Arquivo da tag: Malú Bazán

Armadilhas da justiça
Crítica do espetáculo “A Pane”

Espetáculo tem texto do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt. Foto: Rogério Alves / Divulgação

Amo os bichxs de teatro! Os que têm essa arte no DNA e sua prática é tão essencial quanto respirar. Amo esses seres, tão fortes… tão frágeis, tão humanos. Uma constelação desses criadores está no espetáculo A Pane, do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921 — 1990), com direção de Malú Bazán. Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes e Roberto Ascar. Quatro deles veteranos dessa arte e todos inspiram e transpiram essa paixão. A peça parece uma ode ao teatro e à trajetória desses artistas.

Em temporada no Sesc Santana ainda neste domingo (foram só três dias), a montagem volta em 14 de janeiro de 2022, no Teatro Faap, até 20 de fevereiro.

A peça fala de responsabilidade ética, do exercício da justiça e de egos inflamados pelo poder, inclusive por parte de quem comete um “crime”.

A fábula é um intricado e inteligente quebra-cabeça. O Jaguar do representante comercial Alfredo Traps tem uma pane na estrada próxima a uma pequena cidade. Com os hotéis lotados, ele é hospedado pelo ex-juiz da cidade, que “aluga” quartos. Seu pagamento é participar de um jogo curioso. Quatro velhos amigos aposentados assumem suas antigas funções de juiz, promotor, advogado de defesa e carrasco.

Eles partem da premissa que todos nós cometemos algum tipo de delito ou crime secreto. Um ardil engenhoso do promotor com perguntas enreda Traps na morte de seu patrão, fato que gerou a ascensão social do caixeiro-viajante.

Bazán armou um tabuleiro onde as peças trafegam. Em meio a uma sucessão de vinhos de safras especiais, cada personagem expõe seus pontos de vista. O tom de suspense, com rasgos cômicos, faz associações com nossa malfadada realidade – os truques da justiça que colaboraram para atual situação política. É uma experiência kafkiana a do forasteiro, que nos faz pensar também como os registros de distopia mudaram de uns tempos para cá.

Os traços épicos do teatro de Dürrenmatt são acentuados pela direção. Há um humor duro envolvido nesse debate projetado no tecido do real. Uma solução engenhosa de Malú no enquadramento do puro teatro é a personagem do narrador/garçom – e ponto – para acudir eventualmente os octogenários juristas.

Nosso mundo repleto de imperfeições é trançado no palco entre brincadeiras de tribunal, e um questionamento feroz sobre conceitos de justiça e sistema de Justiça. “Uma história ainda possível”, como diz o autor.

A direção é de Malú Bazán. Foto: Rogério Alves / Divulgação

Ficha técnica:
Texto: Friedrich Dürrenmatt
Tradução: Diego Viana
Direção: Malú Bazán
Elenco: Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes,
Roberto Ascar
Concepção cenográfica: Anne Cerutti e Malú Bazán
Figurino: Anne Cerutti
Assistente de figurino e cenário: Adriana Barreto
Cenotécnico: Douglas Caldas
Desenho de luz: Wagner Pinto
Música original: Dan Maia
Operador de luz: Gabriel Greghi
Operador de som: Silney Marcondes
Contrarregra: Márcio Polli
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Visagismo: Dhiego Durso
Programador visual: Rafael Oliveira
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Assistente de produção: Rebeca Oliveira
Assistente de produção: Beatriz Nominato
Co-produção: Kavaná Produções
Produção e realização: Baccan Produções

Serciço:
# A Pane no Sesc Santana
Onde: Sesc Santana (Av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana, São Paulo)
Quando: De 10 a 12 de dezembro. Hoje, domingo, a apresentação é às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia-entrada)
Informações: (11) 2971-8700

# A Pane no Teatro Faap
Onde: Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo)
Quando: de 14 de janeiro a 20 de fevereiro de 2022; Sextas-feiras às 21h; sábados, às 20h; domingos, às 18h.
Ingressos: Sábados; R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada). Sextas e domingos; R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada), à venda na bilheteria do teatro e pelo site https://teatrofaap.showare.com.br/
Informações: 11 3662-7233 / 11 3662-7234

Postado com as tags: , , , , , , , ,

Poética da ferocidade
Crítica da peça Mulheres sonharam cavalos

Mulheres sonharam cavalos, com texto de Daniel Veronese. Fotos: Ivana Moura

Tradução da peça e direção são assinados por Malú Bazán .

Não existe amor em Mulheres sonharam cavalos. Nem compaixão. A rudeza das relações aproxima-se do animalesco e qualquer verniz só busca disfarçar a crueza do existir. Com texto de Daniel Veronese, traduzido e dirigido por Malú Bazán, o potente jogo cênico, dos corpos com partituras bem-marcadas e uma movimentação frenética, espelha com contundência o machismo, o sexismo, a injúria sexual, a dependência emocional e como ações do microcosmo se entrelaçam nas práticas ditatoriais de ontem e de hoje.

É pancada. Mas com todas as imagens da violência banalizadas e mais que isso, naturalizadas, seria preciso levar para cena outros procedimentos de apelo sensorial ou da memória imagética para escancarar o horror da ferocidade. Essa agressividade é trabalhada numa dimensão poderosa que vai do sussurro espectral, passando por relincho equino, ao pesadelo fantasmagórico.

A encenação está repleta de metáforas e reflete uma tenebrosa virulência cotidiana, vulgarizada na dinâmica de uma família de classe média. A peça parte de um acontecimento prosaico, o encontro entre três irmãos e suas companheiras para uma refeição na residência de um deles. O gatilho do conflito é o fechamento de uma empresa familiar, administrada por um deles.

Ranier (Bruno Perillo) anuncia, com desapreço, que sua companheira Ulrika (Rita Pisano) escreveu um roteiro de cinema. No projeto, a roteirista chama a atenção para a personagem fictícia que diz “lá fora há um desfile de policiais equestres sobre seus cavalos”.

Enquanto o elenco se desloca energeticamente pelo palco, os estímulos da cena inundam o imaginário da plateia com o autoritarismo que vai e volta na América Latina, de desejos inconfessáveis e livros de receitas sumidos, que mais parecem cemitérios ocultos das carcaças dos desaparecidos.

As atrizes Anna Toledo, Erica Montanheiro, Rita Pisano,

Nem tudo é dito explicitamente. Entre os quais, os mecanismos ditatoriais encobertos, como a prática de adotar crianças subtraídas de seus pais militantes. Lucera (Erica Montanheiro) suspeita ser uma dessas meninas que teve a infância e o histórico familiar apagados. Ela é casada com o irmão mais velho, Ivan (Gustavo Trestini). Há uma peleja de incomunicabilidade, equalizada com perspicácia pela encenação.

A peça fala de diferentes tipos de crueldade. No espaço privado, o homem desvencilha-se da fachada social e exibe o ser mais animalesco. A brutalidade, a “cavalice”, as patadas, as frases agressivas ganham proporção de barbárie no caso do irmão mais jovem, Roger (Haroldo Miklos) e Bettina (Anna Toledo), mais velha do que ele 20 anos. O embate entre os dois é uma sessão de tortura e submissão. A encenadora acentua esse aspecto constrangedor ampliando a escala desse confronto.

Malú Bazán é muito hábil ao expor esses quadros, onde a bestialidade é a linguagem da fala, seca e ríspida e os gestos beligerantes são obliterados ou deslocados causando mais impacto que a força-bruta realística. É abordagem dura da violência da sociedade.

Mulheres sonharam cavalos conduz por um novelo de cólera, ira, rancor alimentados durante muito tempo nos subterrâneos. É um trabalho difícil. Provoca uma dor especial. A direção aponta atalhos, mas sabota a expectativa da plateia.

 Lucera (Erica Montanheiro) e Ivan (Gustavo Trestini).

Parece que estou andando em círculos. Há saídas?!
Uma mulher aparentemente frágil. Ela esconde algo. Aliás, todos ali dissimulam. Há uma guerra no ar. A aparente mais frágil pode ser o elemento de vingança ou de reparação.
É preciso perfurar algumas camadas para entender isso.
Vamos por outro caminho, como um labirinto. Visualizar múltiplas portas. Elas podem traçar percursos bem distintos. Ou não…

Depois de anos engolindo ofensas, Lucera vomita: “Por que não você?
Existe apenas uma forma de violência? Existe um novo tipo de violência no ar. Obviamente, eu nunca mataria. Não sou o tipo de pessoa que faria”.

No filme estadunidense de ficção científica Minority Report, lançado em 2002, um departamento de polícia especializada chamado “Pré-Crime”, situado no ano de 2054, apreende criminosos com base no aviso prévio fornecido por três videntes chamados “precogs”. Estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg, o roteiro é baseado no conto homônimo de Philip K. Dick. No caso, paranormais conseguem visualizar antecipadamente quem praticará crimes e a pessoa identificada é punida antes de cometer o delito.

Esse desejo de controle já percorreu outras veredas pseudocientíficas.
Identificar e neutralizar um suposto criminoso – a determinação da personalidade criminosa – antes de praticar o fato já foi / é usado por meio de argumentos biológicos, neurocientíficos e estatísticos. Não deixa de ser uma pretensão totalitária.

No século XVI, o ocultista, astrólogo e alquimista italiano Giovanni Battista Della Porta investiu nos estudos da fisiognomia, para analisar a personalidade das pessoas a partir de traços da face humana e do desenho craniano. Seguindo a mesma trilha, o filósofo e teólogo suíço Johan Kaspar Lavater atestou, no século XVIII, que a propensão agressiva ou dissimulada estava na cara do indivíduo.

O médico alemão Franz Joseph Gall deu grande impulso a chamada frenologia, no início do século XIX. Pelo formato da cabeça seria possível identificar a tendência criminosa da criatura. Entusiasta da frenologia, o linguista e pedagogo espanhol Mariano Cubí Y Soler, defendia, em meados do século XIX, que seria possível detectar o crânio dos homicidas. Foi o médico, antropólogo e jurista Cesare Lombroso quem sistematizou e desenvolveu em detalhes as bases dos fenômenos criminológicos a partir de fatores biológicos.

A concepção de que existem seres humanos biologicamente inferiores foi propagandeada com status científico. O antropólogo e matemático inglês Francis Galton foi quem cunhou o termo eugenia e a ideia de formar uma raça superior foi assumida pelos seguidores de Galton. Sabemos no que isso deu.

Na pergunta de Lucera “Por que não você?”, Daniel Veronese potencializa a trajetória desses controles da pseudociência e também os rastros, os vestígios da colonização e suas consequências.

Mulheres sonharam cavalos. foto Ivana Moura

Há muitas pontas soltas na vida das figuras da peça. Essas lacunas, esses buracos, essas informações dadas a conta-gotas criam uma tensão do adiamento, um certo incômodo para montar os encaixes do tabuleiro. São materiais ricos para os atores trabalharem as vísceras das personagens. Cada atriz / ator elabora as qualidades de suas personagens humanas e suas relações desumanas

São muitos desejos ocultos. Elos quebrados. Com os diálogos, o lugar vai ficando cada vez mais claustrofóbico. O espaço alternativo em que é realizada essa primeira temporada, uma sala multiuso no bairro de Santa Cecília parece que vai diminuindo de tamanho quando o ar fica mais pesado, a densidade dramática vai crescendo.

Mulheres sonharam cavalos estreou em Buenos Aires em 2001 e ficou em cartaz até 2004. A revisitação à memória da ditadura na Argentina, na América Latina são temas recorrentes dos seus dramaturgos. Veronese diz que quando escreve precisa exorcizar algo. Talvez os criadores do teatro precisem exorcizar lugares sinistros.

Com direção de Ivan Sugahara e tradução de Letícia Isnard, Mulheres sonharam cavalos teve uma montagem no Rio de Janeiro, em 2011, com elenco formado por Analu Prestes, Elisa Pinheiro, Isaac Bernat, José Karini, Letícia Isnard e Saulo Rodrigues.

Mulheres sonharam cavalos tem elenco formado por Anna Toledo, Erica Montanheiro, Rita Pisano, Bruno Perillo, Gustavo Trestini e Haroldo Miklos.

Quem sofre a violência pode ser comparado a uma represa (aparentemente) controlada, mas que um dia poderá explodir. Bazán é sagaz no seu processo de extrair o quase blasé de algumas situações, para iluminar a raiz da perversão. As quebras, as pausas, a dosagem do grau de ferino dos diálogos abrilhantam o texto. A movimentação, a partitura dos corpos, a linguagem visual, a emoção do ator, as opções de ir na contramão dos procedimentos naturalísticos e a simultaneidade da cena compõem um mosaico duro para falar da nossa (des)humanidade com contundência. E um pouco de humor, cáustico, mas humor.

Como uma perita a diretora disseca aqueles sentimentos censurados e amorais, que estão contidos nas personagens. E é no teatro, nesse encontro ao vivo, que essas experiências estranhas e por vezes devastadoras são possíveis. Poética e crueldades se ajustam num abraço intrigante. Apesar de toda a violência, há um escape onírico.

Mulheres sonharam cavalos está em cartaz no “º Andar” (Rua Dr. Gabriel dos Santos, 30 – 2º andar, Santa Cecília, São Paulo) até segunda-feira, 6 de dezembro.

Ficha Técnica

Texto de Daniel Veronese.
Tradução e Direção de Malú Bazán.
Elenco: Anna Toledo, Erica Montanheiro, Rita Pisano, Bruno Perillo, Gustavo Trestini e Haroldo Miklos.
Trilha Sonora: Malú Bazán e Bruno Perillo.
Cenário e Figurinos: Anne Cerutti.
Desenho de Luz: Miló Martins.
Fotografia: Cassandra Mello.
Operação de Luz e Som: Guilherme Soares.
Assistência de Produção e Figurino: Marcelo Leão.
Produção: Anayan Moretto

Serviço

Mulheres Sonharam Cavalos
Temporada: de 13 de novembro a 06 de dezembro, de quinta a segunda, às 20h15
Local: º Andar. Rua Dr. Gabriel dos Santos, 30 – 2º andar, São Paulo – SP
Espaço localizado no segundo andar com acesso por escadas.
Duração: 80 minutos
Lugares: 20
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Ingresso: Gratuito – Retirados pelo Sympla
www.oandar.com
Instagram:@o.andar

Postado com as tags: , , , , , , , ,

É urgente entender as Histórias de Nossa América

Maria Bonita é ficcionalizada pela dramaturga Dione Carlos e ganha leitura com direção de Malú Bazán

O diálogo histórico, social e político das Crônicas de Nuestra América,- escrita por Augusto Boal quando exilado pelo regime militar brasileiro nos anos 1970 – com os dias de hoje são disparadores que acendem reflexões inadiáveis dos atuais processos políticos novamente conturbados com anúncios e atos da repressão. O texto funciona como bússola para o projeto Histórias de nossas Américas, do Coletivo Labirinto, núcleo de pesquisa e criação cênica de São Paulo, que investiga a relação dos sujeitos com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea.

Essas pequenas histórias da verve mordaz e bem-humorada de Boal foram escritas entre 1971 e 1976, no exílio forçado do dramaturgo em Buenos Aires, publicadas pelo jornal O PASQUIM, e lançadas em conjunto em 1977. Documento da época obscura das ditaduras, a escritura de Augusto Boal entra em diálogo com uma tendência do teatro contemporâneo de trazer a política do cotidiano para a arte. No programa Histórias de nossas Américas, do Labirinto, pulsa questões sobre as causas que desorientam pessoas e as conduzem a oprimir o outro e a si próprias.

Nesse conjunto de ações continuadas do Coletivo , o projeto Histórias de Nossa América inclui a montagem de dois espetáculos inéditos, a circulação de seu repertório por escolas públicas, um laboratório permanente de pesquisa aberto ao público, a criação e lançamento do site, a primeira edição da Revista impressa O Labirinto e um Ciclo de Leituras Encenadas de dramaturgia latino-americana. A programação começa nesta quarta-feira, 18/11, com a leitura interpretada de Bonita, texto de Dione Carlos, com direção de Malú Bazán, sobre a mulher mais famosa do Cangaço.

O Ciclo de Leituras destaca nove textos de nove países latino-americanos, escritos nos últimos 10 anos e que carregam relações entre os processos estéticos e políticos de cada região. São textos de autores do Uruguai, Peru, Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela, Equador, Cuba e Brasil, que traçam um breve retrato da produção dramatúrgica contemporânea na América Latina.

São 9 encontros semanais, em três fases (novembro, janeiro e fevereiro). Cada leitura dramatizada conta com uma direção diferente, potencializando essas dramaturgias em diálogo com a perspectiva estética dos encenadores convidados. Ao final de cada leitura, o Coletivo promove uma reflexão com o público sobre os dispositivos e procedimentos utilizados, temáticas e abordagens.

Os encontros ocorrem às quartas-feiras, às 20h, por uma plataforma de vídeo-chamada. A entrada é gratuita. Para participar, basta preencher breve inscrição (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScd_5haIRjAFwHDeMW1V43oVT6Pw2hZmD5M61A01Mz0-1jRdA/viewform), disponibilizada nas redes sociais do Coletivo Labirinto (@coletivo.labirinto) no início de cada semana de evento.

A realização desse Ciclo de Leituras Encenadas também envolve a tradução de oito textos teatrais de língua espanhola para a portuguesa, realizada pelos integrantes do Coletivo Labirinto, com revisão da encenadora e tradutora Malú Bazán. Essa compilação é a base para a formação de um acervo digital permanente, que será disponibilizado gratuitamente no site do Coletivo.

O projeto Histórias de Nossa América foi selecionado pela 35ª. Edição do Fomento ao Teatro Para a Cidade de São Paulo, que começa com o Ciclo De Leituras Encenadas e prevê para o primeiro semestre de 2021 a montagem do espetáculo Onde Vivem Os Bárbaros.

CICLO DE LEITURAS ENCENADAS – FASE 01 – NOVEMBRO DE 2020

18/11 – BONITA, de Dione Carlos – Brasil (2015); direção: Malú Bazán
A vida de Maria Bonita (1911-1938), sua relação com a sexualidade, a violência e o companheiro Lampião norteiam a trama e apresenta a participação das mulheres no Cangaço.

25/11 – EU QUIS GRITAR, de Tânia Cárdenas Paulsen – Colômbia (2017); direção: Érica Montanheiro
Nina e seu marido. A deterioração da relação do casal e a metamorfose de Nina, depois de  passar por zonas de extrema violência, ela vai se transformando em uma mulher que, pouco a pouco, devora seu esposo.

02/12 – A VIDA EXTRAORDINÁRIA, de Mariano Tenconi Blanco – Argentina (2018); direção: Lavínia Pannunzio
Aurora e Blanca são amigas de uma vida toda. Sem grandes conquistas, histórias trágicas ou aventuras inesquecíveis, Aurora é professora, tem um filho, um amante, um marido. E escreve poesia. Blanca é costureira, mora com a mãe, tem um namorado, depois outro, depois outro, sofre sempre. E também escreve poesia. 

CICLO DE LEITURAS ENCENADAS – FASE 02 – JANEIRO DE 2021

20/01 – IF – FESTEJAM A MENTIRA, de Gabriel Calderón – Uruguai (2018); direção: Carlos Canhameiro
Uma família perde o avô e terá dificuldades para lhe dar um enterro decente. Os sobreviventes, carregam a herança de erros e problemas não resolvidos, a acumulação histórica de tudo que é negativo e de tudo que é positivo.

27/01 – SOPA DE TARTARUGA, de Ana Melo – Venezuela (2017); direção: Rudifran Pompeu
Oito venezuelanos se encontram uma noite em um bistrô parisiense. Cada um deles personifica a Venezuela e a carrega como um casco de tartaruga. Mas algo que não esperavam acontece naquela noite. A obra é sobre a migração venezuelana e suas contradições, esperanças e frustrações.

03/02 – A REPÚBLICA ANÁLOGA, de Aristides Vargas – Equador (2010); direção: Dagoberto Feliz
Comédia que foca um grupo de intelectuais que, contrários à realidade que vivem em seu país, decidem formar uma nova república. Esse grande projeto será constantemente prejudicado por pequenos acidentes, entre cômicos e patéticos, que os farão enfrentar a realidade e as dificuldades para construir o país com o qual sempre sonharam.

CICLO DE LEITURAS ENCENADAS – FASE 03 – FEVEREIRO DE 2021

24/02 – SÊMEN, de Yunior García Aguilera – Cuba (2012); direção: Joana Dória
Parte do decálogo As 10 Pragas, a trama de Sêmen gira ao redor de uma família disfuncional – uma mãe que já não está mais, um pai anacrônico e duas filhas que veem o assassinato e a prostituição como formas para tentar sair do país. 

03/03 – LAPEL DUVIDE, de Vanessa Vizcarra – Peru (2017); direção: Rubens Velloso
Toda vez que olha para o vazio, Lapel sente vontade de se lançar. É sua condição de nascência. Ele não se sente atraído pela morte, mas pela queda. Ele busca evitar todos os acidentes, mas está cada vez mais difícil. Lapel vive em uma cidade sob um regime político autoritário, com a população insatisfeita, entretanto é difícil rebelar-se.

10/03 – VIENEN POR MI, de Claudia Rodriguez – Chile (2018); direção: Janaína Leite
Com o objetivo é incentivar a biografia de travestis, transgêneros e transexuais, fazendo disso uma ferramenta política para quem ainda não disse nada, a peça é fruto de um devir da artista transgênere Claudia Rodriguez. Vienen Por Mi é um texto de poesia e denúncia, que traz um convite para perturbar a autoridade vigente de forma rude e coreográfica. É um ensaio inesgotável entre arqueologia, maquiagem e filosofia travesti, para propor metáforas que produzem pontes entre imagens e textos de xamãs, deusas, virgens, santas e loucas, num único corpo. Com: Fábia Mirassos.

FICHA TÉCNICA – CICLO DE LEITURAS ENCENADAS – HISTÓRIAS DE NOSSA AMÉRICA

ELENCO: Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez, Fábia Mirassos, Jhonny Salaberg, Marina Vieira, Ton Ribeiro e Wallyson Mota
DIRETORES CONVIDADOS: Malú Bazan, Érica Montanheiro, Lavínia Pannunzio, Carlos Canhameiro, Rudifran Pompeu, Dagoberto Feliz, Joana Dória, Rubens Velloso e Janaína Leite
AUTORES: Dione Carlos (Brasil), Tânia Cárdenas Paulsen (Colômbia), Mariano Tenconi Blanco (Argentina), Gabriel Calderón (Uruguai), Ana Melo (Venezuela), Aristides Vargas (Equador), Yunior García Aguilera (Cuba), Vanessa Vizcarra (Peru) e Claudia Rodriguez (Chile).
TRADUÇÃO: Coletivo Labirinto e Malú Bazán

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Alice, a grandeza de Gertrudes na vida e na arte

Nicole Cordery em Alice – Retrato da Mulher que cozinha ao Fundo. Foto: Divulgação

A narrativa dominante insiste em traçar assimetrias micropolíticas de parceiros íntimos, principalmente quando trata de duplas, casais homoafetivos. As lésbicas Gertrude Stein (1874-1946) e Alice B. Toklas (1877-1967) são tratadas nesse grande painel triturador como protagonista e coadjuvante.

A casa na 27 Rue de Fleurus, de Stein / Toklas na efervescente Paris dos anos de 1920 e 1930 abrigava em reuniões e festas amigos como Ernest Hemingway, Guillaume Apollinaire, James Joyce, Pablo Picasso, Georges Braque, Henri Matisse, Jean Cocteau, Scott Fitzgerald, ainda jovens e desconhecidos, muitos outros artistas e críticos de arte, figuras que se tornariam a fina flor intelectual europeia do século 20.

Gertrudes escreveu em diversos gêneros literários – romances, contos, peças teatrais, novelas, conferências e ensaios, retratos, poemas, literatura infantil, histórias detetivescas e libretos de ópera. Entre eles The Making of Americans, a conferência Poesia e Gramática, o livro de contos Três Vidas, os dois infantis, The World is Round (O Mundo é Redondo) e To Do: a Book of Alphabets and Birthdays (Para Fazer: um Livro de Alfabetos e Aniversários).

Em A autobiografia de Alice B. Toklas, Stein traça uma engenhosa biografia de si mesma, em que a narradora do livro é Alice. Virou best-seller de lembranças daquela boemia parisiense e foi transformado no filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen.

Já Alice Toklas consta na história literária como a autora de apenas um livro de culinária, The Alice B. Toklas Cookbook.

Mas sua figura foi de máxima importância para a criação artística de sua parceira. Além de cozinhar, às vezes, nas badaladas reuniões, Toklas desempenhou o papel de primeira leitora, secretária, revisora, crítica, editora e organizadora da obra de Stein. Nos 20 anos após a morte da companheira, Alice cuidou da divulgação e preservação do trabalho de Gertrude.

O solo Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo narra a trajetória de Toklas e a relação das escritoras, enquanto compõe um panorama do século XX e da Segunda Guerra Mundial. Mas pelo olhar de Toklas. No espetáculo, Alice não é eclipsada por sua célebre amada.

Com atuação de Nicole Cordery, a peça tem direção de Malú Bazan e texto assinado por Marina Corazza.

A peça faz três apresentações no Teatro Décio de Almeida Prado nos dias 29, 30 e 31 de agosto. As apresentações fazem parte da programação do Mês da Visibilidade Lésbica, e contará com bate-papo após as sessões.

O monólogo aposta na fronteira entre a realidade e a ficção a partir de um embaralhamento entre as visões de Stein e Alice. Inspirado nos livros The Alice B. Toklias Cookbook e A Autobiografia de Alice B. Toklias, o monólogo traz uma dramaturgia fragmentada, assume diferentes tempos e espaços da vida das duas, através da narração de cartas, poesias e receitas culinárias de Alice.

Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo já cumpriu cinco temporadas em São Paulo, além de turnês por cidades da Argentina e de Portugal.

Malú, Nicole e Marina. Foto: Divulgação

SERVIÇO

Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo
Quando: 29, 30 e 31 de Agosto (quinta a sábado), 20h (quinta e sexta); 18h (sábado)
Onde: Teatro Décio de Almeida Prado – Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi, São Paulo (SP)
Ingresso: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia)
Duração: 60 minutos

Convidadas para bate-papos pós peça:

29/08
Convidada
Lauren Zeytounlian é antropóloga, marceneira e lésbica. Faz doutorado em Ciências Sociais, na área de Estudos de Gênero, na Unicamp. É membro do Numas – Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença, na USP. Desde de 2015 é mediadora do Clube de Leitura Companhia das Letras/Penquin/Numas que se encontra mensalmente
na Livraria Martins Fontes Paulista. Possui muitos interesses de pesquisa, mas, no momento, sobretudo em textos de mulheres em primeira pessoa, escritas feministas, ativismo e trabalho sexual.

30/08
Convidada
Carla Miguelote
é Doutora em Literatura Comparada (UFF) e Professora Adjunta do Departamento de Letras da UNIRIO, com diversos trabalhos publicados em anais de congresso, além de ensaios e artigos em livros e revistas especializadas. É também poeta – autora do livro de poemas Conforme minha médica (Confraria do vento, 2016)
– e documentarista – diretora de quatro curtas feministas: Amiga oculta (2017), qual imagem (2018), como se não víssemos a um palmo do olho a pinça do escorpião (2019) e esguicho (2019).

Mediação
Marina Corazza
é atriz, dramaturga e educadora. Graduada em Artes Cênicas (ECA/USP) e mestranda no Programa de Mudança Social e Participação Política (EACH/USPLeste). Foi co-fundadora e atriz da Companhia Auto-Retrato (2001 a 2015). Em 2015 formou com os atores Lucas George e Diego Gonçalves o Coletivo Concreto com objetivo de investigar a relação entre cantos de tradição e a ação no trabalho do ator. Seus últimos trabalhos como dramaturga são: Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo, Aproximando-se de A Fera na Selva (indicada ao Prêmio APCA de dramaturgia e direção) e Fóssil.

Postado com as tags: , , ,

Soledad faz passagem relâmpago por São Paulo

 

Hilda Torres no espetáculo Soledad

Hilda Torres no espetáculo Soledad, a Vida é Fogo Sob os Nossos Pés. Foto: Rick de Eça / Divulgação

Dignidade e coragem são palavras preciosas para à militante política paraguaia Soledad Barrett Viedma (1945-1973). Ela teve uma passagem luminosa pelo planeta Terra. Percurso de luta. Foi assassinada à traição pela ditadura militar brasileira, por emboscada do pai da criança que ela carregava no ventre.

Muito da vida dessa mulher, mãe, guerrilheira estão no monólogo Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés. O espetáculo faz duas apresentações especiais, nestes 13 e 14 de fevereiro, como parte da Circulação Nacional – Etapa São Paulo, no Galpão do Folias, às 20h. Na quarta-feira (13/02) , a militante Damaris Oliveira Lucena é homenageada pela produção do espetáculo. E também está agendado um breve debate.

Conhecer Soledad, reencontrar Soledad é um bálsamo, um estímulo de bravura para esses tempos tão covardes. Ela morreu pela liberdade. Muitos morreram. Sua vida foi confiscada pela ditadura militar do Brasil (1964-1985).

“O projeto contou, desde o início, com a ajuda de muitas pessoas, como ex-prisioneiros políticos, militantes da época que tiveram contato com Soledad, ou não, além de parentes e compatriotas paraguaios. Também recebeu o apoio de militantes contemporâneos, que entenderam a relevância do projeto como contribuição importante para diversas lutas sociais, como as de gênero, direitos humanos e a do entendimento da arte como instrumento de formação e empoderamento sociopolítico e cultural”,

Malú Bazán, encenadora

Foto: Flávia Gomes / Divulgação

A direção é assinada por Malú Bazán. Foto: Flávia Gomes / Divulgação

Em 2015, a atriz pernambucana Hilda Torres, a diretora argentina Malú Bazán e a própria filha da militante, Ñasaindy Barrett, se juntaram para montar o espetáculo Soledad – A terra é fogo sob nossos pés.

Desde 2015 viemos resistentes, expandindo os horizontes do amor, da luta e da entrega; ampliando o alcance do conhecimento do que foi o período das ditaduras em nossa América nas décadas de 1950, 1960, 1970,1980…Ao contar a história de uma mulher como Soledad Barrett Viedma, militante internacionalista, mulher, poetisa, companheira, mãe, filha; contamos também a história de muitos outros e muitas outras. Pessoas que se entregaram plenamente ao destino de serem símbolo de transformação do mundo pelo exemplo de vida. movidos pelo amor e pela esperança em uma sociedade mais justa e igualitária.

Malú Bazán – dramaturgista e diretora

Soledad viveu na Argentina, no Uruguai, em Cuba e no Brasil, fugindo das repressões. Ao ser sequestrada por um bando de neonazistas em Montevidéu, ela adotou a guerrilha. Ao se recusar dizer a frase “viva Hitler!”, ela foi marcada nas coxas com a suástica nazista. Em Cuba, onde aprendeu a luta armada, conheceu Zé Maria, pai de sua filha Ñasaindy. No Brasil se apaixonou por José Anselmo dos Santos.

Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés é a primeira encenação da vida da guerrilheira paraguaia  para palcos brasileiros. Ela foi caluniada como terrorista e ficou conhecida como a mulher do Cabo Anselmo, o policial infiltrado na guerrilha que entregou Soledad e mais cinco militantes contra à ditadura ao delegado Sérgio Fleury, em 1973. Eles foram executados no chamado “O massacre da granja São Bento”, em Abreu e Lima, Pernambuco. 

Nasceu com sua mãe e ela apenas, por isso Soledad – Solidão; criança que cresceu entre sons de bombas e brincadeiras, levando recados codificados em suas saias para dirigentes comunistas, indo visitar seu pai na cadeia, quando não, ele estava clandestino, presente pelos ideais, mas ausente na lida diária. Exilada com sua família com menos de 1 ano de idade. Com 16 anos, no Uruguai, no seu segundo exílio, começa a realizar apresentações de danças folclóricas em eventos solidários ao Paraguai. Sequestrada aos 17 por um grupo neonazista que marca com uma navalha o símbolo do nazismo. Vai pra URSS estudar teorias comunistas, em seguida vai para alguns países da América Latina na tentativa de invadir o Paraguai. Em 1967, vai para Cuba treinar para luta armada, casa-se e tem uma filha: Ñasaindy Barrett de Araújo, fruto do seu relacionamento com José Maria de Ferreira de Araújo. Em 1970, vem para o Brasil numa missão pela VPR; Mas aqui é entregue pelo “Cabo Anselmo”, até então o seu companheiro de quem estava grávida. Mulher, jovem, sonhadora, leal aos ideais, mãe, filha, companheira, dançarina, poetisa, militante aguerrida, dócil, serena, dedicada, destemida, empoderada… Soledad Barrett Viedma.

Hilda Torres – atriz

Soledad

Uma interpretação de fôlego da atriz Hilda Torres.

Soledad no Recife, livro do escritor pernambucano Urariano Mota, foi o ponto de partida do processo de encenação, em janeiro de 2015. A peça alumia pontos nebulosos da história do Brasil e acompanha Soledad Barret Viedma, desde seu nascimento, passando por vários países, até sua morte. O discurso é veemente.

Sozinha em cena, Hilda Torres acende o espírito da guerrilheira da Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR. O monólogo faz referências à uma série de entrevistas e pesquisa documental realizadas pela atriz e pela diretora, à publicação 68, a geração que queria mudar o mundo, compilação de relatos de uma centena de ex-militantes políticos, organizados e sistematizados por Eliete Ferrer, do grupo Os Amigos de 68. Além de consultas ao tijolaço da Comissão da Verdade e registros do Tortura Nunca Mais. E poemas de Marco Albertim e da artista plástica Ñasaindy de Araújo Barrett, filha de Soledad, que assina composições e empresta sua voz de cantora ao espetáculo.

A razão por que mando um sorriso e não corro, é que andei levando a vida quase morto. Quero fechar a ferida, quero estancar o sangue, e sepultar bem longe o que restou da camisa colorida que cobria minha dor. Meu amor, eu não esqueço, não se esqueça, por favor, que voltarei depressa, tão logo acabe a noite, tão logo este tempo passe, para beijar você’ “.

Para um amor no Recife, de Paulinho da Viola, que cantava na cadeia.

CONTRA À COVARDIA

A montagem se expressa generosa e caudalosa para recuperar a vida e a luta de uma mulher entregue à repressão pelo marido, numa farsa encenada pelo Estado de terror e traição no Recife da ditadura militar. A peça manifesta o poder da arte, de promover a reparação – pelo menos da imagem púbica – das violações a direitos fundamentais. Para reescrever a História e subverter a ordem do esquecimento.

O monólogo poético, que também faz alusões ao período atual da política brasileira, traça os conflitos como mulher, mãe, filha, militante perseguida. E recupera as facetas dessa musa política das esquerdas da América Latina.

Os episódios de dor são exibidos, num cenário de poucos elementos, com uma luz que convida para a intimidade dessa existência e na alternância da representação do trajeto de Soledad e a exploração do metateatro desvelado em seu processo de criação.

Soledad Barrett Viedma é um dos casos mais eloquentes da guerra suja da ditadura no Brasil. A peça é uma vitória pelo resgate da memória, da verdade e da justiça.

Urariano Mota, escritor

A encenação exalta os mitos e ritos ancestrais e evoca os povos originários. E incorpora esses dados na passagem do banho na água com os seios à mostra; na celebração de orixás como Nanã, do candomblé. E cenas fortes como das cruzes gamadas, as suásticas, riscadas a aço em suas pernas pelos militantes neonazistas.

Cabo Anselmo é apontado como um dos líderes do protesto dos marinheiros em 1964. Integrou o movimento de resistência à ditadura nos anos 1960 e, na década de 1970, atuou como colaborador do regime militar. A suspeita é que em todos os episódios ele atuava como um agente policial infiltrado.

Foi Anselmo quem entregou o esconderijo dos membros do VPR em Pernambuco, uma chácara no loteamento São Bento, no município de Paulista. Junto com outros companheiros, Eudaldo Gomes da Silva, Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José Manoel da Silva, estava Soledad.

Segundo a versão oficial, os militantes foram mortos numa troca de tiros na chácara. O jornalista Elio Gaspari, em A ditadura escancarada, classifica o episódio como “uma das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura”.

Uma coisa aprendi junto a Soledad: que deve-se empunhar o pranto, deixá-lo cantar. Outra coisa aprendi com Soledad: que a pátria não é um só lugar. Uma terceira coisa nos ensinou: que o que um não consiga, o farão dois”,

Da música Soledad Barret, do cantor, compositor e instrumentista uruguaio Daniel Viglietti.

Ficha técnica

Atriz e idealizadora: Hilda Torres
Direção: Malú Bazán
Dramaturgia: Hilda Torres e Malú Bazán
Pesquisa histórica: Hilda Torres, Márcio Santos e Malú Bazán
Pesquisa cênica: 
Hilda Torres e Malú Bazán
Concepção de cenário e figurino: 
Malú Bázan
Execução de cenário e figurino: 
Felipe Lopes e Maria José Lopes
Luz: 
Eron Villar
Operação de Luz: 
Eron Villar e Gabriel Félix
Direção musical: 
Lucas Notaro
Arte visual: 
Ñasaindy Lua
Produção: 
Hilda Torres, Márcio Santos e Malú Bazán
Produção executiva: 
Renato Barros
Produção geral: Márcio Santos
Realização: Cria do Palco
Fotografias: Rick de Eça

SERVIÇO

Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés – Circulação Nacional – Etapa São Paulo
Onde: teatro Galpão do Folias (Rua Ana Cintra (ao lado do metrô Santa Cecília)
Quando: 13 E 14 de fevereiro às 20h
Ingressos: Preços: R$ 30,00 (inteira);  R$ 15,00 (meia); R$ 10 (moradores da Santa Cecília com comprovante)
Informações e Reservas – Galpão do Folias: (11) 3361-2223
site de venda: https://www.eventbrite.com.br/e/soledad-a-terra-e-fogo-sob-…
Duração: 1h10
Classificação: 14 anos

Postado com as tags: , , , , ,