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Inspirado poeta teatral

Naum Alves de Souza, homem de múltiplos talentos morreu sábado, aos 73 anos. Foto: reprodução do youtube

Naum Alves de Souza, homem de múltiplos talentos, morreu sábado, aos 73 anos. Foto: Reprodução do Youtube

Os amantes, interessados e até curiosos sabem da importância do diretor, autor, roteirista, cenógrafo, figurinista, artista plástico e criador de bonecos Naum Alves de Souza para as artes. Homem de teatro, cinema, televisão e outras linguagens, ele deixou uma obra dramatúrgica singular e de uma brasilidade intrínseca.

Meu contato com sua obra ocorreu no final dos anos 1980, no antigo Curso de Formação do Ator, da Universidade Federal de Pernambuco. Uma grande alegria estudar a trilogia formada por No Natal a Gente Vem Te Buscar (1979), A Aurora da Minha Vida (1981) e Um Beijo, um Abraço, um Aperto de Mão (1984).

Ele também é autor de Suburbano Coração, peça com músicas de Chico Buarque.  Do espetáculo Dona Doida, protagonizado por Fernanda Montenegro, em que adaptou de poemas de Adélia Prado – que assisti no Rio de Janeiro, e confesso que gosto mais hoje do que na época. De Ilmo. Sr., sobre dois velhos ranzinzas. E assinou os cenários e figurinos do show Falso Brilhante, de Elis Regina, que desejei tanto ter visto. Naum cuidou da cenografia, figurinos e direção artística de Macunaíma, com direção de Antunes Filho, um marco do teatro brasileiro. E é o autor do boneco Garibaldo, de Vila Sésamo, que embalou a infância de alguns.

Marieta Severo e Mário Borges, em No Natal a Gente vem te Buscar.

Marieta Severo e Mário Borges, em No Natal a Gente vem te Buscar

Em No Natal a Gente vem Te Buscar, os personagens comuns, destituídos de heroísmos ganham os holofotes. Uma solteirona e suas memórias. O desmoronamento interno da personagem. Decadência do grupo familiar. O atropelamento da Tia na porta do asilo, o choque, como detonador para abalar valores.

O tempo imbricado com a memória. Passado e presente se emaranhando com o futuro. Cacos de um quebra-cabeça dessa trajetória dolorosa da Solteirona. E de uma delicadeza de sentimentos que flutuam nas entrelinhas, no não dito, ou não totalmente revelado com palavras.

O dramaturgo lança um olhar carinhoso e bem-humorado – mas que desmascara idealizações – sobre essa galeria de personagens, tão fáceis de serem identificados.

Naum Alves de Souza morreu nesse sábado (9), em São Paulo, aos 73 anos. Foi sepultado no Cemitério Gethsêmani, em São Paulo, neste domingo. Nascido em Pirajuí (a 384 km de São Paulo), ergueu uma carreira admirável na capital paulista, para onde se mudou aos 18 anos.

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Sai resultado do Funcultura 2014/2015

Projeto sobre acervo do Mão Molenga (foto do espetáculo Babau) foi aprovado. Foto: Pollyanna Diniz

Projeto sobre acervo do Mão Molenga (foto do espetáculo Babau) foi aprovado. Foto: Pollyanna Diniz

O resultado do 8º Edital do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) 2014/2015 foi divulgado na tarde desta quinta-feira (22). De acordo com as informações divulgadas pela Secretaria da Cultura e pela Fundarpe, este ano 1.955 projetos se inscreveram no edital, o que representa um aumento de 30% em relação ao ano passado. No total, 318 projetos foram contemplados, totalizando um aporte de R$ 21.771.635,12.

A distribuição de acordo com as linguagens foi: música aprovou 39 projetos; teatro, 31; literatura, 28; cultura popular e tradicional, 34; artes plásticas, gráficas e congêneres, 29; patrimônio, 28; fotografia, 22; dança, 42; artesanato, 15; artes integradas, 5; circo, 22; gastronomia, 10; ópera, 4; e design e moda, 9.

Confira aqui a lista dos aprovados.

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Oficina gratuita com a Cia. Físico de Teatro

Atores do espetáculo Savana glacial ministram curso gratuito

Atores do espetáculo Savana glacial ministram curso

Savana Glacial foi apontado como um dos melhores espetáculos teatrais de 2010. Ganhou o Prêmio Shell carioca de Melhor Dramaturgo daquele ano, para o texto de Jô Bilac. A montagem, da Cia. Físico de Teatro, faz três apresentações no Recife, de quinta-feira a sábado, às 20h, na Caixa Cultural Recife.

Renato Livera e Camila Gama, atores da peça, aproveitam a temporada para ministrar uma oficina gratuita nos dias 22 e 23 das 14h30 às 18h30 na Caixa Cultural. As inscrições  estão abertas para atores e também para o público em geral, com alguma experiência artística.

Podem participar jovens e adultos de ambos os sexos, a partir de 16 anos. Os dois encontros terão práticas de exercícios empregados nos processos de criação da companhia, trabalhando diferentes potências corporais, tais como: equilíbrio, tensão, relaxamento e explosão, que serão aplicadas em vários estágios. Na segunda etapa, a fisicalidade será utilizada para a criação e composição cênica.

Interessados entrar em contato pelo e-mail gentearteirape@gmail. com. Informações pelo telefone (81) 3425-1902.

 

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Espaço O Poste celebra um ano de resistência

Agri Melo, Naná Sodré e Samuel Santos celebram um ano do Espaço

Agri Melo, Naná Sodré e Samuel Santos festejam o Espaço

Em tempos de teatros fechados e poucos questionamentos sobre a política cultural em Pernambuco, manter um espaço privado é um feito. E completar um ano torna-se um ato de resistência digno de aplausos. Pois então é hora de bater palmas para a turma de O Poste Soluções Luminosas, que que comemora neste sábado um ano de atividades do Espaço O Poste, situado na Rua da Aurora, esquina com Princesa Isabel. Só eles sabem os sacrifícios para chegar a esse dia festivo. Nós imaginamos.

O espetáculo Cordel do amor sem fim, que está em temporada no local, é apresentado normalmente. Seguido de uma performance do texto Navio Negreiro, de Castro Alves, com Samuel Santos acompanhado da bailarina Luzii Santos. A cantora Jéssica Gabriella exibe um repertório de canções africanas.

A noitada ainda prevê presentes para o público. Serão sorteados o livro A história do negro no teatro brasileiro, de Joel Rufino, que dedica um capítulo ao grupo O Poste, e uma tela do artista plástico Fernando Duarte.

Ao longo deste primeiro ano, o Espaço O Poste promoveu sessões de teatro, dança e música, oficinas de artes cênicas e abrigou apresentações dos festivais O Trema e Janeiro de Grandes Espetáculos.

As próximas batalha são a criação da Biblioteca Luminosa! e a campanha Sócio Iluminado, com a criação de um quadro de sócios. Parabéns Samuel Santos, Naná Sodré e Agri Melo, o núcleo criativo do grupo.

Teatro fica na esquina da Princesa Isabel com a Rua da Aurora

Teatro fica na esquina da Princesa Isabel com a Rua da Aurora

Serviço
Festa de um ano do espaço O Poste
Quando: Sábado, 5 setembro, às 20h
Onde: O Poste, Rua da Aurora, nº 529, loja 1 (prédio amarelo vizinho à Secretaria de Polícia)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10, meia

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Teatro do Parque – Um memorial afetivo

Enquanto a reforma não acaba, os frequentadores do local relembram histórias. Foto: Ivana Moura

Enquanto a reforma não acaba, os frequentadores do local relembram histórias. Foto: Ivana Moura

“Era um tempo de desejos inteiros. Um adolescer. Ia ao Teatro do Parque em busca do encontro. O cinema, os shows e um namorado tão especial, que tudo se fazia cores e o Teatro, era espaço do beijo e da vida em movimento. Ali tudo parecia possível. Ser feliz algo palpável. Ouvir os sons, passear pelas varandas e o jardim. Tão vivo!!! Um parque de buscas e eu com a jornada à frente… A vida saudosa e na intenção de futuro o mais breve.

Luciana Lyra, atriz, diretora, professora

“Não vou lembrar a primeira vez em que pisei os pés no Teatro do Parque, em meus 25 anos de moradora do Recife, mas nunca esquecerei de seus corredores da frente lotados de gente em busca de ingressos em dia de cinema a preço módico ou de festivais lotados como os de teatro e dança da capital pernambucana. Já até pisei no palco como artista – amadora, é verdade, mas me achando a bailarina de verdade, quando fui aluna (sempre uma honra) da Academia Mônica Japiassú, de professores como a própria Mônica, de outra xará, a Lira (do Grupo Experimental de Dança), de Heloísa Duque (do Vias da Dança). Tenho um amigo dos tempos de colégio, hoje morando bem longe daqui, que outro dia me confessou que recorda ter estado na plateia naquela noite, e que eu não estava nem fantasiada de odalisca de dança do ventre, nem de Madonna nos idos de Vogue, com corpete preto de renda e cinta-liga, dançando um jazzão daqueles de jogar a perna lá em cima (sim, guardo estes momentos na memória com carinho, mas não sem alguma vergonha de tê-los enfrentado).

Mas voltemos ao Parque e seu entorno. Lá, fui à primeira sessão de cinema com um ex-amado para assistir ao filme franco-hollywoodiano O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Era começo de semana e o ingresso ficava ainda mais barato. Ele tinha ido naquele dia fazer a carteirinha de estudante (ainda era aluno do curso de Engenharia na faculdade, por muito pouco não havia sido jubilado) para disputar o direito à meia-entrada, mas na hora H esqueceu o dinheiro e quem pagou os dois ingressos fui eu (na faixa de R$ 2 somados, isso lá pelos meados de 2003). E a gente riu da situação e se emocionou com a história de amor do filme vendo tudo do alto, sentados nas cadeiras laterais do primeiro andar.

Na trajetória como repórter da editoria de cultura de jornal local, onde permaneci por 14 anos, perdi a conta de quantos espetáculos acompanhei ali. Da Mostra Brasileira de Dança, ao Festival Recife do Teatro Nacional, de obras dedicadas ao público adulto ou infantil, de Du Moscovis ao Palhaço Chocolate, passando por Duda Braz abalando nas sapatilhas de ponta em suas incontáveis piruetas e grupos de escolas ou profissionais dançando e interpretando, enfim…

Quando o carioca José Mauro Brant trouxe um espetáculo de contação de histórias e músicas dos meus tempos de criança (se não me engano, Contos, Cantos e Acalantos ou algo assim), me emocionei na plateia, entrando em contato com a criança que mora dentro de mim, mas andava adormecida.

Saudades das escadarias laterais, das cadeiras bem juntinhas umas das outras, dos camarins nos bastidores, de pegar fila para comprar pipoca, ir ao banheiro ou simplesmente para entrar. Até para estacionar, era um caos. Teve uma época com o ar-condicionado quebrado (igualzinho ao Santa Isabel). Mas o que mais lembro é da saudade.

Tatiana Meira, jornalista

“Teatro do Parque, o que estão fazendo com você? A saudade não tem tamanho. Lugar icônico da cidade do Recife, o Parque era ponto de encontro de gente que consumia cultura em todos os níveis. Como não lembrar das sessões de cinema a preços populares, do projeto Seis e Meia com excelentes shows de MPB e das peças de teatro, seja em temporadas ou em festivais. Vivi lindos momentos naquele lugar como artista e como público. Assisti O Rei da Vela, A Vida é Cheia de Som e Fúria, Melodrama, Fábulas e tantos outros espetáculos que marcaram minha vida. Fui testemunha de um momento histórico, o protesto espontâneo do público na abertura do primeiro Festival de Teatro do Recife, na apresentação da peça A Pedra do Reino, com Ariano Suassuna e Arlete Sales (homenageada do festival) na plateia. Foi uma vaia como eu nunca vi na vida até hoje. Era o teatro vivo, pulsante. Foi o Teatro do Parque que abrigou a temporada do primeiro espetáculo para infância e juventude do nosso grupo, Pinóquio e Suas Desventuras, e tinha um público muito bom que consumia cultura naquele lugar. O seu centenário de portas fechadas, numa obra sem fim que ultrapassa os limites do descaso é algo muito triste de se ver. O Teatro do Parque merece abrir suas portas, se encher de vida e trazer de volta ao Recife as pulsações no coração da cidade.

Antônio Rodrigues, ator e diretor da Cênicas Cia de Repertório

“No Teatro do Parque eu assisti minha primeira peça teatral, Mito ou Mentira, de Luiz Felipe Botelho. Vi tanta coisa boa no projeto Seis e Meia. Vi Elomar, Xangai e Ângela Rô Rô. Vi peças infantis, vi dança e vi espetáculos na pracinha do Parque. Vi uma multidão assistir à peça adulta Concerto para Virgulino dentro do festival Peça a Nota. Vi Cinema Paradiso. Vi e fui visto. Foi no Teatro do Parque que fiz, dentro do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, A Terra dos Meninos Pelados. Foi lá que foi realizado o primeiro festival de vídeo do Recife e participei com o filme Matarás, de Camilo Cavalcante.
O teatro era meio que nosso escritório. Qualquer coisa:
– Vamos marcar no Teatro do Parque?
Ou
– Eu te espero no Teatro do Parque.
Quando não:
– Que horas a gente se encontra no Teatro do Parque?
Era nossa referência.
Eu te espero …
Eu espero Teatro …
Do Parque”
.
Samuel Santos, diretor do grupo O Poste Soluções Luminosas

Quer participar do nosso memorial? É só enviar seu depoimento, texto, poema, vídeo, para o e-mail satisfeitayolanda@gmail.com .

Para acessar outros depoimentos, é só acessar os links: Memorial 1 / Memorial 2.

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