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CENA EXPANDIDA em Pernambuco
Iluminando os festivais de artes cênicas

Dançando Villa, da Curitiba Cia de Dança participou do Cena Cumplicidades. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Stabat Mater, um dos destaques da programação do FETEAG. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Leitura dramatizada do texto Planeta Tudo, (planeet Alles), no RESIDE FIT-PE. Em cena Iara Campos, Romualdo Freitas, Edjalma Freitas e Naruna Freitas e o viodeomaker Gabriel de Godoy, Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Cordel Estradeiro, Uma Viagem Impressionante ao Sertão, da Escola Municipal Maria De Lourdes Dubeux Dourado do Recife, em apresentação no FETED. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

ITAÊOTÁ, do Grupo Totem na programação do Transborda. Foto: Divulgação

Cinco festivais de artes cênicas de Pernambuco participaram de uma experiência inédita e promissora no estado chamada CENA EXPANDIDA. O Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena, de Arnaldo Siqueira; o FETEAG – Festival de Teatro do Agreste, de Fábio Pascoal; o FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança, de Pedro Portugal; o Transborda – As Linguagens da Cena, com curadoria de Ariele Mendes e equipe do Sesc-PE, e o RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco, de Paula de Renor, se juntaram numa ação conjunta no mês de setembro no intuito de produzir um bom impacto cultural nas cidades envolvidas (Recife e Caruaru)  e seus entornos, testar a força da união de seus realizadores e articular novas possibilidades de futuros a partir das atividades formativas e espetaculares propostas.  

A atriz, curadora e produtora Paula de Renor salienta que a CENA EXPANDIDA deste ano foi uma experiência, um teste, uma espécie de projeto-piloto, já provado em pequenas doses em 2018 e 2019. “Em 2022 fomos bem além! Unimos cinco festivais, ordenamos as programações, distribuindo-as nos teatros (o que acho foi o mais complicado, pelos poucos teatros que dispomos) e tentamos que programações dirigidas a um mesmo público não se chocassem em seus horários”. 

A CENA EXPANDIDA viabilizou uma aproximação e um diálogo mais ampliado entre os produtores dos festivais envolvidos, ressalta Ariele Mendes, do Transborda. O produtor, curador e professor Arnaldo Siqueira considera que foi um passo bem importante, “oxalá tenha continuidade e ampliação do apoio dos poderes públicos”. Fábio Pascoal, produtor e curador do FETEAG,  lembra que projetos como esse são importantes para o fortalecimento da rede produtiva e para ampliar público e o acesso.

“Essa prática tem sido uma constante com o FETEAG”, situa Pascoal, pois assegura que seu festival busca a cada edição construir novas parcerias e fortalecer as existentes. “Em 2013 fizemos uma edição partilhada com o TREMA!, em 2014 com a Mostra Capiba/SESC Casa Amarela e em 2017 com o TEMPO Festival/RJ, FIAC/BA e com a Bienal de Dança do Ceará. Acreditamos em parcerias”.

Ariele reforça o papel desse entrecruzamento. “Nesta rede que se estabeleceu, conseguimos vivenciar uma integração de maneira muito mais efetiva, o que possibilitou, por exemplo, a busca por soluções para imprevistos (eles sempre acontecem) que, normalmente, acarretariam um desgaste muito grande para a equipe de cada festival específico, mas que neste movimento, foi possível compartilhar e buscar apoio junto às lideranças de cada projeto, facilitando os processos”.

Já o Arnaldo Siqueira entende que a relação profissional e solidária dos/entre produtores foi incrível na CENA EXPANDIDA. “Apenas a título de exemplo, o próprio Cena Cumplicidades abriu mão de pautas/dias e horários para oportunizar que colegas de outros festivais pudessem pautar certos trabalhos”. Mas salienta que “de outra parte, o Cena Cumplicidades foi beneficiado com a força comunitária da articulação junto aos teatros e à FCCR (Fundação de Cultura Cidade do Recife).

Outro exemplo de cooperação citado por Siqueira foi a disponibilidade de Pedro Portugal, produtor do FETED e fotógrafo, que substituiu de pronto uma fotógrafa do Cumplicidades, que adoeceu de repente. “Tal comportamento demonstra o nível de entrosamento e colaboração, algo que põe por terra o mito do caranguejo na lata que puxa para baixo o que está subindo”, situa Arnaldo.

Pedro Portugal, mencionado por Siqueira, considera que a CENA EXPANDIDA trouxe benefício para o seu festival estudantil. “Por ser um festival mais ligado às escolas, uma coisa amadora, não é menor (*faz questão de frisar!), mas posso até dizer mais caseira, possibilitou mais visibilidade. Então nós ganhamos uma dimensão maior. Quanto mais estivermos juntos melhor”.

Paula de Renor. Foto Pedro Portugal

Paula de Renor, do RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco. Foto Pedro Portugal

Arnaldo Siqueira. Foto: Christina Rufatto

Arnaldo Siqueira, do Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena Foto: Christina Rufatto

Fábio Pascoal, do FETEAG – Festival de Teatro do Agreste. Foto: Reprodução do Facebook

Pedro Portugal, do FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança. Foto: Divulgação

Breno Fittipaldi, curador e produtor do Transborda Casa Amarela; Luiza Cordeiro, diretora-presidente do Centro Social Dom João Costa e Ariele Mendes, curadora e analista de artes cênicas do Sesc Pernambuco. Foto: Divulgação

Essa edição da CENA EXPANDIDA é só uma parte do que foi idealizado, conta Paula de Renor. “Essa ação de colaboração é mais ampliada, com a participação de mais festivais e uma divulgação potente e eficaz, com grupos de mediação em comunidades, nos teatros, mapeando públicos diversos e oferecendo um cardápio grande de atrações durante um mês em teatros e na rua”, arquiteta.

Mas como todos nós sabemos, as verbas são fundamentais para o bom andamento dos projetos. “Infelizmente sem dinheiro é muito difícil fazer qualquer festival, por menor que seja”, frisa Pedro Portugal. “Também tivemos muito pouco tempo para fazer uma coisa maior, uma cena expandida maior, com mais abrangência e divulgação”, diz ele. 

Paula de Renor fornece outros dados: “Trabalhamos dividindo recursos para pagamento de despesas de divulgação e algumas vezes potencializando ações com o compartilhamento de atrações, sem tirar a autonomia de cada festival”.

Ao ser perguntado o que pode ser melhorado na CENA EXPANDIDA, Arnaldo Siqueira foi bem suscinto: “Proatividade na relação com os entes públicos. E seletividade”. Paula de Renor reconhece que precisava de mais divulgação. A falta de patrocínio dificultou o que foi idealizado. “Conseguimos apoio da Prefeitura do Recife via Secult e FCCR, o que foi decisivo para darmos o ponta pé inicial e apresentar ao público nosso intensão, mas não chega perto dos valores de patrocínio que precisamos para que tenhamos investimento em uma coordenação de produção geral do projeto e divulgação em mídias espontâneas e pagas”, posiciona.

Fábio Pascoal diz que é necessário fazer uma “avaliação precisa do papel de cada festival dentro da rede, respeitando suas individualidades e programações”. Outro ponto que ele visualiza para as próximas edições é o compromisso das instituições parceiras, “que acreditam no potencial da iniciativa e possam apoiar financeiramente a proposta, tendo em vista que é uma iniciativa de produtores independentes, que deve ser reconhecida como tal”. Paula de Renor acrescenta: “Não buscamos captar verbas para cada festival que participe da CENA, esse não é nosso objetivo. Para isso cada festival luta individualmente na procura de recursos para sua realização. E justamente pela falta de verbas de patrocínio vários festivais deixaram de acontecer este ano”.

A experiência suscita diversas reflexões e inquietações que miram o futuro, na opinião de Ariele Mendes. “Entendo a CENA EXPANDIDA como um movimento, e desta forma, não a vejo iniciando ou se encerrando no mês de setembro. Ela precisa permanecer por todo ano, de maneira contínua e articulada, em diálogo com a classe, com as instituições, coletivizando junto a outros produtores, se colocando em atuação nas diversas esferas… A realização dos festivais é o momento de festa, da celebração… Mas para que eles possam acontecer, é necessário uma série de processos e conquistas, que só é possível quando se ocupa certos espaços nos debates contínuos da cultura, construindo pontes estruturadas, no dia a dia…” Ariele entende que “todos os produtores envolvidos já são muito atuantes nestes diálogos. Juntos, conseguiremos ainda mais força”.

“O que propomos”, evidencia Paula de Renor, “é que a CENA EXPANDIDA seja entendida como uma ação que, potencializada, pode entrar no calendário da cidade, movimentando o turismo cultural, atraindo público das cidades vizinhas”. Ela cita como exemplo a cidade de Edimburgo na Escócia. “Durante um mês, Edimburgo envolve uma quantidade enorme de festivais que acontecem simultaneamente e sua população de 500 mil habitantes chega a 1 milhão nesse período. A cidade vive deste turismo cultural. Essa é uma construção de muitos anos, mas se a gente não acreditar e não começar agora, nunca saberemos se em Recife poderá dar certo.
Estamos provocando e motivando Prefeitura e Governo do Estado para que percebam o que estamos oferecendo à cidade!”, alerta.

Se liga Recife!!!  Parodiando Carlos Pena Filho, é do sonho de mulheres como Paula de Renor que uma cidade se inventa.

Poeta Preto, da Trupe Veja Bem Meu Bem no FETEAG. Foto: Pedro Portugal Divulgação

Um Mero Deleite, da Nalini Cia de Dança (Go) , integrou a programação do Cumplicidades. Foto: Ivana Moura

Arnaldo Siqueira – Entrevista

Arnaldo Siqueira. Reprodução de tela do Youtube

Encaminhei perguntas para os representes dos cinco festivais no início da programação. Ariele Mendes respondeu pelo Transborda; Fábio Pascoal pelo seu FETEAG, Pedro Portugal pelo seu FETED, Paula de Renor deu um truque e Arnaldo Siqueira respondeu, agora já como balanço. 

Os números do Cena Cumplicidades chegaram a 23 trabalhos artísticos, em 40 apresentações de 3 Países (Portugal/Moçambique/Brasil), 6 estados da federação (PE/ RN /PB/ GO/ PR/ RJ), sendo de Pernambuco obras de Recife e Jaboatão dos Guararapes. Além disso o Cumplicidades teve como atividades complementares 5 workshops, uma residência artística de videodança (on line e presencial) e uma mostra de videodança. “Certamente não teria sido assim sem a articulação da CENA EXPANDIDA”, destaca.

Arnaldo, o Cumplicidades já levou espetáculos incríveis para os palcos de Pernambuco,
montagens internacionais ousadas, que contribuíram para a ampliação do olhar sobre a cena contemporânea. Pergunta: o que te motiva, o que te move a tocar o Cumplicidades? O que você busca com isso?
O que me motiva é fomentar as artes da cena, sobretudo a dança que, sendo uma arte da juventude, como tal, necessita de doses regulares de informações artísticas. Num mundo de acessos fáceis e reprodutibilidade, onde a cópia deu lugar à reprodução do original, sendo ela
mesma um (outro) original. Acredito que as artes do corpo, e a dança em especial, é a joia rara que só se capta na presencialidade (por isso joia, e também rara). Não há meio termo possível (a tela não dá conta disso), é preciso que súbito se tenha a impressão de ver e sentir algo que só naquele momento de presencialidade foi possível. E que um rosto adquira de vez em quando uma expressão só encontrável no orgasmo. É preciso que tudo isso que está na cena seja sem ser, mas que desabroche no olhar do espectador. E se plasme no encontro com o inesperado.

Qual a posição do seu festival no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo?
O festival enfoca as artes da cena com atenção à singularidade da dança, do corpo e da performance. Desde 2008 o festival cultiva a experimentação de linguagem, a formação de plateias no Recife (que já foi um dos centros das artes cênicas), mas também se dedica ao
fomento de novos talentos na cidade, e à cooperação dos artistas locais e regionais com estrangeiros, dando ênfase ao intercâmbio com a produção ibero-americana. Enfim, busca a atualização estética tanto do público quanto dos artistas de cena, principalmente os da dança.

Como você interpreta as políticas públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente?
Indiferente e sem compreensão NENHUMA do papel dos festivais.

Fale brevemente do cardápio dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a produção?
A edição de 2022 enfocou à produção artística considerada de superação e enfrentamento tanto dos impactos da pandemia do Covid 19, como das agruras do atual cenário de descaso e precariedade do país no âmbito da cultura. O Festival deu visibilidade a uma produção local que investiu em criação artística presencial, oportunizou a contratação de coreógrafos, técnicos e bailarinos locais, e, assim, contribuiu com a cadeia produtiva da dança do Recife. No âmbito internacional (e seguindo o mesmo raciocínio de consideração de investimento na produção local) o Festival programou os trabalhos desenvolvidos na Região NE (PB e PE) por artistas estrangeiros com artistas brasileiros (Oráculo do Corpo e Orivayá – o vento pediu para a folha dançar), ou trabalhos desenvolvidos fora do país por artistas nordestinos (Pin Dor Ama primeira lição e Santa Barba, ambos de Portugal, são alguns exemplos).
A formação da equipe atendeu aos mesmos requisitos de quem, a despeito das necessidades, manteve-se na produção cultural, resistindo. Diferentemente de anos melhores, nas últimas edições venho, eu mesmo, fazendo a produção executiva. “Bato o escanteio e corro para
cabecear para o gol”.

A praxe dos festivais em Pernambuco é tocar essas iniciativas “na raça”. Isso é motivo de orgulho ou preocupação? E como você vem realizando nos últimos anos?
É motivo de preocupação sobretudo para os festivais consolidados como o Cena
Cumplicidades. Nos últimos anos estamos realizando “na raça” como vc disse.

Neste ano, com previsão para os seguintes, o seu festival integra o CENA EXPANDIDA com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?
Uma pluralidade incrível de opções e a oportunidade de perceber a força das artes da cena da cidade.

Qual a pergunta que não quer calar?
Quando o poder público vai atentar para o valor de festivais consagrados? Tem resposta? Está no tempo…

 

Deslenhar, do Teatro Miçanga, se apresentou no Transborda

José Neto Barbosa, na leitura Os Titãs, de Paola Trazuk, com direção de Monina Bonelli, na programação do RESIDE FIT-PE. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Outros textos sobre o CENA EXPANDIDA postados:

Cena Expandida na reta final

Festival RESIDE avança na internacionalização com dramaturgia holandesa e proposta argentina *Ação Cena Expandida*

A resistência dos vaga-lumes Feteag chega à 31ª edição*Ação Cena Expandida*

Transborda integra o Cena Expandida

Festival Estudantil garimpa artistas e investe na formação de público *Ação Cena Expandida*

Cena Expandida em Pernambuco Uma ação articulada com cinco festivais

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Ciclo “a_ponte : cena do teatro universitário”, do Itaú Cultural, investe na expansão de intercâmbios
PRAZO PRORROGADO

Ave Terrena (foto Luciana Bati), Brenda Campos (foto Natália Campos), Dione Carlos (foto Malcolm Lima),  Marcondes Lima (foto Rogério Alves), no meio, Luciana Lyra (foto Fábio Gark/Estúdio Mudrah); Cyntia Carla (foto Luana Proença), Sandra Vargas (foto Marco Aurélio Olímpo), Tânia Farias (foto Mariana Rotilli) e Rodrigo Dourado (foto Ricardo Maciel) são alguns dos condutores da Jornada de Aprendizagem Expandida

A terceira convocatória de a_ponte: cena do teatro universitário, do Itaú Cultural, está com inscrições abertas nos dois eixos desta edição: Jornada de Aprendizagem Expandida (aulas virtuais sobre conteúdos pouco explorados nos currículos oficiais) e Seleção de Trabalhos de Conclusão de Cursos (teses de conclusão de cursos práticos ou teóricos, que terão publicação posterior). O programa – que ocorre em formato reformulado, digital e ampliado -, reforça o compromisso de renovação da cena teatral, dissolvendo fronteiras e congraçando estudantes.

Os interessados devem acessar o site do Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br) para fazer a inscrição. Para o primeiro eixo, até às 23h59 desta sexta-feira, dia 25 de setembro de segunda-feira, dia 28 de setembro (prazo prorrogado, anunciou o Itaú, na manhã desta sexta-feira). Para o segundo núcleo, a data de acesso vai até 2 de outubro (a outra sexta-feira), no mesmo horário. 

a_ponte é norteada a estudantes maiores de 18 anos, vinculados a uma instituição de ensino de cursos técnicos e universitários de artes cênicas de todo o país.

A gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, Galiana Brasil, ressalta que (a mostra) a_ponte propõe um mergulho em saberes, dissidências e na recuperação de ausências curriculares há muito reclamadas, “com o intuito de agregar vozes, ligar interesses, e contribuir com o processo de formação que deve reverberar nos processos cênicos Brasil adentro”.

As duas primeiras edições de a_ponte: cena do teatro universitário foram realizadas presencialmente. Neste ano, o programa conecta-se ao virtual.

Fábio Soares participa da Sala que enfoca figurino e a maquiagem. Foto Panamérica Filmes

No eixo 1, Jornada de Aprendizagem Expandida, são oferecidas para inscrição cinco diferentes salas de aulas virtuais temáticas, conduzidas por especialistas nas áreas. A instituição oferece interpretação em Libras para os selecionados que o indiquem no ato da inscrição

Sala 1, Dramaturgias, palavra plural?, com a dramaturga Dione Carlos, orientadora artística do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Santo André, e Marcos Barbosa, dramaturgo formado pelo Instituto Dragão do Mar, do Ceará, e professor da Escola Superior de Artes Célia Helena, em São Paulo. A proposta é praticar a escrita dramatúrgica e analisar textos de vozes significativas do teatro contemporâneo brasileiro, para ir além dos cânones tradicionais de referência e chegar à narrativa pluriversal.

 Sala 2, Discurso e práxis para uma cena Queer – É possível falar de cena Queer? Além da contextualização da presença e da memória LGBTQI+ nas artes performativas do Brasil, os encontros debatem sobre as subjetividades e identidades queer, a partir de referências artísticas e teóricas que observem os procedimentos dissidentes de criação estética. As aulas têm como orientadores a dramaturga, poeta, diretora, atriz e professora Ave Terrena e Rodrigo Dourado, professor do Curso de Teatro do Departamento de Artes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador das áreas de Performatividade e Teatro Contemporâneo, Identidades de Gênero, Sexualidade e Teatro e Estudos Queer.

Sala 3, PoÉticas das materialidades da cena – O figurino e a maquiagem são marginais na criação? com Marcondes Lima, professor do Departamento de Artes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutorando em Artes Performativas e da Imagem em Movimento pela Universidade de Lisboa, além da participação do pernambucano Fábio Soares, figurinista, bailarino e brincante de cavalo-marinho, e de Cyntia Carla, professora da Universidade de Brasília (UnB), além de figurinista, diretora, professora, circense, atriz, cenógrafa e maquiadora. Esta classe apresenta um panorama sobre princípios e práticas da caracterização visual, enquanto linguagem nas artes da cena, especificamente no que diz respeito ao figurino e à maquiagem.

Sala 4, Existe corpo na virtualidade? Dimensões pessoais e políticas do corpo: a cena como plataforma, comandada pelas atrizes e encenadoras Luciana Lyra e Tânia Farias, Aqui, a problematização do corpo, em tempos pandêmicos de inevitável virtualidade, é o ponto de partida para o desdobramento de estudos sobre a história do corpo, seus padrões e suas práticas, resultantes de múltiplas relações biológicas, biopolíticas, estéticas, culturais e ambientais.

Sala 5 aborda o tema Quem tem medo de teatro para criança? O artista, o Teatro e as Infâncias. Orientadas pela artista de teatro, pedagoga e pesquisadora Brenda Campos, e Sandra Vargas, atriz, diretora, dramaturga e uma das fundadoras do grupo SOBREVENTO, as aulas são realizadas por meio de exercícios práticos e reflexivos sobre o fazer teatral para as infâncias, provocando os participantes a perceberem caminhos possíveis para a criação de um espetáculo teatral voltado para crianças.

Serão selecionados até 40 estudantes para cada uma das cinco salas virtuais, para cumprirem uma carga horária prevista de 20 horas. As aulas acontecerão por meio da plataforma crossknowledge em 10 encontros realizados de 9 de novembro a 15 de dezembro. Os selecionados serão divulgados no dia 26 de outubro pelo site do Itaú Cultural.

No Eixo 2 a_ponte: cena do teatro universitário busca valorizar a pesquisa com uma Seleção de Trabalhos de Conclusão de Curso (práticos ou teóricos), resultados de estudos concluídas nos anos de 2019 e/ou 2020. Podem se candidatar autores de trabalhos de iniciação científica ou iniciação à docência. A iniciativa visa atestar a necessidade dos programas de financiamento à pesquisa continuada nos bacharelados, nas licenciaturas e nos cursos técnicos nas áreas de artes e humanidades. Até 20 trabalhos inscritos serão selecionados, divulgados a partir do dia 14 de janeiro de 2021, no site do Itaú Cultural. Esse material fará arte, posteriormente, de uma publicação digital.

 

SERVIÇO:
Convocatória a_ponte: cena do teatro universitário
Inscrições:
Eixo 1: Jornada de Aprendizagem Expandida:
Até 25 de setembro (sexta-feira), NOVO PRAZO dia 28 de setembro (segunda-feira),  às 23h59
Pelo site do Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br)
Divulgação dos selecionados: 28 de outubro de 2020 (segunda-feira)

Eixo 2: Seleção de trabalhos de conclusão de cursos de 2019/2020
Até 2 de outubro (sexta-feira), às 23h59
Pelo site do Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br)
Divulgação dos selecionados: 14 de janeiro de 2021 (quinta-feira)

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FarOFFa no Sofá prossegue até domingo

Ham-let, com direção de José Celso Martinez Corrêa, em montagem do Teatro Oficina

Cia. do Atores utiliza um computador portátil como instrumento de articulação cênica e de interação com o público, no espetáculo de 2009

Atriz Nena Inoue transforma o luto em luta na peça Para não morrer. Foto: Divulgação

FarOFFa no Sofá é uma verdadeira maratona de teatro, dança e performance em formato digital. A mostra começou na terça-feira (11) e segue até domingo (16), contabilizando 130 obras na programação. Há uma diversidade de gêneros e estilos, um programa afinado com a prática democrática, com o debate de ideias, com as experimentações estéticas e uso ético dessas escolhas. Trabalhos incríveis para ver ou rever.

Neste fim de semana é possível conferir gravações de espetáculos da Cia dos Atores (RJ), com Talvez; do Teatro Oficina Uzyna Uzona (SP) com Bacantes e Ham-let, do Bando de Teatro Olodum (BA) com Áfricas, da Motoserra Perfumada (SP) com Respublica, da Lia Rodrigues Companhia de Danças (RJ) com Encarnado; Companhia Brasileira de Teatro (PR) com KRUM,; Cia. Les Commediens Tropicales (SP), com (VER[ ]TER) À DERIVA, Nena Inoue, do Espaço Cênico (PR) em Para Não Morrer, Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare (RN), com Abrazo; a atriz Maria Alice Vergueiro e o Grupo Pândega (SP) em Why The Horse e muitas peças memoráveis.

Além dos espetáculos também foram disponibilizadas as gravações de mesas de debates do Ecum (Encontro Mundial das Artes Cênicas) e alguns ainda podem ser vistos como a palestra Tradições e Inovações: Artes do Espetáculo e Novas Tecnologias, com Béatrice Picon-Vallin (França).

“A FarOFFa se debruça em trajetórias, em memória, contexto de criação dos espetáculos, dos artistas, da pesquisa, um envolvimento intenso com a obra e com quem a criou”, atesta a “cuidadoria”. Gabi Gonçalves, da Corpo Rastreado. Ela diz que a cuidadoria tem investido em “não considerar esse período como um hiato, uma espera para o futuro, mas ser um tempo de valorizar os recursos digitais e considerá-los parceiros importantes e indissociáveis das obras artísticas”.

Mesmo gratuita, a mostra sugere o sistema “pague quanto puder”. A quantia arrecadada será doada às instituições #SolidarizaGoiânia (GO), Arte Salva (PR), Associação Redes de Desenvolvimento da Maré (RJ), Campo Arte Contemporânea (PI), Casa Aurora (BA), É Da Nossa Cor (SC), Em Cena Arte e Cidadania (PE), Fundo Marlene Colé / APTI – Associação de Produtores Teatrais Independentes (SP), Haja Amor – A Revolução (RJ), IBCM – Instituição Beneficente Conceição Macedo (BA), Instituto Raiz da Serra (SP), N’Zinga – Coletivo de Mulheres Negras de BH (MG), Pela Vida de Nossas Mães (RJ) e Sim! Rede Solidária (PI), que atendem pessoas em situação de extrema vulnerabilidade.

PROGRAMAÇÃO

Sala Teatro Vila Velha

14/08/20 às 18h
JULIA | Christiane Jatahy (RJ)
Teatro | 18 anos | 75 min

14/08/20 às 20:30
TALVEZ | Cia dos Atores (RJ)
Teatro | 12 anos | 40 min

Versão do Teatro Oficina Uzyna Uzona para o texto de Eurípedes . Jennifer Glass / Divulgação 

14/08/20 às 21h30
BACANTES | Teatro Oficina Uzyna Uzona (SP)
Teatro | 18 anos | 295 min

15/08/20 às 10h30
FILMINHO | Natália Mallo (SP)
Para Crianças | 60 min

15/08/20 às 12h | Maurício Florez (COL)
BOLERO
Dança | Livre | 40 min

15/08/20 às 13h
AZIRILHANTE | Flavia Melman (SP)
Teatro | 14 anos | 80 min

15/08/20 às 15h
CORPOS OPACOS | Sara Antunes (SP) e Carolina Virguez (RJ/COL)
Teatro | 12 anos | 50 min

15/08/20 às 16h30 
LOS POSIBLES | Grupo KM29 + La Unión de los Rios (ARG)
Dança | Livre | 50 min

15/08/20 às 18h
NÃO POSSO ESQU CER | Valeria Braga e Maria Ângela Ambrosis (GO)
Performance | 14 anos | 20 min

15/08/20 às 19h
CRAVO, LÍRIO E ROSA | Lume Teatro (SP)
Teatro  Livre | 90 min

15/08/20 às 22h
NEVA | Ernani Sanchez, Michelle Gonçalves, Flavia Melman, Diego Moschkocivh (SP)
Teatro | 16 anos | 70 min

16/08/20 às 11h
INIMIGOS | Cia de Feitos (SP)
Para Crianças | Livre | 55 min

Áfricas, do Bando Olodum, da Bahia. Foto: João Meirelles / Divulgação

16/08/20 às 13h30
ÁFRICAS | Bando de Teatro Olodum (BA)
Teatro | Livre | 50 min

16/08/20 às 15h
RESPUBLICA 2023 | A Motoserra Perfumada (SP)
Teatro | 18 anos | 110 min

16/08/20 às 18h
LO ÚNICO QUE NECESITA UNA GRAN ACTRIZ, ES UNA GRAN OBRA Y LAS GANAS DE TRIUNFAR | Vaca 35 (MX)
Teatro | 14 anos | 50 min

16/08/20 às 19h30
AFROLOVE | Muato (RJ)
Música | Livre | 60 min

Espetáculo de 2005 explora os múltiplos sentidos da palavra Encarnado.Foto: Sammi Landweer

16/08/20 às 20h
ENCARNADO | Lia Rodrigues Companhia de Danças (RJ)
Dança | 18 anos | 60 min

Sala Galpão Cine Horto

14/08/20 17h
ME MATO EL 24
Teatro
16 anos
90 min.
Corporación Teatriados (COL)

14/08/20 19h
PALESTRA: Música Tradicional da infância no Brasil
Livre
70 min.
Lydia Hortélio (Brasil)

14/08/20 20h30
PALESTRA: Porque eu Odeio Palhaços
Palestra
Livre
90 min.
Sue Morrisson (Canadá)

15/08/20 11h
PRESENTE! FEITO DA GENTE
Para Crianças
60 min.
Balangandança Cia (SP)

15/08/20 12h30
O FIGURANTE
Teatro
12 anos
60 min.
Teatro Voador Não Identificado (RJ)

15/08/20 14h
ANIMAL
Teatro
16 anos
80 min.
Animal
Gustavo Miranda (COL)

Parede livremente inspirada na vida e obra de Qorpo-Santo. Foto:  Helena Wolfenson / Divulgação

15/08/20 16h
PAREDE
Teatro
14 anos
110 min.
28 Patas Furiosas (SP)

15/08/20 19h
PALESTRA: Enquanto recusarmos a pagar com a ingratidão com benefícios morreremos na escravidão.
Palestra
Livre
30 min.
Adama Traoré (Mali)

15/08/20 20h
NOMES DO PAI
Teatro
12 anos
80 min.
Companhia da Memória (SP)

15/08/20 22h
LA BALADA LA P…
Teatro
18 anos
40 min.
Casa del Teatro de Medellín (COL)

16/08/20 10h
A FAMOSA INVASÃO DOS URSOS NA SICÍLIA
Para Crianças
55 min.
Companhia Delas de Teatro (SP)

16/08/20 12h
HISTÓRIAS POR TELEFONE
Para Crianças
55 min.
Companhia Delas de Teatro (SP)

16/08/20 14h
MARY E OS MONSTROS MARINHOS
Para Crianças
60 min.
Companhia Delas de Teatro (SP)

ver ter à deriva na região da Pauilsta_Foto: Mariana Chama 

16/08/20 16h
(VER[ ]TER) À DERIVA
Teatro
Livre
60 min.
Cia. Les Commediens Tropicales (SP)

16/08/20 17h30
DESVIOS TÁTICOS – ESTRATÉGICOS PARA SOBREVIVER A VIDA URBANA
Dança
Livre
30 min.
Três em Cena (GO)

16/08/20 19h
PALESTRA: Expressão como a transmissão da experiência humana

Palestra
Livre
65 min.
Viliam Docolomansky (Eslováquia)

Pesquisadora francesa especialista em Teatro, Beatrice Picon Vallin

16/08/20 20h30
PALESTRA: Tradições e Inovações: Artes do Espetáculo e Novas Tecnologias

palestra
Livre
100 min.
Béatrice Picon-Valin (França)

Sala Teat(r)o Oficina

14/08/20 17h
HYSTERIA
Teatro
18 anos
100 min.
Grupo XIX de Teatro (SP)

14/08/20 19h
PARA NÃO MORRER
Teatro
14 anos
75 min.
Nena Inoue / Espaço Cênico (PR)

14/08/20 20h30
KRÍSIS – Fragmento Hades
Teatro
16 anos
7 min.
Companhia Nova de Teatro (SP)

14/08/20 20h30
CONVERSA COM GRUPO TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA
Teatro
Livre
30 min.
Teatro Oficina Uzyna Uzona (SP)

14/08/20 21h
HAM-LET
Teatro
18 anos
Ham-let
Teatro Oficina Uzyna Uzona (SP)

15/08/20 12h
QUANDO EU MORRER VOU CONTAR TUDO A DEUS
Para Crianças
60 min.
O Bonde (SP)

15/08/20 13h30
ESPÉCIE
Performance
14 anos
20 min.
Valeria Braga e Rodrigo Cunha (GO)

15/08/20 14h
PULSO
Teatro
14 anos
50 min.
VULCÃO [criação e pesquisa cênica] (SP)

15/08/20 15h
TRINDADE (a drag, o cavalo e o xaile).
Dança
16 anos
55 min.
Só Homens Cia de Dança (PI)

15/08/20 16h
SÍSIFOS
Teatro
12 anos
70 min.
Companhia Candongas e Outras Firulas (MG)

15/08/20 18h
SEGUNDA QUEDA
Teatro
16 anos
65 min.
Ave Terrena (SP)

15/08/20 20h
DEZEMBRO
Teatro
12 anos
70 min.
Ernani Sanchez, Carolina Fabri, Michelle Gonçalves, Diego Moschkocivh (SP)

15/08/20 22h
GUANABARA CANIBAL
Teatro
14 anos
80 min.
Aquela Cia (RJ)

Espetáculo do Grupo Clowns de Shakespeare, de Natal, sofreu censura na temporada na Caixa Cultural Recife

16/08/20 11h
ABRAZO
Para Crianças
50 min.
Abrazo
Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare (RN)

16/08/20 13h
CELESTE – Cosmologia de um salto
Dança
Livre
45 min.
Marina Guzzo (SP)

16/08/20 14h30
PASSAGEIROS
Teatro
12 anos
75 min.
César Gouvêa e Gustavo Miranda (SP/COL)

Habitam o mundo de KRUM seres pequenos, sem pudor na palavra, vivendo sob um teto baixo. Foto: Nana Moraes / Divulgação

16/08/20 16h
KRUM
Teatro
14 anos
100 min.
Companhia Brasileira de Teatro (PR)

16/08/20 16h
O PINTOR
Circo
LIvre
60 min.
Esio Magalhães / Barracão Teatro (SP)

16/08/20 18h
OS CORVOS
Dança
16 anos
70 min.
Luis Ferron (SP)

16/08/20 19h30
PARAÍSØ EM PEDAÇØS
Teatro
16 anos
50 min.
Cia Paraladosanjos (SP)

16/08/20 20h30
KRÍSIS – Fragmento Tirésias
Teatro
16 anos
7 min.
Companhia Nova de Teatro (SP)

A atriz Maria Alice Vergueiro, falecida recentemente, encenou o próprio enterro

16/08/20 22h
WHY THE HORSE
Teatro
14 anos
90 min.
Grupo Pândega (SP)

Ficha técnica da FarOFFa no Sofá
Cuidada e feita por: Todes
Pensada por: Corpo Rastreado e Périplo Produções
Junte de: Canal Aberto, Casarini Produções, Ecum – Encontro Mundial das Artes Cênicas, MITsp – Mostra Internacional de Teatro, Junta Festival Internacional de Dança, Trema Festival e Manga de Vento.
Equipe digital:
Alba Roque, Aline Mohamad, Ariane Cuminale, Danusa Carvalho, David Costa, Gabi Gonçalves, Gisely Alves, Graciane Diniz, Leonardo Devitto, Ludmilla Picosque, Monique Vaillé, Murilo Chevalier, Natasha Bueno, Pedro de Freitas, Ricardo Suzart, Rodrigo Fidelis, Tamara Andrade, Thaís Cris e Thaís Venitt.

 

Serviço

FarOFFa no Sofá
Abertura: 10 de agosto, a partir das 19h, com shows de Marina Mathey, Luiza Loroza e Juliana Linhares
De 11 e 16 de agosto de 2020
Onde: www.faroffa.com.br
Quanto: pague quanto quiser.
A verba será destinada às instituições #SolidarizaGoiânia (GO), Arte Salva (PR), Associação Redes de Desenvolvimento da Maré (RJ), Campo Arte Contemporânea (PI), Casa Aurora (BA), É Da Nossa Cor (SC), Em Cena Arte e Cidadania (PE), Fundo Marlene Colé / APTI – Associação de Produtores Teatrais Independentes (SP), Haja Amor – A Revolução (RJ), IBCM – Instituição Beneficente Conceição Macedo (BA), Instituto Raiz da Serra (SP), N’Zinga – Coletivo de Mulheres Negras de BH (MG), Pela Vida de Nossas Mães (RJ) e Sim! Rede Solidária (PI).
Redes sociais da FarOFFa:
Instagram: @faroffasp
Facebook: facebook.com/faroffasp

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Atriz Fabiana Pirro e sua boneca de mulungu mandam recado aos poderosos

A atriz Fabiana Pirro com sua mamulenga Vina, em Cara de Pau. Foto: Renato Filho

Os mamulengos, os bonecos do Nordeste gostam de desafiar os poderosos. Melhor dizendo, é da natureza desses seres criados e manipulados por mestres populares mostrar coragem contra injustiças. Se faltar um pouquinho de coragem, eles sacam da astúcia, do humor, do gingado, da sorte, dos santos protetores dos oprimidos. Essa brincadeira descortina um universo paralelo e encantado, às vezes mais rústico, ora mais sofisticado, mas sempre encantador. A atriz, modelo e palhaça Fabiana Pirro ganhou há uns dez anos uma boneca do Moura (dono do Bar do Mamulengo, [que fica na Praça do Arsenal, no bairro do Recife], um reduto artístico de resistência). Uma mamulenga de estirpe, criada pelo Mestre Saúba. Ano passado, Pirro entendeu que era a hora de brincar com a boneca de mulungu Vina, nome dado em homenagem ao Mestre Zé De Vina, de Glória do Goitá, que é seu grande professor.

Inquieta como ela só, Fabiana acionou seus contatos para levar adiante o projeto. Pediu ao encenador e dramaturgo Moncho Rodriguez para escrever um texto que “pudesse falar da vida da gente que é artista, do desgoverno no Brasil, desse descaso com a classe artística e com a cultura”. Nascia Cara de Pau, denominada pelo autor de uma comédia triste. “Moncho escreveu realmente todas as coisas que eu queria falar”, contou a atriz ao Yolanda hoje (6) de manhã.

Texto pronto, Fabiana resolveu experimentar, se autodirigir, com previsão de estreia em 27 de março – Dia Internacional do Teatro, na Praça do Arsenal. Mas a pandemia da Covid-19 mandou todo mundo se recolher em casa.

Cara de Pau se tornou assim a sobrevivência no isolamento. A gente faz teatro porque é a nossa vida, é o ar que a gente respira. O que nos move. Cara de Pau foi quem me salvou porque eu fiquei no isolamento em casa. Trabalhando, trabalhando, trabalhando, abril, maio e junho”.

Quando Fabiana viu o ator e diretor Paulo de Pontes ralando na Casa Maravilhas, fazendo solo no teatro vazio, lives, ela percebeu que precisava operar nesse formato, “que é o que a gente pode”. “Foi incrível essa parceria com a Casa Maravilhas. Porque realmente trabalhar com Paulinho, principalmente no corpo a corpo foi muito produtivo, ele me deu tudo o que eu precisava. Paulinho é um homem de teatro. Tudo isso me ajudando, me orientando e eu me senti acolhida. E Márcia (Cruz) também. Essa parceria com a Casa Maravilhas foi muito importante, principalmente para eu me sentir segura para estrear Cara de Pau”.

O lançamento ocorreu em 30 de julho. “E foi uma estreia linda. Mais de 100 pessoas assistindo, depois um retorno incrível, muita gente emocionada com um texto, com a figura da boneca. Com a simplicidade. Acho que Cara de Pau para esse formato live está super honesta”.

Hoje, 06/08/20, tem sessão extra ao vivo de Cara de Pau no insta @casamaravilhas, às 21h, com colaboração espontânea. “Desde janeiro estou nessa função. Estou muito feliz de poder fazer hoje de novo”.

Apesar de estar isolada em casa, Fabiana contou com muitas parcerias: de Claudio da Rabeca, que cedeu uma música; do olhar virtual de Moncho Rodriguez, de Portugal; e de Zaza Mucurana (Asaías Lira), da Itália. “Foram vários olhos me olhando, pontuando coisas importantes, porque sozinha ninguém faz nada. Mas foi um exercício muito para dentro. Realmente eu peguei como um desafio para levantar brincadeira, para falar dos meus 20 anos de teatro, dessa resistência, desse amor por esse ofício”.

Durante o isolamento por conta da pandemia, a artista teve todos os projetos cancelados, como praticamente todos da área cultural. Então, diante disso, para sobreviver, ela fez uma vaquinha e avisava que estava em processo de montagem. A campanha foi um sucesso. “Eu tenho que cumprir com minha palavra. Preciso dar esse retorno para essas pessoas que colaboraram comigo, com a minha vaquinha, que foi maravilhosa e me sustentou nesses meses de isolamento. Meu retorno também é Cara de Pau. Teve muita gente aí nesse patrocínio”.

Moncho Rodriguez prefere chamar as apresentações online de Cara de Pau de vídeo-conferência-teatral, um trabalho pensado para a rua, para uma praça, “para a graça do estar presente e partilhando com as pessoas os dramas e as comédias das gentes, denunciando a hipocrisia dos governos que fingem saber o que não sabem, que confundem políticas culturais com linhas de apoios e subsídios pontuais, como se a vida dos artistas se resumisse à ocasionais subsídios, como se tivéssemos que viver de emprestado, aos soluços no sufoco de todos os dias”, situa o encenador.

Para Rodriguez “Cara de Pau é mais um grito de alerta para aqueles que acham que os artistas vivem do vento… ou para aqueles que exploram a cultura com toda a demagogia e ignorância… fingem acreditar na necessidade cultural enquanto sufocam os criadores…”

Cara de Pau tem texto de Moncho Rodriguez. Foto: Renato Filho

Cara de Pau, com Fabiana Pirro
Quando: Quarta-feira (6), às 21h
Onde: no insta @casamaravilhas
Quanto:colaboração espontânea
*FABIANA PIRRO*
CAIXA ECONÔMICA
Ag.0867 operação 013
Conta/poupança: 71.111-6
CPF: 172.975.018-40

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Quem tem medo de bixa viado frango?

Silvero Pereira apresenta experimento cênico Bixa Viado Frango, no Instagram

BIXA VIADO FRANGO é um título forte, direto, carregado de camadas, defesas da liberdade de ser e dos ataques de uma sociedade preconceituosa, violenta, machista, misógina, patriarcal. O artista Silvero Pereira sentiu na própria carne o impacto dessa estrutura ainda menino no interior do Ceará. No monólogo online, que estreia pelo Instagram nesta segunda-feira (3), ele alimenta as cenas da memória em fluxo de sua caminhada. Desde a casa da sua infância, a escola, as lembranças das ruas repletas de desejos irresistíveis de um lado, e das agressões veladas ou escancaradas. Da adolescência com suas descobertas juvenis no âmago de uma coletividade opressora aos tempos de pandemia, isolamento e solidão há de tudo um pouco. Como ensinou Carlos Drummond de Andrade em Resíduo, De tudo ficou um pouco / Do meu medo. / Do teu asco. / Dos gritos gagos. Da rosa / ficou um pouco”.

No final do poema, o poeta mineiro pede “Oh abre os vidros de loção / e abafa o insuportável mau cheiro da memória”. Mas Carlos sabe que precisamos encarar de frente os nossos fantasmas. E, por mais terrível que seja a recordação, é preciso elaborar. Quem sabe, voltar muitas vezes.

Na obra BIXA VIADO FRANGO, Silvero resgata vivências relacionadas à sexualidade e gênero, brinca com os afagos e açoites da rede social. A peça estava nos planos do ator há três anos. Mas devido às atuações na TV e no cinema, o plano foi adiado. O último trabalho teatral foi BR-Trans, mas desde 2013 ele não entra numa sala de ensaio como ator de teatro. 

Com duração de 40 minutos, BIXA VIADO FRANGO entrelaça literatura, dramaturgia clássica, histórias autobiográficas, dramaturgia musical, filtros e ferramentas disponíveis nas redes sociais, provocando uma “atmosfera intimista, documental, cênica-virtual e um tanto cinematográfica”.

Depois da terceira apresentação, na quarta-feira (5), Silvero junta os espectadores para um bate-papo.

Essa é a segunda articulação cênico-virtual do ator. Ele atua junto com Gyl Giffony em Metrópole, do escritor Rafael Barbosa. “O teatro do encontro presencial está parado, mas a arte continua em movimento”, aposta Silvero.

No final da tarde desta segunda-feira de estreia, já preparando o ambiente da apresentação, Silvero Pereira conversou por telefone com o Satisfeita, Yolanda?. “Estou aqui em casa, mexendo nos móveis, de um lado pro outro, preparando o cenário”.

Você tinha falado que iria misturar Hamlet com sua história pessoal. É isso?
Esse já é outro projeto. Não é BIXA VIADO FRANGO. Na realidade, o Hamlet com o Belchior e minha história pessoal  é um projeto que vou fazer mais adiante. O BIXA VIADO FRANGO é uma proposta que eu tinha há três anos, um pouco depois do BR-Trans tinha pensado em produzir esse espetáculo, mas acabei entrando na televisão, da televisão fui pro cinema e os últimos três anos não tive oportunidade de voltar para a sala de teatro e ensaiar. Então agora no período da pandemia resolvi resgatar essa história e me dedicar a ela pra produzir.

Como foi buscar nas suas memórias, nas próprias feridas essa construção?
Tenho sempre acreditado na arte como esse lugar coletivo. Muito importante pra mim que a arte não seja somente pessoal. Então todos os meus processos criativos – embora eles passem pela forma como o Silvero indivíduo enxerga as coisas e como essas coisas passaram pelo corpo do Silvero – eu acho muito importante que isso seja percebido em outros corpos e identificado em outros corpos também. Então eu utilizo das minhas experiências, das minhas vivências, mas também faço uma mistura, com outras dramaturgias, de fatos que li nas redes sociais, da literatura, da dramaturgia clássica, contemporânea, da música, da poesia e vou fazendo uma mistura pra que fique diluído o que é do Silvero, o que não é do Silvero, mas pode fazer parte da mesma sociedade excludente, preconceituosa e que muitas pessoas podem se identificar.

Tendo feito um personagem numa novela das nove, que teve muita adesão, você imaginou que de alguma forma as pessoas fossem te respeitar mais?
Não acho que isso tenha acontecido por conta da novela. O que acontece é que as pessoas passaram a conhecer mais o Silvero. A bolha que eu fazia parte antes da novela, que eu fazia do teatro, se tornou maior. Uma coisa importante aí é que mesmo dentro da televisão nunca abri mão dos meus princípios e daquilo que sempre quis ser. Então não é uma surpresa para as pessoas o meu comportamento, a minha maneira de ser . O que mudou foi a quantidade de pessoas que hoje me conhecem.

Como você lida com preconceito e discurso de ódio nas suas próprias redes? Isso aumentou na pandemia?
Aumentou muito. Não apenas pelo fato de estarmos dentro de casa mais atentos às redes sociais, mas também por uma questão política mesmo. As pessoas estão mais violentas e defensoras de algo que acho meio difícil de ser defendido. Mas as pessoas têm se sentido autorizadas a violentar as outras. E eu acho que isso cresceu bastante e isso vai crescer ainda mais, por conta dessa autorização político institucional que tem sido dada. Isso é o que mais me preocupa.

Quais foram os procedimentos de criação deste espetáculo durante a pandemia?
Eu tinha feito uma experiência anterior, Metrópole, com o Gyl Giffony, outro parceiro meu. Fiquei dentro de casa me perguntando como continuar vivo, como manter a arte em movimento embora o teatro esteja parado, o teatro físico. Mas como manter a minha necessidade de ser artista viva, em movimento. Então fiz esse desafio para o meu colega e falei vamos fazer uma experiência o mais próxima possível do teatro. Ou seja, abrir uma sala privada, onde as pessoas pudessem adquirir os ingressos e tratar isso como uma experiência teatral. Você compra seu ingresso, entra na sala, tem dez minutos de espera em blackout, a peça começa e os comentários são desligados e só depois que termina a peça é que os comentários são ligados e você pode ter uma interação com o artista . Só que o Metrópole é uma adaptação de uma peça de 2012 para plataforma. O BIXA, VIADO FRANGO faz o movimento inverso. Eu não tinha estreado essa peça ainda e, na pandemia, comecei a escrever para a plataforma, então ela já foi pensada a partir dos elementos que a plataforma me oferece.

Você tem algum sopro de otimismo diante de tudo que estamos vivendo?
Tenho, tenho sim. Pelo menos eu espero que as pessoas estejam refletindo mais sobre suas individualidades e coletividade. E que isso possa fazer uma grande mudança. Eu tenho esse sentimento positivo , embora minha esperança não seja tão forte de que a gente saia mais solidário de tudo isso. Tenho uma grande preocupação que a gente saia ainda mais individual, porque percebo no nosso entorno que existe também agora a coisa de se distanciar das pessoas. Acho que as pessoas não podem confundir distanciar-se hoje por segurança e não internalizarem isso para futuramente o distanciamento ser mais um elemento estrutural que nossa sociedade tende a fazer e também se distanciar das pessoas não mais por necessidade de segurança e sim por individualismo.

O que você viu de teatro digital nesta quarentena?
Eu vi algumas experiências, do Recife, do pessoal do Magiluth, do Clowns de Shakespeare, de Natal; do Pavilhão da Magnólia do Ceará. Tenho assistido alguns.

Como está sendo este período para você? Como está se virando para cuidar da cabeça?
Estou sozinho na quarentena. Hoje é um dia bem delicado pra mim porque essa coisa de produzir uma peça virtual…. eu opero o som, a luz, eu mudo o cenário, estou atuando e estou dirigindo a peça , escrevo a peça, faço a edição dos vídeos que eu quero colocar. Tudo isso mexendo numa televisão, num tablet, no celular e nos outros equipamentos que estão dentro da minha casa. Não tem ninguém dentro de casa comigo, só eu fazendo sozinho. Mas isso é interessante. Eu aprendi muito no teatro que nós precisamos ser donos do nosso ofício, ter um conhecimento básico para lidar com os profissionais dessas áreas. Então isso já me deixa mais feliz. Tem dias bons e tem dias ruins, tem dias que não estou muito feliz, que tenho ficado depressivo e nesses dias eu procuro as minhas forças na natureza. Abro a minha casa… sou muito ligado à natureza, à religião de candomblé, de umbanda. Não tenho uma religião certa. Mas tenho uma ligação muito forte com a religião de matriz africana. E aí abro minha casa, borrifo ervas, faço meus cânticos, faço minhas meditações e com isso me sinto um pouco melhor.

Serviço:
BIXA VIADO FRANGO
Quando: 3, 4 e 5 de agosto, às 20h
Onde: Via Instagram, no perfil @sala_de_espetaculos
Ingressos: R$ 10 (à venda pelo Sympla / Bixa Viado Frango)

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