Talento para sobreviver na guerra

Merida Urquia apresenta Mãe coragem há 13 anos. Fotos e texto: Ivana Moura

(Texto de Ivana Moura!)

A guerra é um negócio lucrativo. Mãe Coragem sabe disso, embora só descubra o peso do sacrificio imposto quando perde seus maiores tesouros: seus filhos. Mas ela prossegue na guerra. A atriz e diretora cubana Merida Urquia fez algumas adaptações na obra de Bertolt Brecht no espetáculo solo que exibe ainda hoje às 19h, no Teatro Marco Camarotti, dentro do Palco Giratório. Além de limar uma série de personagens, ela investe sua carga nos malefícios da guerra em todos os tempos, inclusive hoje.

A atriz costuma dizer que teve três mestres na sua carreira: o italiano Eugenio Barba, o brasileiro Antunes Filho e os palcos. Com uma motivação física plena de consciência corporal, memória dos ensinamentos de Eugenio Barba, e uma presença cênica poderosa, que também teve a mão do mestre Antunes filho, Merida Urquia leva para o palco a fúria de quem precisa sobreviver. Ela está de mãos dadas com Mãe coragem há treze anos.

Última sessão do espetáculo será nesta sexta

A atriz se desdobra em Anna Fierling, mascate que segue o Exército Sueco na Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, sua filha muda Katrin e a narradora.

O texto foi adaptado por Ricardo Muñoz, que criou com Merida o grupo Teatro A Cuestas, há 18 anos. Nas justaposições de cenas, ela aparece como a “hiena no campo de batalha”, que aprende muito pouco com tudo que acontece.

Uma das cenas mais bonitas de se ver é quando a filha Katrin denuncia o horror e, como não pode falar, bate seu tamborzinho, enquanto a cidade acovardada permance silenciada. As mudanças de papeis são feitas com força, a força intepretativa de uma atriz que se joga por inteiro nos personagens e os domina com cantos, silêncios, gestos desesperados e até mesmo cobranças à plateia como coresponsável por tudo que acontece no mundo.

Parece que no fundo ela insiste na tese de que a a guerra torna os homens piores e não melhores. Mãe coragem segue com sua carroça cada vez mais vazia. Entre a fartura do começo e a penúria do final, há um movimento para arrancar o espectador da zona de conforto, como o queria Brecht.

Atriz diz que teve três mestres: Eugenio Barba, Antunes Filhos e o palco

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