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Sinfonia de silêncios e palavras explosivas
Crítica de Apenas o Fim do Mundo

Bruno Parmera (Suzanne) e Pedro Wagner (Louis), em Apenas o fim do mundo. Foto: Ivana Moura

A proximidade do público cria uma intimidade desconfortável. Foto: Ivana Moura

Durante infindáveis cinco minutos (ou foram cinco horas ou cinco anos), um grupo de desconhecidos (ou quase) e eu, aguardamos pela chegada de Louis (ou Luiz, como queiram), o filho que partiu 12 ou 14 anos antes, e muito pouco ou quase nada enviou de notícias e afetos para a família. Essa espera pensativa aciona as memórias de cada pessoa, mas também de uma cidade, o Recife. Mesmo que o texto original seja francês, o corpo do Magiluth é recifense e isso transpira, ainda mais quando o site specific, o lugar da encenação, é o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), que fica na Rua da Aurora, de frente para o Rio Capibaribe, tendo como fundo a Rua do Sol. As portas abertas, os portões de ferro fechados, mas por onde vemos os carros passarem, ônibus e motos também deixam seus rastros nesse quadro. O registro acústico de fora contrasta com o silêncio cúmplice dos que velam. Ouvimos o fluxo do Capibaribe e sentimos a dramaturgia sonora inicial de uma cidade que quase se esquece do seu centro à noite, em contraste com a expectativa de uma plateia pela personagem, que vem anunciar sua morte próxima.

 A volta de Louis não segue o script do filho pródigo bíblico; talvez convoque outro mito, de Caim e Abel, em que as disputas e ciúmes ativam mágoas antigas. Antoine, o irmão do meio, que permaneceu “em casa”, não suporta imaginar a vida vibrante de Louis mundo afora, tão diferente da sua própria. Esse retorno desavisado acende sentimentos de ofensa, de inveja, algo aquebrantado, intensificando o conflito doméstico. Não há celebração nem abraços calorosos na chegada; vinga a mudez dos segredos de emoções íntimas e as palavras que quando surgem são explosiva ou devastadoras.

O francês Jean-Luc Lagarce escreveu Apenas o fim do mundo – uma obra de sutilezas e que verticaliza a pulsação humana – em 1990, período em que já estava ciente de seu diagnóstico de AIDS, uma condição que, na época, era praticamente uma sentença de morte. Ele continuou a refinar o texto até 1995, ano de sua morte aos 38 anos. Sua peça proporciona uma delicada e impiedosa reflexão sobre a finitude, algo inexorável, e joga desde o seu título (o desaparecimento de alguém não é o fim do mundo) com as ironias dessa experiência que é viver.

Almoço ou jantar em família. Foto Ivana Moura

A musicalidade e o ritmo singular do original francês são alimentados na tradução sensível de Giovana Soar, que articula em português as hesitações e repetições, as pausas e frases inacabadas, bem como o embaraço desses titubeios. Essa tradução captura a tempestade de emoções reprimidas e os rancores abafados, sustentados por anos de distância, criando assim uma verdadeira partitura verbal.

A direção de Giovana Soar e Luiz Fernando Marques (Lubi) transforma o texto desafiador de Lagarce em uma experiência teatral imersiva e sensorial que dura aproximadamente duas horas e meia. Como teatro site-specific, a dupla cria um labirinto emocional nos espaços apresentados que equivale à jornada interna das personagens.

No Mamam, o público – limitado a cerca de 60 pessoas por sessão – é convidado a seguir os atores por diferentes ambientes do museu, ajustado para a peça pela direção de arte de Guilherme Luigi e Lubi. A cada nova cena, somos confrontadas com outra faceta do drama familiar. Nessa cenografia dinâmica e reativa, objetos são desarrumados no decorrer da encenação, mesas se partem durante discussões acaloradas, criando um ambiente caótico que reflete o tumulto interno dessas figuras. 

A proximidade do público, nesse contexto, é uma escolha deliberada da direção. Essa estratégia visa criar uma intimidade desconfortável que espelha e intensifica a paleta de sentimentos de abandono e desemparo que cada personagem carrega. Ao reduzir a distância física, a produção busca envolver os espectadores de maneira mais intensa, permitindo que eles experimentem as emoções complexas e muitas vezes dolorosas que permeiam a narrativa. Essa proximidade favorece uma conexão emocional mais intensa, na qual cada gesto, expressão facial e nuance vocal dos atores são amplificados.

A iluminação apresenta momentos que oscilam entre tons amarelo-sépia, evocativos de lembranças empoeiradas, e azuis etéreos, que sugerem uma realidade quase onírica. A trilha sonora aprofunda o rasgo melancólico, com uma suspensão desse clima na performance rock da banda que se instala no meio da sala.

A banda de rock. Foto: Ivana Moura

Tive a oportunidade de assistir a esta obra teatral quatro vezes: duas no SESC Avenida Paulista, onde estreou em 2019, uma no Mamam no mesmo ano, e agora novamente em 2024, na temporada comemorativa. É gratificante observar o amadurecimento do Magiluth, pois, em termos artísticos, parece ser um processo sempre em construção. Com 20 anos de uma trajetória inspiradora, o grupo reafirma seu compromisso com a arte. Esta peça, tristemente bela, me faz pensar e sentir mais a cada sessão.

A discussão antes da despedida. Foto: Ivana Moura

Embora o texto de Lagarce tenha sido escrito no contexto da “epidemia do HIV/AIDS” no mundo, dos anos 1990, sua montagem no Brasil em 2019 pelo Magiluth (e sua continuação em 2024) ganha outras camadas de sentido no contexto sociopolítico atual. A menção à extinção do departamento de AIDS do Ministério da Saúde pelo governo Bolsonaro, citada no início do espetáculo, estabelece uma ponte entre o drama pessoal de Louis e questões mais amplas de saúde pública e política. Esta conexão sublinha a relevância contínua da obra de Lagarce e a habilidade do Grupo Magiluth em fazer pulsar o político no teatro.

 Catherine (Giordano Castro), encarada por Antoine (Mario Sergio), observado por Louis. Foto: Ivana Moura

Apenas o fim do mundo é uma peça que, perturbadoramente, fala de amor, de forma brutal, desenterrando o que ficou escondido, as recordações, mágoas, ressentimentos e culpas. É uma peça densa e triste, uma beleza melancólica que me toca profundamente.

A vivacidade do jogo físico, característica marcante do grupo, é transposta para o jogo de palavras. O percurso, o deslocamento e a apropriação dos ambientes do Mamam impõem sensações únicas. A conexão com o público está intimamente ligada à experiência de ocupar esses ambientes, potencializada pelo incômodo e desconforto do próprio deslocamento. A visão é fragmentada, variando conforme o ponto de observação.

Essa fragmentação do olhar da plateia projeta as perspectivas diferenciadas de cada personagem, motivadas pela partida de Louis. Assim como o público percebe a cena de maneira parcial, dependendo de sua localização, cada personagem também possui uma visão limitada e subjetiva dos eventos, influenciada por suas emoções e experiências pessoais.

Pedro Wagner no papel de Louis. Foto: Ivana Moura

Em Apenas o fim do mundo, o Grupo Magiluth cria um ensemble afinado. Pedro Wagner, no papel de Louis, entrega uma performance de contenção admirável. Há uma gravidade maior na maneira como Pedro Wagner mastiga aquelas palavras em silêncio, para depois cuspi-las. Sua atuação possui uma densidade mais intensa do que em 2019, quando a peça estreou. Naquele ano, estávamos todas assustadas com o pandemônio e sua gangue, que, alguns anos depois, começa a ser desmascarado. A eloquência de Louis é carregada pelo silêncio que pesa fisicamente sobre todos os presentes.

Interpretando a Mãe, Erivaldo Oliveira desafia as convenções de gênero com uma atuação que transmite fragilidade e empoderamento da matriarca. A personagem, única sem nome, conhece profundamente cada um de seus filhos. Sua tentativa de promover a harmonia entre eles é evidente, assim como seu esforço para garantir seu lugar na memória familiar, relembrando os domingos de verões passados nas conversas durante as refeições. Em uma cena delicada, ela explica a Louis que seus irmãos desejam falar e conversar, destacando a justeza de cada um que permaneceu e a necessidade de serem encorajados. O ator navega habilmente entre a aflição e o humor.

Suzanne, a irmã mais nova, é vivida por Bruno Parmera, que a interpreta com uma energia nervosa que beira o frenético. A prosódia do ator traduz a urgência da personagem em conhecer o mundo, na esperança de um dia poder explorá-lo como Louis fez anos antes, e também em expressar sua própria identidade. Seus movimentos são ágeis e entrecortados, refletindo essa inquietação interna. Quando Suzanne encontra o irmão mais velho, ela fala incessantemente, confessando que esse comportamento não é habitual. Essa dinâmica indica tanto sua admiração por Louis quanto seu desejo de se afirmar em um mundo que ainda está descobrindo.

Assumindo o personagem de Antoine, o irmão do meio, Mario Sergio Cabral entrega uma atuação impressionante, um verdadeiro tour de force, onde projeta suas emoções como um vulcão prestes a entrar em erupção. Descrito pela Mãe como um homem de pouca imaginação, Antoine surpreende ao revelar gradualmente seus sentimentos em relação ao irmão. É desconcertante e ao mesmo tempo envolvente observar como ele, com sua rudeza, fala de amor de maneira tão crua e sincera, tornando suas emoções quase palpáveis. Quando Antoine se permite chorar, o público inevitavelmente se comove, derretendo-se diante da vulnerabilidade que ele expõe.

No papel de Catherine, a cunhada, Giordano Castro, fornece uma perspectiva externa vital para a dinâmica familiar. Entre o riso e o escárnio, e sem a memória da infância por não ser parte integrante daquele núcleo desde sempre, o ator investe em pequenos gestos e sutis alterações vocais para expor verdades ditas a meia-voz, revelando as nuances das intimidades daquela família. Casada com Antoine, Catherine navega entre a vergonha dos pequenos escândalos, as explosões temperamentais do marido e a perturbadora presença de Louis, o cunhado cuja chegada abalou o tênue equilíbrio parental. Em meio a esse tumulto, ela se esforça para proteger Antoine, enquanto sugere que guarda cuidadosamente seus próprios segredos.

Mas nessa peça de tantos desafios há sobretudo um domínio impressionante da técnica. Da técnica interpretativa em que os atores, em alguns momentos, saem de suas personagens para cuidar da artesania dos bastidores, à medida que a casa vai se revelando e se distorcendo ao longo do espaço. Este espetáculo exige um rigoroso controle na administração da sequência das cenas. E o maestro dessa operação é o ator Lucas Torres, que atua como contrarregra, garantindo que toda a engrenagem funcione perfeitamente. Há uma camada metateatral, com Lucas Torres dando instruções no início da sessão, percorrendo todas as cenas e aparecendo como o baterista da banda na sala de jantar. Todo o elenco permanece atento ao andamento da encenação e aos seus detalhes, frequentemente oferecendo orientações à equipe de apoio.

A peça se desenrola como uma dança intricada em torno de um vazio central, com cada personagem orbitando em torno da verdade que Louis veio compartilhar, mas que nunca consegue expressar plenamente. Os movimentos se transformam em uma coreografia elaborada de aproximações e afastamentos, espelhando as tentativas frustradas de conexão entre eles. Não há redenção. Com Apenas o fim do mundo, o Magiluth nos incita a ampliar nossas perspectivas de afeto e a ter cuidado com os segredos e com as verdades que criamos.

Mãe conversa com o filho mais velho. Foto: Ivana Moura

Leia outras críticas de Apenas o fim do mundo,
a de Pollyanna Diniz Hello stranger
e outra de Ivana Moura Magiluth vasculha política nos laços afetivos

 

Apenas o fim do mundo
Ficha técnica:

Direção: Giovana Soar e Luiz Fernando Marques Lubi
Assistente de direção: Lucas Torres
Dramaturgia: Jean-Luc Lagarce
Tradução: Giovana Soar
Atores: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner
Técnico: Lucas Torres
Desenho de luz: Grupo Magiluth
Direção de arte: Guilherme Luigi e Luiz Fernando Marques Lubi
Design gráfico: Guilherme Luigi
Realização: Grupo Magiluth

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

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A máquina de fazer festas e… tiranos
Crítica do espetáculo Édipo REC

Jocasta (Nash Laila) coroa o DJ Édipo (Giordano Castro).Foto Camila Macedo / Divulgação

DESEJO DE SABER: Dançar até os pés ficarem inchados

Pompeia, SP, 28 de setembro de 2024. Dia seguinte à estreia do espetáculo Édipo REC, do Grupo Magiluth, do Recife

O desejo de poder é uma das forças motrizes das ações de Édipo, my love. Tem também o amor… um belo exercício de poder.

E a vida é decepcionante???

Mas será que somos gregas? A democracia foi forjada lá? E o teatro nasceu na Grécia? Gaguinho, personagem da atriz Odília Nunes em A Guará Vermelha, da Cia. do Tijolo, também contestou essa tese. O Corifeu de Édipo REC, na ressaca anos após a festa,  pondera que “já se fazia muito teatro em muitos lugares, nas mais variadas línguas, espalhados num território gigante e plural hoje singularizado na palavra África”.

Mas antes tem “a” festa e ela dura horas, muitas; anos, séculos. E como nos alimentamos desses estímulos de som, do banal ao mais potente, energia pura e outras pujanças de uma luz mágica de Jathyles Miranda que maneja as emoções, dessas que estão à flor da pele, mas busca o tutano.

Fazemos pose, se dói em algum ponto do corpo ninguém vai ver, até a queda final.

A música e o DJ, que será rei, as pequenas invejas e as grandes traições ocupam os espaços, se deslocam, traçam coreografias.

Na festa tão contagiante com suas drags provocadoras, adivinhadoras, somos levadas por tantas sensações e ambientes do poder macro ao micropoder. Do país Brasil, ao universo das nossas bolhas de tantas performances e multiplicações de imagens.

Mas afinal, do que você está falando?

De mim, bebê, pois cada uma fala de si e tenta valer sua narrativa, mesmo quando disfarça com os escudos da teoria.

Mário Sergio, no papel de Creonte, que ambiciosa ser o poderoso chefão. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Do fim da peça Édipo REC passando pelo  drink no templo da Pina Bo, das negociações da galera no Pompeu às tarefas prosaicas de limpar casa, preparar comida, e tentar elaborar algum pensamento sobre o 15º campeonato do Magiluth foram muitos tempos intercalados…. em apenas um dia.

Nem sabemos exatamente como chegamos naquele baile tão cheio de nuances, que o dono da sina só chega muitas poses depois.

Seguimos o Coro drag Erivaldo Oliveira e suas inflexões debochadas, seu modelito brilhante e botas de plataformas enormes.

Ainda na convivência, o clima se instala. Munido com sua máquina de captar imagens, Bruno Parmera de barba e boné (quase um disfarce) se projeta em Corifeu multiplicado por muitos clicks.

Creonte se apresenta ambíguo, quem é ele ?

Caímos na festa – o palco do Sesc Pompeia – com suas arquibancadas vazias e seu dancing lotado de espectadores/colaboradores que seguem o fluxo de Parmera, de Mário, de Erivaldo.

E são muitos climas de festa… a chegada de Pedro-Tirésias, num figurino deslumbrante, a dizer alguma verdade e celebrar outros teatros zecelsianos e muitos níveis de influências. A presença do Pedro Wagner traz uma liga, uma segurança, uma propriedade na cena; que o audiovisual permita que ele esteja muitas vezes no teatro. 

A atriz Nash Laila (Jocasta) na estreia, ao lado da diretora Cibele Forjaz. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Nash Laila como Jocasta. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Eu danço, tu danças, ela dança, nós dançamos, el_s dançam. E chega o “dono” da festa, o DJ Édipo (Giordano Castro), que conquistou sua Jocasta (Nash Laila) e apaziguou um país. Pelo menos por um tempo…

E que coisa mais linda a presença da atriz Nash Laila. Que coisa boa o Magiluth acolher uma intérprete depois de tantos anos sem a presença feminina no palco. Pareceu-me que o jogo ficou mais… delicioso. O que pode a atuação de uma mulher num elenco masculino? Muchas cosas, cariño. Inventa outras humanidades.

Enquanto dançamos, a máquina de fabricar “estados de felicidade” (que remete à peça Dinamarca) faz seu papel de explorar e questionar as imagens na sociedade contemporânea. A festança esconde, mas não anula com sua tecnologia, esse “clube” em crise existencial, aprisionado em ciclos de consumo, excessos que levam à sensação de vazio.

O jogo cênico com imagens gravadas e em tempo real promovem uma realidade nuançada e desafios interpretativos para quem observa ou se posiciona no palco. Muitas chaves são lançadas para quem busca significados. As ferramentas estão no ar.

 E como já pode ser considerado pré-histórico o costume de fotografar e partilhar vivências íntimas em álbuns de família discretamente… A narrativa visual da era digital é uma guerra extenuante e incessante de exposições públicas, cada qual “palestrando” sua saga no vasto anfiteatro digital da contemporaneidade.

O primeiro jorro / A primeira golfada, poucas horas depois da festa-peste saiu assim… Mas sem conectividade e com as memórias cheias dos meus equipamentos, o texto ficou grudado nas barreiras de saída…

Pedro Wagner- Tirésias em primeiro plano. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Desejo de saber: Pestes, enigmas, sinas.

SP, alguns dias após a estreia de Édipo REC

Traduzida como Édipo Rei em algumas versões (Mário da Gama Kury, Lilian Amadei Sais, Trajano Vieira e outros), e intitulada Édipo Tirano na edição publicada pela Todavia em 2017 (com tradução e comentários de Leonardo Antunes), a peça entrelaça incesto e patricídio. Esta, que é uma das mais renomadas tragédias gregas, foi escrita por Sófocles por volta de 429 a.C. e tem sido revisitada e recriada por artistas de diferentes épocas.

A obra explora a jornada de Édipo, rei de Tebas, em sua busca pela verdadeira identidade e pela solução do assassinato do antigo rei, Laio. A trama desvela gradualmente o terrível destino do protagonista, que, sem saber, matou seu pai e se casou com a própria mãe, cumprindo uma antiga profecia.

No artigo Édipo: a encruzilhada fatal, a psicanalista Maria Homem aponta que o texto dramatúrgico de Sófocles pode ser considerado o primeiro grande thriller ocidental, com várias reviravoltas, girando em torno de um crime central. “Quem matou Laio? Fio condutor do suspense. A essa camada se superpõe uma história de investigação de si mesmo, um processo – trágico – de desvelamento de si. O detalhe é que desde o início somos advertidos pelo cego que mais vê, Tirésias, de que o saber pode ser perigoso… [1]”

Édipo e Jocasta em sua festa. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Édipo REC, a 15ª montagem do grupo Magiluth reinterpreta a tragédia de Sófocles da perspectiva contemporânea e podemos pensar nos conceitos desenvolvidos por Jean Baudrillard, de que vivemos em um mundo de simulacros – cópias sem originais – onde a distinção entre realidade e representação se tornou borrada. Neste contexto, a “hiper-realidade” substitui a realidade “autêntica”, e os signos e símbolos se tornam mais reais do que aquilo que supostamente representam. Os indícios que nos guiam por esse caminho revelam-se na encenação, que enfatiza os processos de produção na tecnologia, mídia e cultura da imagem.

O espetáculo está dividido em dois atos: o primeiro é uma celebração exuberante que ecoa o excesso de estímulos visuais da nossa era; o segundo apresenta o desenrolar da tragédia inevitável.

O primeiro, com direito a esquenta-festa na temporada paulistana na área de convivência do Sesc Pompeia, começa enquanto o público aguarda para adentrar no teatro. Alguns personagens – Corifeu (Parmera), Coro (Erivaldo), Creonte (Mário Sérgio) e Mensageiro (Lucas) circulam. Os outros personagens só “aparecem” dentro do teatro.

O Coro-drag, equilibrado em suas plataformas e do alto da escada convoca: “Sejamos carnaval. Sejamos essa alegria devastadora embriagada…” para depois cravar “Vamos fazer dessa noite, a noite mais linda do mundo”, um refrão também da música A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), cantada por Odair José, que já faz um diálogo com outra canção popular inserida em Dinamarca, Quando Chegar o Amanhã, gravada por Leonardo Sullivan.

Neste trabalho comemorativo dos 20 anos de trajetória do Grupo Magiluth, a companhia realiza uma retrospectiva artística, tecendo habilmente elementos e temas de seus espetáculos anteriores na trama de Édipo REC. Esse processo de autorreflexão cênica está carregado de  referências sutis e explícitas a produções passadas. A dramaturgia expande as citações, abrangendo desde a mitologia grega até a cultura brasileira.

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Ainda no prólogo, o Coro-drag-Erivaldo, entre batidas de leque e toques de sarcasmo, afirma que ninguém poderá ser considerado feliz antes de ter vivido todos os dias até sua morte. Essa ideia constitui um dos pilares de qualquer versão de Édipo, sintetizando uma de suas reflexões mais profundas.

O Coro pergunta, responde, aconselha: “A vida é decepcionante? É decepcionante! Mas é isso que temos! Então finjam ter outra vida…”

O título Édipo REC reporta-se simultaneamente à cidade do Recife e ao ato de gravação (REC). Esta escolha expõe a combinação do mito clássico de Édipo com elementos contemporâneos da era digital, trazendo para a cena as pesquisas do diretor Luiz Fernando Marques – Lubi sobre as intersecções entre teatro e cinema. A obra esquadrinha o impacto da constante documentação e compartilhamento de nossas vidas nas redes sociais e outros meios digitais sobre nossa percepção da realidade e identidade.

Marques, em conjunto com o dramaturgo Giordano Castro e o elenco, desenvolve procedimentos cênicos que desafiam as convenções temporais e espaciais, criando um jogo complexo entre o passado mítico e o presente urbano. A não-linearidade cronológica da montagem aciona um dispositivo questionador da própria natureza do tempo no teatro e na vida.

A festa com o público no palco. Camila Macedo / Divulgação

O cenário transforma o palco em um ambiente frenético de celebração: luzes, fumaça, telões com projeção e música alta, envolvendo a plateia em uma experiência sensorial imersiva. Durante esse momento de “descontração”, muitas pequenas situações são expostas como o chamado para  dançar até os pés ficarem inchados, numa evocação ao nome Édipo ou quando o Coro faz menção a Édipo como elucidador de mistérios, homenageando a figura de Chico Science ao apontar que ele é aquele que fincou uma antena em meio às esculturas de lama e decifrou os enigmas.

A encenação de Édipo REC abraça e explora a noção de simulacro de maneira envolvente. A transformação do palco em uma boate com DJ e interação direta com o público cria uma hiper-realidade que engole tanto atores quanto espectadores. Esta reinterpretação encampa o poder avassalador da mídia e da cultura pop na formação das identidades. 

O uso de tecnologia audiovisual, com câmeras filmando e projetando cenas ao vivo, adiciona uma camada extra. Acompanhamos simultaneamente ao “real” e sua representação mediada. Esta dinâmica se estende à representação de Tebas como um “Recife-Pompéia fantasmagórico”, evocando uma ilusão de comunidade efêmera.

Em meio a esse fluxo, Édipo é coroado. Como diz um personagem: “Ele que é o próprio LSD – Luz, Som e Desejo!”

O jogo é intenso entre o elenco formado por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner, com a participação da atriz Nash Laila. Os personagens Corifeu, Coro, Édipo, Mensageiro, Tirésias, Creonte e Jocasta coexistem com figuras e dilemas contemporâneos.

O Corifeu convida o público a sair do teatro, sob o pretexto de que precisa filmar tudo novamente. Nesse segundo ato, enfrentamos a tragédia em sua essência. Tirésias, o sábio cego, reitera uma das frases mais lúcidas, belas e devastadoras da dramaturgia de todos os tempos: Nunca digas que uma pessoa foi feliz sem que tenha vivido o último dia de sua vida.

Vinte anos se passaram desde aquela grande festa, das juras de amor e da coroação de Édipo. O clima predominante é diametralmente oposto ao do primeiro ato. A peste se alastrou pela cidade, imperando o medo e a desconfiança. Tudo está à beira do abismo.

Essa tragédia festivo-pestilenta convoca para o teatro temas políticos e morais da nossa era. Questões éticas e suas consequências são abordadas, como o célebre episódio do fotógrafo que registrou a imagem de uma criança esquelética espreitada por um abutre. [2]

Parmera, o Corifeu, que capta as imagens. Foto: Camila Macedo / Divulgação

O Corifeu propondo a dancinha juntos na festa. Foto: Camila Macedo / Divulgação

As interrupções constantes do Corifeu (“Corta!”) e as mudanças abruptas de cena enfatizam a artificialidade da narrativa, tensionando qualquer noção de realidade coerente e unificada. 

A intensa interatividade e o uso extensivo de tecnologia podem, por vezes, obscurecer a fluidez e as questões filosóficas fundamentais da tragédia original. Há momentos em que o espetáculo corre o risco de priorizar o secundário. Já a apropriação da violência e do trauma levanta questões éticas sobre a estetização da barbárie no teatro. Um aspecto com muita possibilidade de discussão.

Embora por vezes corra o risco de se perder em seus  próprios labirintos, Édipo REC é um espetáculo tão provocador quanto potente em suas interpretações plurais e singulares. É a montagem que celebra os 20 anos do Grupo Magiluth, prosseguindo um trabalho de pesquisa importante de uma companhia que tem a coragem criativa para não deixar os clássicos intocáveis e mete a mão nessas obras para buscar a pulsação dos tempos atuais.

Lembrei de um espetáculo que assisti no Festival de Avignon, França, em 2023, que, embora não dialogue diretamente em temática com o trabalho do Magiluth, apresenta aproximações interessantes em dois aspectos: a celebração festiva e o uso inovador de recursos de projeção de imagem.

Extinction, dirigido por Julien Gosselin, apresenta-se como uma produção ambiciosa de cinco horas que desafia as convenções teatrais tradicionais. A peça inicia com um concerto de techno de uma hora, durante o qual cerveja flui gratuitamente e o público recebe convites para dançar.

Há uma radicalidade no uso de tecnologia visual em Extinction. Uma tela gigante exibe imagens em preto e branco, pontuando momentos de intensidade dramática. A transição para a representação principal é marcada por uma mudança na técnica de apresentação: os atores são vistos em parte na presença teatral e em imagens filmadas ao vivo e projetadas em preto e branco, com cinegrafistas invisíveis ao público. Baseado em textos de Thomas Bernhard, Arthur Schnitzler e Hugo von Hofmannsthal, o espetáculo explora temas complexos da sociedade vienense e suas reverberações. 

A alegria do primeiro ato. Foto: Camila Macedo/Divulgação.

A sisudez do segundo ato, quando Tirésias passa a real para Édipo. Foto: Camila Macedo / Divulgação

A dramaturgia de Giordano Castro e a cena de Lubi são ricas em intertextualidade, incorporando referências de filmes como Édipo Rex de Pasolini, Funeral das Rosas, de Matsumoto; Hiroshima, mon amour, de Alain  Resnais com roteiro da poeta Marguerite Duras. Além de filmagens num Recife soturno e desolado. Essas imagens, juntamente com outras, oferecem insights para significações e camadas que podem amplificar a recepção.

Há muito o que desenvolver sobre o diálogo entre o teatro e o cinema elaborado na montagem, especialmente a partir da questão lógica espectral e fantasmática dos que retornam da memória de outros tempos, bem como da sensação de solidão em meio a essa comunidade efêmera. No entanto, no momento, sinto-me exaurida. Registro apenas o desejo de retornar a esses assuntos e revisitar Édipo REC por outra perspectiva. Talvez depois de assistir ao espetáculo uma segunda vez, quem sabe.

O Édipo de Castro é arrogante, tirânico, que ostenta sua a húbris [3]; charmoso como alguns déspotas e meio infantil; reconhece por um lado seus traumas, mas ainda quer fazer valer o seu poder através de palavras e gestos, parecendo não entender que as “massas” abandonam os derrotados.

Por enquanto, encerro por aqui constatando que em Édipo REC o corpo assume a cidade numa pulsação alucinante. Levar a peça para a festa consagra o poder de ruptura com o tempo cotidiano, enquanto manifestação minúscula do encontro trágico na Antiguidade. E mesmo que não haja aqui o “incêndio das consciências”, na expressão de Roland Barthes, Édipo prossegue sendo o próprio enigma.

O Mensageiro (Lucas Torres), o amigo de Laio que testemunhou o assassinato. Foto: Camila Macedo / Divulgação

NOTAS

[1] HOMEM, Maria. Édipo: a encruzilhada fatal. In: SÓFOCLES. Édipo Tirano. São Paulo: Editora Todavia, 2017. E-book
[2] A fotografia “O abutre e a menina”, tirada por Kevin Carter em 1993 no Sudão, durante uma grave crise humanitária causada pela guerra civil, tornou-se um ícone do fotojornalismo e desencadeou um intenso debate ético. Carter acompanhava uma missão da ONU quando capturou a imagem de uma criança desnutrida com um abutre ao fundo. A foto, publicada no New York Times, ganhou o Prêmio Pulitzer em 1994, mas também gerou controvérsia sobre a ação do fotógrafo em não ajudar a criança. Carter enfrentou depressão devido às críticas e ao trauma de suas experiências, culminando em seu suicídio em 1994. Anos depois, descobriu-se que a criança era um menino chamado Kong Nyong, que sobreviveu à fome, mas faleceu adulto em 2006 devido a uma febre.
[3 A húbris ou hybris (em grego ὕβρις, “hýbris”) é um conceito grego que pode ser traduzido como “tudo que passa da medida; descomedimento” e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunçãoarrogância ou insolência (originalmente contra os deuses)… https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
 Na tragédia grega clássica, húbris era frequentemente uma deficiência fatal que causava a queda do herói trágico. Normalmente, o excesso de confiança levava o herói a tentar ultrapassar os limites das limitações humanas e assumir um status divino, e os deuses inevitavelmente humilhavam o ofensor com um lembrete agudo de sua mortalidade. https://www.merriam-webster.com/dictionary/hubris

Serviço:
Édipo REC
Quando: Até 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Dia 12/10, sábado, 17h. Dia 23/10, quartas, 20h
Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

Ficha técnica:
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

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Corpo estranho, lírico e político
Crítica do espetáculo E.L.A

E.L.A Foto: Guilherme Silva

E.L.A é primeiro solo da atriz cearense Jéssica Teixeira. Tem pouco a ver com o Ela (Her)¸ do diretor e roteirista Spike Jonze, que explora a relação de um homem que se apaixona pelo sistema operacional de uma máquina. O filme expõe a solidão contemporânea e novas configurações de relacionamento amoroso. Se pensarmos em esgotamento de modelos há sempre fios de conexão nas investigações artísticas atuais. Cito a obra cinematográfica por conta do nome da peça. O título do espetáculo remete à abreviatura de uma doença: Esclerose Lateral Amiotrófica – ELA.

Segundo informações em sites de saúde, trata-se da degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal. Isso quer dizer que esses neurônios não conseguem transmitir os impulsos nervosos de forma adequada. Essa degeneração provoca atrofia muscular, seguida de fraqueza muscular crescente. Também designada de Lou Gehrig, calcula-se que, no Brasil, 10 mil pessoas têm a doença.

Num mundo tão preconceituoso com os que não estão dentro de uma bolha hegemônica, vale destacar que Ela não atinge o raciocínio intelectual, a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato. E que, em grande parte dos casos, a esclerose lateral amiotrófica não afeta as funções sexual, intestinal e vesical.

O astrofísico britânico Stephen Hawking foi diagnosticado com a doença quando tinha 21 anos de idade. Mesmo sem poder movimentar o corpo ou falar durante a maior parte de sua vida, o cientista avançou em pesquisas na Física, com destaque para os trabalhos sobre as origens e estrutura do Universo, fundamentais para entender o papel dos buracos negros.

Atriz Jessica Teixeira. Foto: Carol Veras

Eu me tornei um ser indiscernível. Não pertenço a mim mesma”, registra uma fala do espetáculo. “Não queremos ver coisa alguma. Não queremos que as coisas nos vejam. Como Narciso, que recusa o espelho. Como Salomé, que decepa a própria cabeça”.

Ao tratar de assuntos relacionados diretamente ao corpo – beleza, saúde, política, feminilidade -, a artista envereda pela dinâmica da exclusão capitalista. É perversa e calculada essa eliminação de corpos que tem algumas miras prioritárias .

“Pudesse ser apenas um enigma. Mas não. O corpo faz problema. O corpo dá trabalho. Pode ser muitos. Pode ser, inclusive, o que não queremos. O corpo será sempre o que ele quiser? É social. É político. É tecnológico. É inconsciente. Pensamento. Desejo. Invisível. Invasor. O corpo se despedaça. É estrutura. É movimento. Mas, sobretudo, é estranho. Eu sou o outro e a outra. Teimo e re-existo. Ele se degenera e E.L.A se faz impossível”.

Texto de apresentação do espetáculo

Ao carregar episódios biográficos, a atriz traça em paralelo uma linha histórica desde o corpo da Grécia, encontrando as guerras mundiais e as ações mais recentes.

Jéssica fala sobre beleza, outras formas de beleza, jeitos de estar no mundo. Faz do seu corpo um ato político. Subverte lógicas. Convoca o protagonismo para si. Esquadrinha a ditadura do corpo bonito e funcional, aquele que não se encaixasse nessa régua seria exterminado.

A artista desafia a regra e assume sua diferença. A beleza da sua diferença exposta em cena para deslocar olhares contaminados. Jéssica convoca um olhar lírico para um lugar ético, onde os corpos importam em suas singularidades, sem hierarquizações de lutas contra as opressões.

O espetáculo não apresenta propriamente uma história. São fragmentos trançados por uma lógica de luta, em várias angulações e miragens. Com a utilização de vídeos e imagens em foto, a atriz cita, por exemplo, Josef Mengele – oficial alemão da Schutzstaffel (SS) e médico no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial – que liderou os procedimentos científicos em pessoas que aparentassem algum caractere de deficiência física ou psíquica, adotando o método da eutanásia.

Em seguida, projeta robôs com camisas da seleção canarinha a defender nas ruas o indefensável. Triste Brasil.

Sabemos que as técnicas de extermínio foram sofisticadas e até mesmo legalizadas com manobras do Judiciário, Legislativo e Executivo. Os golpes na economia – previdência, direitos trabalhistas, direitos à saúde; redução de acesso a educação,cultura, futuro, comprometimento das reservas naturais e atentados contra o meio ambiente são mecanismos de aniquilamento de corpos indesejados.

 

E.L.A . Foto: Carol Veras

No escuro, uma voz com ligeiro sotaque cearense mergulha na subjetividade de autoimagem e autocrítica para construir uma narrativa. A voz quer que entendamos o corpo, suas dores, limites e prazeres. Que haja um diálogo honesto com outros corpos.

São alguns minutos. De repente, o espetáculo dirigido por Diego Landin, explode num clarão, um branco chocante que de imediato irrita e machuca os olhos de quem vê. Esse choque gera uma sensação de desconforto. Jéssica também sente desconforto quando seu corpo singular, estranho, com o tronco reduzido – esse registro diferente do convencional – chega antes dela para dizer um oi.

Entremeando dados sobre uma possível história dos impositores da beleza, a atriz assume pose de diva pop, desafiando as convenções do olhar atua como ciborgue e vai desconstruindo uma estética. A protagonista acende que é o mesmo patamar de opressão de que são vítimas mulheres, nordestinos, pretos, indígenas, quilombolas, indivíduos com algum tipo de deficiência, periféricos e LGBTs.

O teatro é uma máquina muito poderosa. E.L.A tem um figurino-síntese da peça, criativo, delicado e agressivo, de Yuri Yamamoto, do Grupo Bagaceira de Teatro, que também assina a direção de arte. A iluminação, de Fábio Oliveira, com videomapping, contracena com a atriz. E os músicos Fernando Catatau e Artur Guidugli estão na composição da música Dancing Barefoot.

A montagem mescla momentos de ataque combativos e outros mais líricos, de uma história geral do corpo, às especificidades da trajetória de Jéssica. A artista é muito generosa ao desenhar como os poderosos elegem seus alvos de destruição, das ameaças de manda-chuvas e políticos à saúde do povo.

Com arte, energia, vigor Jéssica celebra a vida. É testemunha de que a vida é extraordinária em muitos aspectos. E comenta quão valioso é estar presente, com a possibilidade de se reinventar e, com muita criatividade, ativar os sentidos.

Ficha Técnica
Elenco: Jéssica Teixeira
Direção: Diego Landin
Diretor de arte: Yuri Yamamoto
Diretor de videomapping: Pedro Henrique
Consultora dramatúrgica: Maria Vitória
Figurinista: Yuri Yamamoto e Isac Bento
Coreógrafa: Andréia Pires
Vocal coach: Priscila Ribeiro
Escultor: Kazane
Trilha Sonora: Diego Landin (Dancing Barefoot por Fernando Catatau e Artur Guidugli)
Cenotécnico: Marsuelo Sales
Iluminador: Fábio Oliveira
Videoclipe: Gustavo Portela
Música do videoclipe: Saúde Mecânica de Edgar
Textos: Jéssica Teixeira, Vera Carvalho e fragmentos de Eliane Robert Moraes e Paul Beatriz Preciado
Produção: Jéssica Teixeira
Realização: Catástrofe Produções

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Encontro de crítica investiga estampidos do real

Espetáculo cubano Jacuzzi integra programação. Foto: Lázaro Wilson

Peça cubana Jacuzzi integra programa Crítica em Movimento, do Itaú Cultural, na Paulista. Foto: Lázaro Wilson

A Mulher Arrastada. foto: Regina Peduzzi Protskof

A Mulher Arrastada baseada em fato real ocorrido no Rio de Janeiro. Foto: Regina Peduzzi Protskof

A arte se alia ao presente para expandir forças de defesa da democracia e de combate à barbárie. Foi assim em outros tempos nublados no Brasil. Daquela época ficaram as obras e testemunhos de muita gente guerreira. A segunda edição do Crítica em Movimento traz as experiências de Augusto Boal e Plínio Marcos na pisada das ações das atrizes Walderez de Barros e Cecilia Boal.  Carrega os olhares de grupos e coletivos teatrais, a vivência do escritor Marcelino Freire, a atuação da crítica cubana Vivian Martínez Tabares. Durante nove dias o exercício da crítica ocupa o espaço do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, com depoimentos, debates, peças, leitura dramática e um show cênico. A programação ocorre de 26 de setembro (quarta-feira) a 7 de outubro (domingo).

Em que medida o momento sociopolítico influencia as obras e os seus desdobramentos poéticos? é um disparador de uma reflexão que deseja congregar espectador comum, estudantes, profissionais das artes cênicas, da crítica, gestores culturais e pensadores de outras áreas.

O crítico de teatro Valmir Santos, que assina a curadoria destaca que  esta segunda edição absorve o ponto de vista crítico dos artistas. “As obras partem de temáticas urgentes (violências de classe, racismo, misoginia, homofobia, entre outas). E as mesas aprofundam como esse material rente à realidade pode ganhar potência poética. O momento sociopolítico brasileiro atravessa a maioria dos trabalhos”, ressalta.

A mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura (26/09, 20h) inicia a programação com um debate do escritor Marcelino Freire e de Onisajé (Fernanda Julia), diretora fundadora do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas, na Bahia. Com mediação da encenadora, educadora e pesquisadora teatral Verônica Veloso, eles vão tratar da subjetividade que irrompe na manifestação artística carregada de realidades.

O crítico literário, professor e organizador da coleção Plínio Marcos: Obras Teatrais (Funarte, 2016) Alcir Pécora e a atriz Walderez de Barros conversam sobre A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”, na quinta-feira (27/09), às 16h. A mediação é de Valmir Santos. Apontado em algum momento como um autor maldito, Plínio Marcos (1935-1999), foi um dos primeiros a retratar homossexualidade, marginalidade, prostituição e violência com muita crueza em suas peças.

Uma versão de Navalha na Carne, peça de 1968 é apresentada ainda na quinta feira, às 20h. Em Navalha na Carne Negra, o diretor José Fernando Peixoto de Azevedo problematiza o corpo negro e os processos históricos de marginalização social, a partir dos três personagens da peça. A atriz Lucelia Sergio, da Cia Os Crespos (SP), e os atores Raphael Garcia, do Coletivo Negro (SP), e Rodrigo dos Santos, da Cia dos Comuns (RJ), se debatem em cena para questionar quem são esses “marginais” de Plínio Marcos, hoje?

Vivian, Stela e Cecilia participam da mesa

Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal participam da mesa sobre realidade latino-americana

A crítica e pesquisadora teatral, editora e professora cubana Vivian Martínez Tabares, que ministrou o curso Práticas e Tendências da Cena Latino-Americana Contemporânea semana passada na USP, a doutora em artes cênicas e coordenadora do Coletivo Rubro Obsceno Stela Fischer e a psicanalista e atriz que preside o Instituto Augusto Boal, Cecilia Boal integram a mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana

Como conjugar a singularidade estilística e o pensamento crítico da produção artística da América Latina é o mote desse encontro na sexta-feira (28/09), às 16h , mediado por Ilana Goldstein, antropóloga e professora do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Elas vão destacar que as criações artísticas nas mais variadas linguagens – literatura, música, cinema, teatro e artes visuais – têm destaque documental para esses países traumatizados por processos violentos de colonização europeia.

A montagem Jacuzzi, com o grupo cubano Trébol Teatro tem sessões agendadas para os dias dias 28 e 29 (sexta-feira e sábado). Dirigido por Yunior García Aguilera, o espetáculo expõe relatos contraditórios sobre Cuba. O casal Susy e Pepe faz uma festa para despedir-se de Roma e voltar a Havana. O único convidado é Alejandro, melhor amigo de Pepe e ex-namorado de Susy. Entre taças de vinho e a espuma da jacuzzi cada um defende suas posições políticas, sociais e emotivas.

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

A leitura dramática do 1º ato de Bixa Monstra presidenta, da Cia Humbalada de Teatro, ocorre também na sexta-feira, às 23h59. A peça tem influência do texto Gota Dágua, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mídia divulga que o presidente da república tem como amante uma “bicha” prostituta. Isso causa reboliço. O espetáculo, dirigido por Bru César, empreende uma uma crítica ácida, cômica e sentimental ao atual sistema político e ao que toca em questões de gênero e sexualidade. O elenco é formado por 10 atrizes e atores do Grajaú.

O ator, dramaturgo e diretor João Junior, do grupo Estopô Balaio, o diretor, ator e co-fundador da Trupe Olho da Rua, de Santos, Caio Pacheco e a coordenadora de pesquisa do Grupo Caixa de Imagens Mônica Simões vão analisar se projetos arrolados na comunidade criam pontes de cidadania. A mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/ comunitário ocorre no dia 29 (sábado), às 16h.

O diretor José Fernando Peixoto de Azevedo e o ator Rodrigo dos Santos são os convidados da 24ª edição do Encontro com o Espectador, ação em parceria do Teatrojornal – Leituras de Cena e o Itaú Cultural , no domingo (30/09), às 15h. O espetáculo Navalha na Carne Negra é tema do programa com  mediação do crítico Kil Abreu.

A Trupe Lona Preta apresenta O Circo Fubanguinho ainda no domingo, às 19h. Inspirado em charangas, farsas e bufonarias, o espetáculo dirigido por Sergio Carozzi e Joel Carozzi fala de dois palhaços demitidos e expulsos do picadeiro, mas que não medem esforços para voltar à ativa.

Segunda semana

A oficina de Teatro Aspectos Culturais/Religiosos de Matriz Africana para o Processo de Composição de Personagens (inscrições encerradas), ministrada por Hilton Cobra (interpretação), Ana Paula Bouzas (preparação corporal), Valéria Monã (dança afro) e Duda Fonseca (Capoeira) começa no dia 4 de outubro (quinta-feira), às 10h. A proposta é arquitetar com os participantes um repertório de possibilidades (gestuais, movimentos, sabores, paladares, cores, instintos, vestuários, sons, instrumentos etc), relacionados à cultura ancestral de matriz africana, que possam abastecer a criação e construção de personagens.

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar / Divulgação

Também na quinta-feira (04/10), é exibido o show cênico O Avesso do Claustro, às 20h com a Cia. do Tijolo, inspirado na vida e obra de Dom Helder Camara. Os personagens de O Avesso do Claustro (interpretados por Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante e Flávio Barollo, além dos músicos Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, William Guedes e Leandro Goulart) ousam imaginar novos horizontes para esses tempos tenebrosos. No território profano, utópico e poético do teatro se cozinha o alimento da esperança e tonifica o espírito para a batalha. A peça leva ao palco as ideias revolucionárias, as históricas lutas de resistência política durante o regime militar de Dom Helder e ergue uma espécie de vigília coletiva para os dias de hoje. Na ocasião o grupo lança o CD do espetáculo, com os textos e as música apresentadas em cena.
Escrevemos sobre O Avesso do Claustro em:
https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/dom-da-liberdade/
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2016/12/18/peca-sobre-dom-helder-camara
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2017/02/01/no-palco-com-dom-helder/

Sexta-feira (05/10), às 16h, o ator Hilton Cobra, a atriz Naruna Costa e o diretor Rogério Tarifa debatem sobre a Poéticas da Cena Engajada, com mediação do crítico Kil Abreu. O encontro busca abordar a delicada questão dos danos provocados pela sociedade levados à cena, sem estrago da função estética. Os motes sociopolíticos executados no panorama brasileiro contemporâneo, como questões de identidade e de gênero, além dos movimentos antirracismo e em defesa de etnias e pelo feminismo são disparadores dessas reflexões.

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

Em março de 2014, no Rio de Janeiro, Cláudia Silva Ferreira, uma mulher negra, auxiliar de serviços gerais de 38 anos, mãe de quatro filhos biológicos e quatro adotivos foi assassinada pela Polícia Militar ao sair de casa. Seu corpo foi atirado às pressas no camburão da viatura e arrastado ainda com vida pelo tráfego. A peça A Mulher Arrastada é baseada nesse caso real. A dramaturgia é de Diones Camargo, dirigida por Adriane Mottola. O espetáculo convoca a uma repercussão sobre as barbáries cotidianas que a população periférica do país é submetida diariamente e ao apagamento na cobertura jornalística do nome de Cláudia, substituído pela alcunha de “mulher arrastada”. Apresentação no dia 5 de outubro, às 20h.

O sujeito periférico e a luta por políticas públicas é o tema da última mesa desta edição do Crítica em Movimento, que ocorre no dia 6 (sábado), às 16h. Participam da conversa Esther Solano, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Tiaraju Pablo D’Andrea, cientista político e também professor da Unifesp, no Campus Zona Leste/Instituto das Cidades e Alfredo Manevy, gestor cultural e pesquisador em políticas públicas, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A mediação fica por conta de Carlos Gomes, ator e coordenador do Núcleo de Cênicas do Itaú Cultural.

Quando Quebra Queima é uma “dança-luta” coletiva, construída a partir das experiências de 14 estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em São Paulo. É uma montagem da ColetivA Ocupação dirigida por Martha Kiss Perrone. Encerra o programa Crítica em Movimento: Presente com apresentações nos dias 6 e 7 (sábado, às 20h e domingo, às 19h).

PROGRAMAÇÃO

DIA 26 DE SETEMBRO (QUARTA-FEIRA),20h

Mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura
Com Marcelino Freire e Onisajé. Mediação de Verônica Veloso.
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

Dia 27 de setembro (quinta-feira),

16h
Mesa A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”
Com Alcir Pécora e Walderez de Barros. Mediação de Valmir Santos
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Navalha na Carne Negra. Foto: Sergio Fernandes / Divulgação

20h
Espetáculo Navalha na Carne Negra
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 50 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Direção Geral e Dispositivo Cênico: José Fernando Peixoto de Azevedo
Atores: Lucelia Sergio, Raphael Garcia e Rodrigo dos Santos
Vídeo: Isabel Praxedes e Flávio Moraes
Iluminação: Denilson Marques
Direção de Arte: Criação Coletiva
Assessoria para o Trabalho Corporal: Tarina Quelho
Programação Visual: Rodrigo Kenan
Produção: corpo rastreado

DIA 28 DE SETEMBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana
Com Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal. Mediação de Ilana Goldstein
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Jacuzzi. Foto Lázaro Wilson / Divugação

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Elenco: Yunior García Aguilera, Víctor Garcés Rodríguez e Yanitza Serrano Garrido / Heidy Torres Padilla
Direção: Yunior García Aguilera
Produção e assistência de direção: Dayana Prieto Espinosa

Bixa Monstra Presidenta_foto Denise Eloy

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

23h59
Sessão maldita – Leitura dramática do 1º Ato: Bixa Monstra presidenta
Com Cia Humbalada de Teatro
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: 18 anos
FICHA TÉCNICA
Direção e Dramaturgia: Bru César
Elenco: Tatiana Monte, Eliane Weinfurter, Rafael Cristiano, Onika Bibiana Soares, Bru César, Paulo Henrique Sant`Anna, Paulo Araújo, Dan Silva, Carlos Lourenço e Samuel Sasso
Figurino: Alene Alves
Assistente de Figurino: Deni Chagas
Cenário: Caio Marinho
Direção Musical: Luciano Antonio Carvalho
Iluminação: Piu Dominó
Produção: Janaína Soares
Assistente de Produção: Amanda Andrade

DIA 29 DE SETEMBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/comunitário
Com João Junior, Caio Pacheco e Mônica Simões
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos

DIA 30 DE SETEMBRO (DOMINGO)

15h
Encontro com o Espectador
Com José Fernando Peixoto de Azevedo e Rodrigo dos Santos, sobre o espetáculo Navalha na Carne Negra. Mediação: Kil Abreu
Sala Vermelha (70 lugares)

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O Circo Fubanguinho. Foto: Lazerum / Easy-Resize.com / Divulgação

19h
Espetáculo O Circo Fubanguinho
Com Trupe Lona Preta
Sala Itaú cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Direção: Sergio Carozzi e Joel Carozzi
Elenco: Alexandre Matos, Elias Costa, Henrique Alonso, Joel Carozzi, Sergio Carozzi e Wellington Bernado.
Produção: Henrique Alonso, Dona Méris e Xisté Marçal

DIA 4 DE OUTUBRO (QUINTA-FEIRA)

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O Avesso do Claustro. Foto: Alécio César / Divulgação

20h
Show-espetáculo O Avesso do Claustro
Com Cia. do Tijolo
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Direção musical: William Guedes
Dramaturgia: Cia do Tijolo
Atores Cantores: Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Flávio Barollo, Rogério Tarifa e Fabiana Vasconcelos Barbosa
Músicos: Maurício Damasceno, William Guedes, Clara Kok Martins, Eva Figueiredo, Leandro Goulart, Felipe Chacon e Jonathan Silva
Figurinista: Silvana Marcondes
Criação de luz: Laiza Menegassi
Operação de som: Leandro Simões
Fotos de Alécio César
Design gráfico: Fábio Viana

DIA 5 DE OUTUBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa Poéticas da Cena Engajada
Com Hilton Cobra, Naruna Costa e Rogério Tarifa. Mediação de Kil Abreu.
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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A Mulher Arrastada. Foto: Regina Peduzzi Protskof / Divulgação

20h
Espetáculo A Mulher Arrastada
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  50 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Texto: Diones Camargo
Direção: Adriane Mottola
Elenco: Celina Alcântara e Pedro Nambuco
Trilha Sonora Original: Felipe Zancanaro
Iluminação: Ricardo Vivian
Cenografia: Isabel Ramil e Zoé Degani
Figurinos: criação coletiva
Fotos de Divulgação: Regina Peduzzi Protskof
Textos de divulgação / mídias digitais: Diones Camargo
Arte Gráfica: Jessica Barbosa
Produção estreia / temporadas: Diones Camargo e Regina Peduzzi Protskof
Produção circulação / festivais: Luísa Barros
Realização: Diones Camargo e LA PhOTO Galeria e Espaço Cultural
Apoio: Cia. Stravaganza e UTA – Usina do Trabalho do Ator

DIA 6 DE OUTUBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O sujeito periférico e a luta por políticas públicas
Com Esther Solano, Tiaraju Pablo D’Andrea e Alfredo Manevy. Mediação de Carlos Gomes
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Quando Quebra Queima. Foto: Mayra Azzi / Divulgação

20h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  100 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Criação e Performance: Abraão Santos, Alicia Esteves, Alvim Silva, André Dias de Oliveira, Ariane Fachinetto, Beatriz Camelo, Gabriela Fernandes, Heitor de Andrade, Ícaro Pio, Letícia Karen, Marcela Jesus, Matheus Maciel, Mayara Baptista e Mel Oliveira
Direção: Martha Kiss Perrone
Dramaturgia: Coletiva Ocupação
Vídeo: Martha Kiss Perrone, Alicia Esteves e Fernando Coster
Fotos durante a peça: Alicia Esteves
Figurino: Coletiva Ocupação / Lu Mugayar
Iluminação: Alessandra Domingues
Preparação Corporal: Martha Kiss Perrone/ Natália Mendonça
Produção: ColetivA Ocupação/Otávio Bontempo

DIA 7 DE OUTUBRO (DOMINGO)

19h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 100 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Toda a programação tem interpretação em Libras
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: 1 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência

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DocumentaCena ministra oficina na Mostra Capiba

Entre os dias 17 e 21 de outubro, a DocumentaCena – Plataforma de Crítica realiza a primeira ação na capital pernambucana: uma oficina de crítica teatral. Formada pelo site Horizonte da Cena (Belo Horizonte/MG), pelo blog Satisfeita, Yolanda? (Recife/PE) e pela revista eletrônica Questão de Crítica (Rio de Janeiro/RJ), a DocumentaCena é uma iniciativa de intercâmbio entre críticos, jornalistas e pesquisadores de teatro de diferentes estados do Brasil. Juntos, os profissionais dos três veículos já fizeram coberturas críticas, oficinas e debates em eventos como a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp, em 2014, 2015 e 2016), a II Bienal de Teatro da USP (2015) e o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto (2013), em Belo Horizonte.

O Ateliê de Crítica e Reflexão Teatral, que integra a programação formativa da Mostra Capiba de Teatro, realizada pelo Sesc Casa Amarela, será ministrado por Ivana Moura, do Satisfeita, Yolanda?, e Luciana Romagnolli, crítica, pesquisadora e jornalista, uma das idealizadoras e editoras do site Horizonte da Cena. A oficina é uma realização do Cena em Questão, da programação sistemáticas dos Núcleos de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas do Sesc Nacional.

Ivana Moura ministra Ateliê de crítica ao lado de Luciana Romagnolli. Foto: Guto Muniz

Ivana Moura ministra Ateliê de crítica ao lado de Luciana Romagnolli. Foto: Guto Muniz

Especialista em Literatura Dramática e Teatro (UTFPR), mestre em Artes (EBA-UFMG) e doutoranda em Artes Cênicas (ECA-USP), Luciana Romagnolli foi repórter nos jornais O Tempo (MG) e Gazeta do Povo (PR). Já Ivana Moura possui mestrado em Teoria da Literatura (Letras – UFPE) e especialização em Jornalismo e Crítica Cultural (UFPE). No Diario de Pernambuco, foi repórter e editora do caderno de Cultura entre os anos de 1989 e 2013.

Luciana Romagnolli é uma das idealizadoras e editoras do site Horizonte da Cena. Foto: Guto Muniz

Luciana Romagnolli é uma das idealizadoras e editoras do site Horizonte da Cena. Foto: Guto Muniz

As discussões no Ateliê pretendem contemplar apontamentos sobre a história da crítica de teatro no Brasil, a função da crítica, os problemas dos juízos de valor, a produção de subjetividade, além de questões bastante em voga no teatro contemporâneo, como o lugar do espectador. O lugar da crítica de teatro e o jornalismo cultural também devem ser abordados durante as aulas, que acontecem sempre das 14h às 18h, no Cineclube Coliseu, no Sesc Casa Amarela.

Os participantes da oficina terão a chance de discutir a produção cênica pernambucana e experimentar a prática da crítica, a partir da programação da Mostra Capiba, que vai de 14 a 22 de outubro. As inscrições para a oficina terminam nesta sexta-feira (14).

Confira também a matéria sobre a programação da Mostra Capiba.

Serviço:
Ateliê de Crítica e Reflexão Teatral, com Ivana Moura e Luciana Romagnolli
Quando: De 17 a 21 de outubro, das 14h às 18h
Onde: Cineclube Coliseu (Sesc Casa Amarela)
Quanto: Gratuito
Inscrições: Podem ser feitas até o dia 14, através do link: https://docs.google.com/forms/d/1383c1symrs2ByZrCFvMJdTqBVuBv6zxmEOxPEZAYnms/viewform?edit_requested=true

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