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Recife do teatro nacional
11 dias de festival

Peça Traidor, com Marco Nanini, abre Festival Recife do Teatro Nacional. Foto: Annelize Tozetto / Divulgação

A 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional começa nesta quinta-feira, 21 de novembro, prometendo uma intensa maratona cultural até o dia 1º de dezembro. Este evento, que se firmou como um dos mais significativos no panorama teatral brasileiro, reúne 31 espetáculos de companhias pernambucanas e de outros estados, em diversos teatros e espaços públicos do Recife. A programação inclui apresentações gratuitas, oficinas e rodas de diálogo, com ingressos distribuídos mediante a doação de um quilo de alimento não perecível, promovendo uma ação solidária que beneficia a comunidade local.

Este ano, o festival presta homenagem a Marco Nanini e Ivonete Melo (in memoriam).

Marco Nanini é uma figura icônica no cenário artístico brasileiro, com uma carreira que se estende por mais de seis décadas. Nascido no Recife, Nanini se mudou ainda criança para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória no teatro, televisão e cinema. Ele é amplamente reconhecido por sua versatilidade como ator, capaz de transitar entre o drama e a comédia com maestria. Nanini ganhou destaque nacional por seu papel na série de televisão A Grande Família, onde interpretou o personagem Lineu Silva, conquistando o carinho do público brasileiro.

No teatro, Nanini é conhecido por sua dedicação e paixão pela arte cênica. Ele já participou de inúmeras produções teatrais, muitas delas ao lado de outros grandes nomes do teatro brasileiro. Sua contribuição para as artes cênicas é inestimável, e sua presença no Festival Recife do Teatro Nacional é uma celebração de suas raízes pernambucanas e de sua trajetória.

Ivonete Melo. Foto: Reprodução

Ivonete Melo é lembrada como uma das grandes referências do teatro pernambucano. Com uma carreira marcada pela militância e dedicação, Ivonete presidiu o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Pernambuco (SATED-PE) por mais de 20 anos. Ela foi uma figura central no grupo Vivencial, conhecido por sua atuação inovadora e provocativa no teatro entre as décadas de 1970 e 1980, frequentemente desafiando normas sociais e artísticas da época.

A influência de Ivonete Melo no teatro pernambucano é inegável, refletindo seu compromisso inabalável com a defesa dos direitos dos artistas e a promoção da cultura local. Admirada por sua habilidade em inspirar e liderar, ela desempenhou um papel crucial no fortalecimento da comunidade artística. A homenagem a Ivonete no festival celebra sua dedicação e militância, ao mesmo tempo em que reconhece o impacto duradouro de seu legado na cena teatral pernambucana.

Foto: Matheus José Maria / Divulgação

Traidor é uma peça que marca a abertura do Festival Recife do Teatro Nacional, estrelada por Marco Nanini e dirigida por Gerald Thomas.

Marco Nanini, em uma performance tour de force, encarna um náufrago da própria mente, isolado em uma ilha que é tanto física quanto metafórica. Seu personagem, batizado com seu próprio sobrenome, “Nanini”, navega por um mar de memórias fragmentadas e delírios vívidos, confrontando sua identidade como ator e a própria essência do que significa ser humano em um mundo cada vez mais desconexo.

A frase que norteia Traidor, citada várias vezes ao longo da peça, é justamente aquela que encerrava Um Circo de Rins e Fígados, outra parceria Nanini Thomas: “A gente se emociona, a gente se emociona sim.” Esta declaração ressoa como um manifesto da arte da interpretação, ecoando através do tempo e das obras de Gerald Thomas. Em Traidor, que estreou em novembro de 2023 em São Paulo, essa afirmação ganha novas camadas de significado, transformando-se em um farol que ilumina a jornada labiríntica de um ator perdido entre realidade e ficção.

A dramaturgia fragmentada de Thomas encontra em Nanini um intérprete capaz de dar corpo e voz às angústias e contradições de um artista acusado de um crime que não cometeu, mas que talvez tenha cometido em alguma de suas múltiplas personas teatrais. A peça trata de muitos assuntos, refletindo o caos contemporâneo, a ansiedade gerada pelo excesso de informações e o uso viciante das redes sociais, enquanto simultaneamente se apresenta como uma declaração de amor ao ofício da representação. 

Programação Diversificada

Édipo Rec. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Márcia Luz em Antígona – A Retomada. Foto: Divulgação

Othon Bastos em Não me entrego não. Foto: Beti Niemeyer/ Divulgação

Rei Lear. Foto: Mariana Chama / Divulgação

A programação diversificada do festival inclui 13 espetáculos nacionais e 18 locais na programação principal (ver programação completa abaixo), abrangendo desde peças infantis e sátiras até musicais e dramas. Entre as produções estão Édipo REC; Eu Não Me Entrego, Não; Antígona , Rei Lear.

Édipo REC, produção do grupo recifense Magiluth, é uma releitura contemporânea da tragédia grega de Sófocles. Ambientada em um imaginário Recife de 2024, a peça explora temas como o excesso de produção de imagens e a manipulação da realidade nas redes sociais. A direção de Luiz Fernando Marques traz elementos do cinema, com referências a filmes como Édipo Rex de Pasolini. O espetáculo brinca com a cronologia e questiona a noção de tempo no teatro. 

Solo da atriz pernambucana Márcia Luz, Antígona – A Retomada reinterpreta a clássica tragédia grega de Sófocles sob uma perspectiva contemporânea e afro-brasileira. A montagem radicaliza o protagonismo feminino já presente na obra original, entrelaçando a voz da personagem Antígona com as vivências da própria atriz como mulher negra. Dirigida por Quiercles Santana, a peça busca fazer reflexões sobre raça, gênero e poder na sociedade atual.

Eu Não Me Entrego, Não marca a estreia solo do veterano ator Othon Bastos. Escrita e dirigida por Flávio Marinho, a peça percorre os principais momentos da carreira de Othon, incluindo seu papel icônico em Deus e o Diabo na Terra do Sol. E utiliza um formato  descrito como “monólogo híbrido”, onde a atriz Juliana Medella atua como uma “memória” em cena, interagindo com Othon. 

Adaptação ousada da Cia. Extemporânea, Rei Lear traz a tragédia de Shakespeare para o universo das drags queens. Com um elenco composto inteiramente por artistas drag, o trabalho funde a estética drag com a poesia trágica shakespeariana. Dirigida por Ines Bushatsky e adaptada por João Mostazo, o espetáculo utiliza elementos como lipsync (Sincronia Labial) e performances de boate para reinterpretar cenas clássicas. A produção celebra a arte drag, destaca sua capacidade de expressar emoções complexas e desafiar normas de gênero, oferecendo uma visão contemporânea de Rei Lear.

Jéssica Teixeira em Monga. Foto: Ligia Jardim / Divulgação

O evento também marca a estreia do OffREC, uma agenda dedicada a experimentos e espetáculos em processo, que ocorrerá no Teatro Hermilo Borba Filho, de 25 a 30 de novembro. Na programação estão a provocante peça Monga, da cearense radicada em São Paulo Jéssica Teixeira, o  espetáculo itinerante ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos e a Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com as atrizes Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales, com mediação de Hilda Torres. A curadoria do OffREC é assinada por Rodrigo Dourado.

Projeto Arquipélago de Crítica

Nesta 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional quatro profissionais ligados ao Projeto Arquipélago participam de uma ação de  prática da crítica. Kil Abreu, da Cena Aberta, Heloisa Sousa, da Farofa Crítica, Fredda Amorim (convidada) e Ivana Moura, do Satisfeita, Yolanda? tod_s com ampla experiência na produção de conteúdos críticos. 

O projeto arquipélago é uma iniciativa coletiva inovadora de fomento à crítica apoiado pela produtora Corpo Rastreado, de São Paulo, que surgiu em novembro de 2022 para fortalecer a crítica teatral independente no Brasil. Atualmente, seis casas virtuais participam do projeto: Guia Off, Farofa Crítica, ruína acesa, Satisfeita, Yolanda?, Tudo, Menos Uma Crítica, Cena Aberta e Horizonte da Cena.

Programação Principal

Quinta-feira (21 de novembro)

19h30 – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.

Sexta-feira (22 de novembro)

15h – Palhaçadas – História de um Circo sem Lona (Cia. 2 em Cena/PE), no Teatro Barreto Júnior.
18h – Cara do Pai (Coletivo Opte/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Eu no Controle (Cia da Baju/PE), no Teatro Apolo.

Sábado (23 de novembro)

17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Macaxeira.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
18h – Antígona – A Retomada (Luz Criativa/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – 2 Mundos (Lumiato Formas Animadas/DF), no Teatro Apolo.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.
20h – Traidor (RJ), no Teatro do Parque.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.

Domingo (24 de novembro)

16h – Hélio, o Balão que não consegue voar (Coletivo de Artistas/PE), no Teatro do Parque.
17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Tamarineira.
17h – Frankinh@ (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.
18h – Mulheres de Nínive (Nínive Caldas/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.

Segunda-feira (25 de novembro)

20h – Instinto (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.

Terça-feira (26 de novembro)

20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quarta-feira (27 de novembro)

15h – Malassombros – Contos do Além Sertão (Grupo Teatro de Retalhos/PE), no Teatro Barreto Júnior.
20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quinta-feira (28 de novembro)

20h – Kalash – Ensaio sobre a Extinção do Outro (Coletivo Opte/PE), no Teatro Apolo.

Sexta-feira (29 de novembro)

20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.

Sábado (30 de novembro)

17h – Paraíso (Grupo Teatro Máquina/CE), no Teatro Apolo.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Domingo (1º de dezembro)

17h – Quatro Luas (O Bando Coletivo de Teatro/PE), no Teatro Apolo.
18h – Esquecidos por Deus (Cícero Belmar/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Programação OffREC (25 a 30 de novembro, no Teatro Hermilo Borba Filho)

25 de novembro

16h às 18h – Roda de Diálogo Corporalidades e Estranhamentos, com Johnelma Lopes (UFPE), Ana Marques (UFPE) e Alexsandro Preto (Vale PCD). Mediação: Clara Camarotti.
20h – Espetáculo Monga, de Jéssica Teixeira (CE).

26 de novembro

9h às 12h – Vivência de Teatro Hip Hop, com o coletivo À Margem (PE) e Bento Francisco (PE).
15h às 17h – Espetáculo ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos (PE). Espetáculo itinerante, com concentração no Teatro Apolo.
17h30 às 19h – Roda de Diálogo Teatro Negro em Perspectiva, com Marcos Alexandre (UFMG). Mediação: Jefferson Vitorino (Cia. Máscara Negra).
20h – Espetáculo Xirê, do Coletivo À Margem.

27 de novembro

9h às 12h – Vivência Criando Autoficções, com a Cia. Teatro da UFPE (PE).
16h às 17h30 – Roda de Diálogo Processos Criativos Autoficcionais, com Marcondes Lima (UFPE) e Rodrigo Dourado (UFPE). Mediação: Fátima Pontes (Escola Pernambucana de Circo).
18h – Espetáculo Não. Tá. Fácil, do Coletivo À Margem (PE).
20h – Espetáculo Palestra Babau, Pancadaria e Morte, com Marcondes Lima e Mão Molenga (PE).

28 de novembro

9h às 12h – Vivência Contornos do Tempo: Ensaio na Terceira Idade, com o grupo Memória em Chamas (PE).
16h às 18h – Roda de Diálogo Teatro, Memória e Envelhecimento, com Rodrigo Cunha (IFPB) e equipe do espetáculo Senhora. Mediação: Manu de Jesus, da Creative’se Cultural.
18h – Espetáculo Baba Yaga, da Cênicas Cia. de Repertório (PE).
20h – Espetáculo Senhora, de João Pedro Pinheiro (UFPE).

29 de novembro

9h às 12h – Vivência Dramaturgias Urgentes: Escritas e Cenas Negras, com Kléber Lourenço (PE).
18h – Espetáculo Poema – Desmontagem, da Cia do Ator Nu (PE).
20h – Espetáculo Negro de Estimação – Desmontagem, com Kléber Lourenço (PE).

30 de novembro

10h às 12h – Abertura de Processo Senhora dos Sonhos, com Ceronha Pontes e Gonzaga Leal (PE).
14h às 17h – Roda de Diálogo Teatro e Comunicação na Era Digital: por e para onde caminhamos, com Aline (Vendo Teatro), Fernanda (Teatralizei), Ricardo Maciel (Palco Pernambuco). Mediação: Márcio Bastos.
18h – Performance O Problema é a Cerca, com Renna Costa (PE).
20h – Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales. Mediação: Hilda Torres.

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

 

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Coletivo Legítima Defesa apresenta
Exílio: notas de um mal-estar que não passa

Peça faz uma “transcriação poética” do exílio vivido por Abdias Nascimento e sua relação com Augusto Boal. Foto: Camila Ríos / Divulgação

Exílio resgata vozes silenciadas pela história oficial e propõe futuros alternativos. Foto: Camila Ríos / Divulgação

Imagine um palco onde o tempo se dobra e a história se refaz. O que parece metáfora poética se encaminha para uma profunda reflexão político-filosófica sobre a natureza da existência negra através dos séculos. É nesse espaço liminar, onde passado e presente colidem, que o Coletivo Legítima Defesa nos convida a adentrar com Exílio: notas de um mal-estar que não passa. Esse espetáculo urgente vem com imperativo ético e estético de reescrever a narrativa da negritude, resgatando vozes silenciadas pela história oficial e propondo futuros alternativos. A peça faz temporada no Sesc 14 Bis, na capital paulista, de 18 de outubro a 10 de novembro.

Exílio: notas de um mal-estar que não passa se apresenta como “transcriação poética” do exílio vivido por Abdias Nascimento (1914-2011) e a sua relação com Augusto Boal (1931-2009). Trata-se de uma reinvenção criativa que junta palavras, experiências vividas, traumas históricos e aspirações coletivas para o palco. Na construção dramatúrgica, Eugênio Lima e Claudia Schapira incorporam elementos do acervo do Teatro Experimental do Negro (TEN).

A montagem parte da premissa de que o surgimento do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Nascimento, coincide com o início da carreira dramatúrgica de Boal. Assim, Exílio retrata esta relação histórica e salienta a influência mútua desses dois criadores no desenvolvimento do teatro nacional.

As pesquisas do Legítima Defesa apontam que Boal e Nascimento reinterpretaram a hybris trágica, conceito da dramaturgia grega, a partir de uma lente afro-diaspórica. Eles propunham que a hybris negra – o orgulho desmedido que leva à queda do herói – estava intrinsecamente ligada ao candomblé. Essa perspectiva motivou Boal a escrever uma série de peças ambientadas em terreiros: O Logro (1953), O Cavalo e o Santo (1954), Filha Moça (1956) e Laio se Matou (1958).

A dramaturgia de Exílio entrelaça obras de Boal, Nascimento e O’Neill. Foto: Camila Ríos / Divulgação

No cenário teatral brasileiro das primeiras décadas do século 20, predominava um pensamento discriminatório que limitava atrizes e atores negros a papéis cômicos, negando-lhes oportunidades em produções trágicas ou dramáticas sob o pretexto, infundado, de que careciam de profundidade interpretativa. Nesse contexto, Abdias Nascimento – que passou 13 anos exilado nos Estados Unidos e na Nigéria – voltou seu interesse para a obra do dramaturgo estadunidense Eugene O’Neill (1888-1953). Nascimento via nas peças de O’Neill veículos potentes para explorar o que considerava a grande tragédia do negro no Brasil: o processo de embranquecimento. Por esse prisma, o indivíduo negro enfrenta um dilema existencial – ou abandona sua negritude e “morre” culturalmente, ou a mantém e enfrenta a morte literal ou simbólica imposta pela sociedade racista.

A narrativa de Exílio se desdobra como uma metapeça audaciosa, onde um grupo de seis performers negros – Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e Thaís Peixoto – tenta montar trechos de obras históricas, confrontando-se com a impossibilidade emocional e ética de reviver tais tragédias. Este conflito interno do elenco se torna o cerne do espetáculo, transformando-o em um “sample de textos” onde tudo é documento. O palco, convertido em um “tapete da memória”, permite que os atores transitem entre diferentes temporalidades e narrativas, enquanto a equipe técnica, visível e iluminada, participa ativamente da construção cênica. O diretor Eugênio Lima atua como se estivesse conduzindo um ensaio, borrando as fronteiras entre realidade e representação.

A dramaturgia de Exílio entrelaça diversas obras, criando um exercício de metalinguagem. De O’Neill, são incorporados O Imperador Jones, explorando o protagonismo negro e as complexidades do poder, e Todos os Filhos de Deus Têm Asas, abordando o drama racial e a busca por identidade. De Boal, O Logro investiga a tragédia na experiência negra brasileira, enquanto Murro em Ponta de faca reflete sobre o exílio e o deslocamento. A obra de Abdias Nascimento, Sortilégio – Mistério Negro, examina o tema do sacrifício e conflito de identidade. Esses fios de diferentes épocas e autores cria uma narrativa que explora a complexidade da experiência negra através do tempo e do espaço.

A paisagem sonora junta elementos aparentemente díspares, que se entrelaçam e se sobrepõem de maneira fluida: os depoimentos históricos de figuras emblemáticas como Léa Garcia e Ruth de Souza, os beats do Hip Hop dos anos 1980 e 1990, e as composições minimalistas de Philip Glass. Os raps contundentes dos Racionais MC’s dialogam com o jazz melancólico de Billie Holiday, enquanto os tambores de candomblé ressoam em harmonia com o soul envolvente de Marvin Gaye.

O cenário é enriquecido por projeções de documentos históricos, cartas, filmes e fotos, pesquisados no IPEAFRO e no Instituto Boal, criando um diálogo visual entre passado e presente. O figurino, assinado por Claudia Schapira, opta por peças-chave que situam as personagens em diferentes décadas, sempre mantendo a aparência de “roupa de ensaio”. A paleta em preto e branco remete à primeira peça do grupo, reforçando a ideia dos atores como documentos vivos da história negra.

Com Exílio“, o Coletivo Legítima Defesa reafirma suas investigações sobre a condição negra no Brasil e no mundo. O espetáculo discute como a experiência do exílio molda a identidade negra, de que forma o teatro pode ser um instrumento de resistência e transformação social, e como podemos reimaginar o futuro a partir de um passado de opressão. 

Elenco do Coletivo Legítima Defesa. Foto: Camila Ríos / Divulgação

FICHA TÉCNICA

Direção, direção musical, música e desenho de som: Eugênio Lima
Dramaturgia: Eugênio Lima e Claudia Schapira
Intervenção dramatúrgica: Coletivo Legítima Defesa
Com samplers dramatúrgicos de: Frantz Fanon, Racionais MC’s, Augusto Boal, Abdias Nascimento, Maurinete Lima, Eugene O’Neill, Nelson Rodrigues, Agnaldo Camargo, Ruth de Souza, Léa Garcia, Túlio Custódio, Guilherme Diniz, Gianfrancesco Guarnieri, Molefi Kete Asante e Iná Camargo Costa
Elenco do Legítima Defesa: Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e  Eugênio Lima
Atrizes convidadas: Thaís Peixoto e Luaa Gabanini (em vídeo)
Produção: Iramaia Gongora Umbabarauma Produções Artísticas
Videografia: Bianca Turner 
Iluminação: Matheus Brant
Figurino: Claudia Schapira
Direção de gesto e coreografia: Luaa Gabanini 
Assistência de direção: Fernando Lufer
Fotografia: Cristina Maranhão 
Design: Sato do Brasil
Consultoria vocal: Roberta Estrela D´Alva
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e  Daniele Valério
Cenotécnico: Wanderley Wagner
Vídeo: Matheus Brant
Engenharia de som: João Souza Neto e Clevinho Souza 
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa 
Parceiros: Casa do Povo, Ipeafro, Instituto Boal, Editora 34 e Editora Perspectiva

SERVIÇO
Exílio: notas de um mal-estar que não passa
Data: 18 de outubro a 10 de novembro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h
Atenção: no dia 27 de outubro não haverá espetáculo e, no dia 8 de novembro, haverá uma sessão às 15h e outra às 20h
Local: Sesc 14 Bis – Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista – São Paulo
Ingresso: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada) e 18 (credencial plena) | Ingressos disponíveis nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo, pelo aplicativo Credencial Sesc ou pelo site

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Fragmentos da solidão gay
Crítica de Bicha Oca

Rodolfo Lima, como Alceu, em Bicha Oca, Foto: Ivana Moura

A dramaturgia reúne textos de Marcelino Freire

Só conheci a Bicha Oca 15 anos após sua estreia, no Espaço Extranho, situado na rua Barbara Heliodora, na Lapa, São Paulo. Minha curiosidade foi aguçada pela reputação da peça, que  tem como base os textos de Marcelino Freire. Considerando o longo percurso da peça, questionei-me sobre sua relevância em 2024. Afinal, o cenário LGBTQIA+ passou por diversos avanços (e reposicionamentos) desde a estreia do espetáculo. Será que Bicha Oca ainda teria algo a dizer ao público contemporâneo?

A resposta é sim. Bicha Oca mantém sua relevância, trabalhando com franqueza temas cruciais: a dignidade da população LGBTQIA+ idosa e os direitos humanos de indivíduos  em situação de vulnerabilidade econômica. A peça destaca que, mesmo com avanços sociais, a luta por igualdade e respeito continua. Isso é especialmente válido para aqueles que enfrentam uma tríplice vulnerabilidade: idade avançada, orientação sexual divergente da heteronormatividade e situação econômica precária. Em uma sociedade impregnada de preconceitos, Bicha Oca atua como lembrete das batalhas que ainda precisam ser travadas pela comunidade LGBTQIA+.

Criada pelo Núcleo Teatro do Indivíduo e dirigida por Rodolfo Lima, a peça adapta contos homoeróticos de Marcelino Freire, tecendo um relato que explora o universo arredio, impiedoso e aterrorizante da velhice gay. No centro desta trama está Seu Alceu, um homossexual de comportamento arcaico, que revisita seu passado, expondo as crueldades e isolamentos de sua existência.

A adaptação está calcada nos contos A volta da Carmen Miranda, Coração, Meus amigos Coloridos e Os Atores, além do micro conto inédito Seu Alceu. Esta colagem literária reverbera os práticas dos homossexuais, expondo mudanças entre passado e presente.

Alceu emerge como uma figura peculiar e o ator explora com seu físico – calvície incipiente e pelagem esparsa adornando seu torso e abdômen – e gestos as marcas do tempo e das decepções. Sua presença na cena é marcada por um olhar crítico e desencantado sobre a sociedade que o circunda, encarnando a melancolia e a decadência. Sua solidão é amplificada pela ausência deliberada de qualquer trilha sonora reconfortante.

O protagonista cita hábitos da comunidade gay, explorando cenários emblemáticos das rotinas dos encontros furtivos na Praça da República, das interações veladas em salas de cinema e dos contatos efêmeros nos transportes públicos. O conceito da “bicha oca” é personificado de maneira complexa: uma entidade simultaneamente extravagante, cômica e profundamente melancólica.

Como uma ilha de anacronismo, Alceu sustenta o descompasso com o hoje e apresenta um discurso deslocado em uma época onde a comunidade LGBTQ+ conquistou visibilidade e direitos. Sua inadaptação aos novos paradigmas sociais pulsa no confinamento em sua própria casa, que reflete sua alienação do mundo exterior.

Rafael Rudolf, de costas, representa o corpo jovem e desejável. Foto: Ivana Moura

Ao longo de seus 15 anos de trajetória, a peça passou por diversas interações, com Rodolfo Lima trabalhando com vários atores jovens e incorporando suas contribuições à versão final. A atual parceria com Rafael Rudolf traz um teor mais afetivo à produção, explorando a dinâmica complexa entre um corpo jovem e uma “bicha velha”.

A entrada de Rafael – e dos outros atores nas temporadas anteriores – marca um ponto de inflexão crucial no espetáculo. Até então, Alceu havia exposto exaustivamente sua solidão, a nostalgia pelos tempos de juventude e suas críticas mordazes ao comportamento contemporâneo da comunidade gay. Sua miséria existencial e material havia sido esmiuçada a ponto de quase esgotar a paciência do espectador. Neste momento crucial, o jovem Rafael surge como uma aparição quase etérea – uma projeção do desejo de Alceu ou talvez a materialização de um sonho há muito acalentado. Sua presença catalisa uma transformação na narrativa, introduzindo novas camadas à trama.

O relacionamento entre Alceu e Rafael é permeado por contradições que espelham questões profundas do universo LGBTQIA+. Oscila entre momentos de ternura genuína e dinâmicas claramente tóxicas, oferecendo um retrato nuançado das complexidades das relações intergeracionais na comunidade gay. Esse entrosamento poliédrico serve como um microcosmo, refletindo e amplificando diversas questões pertinentes ao mundo LGBTQIA+: o culto à juventude e a marginalização dos mais velhos, a dinâmica de poder em relacionamentos com grande diferença etária, o conflito entre diferentes gerações e suas visões de mundo, e a busca por conexão emocional em um ambiente muitas vezes hostil. Através deste relacionamento contraditório e caleidoscópico, o espetáculo consegue levantar, de forma sutil e impactante, uma miríade de temas relevantes, proporcionando uma reflexão profunda sobre as complexidades e desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ em diferentes fases da vida.

Bicha Oca chega ao Recife para apresentações na Escola Pernambucana de Circo nos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, em um espaço com capacidade para 80 pessoas. Já no Espaço Cênicas, as apresentações serão nos dias 6 e 7 de outubro, às 18h e 20h, respectivamente, com ingressos a R$50 (inteira) e R$25 (meia), para um público de até 60 pessoas.

Nesses 15 anos de trajetória, Rodolfo Lima já trabalhou com 10 atores jovens. Foto: Ivana Moura

O final dessa versão com Rafael Rudolf tem uma conotação mais afetivas. 

O espetáculo navega por temas como a volatilidade dos relacionamentos, a busca incessante por conexão, o espectro do envelhecimento e as nuances menos glamourosas da experiência homossexual. “Pegação”, encontros casuais, práticas sexuais específicas e a realidade de um corpo em declínio são expostos sem filtros, expondo verdades incômodas, mas necessárias.

Esta produção teatral encara o desconforto, abraça-o, apresentando as mazelas da comunidade gay com coragem. A dramaturgia ousada flerta com o ridículo, com o grotesco.

Em essência, Bicha Oca é um exercício de desconstrução e reconstrução. Desafia percepções, quebra tabus e tece uma narrativa que ressoa profundamente com as experiências vividas e imaginadas da comunidade LGBTQ+. Reflete as camadas mais profundas e por vezes dolorosas da existência gay contemporânea, oferecendo uma experiência teatral que permanece impactante.

Ficha técnica
Bicha Oca a partir do originais de Marcelino Freire
Direção e adaptação: Rodolfo Lima
Elenco: Rafael Rudolf e Rodolfo Lima
Concepção Geral: Núcleo Teatro do Indivíduo
60 minutos
18 anos
Produção local: Rodrigo Dourado
Design Gráfico: Betinho Neto
@teatrodoindividuo

SERVIÇO

Bicha Oca no Recife
Escola Pernambucana de Circo (Avenida José Américo de Almeida, 05 – Macaxeira – Recife)
Quando: 03 e 04 de outubro de 2024, às 20h (ambos os dias)
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia)
Capacidade: 80 pessoas
@escolapecirco
Link para compra antecipada:
03/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-03-10/2633756
04/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-04-10/2633785

Espaço Cênicas Rua Vigário Tenório 199 Edf. Álvaro Silva Oliveira 2º andar 201 – Recife Antigo)
Quando: 06 de outubro: 18h e 07 de outubro: 20h
Ingressos: R$50 (inteira) e R$25 (meia)
Capacidade: 60 pessoas
@espacocenicas Link para compra antecipada:
06/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-06-10/2633760
07/10: https://www.sympla.com.br/evento/bicha-oca-07-10/2633801

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

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Grupo Magiluth encena Édipo REC:
Quando a tragédia grega encontra o Big Brother

Édipo REC faz parte das celebrações dos 20 anos do Grupo Magiluth. Foto: Estúdio Orra / Divulgação

Pedro Wagner, Giordano Castro e a atriz Nash Laila. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Nash Laila e Giordano Castro. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Em um mundo dominado por câmeras e redes sociais, onde cada movimento é potencialmente gravado e compartilhado, como seria a história de Édipo, – aquele herói grego que sem saber, mata seu pai e casa-se com sua mãe, cumprindo uma profecia e enfrentando um destino devastador? O grupo Magiluth, celebrando seus 20 anos de trajetória, propõe essa instigante reflexão no novo espetáculo, Édipo REC, que estreia nesta sexta-feira, 27/09, no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo. A temporada vai até 26 de outubro, com apresentações de quinta a domingo. 

Imagine o Recife como uma Tebas futurista de 2024, onde o Coro da tragédia grega se transforma em uma onipresente câmera, capturando cada detalhe da vida do protagonista. É nesse cenário que o Magiluth reinterpreta o clássico de Sófocles, mesclando a ancestralidade do mito com a urgência contemporânea da exposição excessiva.

O Magiluth, grupo recifense conhecido por sua pesquisa continuada e provocações cênicas, completa duas décadas de uma jornada artística marcada pela experimentação e diálogo com diferentes linguagens. Ao longo desses 20 anos, o grupo desenvolveu 15 espetáculos, explorando desde clássicos da dramaturgia até criações autorais. Sua perspectiva singular combina elementos do teatro físico, da performance e das artes visuais, buscando novas formas de engajar o público e questionar as fronteiras do fazer teatral.

A peça, dirigida pelo paulista Luiz Fernando Marques, o Lubi, marca o quarto trabalho da parceria entre o diretor e o grupo. Édipo REC joga com a cronologia e questiona a percepção de tempo no teatro, convidando o público a investir em uma experiência que vai da euforia de um reino em festa à tensão crescente de uma tragédia inevitável.

Erivaldo Oliveira na fase festa do espetáculo. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Lucas Torres e Bruno Parmera. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Na busca por referências cinematográficas, o grupo se inspirou em obras emblemáticas. Édipo Rex (1967), de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), foi uma influência crucial, com sua atualização do mito para a Bolonha dos anos 1960 e sua estrutura narrativa em flashbacks. O experimentalismo de Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto (1932-2017), com seu mergulho no mundo noturno das drags de Tóquio, serviu como referência poética. Além disso, o grupo buscou inspiração em Hiroshima, meu amor (1959) de Alain Resnais (1922-2014), Cinema Paradiso (1990) de Giuseppe Tornatore (1956-); e Cabaret (1972) de Bob Fosse (1927-1987), ampliando o diálogo entre teatro e cinema.

No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner e a atriz Nash Laila, conhecida por trabalhos audiovisuais do grupo. Juntos, eles dão vida a personagens que transitam entre o mítico e o contemporâneo, explorando as nuances do humano em diferentes tempos e espaços.

Édipo REC questiona o poder da imagem na sociedade atual. Como pontua o diretor Luiz Fernando Marques, no material de divulgação: “O Édipo acredita tanto nessa projeção que criou para si mesmo, de que é um tirano, que não consegue mais enxergar a sua verdadeira essência. O mesmo acontece hoje, já que as pessoas montam as suas vidas para as redes sociais, independente daquilo que elas estejam de fato vivendo.”

O processo de criação do espetáculo contou com o apoio do FETEAG (Festival de Teatro do Agreste), um dos mais importantes eventos teatrais do Nordeste. O festival proporcionou ao Magiluth uma residência artística, oferecendo espaço para ensaios e suporte financeiro aos artistas durante o período de desenvolvimento da peça. Esta parceria permitiu ao grupo aprofundar sua pesquisa e experimentação, além de desenvolver um processo pedagógico, abrindo os ensaios para observadores interessados no processo criativo.

O espetáculo promete ser uma experiência provocativa, mesclando elementos de vídeo mapping, trilha sonora original e uma cenografia que dialoga diretamente com a linguagem cinematográfica.

O Magiluth convida o público a refletir: em uma era de hiperexposição, quanto tempo dura uma tragédia? 20 anos? Uma vida inteira? Ou talvez, na era do REC perpétuo, por toda a eternidade? Édipo REC revisita um clássico, reinventando-o para nossos tempos, indagando nossa relação com a imagem, a memória e a identidade em um mundo cada vez mais mediado por telas e câmeras.

Mário Sergio Cabral com a camisa do Santa Cruz Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

SERVIÇO
Édipo REC
Quando: De 27/9 a 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Exceto dias 6 e 27/10. Dia 12/10, sábado, 17h. Dias 9 e 23/10, quartas, 20h. Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

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Meu Corpo Está Aqui, com artistas com deficiência,
marca presença no FETEAG

Haonê Thinar, Bruno Ramos, Pedro Fernandes,  Juliana Caldas e ao fundo, Jadson Abraão. Foto Silvia Machado 

Meu Corpo Está Aqui faz sessões com acesso gratuito no FETEAG, no Recife. Foto Renato Mangolin / Divulgação

O espetáculo Meu Corpo Está Aqui, dirigido por Julia Spadaccini e Clara Kutner, traz uma contribuição significativa para a cena teatral brasileira ao romper o silêncio que frequentemente envolve temas como afeto e sexualidade de pessoas com deficiência (PCDs). Ao apresentar essas histórias com franqueza e sensibilidade, a peça catalisa reflexões cruciais sobre inclusão, representatividade e a complexidade da experiência humana, confrontando estereótipos e expandindo os horizontes do teatro contemporâneo brasileiro. Programado para hoje e amanhã (19 e 20 de setembro), às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife, este trabalho de 60 minutos é uma das atrações da 33ª edição do Festival de Teatro do AgresteFETEAG.

O que torna Meu Corpo Está Aqui verdadeiramente único é seu elenco, composto inteiramente por atores PCDs que compartilham suas próprias vivências de forma corajosamente franca. No palco, Bruno Ramos (surdo não oralizado), Haonê Thinar (pessoa amputada), Juliana Caldas (que tem nanismo) e Pedro Fernandes (com paralisia cerebral, cognitivo preservado e usuário de cadeira de rodas) desafiam estereótipos e oferecem uma perspectiva poderosa sobre corpos frequentemente marginalizados pela sociedade. Jadson Abraão, como ator-intérprete de Libras, adiciona uma camada extra de expressividade e acessibilidade à performance.

O texto, desenvolvido a partir das experiências pessoais dos atores e habilmente ficcionalizadas por Spadaccini (ela própria uma pessoa com deficiência) e Kutner, navega entre o pessoal e o coletivo, propondo reflexões importantes sobre identidade, desejo e aceitação. A produção mergulha em questões cruciais de representatividade e avança ao estabelecer novos padrões de inclusão no teatro brasileiro.

Esta obra celebra a diversidade e convida o público a ver além das limitações impostas pela sociedade. Ao trazer esta produção para o FETEAG, o festival reafirma seu papel como catalisador de diálogos contemporâneos e plataforma de democratização cultural.

A produção é da Fábrica de Eventos, do Rio de Janeiro. Foto: Silvia Machado / Divulgação

Meu Corpo Está Aqui (Fábrica de Eventos/RJ)
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quando: 19 e 20 de setembro, 19h
Quanto: Gratuito
Duração: 60 minutos
Classificação etária: 16 anos

FICHA TÉCNICA

Texto: Julia Spadaccini e Clara Kutner
Direção: Clara Kutner e Julia Spadaccini
Elenco: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes
Ator-Intérpretes de Libras: Jadson Abraão
Direção de Produção e Coordenação Geral do Projeto: Claudia Marques
Diretor Assistente: Michel Blois
Produção: Fabricio Polido
Pesquisa de dramaturgia: Marcia Brasil
Colaboração de texto: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes
Figurino e Cenografia: Beli Araujo
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Direção de Movimento: Laura Samy
Música: Luciano Camara
Visagismo: Cora Marinho
Operador de Luz: João Gioia
Operador de som: Carlos Gabriel
Realização: Fábrica de Eventos

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