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Gosto de dendê

Casa Número Nada

Fábio Vidal e Mariana Freire, artistas de Salvador, chegam ao Recife esta semana para apresentar quatro projetos: Seu Bomfim, Eterno Retorno – ERê, Sebastião e Casa Número Nada. Trata-se do projeto de circulação SoloTeropolitanos, que já passou pelo Rio de Janeiro, por Brasília e por São Paulo. As montagens serão apresentadas no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

Segue a programação:

Dias 18 e 19/10, às 19h
Sebastião
Sinopse: Em Maracangalha, distrito próximo a Salvador, um avião transportando 5,6 milhões de reais, sofreu um acidente, caiu e foi saqueado por muitas pessoas. Ao invés de felicidade, este dinheiro trouxe desespero e terror para os moradores locais. A história é contada e vivida por um cearense, chamado Sebastião, que se vê envolvido em uma trama de perseguição e violência, depois que participa do saque do dinheiro que caiu com o avião.

Dia 20, às 19h, e 21/10, às 18h
Casa Número Nada
Sinopse:O solo apresenta Renata, que chega à sua casa e a encontra vazia/roubada. O texto cênico parte da súbita retirada da segurança material da personagem, que se confronta com o vazio existencial de sua alma e se depara com questões adversas que tratam do sistema capitalista de consumo, com sua memória, com o estado de coisificação social estabelecido pelo regime neoliberal que vivemos e que suscita nela o resgate de sua humanidade e de seus sentimentos para superação de um estado de luto/crise em que ela se encontra.

Dias 25 e 26/10, às 19h
Eterno Retorno – ERê
Sinopse:É uma performance teatral narrativa sobre a criação e evolução da vida, do homem e do espírito. Apresenta um ERê (um misto de mensageiro, palhaço, bufão e divindade) que vivência o processo existencial marcado pelas contradições humanas que variam entre a delícia e a desgraça, o monstruoso e o sublime, o trágico e o cômico, o infantil e o velho, o inédito e o padronizado, a morte e a vida.

Dia 27, às 19h, e dia 28, às 18h
Seu Bomfim
Sinopse:Um contador de histórias chamado Seu Bomfim, um velho e errante homem do Sertão, narra um episódio presenciado por ele sobre um “homem do rio” que deixou sua família e sua vida para se colocar numa canoa, no meio do rio, de onde não sai mais.

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Mestres da alegria

Eles são inacreditáveis. Encantam não só as crianças, mas os adultos – que ficam surpresos e se sentem prestigiados por um espetáculo inteligente, interessante, que traz referências diversas (sejam musicais, estéticas, textuais). Palhaços em ConSerto, montagem dos Doutores da Alegria Recife, está em cartaz no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, aos sábados e domingos, às 16h30. E é bom chegar cedo, porque é uma briga por ingresso!

O espetáculo é um musical. São médicos “besteirologistas” que se encontram para ensaiar um concerto; mas ali somente a musicista Rosemary Oliveira “leva o propósito à sério”. Os palhaços se revezam ao microfone e mostram os seus “dotes” musicais. Geralmente, eles são inversamente proporcionais à capacidade de nos fazerem rir. Através de um olhar, uma careta, uma piada, uma situação inusitada. E é um espetáculo em que todos têm a oportunidade de brilhar. É um elenco muito bom de atores/palhaços e uma seleção musical de fazer gosto – vai de Michael Jackson ao cancioneiro popular.

Se for para destacar alguém, só por força do hábito, não há como esquecer Arilson Lopes (dr. Ado); e Tâmara Lima, a palhaça Tan tan, que tem um apelo mágico com as crianças. Mas todos têm o seu charme (porque talento já é indiscutível nesta trupe!): Anderson Machado (dr.Cavaco), Eduardo Filho (dr. Dud Grud), Enne Marx (dra Mary En), Greyce Braga (dra Monalisa), Juliana Almeida (dra Baju), Luciano Pontes (dr. Lui), Marcelino Dias (Dr. Nicolino) e Fábio Caio (dr. Eu). A direção é de Fernando Escrich e a coordenação artística é de Enne Marx. A ficha técnica tem ainda Luciana Raposo (técnica de Luz), Carlos dos Prazeres (técnico de som), Enne Marx (também na coordenação de produção), Tâmara Lima (produção executiva) e Nice Vasconcelos (assistente de produção).

Além das apresentações no teatro, os Doutores estão visitando os hospitais com Palhaços em ConSerto. No dia 17, às 10h30, eles estarão no Hospital da Restauração e, no dia 24, no Imip, no mesmo horário.

Palhaços em ConSerto
Quando: sábados e domingos de agosto, às 16h30
Onde: Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro)
Quando: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3216-1708

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Ao sabor das palavras

“Não que eu tenha adivinhado o que você deseja, e nem tenho pressa de saber; pois o desejo de um comprador é algo muito melancólico, algo que contemplamos como um segredinho pedindo para ser descoberto e que fazemos hora para descobrir”

“Já que não existe injustiça verdadeira nesta terra, além da injustiça da própria terra, que é estéril pelo frio e estéril pelo calor e raramente fértil pela doce mistura do calor e do frio, não existe injustiça para quem anda sobre a mesma porção de terra submetida ao mesmo frio ou ao mesmo calor ou à mesma doce mistura, e qualquer homem ou animal que pode olhar outro homem ou animal nos olhos é seu igual, pois eles andam sobre a mesma linha plana e reta de latitude, escravos dos mesmos frios e dos mesmos calores, ricos ambos e ambos pobres”

“O olhar passeia e pousa e pensa estar em terreno neutro e livre, assim como a abelha num campo de flores, como o focinho de uma vaca no espaço fechado de um pasto. Mas o que fazer com o próprio olhar? Olhar para o céu me torna nostálgico e fixar o solo me entristece, lamentar alguma coisa e lembrar que não a temos são motivos de desolação. Então, precisamos olhar na nossa frente, à nossa altura, qualquer que seja o nível onde o pé está provisoriamente colocado; foi por isso que, ao andar por onde andei ainda há pouco e onde estou parado agora, meu olhar tinha que esbarrar, mais cedo ou mais tarde, em qualquer coisa parada ou andando na mesma altura do que eu; ora, pela distância e as leis da perspectiva, todo homem ou todo animal está provisoriamente e aproximadamente à mesma altura do que eu”

Na Solidão dos Campos de Algodão

Texto: Bernard Marié Koltès
Tradução: Jackeline Laurence
Encenação: Antonio Guedes
Elenco: Edjama Freitas (Cliente)
                Tay Lopez (Dealer)
Cenografia: Doris Rollemberg
Execução de cenografia: Saulo Uchoa
Cenotécnica: Katia Virgínea, Júlio Cerza, Gaguinho e David Guerra
Figurino: Luciano Pontes
Iluminação: João Denys
Operação e montagem de luz: Dado Sodi
Assistente de Montagem: João Pedro Leite
Trilha Sonora: Marcelo Sena
Vídeo: Alan Oliveira e Rafael Malta
Assistente de Encenação: Alexsandro Souto Maior
Preparação de Elenco (corpo/voz): Érico José
Direção de movimento: Míriam Asfora
Produção Executiva: Luciana Barbosa
Realização: Companhia do Ator Nu

Na solidão dos campos de algodão
Quando: Estreia dia 8 de agosto, às 20h; temporada: quartas, quintas e sextas-feiras, até 24 de agosto, às 20h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro)
Quanto: R$ 20 e R$ 1o (meia-entrada)

Na próxima segunda-feira (6), o diretor Antonio Guedes vai receber alguns alunos de teatro e interessados no Sesc Santo Amaro para conversar sobre teatro contemporâneo. Será a partir das 20h. Entrada gratuita.

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Quando a dúvida é maior do que a certeza

O canto de Gregório está em temporada no Marco Camarotti. Fotos: Ivana Moura

GREGÓRIO — Pensar me coloca acima das emoções. O pensamento voa alto e lá de cima avista, em seus labirintos, as emoções rasteiras. Mas do seu próprio céu o pensamento não escapa — e outros labirintos muito mais devastadores o envolvem. Para a alma, pensar é definitivamente mais doloroso do que sentir — a dor sem saída provocada por um paradoxo é eterna. As emoções? Para o saudoso, a lembrança alivia. Para o perdido, uma palavra consola. O desesperado — de que mais ele precisa senão de fé? Mas a ninguém, em nenhum tempo, em nenhum lugar, é permitido escapar da dor de um paradoxo. Para ninguém tirar conclusões precipitadas, deixo claro: eu sou um ser humano, eu não sou uma máquina. Porém, quando choro — ouçam bem isto — quando eu choro, minhas lágrimas não me comovem. Para meu assombro, até comovem certos corações. Corações sensíveis, sem dúvida, mas, espantado, me pergunto: sensíveis exatamente a quê? Enquanto minhas lágrimas correm, vejo à minha frente um doce olhar de enternecimento. Minhas lágrimas correm, e provocam nesse coração uma grande ternura. Enquanto isso, meu Deus, eu mesmo não entendo por que choro. Acontece que, enquanto choro, não consigo deixar de pensar. E o pensamento me faz uma dura acusação: choro para obter piedade. Isso me revolta, isso me repugna. Então tento resgatar dentro de mim aquilo que me impulsionou o pranto e, aterrado, não encontro nada. Terei, digamos, me arrependido de alguma coisa? Quem responde é o meu intelecto: arrependimento, Gregório, era o que você queria representar com suas lágrimas. A dúvida me paralisa: chorei porque estava arrependido ou porque precisava parecer arrependido? Não, não é que eu estivesse fingindo de propósito. Mas minha mente talvez entendesse que era necessário eu parecer arrependido — e de uma forma tão intensa que nem eu mesmo desconfiasse de que meu choro servia ao engano. Mas há um coração a se compadecer diante de mim, certo de meu arrependimento sincero, enquanto eu, numa estranha porém vigorosa iluminação, tudo o que consigo é me dizer: quero que meu arrependimento seja sincero, tudo o que quero neste instante de minha vida é ser absolutamente sincero neste arrependimento — mas não sei se sou nem sei se não sou sincero. É a dúvida que me atinge: se me vejo como sincero — sou de fato sincero ou quero apenas fazer com que eu acredite que tudo o que quero é ser sincero? Eis aqui um Ser Humano como eu, e eis aqui o Intelecto desse Ser Humano. (Aponta as duas personagens.) Como um Ser Humano pode ser açoitado pelo seu Intelecto?”

Pedro Wagner é o protagonista

O canto de Gregório, do grupo Magiluth
Direção: Pedro Vilela
Dramaturgia: Paulo Santoro
Elenco: Pedro Wagner, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Lucas Torres
Direção de arte: Renata Gamelo, Cecília Pessoa, Guilherme Luigi
Sonoplastia: Hugo Souza
Produção: Grupo Magiluth

Confira a crítica feita por Ivana Moura na época da primeira temporada do espetáculo, no Teatro Hermilo Borba Filho.

Serviço:
Onde: Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro)
Quando: sábados e domingos, às 18h
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) – doando um quilo de alimento não perecível, o ingressos sai pelo valor da meia-entrada
Capacidade: 50 pessoas

Sócrates, Platão, Jesus Cristo e Buda participam da discussão

E um vídeo de divulgação na época da estreia:

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Caixas de afeto

Peça trata da dificuldade de comunicação entre pai e filho. Fotos: Ivana Moura

O Homem Que Amava Caixas é um emocionante espetáculo para as crianças de ontem e os adultos de amanhã. A peça mostra a dificuldade de um filho de se aproximar do pai. Ele é pequeno e tem seus medos e fantasias. Já o adulto, aficcionado por caixas de todos os tipos e tamanhos, também não consegue se aproximar do garoto.

O homem do título parece tímido e com certeza não tem muitas habilidades comunicativas. Mas eles se amam e esse obstáculo será ultrapassado no decorrer da encenação.

A peça é inspirada no livro do australiano Stephen Michael King e A Cia. de Teatro Artesanal investe na beleza plástica da montagem: todo o visual é muito cuidadoso, como as roupas do eleneco.

O trio de atores é Márcio Nascimento, que representa o pai, Bruno Oliveira e Marise Nogueira, que trabalham com manipulação de bonecos. Eles utilizam com maestria a técnica de manipulação direta e conseguem congregar o universo mágico dos títeres com a cena de atores humanos e suas máscaras. O resultado é muito bonito. Em determinado momento, parece que o menino virou gente de verdade, com todas as suas pequenas falhas – medo de criança, receio de ser repreendido ou rejeitado. A ternura emana das mãos dos atores e contagia os bonecos.

Montagem é da Cia de Teatro Artesanal, do Rio de Janeiro

O espetáculo tem poucas falas e silêncios que dizem muito. A montagem, que tecnicamente é muito bem resolvida, dialoga com o cinema como a criação de planos, simultaneidade de ações. Uma sequência belíssima é quando o pai ator sai de cena para entrar o ambiente do bonecos e as ações de empinar pipa passa na janela. Ressalta aí também a distância de mundos. Numa mesma casa em que vivem o pai, o filho e o cachorro (sem nenhuma presença feminina) parece que eles habitam em universos diferentes. O claro escuro da peça remete à estética do cinema expressionista.

O Homem que amava caixas aposta no universo minimalista com canções curtas, sons onomatopeicos enquando expande as possibilidades imagéticas e sensoriais da cena. A música original e o desenho de som são de Daniel Belquer e o desenho de luz, que salienta a temperatura das relações, é assinado por Jorginho de Carvalho. Algumas das imagens dessa peça vão se alojar na memória afetiva.

Grupo fez duas sessões no Recife

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