Arquivo da tag: Márcia Cruz

Da culpa à libertação
Crítica de Vulvas de quem?

 

Márcia Cruz em cena no experimento Vulvas de quem?. Foto: Keity Carvalho

* A ação Satisfeita, Yolanda? no Reside Lab – Plataforma PE tem apoio do Sesc Pernambuco

No último domingo, 21 de março, morreu Nawal El Saadawi, escritora egípcia feminista, autora de mais de 50 livros, entre ensaios, romances e peças. Em A face oculta de Eva, Saadawi conta que, aos seis anos de idade, teve o clitóris cortado. A mãe sorria. O cenário era o chão de um banheiro. Ao longo de sua trajetória como ativista, o combate à circuncisão feminina foi uma das suas principais causas. Numa entrevista à Folha de S. Paulo, em 2016, a autora salientou a diversidade das mulheres e das suas lutas: “Vivemos em um mundo dominado por um sistema religioso, patriarcal e racista. Mas o nível de opressão varia de acordo com o tempo e de um lugar ao outro, segundo o grau de consciência da maioria e os poderes políticos das mulheres e homens lutando por liberdade, justiça e dignidade”.

Esse grau de consciência de que fala Saadawi tem se ampliado nas últimas décadas, num movimento que é complexo, porque as pautas feministas, assim como outras pautas sociais, são cooptadas pelo sistema capitalista, alienante por princípio. De toda maneira, a discussão sobre feminismo explodiu fronteiras, ganhou dimensão de debate público, embora ainda enfrente muitas distorções. Por exemplo: ontem à noite, 23 de março, o Brasil votou para que uma mulher que estava vivendo um relacionamento tóxico fosse eliminada do Big Brother Brasil. O principal oponente dela era um homem que fez piadas homofóbicas. O comportamento da mulher, taxada de trouxa aos quatro ventos do país, foi julgado, porque além de não perceber as armadilhas da relação, ela ainda se ajoelhou e fez uma declaração de amor em rede nacional.

Carla Diaz é uma atriz que cresceu sob os holofotes da televisão. Branca, loira, cabelão liso, magra, menininha, cumpre os pré-requisitos do estereótipo de beleza padrão. Ainda assim, não está a salvo do relacionamento abusivo. Nenhuma de nós está. Em qualquer idade, classe social, cumprindo ou não os padrões, mais um degrau na escala da opressão. A ressaca moral que, provavelmente, vai assombrá-la por um tempo, é parecida com àquela da personagem de Márcia Cruz em Vulvas de quem?, experimento cênico com direção de Cira Ramos e texto de Ezter Liu, uma realização da Cia Maravilhas de Teatro.

Aliás, talvez seja mais apropriado dizer “das personagens”. Sem seguir uma cronologia linear, Márcia Cruz vai dos 7 aos 93 anos, explorando os mecanismos da relação que se transforma em abuso, físico, psicológico, moral. “Quem vendou teus olhos com esse trapo sujo e depois te chamou de cega?”. “Quem queimou teu passaporte na pia do hotel e disse que ir não era uma opção?”. “Quem passou tua autoestima no liquidificador?”.

A atriz trilha o caminho do reconhecimento, desse instante em que a mulher tem a coragem de se olhar, mergulhar em si, e admitir que caiu na esparrela do abusador. O cenário é um banheiro, com a personagem de frente para o espelho, o público, que a acompanha nesse exercício de dor profunda. Márcia é uma atriz que passeia pelas filigranas da atuação – vai do choro e do grito rasgado ao riso de libertação com desenvoltura de quem tem anos de experiência e talento.

Personagens se olham no espelho e percebem relacionamentos abusivos. Foto: Morgana Narjara

Como o cerne da questão é identificar o abuso, o sentimento inicial que escorre desse texto, dessa personagem, é o da culpa. Vulvas de quem? Culpa de quem? Como eu não percebi? Como não me dei conta? Só que, como num ciclo vicioso, que atravessa o tempo e as gerações, como explicita a dramaturgia, é muito difícil se libertar, tanto do relacionamento quanto da culpa, que não deveria nem nos pertencer. Há um limite tênue, tanto no experimento como na vida. Parem de nos culpabilizar. Paremos de nos culpabilizar.

O desafio é enorme: mostrar a realidade da violência e da opressão no teatro, num experimento cênico de poucos minutos, que envereda pela elaboração discursiva de um cenário fiel ao cotidiano. Não há muitas permissões para a abstração, além da poesia crua do texto. O fluxo da jornada dessas personagens é o da repetição, até que a música de Flaíra Ferro irrompe no ambiente. Como um mantra, uma oração que clama por cura. “Eu quero me curar de mim, quero me curar de mim”.

Há uma força, que se desprende do texto, da música e, principalmente da atuação, que é do campo da catarse – tanto que reforça a ideia da cura. Que nos alcança e nos fere diretamente pela identificação. O espelho está escancarado, refletindo os rostos de todas nós. Que, para além da consciência da opressão, venha a superação. Porque, como diria Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem. Antes que seja tarde.

Ficha técnica:
Texto: Ezter Liu
Direção: Cira Ramos
Elenco e produção: Márcia Cruz
Sonoplastia: Fernando Lobo
Música: Flaíra Ferro
Iluminação: Luciana Raposo
Fotos: Keity Carvalho
Realização: Cia Maravilhas de Teatro

Postado com as tags: , , , , , , , , ,

Crise existencial de ator pernambucano na quarentena

Paulo de Pontes passa a quarentena dentro de um teatro, que é também sua casa. Foto: Keity Carvalho

Um ator em confinamento durante 72 dias, dentro de um teatro que é a sua própria casa. Ele está em vias de enlouquecer. Delírios, incertezas, sonhos, conflitos pessoais. No contexto desses dias de isolamento são exploradas a dúvida do futuro, a solidão de um artista e como ele constrói, como ele pensa o mundo, como ele reage à pandemia. De acordo com Paulo de Pontes 72 dias – WORK IN PROCESS é um exercício, um experimento, um diário de bordo pandêmico. “Desde que começou a quarentena estou levantando possibilidades, refletindo sobre a experiência de vida, o teatro, minha carreira, o teatro pernambucano, os problemas políticos. É um reality teatral pandêmico, com performance, vídeo e tecnologia, que pode se tornar um embrião para um espetáculo”.

O público vai ver como ator trabalha um processo. Paulo de Pontes transformou esse processo o mais próximo possível de uma apresentação cênica. O diretor Quiercles Santana fez a direção virtualmente, da sua casa. 

A dramaturgia se baseia na realidade, mas vai ser criada praticamente ao vivo, a partir do roteiro desenvolvido por ator e diretor, performada a partir das memórias de Paulo, sua trajetória artística no Recife, em São Paulo, nessa volta para o Recife.

O programa tem previsão de durar 40 minutos. “uma coisa rápida urgente e eu tenho que condensar esses 72 dias em 40 minutos. é praticamente improvisação dirigida”, diz ele.

“Assista sem a preocupação de achar que é teatro… isso não tem nome…para mim que sou ator, tudo é teatro, tudo na vida é teatro. Mas como as pessoas em meio a uma pandemia estão muito preocupadas em nominar esse negócio que a gente está levando para internet. Estão muito preocupadas com isso… eu não estou… é um experimento cênico de um ator em crise construído a partir de memórias do confinamento”.

Sobre o teatro pernambucano quais as conclusões?
O caos!
Parece que se rema contra a maré o tempo todo.
Mas há muita luta e resistência.
Artistas passando fome.
Tudo lento demais nas secretarias de cultura. Parece que trabalham contra o artista

Quem sabe a lei Aldir Blanc resgate pelo menos 30 por cento dos escombros.

Uma cidade que não conhece seus próprios artistas… daí … uma luta pra dar conta de um cadastro obsoleto dos mapas culturais é motivo de estresse e incerteza de que a lei Aldir Blanc vá contemplar a todos… nunca houve interesse dos órgãos de cultura do estado em cadastrar seus artistas e isso atrasa a vida numa pandemia… agora querem resolver tudo em menos de um mês?

Vínhamos querendo organizar isso há 2 anos no BATENDO TEXTO NA COXIA e nem a classe deu atenção… agora tá aí uma realidade que nos obriga uma organização burocrática em tempo recorde… artista não é prioridade nem pra receber cachê

Dia 5 entregaremos a Casa maravilhas… menos um espaço de resistência na cidade
E por aí vai.

E vai para onde?

Pra lugar nenhum… vamos ficar só com a Cia maravilhas para realizar os projetos apenas

Que pena!!!!

É… mas continuamos na luta

Ator voltou para o Recife, para passar uma temporada.  E não parou de trabalhar. E foi ficando…

Ele ressalta que sua construção pessoal, social e artística foi toda no Recife. Na prática. “Tudo que aprendi, como me transformei no profissional que sou, é tudo fruto do que aprendi no Recife. Com a Seraphim (cia dirigida por Antonio Cadengue), Trupe do Barulho, José Manoel, Companhia do Sol, grandes diretores, Cinderela, com as minhas peças, com o trabalho para escolas”.

Ele passou 14 anos em São Paulo, com os Fofos em Cena. Com um convite de trabalho no Recife viu a possibilidade de passar uma temporada. Que temporada foi essa que o “cabra” já está na capital pernambucana há quase três anos sem botar os pés em Sampa?! “Acabei me envolvendo. Eu voltei também porque quero fazer teatro com os meus amigos, com a minha raiz, com as pessoas com as quais eu comecei, que eu me identifico. Aí eu voltei para o Recife e desde então eu não paro de trabalhar”.

Só de montagens teatrais foram mais de 10 em menos de três anos. Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, O Baile do Menino Deus, Obsessão, Cinderela a História que sua mãe não contou, Em nome do Desejo, A ceia dos Cardeais, Procenium – teatro-jogo 2.0, Berço Esplêndido, Muito Tempo Com Você, só para citar algumas.

Além disso ele abriu junto com a atriz e produtora Márcia Cruz, a Casa Maravilhas e comprometeu-se com movimentos políticos culturais. “Eu me acorrentei ao Teatro do Parque dentro do movimento Virada Cultural Teatro Parque. Se não fosse o movimento talvez o Parque ainda estivesse abandonado”.

Teatro do Parque. Plateia. 

Hall de entrada. Fotos: Reprodução da TV Globo 24/08

O equipamento da prefeitura do Recife está fechado há pelo menos uma década. Com idas e vindas na reforma, está em processo de restauração desde 2015, paralisada no mesmo ano e retomada em 2018 depois de muita articulação e pressão da classe cultural recifense. O Teatro do Parque completou 105 anos no dia 24 de agosto. Está com promessa de ser reaberto em novembro.

 

“Então eu também me envolvi. Senti essa necessidade de lutar, não apenas artisticamente, com minha força política. Eu acredito e quero que Recife volte a ser o que era em termos de teatro, da dignidade do teatro. O Recife é um celeiro de artistas competentíssimos, talentosíssimos, que não fica devendo a nenhum lugar do mundo. Só precisa ser reconhecido e respeitado. E isso foi mola propulsora para lutar também politicamente, junto com os meus amigos. Vamos lá ser mais um grito, mais uma voz, mais uma mão, mais uma força”.

E aí a gente abriu a Casa Maravilhas. Com muita garra para receber esses artistas, mesmo sem dinheiro, sem ter o respeito necessário que a gente precisa ter dos órgãos públicos de Cultura, né?

É isso que não é só o meu trabalho artístico, mas é essa força de construir e reconstruir uma dignidade, para nós no mercado de trabalho.

Porque a gente tinha um trabalho melhor antes de eu ir para São Paulo, e está cada vez mais escasso conquistar esse mercado de trabalho.

E Casa Maravilhas a gente teve uma série de ações positivas na cidade. Uma casa pequena, mas a gente conseguiu, em dois anos, fazer cursos de formação, receber grupos. E aí veio a  pandemia.

Com a pandemia o primeiro pensamento foi: ‘vamos entregar a casa, porque não tem dinheiro para pagar, a gente não tem recursos”. Pensamos melhor e ficamos trabalhando o nome da casa, porque a gente pensava que seria pouco tempo de quarentena.

Abrimos um canal no YouTube para oferecer conteúdo de teatro, de literatura. A gente criou o  Ocupa Maravilhas, para grupos se apresentarem na casa. Isso mudou para o formato virtual com a quarentena. Então muitos artistas se apresentaram virtualmente dentro da Casa Maravilhas sem público.

Isso foi o que nos segurou até agora, além da vaquinha que nós fizemos.

O diário de bordo junta experimentos do que Paulo de Pontes pensa como cidadão, como artista no momento da pandemia e o que vislumbra para o futuro. “Criei 16 exercícios, que estão disponíveis no canal do YouTube. São experimentos para câmera, que atrás é teatro. Claro que não tem público, é uma coisa solitária, mas o exercício em si é para o artista de teatro, ele não diferencia nada”.

Eu tô no meio de uma guerra. Não quero conceituar nada. Isso é a minha experiência no teatro, então não tem porque o negar: isso é teatro. Eu estou dentro disso fazendo todo meu instrumento, que sou eu mesmo, é teatral embora, eu esteja fazendo dentro de um celular, para um celular, virtualmente para um público.

Além de Paulo de Pontes, o técnico Fernando Calábria divide o local, com os devidos cuidados, porque o trabalho mistura vídeo, projeções. “A gente conseguiu a liberação do Sonic Júnior, (Juninho, marido de Tati Azevedo, que é músico), e a gente precisava de uma trilha legal com a liberação do músico, né?, para não cair a transmissão”.

 

Serviço
72 dias – WORK IN PROCESS
Segunda, 28/09, 20h
No YouTube SESC PE
Grátis

Ficha técnica
72 dias – WORK IN PROCESS
Criação e atuação: Paulo De Pontes
Dramaturgia: Quiercles Santana e Paulo De Pontes
Direção: Quiercles Santana
Direção de arte e vídeos: Célio Pontes
Músicas: Sonic Júnior
Técnica: Fernando Calábria
Fotos: Keity Carvalho
Produção: Márcia Cruz
Realização: Companhia Maravilhas de Teatro – Sesc PE – Cultura em Rede Sesc PE.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , ,

Casa Maravilhas exibe “teatro live” Vulvas de Quem?

Cira Ramos, a diretora; Márcia Cruz, a atriz e Ezter Liu, a escritora. Projeto Teatro de Quinta, da Casa Maravilhas apresenta Vulvas de quem?, na página do espaço cultural no Instagram (@casamaravilhas).

O título Vulvas de Quem?, já diz tudo, anota a diretora Cira Ramos. Sim, sim. Sinaliza amplitude e profundidade da temática. Ser mulher é bem complexo, uma força que se expande e multiplica exponencialmente. A atriz Márcia Cruz gradua o feminino numa narrativa urgente, para contar com o fôlego possível as dores de milhares de úteros dentro do seu útero. É dizer o que precisa ser dito. E repetir. “A peça fala de sororidade, de empatia, de dores e dificuldades, da necessidade de estarmos unidas, e de termos visibilidade. É sobre tudo isso” comenta Cira Ramos.

O texto é extraído de dois contos da escritora pernambucana Ezter Liu, Vulvas Brancas e Quem?, do livro Das tripas coração, vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura de 2017.

O “teatro live” integra a temporada do Teatro de Quinta da Casa Maravilhas em tempos de pandemia Covid-19. Os ensaios, leituras e reuniões são tocados há meses de forma remota. São três quintas-feiras, três autores, três atores e três diretores.

Começou na quinta-feira passada, dia 11, com Inflamável, de Alexsandro Souto Maior, com direção de Quiercles Santana e atuação de Paulo de Pontes. A apresentação, com centenas de visualizações, ainda está disponível no Instagram da Casa Maravilhas.

Na próxima semana é a vez de Brabeza Nata, que trata das memórias de um homem que nasceu “na periferia do interior do interior, sua relação com a mãe que o renega desde o parto e com a avó que sempre o acolheu. Alexandre Sampaio investiga como estará esse homem hoje, no que ele se transformou, no trabalho com texto de Luiz Felipe Botelho, dirigido por Cláudio Lira.

A live é livre mas a contribuição espontânea será muito bem-vinda por razões conhecidas por todos. Os depósitos realizados em qualquer data serão rateados entre os envolvidos e a Casa Maravilhas ao final da temporada.

SERVIÇO
VULVAS DE QUEM?
De Ezter Liu.
Direção: Cira Ramos.
Atuação: Márcia Cruz.
Onde: Instagram da Casa Maravilhas (@casamaravilhas).
Quando: 18/junho, 20h 

BRABEZA NATA,
de Luiz Felipe Botelho.
Direção: Cláudio Lira.
Atuação: Alexandre Sampaio.
Onde: Instagram da Casa Maravilhas (@casamaravilhas).
Quando: 25/junho, 20h 

Dados para contribuições:
Banco do Brasil
Agência: 1833-3
Conta corrente: 48.359-1
CNPJ: 16.931.050/0001-22
Márcia Sousa e Cruz

Postado com as tags: , , , , ,

Expedição de palhaços

Ana Nogueira é convidada especial no Cabaré de Quinta. Foto: Sayonara Freire.

Ana Nogueira é convidada especial no Cabaré de Quinta. Foto: Daniela Nader / Divulgação

Sabemos que esses tempos estão difíceis. A política no Brasil, o Fora Temer que ainda não se concretizou, a ameaça Trump constante. Mas precisamos de combustível para seguir em frente. Um dos melhores e mais eficientes é a alegria. Uma boa gargalhada tem efeitos milagrosos sobre desarranjos gerais em qualquer pessoa. Duvida? Então o desafio está feito. Hoje (18/05), Caravana de Palhaços apresenta o seu Cabaré de Quinta, no Bar do Mamulengo. A noite de Palhaçaria voltada para o público adulto reúne um bando de figuras engraçadas, perspicazes, provocadoras. Gambiarra (Dú Yândi), Gertrudes (Márcia Cruz), Boris Trindade Júnior (Tapioca), Marimbondo (Johann Brehmer), Meia (Anaíra Mahin), Silpatia (Silvia Rangel), Uruba (Fabiana Pirro), Vareta (Natália Lua) e a convidada Dona Pequena (Ana Nogueira). A palhaça Gertrudes assume a função de mestre de cerimônias. A noite segue depois dos números com o comando da DJ Suca (Suenne Sotero).

Nesta noite destinada para o riso, a política não poderia estar de fora. “A gente não é palhaço partidário; mas num dia como hoje, tudo se volta para a política. Esse povo quer fazer a gente de bobo”, pontua Fabiana Pirro. “Tudo deságua na política. Nossa indignação, a vontade gritar… Cabaré de Quinta é um ato político, pois nosso trabalho é na força e na vontade”, acredita. “Mas também tem uma picardia, tem um fogo de cabaré adulto dentro de um bar”, acrescenta Pirro.

Cada palhaço vai apresentar seus números, pois como afirmam os organizadores, não se trata de um espetáculo, mas cenas de palhaço em constante experimentação, números inacabados e reconstruídos a cada nova apresentação com púbico.

Participantes da primeira versão do Cabaré de Quinta. Montagem sobre fotos de Lana Pinho e Sayonara Freire

Participantes da primeira versão do Cabaré de Quinta. Montagem sobre fotos de Lana Pinho e Sayonara Freire

Esse conglomerado de palhaçaria começou com a Caravana de Palhaços (SP/PE) – projeto da Cia. Circo Caravana Tapioca de Giulia Cooper e Anderson Machado, com apoio do Funcultura/Fundarpe  – direcionada para o aperfeiçoamento de circenses e atores com experiência na área. Dividido em módulos, o programa trouxe no ano passado artistas tarimbados do setor para as oficinas. Muitas coisas ficaram desse programa, inclusive a instigação para o intercâmbio, compartilhamento. E principalmente a criação de números circenses voltados para o mercado, o que garante a sustentabilidade de cada artista – para passar o chapéu e saber que suas criações são verdadeiros tesouros.

O coletivo de 15 palhaços faz apresentações em praças, eventos fechados, salas de teatro e espaços culturais. Nessa peleja com o público, os repertórios dos mais diversos naipes são enriquecidos e aplicados nas diversas dramaturgias e espaços. Borica e Márcia Cruz têm várias criações. Dú Yândi leva a experiência do trabalho em sinais de trânsito. Cada um tem a sua característica.

Fabiana Pirro, por exemplo, conta que sua Uruba é selvagem em todos sentidos. “Ela é o que eu queria ser: ingênua e braba e doce. E vai fazer um número com seu bichinho de estimação, mas é surpresa”.

Dona Pequena, a palhaça de Ana Nogueira, exibe o solo Rolamentos, que ela inventou em 2010 e a cada sessão exibe um dado novo. “Estou investigando as possibilidades desse número. Depende da plateia. Espero que hoje, com essa euforia que estamos vivendo desde ontem, tenhamos novidades com os rolamentos de Dona Pequena”

Ficha Técnica

Cabaré de Quinta, com a Caravana de Palhaços
Elenco:
Anaíra Mahin (Meia)
Boris Trindade Jr° (Tapioca)
Dú Yând (Gambiarra)
Fabiana Pirro (Uruba)
Johann Brehmen (Maribondo)
Márcia Cruz (Gertrudes)
Silvia Rangel (Silpatia)
Wagner Montenegro (apoio)
Suenne Sotero (som)

Convidadas:
Ana Nogueira (Dona Pequena)
DJ Suca (Suenne Sotero)

Serviço

Cabaré de Quinta, com a DJ SUCA
Onde: Bar do Mamulengo – (Praça do Arsenal)
Quando: Quinta, 18 maio, 20h
Quanto: R$ 20 e R$ 10

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , ,

Oficinas do 23º Janeiro

Márcia Cruz na oficina para crianças (crédito: Clélio Tomaz)

Márcia Cruz na oficina para crianças. Foto: Clélio Tomaz

Para quem quer começar o ano injetando novos ânimos nas suas aptidões algumas sugestões ficam por conta das oficinas do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco. O programa artístico dura quase três semanas – vai de 12 a 29 de janeiro de 2017, mas as atividades de formação começam antes e ainda têm vagas. A atriz e arte-educadora Márcia Cruz, da Cia. Maravilhas, do Recife, vai desenvolver ações específicas para crianças dos 9 aos 13 anos em Teatro do Brincar. As outras duas oficinas são com dois integrantes da Comuna Teatro de Pesquisa, uma das mais importantes companhias teatrais de Portugal. O ator Carlos Paulo vai trabalhar O Prazer do Texto e o encenador João Mota vai investir no treinamento Interpretação/Encenação. Já o workshop Intercâmbio de Gestão Cultural: Modos de Fazer vai trocar ideias sobre como viabilizar projetos, com os paulistanos Eduardo Okamoto e Daniele Sampaio. O Janeiro é uma realização da Apacepe (Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco.

Confira detalhes.

O Prazer do Texto

Carlos Paulo. Foto: Comuna Teatro de Pesquisa

Carlos Paulo. Foto: Comuna Teatro de Pesquisa

Orientador: Carlos Paulo – Comuna Teatro de Pesquisa (Aveiro/Portugal)
Período: 9 a 21 de janeiro de 2017 (segunda-feira a sábado), das 15 às 17h, no Teatro Barreto Júnior
Duração total: 24h
Vagas: 16
Investimento: R$ 100,00
Inscrição: apresentação de currículo e uma carta de intenção para circogodotdeteatro@gmail.com
Direcionada às pessoas ligadas à expressão oral (professores, estudantes, atores, etc.), a oficina vai abordar técnicas de leitura, o uso da respiração, da voz e da articulação, a análise dramatúrgica, a concentração e o prazer, com uma apresentação pública ao final.
Carlos Paulo é ator de teatro, cinema e televisão, além professor de teatro, dramaturgo e figurinista, integrante da Comuna Teatro de Pesquisa, com passagem por festivais em diversas partes do mundo.

Oficina Teatral – Interpretação/Encenação

João Mota. Foto: Comuna Teatro de Pesquisa

João Mota. Foto: Comuna Teatro de Pesquisa

Orientador: João Mota – Comuna Teatro de Pesquisa (Aveiro/Portugal)
Período: 9 a 21 de janeiro de 2017 (segunda-feira a sábado), das 10 às 13h, no Teatro Barreto Júnior
Duração total: 36h. Vagas: 16. Investimento: R$ 150,00
Inscrição: apresentação de currículo e uma carta de intenção para circogodotdeteatro@gmail.com
Oficina visa alcançar o essencial através de exercícios de improvisação; passar da cultura exterior à interior e da pessoa interior à individualidade; trabalhar sobre o corpo e seus gestos sem acreditar na expressão corporal como um fim em si mesmo; pesquisar os sons como meio de expressão, sem partir do princípio que se elimina a linguagem habitual; usar a improvisação livre para melhor se aprender a relação entre a verdade da forma de expressão e a qualidade da comunicação; e evitar o narcisismo perigoso.
João Mota é ator e encenador, fundador da Comuna Teatro de Pesquisa, companhia em atividade desde 1972 e com mais de 90 produções já realizadas. Já dirigiu cursos de teatro em diversas cidades pelo mundo; foi agraciado com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, e a Medalha de Mérito Cultural; e é também Professor Adjunto aposentado da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.

Oficina: Teatro do Brincar

Oficina Yeatro do Brincar. Foto: Clelio Tomaz

Oficina Teatro do Brincar. Foto: Clelio Tomaz

Orientadora: Márcia Cruz – Cia. Maravilhas (Recife/PE)
Período: 17 a 20 de janeiro de 2017 (terça a sexta-feira), das 14 às 17h, na sala de Dança da Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife), para crianças dos 9 aos 13 anos
Investimento: R$ 120,00. Inscrição: ciamaravilhas@gmail.com
Pré-requisito: usar roupas adequadas para o trabalho físico
A proposta é uma vivência lúdica na linguagem do teatro. Na dinâmica, os participantes serão introduzidos à lógica do jogo teatral e aos conceitos básicos desta linguagem, transitando entre os princípios do brincar: a consciência corporal (eixo e base) e a respiração; as relações entre o tempo e o ritmo; a presença e a integração com o outro; a energia; as emoções e, por fim, o improviso. O objetivo é proporcionar a cada um dos envolvidos uma experiência alegre e significativa com o teatro.
Márcia Cruz é atriz com larga experiência, inclusive na contação de histórias, e professora de teatro formada pela UFPE.

Intercâmbio de Gestão Cultural: Modos de Fazer

Eduardo Okamoto. Foto: Mariella Siqueira

Eduardo Okamoto. Foto: Mariella Siqueira

Orientadores: Eduardo Okamoto e Daniele Sampaio (Campinas/SP)
Quando: Dia 22 de janeiro de 2017 (domingo), das 14 às 18h, na sala multimídia da Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife), com entrada franca. Informações: 3421 8456
Um diálogo com artistas, gestores de espaços e/ou coletivos de pesquisa em teatro sobre estratégias de viabilização de criações cênicas em contextos com pouca ou nenhuma política pública de fomento às artes, ou seja, a produção cultural como modo de viabilizar a criação, a circulação e a fruição de bens simbólicos.
Daniele Sampaio é produtora cultural, Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP, pesquisadora de Políticas Culturais pela Fundação Casa de Rui Barbosa e pós-graduanda em Artes da Cena também pela UNICAMP. Fundadora da SIM! Cultura, presta consultorias em produção e gestão de projetos culturais para coletivos cênicos, artistas independentes e instituições públicas e privadas.
Eduardo Okamoto é ator, Bacharel em Artes Cênicas, Mestre e Doutor em Artes pela UNICAMP, onde atualmente é docente. Estuda as relações entre o potencial expressivo do corpo e as suas relações com a produção dramatúrgica: dramaturgia de ator. Já apresentou espetáculos e diversas atividades formativas em vários estados brasileiros e no exterior. Em 2012, foi contemplado com o Prêmio APCA de Melhor Ator por sua atuação no espetáculo Recusa, que esteve no Recife.

Postado com as tags: , , , , , ,