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Para pensar a política cultural do Recife

É necessário muito trabalho nos bastidores para que a cultura  do Recife volte a respirar. Na imagem de Andrea Rego Barros, o urdimento do Teatro do Parque.

Teatro do Parque com vista a partir dos camarotes. Foto: Andrea Rego Barros / Divulgação

* Atualizada em 29/01/2021 às 11h51

A política cultural é feita de escolhas. De prioridades e investimentos. Como na regra máxima da economia: recursos escassos para atender a desejos infinitos. Nessa difícil equação, os gestores decidem o que fazer com o orçamento. Alguns apostam na oitiva da população, especialmente daquela porção diretamente envolvida, para tomar decisões. Uns acreditam no seu poder clarividente de entender o que o setor cultural e os cidadãos querem sem escutá-los.

Mas nenhuma escolha é ingênua. Ou aleatória. Ela está atrelada às ideologias. Verbas materializam aspirações, sonhos, projetos. Do que se pensa que é melhor para o universo individual ou coletivo. E quem detém nas mãos a construção desse mundo; ou seja, quem está no poder, tem a chance de escolher onde e como e porque aplicar os investimentos; fornecer as condições básicas, médias e suficientes para que os habitantes sobrevivam, vivam, existam. Então, alguns atores sociais podem ser inviabilizados, não priorizados por investimentos públicos, lançados tão ao fim da fila que nunca chegam sua vez.

David Harvey chama de mercadificação a transformação em mercadoria de formas culturais, históricas e da criatividade intelectual.

A política cultural neoliberal do governo de Pernambuco e do Recife equaliza a dimensão de entrega das decisões para o mercado. Isso ficou notabilizado nos últimos oito anos de gestão do PSB na Prefeitura do Recife e no estado mais do que isso. Foi uma trilha de perdas das conquistas da classe artística, que precisou se juntar em movimentos vários para frear estragos ou garantir pontos fundamentais.

O Teatro do Parque, equipamento administrado pela prefeitura, fechado durante 10 anos e reaberto no fim do ano passado, é um exemplo – que nem sempre aparece nas notas oficiais – da articulação de muitos artistas. Foram diversas Viradas Culturais, protestos, mobilizações, comissões para o teatro ser devolvido lindinho à população.

Com João Campos, do PSB, ocupando a cadeira de prefeito depois de oito anos de Geraldo Júlio (PSB), entraram em cena no início do mês o professor, escritor, documentarista e produtor cultural Ricardo Mello, no cargo de secretário de cultura da cidade do Recife, e o diretor de teatro, professor, José Manoel Sobrinho, como presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Ambos foram recebidos de braços abertos pela maior parte da classe teatral. José Manoel, de forma efusiva.

Ricardo Mello, secretário de Cultura do Recife na gestão do prefeito João Campos. Foto: Reprodução do Facebook

José Manoel Sobrinho, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, na gestão de João Campos. Foto: Thiago Faria / Divulgação

Registramos aqui as inquietações a partir das perguntas que fizemos a algumas pessoas das artes cênicas sobre os gestores atuais. Foram dois questionamentos: 1) a opinião sobre a escolha dos nomes 2) as prioridades para a gestão. As respostas foram dadas entre 5 e 15 de janeiro. 

Basicamente são três marcos de recepção. Os que acreditam plenamente em mudanças com a participação desses gestores; os que sabem do valor dos nomes, mas desconfiam do método PSB de administrar; e os que, apesar de torcer para que a cultura recifense dê certo, não confiam na política desse partido, tendo por base os danos ocorridos nos últimos oito anos. 

Mônica Lira, coreógrafa e bailarina do Grupo Experimental pensa que foi imprescindível chamar pessoas realmente da área de cultura. “Tivemos durante essas duas gestões de Geraldo Júlio, infelizmente, pessoas técnicas, homens machistas, principalmente o ex-presidente da FCCR. Eu tive a experiência, inclusive, lá dentro, interna, que foi muito ruim. Então, acredito que vai ser muito importante se eles (Ricardo Mello e José Manoel) tiverem realmente recursos e abertura para construir uma política que já deixou de existir há muitos e muitos anos”.

Diálogo, esse ato básico de comunicação, é um dos quesitos mais reclamados pelos artistas durante as duas últimas gestões do PSB. “É uma expectativa de que seja um novo momento, um fio de esperança, uma luz no fim do túnel. Porque não está fácil ser artista, permanecer artista morando num país como o Brasil e com esse desgoverno. E principalmente numa cidade em que a cultura não tinha nenhuma prioridade. A cultura nunca foi prioridade para essa gestão de Geraldo Júlio, em nenhum momento”, reforça Mônica Lira.

Atriz, produtora e curadora Paula de Renor assume a administração do Parque Dona Lindu / Teatro Luiz Mendonça. Foto: Reprodução do Facebook

Paula de Renor, atriz, produtora e conselheira do Conselho Estadual de Cultura foi convidada e aceitou a administração do Parque Dona Lindu / Teatro Luiz Mendonça, os dois equipamentos juntos. Essa informação foi divulgada neste 25 de janeiro. Além de produtora, com longa temporada no festival Janeiro de Grandes Espetáculos, do qual se desvinculou há cerca de três anos, ela administrou um dos espaços mais queridos do Recife das últimas décadas: o Teatro Armazém. Atualmente ela produz o Reside – Festival Internacional de Teatro FIT-PE.

“Eu aceitei porque eu quero apoiar Zé Manoel e Ricardo, pois eu acredito neles, nos dois. Eu acho que que a gente tem que ocupar os espaços – a gente quer dizer a classe artística – tem que ocupar os espaços que pertencem à classe. Os teatros pertencem à cidade, à classe e eu acho que ninguém melhor do que os artistas, e artistas que são gestores também e produtores, para cuidarem desses espaços. Os artistas, como ninguém, sabem cuidar, porque eles precisam e vivem desses espaços. Então foi por isso que eu aceitei esse desafio”, contou ao blog Satisfeita, Yolanda? 

Ator, diretor e dramaturgo Giordano Castro. Foto: Reprodução do Instagram

Mesmo reconhecendo a importância dos dois gestores, o ator, diretor e dramaturgo, integrante do Grupo de Teatro Magiluth, Giordano Castro, confessa que “não acredito muito em grandes mudanças”, lembrando que é mais uma gestão do PSB no Recife. E que, em linhas gerais, levando em conta o histórico dos últimos oito anos de administração desse partido na capital pernambucana, o resultado foi o desmantelamento de algumas conquistas.

Entre elas,  o enfraquecimento de festivais importantes como o de teatro, o de dança e o de literatura. “São festivais muito fortes na cidade que, de alguma forma faziam com que a vida cultural da cidade do Recife acontecesse de forma fervorosa. E esses festivais, eles acabaram”. E, por isso mesmo, Giordano ressalta a importante da alternância de poder. “Mas sendo João (Campos) o novo prefeito, nós vamos democraticamente viver com ele nesses quatro anos e torcer para que eu esteja de alguma forma errado em relação a isso”.

Artistas e produtores Mísia Coutinho, Paulo de Pontes e Gheuza Sena. Fotos: Reprodução do Facebook

A torcida pelos novos gestores é grande. Muitos atores, diretores, produtores, botam muita fé, principalmente no nome de José Manoel Sobrinho. “Conheço de perto a dedicação dele, o empenho e a competência”, frisa a produtora e atriz Mísia Coutinho. O ator e produtor Paulo de Pontes corrobora que as escolhas não poderiam ser melhores. “Já nos dá certa esperança”. A atriz Gheuza Sena também aposta suas fichas em José Manoel “que é uma pessoa que eu conheço a fundo, acompanho bastante o trabalho dele, já muitos anos foi meu professor na Fundaj”.

“Para mim, Recife nunca esteve tão bem representado na parte da cultura”, aposta a atriz, modelo e palhaça Fabiana Pirro. “Ricardo Mello é super engajado em várias áreas da cultura, e não é só um administrativo. Ele é uma pessoa realmente das artes, sensível, muito acessível. Acho que ele vai fazer um grande trabalho à frente dessa pasta”. “E Zé Manoel, minha Nossa Senhora, já participamos de vários projetos, foi ele foi quem fez a gente circular o Brasil todo no Palco Giratório com Caetana e Divinas; sempre nos defendeu. Colocou o Sesc Pernambuco no patamar que você sabe bem. Viva as deusas das artes porque a gente precisava de uma pessoa como o Zé, muito trabalhador, muito disposto a realmente mudar o panorama para os artistas e valorizar os artistas”, diz.

Mais do que apoio da classe, eles vão precisar de recursos e de apoio político. “Para que possam atuar concretamente, se fará necessário recursos que possam apoiar e fomentar as ações culturais necessárias para um efetivo fortalecimento das cadeias produtivas dos segmentos culturais, bem como instrumentalizar todos os equipamentos culturais do município, no que tange à manutenção e programação num formato democrático e valorizando as produções locais sem esquecer as produções visitantes” aponta o jornalista, ator e diretor Manuel Constantino.

Ator, diretor e gestor Quiercles Santana. Foto Reprodução do Facebook

O diretor teatral, produtor e gestor Quiercles Santana lembra que José Manoel assumiu, anos atrás, um cargo similar na cidade de Camaragibe e as coisas mudaram muito de feição por lá durante a sua gestão. “Mudaram para melhor, quero dizer. Incrível o que ele sabe do ofício e como a cabeça dele funciona a mil por hora”. Quiercles comemorou a entrada dos dois no que ele chama de campo de batalha. “Porque se trata de fato de um campo de batalha. E é provável que mesmo sendo almirantes de brigada, muito bem habilitados, nem sempre consigam escolher os soldados certos para lutar ao lado deles nas trincheiras. Espero estar errado, do fundo do coração. Mas é que a prefeitura (e não somente ela) está cheia de mortos-vivos, defuntos que esqueceram de deitar faz tempo, mas que continuam ocupando cargos lá, esses fósseis, empurrando com a barriga, cristalizados em formas de gerir e pensar a cultura datadas de meados do século XIX. E nós precisamos de mais Ricardos e José Manoéis que tragam escutas, sensibilidade e traquejo nas realizações que precisam ser concretizadas na área”.

A capacidade de José Manoel de enxergar a periferia é lembrada pelo diretor e professor Rodrigo Dourado. “Eu acho que é uma marca, quer dizer, ele é um homem que olha para as regiões periféricas. Que esse movimento de interiorização que ele realizou no Sesc possa ocorrer nas periferias culturais do Recife. Que saia um pouquinho desse modelo neoliberal dos centros e dos centros culturais regidos por instituições financeiras”.

Diretor do Grupo João Teimoso e da Guerrilha Cultural, Oséas Borba espera que a prefeitura deixe de lado a política de eventos, priorize cada segmento, dê uma atenção especial aos equipamentos culturais e aos editais. “Então quem sabe a gente não volta ao Conselho Municipal de Política Cultural funcionando como ocorreu no início?”.

Os integrantes d’O Poste – Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos – assinalam que durante toda gestão passada, as artes cênicas tiveram perdas que dificultaram a fruição, a criação e a produção em geral. “Perdemos o departamento de artes cênicas, o prêmio de fomento ao teatro , o SIC ( depois de 06/ 07 anos voltou ). Então José Manoel como presidente da Fundação e que tem uma ligação íntima, direta com a classe artística, é ciente dessas perdas e ele tem um histórico de luta cultural e social junto à Feteape (Federação de Teatro de Pernambuco), ao Sesc e outros e que vai pensar e agir para que retornemos a fruir, produzir o teatro e a dança como expressões de respeito e respeitadas no Recife”.

Diretor do Trema! Festival, o ator Pedro Vilela engrossa o coro dos que vibraram com os nomes dos escolhidos, mas levanta outras questões sobre a conjuntura e se realmente a nova gestão está interessada na constituição de uma nova política cultural para a cidade. “Anteriormente assistimos a tática de utilizar nomes referendados pelos próprios artistas para servirem de escudos a uma gestão que pouco procurou investir no setor”. Então, no seu entender, é necessário, para além de nomes, um terreno favorável para que as mudanças sejam postas em prática. 

Ator e produtor Diógenes D Lima

Há também desconfianças e constatações de que a Prefeitura  do Recife é um sistema e que o PSB está ocupando o cargo há oito anos – e que gerou a situação atual. 

“Primeiramente, não acredito nesse grupo que está na gestão. Eles já mostraram em outros mandatos que não estão interessados em fortalecer a cultura e os artistas da cidade. Equipamentos, incentivos… Tudo abandonado, sucateado… Enfim. Não dá para acreditar que ‘esse rapazinho’ tem autonomia de mudar a prática desgraçada de anos do partido que ele faz parte”, comenta o ator e produtor Diógenes D LIma.

Diógenes pensa que, diante disso, os nomes escolhidos pouco ou nada farão, embora sejam pessoas capacitadas. “Noutros mandatos desse mesmo grupo político, já vimos essa jogada: botam gente nossa na gestão e logo depois substituem por pessoas estranhas que nunca foram e nada sabem de gestão em cultura. Mesmo assim desejo toda sorte do mundo aos colegas. Conto com o caráter e a honestidade deles”.

A conjuntura sociopolítica econômica da cidade do Recife forçou a jornalista, poeta e atriz Daniela Câmara a encontrar uma fonte alternativa para garantir a sobrevivência. Desde que começou a pandemia ela produz e vende bolos. Essa mudança provisória de função trouxe ainda mais autonomia para criticar o que ela acha errado. “Sem querer desqualificar os gestores e secretários, mas a decepção é muito grande. Sabe, eu acho que quem levanta certas bandeiras de esquerda não deveria estar levantando as bandeiras do PSB. É minha linha de pensamento”.

 

Mônica Lira, coreógrafa e bailarina

As políticas públicas culturais atingem diretamente a vida dos artistas.  E tanto podem alavancar carreiras, grupos, projetar talentos, como atravancar, atrasar, prejudicar em muitas camadas.

O desabafo de Mônica Lira é emblemático. Ela que sempre expressou o Recife nas suas obras sentiu o sentimento de orfandade bater forte. “Me senti abandonada pela minha cidade, porque eu sempre quis permanecer no Recife, amo esse lugar, mas parece que ele não ama a gente. Mas isso é consequência da política”, relata a coreógrafa e bailarina do Grupo Experimental de Dança. “Tenho total consciência de que a cidade foi completamente abandonada em todos os aspectos ligados a nossa área. E vai ser difícil essa reconstrução porque a gente vive um momento de várias crises. Essa crise que a gente está exposta por conta do Coronavírus ela desencadeia outras crises anteriores.  A gente passa por momentos com muita dificuldade financeira há muitos anos. Então agora só ampliou, né? Aumentaram as dificuldades e o desespero é ver artistas passando fome e ver gente morrendo dessa doença horrível”. 

Há três anos a gente perdeu o Espaço (Experimental, na Rua Tomazina, 199, Recife Antigo ) por conta que a Igreja pediu para fazer uma reforma e até hoje não devolveu. A gente está sem teto. A gente está sem trabalho. A gente tá assim sem nada. Então eu penso que os artistas daqui são quase indigentes. Se os artistas do Recife não tiverem suas famílias, não tiverem os seus apoios eles realmente vão para a rua, ficam à míngua. É como todas as pessoas de bem dessa cidade que vivem hoje num estado de calamidade, de muita vulnerabilidade, nas ruas, sem teto, sem comida, sem nada.

Num festival de dança que assisti online, Ailton Krenak (líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro) falou “como é que a gente vai continuar dançando com fome?”. E é bem isso! Acha que é uma extrema responsabilidade assumir, nesse momento que o país atravessa, uma cidade como o Recife para administrar a sua cultura e para tentar fazê-la de novo viver. Porque a gente está atolado nesse mangue, nessa lama, que parece agora pesar de fato uma tonelada em cima de nós.

 

 

Atriz, bailarina e professora trans Sophia William / Foto: Reprodução do Facebook

“Falta representatividade na Secretaria de Cultura do Recife”, entende a atriz e dançarina e professora trans Sophia William . “Mais uma vez se vê um homem branco hetero cis normativo, sendo escolhido para ocupar tal cargo. Não representando piamente a diversidade cultural em que vivemos, não acolhendo essa representatividade em sua figura. O que não me surpreende, enquanto artista negra e trans da cidade do Recife, perceber que essa escolha vem de um prefeito que também detêm tais privilégios”.

Sophia reconhece que o secretário está apto a ocupar tal cargo por ser formado em publicidade, por ter ocupado já algumas gestões culturais, mesmo assim fica temerosa diante das questões sócio-políticas e artísticas da cidade. Ela lembra que os grupos carnavalescos têm visibilidade apenas no carnaval, assim como as quadrilhas têm  apoio apenas durante os festejos juninos. “Parece que há uma compreensão de que os artistas, eles não ocupam outros espaços e não vivenciam outras épocas do ano. Nós estamos fazendo arte o tempo todo porque nós vivemos dessa arte”, reforça.

“O que seria a sanidade de muitas pessoas durante essa pandemia se não fossem os artistas?”, pergunta Sophia William. “Porque, sem nós, os artistas, eu acredito que muita gente não conseguiria estar passando por essa pandemia. Porque nós artistas por muitas vezes seguramos a sanidade de muitas pessoas, com os nossos trabalhos artísticos na internet, travando diálogo, tentando com nossa arte … então, que a partir de agora a arte seja vista por outra perspectiva, entendendo que, sim, nós precisamos de arte entendendo que sim, nós precisamos da cultura”.

PRIORIDADES

Uma questão fundamental, do pagamento dos artistas, que muitas vezes esperam seis meses para receber o cachê, também é lembrado por Sophia Williams como um problema a ser resolvido. Rodrigo Dourado reforça que é preciso ter muito cuidado com essa questão financeira. “A gente sabe que tem muito descaso em relação à gestão dos pagamentos dos artistas”. Eles lembram que quem vive de arte é profissional da arte e necessita receber o recurso com brevidade após a realização do serviço. É urgente acabar com essa lógica perversa, que virou uma marca da máquina pública.

Atriz, modelo e palhaça Fabiana Pirro. Foto: Reprodução do Instagram

A atriz, produtora e palhaça Fabiana Pirro chama a atenção para os trabalhadores, os artistas carnavalescos, que precisam de um cuidado especial do setor público, mais ainda, nestes meses. “Eu acho que essa pandemia nos mostrou bem isso: a gente tem que viver realmente um dia de cada vez, colocando a saúde em primeiro lugar. E eu acho que os gestores têm que realmente organizar o Carnaval para aquelas pessoas todas que vivem do Carnaval não só como uma data específica e sim a vida delas. Há oito anos participo do palco do Marco Zero, por exemplo, mas eu graças a Deus, hoje tenho os meus outros projetos”.

Com a suspensão do carnaval,  milhares de artistas populares que garantem o sustento na festa enfrentam uma situação delicada. Para ajudar alguns desses artistas, e principalmente chamar atenção do poder público de que os mestres e artistas estão passando necessidade, a vereadora Liana Cirne (PT) fez a doação da verba do Auxílio-Paletó para quatro grupos de cultura popular do Recife. Foram compradas 200 cestas básicas e distribuídas entre as agremiações Cruzeiro do Forte, do Cordeiro; Caboclinho Sete Flechas, de Água Fria; Daruê Malungo, da Campina do Barreto, e Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife, do Alto José do Pinho.

O que o poder público vai fazer para garantir recursos aos grupos, artistas, mestres, mestras e profissionais da cultura envolvidos com Carnaval, isso também faz parte da política cultural.

Ator, diretor e jornalista Manoel Constantino. Foto: Reprodução do Facebook

“Diante de um quadro degenerativo e de desmonte que à cultura vem sofrendo no Recife é de extrema importância a escuta, saber, de fato, as nossas demandas, desencadeando um processo de abertura vital, no que tange a ocupação do centro e da periferia, com a produção cultural realizada por seus agentes”, aponta o jornalista, poeta e ator Manoel Constantino.

Diógenes D Lima insiste no assunto. “Dialogar é o início da solução do problema, mas dialogar não é uma prática dos políticos. Sabemos muito bem disso. Eles pensam que Recife e Pernambuco dormem o ano inteiro, só acordando no Carnaval, São João e Natal e isso é uma tremenda ignorância”, critica. E aponta a responsabilidade: “Penso que a prioridade atual é assistir a todos os fazedores de cultura da região (falo região e não apenas o município, porque a cultura do Recife é feita por gente de outras cidades também e essas pessoas viviam no Recife e do Recife antes da pandemia) bem como os que mantém espaços culturais.. A prefeitura tem que viabilizar meios de manter a cultura viva, mesmo com tudo fechado para eventos”.

A atriz Gheuza Sena enxerga como preocupante a manutenção da cultura, dos equipamentos de cultura durante todo o ano. “É preciso criar realmente um movimento que ajude os artistas ao longo do ano. Independente de ciclos já estabelecidos, focar nessa questão de como desenvolver atividades que ao longo do ano fomentem essa vivência dessas pessoas”.

“Tem tanta coisa para Ricardo Mello e José Manoel tentarem consertar que chega ser difícil apontar por onde começar!”, comentou Paula de Renor, no início do mês. “Sabe casa totalmente desorganizada? Bem, acho que não existe gestor bom sem dinheiro, e essa gestão tem que conseguir aumentar o orçamento municipal anual para a cultura, que é vergonhoso. A luta de todos deve ser esta! Além disso, é preciso reestruturar o Conselho Municipal de Cultura, O Sistema de Incentivo a Cultura, o Plano Municipal de Cultura. Fazer uma ponte entre a cultura e o turismo, buscar soluções para a manutenção dos equipamentos culturais do município. E, o mais importante, promover uma gestão compartilhada entre a Secretaria e a Fundação de Cultura, na elaboração e execução de uma política cultural com ações permanentes e continuadas, democráticas, transparentes e acessíveis”. 

Além do diálogo com a classe artística para ouvir as demandas e necessidades reprimidas, o coreógrafo e bailarino Raimundo Branco aponta que é preciso repensar o edital do SIC. “A forma como ele está não atende às artes cênicas. Ele precisa ser revisto para atender a produção como um todo: pesquisa, montagem, formação, fruição, documentação, manutenção”, acredita Branco. O coreógrafo também cobra um posicionamento sobre o papel da representação de dança dentro da FCCR e da Secretaria de Cultura, a valorização do artista e da cultura pernambucana nos grandes eventos e o fim da política de balcão.

Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos, integrantes d’O Poste.

O Grupo O Poste também reivindica a mudança do edital do SIC, “pois ele é excludente e direcionado. E precisa incentivar a linha de fruição, montagem, pesquisa, circulação, formação para os artistas pretos e pretas e artistas em geral. O atual edital é falho”, pensam os integrantes de O Poste.

Agrinez Melo, Samuel Santos e Naná Sodré, do grupo O Poste clamam por ações de visibilidade para negritude. “Faz 16 anos que o grupo existe e tudo que conseguimos foi mérito nosso, com muito sacrifício. Desde o Espaço O Poste ao Festival Luz Negra. Nunca fomos aprovados em editais da prefeitura”. Entre seus pleitos estão “representantes da negritude dentro do quadro de profissionais culturais da prefeitura; incentivo a espetáculos, formação, festivais negros; atividades formativas e de pesquisa na poética negra em todas as esferas artísticas e fomento aos nossos espaços culturais, nossos quilombos artísticos que servem não só de local para apresentar os nossos trabalhos, mas também de acolhimento e escuta para tantos artistas”.

O jornalista Manoel Constantino argumenta que que “se faz urgente que esta nova gestão entenda que a nossa produção cultural possui uma cadeia extremamente competente, geradora de emprego, renda e de entretenimento, tão fundamental quanto os ciclos tradicionais. A gestão deve priorizar o fomento do dia a dia da cultura. E não apenas sazonalmente”. 

E dá como exemplo os imóveis da PCR no Centro e na periferia, que poderiam ser ativados como centros culturais de vivências. “O Pátio de São Pedro, está lá, com casas pertencentes à PCR que poderiam ser espaços vivos da cultura”. Constantino também sugere a reativação do concurso literário do Recife, que é Lei e a reabertura da Livraria da FCCR, voltada para as obras de autores de Pernambuco. “Há tantas possibilidades. E aí depende da vontade política. Vontade política que entenda que a produção cultural é também mola propulsora do PIB”.

Já Quiercles Santana sugere que documentos sejam revisitados, como a última Conferência Municipal de Cultura, para examinar esses arquivos com urgência, porque quase nada foi implementado. O diretor considera que o campo teatral passa por “uma enorme a indigência”. “Os edifícios teatrais estão ferrados, caindo aos pedaços, pedindo socorro. É problema com falta de equipamentos de som e luz (ou com instrumentos obsoletos), com central de refrigeração deficiente, com equipes técnicas e administrativas defasadas. Os diversos festivais que a cidade abriga devem ser ressignificados”. 

Inspirado, Quiercles Santana aponta muitas propostas, entre elas a retomada de projetos como o PAC (Programa de Animação Cultural) e o FALE (Fórum de Acesso Livre ao Estudante), que tinham Fátima Pontes e o padre Reginaldo Veloso à frente, alguns anos atrás. “Na época, escolas recebiam nos finais de semana pessoas ligadas ao teatro, à dança, ao circo, à grafitagem, ao canto-coral, à capoeira, à percussão, às artes visuais, à música e faziam produções muito potentes. Discutia-se sobre sexo, família, futuro, trabalho, drogas, tudo. Era emocionante ver o espírito crítico florescendo nas comunidades de base. Super importante para sairmos da Idade Média em que estamos metidos. Foi deixando as comunidades ao deus dará, que os filhos de Deus estão fazendo o papel que é do poder público. E a arte e a cultura podem ser armas potentes de educação estética e política. Temos artistas importantes que podem circular com oficinas e cursos mais duradouros”.

Oséas Borba toca em outro ponto que é a burocracia de licença de solo para quem trabalha com eventos de rua, como ele, que coordena o Sarau das Artes. “É muito desgastante para qualquer produtor ter que ir em vários lugares, vários órgãos diferentes, para conseguir uma licença para fazer um evento na rua. Então é preciso democratizar isso para os artistas que trabalham com eventos na rua. Além de dar uma atenção especial ao Recife Antigo, ao bairro Boa Vista, a todos esses casarões. Tem muito casarão abandonado que pode virar, como tem pé direito os altos, podem virar excelentes espaços culturais”, sinaliza.

Essas apostas ou mesmo declarações de desconfianças dos artistas da cena traduzem a vontade de que o cenário artístico-cultural do Recife volte a ser vigoroso e vibrante. Nós torcemos para que a capital pernambucana reverta essa condição de apatia e exerça um papel preponderante na cultura do país, que seus artistas tenham toda as condições necessárias para alçar altos voos, realizar seus projetos e exercer o talento. Com reconhecimento, respeito e incentivo do estado. Vamos desejar, que o desejo movimenta o mundo. 

 

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Encontro de crítica investiga estampidos do real

Espetáculo cubano Jacuzzi integra programação. Foto: Lázaro Wilson

Peça cubana Jacuzzi integra programa Crítica em Movimento, do Itaú Cultural, na Paulista. Foto: Lázaro Wilson

A Mulher Arrastada. foto: Regina Peduzzi Protskof

A Mulher Arrastada baseada em fato real ocorrido no Rio de Janeiro. Foto: Regina Peduzzi Protskof

A arte se alia ao presente para expandir forças de defesa da democracia e de combate à barbárie. Foi assim em outros tempos nublados no Brasil. Daquela época ficaram as obras e testemunhos de muita gente guerreira. A segunda edição do Crítica em Movimento traz as experiências de Augusto Boal e Plínio Marcos na pisada das ações das atrizes Walderez de Barros e Cecilia Boal.  Carrega os olhares de grupos e coletivos teatrais, a vivência do escritor Marcelino Freire, a atuação da crítica cubana Vivian Martínez Tabares. Durante nove dias o exercício da crítica ocupa o espaço do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, com depoimentos, debates, peças, leitura dramática e um show cênico. A programação ocorre de 26 de setembro (quarta-feira) a 7 de outubro (domingo).

Em que medida o momento sociopolítico influencia as obras e os seus desdobramentos poéticos? é um disparador de uma reflexão que deseja congregar espectador comum, estudantes, profissionais das artes cênicas, da crítica, gestores culturais e pensadores de outras áreas.

O crítico de teatro Valmir Santos, que assina a curadoria destaca que  esta segunda edição absorve o ponto de vista crítico dos artistas. “As obras partem de temáticas urgentes (violências de classe, racismo, misoginia, homofobia, entre outas). E as mesas aprofundam como esse material rente à realidade pode ganhar potência poética. O momento sociopolítico brasileiro atravessa a maioria dos trabalhos”, ressalta.

A mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura (26/09, 20h) inicia a programação com um debate do escritor Marcelino Freire e de Onisajé (Fernanda Julia), diretora fundadora do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas, na Bahia. Com mediação da encenadora, educadora e pesquisadora teatral Verônica Veloso, eles vão tratar da subjetividade que irrompe na manifestação artística carregada de realidades.

O crítico literário, professor e organizador da coleção Plínio Marcos: Obras Teatrais (Funarte, 2016) Alcir Pécora e a atriz Walderez de Barros conversam sobre A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”, na quinta-feira (27/09), às 16h. A mediação é de Valmir Santos. Apontado em algum momento como um autor maldito, Plínio Marcos (1935-1999), foi um dos primeiros a retratar homossexualidade, marginalidade, prostituição e violência com muita crueza em suas peças.

Uma versão de Navalha na Carne, peça de 1968 é apresentada ainda na quinta feira, às 20h. Em Navalha na Carne Negra, o diretor José Fernando Peixoto de Azevedo problematiza o corpo negro e os processos históricos de marginalização social, a partir dos três personagens da peça. A atriz Lucelia Sergio, da Cia Os Crespos (SP), e os atores Raphael Garcia, do Coletivo Negro (SP), e Rodrigo dos Santos, da Cia dos Comuns (RJ), se debatem em cena para questionar quem são esses “marginais” de Plínio Marcos, hoje?

Vivian, Stela e Cecilia participam da mesa

Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal participam da mesa sobre realidade latino-americana

A crítica e pesquisadora teatral, editora e professora cubana Vivian Martínez Tabares, que ministrou o curso Práticas e Tendências da Cena Latino-Americana Contemporânea semana passada na USP, a doutora em artes cênicas e coordenadora do Coletivo Rubro Obsceno Stela Fischer e a psicanalista e atriz que preside o Instituto Augusto Boal, Cecilia Boal integram a mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana

Como conjugar a singularidade estilística e o pensamento crítico da produção artística da América Latina é o mote desse encontro na sexta-feira (28/09), às 16h , mediado por Ilana Goldstein, antropóloga e professora do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Elas vão destacar que as criações artísticas nas mais variadas linguagens – literatura, música, cinema, teatro e artes visuais – têm destaque documental para esses países traumatizados por processos violentos de colonização europeia.

A montagem Jacuzzi, com o grupo cubano Trébol Teatro tem sessões agendadas para os dias dias 28 e 29 (sexta-feira e sábado). Dirigido por Yunior García Aguilera, o espetáculo expõe relatos contraditórios sobre Cuba. O casal Susy e Pepe faz uma festa para despedir-se de Roma e voltar a Havana. O único convidado é Alejandro, melhor amigo de Pepe e ex-namorado de Susy. Entre taças de vinho e a espuma da jacuzzi cada um defende suas posições políticas, sociais e emotivas.

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

A leitura dramática do 1º ato de Bixa Monstra presidenta, da Cia Humbalada de Teatro, ocorre também na sexta-feira, às 23h59. A peça tem influência do texto Gota Dágua, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mídia divulga que o presidente da república tem como amante uma “bicha” prostituta. Isso causa reboliço. O espetáculo, dirigido por Bru César, empreende uma uma crítica ácida, cômica e sentimental ao atual sistema político e ao que toca em questões de gênero e sexualidade. O elenco é formado por 10 atrizes e atores do Grajaú.

O ator, dramaturgo e diretor João Junior, do grupo Estopô Balaio, o diretor, ator e co-fundador da Trupe Olho da Rua, de Santos, Caio Pacheco e a coordenadora de pesquisa do Grupo Caixa de Imagens Mônica Simões vão analisar se projetos arrolados na comunidade criam pontes de cidadania. A mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/ comunitário ocorre no dia 29 (sábado), às 16h.

O diretor José Fernando Peixoto de Azevedo e o ator Rodrigo dos Santos são os convidados da 24ª edição do Encontro com o Espectador, ação em parceria do Teatrojornal – Leituras de Cena e o Itaú Cultural , no domingo (30/09), às 15h. O espetáculo Navalha na Carne Negra é tema do programa com  mediação do crítico Kil Abreu.

A Trupe Lona Preta apresenta O Circo Fubanguinho ainda no domingo, às 19h. Inspirado em charangas, farsas e bufonarias, o espetáculo dirigido por Sergio Carozzi e Joel Carozzi fala de dois palhaços demitidos e expulsos do picadeiro, mas que não medem esforços para voltar à ativa.

Segunda semana

A oficina de Teatro Aspectos Culturais/Religiosos de Matriz Africana para o Processo de Composição de Personagens (inscrições encerradas), ministrada por Hilton Cobra (interpretação), Ana Paula Bouzas (preparação corporal), Valéria Monã (dança afro) e Duda Fonseca (Capoeira) começa no dia 4 de outubro (quinta-feira), às 10h. A proposta é arquitetar com os participantes um repertório de possibilidades (gestuais, movimentos, sabores, paladares, cores, instintos, vestuários, sons, instrumentos etc), relacionados à cultura ancestral de matriz africana, que possam abastecer a criação e construção de personagens.

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar / Divulgação

Também na quinta-feira (04/10), é exibido o show cênico O Avesso do Claustro, às 20h com a Cia. do Tijolo, inspirado na vida e obra de Dom Helder Camara. Os personagens de O Avesso do Claustro (interpretados por Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante e Flávio Barollo, além dos músicos Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, William Guedes e Leandro Goulart) ousam imaginar novos horizontes para esses tempos tenebrosos. No território profano, utópico e poético do teatro se cozinha o alimento da esperança e tonifica o espírito para a batalha. A peça leva ao palco as ideias revolucionárias, as históricas lutas de resistência política durante o regime militar de Dom Helder e ergue uma espécie de vigília coletiva para os dias de hoje. Na ocasião o grupo lança o CD do espetáculo, com os textos e as música apresentadas em cena.
Escrevemos sobre O Avesso do Claustro em:
https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/dom-da-liberdade/
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2016/12/18/peca-sobre-dom-helder-camara
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2017/02/01/no-palco-com-dom-helder/

Sexta-feira (05/10), às 16h, o ator Hilton Cobra, a atriz Naruna Costa e o diretor Rogério Tarifa debatem sobre a Poéticas da Cena Engajada, com mediação do crítico Kil Abreu. O encontro busca abordar a delicada questão dos danos provocados pela sociedade levados à cena, sem estrago da função estética. Os motes sociopolíticos executados no panorama brasileiro contemporâneo, como questões de identidade e de gênero, além dos movimentos antirracismo e em defesa de etnias e pelo feminismo são disparadores dessas reflexões.

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

Em março de 2014, no Rio de Janeiro, Cláudia Silva Ferreira, uma mulher negra, auxiliar de serviços gerais de 38 anos, mãe de quatro filhos biológicos e quatro adotivos foi assassinada pela Polícia Militar ao sair de casa. Seu corpo foi atirado às pressas no camburão da viatura e arrastado ainda com vida pelo tráfego. A peça A Mulher Arrastada é baseada nesse caso real. A dramaturgia é de Diones Camargo, dirigida por Adriane Mottola. O espetáculo convoca a uma repercussão sobre as barbáries cotidianas que a população periférica do país é submetida diariamente e ao apagamento na cobertura jornalística do nome de Cláudia, substituído pela alcunha de “mulher arrastada”. Apresentação no dia 5 de outubro, às 20h.

O sujeito periférico e a luta por políticas públicas é o tema da última mesa desta edição do Crítica em Movimento, que ocorre no dia 6 (sábado), às 16h. Participam da conversa Esther Solano, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Tiaraju Pablo D’Andrea, cientista político e também professor da Unifesp, no Campus Zona Leste/Instituto das Cidades e Alfredo Manevy, gestor cultural e pesquisador em políticas públicas, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A mediação fica por conta de Carlos Gomes, ator e coordenador do Núcleo de Cênicas do Itaú Cultural.

Quando Quebra Queima é uma “dança-luta” coletiva, construída a partir das experiências de 14 estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em São Paulo. É uma montagem da ColetivA Ocupação dirigida por Martha Kiss Perrone. Encerra o programa Crítica em Movimento: Presente com apresentações nos dias 6 e 7 (sábado, às 20h e domingo, às 19h).

PROGRAMAÇÃO

DIA 26 DE SETEMBRO (QUARTA-FEIRA),20h

Mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura
Com Marcelino Freire e Onisajé. Mediação de Verônica Veloso.
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

Dia 27 de setembro (quinta-feira),

16h
Mesa A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”
Com Alcir Pécora e Walderez de Barros. Mediação de Valmir Santos
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Navalha na Carne Negra. Foto: Sergio Fernandes / Divulgação

20h
Espetáculo Navalha na Carne Negra
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 50 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Direção Geral e Dispositivo Cênico: José Fernando Peixoto de Azevedo
Atores: Lucelia Sergio, Raphael Garcia e Rodrigo dos Santos
Vídeo: Isabel Praxedes e Flávio Moraes
Iluminação: Denilson Marques
Direção de Arte: Criação Coletiva
Assessoria para o Trabalho Corporal: Tarina Quelho
Programação Visual: Rodrigo Kenan
Produção: corpo rastreado

DIA 28 DE SETEMBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana
Com Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal. Mediação de Ilana Goldstein
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Jacuzzi. Foto Lázaro Wilson / Divugação

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Elenco: Yunior García Aguilera, Víctor Garcés Rodríguez e Yanitza Serrano Garrido / Heidy Torres Padilla
Direção: Yunior García Aguilera
Produção e assistência de direção: Dayana Prieto Espinosa

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Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

23h59
Sessão maldita – Leitura dramática do 1º Ato: Bixa Monstra presidenta
Com Cia Humbalada de Teatro
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: 18 anos
FICHA TÉCNICA
Direção e Dramaturgia: Bru César
Elenco: Tatiana Monte, Eliane Weinfurter, Rafael Cristiano, Onika Bibiana Soares, Bru César, Paulo Henrique Sant`Anna, Paulo Araújo, Dan Silva, Carlos Lourenço e Samuel Sasso
Figurino: Alene Alves
Assistente de Figurino: Deni Chagas
Cenário: Caio Marinho
Direção Musical: Luciano Antonio Carvalho
Iluminação: Piu Dominó
Produção: Janaína Soares
Assistente de Produção: Amanda Andrade

DIA 29 DE SETEMBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/comunitário
Com João Junior, Caio Pacheco e Mônica Simões
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos

DIA 30 DE SETEMBRO (DOMINGO)

15h
Encontro com o Espectador
Com José Fernando Peixoto de Azevedo e Rodrigo dos Santos, sobre o espetáculo Navalha na Carne Negra. Mediação: Kil Abreu
Sala Vermelha (70 lugares)

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O Circo Fubanguinho. Foto: Lazerum / Easy-Resize.com / Divulgação

19h
Espetáculo O Circo Fubanguinho
Com Trupe Lona Preta
Sala Itaú cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Direção: Sergio Carozzi e Joel Carozzi
Elenco: Alexandre Matos, Elias Costa, Henrique Alonso, Joel Carozzi, Sergio Carozzi e Wellington Bernado.
Produção: Henrique Alonso, Dona Méris e Xisté Marçal

DIA 4 DE OUTUBRO (QUINTA-FEIRA)

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O Avesso do Claustro. Foto: Alécio César / Divulgação

20h
Show-espetáculo O Avesso do Claustro
Com Cia. do Tijolo
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Direção musical: William Guedes
Dramaturgia: Cia do Tijolo
Atores Cantores: Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Flávio Barollo, Rogério Tarifa e Fabiana Vasconcelos Barbosa
Músicos: Maurício Damasceno, William Guedes, Clara Kok Martins, Eva Figueiredo, Leandro Goulart, Felipe Chacon e Jonathan Silva
Figurinista: Silvana Marcondes
Criação de luz: Laiza Menegassi
Operação de som: Leandro Simões
Fotos de Alécio César
Design gráfico: Fábio Viana

DIA 5 DE OUTUBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa Poéticas da Cena Engajada
Com Hilton Cobra, Naruna Costa e Rogério Tarifa. Mediação de Kil Abreu.
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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A Mulher Arrastada. Foto: Regina Peduzzi Protskof / Divulgação

20h
Espetáculo A Mulher Arrastada
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  50 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Texto: Diones Camargo
Direção: Adriane Mottola
Elenco: Celina Alcântara e Pedro Nambuco
Trilha Sonora Original: Felipe Zancanaro
Iluminação: Ricardo Vivian
Cenografia: Isabel Ramil e Zoé Degani
Figurinos: criação coletiva
Fotos de Divulgação: Regina Peduzzi Protskof
Textos de divulgação / mídias digitais: Diones Camargo
Arte Gráfica: Jessica Barbosa
Produção estreia / temporadas: Diones Camargo e Regina Peduzzi Protskof
Produção circulação / festivais: Luísa Barros
Realização: Diones Camargo e LA PhOTO Galeria e Espaço Cultural
Apoio: Cia. Stravaganza e UTA – Usina do Trabalho do Ator

DIA 6 DE OUTUBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O sujeito periférico e a luta por políticas públicas
Com Esther Solano, Tiaraju Pablo D’Andrea e Alfredo Manevy. Mediação de Carlos Gomes
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Quando Quebra Queima. Foto: Mayra Azzi / Divulgação

20h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  100 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Criação e Performance: Abraão Santos, Alicia Esteves, Alvim Silva, André Dias de Oliveira, Ariane Fachinetto, Beatriz Camelo, Gabriela Fernandes, Heitor de Andrade, Ícaro Pio, Letícia Karen, Marcela Jesus, Matheus Maciel, Mayara Baptista e Mel Oliveira
Direção: Martha Kiss Perrone
Dramaturgia: Coletiva Ocupação
Vídeo: Martha Kiss Perrone, Alicia Esteves e Fernando Coster
Fotos durante a peça: Alicia Esteves
Figurino: Coletiva Ocupação / Lu Mugayar
Iluminação: Alessandra Domingues
Preparação Corporal: Martha Kiss Perrone/ Natália Mendonça
Produção: ColetivA Ocupação/Otávio Bontempo

DIA 7 DE OUTUBRO (DOMINGO)

19h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 100 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Toda a programação tem interpretação em Libras
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: 1 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência

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Abertura do JGE: Política no segundo ato

Foto: fotos de wellington dantas

Leda Alves, Marcelino Granja, Márcia Souto, Paulo de Castro e Astrogildo Santos . Foto: Wellington Dantas

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O coordenador-geral do festival e a secretária de Cultura do Recife. Foto: Wellington Dantas

A noite de 14 de março de 2017 ficou na minha memória como uma experiência poética e política incrível e inesquecível. Com o Theatro Municipal de São Paulo lotado, os gestores representantes dos secretários municipal e estadual de cultura de São Paulo, e do então ministro da cultura foram silenciados por ensurdecedoras vaias, um festival de apupos, na abertura da 4ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp). Um momento histórico no teatro brasileiro. O produtor da MITsp já havia demarcado a posição do evento contra a precarização da cultura, o congelamento do orçamento e a ameaça de destruição das políticas culturais significativas.

No Recife dos casarões coloniais e estruturas de pensamento conservadoras da elite e classe média que ocupavam as cadeiras do Teatro de Santa Isabel, na quarta-feira, na abertura do Janeiro de Grandes Espetáculos, as reações foram amenas e acanhadas. O coordenador-geral do JGE, Paulo de Castro, falou rapidamente dos desafios desta edição e da alegria em sua realização. Depois foram convidados ao palco o secretário de cultura de Pernambuco, Marcelino Granja; a presidenta da Fundarpe, Márcia Souto; a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves e o diretor de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, Astrogildo Santos.

A fala de Marcelino Granja surpreendeu e provocou uma tensão cognitiva. Ele se posicionou a favor de Luís Inácio Lula da Silva e contra o golpe. Fez um discurso em defesa da democracia, do estado de direito e do ex-presidente Lula. E foi enfático de que a ameaça de condenação de Lula é uma infâmia, que pode se alastrar por todos setores.

A preleção parece boa, para quem se posiciona contra o golpe midiático, parlamentar e jurídico que afastou a presidenta Dilma Rousseff. A não ser por alguns pequenos “detalhes”, que motivaram discretos protestos de “Fora Temer” e ensaios de vaias, que sobraram para outro representante.

Granja é filiado ao PC do B (partido que é contra o golpe), mas é secretário de Cultura do Governo Paulo Câmara, declaradamente a favor do golpe. Então existe aí , pelo menos, uma esquizofrenia política.

Estamos em tempos em que as narrativas são construídas e desconstruídas ao bel-prazer de hábeis oradores. Granja portanto, lembrou dos editais do Funcultura (principal fonte de financiamento da produção cultural pernambucana – audiovisual, música e geral) para enaltecer o governo e e dizer que está do lado dos artistas. Numa estranha passividade, a plateia baixou a cabeça e alguns até aplaudiram o discurso.

Depois dele, a presidenta a Fundarpe, Márcia Souto também do PC do B falou pouco e destacou que a atriz e produtora Paula de Renor (que ficou por 15 anos na coordenação do JGE, junto com Paulo de Castro e Paula Valença), e que estava sentada na plateia, é a nova presidenta do Conselho de Cultura. Uma função merecida para Paula de Renor que luta há anos por políticas públicas mais justas em Pernambuco. Mas o anúncio pareceu uma cortina de fumaça em meio ao fogo cruzado.

A secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, reafirmou que é um soldado na política do PSB e que luta pela cultura pernambucana. Ela tem um histórico, inclusive como artista e gestora que impõe respeito, e é muito querida no setor. Mas a realidade da política cultural recifense não é um palco iluminado e todos nós sabemos disso.

Dessa etapa protocolar, o produtor Astrogildo Santos, que atua como diretor na Fundaj, iniciou sua fala dizendo que estreou como ator no Teatro de Santa Isabel e outros feitos, para depois defender que o Ministro da Educação, Mendonça Filho, está fazendo grandes ações pela educação e cultura. Vaia na certa. Fora Temer! e Golpistas! foram as palavras de ordem gritadas por uma parte da plateia.

Coube a Paulo de Castro arrematar com as palavras de que este ano tem eleição e teremos condições de eleger os nossos representantes. Será? Há muitos meses da campanha política já há apostas de quem será o próximo deputado federal mais votado. Então, será que já saímos da era das capitanias hereditárias?

HOMENAGEADOS

Nesse clima tenso foram convidados os homenageados desta edição Vanda e Renato Phalante, dois queridos atores pernambucanos, com uma trajetória ligada ao Teatro de Amadores de Pernambuco e que ostentam 40 anos de profissão. Eles receberam os aplausos e carinho do público, muitos de seus pares de palco. Palavras de afetos foram transmitidas em vídeo, inclusive as de Geninha da Rosa Borges. E também foram presenteados com um quadro pintado por Cleusson Vieira .

Vanda Phaelante. Foto: Wellington Dantas

Vanda Phaelante. Fotos: Wellington Dantas

Homenageados desta edição ganham quadro pintado por Cleusson Viana

Homenageados desta edição ganham quadro pintado por Cleusson Vieira

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Artistas discordam sobre uso de teatro pela polícia

Teatro Santa Isabel. Foto: Marcelo Lyra

Teatro de Santa Isabel. Foto: Marcelo Lyra

Quando a atriz e produtora Paula de Renor soltou um post no Facebook com a marcação de mais de 60 pessoas, pensei: Aí vem bomba. Virou o principal assunto do pessoal de teatro e das pessoas ligadas à cultura de Pernambuco nesta terça-feira. O Teatro de Santa Isabel foi cedido, na semana passada, para a festa dos 199 anos da Polícia Civil de Pernambuco. A reação da classe artística foi imediata e inundou de críticas as redes sociais quanto à postura da Prefeitura do Recife, em especial da Secretaria de Cultura do Recife e da titular da pasta, Leda Alves.

No decreto municipal de maio de 2006 está registrado que o palco do Teatro de Santa Isabel é exclusivamente dedicado a atividades de caráter cultural, “especialmente nas linguagens artísticas da música, do teatro, da dança e da ópera”.

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que o governo do estado ou a prefeitura do Recife, desta ou de gestões anteriores, utilizam (ou cedem) o teatro-monumento para ações que não pertencem ao campo artístico stricto sensu. A casa de espetáculos já abrigou ritual de nomeação de guardas municipais do efetivo que atua no trânsito do Recife, em 2012; Programa de Aceleração de Estudos de Pernambuco – Travessia e aniversário de empresa jornalística, entre outros eventos.

A cerimônia comemorativa da Polícia Civil contou com apresentação da Banda Sinfônica do Recife. E é neste ponto que a Secretaria de Cultura arma sua defesa. Em nota à imprensa explicou que a festividade “não desrespeitou o decreto, uma vez que a solenidade foi marcada pela apresentação da Banda Sinfônica do Recife. Sempre que houver uma apresentação artística é uma norma de ocupação de pauta no teatro”.

Entrega das medalhas pelo governador. foto: Foto: Roberto Pereira/ SEI

Entrega das medalhas pelo governador. Foto: Foto: Roberto Pereira/ SEI

O governador Paulo Câmara destacou no seu discurso “a integração entre as diferentes instituições que atuam no combate à violência”. Isso foi publicado na página da Secretaria da Casa Civil Pernambuco do dia 29 de abril. O evento ocorreu na quinta-feira (28/04), no Teatro de Santa Isabel, às 17h.

O gestor – que não é visto prestigiando as produções teatrais pernambucanas – comandou a entrega das Medalhas de Honra ao Mérito Policial – classe Ouro a pernambucanos que sua administração destaca na promoção da segurança pública. O estado condecorou 200 personalidades: figuras da sociedade civil, oficiais civis, militares bombeiros e polícia cientifica, entre eles o deputado federal que votou a favor do impedimento da presidenta Dilma Rousseff, Francisco Tadeu Barbosa de Alencar.

Reprodução do Facebook

Reprodução do Facebook

“Quinta (28/04) passada tomei um susto ao ver tanto policial civil na porta do teatro [de Santa Isabel]. Achei que alguma confusão estava se armando por ali. Fiquei sabendo, então, que era a comemoração do Aniversário da Polícia Civil com celebração dentro do teatro”
                  Paula de Renor – atriz e produtora cultural

O decreto que regulamento a ocupação do Santa Isabel tem como critérios (1) a excelência da qualidade artística da programação cultural a ser apresentada; e (2) a comprovação da trajetória dos eventos mencionados e/ou da equipe de criação do espetáculo, já testada e devidamente comprovada com base em filmes, crítica em jornais ou revistas, fotografias, CD’s DVD’s, etc.

Paula de Renor questionou em sua conta pessoal no Facebook.

“O Santa Isabel é o único que está funcionando AINDA bem: teatros do Parque e Barreto Júnior fechados, Apolo e Hermilo se ultimando, sem ar, sem equipamentos. Agora estão voltando as carteiradas que conhecemos muito bem, e a Secretaria de Cultura sob pressão, se obriga a ceder o nosso teatro monumento para eventos não culturais, desrespeitando o Decreto nº 21.924 de 2006, que trata exatamente da utilização do teatro, permitindo exclusivamente sua ocupação para eventos culturais?!

Desde quando niver da Polícia Civil é cultura? Só porque uma banda musical tocou no meio da cerimônia?! Se pautas estão sobrando, cedam para ocupação de espetáculos (não falta quem queira!)”.

Banda Sinfônica. Foto: Andrea Rego Barros

Banda Sinfônica. Foto: Andrea Rego Barros

DECRETO Nº 21.924 DE 10 DE MAIO DE 2006
EMENTA: Regulamenta a ocupação da pauta do Teatro Santa Isabel.
O PREFEITO DO RECIFE, no uso de suas atribuições constantes no Art. 54, IV, da Lei Orgânica do Recife,
CONSIDERANDO a necessidade de definir regras para ocupação da pauta do Teatro Santa Isabel;
CONSIDERANDO a importância do estabelecimento de critérios para a definição da programação do referido Teatro;
DECRETA:
Art. 1º A Pauta do palco do Teatro Santa Isabel deverá ser ocupada exclusivamente por atividades de caráter cultural, especialmente nas linguagens artísticas da música, do teatro, da dança e da ópera.
Art. 2º Além do observado no artigo anterior, deverão ser considerados os seguintes critérios:
I – Excelência da qualidade artística da programação cultural a ser apresentada;
II – Comprovação da trajetória dos eventos mencionados e/ou da equipe de criação do espetáculo no Art. 1º, já testada e devidamente comprovada com base em filmes, crítica em jornais ou revistas, fotografias, CD´S, DVD´s, etc;

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Foto: Marcelo Lyra

Repercussão

“Vergonha”, “absurdo”, “vamos compartilhar” foram as frases mais publicadas nas redes sociais. O sentimento de indignação vem na esteira de uma política cultural débil, que não prioriza a cultura como aposta na economia. Mas, ao mesmo tempo, esses gestores estaduais e municipais utilizam da imagem de um estado e de uma cidade de efervescência cultural para projetar suas gestões, mesmo não incentivando devidamente essas “minas de ouro”. É uma contradição.

“Falta respeito aos que fazem cultura. Ouvi uma vez do prefeito que iria trabalhar para os artistas daqui não precisarem ir embora da cidade… Estamos neste lugar e trabalhando aqui há anos e vamos continuar realizando, mesmo que ele ao invés de criar política pública, tire de nós o pouco que ainda temos!!!”
Mônica Lira Coreógrafa e bailarina, fundadora e diretora do Grupo Experimental, que integrou o Conselho de Cultura da Prefeitura da Cidade do Recife (2001-2003), e mais recentemente, ocupou o cargo de gerente de dança da Fundação de Cultura Cidade do Recife.

“Quando Diego Rocha, Presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, diz que “Cultura não é prioridade”, nós vamos para onde depois disso?”
Maria Paula Costa Rêgo Coreógrafa e bailarina, fundadora e diretora do Grupo Grial de Dança.

“Quando pedimos autorização à Prefeitura para fazer rodas de leitura voluntárias do meu livro Bichos Vermelhos, na Praça de Casa Forte, para uma escola pública estadual, só liberaram o asfalto. Fizemos na grama por teimosia. Já imaginou as crianças sentadas na pedra quente? Isso porque os livros foram doados, viu? É assim que tratam bens imateriais e patrimônios materiais”.
Lina Rosa Vieira Publicitária, diretora de criação da Aliança Comunicação e Cultura, escritora e idealizadora e diretora do Sesi Bonecos do Mundo.

“Isso é uma completa falta de respeito, de compromisso, de consideração com a população, com a comunidade. Infelizmente o poder público deveria se envergonhar cada vez que temos que passar por situações como essa. Infelizmente a classe artística, de pesquisa sofre com esse descaso”.
Fernando Tranquilino Professor

“É assustador como os politiqueiros desse feudo chamado Recife andam tratando os artistas e os equipamentos de cultura. Uma vergonha. Lamentável!!! Bora gritar!!!”
Waldomiro Ribeiro Produtor e diretor de teatro do Grupo Longânime, Ator e Professor de Música

“Absurdo! Tratam os espaços públicos como se fossem suas casas (da mãe Joana!) É preciso que tomemos uma atitude!”
Ana Elizabeth Japiá Mota Dramaturga, professora e diretora teatral

“É realmente um absurdo. Abram o teatro para à infância e juventude!”
Benedito Jose Pereira Ator e diretor de teatro, Tv, cinema e publicidade

“Temos que saber quais os meios pra entrar com uma denúncia formal contra a Prefeitura e a Secretaria de Cultura. Eles não podem agir nessa cara de pau e ficar por isso. Leda Alves, minha filha? Que porra é essa?”
Iara Campos Atriz e bailarina

“O Teatro de Santa Isabel é “para as linguagens artísticas da música, do teatro, da dança e da ópera”. Exigimos isso!”
Leidson Ferraz Jornalista, pesquisador, ator, diretor e professor

“Fazem o que querem como quem sabe que nada vai acontecer com eles. Se “nossos políticos” “cuidam” do bem público, quem cuida dos nossos políticos?”
Luiz Felipe Botelho Dramaturgo, Diretor de teatro e cinema, professor

“É uma vergonha a maneira como a cultura está sendo tratada em nosso Estado. A degradação total dos aparelhos públicos e a redução de incentivos é uma afronta a todos os artistas e produtores. Pernambuco tem se tornado uma verdadeira ditadura, com sua política cultural aos cacos e um Governo, nos parecendo, cada vez mais preocupado em restringir o direito de acesso à arte, artifício este de uso frequente em outros governos ditatoriais como maneira de subjugar uma população.”
Fabio Pascoal Diretor e produtor teatral.

“Creio que a falta de uma classe organizada em prol do Teatro e da cultura vai de encontro às propostas dos governantes que quase sempre são depreciativas ao teatro e à cultura… E ir de encontro aos governantes ninguém quer, nem sindicatos, nem produtoras, nem grupos… pois todos mamam nas tetas, seja leite tipo A ou leite azedo. Todos mamam!
Ninguém quer se indispor com os senhores gestores e perder uma pauta livre (leite azedo) ou um cargo comissionado (leite tipo A)… Melhor deixar pra lá e ir levando…
Os que falam são rotulados como loucos, faladores, polemizadores…
Tem um mói de gente que meteu a boca no trombone outrora é hoje, anos depois, viraram gestores de diversos escalões e vivem caladinhos… O que era errado antes consertou-se e tá tudo bem? É isso? Claro que não. Resumindo: não vejo previsão de uma classe unida e organizada. Cada um só defende o seu! E é o que inclusive vou fazer agora: O Mascate, A Pé Rapada e Os Forasteiros estreia nesta sexta no Espaço Cênicas e fica em temporada todas sextas e sábados sempre às 20h”
Diogenes D.Lima Ator e produtor teatral

“Engraçado que esta mesma polícia tem um Teatro só deles que não abrem pra ninguém, o Teatro do Derby. Boraaaa cair na real, políticos, vão ver as leis e ponham em prática. … Até porque outubro está chegando…”
Sharlene Esse Atriz, participou do Grupo Vivencial

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Trema! Festival de Teatro divulga programação

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

A importância de um festival de teatro não pode ser medida por sua duração ou pela quantidade de atrações. A proposta da curadoria, quando refletida na programação, é o que de fato mais importa. É nesse lugar que o Trema! Festival de Teatro se estabelece na capital pernambucana. Até então, o festival, que levava a assinatura do Magiluth, se voltava para o teatro de grupo. Agora, sob o comando da Trema! Plataforma de Teatro, tendo na coordenação Pedro Vilela, Mariana Rusu e Thiago Liberdade, a proposta foi ampliada, podendo incluir solos. Na realidade, a principal marca do festival continua: agregar montagens que tenham a pesquisa e a experimentação cênica como pressuposto.

Para fazer um breve retrospecto, pelo Trema!, já vimos no Recife o Teatro Kunyn, de São Paulo, a Cia Hiato, também de São Paulo, o Teatro Inominável, do Rio de Janeiro, o Grupo Espanca, de Belo Horizonte, o coletivo As Travestidas, de Fortaleza. São espetáculos de grupos que, com os seus trabalhos, têm muito a dizer sobre a realidade que vivemos e sobre os próprios procedimentos teatrais contemporâneos.

Nesta quarta edição, o Grupo Carmin, de Natal, abre a programação com a delicada Jacy, montagem de teatro-documentário que já foi vista em Garanhuns, no Festival de Inverno, mas ainda não havia chegado ao Recife. Jacy vem de uma recente temporada de sucesso no Rio de Janeiro, de uma passagem pelo Itaú Cultural (com lotação esgotada), em São Paulo, e começa agora a percorrer o Brasil pelo Palco Giratório.

De Belo Horizonte, o festival traz o grupo Primeira Campainha, com dois espetáculos do seu repertório: Isso é para Dor e Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões. Depois dos espetáculos, o grupo vai conversar sobre o processo criativo que norteou as montagens. A vinda da Primeira Campainha está sendo financiada pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014 em parceria com o festival.

O coletivo As Travestidas volta ao Recife com o mais recente espetáculo, Quem tem medo de travesti. A montagem faz parte da pesquisa continuada sobre o universo trans no Brasil. Recentemente, foi vista no Festival de Teatro de Curitiba. O coletivo também comanda a festa Cabaré das Travestidas, que vai acontecer no Roda Cultural, no Bairro do Recife. A festa promete improviso, dublagem, talk show e a participação de DJ´s.

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Por fim, uma das artistas mais interessantes da sua geração, Grace Passô, apresenta o solo Vaga carne. Depois de dez anos no Espanca, grupo que ajudou a fundar, Grace tem dirigido muitos espetáculos e participado de outros como atriz, como Krum, da Companhia Brasileira de Teatro. O solo Vaga carne, que tem direção, texto e atuação de Grace, integra o projeto Grãos da imagem, que reúne peças em torno de temas identitários.

Do Recife, a programação contará com as estreias de Retomada, do Grupo Totem, importante grupo de performance no cenário nacional, e pa(IDEIA), do Coletivo Grão Comum, um trabalho sobre Paulo Freire. Ainda estão na grade Soledad – A terra é fogo sob nossos pés (Confira a crítica), com Hilda Torres, e Vento Forte para Água e Sabão, musical para infância e juventude do Grupo Fiandeiros de Teatro, com texto de Giordano Castro e Amanda Torres.

Durante o festival, os produtores aproveitam para lançar a sexta edição da Trema! Revista, projeto que conta com o apoio do Funcultura.

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Os ingressos já estão à venda pela internet, através do site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

Tivemos uma importante conversa com Pedro Vilela, um dos produtores e idealizadores do festival. São questões sobre política cultural, resistência e permanência. Afinal, “a crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente”.

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

ENTREVISTA // PEDRO VILELA

De que maneira foi pensada a curadoria desta edição? Vocês falam, por exemplo, em (re)construção de paradigmas da nossa sociedade. Como isso se refletiu nos espetáculos escolhidos?

O teatro sempre será um espaço para enfrentamentos de ideias. Todo aquele que não se propõe a isto está fadado a ser apenas mais um mecanismo de reprodução da indústria cultural e da massificação de nosso povo. Ao pensar a curadoria do Trema! neste ano, procurei comungar trabalhos que em si carregam questões pertinentes para nosso tempo e que venham encontrando visibilidade no cenário artístico brasileiro. Poderíamos encher nossos palcos com obras de maior retorno financeiro para nós, organizadores, mas nosso compromisso ético com a ação faz com que estejamos muito atentos às reflexões que queremos propor. Ao assumir o tema (re)construção, estamos dispostos a percorrer um caminho duplo.

O primeiro está ligado à trajetória dos próprios organizadores, ao abandonarem antigos projetos artísticos na cidade e re-iniciarem novos percursos a partir da Trema! Plataforma de Teatro. (Re)construímos pois não achamos justo destruirmos algo que foi importante para nossa trajetória artística, ao passo que alimentamos o desejo por novos trajetos. O próprio nome do festival traz isto, este ano abandonamos o recorte exclusivo de “festival de teatro de grupo” e passarmos a ser apenas “Festival de Teatro”. Continuamos investindo na pesquisa de linguagem, mas ampliamos o olhar para artistas solos.

Em relação aos espetáculos, ao escolhermos espetáculos como os que compõem a programação, estamos nos propondo a reflexão em torno de temas como identidade, gênero, educação, tradição, ditadura, política, ou seja, pautas muito urgentes para nosso país. Acreditamos portanto que através do teatro podemos (re)construir nossa sociedade.

“Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola”

“Recife é a cidade dos festivais”. Essa frase é bastante dita quando discutimos a política cultural pernambucana, sem que a gente pare para avaliar de fato a importância de cada um dos festivais de artes cênicas da nossa cidade. No atual cenário, qual a importância do Trema!, tanto pra cidade quanto para os artistas? Porque insistir em fazer um festival, mesmo com a crise que assola os festivais no país todo?

Recife já foi a cidade dos festivais. Minha formação enquanto artista esteve muito ligada aos que aconteciam na nossa cidade. Esperava ansiosamente a cada ano e acompanhava absolutamente tudo. Os tempos são outros e o mais triste é perceber que retrocedemos. Já não temos o Palco Giratório, do SESC, e o Festival Recife virou um triste fantasma de anos anteriores, só para citar alguns. Os privados que teimam em resistir, a cada ano ou desistem pelo meio do caminho ou precisam fazer das tripas coração para serem executados. Isso é apenas uma breve demonstração do descaso do poder público para com as artes.

“Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha”.

É meio absurdo ter que nominar a importância desses eventos. Eles alimentam uma vasta cadeia produtiva, além de todas as questões simbólicas que suportam. O grande problema é que não conseguimos sermos vistos como utilidade pública, como elementos primordiais de construção da nossa sociedade. Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola. Mas se vivemos numa conjuntura que nem mesmo educação e saúde são ofertadas à população de maneira digna, o que podemos dizer das artes….

O Trema! resiste e insiste há quatro edições. Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha. A crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente.

Tentamos captação com diversas empresa do Estado e todas negaram recursos. Empresas inclusive que recentemente aportaram em nosso Estado com slogans ligados à cultura e ao desenvolvimento de nosso povo. O capital toma conta de nossos cidadãos, jogando-os num clico vicioso de consumo e onde apenas uma parte é beneficiada, o que vende.

Ninguém chega a Berlim, Paris ou qualquer lugar do mundo onde a produção artística é efervescente e fica deslegitimando a pluralidade que encontra. A única crítica que poderíamos fazer é quando invertemos o fomento às atividades continuadas e ficamos navegando exclusivamente em eventos passageiros. E isso sim é uma prática recorrente em nossa cidade. O que gastamos com decoração de Natal daria pra fomentar inúmeros festivais que possuem trajetória comprovada, por exemplo. Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar. O povo tá cansado de faz de conta. Educação é a única saída. Teatro, literatura, artes plásticas…. Isso sim muda um panorama.

“Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar”.

Qual o orçamento do Trema!? De onde vem o recurso? Qual o apoio, efetivamente, da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado?

O Trema! neste ano tem orçamento de R$ 60 mil. Algo muito abaixo do que precisaríamos para executar o festival. Às vezes fico com a sensação de sermos malabaristas em conseguirmos realizar a ação. Mas seria injusto de nossa parte levarmos todos os méritos. O festival só será possível graças a todas as parcerias criadas e principalmente pelo desejo que a classe artística de todo o país tem por sua realização. Os grupos locais receberão apenas as bilheterias, por exemplo; nos sentimos até envergonhados ao termos que propor isso. Os grupos de fora estão vindo com cachês muito abaixo do comumente praticado. Isso mostra a seriedade com que lidamos com o Festival ao longo dos últimos anos e também a união dos artistas nesta guerrilha. Poderia não querer responder a vocês sobre questões orçamentárias, mas acho importante para que as coisas comecem a ter seu devido valor. A Fundação de Cultura entrará com algo em torno de R$ 15 mil (recursos e serviços) e o Governo do Estado com R$ 20 mil (recursos e serviços). Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo! Pouco, não?! O restante são parcerias criadas e principalmente recursos nossos. Em todas as edições não ganhamos absolutamente nada para realizar o Festival, mas ao mesmo tempo não queremos ver o Festival morrer! O por quê de fazermos esta loucura? Fico me perguntando a todo momento. E não sabemos por quanto tempo conseguiremos.

Talvez este também seja o momento de (re) construirmos o elo perdido com o poder público. Talvez. O que nos resta é fazemos um apelo ao público do Recife para que estejam juntos conosco nesta batalha. A melhor maneira de contribuir neste momento é compartilhar o quanto puder nossa divulgação. Os tempos são outros e sabemos o quanto juntos podemos mudar este paradigma. Ao ocuparmos os teatros, estaremos mostrando a importância da ação e, ainda que simbolicamente, requisitando o que nos é de direito. Como bem postamos ao anunciar que iríamos fazer o festival: não é por nós, é pela cidade!

“Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo!”

Programação Trema! Festival de Teatro:

28/4
Jacy / Grupo Carmin (RN)
Teatro Apolo – 20h

29/4
Sobre dinosauros, galinhas e dragões / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti / Coletivo As Travestidas (CE)
Teatro Santa Isabel – 21h

30/4
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

FESTA: Cabaré das Travestidas / Coletivo As Travestidas (CE)
Roda cultural – a partir das 23h

01/5
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

03/5
Lançamento TREMA! Revista #6
Teatro Hermilo Borba Filho – a partir das 19h

pa(IDEIA) Pedagogia da autonomia / Coletivo Grão Comum (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra04/5

 

04/5

Retomada / Grupo Totem (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

05/5
Soledad, A terra é fogo sob nossos pés / Cria do Palco (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

06/5
GRÃOS DA IMAGEM: Vaga Carne / Grace Passô (MG)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

07/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

08/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

INGRESSOS:
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), com exceção do espetáculo Quem tem medo de travesti, com sessão no Teatro de Santa Isabel ao valor de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) e a festa Cabaré das Travestidas, com preço único de R$ 20.

Vendas antecipadas pelo site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

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