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Questão de sobrevivência emocional

Atores Samuel Lira e Jorge de Paula. Fotos: Zé Barbosa

Atores Samuel Lira e Jorge de Paula. Fotos: Zé Barbosa

A estreia da atriz Cira Ramos na função de encenadora merece ser aplaudida. Seu olhar sensível e delicado se faz presente nos pequenos detalhes do espetáculo Em Nome do Pai. A peça iniciou temporada no último sábado (25) para o público; na noite anterior(24), fez uma pré-estreia para convidados, no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Shopping RioMar, Zona Sul do Recife, onde fica em cartaz até o dia 31 de maio. A diretora trabalha como uma maestrina a harmonizar os instrumentos de que dispõe. Do elenco, mantém vivo o embate entre os personagens. E afina os talentos da equipe técnica, priorizando o jogo teatral.

O texto é do mineiro Alcione Araújo, uma referência do teatro brasileiro, autor de, entre outras peças, Há Vagas para Moças de Fino Trato, Doce Deleite, A Prima-Dona, Muitos Anos de Vida, Sob Neblina Use Luz Baixa e A Caravana da Ilusão, essa última montada no Recife anos atrás. Seus trabalhos se fincam em três eixos principais: as relações familiares, as questões sociais e políticas e a metalinguagem. Na peça Em nome do pai o confronto de gerações, os conflitos familiares e a sexualidade são explorados em cruzamento com a metalinguagem como um conduto de resolução dos problemas.

Escrita há mais de 20 anos, a peça aposta no bem querer como canal para superar as dificuldades de uma relação. O autor não escamoteia as fraturas do modelo familiar e mergulha no mar tempestuoso de emoções baratas e caras. Vai meio que na contramão dos padrões comportamentais que ficam na superfície e tem medo de pegar no nervo do sentimento.

O começo do texto, no entanto, é difícil de engrenar. Dois personagens que nunca tinham conversado de verdade: pai e filho. Após o enterro da mãe, elo de ligação entre eles, há uma necessidade de superar diferenças. Mas nesse início da peça, as falas clichês predominam, os devaneios com elucubrações mais rasas jorram de forma bastante infantil. A certa altura isso passa e aí sim o texto ganha um rumo poético no embate entre as duas figuras, suas revelações e lembranças.

O espetáculo ganha fôlego quando o filho resolve ir embora e o pai questiona a decisão. O humor refinado toma espaço na cena e o texto flui com elegância e força nas revelações corajosas e surpreendentes para ambos.

Peça mergulha nos contraditórios sentimentos de pai e filho

Peça mergulha nos contraditórios sentimentos de pai e filho

A encenação arquiteta a sombra da figura da mãe nos diálogos dos dois, que muitas vezes parece um fantasma a aterrorizar, mas também força a aproximação entre pai e filho. São caminhos sobre o viver e conviver com as diferenças, de onde brotam os afetos. Nessa comédia dramática, o enfoque existencial impõe momentos densos. Mas há espaço para o riso, como na cena em que o pai jornalista auxilia o filho a ensaiar uma peça.

O pai, interpretado por Jorge de Paula, é um escritor frustrado. O filho, defendido por Samuel Lira, é um estudante de teatro. As atuações ainda precisam ser equalizadas. O tom adotado por Jorge para demonstrar sofrimento pela perda da esposa soa falso e não convence. Sua interpretação desliza por várias gramaturas e cresce durante a encenação. Jorge de Paula é um ator potente e esses ajustes devem ser resolvidos durante a temporada.

Samuel Lira é uma grata surpresa para um papel tão denso. Ele está no elenco de alguns infantis e faz sua estreia em espetáculos adultos. O ator traz a revolta juvenil, um pouco da vingança contra o pai. Em torno da ausência da mãe, ele reflete o passado, trabalha bem as tensões do personagem e explora o dúbio o que nos oferece uma amostra da riqueza da convivência humana.

Os cenários de Marcondes Lima são especialmente criativos, com suas caixas que apontam para utilitários como sofás e malas, em designer arrebatador. Esses objetos-bagagens sugerem partidas (ou chegadas), com ou sem despedidas, e fazem uma conexão com a saída de cena da mulher da vida dos dois homens. A iluminação de Dado Soddi cria os climas, instala claustrofobias, promete libertações, controla o compasso, o ritmo da montagem, instala regiões de sombras e dá destaque até à monotonia de mútuas acusações do passado, que precisam ser superadas.

A trilha sonora, assinada por Fernando Lobo, funciona praticamente como um terceiro personagem. O saxofone provoca, acentua a teatralização das ações, marca os ciclos dessa DR, que vai da revolta, com discussões fervorosas, à reconciliação. O saxofone da trilha foi gravado pelo maestro Edson Rodrigues e o teclado por Fábio Valois.

E, nessa passagem ao tempo, entre picuinhas e ressentimentos a montagem aponta para algo mais luminoso, mesmo com as neuroses de cada um.

Serviço
Em nome do pai
Onde: Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Shopping RioMar)
Quando: De 25 de abril a 31 de maio, sextas e sábados, às 20h; domingos, às 19h. ( Não haverá sessão do espetáculo no feriado do dia 1º de maio. Não haverá venda de ingressos para as sessões dos dias 10, 17, 24 e 31 de maio, pois a peça será destinada à rede pública de ensino, ONGs e instituições sócio-educativas).
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), à venda na bilheteria do teatro
Informações: (81) 3256-7500 / 9157-5555
Classificação: 14 anos

Ficha técnica
Texto: Alcione Araújo
Encenação: Cira Ramos
Elenco: Jorge de Paula e Samuel Lira
Preparação de atores e assistência de direção: Sandra Possani
Direção de arte: Marcondes Lima
Trilha sonora e direção musical: Fernando Lobo
Músicos: Edson Rodrigues (sax) e Fábio Valois (teclado)
Preparação vocal: Leila Freitas
Desenho de luz e execução: Dado Soddi
Assistente e produção de figurino: Natascha Lux
Cenotécnicos: Hemerson Cavalcante e Henrique Celibi
Programação visual e registro fotográfico: Zé Barbosa
Produção executiva: Karla Martins e Alexandre Sampaio
Produção geral: Cira Ramos, Fernando Lobo e Ofir Figueiredo
Direção de produção e elaboração de projeto: Cira Ramos e Karla Martins (Decanter Articulações Culturais)
Realização: REC Produtores Associados

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Conto de fadas. Será mesmo?

De Íris ao arco-íris. Foto: Angélica Gouveia

De Íris ao arco-íris. Foto: Angélica Gouveia

Satisfeita, Yolanda? no Palco Giratório

Ah, se o mundo fosse um conto de fadas… Será que nem assim o final seria sempre feliz? Depende muito da lente que usamos para acompanhar o cotidiano, de como enxergamos o que nos acontece. De Íris ao arco-íris deve fazer com que, ao menos, possamos discutir com as crianças um tema que geralmente fazemos questão de banir das nossas vidas – em qualquer idade: a morte. A peça, encenação de Jorge de Paula, estreia hoje no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, às 16h, e tem nova sessão amanhã (19), no mesmo horário, dentro da programação do Palco Giratório.

O professor, ator e encenador Marco Camarotti (1947-2004) é, novamente, referência para o trabalho de Jorge de Paula. “Ele dizia que não há problema nenhum em tratar da morte ou de qualquer outro tema com as crianças. A morte faz parte da vida. Temos só que encontrar a melhor maneira de fazer isso”. Foi a partir de uma pergunta de Camarotti, aliás, que surgiu o texto, escrito por Jorge em 2000. “Fazíamos parte de um projeto de Camarotti, o Pátio da Fantasia, na UFPE. Esse grupo tinha como objetivo aprofundar os estudos sobre teatro para infância e juventude principalmente para crianças cegas, surdas ou com deficiência cognitiva. E fazia algumas perguntas, algumas provocações, para que, a partir daí, a gente pudesse criar. Lembro que ele perguntou sobre a razão de o arco-íris aparecer quando chove”, relembra.

Peça terá duas sessões no Marco Camarotti, dentro do Palco Giratório

Peça terá duas sessões no Marco Camarotti, dentro do Palco Giratório

Em 2006, o autor e a atriz Andrea Veruska tentaram levar o texto aos palcos, mas o projeto não foi aprovado. Agora, com o apoio do Funcultura e do Myriam Muniz, o texto saiu da gaveta e está servindo a vários desafios: além de tratar de um tema difícil, houve a opção pelo teatro de sombras, técnica de formas animadas. “Foi uma loucura aprender a manipular. Muitas vezes perdíamos a noção, já que manipulamos no retroprojetor e a imagem está em tamanho completamente diferente na tela”, explica a atriz Iara Campos, que faz questão de dizer que os atores não são manipuladores – estão realmente experimentando uma linguagem.

A peça lembra o cinema de animação; não tem falas e os atores usam um retroprojetor para contar uma história não necessariamente linear. “Tem soluções no texto que são non-sense mesmo. Queremos os olhares particulares de cada criança”, conta o diretor, que também está em cena.

No elenco, além de Jorge de Paula e Iara Campos, Andréa Veruska e Lucélia Albuquerque. Embora só essa última não seja da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, que daqui a pouco volta em cartaz com O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, no Teatro Arraial, a montagem é uma produção independente. “Simplesmente porque a ideia dessa peça nasceu muito antes da Trupe e não se encaixava na pesquisa do grupo, nas questões estéticas que discutimos, no que queremos tratar em conjunto”, esclarece Jorge de Paula.

Em De Íris ao arco-íris, os desenhos e silhuetas dos personagens, que guardam uma proximidade com as histórias em quadrinhos, foram idealizados pelo artista gráfico pernambucano Luciano Félix e colocados em prática pelo ator, diretor e cenógrafo Henrique Celibi. Cenário e figurinos são de Marcondes Lima; luz de Erom Villar; trilha sonora de Júlio Morais; e produção de Karla Martins.

Serviço:
De Íris ao arco-íris
Quando: hoje (18) e amanhã (19), às 16h
Onde: Teatro Marco Camarotti
Quanto: R$ 12 e R$ 6 (meia-entrada)

Montagem tem direção de Jorge de Paula

Montagem tem direção de Jorge de Paula

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Movendo o mundo

Daquilo que move o mundo estreia no Espaço Fiandeiros. Foto: Priscila Buhr

Kleber Lourenço, Tay Lopez e Jorge de Paula habitam uma ilha no espetáculo Daquilo que move o mundo, que estreia hoje, às 20h, no Espaço Fiandeiros. A direção e a dramaturgia são assinadas por Tiche Viana, uma das fundadoras do Barracão Teatro. Tiche é uma das responsáveis pela preparação de atores das minisséries assinadas pelo diretor Luis Fernando Carvalho, como A Pedro do Reino e Capitu.

Desde janeiro, a diretora assumiu o processo – que, na realidade, começou bem antes. Foram cinco anos pensando essa montagem, que agora tem o apoio da Eletrobrás, do Ministério da Cultura e do Programa de Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife.

Depois de fazer curta temporada no Recife – de hoje a 07 de outubro, quintas e sextas, às 20h, e sábados e domingos, às 18h, o grupo deve fazer temporada em São Paulo.

Ficha técnica:
Direção e encenação: Tiche Vianna (dramaturgia colaborativa)
Elenco: Jorge de Paula, Kleber Lourenço e Tay Lopez
Direção de arte: Luciano Pontes
Iluminação: Saulo Uchôa
Trilha sonora: Missionário José
Programação visual: Gabriel Azevedo
Produção executiva: Kleber Lourenço e Pedro de Castro
Realização: Visível Núcleo de Criação e P Castro Produções

Serviço:
Daquilo que move o mundo
Quando: Quinta e sexta-feira, às 20h; e sábados e domingos, às 18h. Até 07 de outubro
Onde: Espaço Fiandeiros – Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista.
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)
Informações: (81) 4141.2431
Lotação sujeita ao espaço da sala: 30 lugares

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Retrô 2011

Os artistas aguardaram: apoio, resultados dos editais atrasados, pagamento de fomentos. Como – ainda bem-diz a música de Marcelo Camelo (Casa pré-fabricada), “nessa espera, o mundo gira em linhas tortas”. Os caminhos não serem retos não é, definitivamente, ruim para a arte. Se o atraso no resultado do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) prejudicou a cena teatral pernambucana em 2011, serviu também ao propósito de mostrar que o teatro continua sendo uma arte de resistência; e que é possível sim levar ao palco produções de qualidade, a duras penas, mesmo sem incentivos oficiais. Para 2012, se as promessas e os prazos de editais forem realmente cumpridos, é bem provável que tenhamos um panorama de peças mais amplo, pelo menos em quantidade. Qualidade não foi o problema.

No Janeiro de Grandes Espetáculos, que começa na próxima quarta-feira, teremos pelo menos três estreias: Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, Caxuxa, da Duas Companhias, e O pássaro de papel, com direção de Moncho Rodriguez e produção de Pedro Portugal e Paulo de Castro. Para o Magiluth, que tem sete anos de atividades, 2011 foi um ano de aprimoramento e, mais ainda, de alargar as possibilidades criativas. Estrearam a peça O canto de Gregório, sem apoio estadual ou municipal, “o que não é um mérito, é porque fazer teatro é mais forte do que a gente, mas é muito difícil”, conta Pedro Wagner, que interpreta Gregório. Ainda participaram do projeto Rumos Itaú Cultural, que possibilitou, através de edital, intercâmbios entre grupos.

Magiluth vai estrear Aquilo que meu olhar guardou para você. Foto: Thaysa Zooby

O Magiluth trabalhou com o Teatro do Concreto, de Brasília. E daí surgiu o novo espetáculo, que tem direção de Luis Fernando Marques, do grupo paulista XIX de Teatro. O grupo passa por um momento limite. “Eles já não são um grupo ‘de novos’. E precisam se manter. Espero que eles consigam esse equilíbrio de produção. Além de ser artista, tem que ter estrutura de produção, gestão”, complementa o professor Luís Reis.
Caxuxa, outra estreia, é uma remontagem, uma adaptação do texto de João Falcão. “Foi uma ideia de Claudio Ferrario. Fizemos essa peça, um musical, há 20 anos”, conta Lívia Falcão, que fez parte do elenco de Divinas, ao lado de Fabiana Pirro e Odília Nunes, que estreou ano passado.

Luiza Fontes, Regina Medeiros e Sofia Abreu estão no elenco de O pássaro de papel. Foto: Pedro Portugal

Ao longo de 2012, outras produções estão previstas. Jorge de Paula, Thay Lopes e Kleber Lourenço devem trabalhar a partir de um texto de Luiz Felipe Botelho, com direção de Tiche Vianna, do Barracão Teatro, de Campinas. Rodrigo Dourado está na direção de Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases, que tem no elenco Fátima Pontes e Leidson Ferraz. A Cênicas Companhia de Repertório, que fez o infantil Plutf – O fantasminha, está em fase de pré-produção do espetáculo baseado na formação de clowns, e deve montar outro infantil.

Cinema é uma coprodução entre a Cia Clara e o Espaço Muda. Foto: Nilton Leal

Jorge Féo, do Espaço Muda, está trabalhando em parceria com Anderson Aníbal, da Cia Clara, no projeto Cinema, com estreia prevista para abril. A Fiandeiros deve abrir o seu espaço, na Boa Vista, para a realização de temporadas, planeja fazer o infantil Vento forte para água e sabão, e ainda vai lançar o Núcleo de Teatro Novelo, com alunos saídos dos cursos ministrados pela companhia. Breno Fittipaldi e Ana Dulce Pacheco devem estrear, em maio, Encontro Tchekhov, também sem incentivos.

– Colaborou Tatiana Meira

Alguns registros:

Carla Denise fez documentário sobre Hermilo Borba Filho

Leda Alves, viúva de Hermilo Borba Filho, acalenta o projeto de lançar um livro sobre a obra de Hermilo e o Teatro Popular do Nordeste (TPN). “Seria uma obra envolvendo vários pesquisadores”, conta. No último mês de dezembro, a dramaturga e jornalista Carla Denise lançou o DVD Coleção Teatro – Volume 3 – Hermilo Borba Filho, que além de entrevistas com atores, diretores, pessoas que conviveram com Hermilo, traz ainda uma entrevista antiga com o próprio diretor.

O livro TAP – Sua cena & sua sombra: O Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991), de Antonio Edson Cadengue, foi lançado em novembro. Esse regaste, fundamental para entender a trajetória do teatro em Pernambuco, está disponível em edição rica em detalhes e fotos. Outra publicação importante foi o livro Transgressão em 3 atos: Nos abismos do Vivencial, escrito por Alexandre Figueirôa, Stella Maris Saldanha e Cláudio Bezerra.

O Teatro Experimental de Arte de Caruaru comemora 50 anos em 2012 com muitos motivos para comemorar. Se neste ano o Festival de Teatro do Agreste (Feteag) não ocorreu por falta de apoio e recursos, a Câmara Municipal de Caruaru já aprovou, no mês de novembro, uma verba de R$ 100 mil para que a mostra seja realizada. O grupo deve ainda estrear O pagador de promessas e lançar um livro. Neste ano, pela primeira vez, o TEA participou do Festival de Curitiba.

A publicitária Lina Rosa Vieira está com a agenda lotada para 2012. Em junho, o Festival Internacional de Teatro de Objetos (Fito) será realizado em Belo Horizonte e deve passar por Florianópolis e Curitiba. Está quase certo que o Fito, que foi sucesso de público no Marco Zero, seja realizado aqui, em setembro, trazendo o espetáculo francês Transports Exceptionnels. Já está confirmado é que o Sesi Bonecos do Mundo virá a Pernambuco em novembro.

Lina Rosa Vieira deve trazer o Sesi Bonecos do Mundo e o Fito novamente ao Recife


Pé na estrada

O compromisso com o teatro de grupo está levando as produções pernambucanas para outras cercanias. Não são peças organizadas apenas para cumprir uma temporada, mas fruto da pesquisa, da investigação de uma linguagem e estéticas próprias de cada coletivo. O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, que estreou em 2010, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, rodou vários festivais do país e deve circular em 2012.

O grupo já está em fase de pesquisa para o novo projeto, que encerra a trilogia em homenagem ao diretor e professor Marco Camarotti. “Crescemos esteticamente. Começamos como um coletivo, mas não tínhamos organização de grupo, gestão. E conseguimos perceber o quanto isso é importante. Nós nos mobilizamos e conseguimos levar o público ao teatro”, conta o diretor Jorge de Paula.

Já o grupo O Poste Soluções Luminosas está comemorando a aprovação nos editais do Myriam Muniz e Procultura, que vão possibilitar que o espetáculo Cordel do amor sem fim, que estreou também em 2010 e passou por vários festivais, faça circulação por lugares cortados pelo Rio São Francisco. Nessas cidades, o grupo também fará formação e já deve começar a pesquisar sobre os jogos e brincadeiras das crianças do Nordeste e as africanas.

Circuito

Valmir Santos, curador deste ano do Festival Recife do Teatro Nacional, fez uma mostra ousada. Em vez de trazer grupos renomados, que de alguma forma sempre fazem parte do festival, como o Galpão e a Armazém Companhia de Teatro, optou por trazer peças que dificilmente viriam ao Recife, por conta da falta de apoio e das distâncias, e que compõem o repertório de alguns grupos com propostas e trabalhos estéticos interessantes. Vimos por aqui, por exemplo, duas montagens que depois foram premiadas pela Associação Paulista de Críticos de Arte: Luis Antonio – Gabriela, da Cia Munguzá, e O jardim (Cia Hiato).

O Jardim, da Cia Hiato, de São Paulo, emocionou o público. Foto: Ivana Moura

Ainda assim, os grupos tradicionais não deixaram de vir ao Recife. A Armazém trouxe o novo trabalho Antes da coisa toda começar; bem antes disso, Marieta Severo e Andrea Beltrão apresentaram, finalmente, a peça de Newton Moreno, com direção de Aderbal Freire-Filho, As centenárias; Marco Nanini trouxe sua premiada Pterodátilos; e Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Débora Evelyn vieram ao Recife com Deus da carnificina.

Para 2012, a produtora Denise Moraes já promete novas produções. Velha é a mãe, com Louise Cardoso e Ana Baird, e direção de João Fonseca, deve ser apresentada no Recife de 9 a 11 de março, no Teatro de Santa Isabel. Já de 11 a 13 de março, Denise Fraga encena Sem pensar, direção de Luiz Villaça.

Muitos planos, pouco tempo

Muitas promessas e projetos, mas um prazo apertado. Afinal, este ano é de eleição municipal. Só no último mês de agosto, o diretor de teatro Roberto Lúcio assumiu oficialmente a Gerência Operacional de Artes Cênicas da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, e agora a correria é grande para que os projetos possam sair do plano das ideias. No fim de novembro, a gerência fez uma reunião com a classe (João da Costa nem de longe tem a aprovação dos artistas, como ficou claro nesse encontro). Maria Clara Camarotti, gerente de serviço de teatro, apresentou um plano que contempla, entre muitas ações, um seminário de políticas públicas para as artes cênicas, o lançamento de edital específico para ensaios dos grupos nos equipamentos da prefeitura, a elaboração de uma proposta de criação de uma escola técnica (que será apresentado ao governo do estado), a realização do Mascate: Mercado das Artes Cênicas, ações formativas em gestão, produção e elaboração de projetos, e a realização do Fórum dos Teatros.

Perdemos

José Renato Pécora
Faleceu em maio, aos 85 anos. Fundador do Teatro de Arena de São Paulo e responsável pela peça Eles não usam black-tie, que marcou os anos 1950. Morreu após sessão de 12 homens e uma sentença, dirigida por Eduardo Tolentino.

No mês de agosto, perdemos Ítalo Rossi


Ítalo Rossi

Mais de 400 montagens e 50 anos de carreira estão no legado de Ítalo Rossi, que morreu aos 80 anos, em agosto. Nascido em Botucatu, em São Paulo, seu último personagem foi no humorístico Toma lá dá cá, da Globo.

Enéas Alvarez
Jornalista, crítico de teatro, ator do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), advogado, padre da Igreja Siriana Ortodoxa de Olinda, Enéas Alvarez morreu aos 64 anos, em 21 de novembro. Há 20 anos, sofria com problemas de saúde agravados pela obesidade.

Sérgio Britto
Considerado um mestre do teatro brasileiro, o ator e diretor Sérgio Britto faleceu no dia 17 de dezembro, de problemas cardiorrespiratórios. Tinha 88 anos e 60 anos de carreira. Atuou e dirigiu mais de 130 peças e apresentava na TV o programa Arte com Sérgio Britto.

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Auto de Natal com alma brasileira

Baile do menino Deus, no Marco Zero. Foto: Ivana Moura

A ópera popular de rua Baile do Menino Deus – Uma brincadeira de Natal, como define seu dramaturgo e diretor Ronaldo Correia de Brito, é um espetáculo que agrega manifestações nordestinas. Nesta peça Papai Noel não entra não é porque se tenha algo contra o bom velhinho. Mas aqui a história é contada de forma diferente. Estamos também em volta do nascimento de Jesus, e como todos sabem, existia uma ameaça de Herodes de exterminar as crianças menores de dois anos nascidas em Belém ou cercanias. Talvez por isso, os dois Mateus da peça levem tanto tempo para encontrar a casa da santa família e organizar o baile.

A temporada deste ano, na praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, começou na sexta-feira e terminou ontem, sempre o dia mais lotado. Mateus, multiplicado por dois – os atores Arilson Lopes e Sóstenes Vidal, comanda a brincadeira. Os dois convocam muitos personagens para ajudar a encontrar Jesus, José e Maria. Entre eles o Jaraguá, a Burrinha Zabilin, a Ciganinha e o Anjo Bom, a formosa Ciganinha, entre outros.

Montagem reúne quase 150 profissionais

Com 28 anos de estrada e oito anos no Marco Zero, o espetáculo escrito por Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima, ambos cearenses (o primeiro radicado no Recife e o segundo em São Paulo), e o potiguar radicado em Pernambuco, Antônio Madureira, trouxe algumas novidades.

Uma delas é a entrada dos atores Jorge de Paula e da também cantora Renata Rosa, que acompanham os protagonistas na empreitada de encontrar o menino e seus pais. Para contrapor à performance mais exteriorizada dos Mateus eles são investidos da carga poética de Arlequim, entre o terreno e o celestial. Esses dois personagens não têm fala e exercem a função de guia para mostrar o caminho da casa e da celebração. São aparições pontuais, mas bem exploradas e bonitas. Ele anda com um guarda-chuva e ela tira som de uma rabeca (que desafinou algumas vezes, devido ao vento, suponho).

A montagem reúne quase 150 profissionais, inclusive crianças. A assistência de direção é de Quiercles Santana, a direção de arte de Marcondes Lima, com um figurino rico de criatividade. A iluminação de Játhyles Miranda também acrescentou novos efeitos, como personagens luminosos – o Beija Flor e a Borboleta, por exemplo. A trilha sonora é executada ao vivo por uma orquestra de 15 instrumentistas, um coro adulto de 13 cantores (com preparação de José Renato Accioly) e infantil com 12 crianças (com preparação de Célia Oliveira), tudo sob a regência do maestro José Renato Accioly.

Além dos coros, a encenação conta com as participações dos cantores solistas Silvério Pessoa, a linda voz de Virgínia Cavalcanti, Jadiel Gomes e, estreando este ano, Renata Rosa, que também toca rabeca.

O entrosamento, a garrra, o talento e o domínio de palco da dupla Arilson Lopes e Sóstenes Vidal é para se aplaudir de pé. Esses dois Mateus comadam um grupo de crianças que tentam abrir a porta para celebrar o nascimento de Jesus. Sandra Rino e Tatto Medinni, interpretam com serenidade José e Maria.

Tatto Medinni e Sandra Rino

A coreografias também merecem destaque. E os dez bailarinos (Fláira Ferro, Isaac Souza, Inaê Silva, Jáflis Nascimento, José Valdomiro, Marcela Felipe, Renan Ferreira, Rennê Cabral, Gel Lima e Juliana Siqueira), em conjunto reforçam a alegria e a esperança desse baile.

A produção é da Relicário Produções, da produtora Carla Valença, com Patrocínio do Ministério da Cultura, governo do estado de Pernambuco e Prefeitura do Recife.

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