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Sopro na dramaturgia para criança

O esetáculo Vento Forte para Água e Sabão, com montagem do Grupo de Teatro Fiandeiros. Foto: Rogério Alves /Divulgação

O espetáculo Vento Forte para Água e Sabão, da Companhia Fiandeiros de Teatro. Foto: Rogério Alves

A vida é breve e imprevisível. É preciso aproveitar cada segundo, entende a Bolonhesa depois que fez amizade com Arlindo. Metáfora poderosa, essa curiosa relação entre a bolha de sabão e a rajada de vento. Juntos eles vão experimentar as belezas e os sabores do mundo, mesmo sabendo que é tudo muito arriscado. O oitavo espetáculo da Companhia Fiandeiros de Teatro e o segundo voltado ao público da infância e juventude, Vento Forte para Água e Sabão está em cartaz aos sábados e domingos, às 16h, no Teatro Hermilo Borba Filho até o final do mês.

Para falar da fugacidade dessa passagem pela Terra e a ameaça constante da morte, o diretor levou para cena alusões a planetas, astros, estrelas, galáxias em contraponto lúdico com a bolha de sabão. No elenco da peça, incentivada pelo Funcultura, estãoTiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras.

O musical tem texto assinado por Giordano Castro e Amanda Torres. O ator do Grupo Magiluth fala um pouco sobre a dramaturgia, na entrevista a seguir.

Giordano Castro, ator e dramaturgo. Reprodução do FAcebook

Giordano Castro, ator e dramaturgo. Reprodução do Facebook

Como foi o processo para criação da peça Vento Forte para Água e Sabão?
Esse processo surgiu na oficina Fronteiras da Linguagem, na Fundaj, ministrada por Luiz Felipe Botelho. Um dos exercícios da oficina era experimentar a escrita a partir de um universo. Eu e Amanda, que éramos um grupo, ficamos com o universo do fantástico. E aí a gente enveredou por essa escrita. Eu e Amanda tínhamos vontade de escrever para criança. Queria escrever de como falar sobre morte para criança. Essa foi a proposta inicial e foi daí que surgiu a história da bolha de sabão e do vento.

Que valores você destaca na peça?
Acho bastante subjetivo. Na verdade, a gente enquanto fazedor artístico se propõe a criar uma obra. As leituras dessa obra, como ela é recebida, quais as mensagens e os valores que cada um tira dela é um processo de fruição pessoal. Acho que seria até uma arrogância minha. Sei o mote, a abordagem da morte para criança. O importante é apreciar e ver o que ela suscita em cada pessoa.

Como a peça dialoga com o Brasil de hoje?
Essa peça foi escrita há um bom tempo. Faz uns 4, 5 anos, não lembro bem. Se esse viés é o momento que a gente está vivendo agora, crise politica e tudo mais, acho que ela não dialoga diretamente com isso. Ela dialoga com uma questão que vai ser sempre falada, que é a vida e dentro dessa vida, a morte, que também faz parte dela. E é sempre um assunto delicado para qualquer pessoa, mas falar para uma criança… A primeira experiência com a morte pode se dar em várias linhas, mas quando se fala que é uma pessoa mais próxima, tudo é mais difícil. Mas tenho absoluta certeza que as crianças conseguem lidar e resolver conflitos muito melhor do que os adultos. Então é isso, a peça dialoga com a vida, com o que fazer e o que viver, porque a gente não sabe quando vai morrer.

É mais difícil escrever teatro para crianças do que para adultos?
Tenho achado cada dia mais que o difícil é escrever. Com as tecnologias, principalmente as redes sociais, blogs etc, todo mundo tem a possibilidade de escrever, de se expressar mais do que antigamente, que era preciso um veículo para expor as suas ideias. E hoje a internet democratizou isso. Então cada vez mais tem aparecido pessoas com escritas e estéticas bem interessantes. Escrever para adulto ou para criança acho que é indiferente com relação à dificuldade. O que acho que é importante perceber e olhar é saber o que você quer falar para esse determinado público. Eu tenho uma crença muito forte que a gente não tem que colocar a criança no lugar de uma tábula rasa, que precisa encher de informações. Como eu disse, elas conseguem lidar com muitas coisas do dia a dia, da vida muito melhor do que qualquer adulto. Assim em vez de olhá-las de cima para baixo, vamos olhá-las de frente, olho a olho e saber lidar com essa informação. Então, acho que existe uma preocupação, principalmente pra mim, de um texto para crianças e tal e não colocá-las no lugar de infantiloide ou do bobinho e sim levar em consideração que ela sabe lidar muito bem com o mundo ao redor dela.

O que percebe do teatro pernambucano atual?
O teatro Pernambuco atual hoje acho que tá da mesma forma que todos esses anos… assim. Tá do jeito que tá… não sei responder muito isso não. A gente tá passando por um momento bastante delicado principalmente por causa desse viés político, que a gente não tem muito como separar uma coisa da outra. Essa administração municipal e estadual é extremamente omissa quanto às questões culturais. Vemos cada vez mais os espaços cênicos da cidade não receberem o cuidado que eles merecem. Enfim, acho que a gente passa por momento delicado.

E o que é feito para o público infantil no Recife?
Sobre o teatro feito para infância aqui no Recife, pelo menos os que eu acompanho e eu admiro, eu acho incrível e de ótima qualidade. Eu me refiro a alguns autores. Eu gosto muito de Carla Denise e do pessoal do Mão Molenga. Admiro pra caramba o trabalho de Luciano Pontes. Alexsandro Souto Maior escreve muito para criança e eu adoro. Sempre fui muito fã das coisas de Marco Camarotti também. Então acho que a gente tem uma leva muito boa, de pessoas que escrevem com muita responsabilidade para criança, com muito cuidado. Esse teatro é bem bom. O teatro para criança mais comercial acho que ele tem o seu lugar, apesar de eu não acompanhar, de não curtir, acho que há espaço para todo mundo, que tem lugar pra eles na cidade.

Qual é a peça de teatro que você mais gostou de fazer? Como dramaturgo e intérprete?
A peça que eu mais gostei de fazer… Ah! não sei. Cada peça tem o seu sabor especial. Os trabalhos que faço junto ao Magiluth… Enfim, toda minha experiência teatral está no Magiluth. Cada espetáculo é uma experiência importante e o mais interessante é estar com os meus companheiros, com os meus amigos. A gente se sente bem em cena. É uma continuação da nossa vida, na sala de ensaio, no dia-a-dia. Então estar em cena é mais um momento com eles, que é tão bom quanto. Cada espetáculo a gente se diverte de forma diferente. Eu gosto muito muito muito muito de fazer Aquilo que meu Olhar Guardou para Você; O Viúva porém Honesta é bem cansativo, mas me divirto bastante. Luiz Gonzaga ele tem um lugar também muito legal, adoro estar na rua. O ano em que sonhamos perigosamente é o trabalho que eu me sinto mais concentrado, mais focado, mais cuidadoso enquanto estou fazendo, mas me divirto; mas é em outro lugar, com um cuidado maior.

O que é preciso para ser um “bom” dramaturgo?

O que é preciso para ser um bom dramaturgo?! Eu também estou querendo saber. Quem souber responder por favor me diga, que eu também quero aprender a ser um bom dramaturgo. O que eu busco é sempre ler coisas novas, presto atenção no dia a dia, nos assuntos que as pessoas estão discutindo. Tentando ver, ouvir e prestar atenção em tudo.

Ficha Técnica
Texto: Giordano Castro e Amanda Torres
Direção geral: André Filho
Elenco: Tiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras
Direção musical e arranjos vocais: Samuel Lira
Direção de arte: João Denys e Manuel Carlos
Direção de produção: Daniela Travassos
Iluminação: João Guilherme de Paula
Operação de luz: João Victor e João Guilherme de Paula
Preparação corporal: Jefferson Figueirêdo
Produção executiva: Renata Teles
Apoio: Charly Jadson e Jefferson Figueiredo
Aderecistas: João Denys e Manuel Carlos
Equipe de apoio confecção de adereços: Maria José Araújo, Marco Antônio, Emerson Soares e Jerônimo Barbosa
Costureira: Ira Galdino e Georgete Bezerra
Cenotécnico: Israel Marinho
Fotografias: Rogério Alves
Design gráfico: Hana Luzia
Assessoria de Imprensa: Míddia Assessoria
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro
Incentivo: Funcultura

SERVIÇO
Vento Forte para Água e Sabão
Quando: Até 29 de maio, Sábados e Domingos, às 16
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$10 (Inteira) | R$5 (Meia) – Neste final de semana vale meia-entrada para todos

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Despedidas teatrais e show de Siba

Atriz Naná Sodré no monólogo A receita

Atriz Naná Sodré no monólogo A receita. Foto: Fernando Azevedo/ Divulgação

Quatro espetáculos encerram temporadas neste fim de semana. Na sede do Grupo de Teatro O Poste, localizada na Rua da Aurora, a atriz pernambucana Naná Sodré apresenta o monólogo A Receita, sobre uma mulher que sofre de dependência emocional dos seus, que a exploram. Para espantar o sofrimento, ela cozinha e tenta fazer a alquimia da vida com sal, alho, coentro e cebolinha.

A direção e texto de Samuel Santos traduzem de forma poética a solidão feminina e as dificuldades de relacionamento. E indicam até que ponto pode chegar uma mulher desesperada e ignorada pelo companheiro.

O oitavo trabalho do Magiluth mergulha no processo teatral para questionar o momento político no mundo. Com Zizek, o grupo pernambucano reflete sobre a onda de movimentos contestatórios, inclusive o movimento Ocupe Estelita do Recife. A trupe convoca os pensamentos de Gilles Deleuze e o cinema de Yorgos Lanthimos para essa empreitada.

“É uma obra aberta a múltiplas interpretações, um ensaio de resistência ético-estético-político. São linhas, não formas pré-estabelecidas. Pode-se fugir, esconder, confundir, sabotar, cortar caminho”, provocam. Eles falam da crise de poder do capitalismo. O espetáculo O Ano em que sonhamos perigosamente – que foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2014 – faz a última apresentação desta temporada hoje e é imperdível.

Confira abaixo:

A RECEITA
A atriz Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas, faz um solo, A receita, sobre uma mulher que tempera sua vida de abandono e violência com comida. O texto e a encenação são de Samuel Santos.
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, loja 1, Boa Vista).
Quando: Nesta sexta, às 20h, última apresentação desta temporada.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 8484-8421.

Erivaldo Oliveira é um dos cinco atores do Magiluth. Renata Pires

Erivaldo Oliveira é um dos cinco atores do Magiluth. Foto: Renata Pires / Divulgação

O ANO EM QUE SONHAMOS PERIGOSAMENTE
Novo espetáculo do Grupo Magiluth pega emprestado o título de um livro do filósofo esloveno Slavoj Zizek. Cinco atores – Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner e Thiago Liberdade exercitam um jogo teatral, com inserções de trechos de peças de Anton Pavlovitch Tchekhov. E se atiram sem rede de segurança para falar da condição humana na contemporaneidade. Leia crítica: http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2015/06/12/arte-em-tempos-sombrios-critica/
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2015/06/12/arte-em-tempos-sombrios-critica/
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife).
Quando: Nesta sexta, às 20h, última apresentação desta temporada.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 3355-3320.

Musical ambientado nos anos 1990 narra o percurso de oito amigos unidos por uma paixão: a música. Foto:  Fernanda Acioly

Peça situada nos anos 1990 narra o percurso de oito amigos unidos pela música. Foto: Fernanda Acioly

ABRAÇO – NUNCA ESTAREMOS SÓS
O musical Abraço – nunca estaremos sós, da Dispersos Companhia de Teatro, leva para o centro do palco o valor da amizade. Traz músicas de Milton Nascimento e Liz Valente e outros.
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife).
Quando: Sábado, às 19h e domingo, às 18h; últimas apresentações desta temporada.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia), à venda antecipadamente pelo telefone 9.9574-7657 ou 2h antes, na bilheteria do teatro.
Informações: 3355-3320.

ator José Neto Barbosa interpreta Rutras. Foto: Diego Marcel/ Divulgação

ator José Neto Barbosa interpreta Rutras. Foto: Diego Marcel/ Divulgação

BORDERLINE
Inspirado no conto Borderline – O Cangaço e o Carcará Sanguinolento, o espetáculo traz questões sobre normalidade e loucura.
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apólo, 121, Recife).
Quando: Sábado, às 20h e domingo, às 19h; últimas apresentações desta temporada.
Ingresso: R$ 20. (vendas antecipadas e promocionais, com 50% de desconto no site http://www.eventick.com.br/borderline).
Informações: 3355-3320.

Siba lança CD no Teatro de Santa Isabel. Foto: José de Holanda

Siba lança CD no Teatro de Santa Isabel. Foto: José de Holanda

Siba potencializou as tradições do maracatu e da ciranda na sua música pop. Desde a banda Mestre Ambrósio e depois com a Fuloresta do Samba. O disco De Baile Solto tem uma pegada mais política e o músico pernambucano põe o dedo na ferida, ao criticar o preconceito camuflado ou escancarado e questionar o lugar dessas manifestações na sociedade contemporânea. Suas canções críticas são vestidas com guitarras, bateria, percussão e tuba e uma voz deliciosa.

O show de lançamento do disco – totalmente disponível para streaming e download (http://www.mundosiba.com.br/discos) ocorre hoje e amanhã, no Teatro de Santa Isabel (Santo Antônio), no Recife, a partir das 21h. Ele divide o palco com Antônio Loureiro (bateria), Leandro Gervázio (tuba), Mestre Nico (percussão e voz) e Lello Bezerra (guitarra).

Siba em DE BAILE SOLTO
Quando: Sexta (26) e Sábado (27), às 21h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, Santo Antônio)
Ingresso: R$ 40
Informações: 3355-3323.

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Cinco sugestões para o fim de semana

Apenas mais três sessões dessa temporada de O ano em que sonhamos perigosamente, do Magiluth. Foto: Renata Pires

Apenas mais três sessões dessa temporada de O ano em que sonhamos perigosamente, do Magiluth. Foto: Renata Pires

O enigma em The Lobster (A Lagosta) é uma escolha, forçada (vale salientar) de não ficar sozinho, ou melhor, de arranjar um parceiro conjugal para a vida. Sob pena, se a regra não for obedecida, de se ser transformado em animal e jogado no bosque. O filme do grego Yorgos Lanthimos arrebatou o Prêmio do Júri em Cannes em maio deste ano. É uma fábula ácida e implacável situada num futuro distópico sobre a solidão e o amor. O cineasta, que realiza “gênero de filmes em que não se compreende tudo”, ganhou fama internacional com Canino (Prêmio Un Certain Regard, Cannes em 2009) e também dirigiu Alps (Prêmio do Argumento no Festival de Veneza em 2011) é uma das inspirações, referências ou disparadores criativos do novo trabalho do grupo Magiluth.

O ano em que sonhamos perigosamente é o título de um dos livros do sociólogo, filósofo, psicanalista e crítico cultural esloveno Slavoj Žižek. Esse autor, de produção intelectual intensa, utiliza conceitos de Jacques Lacan e vai de Marx a Hegel para analisar o cinema, o fundamentalismo e a tolerância, ideologia e subjetividade em tempos pós-modernos, entre outros temas da atualidade, em linguagem clara e provocativa.

O mundo das crises econômicas aos abalos existenciais está na rota desse novo espetáculo. Na busca do que seria belo, do que seria estética, eles abraçam Anton Tchekhov. E rasgam os véus das guerras, das arbitrariedades e do capitalismo. E mesmo diante do caos, convocam resistências, como o Ocupe Estelita.

SERVIÇO
O ano em que sonhamos perigosamente
Quando: Dias 19, 25 e 26 de Junho de 2015, às 20h
Onde: Teatro Apolo, R. do Apolo, 121 – Bairro do Recife
Informações: (81) 3355-3320

FICHA TÉCNICA
Direção: Pedro Wagner
Dramaturgia: Giordano Castro e Pedro Wagner
Atores: Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner, Thiago Liberdade
Preparação corporal: Flávia Pinheiro
Desenho De Som:Leandro Oliván
Desenho De Luz: Pedro Vilela
Direção De Arte: Flávia Pinheiro
Fotografia: Renata Pires
Design Gráfico: Thiago Liberdade
Caixas De Som: Emanuel Rangel, Jeffeson Mandu e Leandro Oliván
Técnico: Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

Tatto Medinni e Iara Campos estão no elenco da versão teatral de A emparedada

Tatto Medinni e Iara Campos estão no elenco da versão teatral de A emparedada

Ano passado, o público televisivo assistiu entusiasmado a uma versão do folhetim A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela. A minissérie Amores roubados (Rede Globo), com dramaturgia e roteiro de George Moura e direção do mineiro José Luiz Villamarim foi deslocada do Recife para o Sertão. O ator Cauã Reymond interpreta na trama o galanteador Leandro que alardeia: “Sempre gostei do perigo. O amor que não tem risco é uma cousa desenxabida, uma aventura sem encantos e pueril”. Bem difícil resistir à atuação de Cauã Reymond.

Há alguns anos, a Trupe Ensaia Aqui e Acolá emplacou sua adaptação de A emparedada da Rua Nova, tomando liberdades estilísticas e conquistando o público com suas cores fortes do melodrama de circo. O grupo fez opção declarada pelas referências à cultura pop e pela chave cômica dessa história trágica. Uma moça teria sido emparedada pelo pai, quando este descobriu sua gravidez, isso lá no final do século 19. E o grupo abusa dos clichês presentes em folhetins, cinema e novelas, faz alterações do romance, inserindo reviravoltas e um novo desfecho.

O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas é inspirado nesse caso nebuloso, que rendeu o romance A emparedada... , escrito entre 1909 e 1912. A montagem, dirigida por Jorge de Paula, já foi vista por quase 15 mil pessoas desde 2010.

A peça que usa a estética circense, com movimentos largos dublagem engraçadíssimas, ganha duas sessões neste fim de semana, no Teatro de Santa Isabel (Praça da República), sábado (20) e domingo (21), às 20h. A direção de atores é de Ceronha Pontes e no elenco estão Iara Campos, Jorge de Paula, Marcelo Oliveira, Andréa Veruska e Tatto Medinni.

SERVIÇO
O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas.
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio).
Quando: Sábado e domingo (20 e 21),às 20h.
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia).
Informações: 3355-3322.
Duração do espetáculo: uma hora e meia

 

Júnior Aguiar e Marcio Fecher foram buscar poesia nas cartas de Glauber Rocha.

Júnior Aguiar e Marcio Fecher foram buscar poesia nas cartas de Glauber Rocha.

Numa época pós-ideologia, é muito interessante ver no palco dois atores investigando a recente história do Brasil a partir das relações do cineasta baiano Glauber Rocha com o estado de Pernambuco. Inspirado nas cartas escritas para o poeta Jomard Muniz de Brito e o ex-governador Miguel Arraes a dupla de atores Júnior Aguiar e Márcio Fecher. Premiado como melhor espetáculo e melhor trilha sonora no 20º festival Janeiro de Grandes Espetáculos, h(EU)stória – o tempo em transe perpassa por revolução, paixões e desilusões do amor e do cinema.

SERVIÇO
H(EU)stória – O tempo em transe
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados, às 20h (até o dia 20 de junho).
Ingresso: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

A Receita é um solo com Naná Sodré. Foto: Fernando Azevedo

A Receita é um solo com Naná Sodré. Foto: Fernando Azevedo

A receita apresenta uma mulher que tempera sua vida de abandono e violência com comida. Essa mulher representa as mulheres violentadas física e psicologicamente do mundo inteiro.

O solo é com a atriz Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas. O texto e a encenação de Samuel Santos, inspirados nos ensinamentos de Eugenio Barba,  convergem para a atuação da intérprete, num teatro ritualístico.

SERVIÇO
Espetáculo A receita
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, loja 1, Boa Vista).
Quando: De 29 de maio a 26 de junho, todas as sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 8484-8421.

Manoel Carlos, André Filho e Daniela Travassos, o núcleo duro da Cia Fiandeiros

Manoel Carlos, André Filho e Daniela Travassos, o núcleo duro da Cia Fiandeiros

A Tempestade (The Tempest) é considerada a obra-prima de William Shakespeare. O poder, a comédia e o romance são os três núcleos da peça. Um duque de Milão, chamado Próspero e sua pequena filha Miranda são lançados no mar e se abrigam numa ilha tropical. De lá, Próspero provoca uma tempestade em que o rei de Nápoles Alonso, seu irmão Sebastião, Antônio, um príncipe, noivo em potencial para Miranda e alguns nobres vão parar na ilha. Próspero tem a seu serviço o monstro Caliban, que ele escravizou e “domesticou”, e Ariel, o espírito que pode se metamorfosear em ar, água ou fogo. O protagonista prepara sua vingança.

A Cia. Fiandeiros de Teatro conclui seu ciclo de leituras dramáticas com A tempestade, última peça escrita por William Shakespeare. A direção é de André Filho e no elenco estão Domingos Soares, Célio Pontes, Marília Linhares, Jefferson Larbos, Carlos Duarte Filho, Geysa Barlavento, Pascoal Fillizola, Manuel Carlos, Luís Távora, Wellington Júnior e Quiércles Santana.

SERVIÇO
Leitura dramatizada de A Tempestade
Onde: Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista).
Quando: Sexta (19), às 19h30.
Quanto: Entrada gratuita.
Informações: 4141-2431.

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Arte em tempos sombrios

O ano em que sonhamos perigosamente é o o oitavo trabalho do Magiluth. Foto: Renata Pires

O ano em que sonhamos perigosamente é o oitavo trabalho do Magiluth. Fotos: Renata Pires

Vivemos em tempos sombrios. Contribuímos para a escravidão de seres humanos e nem ligamos. Em todo mundo milhares de pessoas trabalham em condições abomináveis (longas jornadas, baixos salários, alta pressão) para fabricar produtos, como roupas que você e eu vestimos. Numa cena curta, direta, agressiva de O ano em que sonhamos perigosamente, que estreou na última quinta-feira (11), no Teatro Apolo, no Bairro do Recife, um integrante do Magiluth acusa outro a colaborar com essa situação, pois o segundo está com uma camiseta de uma marca que tem esse histórico.

Há dois dias, o Papa Francisco recebeu o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no Vaticano, e fez um apelo para que Putin se comprometa com um esforço grande e sincero para alcançar a paz na Ucrânia, através do diálogo e do cumprimento do acordo de Minsk. Esse foi o segundo encontro entre os dois.

Putin é visto como novo vilão da cena internacional desde o ano passado, quando a tensão entre a Rússia e o Ocidente chegou ao nível mais elevado nos 15 anos da “era Vladimir Putin”, reforçado pela crise ucraniana e a anexação da Crimeia. As chancelarias ocidentais subiram o tom acusatório contra Moscou e chefe do Kremlin respondeu que a Rússia deve ser tratada como uma grande potência. “Os russos não vão pedir permissão a ninguém”, já esbravejou Putin.

Os atores do Magiluth gritam em vários momentos do espetáculo O ano em que sonhamos perigosamente: “Nós somos russos”, ou “Vocês são russos”. O espectador entenda como quiser, ou como puder, já que sabemos que a interpretação está articulada com a bagagem cultural, a imaginação, a memória de cada um. E que a virtualidade de sentido de uma obra fica à espreita de ser concretizada pela recepção, para não esquecer de Wolfgang Iser, e todo espectador pode ser afetado à sua maneira.

Mas temos outro russo muito importante na montagem: Anton Pavlovitch Tchekhov (1860-1904). A partir de sua obra, o grupo articula procedimentos ousados de recortes do clássico, iluminando as questões contemporâneas, como as políticas para os espaços públicos nas cidades.

Tchekhov foi um transgressor da tradição literária clássica e criador de um novo paradigma estético do drama contemporâneo, como nos aponta a pesquisadora e professora russa Elena Nikolaevna Vássina, da Universidade de São Paulo (USP), que esteve na capital pernambucana em uma das edições do Festival Recife do Teatro Nacional.

Os rapazes do Magiluth extraem o típico humor tchekhoviano (aquele misto de engraçado e triste ao mesmo tempo), de cenas de A Gaivota, O Jardim das Cerejeiras e As três irmãs. Lembra um drible de craque numa jogada de futebol. É desconcertante.

ESpetáculo está em cartaz às quintas e sextas no Teatro Apolo

Espetáculo está em cartaz às quintas e sextas no Teatro Apolo

O metateatro de A Gaivota assume dimensões ambiciosas se refletirmos que a nova montagem do Magiluth investe em todos os sentidos no processo de criação, nos procedimentos do teatro, na crise da representação (e que extrapolam a questão do palco e se projetam nos atos revolucionários). O poeta Tréplev investe na composição de um novo jeito de fazer teatro. Arkádina, sua mãe é uma veterana atriz ligada aos velhos moldes. Nina é uma atriz em formação e Trigórin é um escritor famoso. Entre ambição, decadência, amores não correspondidos, o autor russo trabalha com um fiapo de conflito, com várias linhas vagas. Nesse sentido, parece um modelo para a trupe pernambucana.

Ao construir essas teias emaranhadas, a rapaziada berra que na sua criação é o teatro que está no centro, como o mais radical dos dispositivos. Isso com todas as citações e cruzamentos. A cena de O ano em que sonhamos perigosamente expõe os aparatos do teatro, com o palco praticamente nu e iluminado. Tchekhov ironiza o dramaturgo protagonista, como parece-me que o Magiluth troça com a criação e suas circunstâncias. E, com a ajuda do escritor russo, eles fazem um acerto de contas com o teatro burguês.

Não é por acaso a escolha desse dramaturgo que supera a trama dramática espetacular, com seus finais abertos. Tchekhov convoca o espectador a ser um participante ativo no ato da criação. Neste novo trabalho, o Magiluth também faz isso. Só que com uma estrutura da peça totalmente fragmentada.

Nesse teatro dentro do teatro, em As três irmãs Prósorov – Irina, Olga e Macha – no plano material estão em situação pior no final da peça. Seus sonhos e esperanças de um futuro promissor escaparam entre as mãos.

Já o trecho escolhido pelos dramaturgos Giordano Castro e Pedro Wagner de O jardim das cerejeiras faz o público pensar que o personagem está falando sobre o Ocupe Estelita e todo o processo de especulação imobiliária que envolve essa questão. É incrível.

Atores ousam ao traçar conexões teóricas e processo criativo. Foto: Renata Pires

Em O ano em que sonhamos perigosamente, as crises política, social e econômica daqui e dali, e do todo mundo e a existencial, deles e nossa, ganham corpo por provocações teóricas vindas do cinema, da crítica, da arte. De maneira rizomática, esse grupo de jovens traça as linhas de resistência ético-estético-político, onde elementos e conceitos se tocam, fazem conexões, explodem em todas as direções. Deleuze e Gattari presentes com seus agenciamentos das máquinas desejantes.

E como corporificar tantos conceitos, tantas referências? Fluxos… Cinco rapazes ensaiam, ou melhor treinam na elaboração de um momento belo. Os urdimentos do palco estão expostos. Com umas frases e movimentos em várias direções, saltos, esforços, o grupo convoca pensamento sobre a beleza em Sócrates e Platão, a beleza da natureza de Kant e a beleza da arte em Hegel. É denso.

Thiago Liberdade deita no chão, baixa a calça e deixa a bunda à mostra e desliza num movimento ondulatório que parece uma cobra, um boto. Giordano Castro admira e comenta: “Isso é lindo!”.

Cinco atores do grupo estão em cena

Os movimentos contestatórios estão no espetáculo

A expressão persa war nam nihadan – “matar uma pessoa, enterrar o corpo e plantar flores sobre a cova para escondê-la”, usada pelo filósofo esloveno Slavoj Žižek, um dos mais provocativos teóricos da contemporaneidade, é dita várias vezes no espetáculo. O titulo da peça, por sinal, é emprestado do seu livro O ano em que sonhamos perigosamente no qual o filósofo traça uma análise corajosa sobre o que chama de “sonhos emancipatórios” (Primavera Árabe, Occupy Wall Street, manifestações em Londres e Atenas) como também dos “sonhos destrutivos”, como a chacina de Anders Breivik, na Noruega, e outros movimentos racistas e ufanistas pelo mundo. Žižek usa a frase para descrever o processo de abafar as mobilizações populares.

O elenco simula resistência: atira pedras ou bombas imaginárias. Há um grito abafado desses homens, que vez por outra eclode. Stela em explosão emocional!!!

O palco vira um campo de forças onde o capitalismo está em xeque com protestos, acampamentos, reivindicações e barricadas desenhadas pelos cinco homens. A revolução continua. Ocupações ganharam o espaço público, o espaço midiático e as redes sociais.

O grego Yorgos Lanthimos – cineasta,que realiza “gênero de filmes em que não se compreende tudo” e ganhou fama internacional com Dente Canino (Prêmio Un Certain Regard, Cannes em 2009) entra no jogo com sua influência de falar do micro para atingir o macro.

O grupo encara os riscos. É muito interessante a exposição dos conflitos da cidade no corpo do ator, essa máquina desejante. Mário Sergio Cabral mostra os pontos de tensões, os lados esquerdo e direito, as nervuras.

Cinco atores no palco. Pedro Wagner, que também dirige a peça, está vestido de tenista. Os outros de camiseta e calça/short. Com a ajuda de caixas de som eles remixam frases e idéias. Dançam em ritmos sincopados. Fazem pequenas intervenções. Contaminam uns aos outros. Mostram os perigos de desejar. Questionam se existem caminhos possíveis e alternativos ao capitalismo neoliberal.

Os sonhadores acordaram do pesadelo. Somos losers/ perdedores? Esse teatro aguça a lucidez nesses tempos da ultra-globalização. Hora de reavaliar o papel da política e dos intelectuais. E também da criação e do teatro.

Na cena, eles usam um pó branco, que produz vários efeitos ao ser lançado para o alto, sobre ventiladores, passado na cara dos atores. A luz de Pedro Vilela ressalta o mecanismo do ser teatro, suas entranhas e processos de construção.

A peça provoca. Desde uma música romântica para descansar a incitações criativas mais duras uns com os outros. A parte da peça em que o grupo articula o gozo teórico me pareceu muito explicativa, o que desestabiliza a força e a fúria de outros momentos.

O elenco está inteiro, entregue ao trabalho com todos os riscos de problematização da mímesis. Com seus corpos como máquinas de guerra, seus jogos a desafiar os limites. A fragmentação, as repetições estilísticas, a gramática de cada ator contribuem para a potência do espetáculo.

E isso é teatro contemporâneo dos bons.

Serviço:
O ano em que sonhamos perigosamente
Quando: Dias 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de Junho de 2015, às 20h
Onde: Teatro Apolo (R. do Apolo, 121 – Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3320

Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner ensinam a beijar

Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner ensinam a beijar


Ficha Técnica:
Direção: Pedro Wagner
Dramaturgia: Giordano Castro e Pedro Wagner
Atores:  Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner, Thiago Liberdade
Preparação corporal: Flávia Pinheiro
Desenho De Som: Leandro Oliván
Desenho De Luz: Pedro Vilela
Direção De Arte: Flávia Pinheiro
Fotografia: Renata Pires
Design Gráfico: Thiago Liberdade
Caixas De Som: Emanuel Rangel, Jeffeson Mandu e Leandro Oliván
Técnico: Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

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Magiluth para doer no osso

Magiltuh estreia O ano em que sonhamos perigosamente. Foto: Renata Pires

“Vocês tão muito ‘fudidos’, né?”. A pergunta, quase cúmplice, aos atores do Magiluth, veio do vigilante do Centro Apolo-Hermilo, no Bairro do Recife, onde foi ensaiado o novo espetáculo do grupo: O ano em que sonhamos perigosamente. A estreia é nesta quinta-feira (11), às 20h, no Teatro Apolo. O mesmo vigilante – que também fez outros comentários igualmente afetivos, sempre terminados por um ‘né?’, do tipo “a peça de vocês é muito cabeçuda, né?” – foi um dos funcionários do Centro que acompanhou a intensa rotina de trabalho.

Desde o segundo semestre do ano passado, com as apresentações pelo país por conta do Palco Giratório e o aumento do preço das locações de imóveis, o Magiluth entregou a sede que ocupava no Recife Antigo. Como não houve inscrições para o Programa Espaço de Criação, do Centro Apolo-Hermilo, o grupo foi convidado a ocupar o local.

Em entrevista no Bar Central, em Santo Amaro, onde os atores de 30 e poucos anos circulam bastante, eles deixam claro, no entanto, a postura política adotada pelo grupo: “a gente continua sendo oposição a essa Prefeitura e a esse Governo, principalmente pela atuação deles na Cultura, mas não podemos perder espaços. Não é um favor. O Centro Apolo-Hermilo é um espaço nosso. Se a gente não se utiliza disso, eles vão fechar. Não é uma oposição cega. Estamos ocupando porque é da cidade. Não é da Prefeitura. É público”, explica o ator e dramaturgo Giordano Castro. As críticas à gestão não se ampliam aos funcionários do Centro, todos citados nos agradecimentos do programa do espetáculo. “As pessoas que administram o Centro também são artistas. Eles estão lá defendendo aquele local e aquele fazer. Os técnicos, por exemplo, são muito disponíveis”, complementa Giordano.

Erivaldo Oliveira

Erivaldo Oliveira

Cena 2 – O ano em que sonhamos perigosamente, título emprestado do livro do filósofo esloveno Slavoj Žižek (a peça não é baseada na obra), é o trabalho mais político da trajetória de 11 anos do Magiltuh. Em Aquilo que o meu olhar guardou para você a cidade era um pano de fundo, mas vista de maneira bastante afetiva e simbólica; nas performances realizadas em vários pontos no projeto Intervenções urbanas com mídias locativas, a postura era bem mais crítica. Foram detidos, por exemplo, quando resolveram mudar os nomes das ruas do Bairro do Recife: adesivaram todas as placas com o nome do então governador Eduardo Campos.

Em O ano em que sonhamos perigosamente, no entanto, a crise política, social, econômica e existencial é detonadora do espetáculo. As provocações teóricas que ajudaram a construir o espetáculo começaram quando Pedro Wagner, que assina direção e dramaturgia, essa última em parceria com Giordano, apresentou ao grupo a filmografia do grego Yorgos Lanthimos, especialmente o filme Dente canino (Dogtooth). “No filme, o pai tranca a família dentro de uma casa. Ele faz as próprias regras, até vocabulário novo. E a premissa é que eles só poderiam sair de casa quando o dente canino caísse. Yorgos usa o microcosmo de uma família para falar da Grécia e da situação que o país vivencia”, pontua o ator Erivaldo Oliveira.

Passaram por outros filmes gregos como Miss Violence (Alexandros Avranas) e Attenberg (Athina Rachel Tsangari), chegaram a Žižek, intelectual que consegue analisar, quase que concomitantemente, movimentos como a Primeira Árabe o Ocuppy Wall Street. Também leram Adorno. Revisitaram a Ditadura no Brasil, na América Latina. E se agarraram à Deleuze, com suas “máquinas desejantes” e à noção de estrutura rizomática, onde elementos e conceitos entrecruzam-se, apresentam incidências uns sobre os outros, se alteram.

Cinco atores do grupo estão em cena

Cinco atores do grupo estão em cena

Cena 3 – Mas o espetáculo, mesmo cabeçudo (o vigilante deve mesmo estar certo), traz uma fábula? Com começo, meio e fim, não. O espetáculo, tentam explicar os atores, é divido mais ou menos em três etapas: na primeira, cinco homens estão buscando construir um momento belo. Ensaiam e treinam pra isso; na segunda, eles encenam trechos de Tchékov (A Gaivota, O jardim das cerejeiras e As três irmãs); e a terceira…bom, nosso texto não podia ter spoiler.

Mas eles já avisam que estão jogando no nível hard. “Antes de chegar ao espetáculo que temos hoje, tínhamos outro. Todo montadinho. Foi quando paramos e nos questionamos. A gente ‘tava falando em Deleuze, em rizoma, mas ainda estávamos presos a Aristóteles. Peraí: vamos sair do nível 4 e vamos para o nível 6. Bagunçar tudo!”, anuncia Giordano.

Assim como para outros grupos da cena contemporânea, o Magiltuh está mais preocupado com a presentificação do ator do que com a construção tradicional de um personagem. Criaram um jogo próprio, que vem se desenvolvendo ao longo dos trabalhos do grupo. “Não é improviso. É um trabalho de composição, mas que está aberto. É um risco. Todas as noites poderemos ter espetáculos diferentes”, opina o ator Thiago Liberdade.

Cena Ad infinitum com ou sem hiatos – Se você é daqueles que detesta ser chamado ao palco, a possibilidade de ter que participar com uma frase que seja no espetáculo já te deixa tenso ou cansado, nem se preocupe. “Aqui a maneira de afetar foi exatamente não tentar aproximação com o público. Não vamos te tocar, não vamos te olhar, não vamos fazer nada. Estamos aqui e vocês aí”, adianta Castro.

“Mas não vá assistir com expectativas”, é o que diz Erivaldo Oliveira. “Talvez algumas pessoas não entendam. Talvez não seja pra entender tudo. É duro. Não tem como lidar com esse tema de forma delicada, fazendo graça ou de maneira superficial”, complementa. Incensados como grupo cult-pop-queridinho da cena contemporânea, o Magiluth tem um público cativo – de artistas, mas principalmente de não artistas. Mas, se chegaram até aqui, é porque não se furtaram ao risco, pautado naquela máxima tão conservadora da labuta diária. “Rapaz, a gente se problematiza, enfrenta as crises de todas as formas num processo desse. Mas, no final, a percebemos que só sabemos fazer isso: só sabemos fazer teatro. E queremos estar juntos, ali, no palco”.

Serviço:
O ano em que sonhamos perigosamente
Quando: Dias 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de Junho de 2015, às 20h
Onde: Teatro Apolo (R. do Apolo, 121 – Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3320

Ficha Técnica:
Direção: Pedro Wagner
Dramaturgia: Giordano Castro e Pedro Wagner
Atores:  Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner, Thiago Liberdade
Preparação corporal: Flávia Pinheiro
Desenho De Som:Leandro Oliván
Desenho De Luz: Pedro Vilela
Direção De Arte: Flávia Pinheiro
Fotografia: Renata Pires
Design Gráfico: Thiago Liberdade
Caixas De Som: Emanuel Rangel, Jeffeson Mandu e Leandro Oliván
Técnico: Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

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