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Festival Cena CumpliCidades 2025:
Dramaturgias do Brasil e da França no Recife

Até aqui tudo bem, da Cia MALKA( França), abre a programação do Cena CumpliCidades. Foto: Alicia Cohim

Obras do Brasil e da França ocupam oito espaços culturais durante quase um mês de programação que redesenha o mapa das artes cênicas no Recife. O Festival Cena CumpliCidades retorna em setembro com uma curadoria que faz o hip hop francês conversar com o carnaval pernambucano, a militância das prostitutas brasileiras dialogar com a dança contemporânea, e o legado de Malcolm X ressoar nas periferias do Nordeste. Entre 4 e 28 de setembro de 2025, 20 espetáculos europeus e brasileiros de sete estados e 10 cidades de Pernambuco, em diferentes linguagens cênicas compõem uma programação que vai dos teatros tradicionais aos museus, dos parques aos centros universitários, em 27 apresentações, complementada por 4 ações formativas que consolidam o evento como plataforma de intercâmbio artístico e formação cultural no país.

O festival abre com uma provocação estética que reverbera por toda a programação: como as identidades contemporâneas se articulam em territórios de memória colonial? A Cia MALKA (França), que desenvolve pesquisas sobre encontros culturais há mais de duas décadas, exibe    Até Aqui Tudo Bem, enquanto Grupo de Dança da UFPE – LEED apresenta Danças do Carnaval de Recife, expondo a energia vibrante de três manifestações de uma das maiores festas populares do Brasil: o frevo, o caboclinho e o coco (04/09, 19h, Teatro de Santa Isabel, R$ 20). O espetáculo promove um encontro na mesma noite entre a cultura hip hop francesa – nascida também nas periferias de imigrantes – e a energia carnavalesca pernambucana , criando um diálogo coreográfico que borra fronteiras culturais ao demonstrar como diferentes formas de resistência popular podem se potencializar mutuamente.

Essa mesma urgência decolonial pulsa em CHENN / FRIDA DANSE | A Coluna Quebrada / Mes Horizons (11/09, 20h, Teatro Hermilo Borba Filho, Gratuito), do Centro Nacional de Desenvolvimento Coreográfico (CDCN) Touka Danses, da Guiana Francesa, que se apresenta no Brasil no âmbito da Temporada França-Brasil 2025, (o Touka Danses é a primeira entidade ultramarina vinculada à rede nacional francesa de CDCN’s). Um tríptico coreográfico que investiga as cicatrizes e potências do passado colonial através de três perspectivas: a corrente que simbolicamente une mas também pode confinar (CHENN), a transformação da dor em potência criativa (inspirado em Frida Kahlo) e a busca identitária das populações guianenses (Mes Horizons), explorando as complexidades de identidades que se formam entre diferentes referências culturais.

Brasil Plural: Geografias Afetivas

Tudo Acontece na Bahia (05/09, 19h, Teatro de Santa Isabel, R$ 20), da Subitus Company (PE), constrói uma geografia afetiva entre Rio de Janeiro e Salvador, onde Francisco e Quitéria vivenciam a tensão entre migração e pertencimento, entre partir e ficar, atravessando as complexidades urbanas, históricas e culturais de duas metrópoles brasileiras.

Gabri[Elas], do Coletivo Mulheres da Vida (SP) com Fernanda Viacava e direção de Malú Bazán. Foto: Divulgação

Fernanda Viacava constrói um “crochê de narrativas” em Gabri[Elas] (05/09, 19h, Teatro Hermilo Borba Filho, R$ 40), do Coletivo Mulheres da Vida (SP). Sob a direção de Malú Bazán, a atriz encarna Gabriela Leite – criadora da DASPU, liderança fundamental na luta em defesa dos direitos das prostitutas no Brasil – e todas as mulheres que fizeram da palavra “puta” uma ferramenta de luta e afirmação. O espetáculo, fruto de quatro anos de pesquisa com arquivos históricos e testemunhos vivos, utiliza a metáfora do crochê – hobby da ativista – para entrelaçar memória pessoal e luta coletiva.

A peça dialoga com décadas de invisibilização do feminismo das prostitutas, questionando por que a prostituta sempre foi objeto de representação e nunca sujeito de sua própria narrativa. O trabalho emerge de encontros com familiares de Gabriela, companheiras de luta como Lourdes Barreto e Vânia Rezende, além de pesquisadores como Soraya Simões (UFRJ), criando uma rede de memórias que ultrapassa os limites do teatro. Mesmo sendo um monólogo, o espetáculo é construído por 14 mulheres, demonstrando que a criação coletiva pode habitar a cena individual, multiplicando vozes em uma única intérprete.

Masculinidades em Crise e Memórias Interrompidas

Um solo autobiográfico que investiga três décadas de relação mãe-filho, Primavera Cega (06/09, 19h, Teatro Hermilo Borba Filho, R$ 40), de Igor Iatcekiw (SP), com direção de Alejandra Sampaio e Malú Bazán, mergulha nas ruínas da masculinidade tóxica. O espetáculo navega entre a homofobia estrutural que mata 291 pessoas LGBTQIAPN+ anualmente no Brasil e o Alzheimer que apaga memórias, criando um paradoxo cruel: enquanto o filho luta para lembrar, a mãe se liberta pelo esquecimento.

Eron Villar e DJ Vibra (Recife) em Se eu fosse Malcolm. Foto: Divulgação

Se eu fosse Malcolm (10/09, 19h, Teatro Apolo, Gratuito), de Eron Villar e DJ Vibra (Recife), constrói um encontro fictício entre Malcolm X e outras personalidades negras, de Martin Luther King e Nina Simone até Elza Soares e Bell Puã. A performance cênico-musical funciona como ritual de invocação, onde música contemporânea e teatro épico-narrativo criam um espaço de cura e resistência, questionando como o legado do ativista ressoa nas periferias brasileiras contemporâneas.

A Marcelos Move Dance School (Suíça/Brasil) apresenta Ne me jugez pas & Scape (06/09, 19h, Teatro de Santa Isabel, R$ 20), dupla de trabalhos que investigam identidades em trânsito através da dança contemporânea, onde artistas suíços e brasileiros exploram questões de julgamento social e possibilidades de fuga através de linguagens corporais que cruzam fronteiras geográficas e estéticas.

Balancê Antropofágico (14/09, 16h, Museu de Arte Sacra de PE, Gratuito), de Yla + Jeff (França/Brasil), propõe uma performance que dialoga com o espaço museológico, onde a dupla franco-brasileira desenvolve ações corporais que conversam com o acervo de arte sacra, criando tensões entre o sagrado e o profano, entre tradição e contemporaneidade.

Neris Rodrigues (Paulista-PE) apresenta Músicas do Mundo (19/09, 16h, Parque Dona Lindu/Galeria Janete Costa, R$ 20), um concerto que navega por sonoridades de diferentes culturas, enquanto a Banda Chanfrê (20/09, 20h, Teatro do Parque, R$ 20) traz um projeto musical colaborativo entre artistas franceses e brasileiros que explora fusões instrumentais e vocais, criando pontes sonoras entre dois continentes.

Carlota, Focus dança Piazzolla, com a Focus Cia de Dança (RJ). Foto: Divulgação

A Focus Cia de Dança (RJ) encerra o festival com três criações distintas. Trupe (24/09, 19h, CAC UFPE, Gratuito) e De Bach a Nirvana (26/09, 20h, Teatro Luiz Mendonça, Gratuito) antecipam Carlota, Focus dança Piazzolla (27/09, 20h, Teatro Luiz Mendonça, Gratuito), espetáculo que homenageia Carlota Portella através das composições de Astor Piazzolla.

Alex Neoral desconstrui o tango tradicional para criar linguagem híbrida onde oito bailarinos exploram “o drama do abandono” através de coreografias que buscam ir além do clichê passional. A trilha de Piazzolla atua como dramaturgia sonora, criando espaço para cenas que transitam entre melancolia e brilho, ressaltando a intensidade como personalidade da companhia de mais de mais duas décadas dede trajetória.

Criação Local e Mostra de Talentos

A produção pernambucana marca presença com Mouras (11/09, 18h, Teatro Apolo, R$ 20) do Impacto FM, Se eu Fosse Eu (12/09, 19h, Teatro Apolo, R$ 20) de Luna Padilha e convidados e Contando Histórias (13/09, 18h, Teatro Apolo, R$ 20) do Integrarte. A Mostra de Coreografias CENA (17 a 21/09, Teatro de Santa Isabel, R$ 20) apresenta a produção coreográfica local, revelando novos talentos e consolidando trajetórias.

As 10 ações formativas operam como laboratórios onde artistas locais, nacionais e internacionais compartilham metodologias e visões de mundo, criando rede de conhecimento que se estende além do período do festival e consolida o Recife como território de experimentação e irradiação artística no Nordeste.

O Festival Cena CumpliCidades 2025 oferece uma programação com ingressos entre R$ 20 e R$ 40, além de várias apresentações gratuitas. A diversidade de linguagens e origens dos trabalhos, aliada às ações formativas e à ocupação de diferentes espaços culturais da cidade, configura um evento que articula criação local e intercâmbio internacional, formação artística e circulação de obras contemporâneas.

Realização: Artistas Integrados
Ingressos: Sympla_cumpliCidades

 

📅 Programação Completa

Data/  Horário

Espetáculo / Companhia

Local 

Valor

04/09 – 19h Danças do Carnaval de Recife – Grupo de Dança da UFPE – LEED

Até Aqui Tudo Bem– Cia MALKA (França)

Teatro de Santa Isabel  R$ 20,00
05/09 – 19h Tudo Acontece na Bahia – Subitus Company (PE)  Teatro de Santa Isabel  R$ 20,00
05/09 – 19h Gabri[Elas] – Coletivo Mulheres da Vida (SP) Teatro Hermilo Borba Filho  R$ 40,00
06/09 – 19h Ne me jugez pas & Scape – Marcelos Move Dance School (Suíça/Brasil) Teatro de Santa Isabel  R$ 20,00
06/09 – 19h Primavera Cega – Igor Iatcekiw (SP) Teatro Hermilo Borba Filho  R$ 40,00
10/09 – 19h Se eu fosse Malcolm – Eron Villar e DJ Vibra (Recife) Teatro Apolo  Gratuito
11/09 – 18h Mouras – Impacto FM (Recife) Teatro Apolo R$ 20,00
11/09 – 20h CHENN / FRIDA DANSE / Mes Horizons – Touka Danses (França) Teatro Hermilo Borba Filho Gratuito
12/09 – 19h Se eu Fosse Eu – Luna Padilha e convidados (Recife) Teatro Apolo  R$ 20,00
13/09 – 18h Contando Histórias – Integrarte (Recife) Teatro Apolo  R$ 20,00
14/09 – 16h  Balancê Antropofágico – Yla + Jeff (França/Brasil)  Museu de Arte Sacra de Pernambuco Gratuito
17 a 21/09 Mostra de Coreografias CENA Teatro de Santa Isabel R$ 20,00
19/09 – 16h Músicas do Mundo – Neris Rodrigues (Paulista-PE) Parque Dona Lindu/Galeria Janete Costa R$ 20,00
20/09 – 20h Banda Chanfrê (França/Brasil) Teatro do Parque R$ 20,00
24/09 – 19h Trupe – Focus Cia de Dança (RJ) CAC UFPE Gratuito
26/09 – 20h De Bach a Nirvana – Focus Cia de Dança (RJ) Teatro Luiz Mendonça Gratuito
27/09 – 20h Carlota, Focus dança Piazzolla – Focus Cia de Dança (RJ) Teatro Luiz Mendonça Gratuito
28/09 Trupe – Focus Cia de Dança (RJ)  [A CONFIRMAR] A confirmar

 

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Potência criativa
em busca de amplitude 
eis as artes cênicas no Recife

Édipo REC, do Grupo Magiluth. Foto: Camila Macedo

Pedro Wagner como Tirésias em Édipo REC. Foto: Camila Macedo

Circo Godot, com direção de Quiecles Santana, já viajou por vários países

O Grupo Magiluth está em casa, no Recife, neste fim de semana festejando duas décadas de pesquisa cênica que posicionam o coletivo como uma das companhias mais inventivas do teatro brasileiro contemporâneo. Édipo REC, com dramaturgia de Giordano Castro e direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), abarca o amadurecimento de uma linguagem que atravessa experimentalismo, teatro político e reinvenção de clássicos. A montagem exige execução complexa ao articular teatro, performance, música e cinema com projeções ao vivo – um desafio técnico que encontra no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, o espaço adequado para sua realização.

A temporada meteórica do Magiluth se soma a uma programação que revela um “flagrante” de diversidade do circuito teatral recifense: o giro de O Mercador de Veneza, com Dan Stulbach e elenco, pela estrutura nacional da Caixa Cultural, montagens como Circo Godot, dirigido por Quiercles Santana, ocupando o Teatro Hermilo Borba Filho (equipamento municipal vocacionado para trabalhos mais experimentais) e Caliuga no Teatro Joaquim Cardozo, espaço universitário da UFPE que abriga a reflexão da Cia. de Teatro Negro Macacada sobre identidade racial e mercado de trabalho.

O Diário de Villeneuve apresenta o teatro de terror da Cia Imaginarium; Histórias do Meu Povo desenvolve trabalho decolonial no Espaço O Poste, o 21º Festival de Teatro para Crianças celebra inclusão e tradição, e o fenômeno de longevidade que é A Noviça Mais Rebelde, com 16 anos consecutivos em cartaz, mais de 600 mil espectadores, um sucesso que se renova.

Esta movimentação, contudo, também expõe limitações estruturais. Enquanto teatros municipais Santa Isabel, Parque e Hermilo são ocupados intensamente, o Teatro Arraial Ariano Suassuna passa sem programação neste fim de semana, assim como os teatros Marco Camarotti e Capiba do SESC.

Para uma capital de 1,7 milhão de habitantes – 4 milhões na região metropolitana – que já presenteou o mundo com o Manguebeat e faz o público se orgulhar do cinema brasileiro, com suas produções audiovisuais, a cena teatral atual, por mais qualificada que seja, ainda opera aquém de seu potencial.

Recife é uma metrópole que pulsa cultura em suas veias desde os tempos coloniais. Capital que gerou movimentos estéticos inovadores, mantém tradições seculares e continua produzindo artistas que conquistam o país, a cidade possui criadores, público e vocação para sustentar um circuito teatral muito mais amplo.

Faltam políticas públicas mais ousadas e consistentes para as artes cênicas pernambucanas: tanto no fomento institucional a grupos locais quanto na modernização e ampliação dos equipamentos culturais.

Mas será que o problema se resume apenas ao poder público? Recife também carece de investidores privados que compreendam o valor cultural e econômico de uma cena teatral articulada – e aqui cabe perguntar: ainda existem mecenas verdadeiros, amantes do teatro dispostos a apostar nesta arte viva?

Narrativas encontradas numa garrafa pet na beira da maré. Foto: Jorge Farias

Uma provocação recente de um diretor e curador bem conceituado, que conhece bem a realidade teatral recifense, merece reflexão: além do Magiluth, que circula nacionalmente com seu repertório diversificado, e do Grupo São Gens de Teatro, que recentemente com Narrativas Encontradas Numa Garrafa Pet na Beira da Maré furou a bolha, percorreu festivais e conquistou o Brasil, quantos outros espetáculos produzidos no Recife estariam verdadeiramente “prontos” para encarar uma temporada em São Paulo, por exemplo?

Para esse curador, o problema central não são os recursos: falta desejo de fazer, de ousar, de quebrar paradigmas, de marcar a diferença para além dos circuitos locais. Falta ambição artística que tenha potência para uma circulação nacional sem perder a identidade pernambucana.

E você, leitora, leitor? O que pensa sobre essa provocação? Concorda que falta ousadia criativa ou acredita que a questão é mesmo estrutural?

Grupo Experimental leva Zambo com a 5ª geração para a França

Há evidências de que quando o incentivo chega, a arte pernambucana demonstra sua força. O Grupo Experimental de Dança, que desde 1993 assume lugar de destaque na dança contemporânea nordestina pela originalidade e contribuição para a profissionalização da cena recifense, comprova essa potência. Enfrentando o quadro geral das artes cênicas em Pernambuco – escassez de recursos, poucos editais, dificuldades estruturais –, o grupo resiste e insiste, como muitos outros. Agora, através do Programa Funarte Brasil Conexões Internacionais, no âmbito do Ano Cultural Brasil-França 2025, leva o espetáculo Zambo para terras francesas.

Da andada pelo mangue à travessia do oceano, cantarola o grupo. Zambo, criado em 1997 como homenagem ao Movimento Manguebeat e a Chico Science, será apresentado no Festival Baluê, em Lyon, com a 5ª geração de bailarinos da obra. Quase 30 anos depois de sua criação, o espetáculo reforça a atemporalidade do movimento mangue e a importância da manutenção cultural através da resistência artística. É vida o que brota desse mangue fértil recifense, e quando há incentivo adequado, essa vida corre e move o mundo.

VAMOS AOS ROLÊS CÊNICOS NO RECIFE

Magiluth redefine a tragédia clássica em chave contemporânea

Édipo REC faz festa e chama para a reflexão sobre o “destino”. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Vinte anos de investigação cênica do Grupo Magiluth culminam em Édipo REC, espetáculo que chega como confluência poética e política de uma trajetória que redesenhou fronteiras do teatro experimental brasileiro. Desde 2004, o coletivo pernambucano estabeleceu-se como laboratório de linguagens híbridas, circulando por festivais nacionais e internacionais com propostas que interrogam obsessões do tempo presente. Esta montagem configura-se como o ápice dessa pesquisa: uma reflexão vertiginosa sobre identidade, poder e representação na era digital.

A inventividade de Luiz Fernando Marques (Lubi) na direção materializa-se na construção de um dispositivo cênico que dissolve hierarquias tradicionais entre palco e plateia, transformando o teatro em arena participativa onde espectadores se tornam testemunhas ativas da tragédia. A dramaturgia de Giordano Castro opera em estratos temporais simultâneos, tecendo conexões inesperadas entre o mito sofocliano e neuroses contemporâneas, criando uma experiência que é simultaneamente espetáculo teatral, happening performático e ensaio crítico sobre nossos vícios imagéticos.

O universo sonoro e visual da montagem está repleto de sofisticação técnica : Jathyles Miranda assina design de luz que dialoga com as projeções ao vivo, enquanto Chris Garrido desenvolve figurinos que transitam entre referências clássicas e estética digital. A trilha sonora, executada em tempo real pelo próprio grupo, atua como outra voz dramatúrgica, comentando e amplificando tensões narrativas. Clara Caramez coordena o vídeo maping que transforma o espaço em território instável, onde realidade e simulacro se confundem deliberadamente.

Nash Laila injeta energia quase juvenil em Jocasta, construindo uma matriarca que oscila entre vulnerabilidade e manipulação midiática. Erivaldo Oliveira comanda o Coro-drag com maestria afiada, destilando crítica social através de humor corrosivo que expõe contradições do espetáculo político brasileiro. Giordano Castro, além de dramaturgo, interpreta um Édipo dilacerado entre sede de fama e terror da exposição, personificando o sujeito contemporâneo viciado em likes e aterrorizado pela própria imagem.

Bruno Parmera desenvolve performance notável como Corifeu-cameraman, figura que questiona a própria natureza do olhar teatral. Lucas Torres transforma o Mensageiro em personagem complexo, dotado de densidade que supera a função tradicional de porta-voz dos acontecimentos. A interpretação ganha dimensões adicionais quando descobrimos que, diferentemente das tragédias clássicas, este Mensageiro possuía intimidade especial com Laio, tornando-se depositário de segredos e cúmplice de rituais privados.

Reconhecido do audiovisual brasileiro por atuações marcantes em Irmandade (Netflix), O Jogo que Mudou a História (Globoplay) e mais recentemente em Guerreiros do Sol (Globoplay), além de participações em Cangaço Novo (Prime Video) e no filme Lispectorante, de Renata Pinheiro, Pedro Wagner constrói um Tirésias de múltiplas identidades. Seu figurino que combina elementos femininos e masculinos faz referência à metamorfose mitológica do personagem e comenta a fluidez de gênero e performance identitária. Mário Sergio encarna Creonte, irmão de Jocasta e político pragmático que ambiciona o poder através de alianças estratégicas.

Édipo REC opera como um caleidoscópio crítico de nossa época. Tempo em que todos produzimos, editamos e performamos versões idealizadas de nós mesmos, alimentando algoritmos que nos observam e julgam incessantemente. O espetáculo expõe engrenagens de uma sociedade obcecada por autorrepresentação, investigando como a fronteira entre pessoa e personagem se torna cada vez mais porosa e problemática.

SERVIÇO
📍 Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
📅 25 e 26 de julho, às 20h
🎟️ R$ 30 a R$ 120
Mais Informações: @magiluth | @teatroluizmendonca

FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de luz: Jathyles Miranda
Designe gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo maping e operaçao: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de produção de vídeo: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth

 

O Mercador de Veneza na Caixa Cultural 

O Mercador de Veneza. Foto: Ronaldo Gutierrez / Divulgação

A montagem de O Mercador de Veneza que chega ao Recife propõe uma leitura contemporânea radical de um dos textos mais controversos de William Shakespeare. Sob a direção de Daniela Stirbulov, a adaptação desloca o foco narrativo tradicional para construir Shylock como protagonista absoluto, transformando o agiota judeu de vilão shakespeariano em centro moral da história. Esta escolha dramatúrgica ressignifica completamente a obra, revelando as estruturas de poder e preconceito que sustentam a sociedade veneziana – e, por extensão, a nossa.

A transposição temporal para os anos 1990 vai além da estética. A direção identifica nessa década o momento de aceleração da globalização e emergência de uma nova ordem mundial, contexto que dialoga diretamente com o capitalismo emergente do século XVI retratado por Shakespeare. Stirbulov cria um universo onde as tensões entre tradição e modernidade, local e global, se materializam através de conflitos religiosos e econômicos que ecoam tanto na Veneza renascentista quanto na sociedade neoliberal contemporânea.

O núcleo dramático permanece o mesmo: Antônio, o mercador cristão, contrai empréstimo com Shylock para financiar os planos românticos de seu amigo Bassânio. A garantia macabra – uma libra de carne humana – funciona como metáfora sobre os custos humanos do sistema financeiro. Quando a dívida não é quitada, o julgamento que se segue expõe a sede de vingança de Shylock e a hipocrisia de uma sociedade que pratica antissemitismo sistemático enquanto se beneficia dos serviços financeiros dos judeus.

A cenografia concebida para a montagem materializa essas tensões através de linguagem visual que utiliza uma estrutura acrílica transparente no centro do palco como tablado elevado, criando múltiplos níveis de representação que sugerem tanto tribunal quanto mercado financeiro. O painel circular de LED no alto do palco desenha palavras e frases conectadas à ação, funcionando como comentário visual que amplifica subtextos da narrativa. A presença de um operador de câmera captando imagens em tempo real, projetadas simultaneamente no painel, estabelece diálogo direto com nossa era de vigilância digital e espetacularização da vida privada.

A trilha sonora executada ao vivo por uma baterista no palco adiciona pulsação contemporânea à dramaturgia, criando atmosfera que oscila entre tensão financeira e violência urbana. Dan Stulbach, no papel de Shylock, constrói interpretação que humaniza o personagem sem romantizá-lo, revelando as contradições de um homem que é simultaneamente vítima do preconceito social e algoz implacável quando obtém poder de retaliação.

A montagem confronta o público com questões sobre intolerância, identidade e justiça que permanecem urgentes, evidenciando como vilões e heróis se confundem nas máscaras sociais. A obra, atravessada por tensões religiosas e preconceitos, mantém sua relevância ao abordar transformações nas relações humanas e tensões sociais que atravessam séculos.

A produção chega ao Recife após temporada de sucesso na CAIXA Cultural do Rio de Janeiro, consolidando-se como uma das adaptações shakespearianas mais provocativas em cartaz no país.

FICHA TÉCNICA
Texto: William Shakespeare
Direção: Daniela Stirbulov
Tradução, Adaptação e Assistência de Direção: Bruno Cavalcanti
Elenco: Dan Stulbach, Augusto Pompeo, Amaurih Oliveira, Cesar Baccan, Gabriela Westphal, Júnior Cabral, Marcelo Diaz, Marcelo Ullmann, Marisol Marcondes, Rebeca Oliveira, Renato Caldas, Thiago Sak
Baterista em Cena: Caroline Calê
Cenografia: Carmem Guerra
Cenotécnico: Douglas Caldas
Desenho de Luz: Wagner Pinto e Gabriel Greghi
Figurino e Visagismo: Allan Ferc
Assistente de Figurino: Denise Evangelista
Peruqueiros: Dhiego Durso e Raquel Reis
Direção de Movimento: Marisol Marcondes
Aderecista: Rebeca Oliveira
Consultoria sobre Shakespeare: Ricardo Cardoso
Vídeo e Imagem: André Voulgaris
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Design Gráfico: Rafael Oliveira Branco
Operação de Luz: Jorge Leal
Operação de Som: Rodrigo Rios
Assistente de Produção: Amanda Nolleto
Produção Executiva: Raquel Murano
Direção de Produção: Cesar Baccan e Marcelo Ullmann
Produção: Kavaná Produções e Baccan Produções
Realização: CAIXA Cultural

SERVIÇO
📍CAIXA Cultural Recife – Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife
📅 24 de julho a 2 de agosto (quinta a sábado)
🕐20h
🎟️ R$ 30 (inteira) | R$ 15 (meia-entrada para clientes CAIXA e casos previstos em lei)
📞(81) 3425-1915
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🔞Não recomendado para menores de 12 anos
♿Acesso para pessoas com deficiência

 

Circo Godot é comédia física que espelha relações de poder

Asaías Rodrigues e Charles de Lima em Circo Godot. Foto: Divulgação

A Companhia Circo Godot de Teatro, fundada em 2010 por Asaías Rodrigues, Andrezza Alves e Damiano Massachesi, com posterior chegada de Charles de Lima, desenvolve há mais de uma década uma linguagem cênica singular que entrelaça teatro físico, circo e crítica social. O coletivo de artistas encontrou na fusão dessas linguagens uma forma potente de comunicação que atravessa barreiras culturais e geracionais, como comprova a circulação internacional do grupo por países como Grécia, Tunísia e Itália.

O espetáculo Circo Godot constrói-se sobre alicerces dramatúrgicos sólidos: a comicidade rústica dos bufões medievais e a tradição da comédia pastelão se combinam ao teatro físico contemporâneo e ao gromelô – linguagem gestual que prescinde de palavras para comunicar emoções e situações complexas. Esta escolha estética permite que a obra dialogue com públicos diversos, independentemente de idioma ou origem cultural.

A inspiração beckettiana surge de forma livre e criativa através dos personagens Pozzo e Lucky, figuras de Esperando Godot que aqui ganham nova roupagem como Gatropo e Tropino. Asaías Rodrigues e Charles de Lima constroem uma dupla de vagabundos que perambula pelo mundo oferecendo entretenimento para sobreviver, mas que carrega em sua dinâmica relacional uma crítica feroz às estruturas de poder que permeiam nossa sociedade.

A força da proposta reside na simplicidade aparente que revela múltiplas possibilidades de leitura: Gatropo emerge como o chefe autoritário que ordena, explora, desconfia e intimida, empunhando o chicote como símbolo de sua autoridade. Tropino, por sua vez, representa o subalterno ingênuo e alegre, faz-tudo que aceita sua condição com resignação aparente. A tensão dramática nasce da mesquinhez do primeiro e da ameaça latente que o segundo representa ao posto de comando estabelecido.

O desenvolvimento dramatúrgico conduz a plateia através de ações cotidianas que gradualmente revelam a toxicidade da relação hierárquica entre os personagens. Conforme evoluem os números circenses – equilibrismo, malabarismo, acrobacias -, emergem sentimentos mútuos de desprezo que culminam em reviravolta inesperada provocada por um descuido aparentemente insignificante. Esta estrutura narrativa espelha como pequenos eventos podem desestabilizar sistemas de poder aparentemente sólidos.

A direção de Quiercles Santana solicita participação ativa da plateia, transformando cada apresentação em experiência única e irrepetível. O espetáculo se apresenta como provocação reflexiva sobre ganância dos poderosos e sadismo inerente às relações de dominação, ativando o que o diretor define como “sentido lúdico do existir”.

A versatilidade da montagem manifesta-se em sua capacidade de adaptação a diferentes espaços: teatros convencionais, ruas, praças e pátios se transformam em palcos para esta comédia física que prescinde de cenários elaborados. O desenho de luz delicado de Luciana Raposo valoriza a expressividade corporal dos intérpretes, enquanto a produção executiva de Juan Saucedo garante a circulação eficiente do espetáculo.

A temporada recifense oferece oportunidade rara de contato com uma proposta original do teatro físico brasileiro contemporâneo, trabalho que demonstra como poucos recursos cênicos podem gerar grande impacto teatral quando sustentados por pesquisa artística consistente e olhar crítico sobre a realidade social.

SERVIÇO:
📍Teatro Hermilo Borba Filho
📅 24 e 25 de julho (quinta e sexta), às 20h
📅 26 de julho (sábado), às 17h
🎟️Ingressos www.sympla.com.br e na bilheteria do teatro (abre 1h antes do evento)

FICHA TÉCNICA
Criação e Interpretação: Asaías Rodrigues e Charles de Lima
Direção: Quiercles Santana
Desenho de Luz: Luciana Raposo
Fotos: Walton Ribeiro
Produção Executiva: Juan Saucedo
Companhia: Circo Godotde Teatro

 

Caliuga, teatro negro em diálogo com a luta contemporânea

Caliuga da Cia. de Teatro Negro Macacada. Foto: Gabriel Mesgo / Divulgação 

Caliuga da Cia. de Teatro Negro Macacada mergulha nas intersecções entre identidade racial e  mercado de trabalho. Através de situações concretas e reconhecíveis, a produção explora discriminação estrutural, construindo narrativa que provoca reflexão genuína sobre realidades complexas. O espetáculo faz duas apresentações no Teatro Joaquim Cardozo, espaço universitário da UFPE,

Luiz Apolinário assina dramaturgia e direção que transformam a jornada de Caliuga em espelho das contradições sociais brasileiras. Com assistência de direção de Roby Nascimento – ambos estudantes de teatro na UFPE -, a encenação parte da morte da avó protetora para explorar como a busca por trabalho se converte em luta contra destinos impostos pela própria família. Entre a maldição familiar e o sonho de cavalgar, a protagonista navega por territórios onde emprego e liberdade se entrelaçam de forma indissociável, revelando como questões raciais permeiam desde processos seletivos até a construção da identidade pessoal.

A trilha sonora concebida por César Seco e Raul Vaubruma subverte expectativas ao empregar instrumentos infantis para abordar temáticas adultas e complexas. Sons de brinquedos ganham densidade dramática inesperada, criando paisagem sonora que oscila entre nostalgia da infância perdida e dureza da realidade laboral. Diana Paraiso, comandando a produtora GRAVE!, articula produção executiva com concepção de iluminação e técnica, construindo unidade estética onde cada elemento cênico dialoga organicamente com os demais, potencializando a força narrativa do espetáculo.

Ashley Gouveia, Eva Oliveira, Roby Nascimento, Ruibeni Sales e Yastricia Santos formam elenco que materializa as múltiplas facetas da experiência negra no mundo corporativo. Inserindo-se no movimento crescente do teatro negro brasileiro, a montagem contribui para diversificação do panorama cênico.

FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e Direção: Luiz Apolinário
Assistente de Direção: Roby Nascimento
Produção Executiva: Diana Paraiso
Assistente de Produção: Grazielly Santana
Elenco: Ashley Gouveia, Eva Oliveira, Roby Nascimento, Ruibeni Sales, Yastricia Santos
Figurino: Ruibeni Sales
Criação de Sonoplastia: Raul Vaubruma + Seconuncaraso
Cenografia: Luiz Apolinário
Concepção de Iluminação e Técnica: Diana Paraiso
Fotografia: Gabriel Mesgo
Companhia: Cia. de Teatro Negro Macacada

SERVIÇO
📍 Teatro Joaquim Cardozo – UFPE
📅 25 (sexta) e 26 (sábado) de julho
🕰️ 19h30
🎟️ Inteira R$ 20 | Meia R$ 10
🔞 Classificação: 16 anos

 

O Diário de Villeneuve: o terror que vem de longe

Espetáculo explora o suspense psicológico. Foto: Kurt Correia

O Diário de Villeneuve da Companhia Imaginarium mergulha no território do teatro de terror para recriar parte do imaginário colonial brasileiro sob ótica sombria. Com roteiro autoral de Paiva Teodósio e direção de Ester Soares, a obra explora suspense e terror psicológico através da chegada de um forasteiro misterioso ao Brasil em 1596, carregando um diário, passado repleto de sombras e sede de vingança.

Villeneuve, imigrante italiano que desembarca em terras brasileiras no século XVI, protagoniza jornada entre pactos e manipulações onde encontra figuras históricas como Branca Dias, Antônia Maria (a Senhora dos Mortos), o temido Barão de Beberibe e a enigmática Felícia Tourinho. A dramaturgia utiliza personagens reais do período colonial para construir narrativa que reconstitui Recife e Olinda através de perspectiva gótica, transformando a história em material para exploração de medos ancestrais e tensões sociais do período.

A Companhia Imaginarium, fundada em 2015 e reativada em 2022, reúne Ester Soares, Núbia Ketly e Carlos Teodósio, artistas com mais de dez anos de trajetória teatral em Jaboatão dos Guararapes e região metropolitana do Recife. O grupo tem histórico de trabalho com montagens de terror, experiência que se materializa agora em O Diário de Villeneuve, onde elementos sobrenaturais e atmosferas tensas ganham contornos através da temática colonial brasileira.

O espetáculo conta com elenco de 14 atores, demonstrando ambição cênica que permite representar múltiplas camadas da sociedade colonial. Realizada através do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), a produção conta com apoio da Fundarpe, Secretaria de Cultura do Recife, Solo Gens e Catamaran Tours, sendo realizada pela ONG Arco em parceria com a própria Imaginarium. A montagem oferece acessibilidade com intérprete de libras, garantindo democratização do acesso cultural.

FICHA TÉCNICA

Roteiro: Paiva Teodósio
Direção: Ester Soares
Preparação de Elenco: Carlos Teodósio
Direção de Produção: Núbia Ketly
Design: Carlos Santos
Figurino: Altino Francisco
Coordenação Geral: Ester Soares
Fotografia: Matheus Bento
Sonoplastia: SECOnuncaraso
Iluminação: Anderson G-zuis
Elenco: Ester Soares, Núbia Ketly, Carlos Teodósio, Gusttavo Revorêdo, Stephan Levita, Nando Araújo, Larissa Lira, Lucas Cardoso, Cora Lima, Gui Vicente, Luna, Lucas Vinícius, Kallin Alves, Marina Lino
Apoio: Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), Fundarpe, Secretaria de Cultura do Recife, Solo Gens, Catamaran Tours
Realização: ONG Arco e Cia Imaginarium

SERVIÇO:
📍 Teatro do Parque (24/07) e Teatro Apolo (15/08)
📅 Quinta (24) e 15 de agosto, às 19h
🎟️ R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira)
♿ Apresentação com intérprete de libras

 

Histórias do Meu Povo: Decolonialidade em Ação

Roma Júlia apresenta Histórias do Meu Povo. Foto: Reprodução do Instagram

O Espaço O Poste confirma sua vocação como território de experimentação e resistência cultural ao receber Histórias do Meu Povo, projeto que desde 2015 desenvolve trabalho consistente de valorização de narrativas ancestrais. Roma Julia, contadora de histórias e pedagoga, conduz uma experiência que constrói um ambiente sensorial e afetivo para celebra culturas afro-indígenas através de múltiplas linguagens.

A proposta engloba contos africanos, narrativas indígenas, itãs de orixás e histórias de lavadeiras, tudo embalado por música ao vivo e elementos visuais que incluem flores, folhas e objetos que fazem referência ao nordeste brasileiro. Para aproximar pessoas cegas e com baixa visão, aromas suaves de folhas e café são inseridos ao longo da narração, criando acessibilidade que vai além de protocolos técnicos para se tornar parte integrante da experiência estética.

O projeto se insere na programação decolonial do Espaço O Poste, que conta com apoio da Funarte através do Programa de Apoio a Ações Continuadas 2023. Esta parceria exemplifica como políticas públicas podem fomentar trabalhos que valorizam memórias historicamente marginalizadas, contribuindo para a diversidade do panorama cultural recifense. Roma Julia transforma o espaço em “jardim de memórias” onde tradição oral encontra contemporaneidade, provando que narração ancestral continua sendo ferramenta poderosa de transmissão cultural e transformação social.

SERVIÇO:
📍Espaço O Poste – Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista
📅26 de julho, às 16h
🎟️Entrada gratuita (retirar no Sympla

 

Comédias Consolidadas

A Noviça mais rebelde, irreverência (con)Sagrada

Wilson de Santos em A Noviça mais rebelde. Foto: João Caldas / Divulgação

Wilson de Santos retorna ao Recife com um fenômeno teatral brasileiro que desafia as regras de longevidade artística. A Noviça Mais Rebelde celebra 16 anos ininterruptos em cartaz – número impressionante em qualquer contexto cultural, mas especialmente notável tratando-se de um monólogo que se reinventa a cada apresentação através da espontaneidade entre ator e plateia.

Irmã Maria José surge como personagem que desafia estereótipos religiosos: uma freira cujo passado “nada católico” serve de combustível para um show beneficente improvisado, criando tensão cômica entre vocação atual e memórias mundanas.  A inteligência da criação se finca no aspecto familiar do conflito – quem nunca precisou conciliar diferentes versões de si mesmo? Wilson constrói identificação imediata ao apresentar uma religiosa que lida com as mesmas contradições humanas do público, transformando confessionário num palco de comedia.

A interatividade torna cada apresentação um evento único, onde jogos e números musicais emergem do diálogo espontâneo com os espectadores. Esse procedimento exige maturidade cênica, desenvolvida por Wilson ao longo de carreira que inclui trabalhos com Bibi Ferreira, Jorge Takla e Charles Möeller, além de passagem marcante pela Cia Baiana de Patifaria nos anos 1990 – quando já encantava plateias recifenses.

SERVIÇO:

A Noviça Mais Rebelde
📍 Teatro do Parque – R. do Hospício, 81, Recife
📅 25 (sexta) e 27 (domingo) de julho
🕰️ Sexta às 20h | Domingo às 19h
🎟️ Inteira: R$ 120 | Meia: R$ 60 | Social: R$ 60 + 1kg de alimento não perecível
⏱️ Duração: 90 minutos
🔞 Classificação: 12 anos
📱 Informações: (81) 98463-8388

FICHA TÉCNICA
Criação e Interpretação: Wilson de Santos
Figurino: Celso Werner
Fotografia: João Caldas
Arte Gráfica: Vicente Queiroz
Direção de Produção: Leonardo Leal
Realização: Teatro do Riso e Roberto Costa Produções
Vendas: Sympla (antecipadas) | Bilheteria no local (1h antes do espetáculo)

 

NÃO!, a terapia que virou comédia 

O!, com Adriana Birolli  e texto e direção de Diogo Camargos,

Dezoito anos de terapia para aprender uma palavra de duas letras. Se isso não merece aplausos pela persistência, pelo menos pode motivar uma gargalhada coletiva. A atriz Adriana Birolli retorna ao Recife carregando um dilema bem constrangedor da vida contemporânea: a incapacidade crônica de recusar convites, pedidos e obrigações que preferíamos evitar.

NÃO!, com direção e texto de Diogo Camargos, transforma em comédia a tragédia cotidiana de quem vive dizendo sim quando o coração grita não. A protagonista enfrenta situação reconhecível por qualquer pessoa que já se viu presa entre a educação social e a sanidade mental: não quer ir ao próprio jantar de aniversário, mas não consegue simplesmente… não ir. O drama dela pode ser a diversão do público.

 Enquanto se arruma relutantemente, mensagens bombardeiam de todos os lados – mãe, irmã, namorado, chefe – cada uma com um tipo diferente de pressão social que conhecemos intimamente. O trunfo está em mostrar como essa dificuldade aparentemente simples contamina todos os aspectos da vida: pessoal, profissional, familiar. É o tipo de reconhecimento que faz o público rir e se sentir levemente atacado ao mesmo tempo.

A resposta do público confirma que a questão afeta muito mais gente do que se imagina.

No Teatro Santa Isabel, espaço que já presenciou dramas épicos e comédias memoráveis, NÃO! promete três apresentações para quem quer rir das próprias neuroses enquanto questiona por que diabos é tão difícil estabelecer limites básicos. 

SERVIÇO

📍 Teatro Santa Isabel – Praça da República, s/n, Recife
📅 25 (sexta), 26 (sábado) e 27 (domingo) de julho
🕰️ Sexta às 20h | Sábado às 19h | Domingo às 18h
🎟️ Ingressos: R$ 40 a R$ 140 (conforme setor)
💳 Vendas: Sympla (parcelamento em até 12x)

FICHA TÉCNICA

Texto e Direção: Diogo Camargos
Atuação: Adriana Birolli
Iluminação: Leandro Mariz
Cenário e Adereços: A Dupla Dinâmica
Figurino: Letícia Birolli
Execução do Figurino: Artha Atelier
Direção Musical: Carlito Birolli
Produção Musical: Eugênio Fim
Fotografia: Nando Machado
Vídeos: Mauro Marques
Participações em Off: Dida Camero, Ivan Zettel, Juliana Knust, Letícia Birolli, Maria Joana
Realização: Casona Produções
Produção: Lakshmi Produções e Camargos Camargos Produções

 

Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco:
Duas décadas formando plateias

Hélio o balão que não consegue voar Foto Ricardo Maciel

Os super três porquinhos, numa produção de Roberto Costa 

O 21º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco encerra sua programação neste fim de semana reafirmando seu papel como um dos mais longevos festivais do Brasil dedicados ao público infantil. Com duas décadas de existência ininterrupta, o evento se consolidou como referência nacional na promoção de espetáculos.

Os números impressionam pela magnitude e consistência: 270 espetáculos presenciais realizados em mais de 485 apresentações, 154 mil espectadores entre pagantes e gratuitos, e mais de 5.200 trabalhos diretos e indiretos gerados ao longo destas duas décadas. Estes dados comprovam que o FTCPE se transformou em plataforma de formação de plateia e circulação de produções infantis, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do setor teatral pernambucano.

Hélio, o Balão que Não Consegue Voar, que se apresenta neste sábado (26) às 16h30 no Teatro do Parque, aposta no que há de mais articulado no teatro infantil inclusivo contemporâneo. Baseado no livro homônimo do escritor pernambucano Cleyton Cabral – vencedor do Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia da Fundarpe -, o espetáculo utiliza formas animadas e manipulação de objetos para abordar poeticamente o Transtorno do Espectro Autista. A narrativa de Hélio, um balão que não consegue voar em uma loja mágica chamada Festa de Ar, transforma diferenças em potencialidades, ensinando que a verdadeira magia está em encontrar caminhos próprios mesmo quando eles divergem das expectativas sociais.

Os 3 Super Porquinhos, programado para domingo (27) no mesmo horário e local, investe  nas tradições clássicas. A adaptação de Roberto Costa para o conto tradicional insere questões contemporâneas sobre paz mundial e preservação ambiental. Segundo o próprio Roberto, produtor e adaptador, este é “disparado o mais querido pelas famílias para iniciação da vida cultural de seus pequenos”, característica que mostra a importância de espetáculos que conseguem dialogar simultaneamente com crianças e adultos.

Ambas as apresentações contarão com acessibilidade em Libras. Os ingressos estão disponíveis pela plataforma Sympla, através do site www.teatroparacrianca.com.br , e nas bilheterias dos teatros duas horas antes das apresentações. 

Realizado pela Métron Produções, sob coordenação de Edivane Bactista e Ruy Aguiar, o festival conta com incentivo do SIC (Sistema de Incentivo à Cultura), Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura e Prefeitura da Cidade do Recife. A curadoria é assinada por Marcondes Lima, Ruy Aguiar e Williams Sant’Anna, garante critérios artísticos rigorosos que mantêm a qualidade das seleções. 

SERVIÇO:

“Hélio, o Balão que Não Consegue Voar”
📅 Sábado (26) de julho
🕰️ 16h30
📍 Teatro do Parque – Rua do Hospício, 81, Boa Vista
🎟️ R$ 60 (inteira) | R$ 30 (meia-entrada)
⏱️ Duração: 50 minutos
🔞 Classificação: Livre
♿ Apresentação com intérprete de Libras

Os 3 Super Porquinhos
📅 Domingo (27) de julho
🕰️ 16h30
📍 Teatro do Parque – Rua do Hospício, 81, Boa Vista
🎟️ R$ 80 (inteira) | R$ 40 (meia-entrada)
⏱️ Duração: 45 minutos
🔞 Classificação: Livre
♿ Apresentação com intérprete de Libras

🌐 Ingressos:

www.teatroparacrianca.com.br
(Sympla)

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Precariedade no Teatro Apolo ameaça Clotilde

Peça pode ter temporada interrompida

Peça pode ter temporada interrompida. Foto: Ivana Moura

A temporada em comemoração aos seis anos do espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas pode ser interrompida antes do prazo. A peça entrou em cartaz neste último fim de semana no Teatro Apolo, no Bairro do Recife, e deveria seguir até o dia 24 de abril, mas a produção do espetáculo aguarda um posicionamento sobre um teste na potência do ar-condicionado do teatro, gerido pela Prefeitura do Recife, para decidir se há viabilidade de continuar as apresentações. Vale lembrar que o Teatro Apolo é o teatro mais antigo da cidade do Recife – sua construção foi iniciada em 1839. O equipamento de ar-condicionado da casa é da década de 1980.

Nas apresentações da estreia, o público e os próprios artistas sofreram com a falta de refrigeração. “Fizemos o espetáculo no sábado passando mal. Quem saía de cena ia beber água e corria para o único ventilador que estava nas coxias. O elenco ficou com a voz bem comprometida, suando muito, o figurino encharcado, a maquiagem derretendo. O bigode do meu personagem caiu por conta do calor e do suor”, conta o ator Tatto Medinni, que interpreta o vilão João Favais.

O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas é um espetáculo divertido, engraçado, com alto poder de adesão do espectador. Para caracterizar cada personagem, utiliza figurinos (de Marcondes Lima) que se sobrepõem, como casacos, jeans, blusas e meias e uma maquiagem carregada, assinada pela própria Trupe Ensaia Aqui e Acolá. Além disso, há muita movimentação no palco e coreografias repletas de elementos kitsch, que garantem o bom-humor da encenação. A peça dura 1h30.

“Nós não sabíamos do problema com o ar-condicionado. Como estávamos bastante focados com a estreia, no sábado, ensaiamos sem refrigeração, mas achamos que o equipamento seria ligado à noite. Parte do elenco já foi se maquiar no camarim do Teatro Hermilo Borba-Filho (equipamento que, com o Teatro Apolo, integra o Centro Apolo-Hermilo), porque era impossível permanecer no camarim do Apolo sem ar-condicionado. Quando entramos em cena, logo percebemos que o problema era grave. De todos os ângulos, víamos as pessoas se abanando e na segunda cena já estávamos sofrendo”, explica Jorge de Paula, encenador e intérprete do pai da mocinha.

No sábado, havia 121 pessoas na plateia (a capacidade da plateia, sem contar a galeria do teatro, é de 275 pessoas); no dia seguinte, foram 50 espectadores. No domingo, o público já foi avisado com antecedência que o ar-condicionado não estava funcionando. O ator Tiago Gondim, que já fez parte do elenco da peça, assistiu à montagem na noite de ontem. “É uma falta de respeito com o público e com os próprios atores. Não há mais desculpas”, comentou.

Ao final das duas sessões, os atores compartilharam com a plateia a dificuldade de encenar a peça; citaram o compromisso que a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado, noutra escala, precisam ter com os equipamentos culturais da cidade e do estado.

O Apolo é o teatro mais antigo do Recife. Foto: Pollyanna Diniz

O Apolo é o teatro mais antigo do Recife. Foto: Pollyanna Diniz

“A equipe do teatro é bastante comprometida, prestativa, tenta fazer o melhor. Mas não há vontade política e pulso administrativo. O teatro e o camarim têm cheiro de barata. Enquanto montávamos o cenário, matamos baratas no palco. Não tem uma luz funcionando no espelho do camarim”, reclama a produtora e atriz Iara Campos, que interpreta Clotilde. “Estamos falando de uma situação de descaso que é generalizada. E que mostra o quanto a classe artística está desmobilizada e o quanto não somos representados pelo sindicato, que não tem atuação”, complementa.

De acordo com a produção do espetáculo, se a questão do ar-condicionado não for solucionada, a temporada será cancelada. “Do jeito que está, não dá. É uma condição desumana. A gente não tem como trabalhar dessa maneira. Espero que o Apolo não siga o caminho do Parque e do Barreto Júnior”, torce Tatto Medinni.

Mais problemas – Outros equipamentos geridos pela Prefeitura do Recife também enfrentam problemas. No ano passado, durante uma sessão da peça Incêndios no Teatro de Santa Isabel, um dos 14 teatros-monumento do país, o público sofreu com a falta de refrigeração. Uma espectadora chegou a questionar em voz a alta a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, que estava na frisa da Prefeitura. Leda respondeu fazendo sinal para baixo com o polegar, indicando que realmente não estava funcionando, algo que todos já haviam percebido.

O Teatro Barreto Júnior, localizado no bairro do Pina, está fechado desde novembro de 2014. Motivo principal: falta de ar-condicionado. A Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape), publicizou que foi avisada com menos de 15 dias da abertura da 17ª edição do Todos Verão Teatro, que a Fundação de Cultura Cidade do Recife não dispunha de verba para a locação do equipamento de climatização do Barreto Júnior. Isso foi no começo de março.

O estado do centenário Teatro do Parque é ainda mais grave. O equipamento está fechado desde 2010 e teve a reforma suspensa desde julho do ano passado, seis meses depois de ter sido iniciada. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) cobra na Justiça estadual a retomada da obra de restauração, para evitar a ruína total de um prédio protegido por lei, já que o Teatro do Parque é considerado Imóvel Especial de Preservação (IEP) pela Prefeitura do Recife.

O ator e produtor cultural Oséas Borba Neto, que está à frente das denúncias pela defesa do Parque, garante que o teatro perdeu três pianos devido ao ataque de cupins: um Steinway e dois Essenfelder. Borba Neto criou uma petição pelo tombamento pelo IPHAN do Cine-Teatro do Parque, que fez 100 anos em agosto de 2015 e é o único representante em Pernambuco do grupo de Teatros-Jardins Brasileiros. A petição pode ser assinada no link www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR89351

Resposta da Prefeitura do Recife – De acordo com a Secretaria de Cultura do Recife, o ar condicionado do Teatro Apolo parou de funcionar no dia da estreia do espetáculo e “a direção do Centro Apolo-Hermilo está fazendo o levantamento para efetuar o conserto até a próxima sexta-feira”. Sobre o Teatro Barreto Júnior, finalmente há alguma previsão: “o equipamento já foi licitado e a obra deve começar na próxima segunda-feira, 11. A conclusão dos serviços está prevista para a primeira semana de junho”.

A nota responde ainda os questionamentos sobre o Teatro do Parque. “A Prefeitura do Recife, por meio do Gabinete de Projetos Especiais, esclarece: o Teatro do Parque vem ao longo de muitos anos sofrendo um processo sério de degradação. Por isso, a primeira etapa já realizada diz respeito ao trabalho que sanou os problemas encontrados na estrutura da edificação a partir da substituição de toda a cobertura do teatro. Essa etapa sanou os problemas de infiltrações que comprometia a estrutura do patrimônio. Esse trabalho também revelou características do equipamento até então desconhecidas e encobertas por outras reformas. A partir daí, foi necessário realizar uma investigação mais aprofundada sobre as características originais do teatro, que contemplou a segunda fase das obras de reforma do Teatro do Parque. Para realizar a obra de maneira a contemplar as especificidades de restauro, a Prefeitura do Recife fará novo processo de licitação que deverá acontecer dentro de aproximadamente 60 dias. A obra está orçada em cerca de R$ 13 milhões. Ressaltamos ainda que, para resguardar o patrimônio, é mantido serviço de segurança no local”.

*Texto escrito por Ivana Moura e Pollyanna Diniz

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Festival reúne espetáculos de 11 cidades

Vicência, com a Troupe Azimute. Foto: Clara Gouvea

O Festival Estudantil de Teatro e Dança, que começa hoje e segue até o dia 28 na capital pernambucana, é uma oportunidade de conferir novas produções, atores e diretores. Serão 89 apresentações (ano passado foram 44) de 11 cidades pernambucanas, como Garanhuns, Goiana, Cabo de Santo Agostinho, Igarassu e até Manari, considerado um dos municípios mais pobres do país. São espetáculos com elenco de alunos de escolas públicas ou particulares, ONGs ou cursos livres de teatro e dança.

As apresentações teatrais serão até o dia 27 no Teatro Apolo; as performances de dança no Teatro Boa Vista entre 22 e 28; e a festa de premiação será no dia 28, a partir das 18h, no Santa Isabel. Os ingressos custam R$ 5 (preço único). Os grupos recebem uma cota para vender antecipadamente e ficam com R$ 4, uma forma de estimular novas produções.

Confira as atrações deste fim de semana:

Hoje, às 19h30:
Vicência (Troupe Azimute e Curso Livre de Iniciação ao Teatro – Projeto Vem Ver Teatro / Garanhuns).
Texto adaptado do conto Paisagem Perdida, de Luís Jardim, autor de Garanhuns, por Julierme Galindo. A peça surgiu para comemorar os 110 anos de nascimento do escritor. Direção: Julierme Galindo. A paixão da jovem Vicência, mulher sertaneja e jovem, por um vaqueiro, João Toté, a contragosto do pai da moça, que a havia prometido em casamento ao filho do seu irmão para tentar manter a unidade na família. Indo de encontro às convenções e tradições familiares, e mesmo vivendo num tempo em que mulher não tinha voz alguma, Vicência vai até as últimas consequências para viver esse amor. Com trilha sonora original e executada ao vivo, a montagem mistura um contexto dramático com pitadas de humor. A cenografia é móvel – com paredes sendo montadas como num jogo de peças – e manipulada por todo o elenco. É a primeira vez que o grupo participa do Festival.

Amanhã, às 19h30:
Strega (Projeto Lugar Comum e Centro de Diversidade Cultural Teatro Armazém / Recife)
Criação coletiva da Companhia Maria Sem-Vergonha de Teatro e Circo. Direção: Andrêzza Alves
A peça trata das distâncias e aproximações entre o “ser” e o “parecer” a partir de uma interação lúdica com a plateia e tendo como referencial a história de um lugar onde pessoas desaparecem. A equipe é formada por jovens do bairro de Santo Amaro.

Strega, projeto Lugar Comum. Foto: Damiano Massaccesi

Dia 13 de agosto (sábado), às 16h30
De bobo, bravo e vilão se faz um faz de conta (Grupo Diocesano de Artes e Colégio Diocesano de Garanhuns / Garanhuns)
Texto: Carlos Janduy. Direção: Sandra Albino. Com trilha sonora original, o espetáculo é uma aventura com personagens de um reino, onde há bobo da corte enamorado, serviçal metido a herói e rei e rainha que acabaram de ter um menino bebê e tentam salvar uma princesa raptada por um desconhecido e famigerado vilão. Elementos dos contos de fada estão presentes na montagem, que brinca com a ideia do vilão clássico. O grupo já foi premiado algumas vezes no Festival, com outros trabalhos.

Dia 14 de agosto (domingo), às 16h30:
O sumiço da abelha rainha (Grupo Teatral ARTDOM e Colégio DOM / Olinda)
Texto e direção: Thina Neves. Composta por crianças e adolescentes, dos seis aos 17 anos, a peça revela uma abelha rainha que desaparece sem deixar pistas, para desespero de toda a sua colmeia. Os zangões e abelhinhas começam a se desentender e alguns querem, inclusive, tomar o cargo da rainha. A desorganização e desunião é tanta, que insetos invasores aproveitam-se da situação, e até um grande urso aparece para abusar da colmeia. O grupo foi criado em maio de 2010 e este é seu primeiro exercício cênico.

Dia 14 de agosto (domingo), às 20h:
A Partida (Cia. Experimental de Teatro e Escola José Joaquim da Silva Filho / Vitória de Santo Antão). Texto e direção: César Leão. Nesta comédia dramática, dois irmãos, ainda pequenos, após perderem a mãe e o pai e terem como única herança um pedaço de carne seca e um pote com farinha, ainda têm dúvidas se partem em busca de uma vida nova ou se só lhes resta continuarem juntos, apesar da tumultuada relação que mantêm. É a primeira vez que a companhia participa do Festival.

A partida, da Cia. Experimental de Teatro. Foto: Cesar Leão

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Boas vindas ao Dona Lindu

A gente ainda não conheceu o espaço, mas os mistérios que rondavam a inauguração dos equipamentos culturais do Parque Dona Lindu – o Teatro Luiz Mendonça e a galeria Janete Costa – parecem que, finalmente, começam a ser desfeitos. Como antecipamos esta manhã, a abertura será com um show de Lenine e da Orquestra Sinfônica do Recife, no sábado (26), mas apenas para convidados. No dia seguinte, às 18h, o show será virado para o pátio do Parque (já que o teatro moderníssimo permite apresentações tanto no espaço interno quanto externo).

O prefeito disse que tinha sim a ideia de inaugurar o teatro com um espetáculo de artes cênicas, mas que isso não teria sido possível por conta de agendas. Bom, a programação de teatro começa no domingo, às 10h, com O fio mágico, do Mão Molenga Teatro de Bonecos; às 16h30, estão previstas intervenções de artistas circenses. Na terça-feira (29) e na quarta (30), às 20h, é a vez da peça O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, a peça vencedora – na categoria teatro adulto – do último Janeiro de Grandes Espetáculos.

Ainda vai ter o Grial apresentando Travessia, Palhaços em conSerto, dança de rua com o projeto Ubi Zulu Bambaataa, Decripolou, totepou, Polo Marginal – Opereta de rua e Auto da Compadecida. Na programação de música, no dia 2, tem ainda show de Silvério Pessoa, lançando o álbum No grau.

A mostra que abre a galeria Janete Costa é mesmo uma retrospectiva de Abelardo da Hora.

Segundo o prefeito, a coletiva de imprensa não foi realizada já no Dona Lindu porque Lenine e a Orquestra estavam ensaiando no Santa Isabel. Mas garantiu que está tudo pronto para a abertura.

Renato L, por sua vez, disse que será aberta pauta para o teatro e, quando questionado sobre as condições principalmente de iluminação dos outros teatros, disse que tanto o Apolo quanto o Barreto Júnior vão passar por reformas para resolver quaisquer problemas.

Estamos muito curiosas para conhecer o espaço! Esta manhã, tentei conhecer o teatro, mas não consegui entrar. Depois de algumas combinações, o fotógrafo Júlio Jacobina, aqui do DP, foi tirar fotos do teatro (ainda não deixaram entrar na galeria). E ele chegou aqui na redação dizendo que o teatro é muito bonito, tem dois elevadores para o palco, mas que o chão é de alcatifa. “Como vai ser a manutenção? Vai grudar chiclete!”, observou Jacobina.

Foto: Carlos Oliveira/Prefeitura do Recife

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