprensa: Míddia Assessoria
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro
Incentivo: Funcultura

SERVIÇO
Vento Forte para Água e Sabão
Quando: Até 29 de maio, Sábados e Domingos, às 16
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$10 (Inteira) | R$5 (Meia) – Neste final de semana vale meia-entrada para todos

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