Da culpa à libertação
Crítica de Vulvas de quem?

 

Márcia Cruz em cena no experimento Vulvas de quem?. Foto: Keity Carvalho

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

No último domingo, 21 de março, morreu Nawal El Saadawi, escritora egípcia feminista, autora de mais de 50 livros, entre ensaios, romances e peças. Em A face oculta de Eva, Saadawi conta que, aos seis anos de idade, teve o clitóris cortado. A mãe sorria. O cenário era o chão de um banheiro. Ao longo de sua trajetória como ativista, o combate à circuncisão feminina foi uma das suas principais causas. Numa entrevista à Folha de S. Paulo, em 2016, a autora salientou a diversidade das mulheres e das suas lutas: “Vivemos em um mundo dominado por um sistema religioso, patriarcal e racista. Mas o nível de opressão varia de acordo com o tempo e de um lugar ao outro, segundo o grau de consciência da maioria e os poderes políticos das mulheres e homens lutando por liberdade, justiça e dignidade”.

Esse grau de consciência de que fala Saadawi tem se ampliado nas últimas décadas, num movimento que é complexo, porque as pautas feministas, assim como outras pautas sociais, são cooptadas pelo sistema capitalista, alienante por princípio. De toda maneira, a discussão sobre feminismo explodiu fronteiras, ganhou dimensão de debate público, embora ainda enfrente muitas distorções. Por exemplo: ontem à noite, 23 de março, o Brasil votou para que uma mulher que estava vivendo um relacionamento tóxico fosse eliminada do Big Brother Brasil. O principal oponente dela era um homem que fez piadas homofóbicas. O comportamento da mulher, taxada de trouxa aos quatro ventos do país, foi julgado, porque além de não perceber as armadilhas da relação, ela ainda se ajoelhou e fez uma declaração de amor em rede nacional.

Carla Diaz é uma atriz que cresceu sob os holofotes da televisão. Branca, loira, cabelão liso, magra, menininha, cumpre os pré-requisitos do estereótipo de beleza padrão. Ainda assim, não está a salvo do relacionamento abusivo. Nenhuma de nós está. Em qualquer idade, classe social, cumprindo ou não os padrões, mais um degrau na escala da opressão. A ressaca moral que, provavelmente, vai assombrá-la por um tempo, é parecida com àquela da personagem de Márcia Cruz em Vulvas de quem?, experimento cênico com direção de Cira Ramos e texto de Ezter Liu, uma realização da Cia Maravilhas de Teatro.

Aliás, talvez seja mais apropriado dizer “das personagens”. Sem seguir uma cronologia linear, Márcia Cruz vai dos 7 aos 93 anos, explorando os mecanismos da relação que se transforma em abuso, físico, psicológico, moral. “Quem vendou teus olhos com esse trapo sujo e depois te chamou de cega?”. “Quem queimou teu passaporte na pia do hotel e disse que ir não era uma opção?”. “Quem passou tua autoestima no liquidificador?”.

A atriz trilha o caminho do reconhecimento, desse instante em que a mulher tem a coragem de se olhar, mergulhar em si, e admitir que caiu na esparrela do abusador. O cenário é um banheiro, com a personagem de frente para o espelho, o público, que a acompanha nesse exercício de dor profunda. Márcia é uma atriz que passeia pelas filigranas da atuação – vai do choro e do grito rasgado ao riso de libertação com desenvoltura de quem tem anos de experiência e talento.

Personagens se olham no espelho e percebem relacionamentos abusivos. Foto: Morgana Narjara

Como o cerne da questão é identificar o abuso, o sentimento inicial que escorre desse texto, dessa personagem, é o da culpa. Vulvas de quem? Culpa de quem? Como eu não percebi? Como não me dei conta? Só que, como num ciclo vicioso, que atravessa o tempo e as gerações, como explicita a dramaturgia, é muito difícil se libertar, tanto do relacionamento quanto da culpa, que não deveria nem nos pertencer. Há um limite tênue, tanto no experimento como na vida. Parem de nos culpabilizar. Paremos de nos culpabilizar.

O desafio é enorme: mostrar a realidade da violência e da opressão no teatro, num experimento cênico de poucos minutos, que envereda pela elaboração discursiva de um cenário fiel ao cotidiano. Não há muitas permissões para a abstração, além da poesia crua do texto. O fluxo da jornada dessas personagens é o da repetição, até que a música de Flaíra Ferro irrompe no ambiente. Como um mantra, uma oração que clama por cura. “Eu quero me curar de mim, quero me curar de mim”.

Há uma força, que se desprende do texto, da música e, principalmente da atuação, que é do campo da catarse – tanto que reforça a ideia da cura. Que nos alcança e nos fere diretamente pela identificação. O espelho está escancarado, refletindo os rostos de todas nós. Que, para além da consciência da opressão, venha a superação. Porque, como diria Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem. Antes que seja tarde.

Ficha técnica:
Texto: Ezter Liu
Direção: Cira Ramos
Elenco e produção: Márcia Cruz
Sonoplastia: Fernando Lobo
Música: Flaíra Ferro
Iluminação: Luciana Raposo
Fotos: Keity Carvalho
Realização: Cia Maravilhas de Teatro

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Paulo de Pontes flameja em experimento cênico
Crítica de Inflamável

O ator Paulo de Pontes, no camarim improvisado na sua casa. Foto: captação de tela

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

“Como se faz com o nervosismo?”, pergunta o ator Paulo de Pontes, de cara lavada, enquanto aguarda o público para a sessão virtual no Festival Reside Lab – Plataforma PE, de Inflamável, um experimento cênico, com poemas de Alexsandro Souto Maior e direção de Quiercles Santana. “Estou sentindo o mesmo friozinho na barriga que sinto no teatro, a mesma ansiedade, é incrível”.

Dá o primeiro sinal!

“Uma loucura que está o mundo!”, exclama. “Mas continuamos resistindo, experimentando, provando que a gente está vivo”.

No camarim improvisado em sua casa, Paulinho ressalta suas crenças. “O que é mais importante é a vida. E o amor. A gente perdeu muita gente, família, amigos, colegas, conhecidos”.

Começa a se trocar.

“Tem muita gente resistindo, experimentando, continuando a fazer arte. Precisamos valorizar essas iniciativas. Eu parabenizo (nós também) Paula de Renor (diretora geral e curadora do Reside Festival BR – edição especial Reside LAB Plataforma PE)”.

Coloca a lente de contato. Anuncia os patrocinadores. E oferenda a experiência às pessoas que partiram por complicações da Covid-19. Fala que precisamos aprender com essa pandemia a compreender a voz do outro, “Viva a vida! E viva o teatro!”

inflamável junta três poemas de Alexsandro Souto Maior. Foto: Captação de tela

Estamos enclausurados. Estamos enclausurados. Estamos enclausurados reverbera esse experimento cênico, onde a luz é pouca, o espaço é ínfimo e o efeito de claustrofobia nos atinge. Convivemos com o insuportável testemunho de perdas de milhões de vida e no Brasil essa sensação é agravada pela mão genocida que ocupa o  mais alto cargo do Executivo.

A Sonata para Piano nº14 em Dó sustenido menor, Op. 27, nº 2, de Ludwig van Beethoven, – mais conhecida como Moonlight Sonata (Mondscheinsonate em alemão), a Sonata ao Luar, que ostenta características introspectivas, quase de uma marcha fúnebre, – dá o tom grave na peça logo no início.

Os três poemas escolhidos, do livro Inflamável, de Alexandre Souto Maior, lançado em 2019, elaboram profundas conexões com o mundo contemporâneo, como também conectam nossas feridas, do patriarcado, da exploração, da colonização.

O Homem do Pau Brasil, A Margem e Descolonizado trançam a dramaturgia que acessa o passado e tensiona o presente. “Esses homens que não são de folhas / que não são do pau-brasil / Gritam palavras de ordem / Ao som de coturnos e fuzis na mão / Querem mesmo me plantar enterrar”. Plantar no original do poema, enterrar na peça.

A Margem propõe um diálogo com um ausente que reivindica ser “… a palafita enlameada / De dejetos / Da casa grande” e “o porão de um navio / Cheio de gritos e gemidos”. Essas lamentações são entrecortadas por frases do Nero brasileiro, que alardeou: “Não sou coveiro”; “É muito mimimi”; “Eu prefiro filho morto…”; “Vocês reclamam demais”.

A presença incendiada de Paulo Pontes oscila entre a suavidade e a revolta com Descolonizado. Cochicha com doçura “Canto o que me sussurra um guanumbi / O que me conta uma cabocla / O que me confessa um rouxinol”, para insurgir feroz “Quando pisar nesta terra / Peça licença…”

Imagens projetam um Recife, cidade tão bela cortada por rios, mas que sangra. Seus artistas inquietos fazem o melhor para honrar a tradição aguerrida dessas terras. Encaram ainda a incompreensão política do papel da arte e da cultura no contexto de uma cidade, de um estado, de um país.

E, neste março, em que fez três anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, a pergunta ecoa na peça. Quem mandou matar Marielle e por quê? Só poderemos pensar que a justiça está atuando como justiça quando essas respostas forem respondidas. O Brasil insurgente das periferias, que desafia o “apartheid racial não oficial” e que enfrenta de peito aberto o patriarcado, exige respostas.

Por que matar uma vereadora eleita em exercício do mandato foi um anúncio de que esse país  ficou mais covarde ao se tornar mais conivente com genocídios de negros, de indígenas, de mulheres. Por que um pouco do Brasil morreu em 17 de abril de 2016 com a abertura do impeachment de Dilma Rousseff, mais um pouco em 14 de março de 2018 com o assassinato de Marielle e Anderson, e mais um pouco com a administração do ódio de Bolsonero, que vem provocando uma tragédia sem precedentes. É muito eloquente o silêncio sobre quem ordenou o crime e por quais razões.

A direção da peça é assinada por Quiercles Santana

Inflamável

Paulo de Pontes é um ator militante. Desde que voltou ao Recife para fazer um trabalho pontual – isso já faz três anos – foi ficando e atuou em uma dezena de espetáculos – com grandes elencos, em dupla, em solo. Se envolveu com a política cultural da cidade do Recife e de Pernambuco, nas lutas com outros artistas e agentes culturais, desde a campanha pelo Teatro do Parque a articulações por editais e outras frentes. Um trabalho nem sempre visível.

Como ator, ele é intenso e totalmente entregue, daqueles artistas apaixonados e apaixonantes. Quando ocorre uma sinergia entre atuação, encenação e dramaturgia é um prazer vê-lo em cena; quando não, reconhecemos o seu esforço.

O experimento cênico junta muitos talentos, com a direção do sempre criativo Quiercles Santana, um dos encenadores mais febris de Pernambuco. O resultado causa uma suspensão reflexiva desse lugar em que pulsam vida e morte. Pelos discursos nômades, somos convocados a percorrer as entranhas do país com suas dores enraizadas nas injustiças sociais.

Feito com uma única câmera de celular, um projetor de imagens, uma janela antiga como cenário, um técnico para modular luz e som, e um ator altamente inspirado, que movendo-se em um exíguo espaço flameja em arte.

Inflamável é um breve poema de resistência. Ao expor os aspectos sombrios desses tempos em situação-limite, de abandono, do mundo paralisado por uma pandemia, atingido pela crise financeira e do Brasil em alta-tensão provocada pelos desmandos da política, a peça aponta para a carga de resistência, para a potência de combate. Não à toa a palavra adiconeg fecha a transmissão. Temos consciência, temos força e temos esperança de que esse jogo vai mudar.

Ficha Técnica:
Autor: Alexsandro Souto Maior
Diretor: Quiercles Santana
Atuação e produção geral: Paulo de Pontes
Direção de arte: Célio Pontes
Técnico de som, luz e vídeo: Fernando Calábria
Produção executiva: Márcia Cruz
Realização: Pontes Culturais

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Um flâneur da memória
Crítica do espetáculo Brabeza Nata


Alexandre Sampaio em Brabeza Nata. Fotos: Captação de tela

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

 

O título do experimento cênico Brabeza Nata lança uma ideia de homem forte, rude, possivelmente de baixa escolaridade, pouco afeito a etiquetas e outros salamaleques. É um estereótipo do sertanejo, do nordestino, de um Nordeste “parado” no tempo entre a pobreza e o cangaço, da criatura desacostumado a demonstrações de carinhos. Primeira queda do cavalo. O dramaturgo Luiz Felipe Botelho desafia nossa percepção já no título. E rechaça a moldura da preconcepção, que resvala na negação do sujeito. Ainda no século 20, em 1999, ele escreveu Coiteiros de Paixões, em que investigava, entre outras coisas, as masculinidades, seus desvios e reinvenções, no fictício esconderijo de cangaceiros.

Desse deslocamento inicial seguem-se outros, pequenas surpresas para desestabilizar os sentidos prévios. O ator Alexandre Sampaio assume o papel de José Mateus. E seu primeiro convite é para os olhos. Existe um costume, ainda, dos anfitriões das casas nordestinas, de apresentarem os cômodos à “visita” como demonstração de gentileza. O personagem passeia pela casa expondo um pouco da intimidade. São portas imaginárias de entrada.

O percurso da câmera revela um pouco desse personagem em palavras destacadas de cartas, cartões, bilhetes, em antigas fotografias. Um livro Vira-Lata de Raça – Memórias de Ney Matogrosso. São muitas pistas para insights do observador. Objetos ganham texturas, remédios gritam como salva-vidas para não enlouquecer. E a canção Na Hora do Almoço, do Belchior, conduzindo por lugares inimagináveis, pois como diz a música “Cada um guarda mais o seu segredo”.

Sentimos a mão do diretor Cláudio Lira no encadeamento das cenas, nos enquadramentos, na cumplicidade estabelecida do intérprete com o público virtual. Da aridez do título à amabilidade da narração, a peça passa para o espectador a tarefa de preencher o percurso de apreensão da experiência.

Confesso que a primeira frase do texto “Nasci na periferia do interior do interior” não me convenceu. Procurei o lugar e achei um efeito de linguagem que não me fisgou. Mas o personagem segue erguendo o cenário cravado no seu corpo, na sua mente,  quem sabe no seu coração. “Distante, pobre e sem nome”. Feito ele. 

Com um trabalho repleto de porosidades de sentidos, as reminiscências que habitam esse corpo-repertório são projetadas na casa inflada de acontecimentos. Camadas da personagem atravessadas pelas vivências do ator.

Esse flâneur enclausurado pela pandemia busca uma libertação através dos relatos do confinamento afetivo, de uma mãe que o rejeitou desde o parto e da pulsação de Eros, alimentada pela avó desde sempre. Como arqueólogo de sua própria história, ele perscruta lembranças permeáveis de sua infância e adolescência. Diante do espelho, projeta o duplo de si no passado, com a capacidade de enxergar as escolhas da mãe, os mimos da avó. Seu corpo acervo rechaça rótulos.  

Além de tensionar o papel do macho, o experimento cênico testa questionar o papel convencional de mãe, como figura dedicada aos filhos, capaz de fazer qualquer tipo de sacrifício por eles; quer dizer, aquela caixinha quase sagrada da maternidade. Não, a mãe de José Mateus parece centrada em si mesma.

Penso na capacidade do olhar, de infiltrar-se no espaço-tempo. Imagino uma rede de pontos de vista exercendo uma supercognição da visão. Uma ponte entre o interior do personagem, que dá gás à imaginação do espectador. Nós avistamos as contradições e num jogo consciente fazemos as composições a partir dos dados de José Mateus, no modo como ele narra sua solidão, resquícios de sua infância e suas fantasias lacunares da ausência da mãe “muito braba e muito bonita”, o exercício da sexualidade e do afeto.

A peça estreou em junho durante a temporada do Teatro de Quinta da Casa Maravilhas em tempos de pandemia Covid-19. Além de Brabeza Nata, integraram a mostra Inflamável, de Alexsandro Souto Maior, com direção de Quiercles Santana e atuação de Paulo de Pontes; e Vulvas de Quem?, com direção de Cira Ramos atuação de Márcia Cruz, a partir de contos da escritora pernambucana Ezter Liu.

Essas sessões do ano passado foram gravadas e ficaram disponibilizadas no perfil da Casa Maravilhas. Na sessão apresentada no Reside há uma visível maturidade da proposta, domínio técnico dos planos e enquadramento. E não é fácil fazer todos esses ajustes ao vivo. O resultado é cativante. Ficamos verdadeiramente interessados pela história de José Mateus.

As apresentações ao vivo carregam esse fluxo de eletricidade maior, o tempo síncrono, o risco. O trabalho se insurge com esse ar transitório, tão próprio do teatro, tão único a cada nova sessão.  

O desempenho de Alexandre Sampaio é potente, e cheio de sutilezas interpretativas. O confronto entre luz e sombra se opera inclusive por meio de espelhos. O espelho maior tipo camarim, os menores que amplificam bocas e desejos.  

Ele fábula o que foi, imaginou, projetou. E nessa fabulação cabe mais intensidade dessas figuras lembradas, mãe e avó. Mais tintas nos retratos. Penso que ampliando e verticalizando as histórias das duas na voz do protagonista podem render um espetáculo robusto, com cargas emocionais fortes. 

Aprecio os breves silêncios.

Aprecio os breves silêncios.

Aprecio os breves silêncios.

Espero que eles se expandam.

Como cápsulas para o futuro.

Brabeza Nata encerra com uma música da Cris Braun, Cuidado com pessoas como eu: “Dizem que se deve ter cuidado / Com pessoas como eu, Vão logo dando presentes / Dizendo te amo / No primeiro adeus”. Há esperanças.

Ficha Técnica:
Texto: Luiz Felipe Botelho
Direção: Cláudio Lira
Elenco: Alexandre Sampaio
Realização: Cia Maravilhas de Teatro

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Clara e Conceição foram ver o mar
Crítica de Transbordando Marias

Clara e Conceição Camarotti (foto) trabalham juntas em Transbordando Marias. Foto: Reprodução de tela

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

No meu corpo, sou muitas. As que vieram antes, as que virão depois. Carrego comigo todas elas. Em Transbordando Marias, espetáculo que abriu a programação de encenações do festival Reside Lab – Plataforma PE, no corpo da atriz e bailarina Maria Clara Camarotti estão imbricadas as vivências da sua mãe e da sua avó, numa teia complexa que traça paralelos, coincidências e viradas de rumo entre histórias temporalmente distintas, mas ligadas pela ancestralidade.

Há algum tempo, ando absorvida pela leitura do livro Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Mergulhada na história de Kehinde, nascida em Savalu, no reino de Daomé, na África, em 1810. É uma personagem forte, que sente a ancestralidade pulsando no corpo, nos sonhos, nas crenças compartilhadas com o seu povo. Transbordando Marias me levou de volta às primeiras páginas do livro.

Kehinde era uma ibêji, como são chamados os gêmeos entre os povos iorubás. Pela tradição, ibêjis eram símbolo de boa sorte e de riqueza. Com Kehinde e Taiwo atadas ao próprio corpo, uma na frente e outra atrás, a mãe das crianças dançava no mercado para ganhar dinheiro. A primeira lembrança de existência de Kehinde eram os olhos da Taiwo. “Éramos pequenas e apenas os olhos ficavam ao alcance dos olhos, um par de cada lado do ombro da minha mãe, dois pares que pareciam ser apenas meus e que a Taiwo devia pensar que eram apenas dela. Não sei quando descobrimos que éramos duas, pois acho que só tive certeza disto depois que a Taiwo morreu. Ela deve ter morrido sem saber, porque foi só então que a parte que ela tinha na nossa alma ficou somente para mim”.

Clara Camarotti dança, não no mercado, mas no espaço de um casa, como se fosse a mãe de Kehinde. Com a mãe e a avó, que também podem significar casa. Assim como o corpo que habitamos, com todas as suas singularidades, casa. Sabe que não é apenas uma. Tem consciência de que são três. São várias, incontáveis, presentes ali naquela sala, através da sua dança.

O elo entre as três mulheres é o número 9, aquele que simboliza o encerramento de ciclos. Que rompe com as estruturas de violência reproduzidas a cada geração. A avó foge dos maus-tratos do marido depois de nove anos, deixando a filha de nove anos, levando consigo apenas a mais nova, de nove meses. A mãe foge de casa com o circo, aos nove anos, porque queria ser atriz. A rejeição sofrida pelo grupo de amigas aos nove anos com a justificativa de que era uma criança feia.

Clara Camarotti dança a história das mulheres da família. Foto: Reprodução de tela

A perspectiva documental, autobiográfica, é uma das potências do trabalho, que consegue estabelecer zonas fluidas entre ficção e realidade. Afinal, memória também é construção, (re)elaboração de sentidos e narrativas. Quando contamos, nos insurgimos contra o esquecimento. Damos uma oportunidade, traço de imensa generosidade, para que os outros também se apropriem da narrativa, carreguem consigo, passem adiante.

Ao trazer para a cena a mãe, a atriz Conceição Camarotti, 67 anos, Clara entrega um presente precioso ao espectador. Conceição é uma atriz gigante, que preenche a tela, que instaura um tipo estranho e raro de cumplicidade imediata. Está em cena sendo questionada pela filha se gostaria de interpretar um papel, se preferia improvisar ou simplesmente ser ela mesma. Consegue fazer as três coisas. Ora provando o figurino, ora contando histórias deliciosas de uma jovem destemida numa sociedade patriarcal, sentada numa mesa, na cozinha de um sítio, ora reproduzindo, livremente, as falas da velha Maria Josefa, louca, mãe de Bernarda Alba, personagem célebre de Federico Garcia Lorca.

Texto tem trechos inspirados na personagem Maria Josefa, de Lorca. Foto: Reprodução de tela

Nesta situação de pandemia, quando morremos literalmente sem fôlego, numa metáfora materializada, triste e cruel da nossa realidade, Conceição pede que a filha abra a porta, que a deixe ver o mar. Assim como ela, a filha e os filhos da filha também terão cabelos brancos, como a espuma da onda do mar, bubuia, que é doce, beija a praia, mas tem a força de levar tudo embora. O tema da velhice perpassa a dramaturgia como condição inerente, espelho-tela refletindo a imagem da velha atriz preta, potência de vida, encarando o soco no estômago das limitações trazidas pelos anos. Ao mesmo tempo, existência, resistência.

Transbordando Marias foi criado em conjunto por uma equipe de artistas: além de Maria Clara Camarotti, Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas, Maria Agrelli, Silvinha Góes e Conrado Falbo, esses últimos parceiros de Clara no Coletivo Lugar Comum. O trabalho foi possível graças ao edital emergencial Cultura em Rede do Sesc Pernambuco. Gestado durante a pandemia, as questões técnicas, desde a captação das imagens e do som até a edição, são o ponto mais frágil do trabalho. A sensação é de que, embora tenha uma dramaturgia e uma atuação consistentes, com muitas possibilidades, trata-se ainda de uma semente, de um experimento que pode virar árvore frondosa.

Dá esperança pensar que podemos ter, em algum momento de um futuro que quiçá nos seja próximo, um espetáculo documental, Clara e Conceição Camarotti pisando o palco de um teatro. Ou um filme, já que as telas amam o talento de Conceição. Vou puxar a sardinha para o nosso lado, que venham logo, sem demora, as três batidas de estaca do Teatro de Santa Isabel, anunciando que a sessão já vai começar.

Clara Camarotti. Foto: Reprodução de tela

Ficha Técnica:
Concepção e direção geral: Maria Clara Camarotti
Elenco: Conceição Camarotti e Maria Clara Camarotti
Texto livremente inspirado na personagem Maria Josefa, da peça A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca
Equipe de criação: Maria Clara Camarotti, Nana Sodré, Maria Agrelli, Silvinha Góes, Conrado Falbo
Trabalho contemplado pelo edital emergencial Cultura em Rede do Sesc Pernambuco.

 

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Festival recifense potencializa
protagonismo de artistas negros

Peça Negra palavra-Solano Trindade, que expõe a trajetória e luta do poeta pernambucano, abre a programação

Meia-Noite, com Orun Santana. Foto: Livia Neves / Divulgação

Francisco Solano Trindade (1908-1974), foi um grande poeta brasileiro. Artista negro nascido no Recife, ele também atuou como folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. Apesar de ter abalado as estruturas em várias áreas, nas cidades onde morou – Recife, Rio de Janeiro, São Paulo – ele não é devidamente conhecido e valorizado. Isso se deve, em parte, ao racismo estrutural da sociedade brasileira.

Combater o racismo, a discriminação, o colonialismo e explorar o protagonismo do artista negro nas mais diversas linguagens são propostas do Festival Luz Negra — O negro em estado de representação, que chega à quarta edição e abre justamente com o espetáculo Negra Palavra – Solano Trindade.

O 4º Festival Luz Negra é executado com incentivos do edital de Festivais da Lei Aldir Blanc Pernambuco. O programa totalmente online, conta com oito espetáculos teatrais de Pernambuco, das quatro macrorregiões de Pernambuco (Sertão, Agreste, Mata e Região Metropolitana do Recife), sendo seis para o público adulto e dois para a infância e a juventude; dois espetáculos de fora do estado; quatro espetáculos de dança, um deles com mulheres trans e outro com jovens da comunidade de Peixinhos; um solo de ópera, uma palestra sobre a história do negro em Pernambuco e uma oficina teatral.

O homenageado desta edição é Guitinho da Xambá, cantor e compositor do grupo Bongar, que morreu em fevereiro.

Realizado desde 2017 pelo grupo O Poste Soluções Luminosas, coletivo formado pelos artistas negros Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos.

“A ação potencializa a construção de identidades e territórios dinâmicos, ambivalentes e de negociação. Queremos com o projeto o rompimento de paradigmas de preconceito através da própria representação negra nos palcos”, afirma Agrinez Melo, atriz, figurinista e integrante d’O Poste.

ENTREVISTA – Grupo O Poste Soluções Luminosas

O trio do grupo O Poste: Naná Sodré, Samuel Santos e Agri Melo.

Qual a importância do festival na descolonização dos sentidos para as artes cênicas de Pernambuco?

Na realidade, queremos trazer um novo sentido ou dar mais um outro sentido à cena pernambucana. O teatro historicamente seja do ponto de vista estrutural e no seu fazer sempre negou o direito dos sentidos, do sentir, do fazer, do ser, do ter, do artístico e da poética negra. Até o direito de ser plateia foi negado!

As histórias pernambucana e brasileira, como um todo, excluíram a nossa cultura, religião, os nossos ancestrais. Todo esse processo colonizador, que perdurou por séculos, afetou consecutivamente o teatro feito em Pernambuco, direcionando o olhar apenas para uma cultura, um teatro eurocêntrico ou “eurocentralizado”. São poucos os registros de uma cena afrocentrada aqui no estado. No período do Brasil império, república, democracia, ditadura, democracia, a presença do artista preto na cena era quase inexistente. Isso só vem a melhorar um pouco no final da década de setenta e foi evoluindo nas décadas seguintes, mas sem muitas projeções, pois a cena continuava na sua totalidade com o mesmo tom de pele, e a mesma cultura do colonizador.

Aí entra a importância de descolonizar e decolonizar, no sentido de colocar também o nosso trabalho nessa estrutura excludente. E o festival Luz Negra entra nesse vago histórico e com essa proposta.

Aí entra a importância de
descolonizar e decolonizar, no
sentido de colocar também o
nosso trabalho nessa estrutura,
que ainda se mostra excludente.

Que conquistas vocês identificam ao longo desses quase cinco anos que o Luz Negra é realizado?

Primeiramente é importante afirmar que a realização do festival já é uma conquista. Se levarmos em consideração a construção da história do estado, que foi o último a abolir a escravidão. Realizar um festival desse porte já traz novos horizontes em relação a outro olhar para a arte negra daqui e que reverbera em todo país.

Fora isso, o festival é transdisciplinar, entra não só nas esferas artísticas, mas educacional, filosófica, sociológica, antropológica… E os espetáculos abordam temas que ampliam o discurso do negro e sua representatividade de forma positiva. O festival também circula por muitos lugares, evidenciando artistas negres das várias regiões do estado, abrindo espaço para os jovens que moram nas periferias mostrar seus trabalhos, mulheres pretas evidenciando suas conquistas e ampliando discursos, oferece formação e abre espaço de construção desse discurso com o público. Além de ocupar espaços que são nossos por direito. A cada realização nos fortalecemos e ampliamos nossa autonomia. O festival independente de seu formato vem se agigantando e nós do grupo e enquanto indivíduos vamos crescendo com ele.

Realizar um festival desse porte já
traz novos horizontes em relação
a outro olhar para a arte negra
daqui e que reverbera em todo país.

Como vocês analisam a situação das cênicas em Pernambuco no contexto da pandemia. Ou como vocês atravessam esse período?

A nossa pandemia começou bem antes do coronavírus.  E não falo do período colonial.  Não dá para falar do tempo presente, sem falar do tempo antes. A pandemia arrematou algo que já vinha pandêmico para as artes cênicas. Incentivo, apoio, patrocínio, política pública para as artes cênicas em algumas esferas do poder executivo simplesmente dificultou a fruição, a formação, o intercâmbio e sobrevivência dos artistas cênicos.  imagina para o povo preto?

Houve uma mudança de gestão, que particularmente achamos positiva e nos enche de esperança. Mas essa esperança precisa mexer nas estruturas para buscar uma equidade nas artes. O que fizemos nesse período pandêmico foram cursos, oficinas online, criamos o projeto Terças Pretas , onde exibimos no formato live pelo Instagram cerca de dez cenas com  dramaturgias autorais de artistas pretos  e que virou audiovisual e está sendo comercializado, criamos o festival Pretação Online com mulheres negras,  fizemos campanha de financiamento  colaborativo para manter o Espaço O Poste, escrevemos em editais online nossos espetáculos, nossos cursos, oficinas. Costuramos, bordamos, chuleamos, cavamos, plantamos… 

A curadoria do Luz Negra foi feita em que bases?

Dentro da base emergencial. Pouco tempo para tudo. Não dava para criar um conceito único ou basilar. Mas tínhamos e temos um objetivo que era a da valorização das produções pernambucanas, pois edital do LAB é local e teríamos que salvaguardar as nossas produções, os nossos artistas. Não deu para nacionalizar o festival como gostaríamos, mas trouxemos dois espetáculos bem significativos. Negra Palavra- Solano Trindade e Luz Gama ambos do Rio de Janeiro e de poéticas distintas. Temos também a valorização de jovens e produções periféricas, onde suscitamos o fomento para que artistas de Peixinhos criasse um espetáculo para o festival.  Temos espetáculo com mulheres trans. Temos na programação espetáculo de canto lírico, dança contemporânea, dança popular, dança-teatro. Temos uma palestra com historiador, oficina. O público vai acompanhar um festival de várias poéticas distintas.

O que vocês querem dizer que eu não perguntei?

O que é ancestralidade para vocês ?

Vocês vão responder?

Na verdade, nós perguntamos. É uma pergunta que a gente faz. Porque a gente vem falando o tempo inteiro dentro do nosso festival o que é ancestralidade e aí a gente resolve perguntar para o público e para Satisfeita, enfim, para quem quiser responder. O que é ancestralidade? Essa pergunta é tem um cunho reflexivo, para entender a importância real do nosso festival. 

 

PROGRAMAÇÃO
4º Festival Luz Negra — O negro em estado de representação

Negra palavra – Solano Trindade. Foto: Raphael Elias

Dia 18/03 (quinta) — Abertura

19h — Espetáculo gravado Negra Palavra – Solano Trindade – Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (RJ)
20h — O mesmo espetáculo ao vivo, em novo formato e com audiodescrição.
Corpo, música e poesia são tramadas para refletir a história Solano em seu tempo e a dos homens negros contemporâneos.
Ficha técnica:
Poesias: Solano Trindade
Direção Geral: Orlando Caldeira e Renato Farias
Roteiro: Renato Farias
Elenco: Adriano Torres, André Américo, Breno Ferreira, Drayson Menezzes, Eudes
Veloso, Jorge Oliveira, Leandro Cunha, Lucas Sampaio, Orlando Caldeira, Rodrigo
Átila e Thiago Hypólito
Direção Musical: André Muato
Direção de Movimento: Orlando Caldeira
Direção de Atores: Drayson Menezzes
Assistente de Direção: Thati Moreira
Direção de Arte: Raphael Elias
Assistente de Arte: Julia Marques
Figurino: Julia Marques
Idealização: Renato Farias
Produção: Saideira Produções
Realização: Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo
Classificação etária: 12 anos.

Orun Santana. Foto:  Amanda Pietra 

Dia 19/03 (sexta)

20h — Espetáculo Meia-noite – Orum Santana (PE)
A relação do bailarino Orun Santana com seu pai Mestre Meia Noite, nome artístico de Gilson Santana, movimenta o espetáculo Meia-Noite a partir da capoeira. Das memórias dos corpos, Orun foi buscar na performance solo do pai e mestre artístico, feita para o espetáculo Nordeste, do Balé Popular do Recife, a inspiração para a prática indentitária dos corpos políticos, ousados, buliçosos e inconformados.
Ficha técnica
Intérprete-criador e diretor: Orun Santana
Consultoria artística: Gabriela Santana e Janaina Gomes
Trilha Sonora: Vitor Maia
Iluminação: Natalie Revorêdo
Produção: Danilo Carias/Criativo Soluções
Cenografia: Victor Lima
Classificação etária: 10 anos

Agrinez Melo em Cordel do amor sem fim. Foto: Divulgação

Dia 20/11 (sábado)

20h — Espetáculo Cordel do Amor sem fim – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens do rio São Francisco, três irmãs convivem com suas diferenças – a misteriosa Madalena, a dissimulada Carminha e a jovem Tereza – por quem José é apaixonado. Mas a vida não é tão simples assim. Carminha sonha com José, que ama Tereza que nutre esperança da volta de Antônio, um viajante forasteiro. Nesse compasso de espera, a vida testa a paciência de cada um dos personagens.
Ficha técnica:
Texto: Claudia Barral
Encenação e Cenografia: Samuel Santos
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Atrizes e ator: Agrinez Melo, Roberta Marcina, Naná Sodré e Madson de Paula
Preparadora Vocal: Naná Sodré
Preparador de Canto: Diogo Lopes
Concepção de Figurino: Agrinez Melo
Diretor de Arte: Fernando Kehrle
Design de Luz: Samuel Santos
Operação de Luz: Samuel Santos
Sonoplastia, violão, Efeitos, instrumentos de bambu Didgeridoo: Diogo Lopes
Efeitos Percussivos: O elenco
Classificação etária: 12 anos

A boneca Ester manipulada pela atriz Odília Nunes . Foto Divulgação

Dia 21/03 (domingo)

10h — Espetáculo infantil Ester – Odília Nunes (PE)
* Com intérprete de libras.
A peça Ester é curtinha, mas chega como um afago aos nossos sentidos tão cansados. A boneca Ester tem apenas 18 centímetros de altura e o sentimento do mundo. Manipulada pela atriz Odília Nunes, a intervenção teatral se derrama em poesia. Do seu teatro portátil – uma caixa-teatro-realejo, Ester semeia esperanças, faz chover e colhe flor.
Ficha técnica:
Criação geral: Odília Nunes
Confecção da boneca: Genifer Guerard
Câmera: Fran Marinho
Classificação: livre.

A atriz Jhanaina Gomes segue em busca de sua ancestralidade

18h — Espetáculo Mi madre – Jhanaina Gomes (PE)
A artista Jhanaina Gomes foi buscar nas imagens e histórias narradas durante sua infância o material para o espetáculo solo de dança teatro. Dessa memória ancestral ela constrói uma partitura de mulheres fortes, mas feridas no percurso em tensão com a presença masculina e retraça uma convergência com seus próprios passos
Ficha técnica:
Produção executiva: Jhanaina Gomes, Arnaldo Rodrigues e Maria da Conceição
Direção, concepção, dramaturgia, cenografia e coreografia: Jhanaina Gomes
Intérprete: Jhanaina Gomes
Comunicação visual: Júnior Melo
Fotos: Morgana Narjara
Figurino: Aline Lohou
Iluminação: Dado Sodi
Classificação etária: 18 anos

Dia 22/03 (segunda)

9hOficina teatral – O Poste Soluções Luminosas (PE).
Atividade de formação artística que tem como objetivo inserir o participante no universo teatral, utilizando sua presença física e mental em estado de representação artística, buscando desenvolver técnicas e vivências para os atores/intérpretes dentro de uma dimensão transcultural.
Oficineiros: Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos
Carga Horária: 3 horas
Público-alvo: pessoas a partir dos 14 anos
Local: Plataforma digital
Vagas: 20
Inscrições: oposte.oposte@gmail.com

20h — Espetáculo de dança Sem Carnaval – Guerreiros do Passo (PE)
* Contará com intérprete de libras.
Concebido para homenagear foliões e foliãs que passaram este 2021 sem os festejos de Momo, o vídeo Sem Carnaval mostra uma reportagem sobre as ações desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas e Ações em Frevo Guerreiros do Passo. O coletivo atua há 15 anos no Recife, mantendo a metodologia do Mestre Nascimento do Passo.

Ficha técnica:
Passistas: Lucélia Albuquerque, Carlos Mascena (Limão), Laércio Olímpio, Valdemiro Neto e Jamerson Júnior.
Roteirização: Eduardo Araújo e Lucélia Albuquerque
Direção, captação de imagens e fotografia: Eduardo Araújo
Música: Suíte Nordestina (Maestro Duda)
*Reportagem da TV Globo exibida no carnaval de 2018, no programa Carnaval de Pernambuco.
Classificação: Livre

Dia 23/03 (terça)

19h — Espetáculo Faca – Grupo O tabuleiro de Teatro (PE)
Faca é um monólogo de Ingrid Martins, com relatos verídicos de mulheres que sofreram violência, psicológicas, sexuais, físicas, morais. É o primeiro espetáculo do grupo O Tabuleiro de Teatro
Ficha técnica:
Texto: Ingrid Martins
Atriz: Rizo Silva
Sonoridade: Carlinhos Aril
Iluminação: Leo Batista
Direção: Felipe Vidal
Produção: Grupo O tabuleiro de teatro
Classificação: 18 anos

20h — Espetáculo Histórias bordadas em mim – Doce Agri (PE)
sentada em um baú, a atriz conta histórias que viveu. Inspirada em uma pesquisa no griot (povo ancestral africano que passava conhecimento através da oralidade), ela alicerça sua narrativa em técnicas do teatro físico, valorizando a matriz ancestral africana através da energia do Orixás.
Ficha técnica:
Dramaturgia, direção e atuação: Agrinez Melo
Assessoria em Dramaturgia: Ana Paula Sá
Assessoria em Direção: Naná Sodré, Quiercles Santana e Samuel Santos
Concepção Musical: Talles Ribeiro
Execução da Sonoplastia: Talles Ribeiro
Assessoria em toadas: Maria Helena Sampaio (YaKêkêrê do Terreiro Ilê Oba Aganju Okoloyá)
Concepção Maquiagem: Vinicius Vieira
Concepção Figurino: Agrinez Melo
Execução Figurino: Agrinez Melo e Vilma Uchôa
Aderecista: Álcio Lins
Cenotécnico: Felipe Lopes
Designer: Talles Ribeiro
Filmagem do espetáculo na integra: I Pele Ti Odun
Classificação: 12 anos

24/11 (quarta)

18h30 — Palestra Ó pretos, nada de negócios de brancos!: sociabilidades, cultura e participação dos homens de cor no processo de fundação do Estado e da Nação. – Flávio Cabral (PE)
Flavio Cabral é historiador, doutor em História pela UFPE, professor de História da Graduação e do Programa de Pós-Graduação na Unicap. Dedica-se à História de Pernambuco e aos temas ligados à Formação do Estado Nacional. Publicou vários livros e artigos em revistas científicas nacionais e internacionais.
Classificação: Livre

25/03 (quinta)

18h30Oferenda — Recital de canto lírico – Anastácia Rodrigues (PE)
O recital é fruto de pesquisa, vivência e estudo que norteiam o trabalho da mezzosoprano recifense Anastácia Rodrigues. Um olhar de profundo respeito e pertencimento aos povos originários e africanos que deixaram um acervo vivo inestimável e que de alguma forma foi registrado, ou lembrado em partituras. A performance contará com a instrumentação inédita para este formato: Emerson Rodrigues no vibrafone, Sônia Guimarães no ilú.
Ficha técnica:
Canto, agbê: Anastácia Rodrigues
Xilofone, vibrafone: Emerson Rodrigues
Tambor de fala, ilú, motor d´água, maracá: Sonia Guimarães
Classificação: Livre

Espetáculo A Receita, com Naná Sodré. Foto: Thais Lima

19h — Espetáculo A Receita – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Uma mulher num processo de libertação. A anônima confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha… Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo explorando diversos pontos de vistas.
Ficha técnica:
Atuação e maquiagem: Nazaré Sodré
Autor, diretor, figurinista, sonoplasta e iluminador: Samuel Santos
Técnica em artes marciais: Mestre Sifu Manoel Ramos
Classificação: 18 anos

Naná Sodré e Agrinês Melo. Foto: Lucas Emanuel/Divulgação

26/03 (sexta)

20h — Espetáculo Ombela – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Ombela (a chuva) após cair resolve deixar duas gotas que se transformam em duas entidades. Essas Ombelas inventam rios e desdobram-se ao som do vento e a cada gota faz nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. A peça além de ser interpretada em português tem partes faladas e cantadas na língua africana de Angola, Umbundo.
Ficha técnica:
Texto: Manuel Rui
Encenação, cenografia e plano de luz : Samuel Santos
Desenho de cenografia. Douglas Duan
Atrizes: Agrinez Melo e Naná Sodré
Consultoria/Estudos em Antropologia: Daniele Perin Rocha Pitta
Composição de trilha sonora: Isaar França
Preparação musical: Surama Ramos
Preparação Dança do Jarro: Sylvya Olyveyra
Concepção de figurino e execução: Agrinez Melo
Contra- regra e Video Maker: Talles Ribeiro
Identidade Visual: Curinga Comuniquê e Vicente Simas
Plano de Maquiagem: Naná Sodré
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Classificação: 18 anos

Periferia quebra tudo, com jovens de Peixinhos, bairro do Recife. Foto. Thales Ribeiro / Divulgação

27/03 (sábado)

17h — Espetáculo Periferia quebra tudo – Jovens de Peixinhos (PE)
O espetáculo de dança Periferia Quebra Tudo é pautado pela experiência de quatro jovens pretos, periféricos, participantes de movimentos culturais desenvolvidas na comunidade de Peixinhos. Com coreografias de afro, afoxé, coco, passinho e brega funk, eles querem mostrar o que acontece na comunidade. As cenas foram gravadas no Nascedouro de Peixinhos.

Ficha técnica:
Bailarinos e coreógrafos: Fabilio Silva, Luana Vitória, Nandis Vasconcelos e Victor Vicente
Edição musical: Fabilio Silva
Agradecimentos: Balé Afro Raízes, Festival Luz Negra, Ioneide da Silva, Marcos Júnior, Paulo Queiroz e Projeto Artes da Gente -PJMP –JCC
Classificação: Livre

Espetáculo: Luiz Gama Foto: Vivian Fernández

20h — Espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade – MS Eventos (RJ)
Jornalista, poeta e advogado abolicionista, Luiz Gama libertou mais 500 escravos do cativeiro ilegal. É a sua biografia que é encenada na peça Luiz Gama: uma voz pela liberdade, que traça um paralelo entre as lutas de ontem e hoje contra as desigualdades.
Ficha técnica:
Dramaturgia: Deo Garcez
Direção, figurino e cenografia: Ricardo Torres
Elenco: Deo Garcez e Soraia Arnoni
Áudio de apresentação (voz): Milton Gonçalves
Trilha sonora: Deo Garcez e Ricardo Torres
Iluminador: Mário Seixas, Vinícius Gaspar e Alan Leite
Operador de luz: André Calazans
Técnico de som: Tom Rocha
Operador de som: Ricardo Torres
Produção: MS Events
Produção executiva: Alan de Jesus e Mário Seixas
Coprodução: Olhos D´Água e Nova Criativa
Programação Visual: Mário Seixas
Caracterização [barba]: Márcia Elias
Assessoria de imprensa: Alan de Jesus e Márcia Araújo
Fotos: Jean Yoshii, Vivian Fernández, Maurício Code e Valmyr Ferreira
Classificação indicativa: 12 anos

Ubuntu. Foto Leandro Lima

28/03 (domingo)

10h — Espetáculo Ubuntu: uma linda aventura na floresta afrobrasilândia infantil – São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções (PE)
A criação do mundo a partir do olhar africano. Entoada pelos sons, ritmos, cores, músicas e muito axé, a montagem apresenta duas lindas flores pretas, que vivem num colorido jardim na floresta Afrobrasilândia, mas que se questionam todos os dias porque suas cores não estão representadas no arco íris. E elas decidem desbravar toda floresta em busca da resposta.
Ficha técnica:
Inspirado na obra de Raul Loudy
Dramaturgia: Coletiva
Encenação: Anderson Leite.
Direção Musical: Helio Machado
Elenco: André Lourenço, Brunna Martins, Clau Barros, Halberys Morais e Monique Sampaio.
Músicos: Dinho Dumonte e Helio Machado.
Cenário: Anderson Leite
Figurino: André Lourenço
Mascareiro/Bonequeiro: Alex Apolônio
Iluminação: Anderson Leite
Adereços: Anderson Leite, André Lourenço.
Produção Cultural: Anderson Leite e Halberys Morais.
Produtora Executiva: Elis Hellen
Realização: São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções.
Classificação: Livre

18h — Espetáculo Transpassar | Coletivo Agridoce (PE)
Um conto sobre sonhos perdidos por causa da violência e do preconceito, sobre a solidão da mulher trans, e sobre os problemas sociais passados por esse corpo em transição, como ele é visto e marginalizado pela sociedade. Tudo pela perspectiva de uma garota que tem o sonho de ser tirada para dançar.

Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Sophia William
Colaboração dramatúrgica: Aurora Jamelo
Direção artística: Sophia William e Aurora Jamelo
Sonoplastia: Flávio Moraes
Desenho de luz: Natalie Revorêdo
Execução de luz: Nilo Pedrosa
Figurinos: Sophia William e Aurora Jamelo
Preparação de elenco: Sophia William
Preparação de voz: Flávio Moraes
Argumento: Sophia William
Visagismo: Aurora Jamelo
Social media: Nilo Pedrosa
Produtor técnico: Igor Cavalcante Moura
Fotos: Any Stone
Realização: Coletivo de dança-teatro Agridoce
Classificação: 12 anos

SERVIÇO:
Festival Luz Negra – O negro em estado de representação
De 18 a 28 de março, no perfil O Postes Soluções Luminosas, no YouTube (http://bit.ly/canaloposte)
Todas as ações serão gratuitas. Duas delas contarão com intérprete de libras e uma com audiodescrição.

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