Arquivo da tag: Grupo Magiluth

Olé, olé, olá, Severino, Severino
Critica do espetáculo Estudo Nº1: Morte e Vida,
do Grupo Magiluth

Estudo-N°1- Morte e Vida. Foto: Vitor Pessoa  / Divulgação

Estudo-N°1- Morte e Vida. Mário Sergio e Parmera, Erivaldo no chão. Fotos: Vitor Pessoa  / Divulgação

A montagem do Grupo Magiluth, com direção de Luiz Fernando Marques, o Lubi, explora muitas camadas. 

Giordano Castro, em primeiro plano na peça-palestra

Busco dialogar com o Estudo Nº1: Morte e Vida, espetáculo do pernambucano Grupo Magiluth. Esse desejo de interlocução traça um movimento contrário ao predomínio de intolerância, condenações e cancelamentos desses tempos. Minha vontade é sintonizar com as possibilidades de trocas, perseguindo delicadezas e ludicidade, mesmo para tratar de concretos de durezas, de barbarismos. Esperançando ampliar o círculo. Esse texto que me atravessa, é passado pelo rio Capibaribe, imagino que por outros rios: Tietê, Sena, Tejo, até o Riacho do Ipiranga (onde, conta a História oficial, foi gritada a independência do Brasil) e carrega muito da hidrografia soterrada. É um ensaio ansioso, repleto de incômodos, como o que sinto há semanas no braço direito de tendinite e outras dores de viver mais difíceis de traduzir.

O Grupo Magiluth – com seus atores Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Lucas Torres e Pedro Wagner – é uma trupe de homens, rapazes, meninos que fazem arte, que performam, que jogam cenicamente, posicionados (e movendo-se) de lugares para problematizar as masculinidades, o patriarcado, as questões estruturais que escamam de seus corpos, descontruindo. Observo esse universo, não o capto em sua plenitude movente, não só por ser mulher, mas por toda experiência interseccional de identidade. Somos subjetividades não totalmente decifráveis. E a arte faz um mergulho em águas profundas, oferece e desfaz os sentidos em sequência, em paralelo ou de maneira aleatória.

Os artistas do Magiluth, seu diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi, e o assistente de direção e diretor musical Rodrigo Mercadante, essa turma toda cria, de modo arbitrário, os recursos expressivos a partir da peça-poema Morte e Vida Severina – Um Auto de Natal, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) para compor um caleidoscópio das ruínas contemporâneas.

A palavra arbitrariedade vem determinada para falar de escolhas que não seguem réguas, testa outras possibilidades. Tem a ver com impacto da sonoridade da língua no corpo, na caixa preta, nas distorções de vozes da tecnologia digital. Convoca materialidade e seu oposto. Saussure sussurrando. Imagem acústica, representação da palavra. A partir das pontes do Recife desafia regras para desestabilizar certezas – de ideias, de soberanias, das cenas.

Percebo o trabalho do Magiluth erguido feito um ensaio como estimou o filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão Theodor W. Adorno: um jogo aberto de linhas temáticas que se cruzam a partir da ideia de migração, que expõe tensões e contradições do real. Tudo isso encarado de frente, sem o impulso de sublimação. Perguntas e provocações são expostas, num caldeirão que ferve naquele território.

E agora me vem fortemente a imagem da intensa Elis Regina (1945 – 1982), uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, cantando Aprendendo a jogar, uma música de Guilherme Arantes. [Dig dig dig dig dig dagá ah ah Dig dig dig dig dig dagá ah ah (…) Vivendo e aprendendo a jogar … / Nem sempre ganhando / Nem sempre perdendo / Mas, aprendendo a jogar (…) Água mole em pedra dura / Mais vale que dois voando (…)]. No show Saudade do Brasil, de 1980, Elis usava uma camiseta preta, com a imagem da bandeira do Brasil ao centro, escrito “Elis Regina”, no lugar de “ordem e progresso”. Como acontece com frequência nos regimes autoritários, a Ditadura Militar proibiu a intérprete de usar o figurino, numa demonstração feérica de Censura. Eita danou-se. Estou fazendo a minha dramaturgia. Tem vídeo na internet da cantora, que morreu há 40 anos num 19 de janeiro.

Parmera em primeiro plano e Má´rio Sergio ao fundo

Ao se arriscar, Estudo Nº1: Morte e Vida rejeita as formas bem-acabadas, dá um passo além em alguma direção, mas reaproveita antropofagicamente outros processos / estratégias de montagens anteriores da trupe e os atritos do real. O contato com o objeto disparador – a peça-poema de João Cabral – ganha diversas tessituras, amarrações, entradas, desenvolvendo uma rede que aponta para outras ressonâncias, ampliando alcances da obra cabralina.

Dito de outro jeito, a peça é uma transpiração de vitalidade cênica de artistas que sobreviveram / sobrevivem “agarrados a caixas de isopor” neste país afundado em tantas desgraças. É grito por dignidade, que segue de mãos dadas com poemas de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina e outros como O Rio (ou Relação da Viagem que faz o Capibaribe de Sua Nascente À Cidade do Recife) e O Cão Sem Plumas. É forte nos nexos com o real – de que somos muitos Severinos –, da uberização dos trabalhadores às consequências palpáveis do Antropoceno, essas ações destrutivas cometidas contra o planeta Terra.

O abraço com João Cabral é fato e ficção. Está no tom crítico nos vínculos aos problemas sociais, no mergulho no contexto humano e geográfico do Nordeste brasileiro, que espelha em estilhaços outros nordestes do mundo. As palavras que ressaltam o cotidiano de quem se vira com o mínimo compõem quadros inspirados e inspiradores. O inabalável trabalho artesanal cabralino é destacado pelo Magiluth em idas e vindas de significâncias. A abdicação do sentimentalismo lírico é valorizada pelo grupo.

A experiência de assistir ao espetáculo está plena de pequenos abalos sísmicos e da constatação no que se transformou o humano, do alto de sua arrogância. E vem numa construção de imagens de intensa plasticidade, sejam elas para os olhos, ouvidos ou outros sentidos.

Foto: Vitor Pessoa  / Divulgação

Publicado em 1955, Morte e Vida Severina é um poema de gênero lírico que traça o percurso de Severino, um migrante nordestino que sai do Serra da Costela, (local fictício, mas com características idênticas ao sertão pernambucano) em busca de uma vida menos “Severina” no Recife capital. Na seca região “magra e ossuda” onde a personagem morava, morre-se de “morte Severina”: “que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte; de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida)”.

Sabemos que migrações existem desde sempre. Nas melhores hipóteses, por curiosidade, pela aventura, pela descoberta. Há outras, não tão prazenteiras. Situações de seca ou alterações climáticas graves e ausência de políticas públicas de enfrentamento dessas situações, a exclusão social e a falta de condições para a sobrevivência. As migrações, que são também movimentos, revelam múltiplas “geometrias do poder”. A montagem do Magiluth obliqua que as mobilidades dos sujeitos contemporâneos são desiguais e faz cintilar palavras como injustiça, miséria, fome, política, violência, fronteiras materiais e simbólicas, poder, uberização.

Pensado em fragmentos, que reflete de maneira multifacetada um painel de forma espiralar (salve Leda Maria Martins),– do cruzamento de ciclos do passado, presente e futuro – esse Ensaio nº 1 desmantela a obviedade do que se pode se entender como Severino, Morte e Vida, Nordeste, nordestino, artista nordestino, João Cabral de Melo Neto. De novo o farol de Adorno: para o filósofo o ensaio se situa na fronteira entre a filosofia e a arte. Rigor e representação não-idêntica, revelando na porosidade as contradições.

Em estudo publicado em 1950, que pensava a pintura de Joan Miró, João Cabral já disse que desaprender é fundamental, sair do automatismo da tradição. Quebrar com procedimentos e hierarquias de valor na arte e na vida. Desaprendo frente à cena do Magiluth.

No campo do poema, João Cabral traça uma constelação de elementos heterogêneos. Ao estudar a obra do poeta pernambucano, o filósofo Benedito Nunes detecta que nesta máquina do mundo, que é o poema, Melo Neto trabalha à maneira de um tear que tece num sentido e destece noutro os fios de diversas tramas complicadas. Em O dorso do tigre (1969) Nunes aponta que Cabral fabrica e destrói, agrega e desagrega, mediante operações diferentes, as várias peças da realidade social e humana. Enxergo essas ações cabralinas no palco.

Acompanhemos o curso do rio, o discurso-rio do Marigluth.

Os microfones, as projeções, o Magiluth joga com a ideia de peça-palestra

A bandeira de Kiribati e as mãos levantadas num pedido de socorro em referência a outro espetáculo do grupo

Na peça são explorados quatro marcos estilísticos: Metateatro, Épico, Documental e pós-contemporâneo, em acúmulos e partículas. Nessa dança estética, a correnteza traz memória de outras obras magiluthianas: Viúva, porém honesta; O ano que sonhamos perigosamente; Dinamarca; Aquilo que meu olhar guardou para você; 1 Torto. São muitas camadas, numa polifonia que aponta para dentro, como a cena do modo de viver hygge (um bem-estar tão acolhedor dos privilegiados) ou o foco de luz, uma reivindicação de Mário Sergio em outra encenação que agora chega tranquilo.

A polifonia aponta para Kiribati (ou Quiribati), na real um arquipélago no Pacífico Central, com quase 120.000 habitantes. Assinala também os Severinos-Thiagos, Severinos-Galos, Severinas-Pretas. Dos rios que correm dentro de cada um de nós. De Kiribati, já em 1989, um relatório da ONU alertou, que esse seria o primeiro país a ser devorado, em decorrência da elevação do nível dos mares, ou seja pela mudança climática. Existem outras correspondências com o Severino saído da seca, como a escassez de água potável.

Um humor carregado da gozação pernambucana (irônico, sagaz, malicioso, diria autoimune, cruel, que manga inclusive de nossa impotência; talvez Roger de Renor possa traduzir melhor essa especificidade de humor), abarca o palco, em fluxos, mirando efeitos variados: gerar reflexões e críticas sociais, produzir jogos num cruzamento dos procedimentos cênicos das peças contemporâneas, desafiar qualquer método absolutista.

Quando navega nas águas épicas traça um paralelo ente a palavra fome como necessidade de comer e o estado de morrer de fome, defendido como um assassinato. O tom mais político lembra da montagem de Morte e Vida Severina, pelo TUCA, em 1965, que ganhou prêmio no festival de Nancy, na França. Esquadrinha que os privilégios de hoje são consequência da usurpação de antes.

Punk rock, hardcore, sabe onde é que faz?
Lá no alto José do Pinho. É do caralho!
Tem Devotos, 3° Mundo que botam pra fuder
Todo sentimento obtido em seu viver…

Quando chegar ao Recife essa cena deve explodir. O cenário é… Em 1988, Cannibal, Neilton e Celo Brown, formaram a banda de punk rock e hard-core Devotos do Ódio (tempos depois o ódio do nome foi suprimido), no Alto José do Pinho, bairro da zona norte do Recife. A atuação do grupo foi fundamental para a mudança do perfil do morro. Com a assinatura de contrato com a Gravadora BMG, e o lançamento do disco Agora tá valendo, de 1997, a banda chega ao sucesso. Mais de 20 anos depois, o Grupo Magiluth constata que os direitos e lucros desse disco estão reservados à gravadora Sony Music, que em 2004 comprou a BMG. O Magiluth assinala: “Nem tudo o que o trabalhador produz a ele pertence.”

É tudo muito engenhoso. A trupe convoca Marx, sem citar o Karl, expõe os paradoxos e contradições do capitalismo com os jogos do próprio teatro. Somos atingidos, alguns de nós, pela ave-bala. O ouro-azul do jeans vem problematizar a noção de independência econômica, de autonomia financeira.

O polo industrial de jeans, em Toritama, é uma espécie de China com um carnaval no meio. Esse ouro-azul está na roupa dos rapazes, e está repleto dos questionamentos levantados pelo documentário Estou me guardando para quando o Carnaval chegar, de Marcelo Gomes. O filme não é uma apologia ao empreendedorismo, ou não somente, nem um réquiem saudosista de uma Toritama mais rural. Seus produtores de jeans batem no peito com orgulho que são “donos do próprio tempo”, mesmo trabalhando 12 horas ou mais por dia. É… são muitas dobras.

Em uma potência assombrosa, o ouro-azul se congrega com os entregadores de aplicativo, entre eles Thiago Dias, que trabalhava 12 horas por dia e morreu durante uma entrega aos 33 anos, vítima de AVC. Fato que se conecta com as Ligas Camponesas e os assassinatos de seus líderes.

Essa cena do canavial, que cruza Michael Jackson com maracatu rural, vale muitas teses

Michael Jackson do Canavial, um vídeo que pode ser encontrado no Youtube, fornece rico material da cultura que se movimenta, sem abandonar totalmente a tradição, mas utilizando as possiblidades do presente. O Magiluth confronta o caboclo de lança com o vídeo, em que a voz do astro do pop anima o trabalhador rural a seguir seus passos na dança. Ele canta que “Billie Jean is not my lover”, ela é apenas uma garota e o menino não é seu filho. Mais uma questão das mulheres não reconhecidas, e essa e uma problemática muito complexa, que apenas pontuo.

O Estudo Nº1: Morte e Vida utiliza as tecnologias, as projeções, justaposições. Quebras de fronteiras se alimentam das práticas teatrais, subverte, testa combinações. É interessante saber que numa entrevista 1998, João Cabral disse que “gostaria de ter sido cineasta”. Sua composição poética aproxima-se das teorias da montagem do cineasta Eisenstein ou do teatrólogo Bertolt Brecht.

O Magiluth expõe dados de pesquisa da internet sobre refugiados e migrantes que tentam fugir de guerras e tentar asilo oficial em países europeus. Em botes e em embarcações superlotadas e sem as mínimos condições de segurança, esses humanos arriscam as próprias vidas (muitos barcos afundaram) sem nenhuma garantia de asilo oficial. Para outros, a travessia é um negócio altamente lucrativo, que pode render por embarcação US$ 1 milhão. São muitos tentáculos do capitalismo, em que a vida importa pouco. Ponte com Brecht.

Deslocamento é uma questão discutida na peça

Em uma cena, depois de anunciar que Kiribati sumiu do mapa, afundou e de já ter citado um trecho do poema O Rio (Para os bichos e rios / nascer já é caminhar), Giordano propõe um jogo a Mário Sergio e Parmera. Os dois, como representantes das duas maiores potências, terão que chegar a um acordo para salvar o mundo. É um diálogo surreal, em que nenhuma parte cede, e a conversa vai ficando cada vez mais insana, com proposta de matar populações inteiras de uma determinada região. Em um jogo de afrontamento direto, o coletivo expõe o esfacelamento da ética, as engrenagens de manutenção de poder e a guerra como saída para o impasse defendida sempre pelos capitalistas.

Todos os dias temos notícias de demonstrações de desumanidades. Em 24 de janeiro o congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, foi assassinado a pauladas por um grupo de homens, na barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Moïse teria ido cobrar o pagamento de diárias atrasadas no quiosque em trabalhava por comissão. No dia 19 de janeiro, o fotógrafo suíço René Robert morreu aos 84 anos de hipotermia, após longa exposição ao frio intenso. Ele desmaiou em uma rua de Paris e ficou sem ajuda por nove horas. Esses dois fatos não são citados na cena do Magiluth. Mas ecoa no ar como espirito desse tempo, sim. 

A humanidade está doente, não há dúvidas. Intolerância, racismo e xenofobia são sintomas dessa deterioração.

Mas apesar de todo esse quadro difícil, Estudo Nº1: Morte e Vida aponta para / e aposta na vida. No seu desejo de convívio, o grupo convoca o espectador a atuar no jogo cênico no entusiasmado grito dos grevistas. Severino está sinalizando alguma saída. Olé, olé, olá, Severino, Severino.

Depois de tantas palavras, o espetáculo prossegue reverberando de afetos.

 

* Assisti ao espetáculo Estudo Nº1: Morte e Vida na estreia, dia 28 de janeiro e no domingo, dia 30 de janeiro.
** Nessas duas sessões, o diretor-assistente/ diretor musical Rodrigo Mercadante substituiu Lucas, que estava positivado com Covid-19 naquela semana. 

Ficha técnica:
Criação e realização: Grupo Magiluth
Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de direção e direção musical: Rodrigo Mercadante
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Mário Sergio Cabral
Produção: Grupo Magiluth e Amanda Dias Leite
Produção local: Roberto Brandão

Estudo Nº 1: Morte e Vida, com o grupo Magiluth
Quando: De 28 de janeiro a 6 de março de 2022, sextas e sábados às 21h, domingos, às 18h
Onde: Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo SP)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Morte e Vida Severina na visão do Magiluth

Estudo1 Morte e vida. Foto: Vitor Pessoa / Divulgação

Pernambuco é um celeiro de escritores e poetas, com obras importantes para a literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é um dos grandes, adverte de cara o ator Giordano Castro ao ser perguntado sobre a escolha do texto. O centenário do poeta pernambucano ocorreu em 2020 no auge do isolamento social. Se o mundo não tivesse parado, a montagem do Grupo Magiluth inspirada em Morte e Vida Severina – Um Auto de Natal teria estreado para celebrar os 100 anos do autor de O Cão Sem Plumas. Muita coisa pifou com a pandemia da Covid-19. O trabalho do Magiluth, que primeiro seria um espetáculo de rua, ganhou outras feições durante esse percurso. Chega ao palco do Teatro Ipiranga, em São Paulo, como Estudo Nº1: Morte e Vida.

Com encenação de Luiz Fernando Marques, Lubi, parceiro da trupe pernambucana desde 2012 e diretor dos espetáculos Aquilo que meu olhar guardou para você e Apenas o Fim do Mundo, esse último juntamente com Giovana Soar, essa quase “peça-palestra”, vale-se do livro como disparador para discussões das migrações contemporâneas, a questão climática, da seca, e a repercussão na vida de pessoas de várias partes do planeta. Perpassada pela política, a montagem expande a figura do Severino para fluxos mundiais de deslocamentos.

O estudo do título expõe elementos que muitas vezes ficam ocultos nas encenações, como os sistemas de som e luz. A direção musical é de Rodrigo Mercadante, que reforça a ideia dos ciclos de vida e morte da peça em sua trilha, com sonoridades originais e músicas de artistas do punk e do hardcore de Pernambuco.

O retirante Severino, protagonista da peça cabralina, se apresenta como sujeito individual e coletivo. Ao investigar as migrações forçadas, o Estudo Nº1: Morte e Vida cavouca as perspectivas geográficas, simbólicas e humanas dos impulsos que se deslocam.

Entrevista || Giordano Castro 

Por que João Cabral?

É importante levar em consideração que Pernambuco é um estado com muitos escritores, muitos poetas que têm uma obra importantíssima para a literatura brasileira. E de um caráter estético muito inovador e peculiar. Cada um tem uma identidade muito forte. Dentre eles, João Cabral é um dos que chama bastante atenção para a gente por causa da questão do rebuscamento da própria escrita. Algo que ele levava com muito cuidado e muita atenção. Ele é conhecido por ser um poeta que lapidava muito os seus trabalhos e que ainda assim conseguia manter uma dureza naquilo ele falava.

Para nós, Morte e Vida Severina – apesar de ser uma obra que João Cabral não era muito carinhoso por ela – guarda uma célula muito potente de apontamentos de caminhos para abrir discussões. É como se dentro daquele poema-peça ele abrisse muitas questões. Ele não fala apenas sobre um homem que se vê na necessidade de migrar por problemas naturais e da seca, o que não seria pouca coisa, mas ele coloca questões sobre o trabalho, sobre o próprio homem, sobre a característica desse homem, sobre a terra, sobre a reforma agrária. Enfim, são muitos apontamentos e talvez esse trabalho tenha chamado a atenção da gente por causa disso. E dentro do Magiluth cada um foi atravessado por algo diferente, então acaba sendo uma poesia muito plural de abordagem. E a própria palavra, a forma como ele, João Cabral, como escolhe as palavras dentro do seu poema e como aquelas palavras têm uma maneira de organizar aquela poesia. A escolha foi por uma questão estética mesmo e também por uma questão política.

As migrações e travessias são marcas de cada tempo, que traduzem colonizações e buscas por territórios. Como o Magiluth atualiza esses movimentos nesta montagem?

As questões de migração e de travessia como você fala, de fato, são coisas que continuam acontecendo. Desde a ideia da existência humana até os dias de hoje a necessidade de migrar se faz. A gente sempre entende isso como um movimento político. Nas migrações hoje temos encontros com outros Severinos. O Severino que João Cabral aborda, nordestino, ganha ares mundiais. A gente entende hoje que os Severinos não são somente outros sotaques, mas outras línguas. As questões climáticas que fizeram com que o Severino do Morte e Vida saísse da sua região, hoje atinge e vai continuar atingindo e piorando para cada vez mais outras pessoas. Serão outros Severinos saindo de Quiribati, que vão começar a sair das cidades mais baixas do mundo depois do aquecimento global, com o derretimento das geleiras e o aumento dos oceanos. Serão Severinos americanos, italianos, recifenses. E essas questões climáticas, elas estão – hoje e ontem – absolutamente ligadas às questões políticas – como o homem politicamente usa a natureza, como como tudo isso interfere em ganhos, na estrutura, está tudo interligado

O que essa pandemia trouxe para o trabalho de vocês?
A pandemia, o que a gente consegue falar em muitas camadas. Ela foi desesperadora no começo, forçar o Magiluth a uma série de situações, parar as atividades e tudo mais. Depois ela foi uma descoberta para gente, o que gerou os três trabalhos online – (uma trilogia de experimentos sensoriais em confinamento, composta pelas obras Tudo que coube numa VHS, Todas as histórias possíveis e Virá)

Mais especificamente falando do Estudo Nº1: Morte e Vida, a pandemia deu um molde poético para o trabalho. O trabalho começou a ser pensado no final de 2019, passou por muitas possibilidades. Esse espetáculo já foi pensado, por exemplo no princípio, de um espetáculo de rua; depois foi pensado para se fazer no palco; depois ele virou o estudo. E a cada retomada por causa da pandemia, a gente também se encontrava com uma nova proposta poética. E aí eu acho que o resultado é uma soma de todos os momentos. Eu acho que a gente conseguiu amontoar todos eles.

Ficha Técnica
Criação e realização: Grupo Magiluth
Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de direção e direção musical: Rodrigo Mercadante
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Mário Sergio Cabral
Produção: Grupo Magiluth e Amanda Dias Leite
Produção local: Roberto Brandão

Estudo Nº 1: Morte e Vida, com o Grupo Magiluth
Quando: De 28 de janeiro a 6 de março de 2022, sextas e sábados às 21h, domingos, às 18h
Onde: Sesc Ipiranga )Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo SP)
Quanto: R$ 40(inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos

Postado com as tags: , , , , , , , ,

Estreias e reestreias nos palcos paulistanos em 2022

Sem Palavras, da cia brasileira de teatro. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Para quem estava com fome de teatro, 2022 chega como um banquete. Depois de tantos adiamentos provocados pela pandemia de Covid-19, a produção cênica refreada chega aos palcos como finos biscoitos sortidos, com toda garra e força da cultura brasileira.

Uma parceria do músico Tom Zé, do encenador Felipe Hirsch e do coletivo Ultralíricos investiga as origens do português falado no país no espetáculo Língua Brasileira, que estreia nesta quinta-feira (06/01). Em quase três horas de duração, a montagem propõe uma experiência poética, sonora e sensorial. A peça é narrada em latim, tupi, bantô, iorubá, até a linguagem trocada nas ruas atualmente.

O Grupo pernambucano Magiluth estreia Estudo n° 1: Morte e Vida (14/01, no Sesc Ipiranga) uma versão de Morte e Vida Severina, de Joao Cabral de Melo Neto, com aquela pegada de misturar referências. A busca do personagem Severino inevitavelmente levou a outras questões bem atuais, como as lutas por terras e o drama dos refugiados ao redor do mundo. O olhar inquieto do coletivo, com direção de Luiz Fernando Marques, tensiona os movimentos migratórios acendidos por adversidades climáticas, políticas e sociais.

Corpos se tocam, se encontram, com palavras ou na ausência delas, para criar fragmentos de histórias, impulsos de vida. O novo espetáculo da companhia brasileira de teatro, Sem Palavras, tem direção e texto de Marcio Abreu e estreou na França no ano passado, esteve no festival Mirada, em Santos, e chega ao Sesc Pompeia para uma temporada. Com música ao vivo executada por Felipe Storino, a peça fala da convivência das diferenças, na arte e na vida. A partir da questão de gênero, das identidades sexuais e culturais, a companhia ergue um espetáculo híbrido, uma dramaturgia carnal e potente. É inspirado em Um apartamento em Urano, uma obra que reúne as crônicas publicadas no jornal Libération, de Paul B. Preciado, filósofo trans, e nos textos de Eliane Brum. O elenco é formado por Fábio Osório Monteiro, Giovana Soar, Kauê Persona, Kenia Dias, Key Sawao, Rafael Bacelar, Viní Ventanía Xtravaganza e Vitória Jovem Xtravaganza.

A Cia. Les Commediens Tropicales e o quarteto À Deriva revisitam o mito grego de Medusa por meio do teatro e da música no espetáculo Medusa in.conSerto. A genialidade, o virtuosismo e a existência medíocre são pontos discutidos na peça O Náufrago, com direção de William Pereira, a partir da obra de Thomas Bernhard. Luiza Tomé estrela Loucas para amar, no Teatro Renaissance.

A Zózima Trupe e o CoraLeste apresentam o espetáculo Adeus, um musical operístico em homenagem às vítimas de Covid-19.

Mais um Matei Visniec chega aos palcos, com Edgar Castro e Donizeti Mazonas, em Com os bolsos cheios de pão.

Retomam temporada as peças A Pane de Friedrich Dürrenmatt; As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão, de Newton Moreno; Nossos Ossos, da Cia da Revista; A Importância de ser Prudente, da Cia London; O Vendedor de Sonhos, do best-seller de Augusto Cury; Romeu e Julieta 80, com o Teatro Promiscuo de Renato Borghi; Quarto De Despejo, com Evoé Cia de Teatro.

E estão previstos Misery para fevereiro, com Mel Lisboa, Marcello Airoldi e Alexandre Galindo, e PÓS-F, Com Maria Ribeiro, para abril , depois da temporada on-line do ano passado.

Tom Sé e Felipe Hirsch, parceiros no espetáculo Língua brasileira. Foto Juuar / Divulgação

Língua Brasileira – De 06/01 a 20/02, Teatro Anchieta, Sesc Consolação

Peça dos Ultralíricos e Tom Zé

Língua Brasileira fala da epopeia dos povos que formaram a língua que falamos, seus mitos e cosmogonias. O trabalho passeia pelas remotas origens ibéricas, por romanos, bárbaros e árabes, pela África e América Nativa. É um mergulho no inconsciente do português falado no Brasil, inspirado na canção homônima de Tom Zé. O espetáculo nasceu da colaboração entre o compositor, o encenador Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos. No elenco, estão Amanda Lyra, Danilo Grangheia, Georgette Fadel, Laís Lacorte, Pascoal da Conceição e Rodrigo Bolzan e quatro músicos.

Música: Tom Zé
Direção geral: Felipe Hirsch
Elenco: Amanda Lyra, Danilo Grangheia, Georgette Fadel, Laís Lacôrte, Pascoal da Conceição,
Rodrigo Bolzan
Direção musical: Maria Beraldo
Músicos: Fábio Sá, Fernando Sagawa, Luiza Brina, Thomas Harres,
Diretora assistente: Juuar
Dramaturgia: Ultralíricos, Felipe Hirsch, Juuar, Vinícius Calderoni
Dramaturgista / consultor geral: Caetano Galindo
Direção de arte: Daniela Thomas, Felipe Tassara
Iluminação: Beto Bruel
Figurino: Cássio Brasil
Design de som: Tocko Michelazzo
Preparação vocal: Yantó
Design de vídeo: Henrique Martins
Assistente de direção e operação de vídeo: Sarah Rogieri
Assistente de pesquisa: Adriano Scandolara
Direção de palco: Nietzsche
Assistente de iluminação: Sarah Salgado
Assistente de figurino: Alice Tassara, Marcelo X
Operação de luz: Sarah Salgado, Igor Sane
Operação de som: Le Zirondi, Lúdi Lucas
Design gráfico e assistente de cenografia: Bárbara Bravo
Assessoria de imprensa: Factoria Comunicação / Vanessa Cardoso
Produção Tom Zé: Neusa Santos Martins
Produção primeira fase: Bruno Girello e Ricardo Frayha
Difusão Internacional: Ricardo Frayha
Assistente de produção primeira fase: Renata Bruel
Assistente de produção: Diogo Pasquim
Produção executiva: Arlindo Hartz
Direção de produção: Luís Henrique Luque Daltrozo

Quando: De 06/01 a 20/02, quintas, sextas e sábados, às 20h, e domingos às 18h
Onde: Teatro Anchieta, Sesc Consolação
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-enttada)
Duração: 160 minutos
Haverá intervalo de 15 minutos após 1h30 de espetáculo. Após a pausa, a peça continua por mais uma hora.

Medusa in.conSerto Foto Mariana Chama

Medusa In.conserto – De 7 a 23 de janeiro, Sesc Belenzinho

Medusa é considerada uma das figuras mais temidas da mitologia grega, de olhar petrificante e serpentes nos cabelos. Sacerdotisa do templo de Atena, Medusa teve seu corpo violado por Poseidon, o rei dos mares, e foi castigada pela própria Atena, deusa da justiça e da sabedoria. A Cia. Les Commediens Tropicales e Quarteto à Deriva inventam outra narrativa para Medusa nesta peça-show, contrariando o lugar de punição divina e lançando novos olhares (e novas pedras) à cultura de culpabilização da vítima.

Cia. Les Commediens Tropicales e Quarteto à Deriva
Concepção, encenação, elenco: Beto Sporleder, Carlos Canhameiro, Daniel Müller, Guilherme Marques, Michele Navarro, Paula Mirhan, Rodrigo Bianchini, Rui Barossi e Tetembua Dandara
Textos: Michele Navarro e Carlos Canhameiro (a partir do mito de Medusa)
Música: Quarteto à Deriva e Paula Mirhan
Pensamento visual (cenário, figurino): José Valdir e Renan Marcondes

Quando: De 7 a 23 de janeiro, sextas e sábados às 21h30, e domingos, às 18h30
Onde: Sala de Espetáculos I Sesc Belenzinho
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Duração: 80 minutos

Luiza Tomé e o maestro Miguel Briamonte em Loucas para amar. Foto: Glauber Dias / Divulgação 

Louca para Amar – De 7/01 até 25/02 – Teatro Renaissance 

A cada nova paixão, a personagem Graça assume uma nova personalidade. Vira especialista em sexo tântrico, com um, mística com outro, franciscana com mais outro. Passou a fumar, tornou-se judia ortodoxa, obsessiva por limpeza, nacionalista, boêmia, esportista, tudo dependendo do parceiro, às vezes acumulando mais de uma função. A ansiedade de ser amada faz com que essa mulher incorpore os desejos, os gostos, as características e os enganos de amores, amigos, família. Protagonizada pela atriz Luiza Tomé, a peça Louca para Amar tem participação do maestro Miguel Briamonte e direção de Rogério Fabiano. O texto inédito de Claudia Tajes é inspirado no seu best-seller Louca por Homem.

Texto: Cláudia Tajes
Direção: Rogério Fabiano
Direção de produção: Gerardo Franco
Elenco: Luiza Tomé
Iluminador: César Pivetti
Cenografia: Rogério Fabiano
Figurinos: Luiza Tomé
Trilha sonora: Miguel Briamonte
Fotos: Glauber Dias 
Visagismo: Ramon de Souza 
Assessoria de imprensa: Fabio Camara 
Leis de incentivo e prestação de contas: Márcia Amaral 
Administração geral e coordenação de projeto: Gerardo Franco 
Produtores associados: Gerardo Franco, Luiza Tomé e Rogério Fabiano 

Onde: Teatro Renaissance (Alameda Santos 2233, – Jardim Paulista)
Quando: De 7/01 até 25/02, sextas, às 21h30
Quanto: R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada)
Duração: 60 minutos

Espetáculo ADEUS, com Zózima Trupe e CoraLeste. Foto: Christiane Forcinito

Adeus – Dia 09/01, Praça de Eventos do Sesc Itaquera

Mais que nunca é preciso cantar. Os cânticos da despedida, as canções de honrar a memória, a música de esperançar. A Zózima Trupe e CoraLeste apresentam um espetáculo musical operístico que homenageia às vítimas de covid-19. Dividida em 3 atos (outono – a notícia, inverno – a morte e primavera – a esperança), essa ópera urbana celebra o movimento da vida com suas histórias singulares. Adeus é uma peça que saúda a ciência e aposta na cura.

Com Zózima Trupe e CoraLeste

Direção: Anderson Maurício
Direção musical: Cristiane Mesquita e Marcello Mesquita
Dramaturgia: Cleide Amorim
Atuação: Cleide Amorim e Júlio Cesar Perrud
Cantores(as): Aylton Macedo, Carla Vitor, Carlos Fagundes, Cauã Vitor, Cláudia Vitor, Claudius Jordão, Cleide Amorim, Cleiton Cabral, Cristiane Mesquita, Dany Lyma, Jefferson Dimbarre, Ianca Cristina, Larissa Rosa, Marcello Mesquita, Maria Matteo, Rita Benedito e Silvia Bolanho.
Composições: Cleide Amorim e Dany Lima
Percussionista: Fernando Gamba
Violão: Dany Lima
Guitarra: Cauã Vitor
Violoncelo: Ianca Cristina
Preparação vocal: Cristiane Mesquita
Maestro: Marcello Mesquita
Auxiliar do coro: Larissa Rosa
Trilha sonora: Cleide Amorim e Devão Souza
Sonoplastia: Devão Souza
Cenário e figurino: Clau Carmo
Produção geral: Tatiane Lustosa
Assistência de produção: Brenda Rebeka e Jonathan Araujo

Onde: Praça de Eventos do Sesc Itaquera
Quando: 09/01, domingo, às 15h30
Quanto: Grátis
Duração: 90 minutos

Luciano Chirolli e Romis Ferreira em O Náufrago. Foto: João Maria

O Náufrago – De 13/01 a 05/02 – Sesc Bom Retiro

O náufrago (1983) é o primeiro tomo de uma trilogia sobre as artes do escritor austríaco Thomas Bernhard (1931-1989). Árvores abatidas, que teve uma montagem exibida na MITsp, infere sobre a artificialidade do meio teatral austríaco e é a segunda parte. E Alte Meister (no inglês, Old masters), o último, é sobre pintura.

O náufrago traça complexas teias entre três músicos: o narrador, Wertheimer (o náufrago do título) e o famoso pianista canadense Glenn Gould (1932 – 1982). Ainda estudante no Mozarteum de Salzburgo, ao tocar “Variações” [as “Variações Goldberg”, de Bach] Glenn Gould fere mortalmente os dois amigos-ouvintes. Os efeitos da genialidade de Gould são devastadores na vida do narrador e de Wertheimer. O Náufrago traça um retrato de obsessões – a de Gould pela arte e a de Wertheimer por não ser Gould.

A narrativa, que no romance é feita por um único personagem, no palco é realizada por dois atores. O protagonista/Narrador (Luciano Chirolli) e Wertheimer (Romis Ferreira), o personagem que é citado e é uma sombra daquele que conta a história.

Texto: Thomas Bernard
Tradução: Sérgio Tellaroli
Adaptação, encenação e direção: William Pereira
Elenco: Luciano Chirolli/narrador, Romis Ferreira/Wertheimer
Cenários e figurinos: William Pereira
Iluminação: Caetano Vilela
Direção de palco: Elisete Jeremias
Contrarregra e operador de vídeo: Henrique Pina
Produção executiva: Rafaela Penteado
Assistente de produção: Adriana Florence
Direção de produção: Leopoldo De Léo Jr
Produção: LNW Produções Artísticas Ltda

Quando: 13/01 a 05/02, de quinta a sábado, às 20h
Onde: Teatro do Sesc Bom Retiro
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)
Duração: 80 minutos

Grupo Magiluth: Giordano Castro, Bruno Parmera, Mário Sergio Cabral, Erivaldo Oliveira, Lucas Torres. Foto: Pedro Escobar / Divulgação

Estudo n° 1: Morte e Vida – De 14/01 a 06/02 – Sesc Ipiranga

Morte e Vida Severina – Um Auto de Natal, de João Cabral de Melo Neto, é uma narrativa poética da trajetória do retirante Severino, que se apresenta como sujeito individual e coletivo. Na procura desse nordestino pela vida, ele se depara com várias mortes Severinas.
O Grupo Magiluth propõe um estudo cênico sobre a trajetória de imigrantes que deixam o solo nordestino na esperança de encontrar melhores condições de vida e trabalho.

Grupo Magiluth (PE)
Criação e Realização: Grupo Magiluth
Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de direção e direção musical: Rodrigo Mercadante
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Mário Sergio Cabral
Produção: Grupo Magiluth e Amanda Dias Leite
Produção local: Roberto Brandão

Quando: 14/01 a 06/02, sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h
Onde: Sesc Ipiranga
Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada(
Duração: 120 minutos

 Edgar Castro e Donizeti Mazonas em Com os bolsos cheios de pão. Foto Keiny Andrade / Divulgação

Com os bolsos cheios de pão – De 14/01 a 06/02, Sesc Pompeia

Ao redor de um poço abandonado, dois homens: um de bengala, outro de chapéu. Eles mantêm um diálogo que desliza entre amistoso, argumentativo, absurdo, enquanto um cachorro agoniza dentro do poço. O animal sofre enquanto os dois indivíduos conjecturam sobre como o cão foi parar ali. Com falas radicalmente subjetivas, a montagem do texto do romeno Matéi Visniec compõe uma metáfora para refletir sobre o cenário social brasileiro.

Texto: Matei Visniec
Tradução: Fábio Fonseca de Melo
Direção: Vinícius Torres Machado
Elenco: Edgar Castro e Donizeti Mazonas
Trilha sonora: Pedro Canales
Cenário e figurinos: Eliseu Weide
Iluminação: Wagner Antonio
Assistente de direção: Rafael Costa e Jéssica Mancini
Produção executiva: Jota Rafaelli – MoviCena Produções

Onde: Espaço Cênico / Sesc Pompeia
Quando: De 14/01 a 06/02, sextas e sábados, às 20h, domingos, às 18h30. Sessão com tradução em libras no dia 29/01, sábado
Duração: 70 minutos
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)

A Pane, direção de Malú Bazán para o texto de Friedrich Dürrenmatt. Foto: Rogério Alves / Divulgação

A Pane –  De 14/01 a 20/02 – Teatro FAAP

A Pane é uma comédia sobre a justiça, de Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), um dos maiores dramaturgos de língua alemã do século 20. Escrita no formato de conto, o texto transforma um forasteiro em réu num jogo-tribunal intrigante.

O carro do executivo bem-sucedido Alfredo Traps dá defeito e ele termina hospedado na casa de um juiz aposentado, onde ocorre a “audiência”, com a presença de outros personagens jurídicos da história. Durante o jantar gastronômico / simulacro de julgamento, Traps vai se convencendo de que é um assassino.

A direção de Malú Bazán incorpora recursos épicos de narração. Estão no palco atores de várias gerações: Antonio Petrin, Oswaldo Mendes, Heitor Goldflus, Roberto Ascar, Cesar Baccan e Marcelo Ullmann. O elenco de veteranos está atravessado por muitas camadas da trajetória de interpretações cênicas, o que confere um brilho especial ao risco de estar em cena.

Texto: Friedrich Dürrenmatt
Tradução: Diego Viana
Direção: Malú Bazán
Elenco: Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes,
Roberto Ascar
Concepção cenográfica: Anne Cerutti e Malú Bazán
Figurino: Anne Cerutti
Assistente de figurino e cenário: Adriana Barreto
Cenotécnico: Douglas Caldas
Desenho de luz: Wagner Pinto
Música original: Dan Maia
Operador de luz: Gabriel Greghi
Operador de som: Silney Marcondes
Contrarregra: Márcio Polli
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Visagismo: Dhiego Durso
Programador visual: Rafael Oliveira
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Assistente de produção: Rebeca Oliveira
Assistente de produção: Beatriz Nominato
Co-produção: Kavaná Produções
Produção e realização: Baccan Produções

Quando: de 14 de janeiro a 20 de fevereiro, sextas às 21h; sábados, às 20h; domingos, às 18h
Onde: Teatro FAAP (Rua Alagoas, 903 – Higienópolis)
Quanto: Sábados: R$ 80 e R$ 40. Sextas e domingos; R$ 60 e R$ 30.
Duração: 70 minutos
Vendas online: https://teatrofaap.showare.com.br/
Televendas: 11 3662-7233 / 11 3662-7234

As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão. Foto: Priscila Prade / Divulgação

As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão – De 15/01 a 20/02 – Teatro TUCA

A montagem As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão ostenta o caráter fabular na sua dramaturgia e não segue a trilha histórica e factual do Cangaço. No espetáculo, Serena (Amanda Acosta) descobre que seu filho está vivo. Ela acreditava que a criança tinha sido assassina por ordens do marido, Taturano (Marco França). Serena larga o bando chefiado por Taturano, para seguir em busca de seu bebê.

Outras mulheres aderem a essa luta, a essa rebelião contra mecanismos de opressão situados dentro do próprio Cangaço. O espetáculo reflete sobre as forças do feminino nesse espaço de libertação e sobre a ideia de cidadania e heroísmo.

As canções originais são assinadas por Fernanda Maia (música) e Newton Moreno (letras), inspiradas em ritmos da cultura nordestina.

Dramaturgia: Newton Moreno
Direção: Sergio Módena
Produção: Rodrigo Velloni
Elenco: Amanda Acosta, Marco França, Vera Zimmermann, Luciana Ramanzini, Luciana Lyra,
Rebeca Jamir, Jessé Scarpellini, Marcello Boffat, Milton Filho, Pedro Arrais, Nábia Villela, Carol Bezerra e Eduardo Leão. Músicos: Pedro Macedo (contrabaixo), Clara Bastos (contrabaixo), Daniel Warschauer (acordeon), Dicinho Areias (acordeon), Carlos Augusto (violão), Abner Paul (bateria), Pedro Henning (bateria), Felipe Parisi (violoncelo), Samuel Lopes (violoncelo)
Direção musical: Fernanda Maia
Canções Originais: Fernanda Maia e Newton Moreno
Coreografia: Erica Rodrigues
Figurino: Fabio Namatame
Cenário: Marcio Medina
Iluminação: Domingos Quintiliano
Assistente de Dramaturgia: Almir Martines
Diretor Assistente: Lurryan Nascimento
Pianista Ensaiador e Assistente de Direção Musical: Rafa Miranda
Designer Gráfico e Ilustrações: Ricardo Cammarota
Fotografia: Priscila Prade
Produção Executiva: Swan Prado
Assistente de Produção: Adriana Souza e Bruno Gonçalves
Gestão Financeira: Vanessa Velloni
Administração: Velloni Produções Artísticas
Assessoria de imprensa: Pombo Correio.
Apresenta: Atlas Schindler.
Patrocínio: Magnus e Lukscolor.
Apoio: Autoluks, Arte e Atitude, Tuca, PUC, Competition e EPA química.
Produção original do Sesi-SP, encenado em 2019, no Teatro do Sesi-SP, Centro Cultural Fiesp. Co-produção: Calla Produções Artísticas.
Realização: Velloni Produções Artísticas.
Promoção: Nova Brasil FM.

As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão
Onde: Teatro TUCA – Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes
Quando: de 15 de janeiro a 20 de fevereiro, sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h
Quanto: R$ 100
Duração: 120 minutos

Nossos Ossos. Foto: Cleber Correa / Divulgação

Nossos Ossos – De 15/01 a 06/02 – Espaço Cia da Revista

Há um flerte entre amor e morte em Nossos Ossos, espetáculo da Cia. da Revista para o romance homônimo de Marcelino Freire. Com direção de Kleber Montanheiro, Nossos Ossos é a primeira parte da trilogia de peças do projeto Conexão São Paulo —> Pernambuco. A segunda encenação, Tatuagem, é uma versão teatral do filme de Hilton Lacerda, prevista para estrear ainda em 2022. O terceiro espetáculo, que celebra os 25 anos da companhia, será definido no segundo semestre deste ano.

Com dramaturgia de Daniel Veiga (paulistano) e música original de Isabela Moraes (pernambucana), a Cia. da Revista utiliza múltiplas linguagens, como a música (em forma de texto cantado), cenas visuais que potencializam o discurso da fala, o teatro gestual como dramaturgia do corpo, para contar a saga do dramaturgo premiado Heleno em sua determinação de cumprir as honras fúnebres a um garoto de programa, Cícero, brutalmente assassinado nas ruas de São Paulo. Durante o percurso até́ Poço do Boi, em Pernambuco, o protagonista relembra a própria história, da infância pobre no Sertão ao sucesso na metrópole paulistana.

Com a Cia. da Revista

Do romance de Marcelino Freire.
Adaptação: Daniel Veiga.
Direção e cenografia: Kleber Montanheiro.
Figurinos: Marcos Valadão.
Desenho de luz: Gabriele Souza.
Direção Musical e arranjos: Marco França.
Músicas Originais: Isabela Moraes.
Assistente de Direção: Gabrielle Britto.
Elenco: Vitor Vieira, Aivan, EvasCarretero, Demian Pinto, João Victor Silva e Edu Rosa.
Costureira: Salomé Abdala.
Máscara: Franklin Almeida.
Direção de Cenotecnia: EvasCarretero.
Serralheiro: Airton Lemos.
Assistente de Cenografia: Thais Boneville.
Microfonista: Eder Sousa.
Fotos: Cleber Correa.
Visagismo: Louise Helène.
Produção: MoviCena Produções.
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Quando: De 15/01 a 06/02, Sábados às 21h30 e domingos às 19h.
Onde: Espaço Cia da Revista (Alameda Nothmann, 1135, Campos Elíseos, São Paulo, SP)
Duração: 70 minutos
Quanto 40 (inteira) e 20 (meia-entrada)
Pelo Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/2-temporada-espetaculo-nossos-ossos-cia-da-revista/1406078

A Importância de ser Prudente. Foto: Divulgação

A Importância de ser Prudente – De 15/01 a 19/02, Teatro Commune

Oscar Wilde satirizou como pôde a alta sociedade vitoriana, que o prendeu e condenou por sodomia. As observações ferinas do inconsequente dândi Algernon de A importância de ser prudente tem muito de Wilde. Na peça, um grupo de pessoas mantém disfarces, utiliza nomes fictícios para fugir de uma realidade em que as aparências parecem ter maior prestígio do que a verdade. Manter uma boa reputação não está fácil para Jack, que se passa por seu irmão inventado, Prudente. Mas ele está apaixonado a para se casar precisa se livrar da mentira.

Texto original: Oscar Wilde
Tradução e Adaptação: Rafael Mallagutti
Direção geral: Rafael Mallagutti
Assistência de direção: Bárbara Trabasso
Produção executiva: CIA LONDON
Sonoplastia e Iluminação: Yumi Mandu
Elenco: Gabriel Boani, Rafael Mallagutti, Felipe Cantoni, Natália Santana, Hellen Kazan, Bárbara Trabasso, Margareth Rodrigues, Natália Santana, Vitor Colli, Carlos Alberto Neves, Fernanda Goulart e Natani Luiza

Onde: Teatro Commune (Rua da Consolação 1218) 
Quando: de 15 de janeiro a 19 de fevereiro, sábados, às 21h
Quanto: R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada)
Ingressos antecipados: cialondon.com.br

Júlio César (Mateus Carrieri) é impedido de cometer suicídio por uma figura misteriosa, o Mestre (Luiz Amorim), que lhe vende uma vírgula, para que continue a escrever a sua história. um bêbado boa-praça chamado Bartolomeu (Adriano Merlini) se junta a dupla na função de vender sonhos para sacudir a sociedade. O espetáculo cultiva lições de compaixão e na busca do significado da vida enquanto questiona as prioridades distorcidas da nossa sociedade. 

A adaptação do best-seller para o palco é do próprio Augusto Cury com Erikah Barbin e Cristiane Natale (que também assina a direção) e o elenco é formado por Luiz Amorim, Mateus Carrieri, Adriano Merlini, Fernanda Mariano, Pedro Casali, Marcus Veríssimo e Guilherme Carrasco.

Mateus Carrieri e Luiz Amorim em O vendedor de sonhos. Foto: Divulgação

O Vendedor de Sonhos – De 15/01 a 06/03 – Teatro Gazeta 

Gênero: Comédia dramática
Adaptação: Augusto Cury, Cristiane Natale e Erikah Barbin
Direção: Cristiane Natale
Elenco: Luiz Amorim, Mateus Carrieri, Adriano Merlini, Fernanda Mariano, Pedro Casali,
Marcus Veríssimo e Guilherme Carrasco
Direção geral de produção: Luciano Cardoso
Produção executiva: Marcus Veríssimo
Comunicação: Bruna Padoan
Design gráfico: Rafael Choaire
Gestão tráfego digital: AT Marketing Digital
Design de luz: Bruno Henrique França
Técnico: Pitty Santana
Trilha sonora: Lino Colantoni
Figurino: Valentina Oliveira
Cenário: Cristiane Natale e Applaus
Assessoria jurídica: Ranzolin – Propriedade Intelectual
Promoção: Dreamsellers
Realização: Applaus

Onde: Teatro Gazeta (Avenida Paulista, 900 – São Paulo)
Quando: De 15 de janeiro a 6 de março de 2022, sábados às 20h30, e domingos, às 19h
Quanto: de R$ 45 a R$ 90
Duração: 70 min
Link para compra: https://bileto.sympla.com.br/event/70372/d/117158/s/691058

Sem Palavras, da companhia brasileira de teatro. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Sem Palavras – De 20/01 a 20/02, no Sesc Pompeia

Com companhia brasileira de teatro

Em um dia, num apartamento posto à venda, um encadeamento de possibilidades de encontros. corpos diversos estão em trânsito. Esses deslocamentos fabricam imagens sociais, referências, histórias de vida, mundos imaginados. Pode ser uma só persona. Podem ser muitas. Ou aparências do imaginário de alguém. Uma pessoa e uma multidão.

O espetáculo Sem palavras combina teatro, dança, música e performance investigar os velozes acontecimentos contemporâneos, com histórias de amor, de violência, de consumo, entre outros temas. Reflete sobre a palavra e sua ausência, num jogo de visualidades de forte comunicação com o público.

A montagem da companhia brasileira de teatro com direção e texto de Marcio Abreu é uma ficção livremente inspirada no livro Um apartamento em Urano, do filosofo espanhol transgênero Paul B. Preciado, e nos escritos da autora e ativista brasileira Eliane Brum.

Direção e texto: Marcio Abreu
Dramaturgia: Marcio Abreu e Nadja Naira
Elenco: Fábio Osório Monteiro, Giovana Soar, Kauê Persona, Kenia Dias, Key Sawao, Rafael Bacelar, Viní Ventania Xtravaganza e Vitória Jovem Xtravaganza
Direção de produção e administração: José Maria e Cássia Damasceno
Iluminação e assistência de direção: Nadja Naira
Direção musical e trilha sonora original: Felipe Storino
Direção de movimento: Kenia Dias
Cenografia: Marcelo Alvarenga | Play Arquitetura
Figurinos: Luiz Cláudio Silva| Apartamento 03
Produção no RJ: Miriam Juvino e Valéria Luna
Vídeos – instalação “Antes de tudo”: Batman Zavareze
Captação e edição dos vídeos – instalação “Antes de tudo”: João Oliveira
Fotos: Nana Moraes
Programação visual: Pablito Kucarz
Captação de imagens do espetáculo: Clara Cavour
Teaser – criação e edição: Aristeu Araújo
Colaboração artística: Cássia Damasceno, Grace Passô, José Maria e Rodrigo Bolzan
Técnico de palco e vídeo: Ricardo Barbosa e Michelle Bezerra
Técnico de som: Chico Santarosa e Luan Casado
Assistência de produção: Luiz Renato Ferreira
Distribuição Internacional: PLAN B – Creative Agency for Performing Arts
Assessoria de imprensa: Márcia Marques | Canal Aberto
Uma produção da companhia brasileira de teatro
Em co-produção com Künstlerhaus Mousonturm Frankfurt am Main/GE, Théâtre Dijon Bourgogne – Centre Dramatique National/FR, A Gente Se Fala Produções Artísticas – Rio de Janeiro/BR, Passages Transfestival Metz/FR.
Apoio cultural: Oi e Centro Cultural Oi Futuro.
Realização: Sesc SP

Onde: Sesc Pompeia
Quando: De 20/01 a 20/02, quintas, sextas e sábados às 21h, e domingos, às 18h
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)
Duração: 110 minutos
Apresentação em libras: dia 19/02

Miriam Mehler, Renato Borghi, Carolina Fabri e Elcio Nogueira Seixas em Romeu e Julieta 80

Romeu e Julieta 80 – 28/01 e 29/01, Sesc Pinheiros

Com Teatro Promiscuo de Renato Borgui

A história de amor mais famosa de todos os tempos. Romeu Montecchio e Julieta Capuleto se apaixonam perdidamente, em Verona, na Itália, por volta de 1600. Mas existe um problemão: os Montecchios e os Capuletos são inimigos mortais, sentimento que se estende a toda parentada e criadagem de ambas as famílias. Os jovens revolvem se casar secretamente e o final trágico é conhecido por todos.

Nesta adaptação e direção de Marcelo Lazzarato para o clássico de Shakespeare as coisas foram diferentes. Romeu e Julieta serão interpretados pelos consagrados atores Renato Borghi e Miriam Mehler, ambos na casa dos 80 anos de idade. Os outros personagens da peça são interpretados pelos atores Elcio Nogueira Seixas e Carolina Fabri.

Texto: William Shakespeare
Concepção, adaptação, iluminação e direção: Marcelo Lazzaratto
Elenco: Renato Borghi, Miriam Mehler, Elcio Nogueira Seixas e Carolina Fabri
Direção de arte, cenografia e figurinos: Simone Mina
Trilha sonora: Daniel Maia
Produção: Pedro de Freitas / Périplo
Realização: Teatro Promíscuo

Quanto: R$ 20 e R$ 40
Onde: Teatro Paulo Autran, Sesc Pinheiros
Quando: 28/01 e 29/01, sexta e sábado, às 21h
Duração: 90 minutos

Quarto de despejo, com Evoé Cia de Teatro. Foto Gil Oliveira – Divulgação

Quarto De Despejo – 29/01 e 30/01 – Sesc Guarulhos

com Evoé Cia de Teatro

Baseado no diário de Carolina Maria de Jesus, escrito em papéis encontrados nas ruas de São Paulo, o espetáculo Quarto De Despejo narra a existência poética de uma mulher que, em meio aos excluídos, se tornou escritora. Com adaptação e direção de Rodrigo Ximarelli, o espetáculo mostra a trajetória de uma mulher negra, moradora da favela do Canindé e mãe solteira de três filhos, que não conseguia dormir sem ler um livro. A potência artística e literária da obra de Carolina expõe a leitura do mundo de uma autora marginalizada diante dos problemas da fome, das desigualdades sociais e da miséria no Brasil.

Baseado na obra Quarto de Despejo – diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus
Direção, adaptação, cenário: Rodrigo Ximarelli
Elenco: Arce Correia, Lucas Barbugiani, Luana Tonetti, Maggie Abbreu, Wesley Salatiel e Shanny Segade
Músicas e letras: Arce Correia
Produção VS: Thiago Siqueira e Gustavo Perri
Preparação para voz cantada: Roberto de Paula
Iluminação: Carlos Marroco
Operação de som: Evelyn Silva
Figurinos, fotos e visagismo: Gil Oliveira
Confecção de cartazes: Alessandro Rodrigues
Designer gráfico: Dimas Stecca
Produção executiva: Bruna Silvestre
Duração: 60min
Classificação : 12 anos

Onde: Sesc Guarulhos
Quando: 29/01 e 30/01, sábado, às 20h, domingo, às 18h
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)
Duração: 60 minutos

Mel Lisboa, Marcello Airoldi  em Misery. Foto: Leekyung Kim / Divulgação

Misery – De 4 de fevereiro a 27 de março, Teatro Porto Seguro

O escritor Paul Sheldon (Marcello Airoldi) é reconhecido pela série de best-sellers protagonizados pela personagem Misery Chastain. Após sofrer um grave acidente de carro, Paul é resgatado pela enfermeira Annie Wilkes (Mel Lisboa). Ela, uma leitora voraz de sua obra, se autointitula principal fã do autor.

A personagem da enfermeira Annie Wilkes, obcecada pelo escritor Paul Sheldon, sempre foi retratada no teatro e no cinema de forma estereotipada, como louca e histérica, enquanto Paul ocupava sempre o papel de vítima.

O diretor Eric Lenate diz que procurou nesta montagem trazer uma Annie mais esférica, “olhar para dentro dela e ampliar as possíveis leituras desta obra para além daquela que coloca o gênero feminino no lugar da instabilidade trágica que precisa ser comandada pelo masculino”.

De Stephen King
Dramaturgia: William Goldman
Tradução/adaptação: Claudia Souto e Wendell Bendelack
Direção artística: Eric Lenate
Elenco: Mel Lisboa, Marcello Airoldi e Alexandre Galindo

Quando: De 4 de fevereiro a 27 de março, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. As sessões de domingo contam com intérprete de Libras
Onde: Teatro Porto Seguro (Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo
Ingressos: R$ 80 plateia / R$ 60 balcão/frisas.
Vendaswww.sympla.com.br/teatroportoseguro
Duração: 120 minutos

Maria Ribeiro em PosF. Foto: Bob Wolfenson / Divulgação

PÓS-F – De 1º de abril a 29 de maio – Teatro Porto Seguro 

Pós-F, Para Além do Masculino e do Feminino, de Fernanda Young é um livro que reúne textos autobiográficos e ilustrações da própria Fernanda que provocam o debate sobre o que significa ser um homem e uma mulher nos dias de hoje. Essa primeira obra de não-ficção de Young venceu o Prêmio Jabuti 2019, mesmo depois da precoce morte da autora em agosto daquele ano.

PÓS-F é um solo é inspirado no livro, um espetáculo-relato, que busca levar para a cena a experiência da artista, baseada na visão pessoal da diretora Mika Lins e da atriz Maria Ribeiro no convívio com Fernanda .

De Fernanda Young
Com Maria Ribeiro
Direção: Mika Lins

Onde: Teatro Porto Seguro (Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo. 
Quando: De 1º de abril a 29 de maio, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 80 plateia / R$60 balcão/frisas
Classificação: 14 anos
Duração: 50 minutos

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

As motivações para a criação artística

Lançamos para alguns artistas que trabalham em grupos a provocação sobre o que os inspira a fazer arte e se há diferença que essa labuta artística seja gestada no Nordeste do Brasil. Essas reflexões nos ajudaram a escrever o texto Teatro de grupo no Nordeste: motivações para criar, a segunda coluna do Satisfeita, Yolanda? no site do Itaú Cultural.

Confira aqui a coluna Teatro de grupo no Nordeste: motivações para criar

Conversamos com artistas do O Poste Soluções Luminosas (PE), Casa de Zoé (RN), Coletivo de Teatro Alfenim (PB), Grupo Ninho de Teatro (CE), Cia Biruta de Teatro (PE) e Magiluth (PE).
Reunimos aqui todas as respostas desses criadores na íntegra. Foram conversas por mensagens de áudio e de texto, que revelam minúcias do entendimento sobre arte, Nordeste e posicionamento no mundo que vivemos.

Confira aqui a primeira coluna do Satisfeita, Yolanda? no site do Itaú Cultural

ENTREVISTAS

Naná Sodré, Samuel Santos e Agrinez Melo, criadores do O Poste Soluções Luminosas. Foto: Arlison Vilas Bôas

SAMUEL SANTOS, diretor do grupo O Poste Soluções Luminosas, do Recife, Pernambuco

O que me inspira é a vida. A possibilidade de construir na arte, no teatro, aquele momento de condensação entre a realidade, o sonho, a poesia, para gerar reflexão. Criar, conceber, estar no teatro, é um processo de evolução e de cura. Quando penso nessas inspirações vem as transpirações, o respirar e o fazer respirar com trabalho feito com a arte, pela arte, para o público. O teatro é por natureza concebido para o outro, pede a participação, a fruição do outro e os outros estarem em nós. Acredito que o teatro me salvou, me transformou e é com esses princípios que sigo em inspiração. Se não acreditar que a arte que faço pode salvar ou transformar alguém, como fez comigo, não há motivo para continuar. E continuo…

Faz toda diferença criar no Nordeste. Todas as minhas raízes são daqui. Toda a minha construção social, política, filosófica e ancestral vem desses Nordestes. Vem das matrizes africanas e indígena. Sou filho de uma descendente de indígena da Paraíba, sou recifense, sou da periferia da Zona Norte, sou filho de um homem do interior de Pernambuco. Todas as minhas raízes estão fincadas aqui. Claro que o meu filtro maior é dessa região, é da minha nação. Mas o trabalho que faço com o meu grupo, O Poste Soluções Luminosas, tem como poética a antropologia teatral, a transculturalidade, tendo como base a pesquisa de um corpo dentro das matrizes de religião africana, como o candomblé e a umbanda. Criamos aqui a primeira escola de Antropologia Teatral, a Escola O Poste de Antropologia Teatral, onde temos disciplinas como: Capoeira no jogo do ator, Tradições da Mata: Cavalo Marinho e Maracatu de Baque Solto na construção do ator, Dramaturgia dos orixás – Práticas de Treinamento Ancestral para o Ator, disciplina essa que surgiu dentro da pesquisa “O corpo ancestral dentro da Cena Contemporânea”, desenvolvida pelo Grupo O Poste Soluções Luminosas dentro dos terreiros de matriz africana. Toda essa relação das disciplinas com a cultura preta, nordestina, tem um propósito de ser: o de decolonizar, colocar também o nosso olhar como construtores para a formação do ator.

Temos aqui um espaço cultural, o Espaço O Poste, onde fazemos as nossas formações, apresentamos os nossos espetáculos e oferecemos o espaço para que outros grupos se apresentem. É um espaço de fruição, formação e intercâmbio. Pelo Espaço O Poste já passaram artistas da Argentina, Portugal, Colômbia, França, Angola. E por aqui esteve Eugenio Barba e Julia Varley, do Odin Teatret, da Dinamarca.

Fora isso, os espetáculos do nosso repertório já viajaram pelo Brasil e pelos principais festivais internacionais. Os nossos espetáculos já se apresentaram na Dinamarca, no Uruguai. Cordel do Amor sem Fim foi apresentado em 22 cidades ribeirinhas banhadas pelo Rio São Francisco. Apresentamos por todo o Nordeste. Fomos pouco para o Sudeste.

É uma lacuna que não preenchemos ainda e claro que isso conta no quesito visibilidade, projeção. Mas a nossa projeção está naquilo que objetivamos: levar o teatro a comunidades que raramente são pensadas ou cogitadas nos projetos de circulação ou formação. Fomos! Projetamos e visibilizamos o teatro na sua forma mais plena e democrática. Isso nos orgulha. Talvez se não fôssemos da região Nordeste, não teríamos essa preocupação ou objetivo. Sou grato, sou gratidão e axé.

Titina Medeiros, da Casa de Zoé. Foto: Brunno Martins

TITINA MEDEIROS, atriz do grupo Casa de Zoé, de Natal, Rio Grande do Norte

O que me inspira a criar e fazer arte é a nossa própria existência, nossas conexões com outros seres, com o mistério e com as incertezas. A arte, além de me dar oportunidade de ter voz, também me permite o delírio.

A verdade é que sempre fiz teatro no Nordeste, em um estado que não tem tradição de boas políticas para a cultura, e penso que essa realidade nos faz ter ainda mais consciência da importância de permanecermos no Rio Grande do Norte.

Sou de uma geração de artistas de teatro que resolveu ficar. Que se negou a ir para o Sudeste tentar a vida. Nossa lógica era: precisamos fomentar o teatro no nosso estado para que nossos conterrâneos nos conheçam e conheçam nossas obras. Era importante para nós essa representatividade. Daquele tempo para cá já se passaram quase trinta anos, e acredito que nossa estratégia foi e continua valiosa. Agora tudo isso só foi possível devido ao teatro de grupo, que nos uniu por uma causa comum.

Coletivo de Teatro Alfenim. Foto: Alessandro Potter

MÁRCIO MARCIANO, diretor e dramaturgo do Coletivo Alfenim, de João Pessoa, Paraíba

Como artista, sinto necessidade de dar um testemunho crítico sobre as contradições de meu tempo. O que me inspira é a convicção de que o ser humano, apesar de seus temores, misérias, baixezas e vilanias, é capaz de ser solidário na luta por um mundo mais habitável para todas e todos. Fazer arte é imaginar, no campo simbólico, o ensaio dessa transformação.

Da perspectiva dos vencidos, todo campo é um campo de luta possível. Não se trata de idealismo ou de uma noção romantizada do fazer artístico. Mas da constatação de que é necessário travar a guerra em todas as frentes. Nesse sentido, apesar das diferenças de ordem econômica e de circulação da forma mercadoria – e não podemos esquecer que a arte é também uma mercadoria –, todo lugar tem seu espaço possível de interlocução.

MONIQUE CARDOSO, atriz do Grupo Ninho de Teatro, do Crato, Ceará

Eu parto desse termo teatro nordestino, que já me inquieta bastante, porque eu não escuto por exemplo, teatro sulista ou teatro sudestino. Existe um termo forjado, e não por nós, nordestines, mas por outres, que tem a ver com todo o processo histórico desse país, de nos colocar numa posição de inferioridade na maioria das vezes. Para mim, o teatro nordestino é o teatro do mundo, que pode ser feito aqui ou em qualquer outro lugar. Que sim, carrega muito dos nossos corpos, das nossas memórias, dos nossos territórios, das nossas experiências, como qualquer outro teatro, como qualquer outro processo criativo feito por sujeitos. Isso não nos difere dos demais.

Independente das escolhas estéticas, éticas, políticas que são feitas no processo criativo, num trabalho montado por artistes nordestines sempre vai haver esse rótulo, essa chancela do teatro nordestino. Aliás, espero que não haja sempre, mas sempre há essa tendência a rotular. Espero que os debates, os trânsitos, os diálogos, façam com que a gente vá desmistificando, descontruindo uma série de estereótipos que foram criados, de ideias do que é uma arte produzida no Nordeste, que tem sempre como referência a ideia de seca, de fome, de miséria, de retrocesso. E essa é uma visão muito limitada do que é o Nordeste, do que seria o Nordeste, uma visão construída pela mídia e reforçada por tantos, desde políticos a empresas, a grandes veículos de comunicação.

Percebo um movimento para que a gente possa criar narrativas, ampliar essa percepção. Acho que essa coisa, de não ouvirmos teatro sudestino, teatro sulista, acho que existe um lugar, no próprio segmento da arte, no próprio nicho de mercado, de colocar o teatro produzido no Nordeste num outro lugar, um lugar inferior, um lugar quase unificado, no sentido de que haveria uma unidade, uma uniformidade no que é produzido aqui. E não é isso, a gente fala de um Nordeste que é imenso, que tem vários Nordestes, vários sotaques, várias experiências, vários territórios, corpos, ideias distintas. Então é muito pequeno limitar a um termo, teatro nordestino. Acho que o teatro nordestino é o teatro do mundo, o teatro que é produzido aqui ou em qualquer lugar do mundo, que parte da relação de um corpo com o espaço, mas que ganha dimensões muitas, camadas muitas. Que ganha uma dimensão a partir do encontro com o outro, da experiência do outro, como qualquer processo artístico, como qualquer encontro com uma obra de arte, independentemente de onde ela é produzida.

Edceu Barboza, ator do grupo Ninho de Teatro, no processo de criação do espetáculo Cabral. Foto: Elizieldon Dantas

EDCEU BARBOZA, diretor e ator no Grupo Ninho de Teatro, do Crato, Ceará

O que me inspira a criar e fazer arte é a possibilidade de dialogar por meio das artes da presença, das artes da cena com o público. E esse público, para mim, é uma microesfera da sociedade. Toda vez que eu, como artista, grupo, me encontro com os espectadores – como coletivo de espectadores e espectadoras – numa audiência teatral, entendo que ali tem uma microesfera da sociedade e que aquela troca pode, em alguma medida, mover, movimentar os sentidos das coisas todas que estão postas. Penso que a gente tem na arte esse campo de provocação. De provocar possíveis deslocamentos. E um olhar de curiosidade para aquilo que está ou estava naturalizado, até então. Um espetáculo ou qualquer obra de outra linguagem, pode ser esse despertador. E, portanto, vai impulsionando as pessoas e a sociedade a desnaturalizar as coisas todas que estão aí, desde as relações de poder ou mesmo questões mais íntimas, do público para o privado, do privado para o público. Isso é o que me inspira a fazer arte.

E quando eu me penso nesse lugar de fazer arte no Nordeste do Brasil, não encontro diferenças no sentido do estar e do ser artista. Não é ser nordestino ou estar na geografia Nordeste que me dá algo de menos ou algo de mais. Apenas sou. Tudo que produzi, sim, é afetado por isso, tudo diverso, por isso tudo múltiplo, por isso tudo contraditório, por isso tudo de tradição, por isso tudo de contemporâneo, de moderno, que é o Nordeste, que sou eu.
Óbvio que, por conta de um projeto que foi pensado para o Nordeste, dentro de uma perspectiva do poder geopolítico, orquestrado pelo Sudeste, pelo Sul/Sudeste do país, a gente encontra algumas dificuldades do ponto de vista de políticas públicas. Mas, para além disso, não vejo diferença.

Quando se pensa o interior do Nordeste entramos nessa mesma questão. Acho que a grande diferença é uma dificuldade ainda maior – e quando eu digo ainda maior é porque entendo que um país como o Brasil, onde a política pública de Cultura é ineficiente para o tamanho do país, quando se está nos interiores do Nordeste, ou outros interiores do Brasil, a dificuldade se amplia, esse abismo fica ainda maior, comparado, por exemplo, às grandes metrópoles. Não que as grandes metrópoles não tenham as suas dificuldades. Acredito que elas acabam sendo diferentes, sobretudo no acesso.

Esse Nordeste que se espera, ou esse Nordeste inventado, como diz o Durval (Muniz de Albuquerque Júnior), não é o Nordeste que nós operamos cotidianamente. Por exemplo, a região do Cariri cearense, onde o Grupo Ninho de Teatro atua, é um território verde, que pulsa água de nascente, cachoeiras, rios, com uma chapada imensa, com a reserva paleontológica importante pro mundo inteiro, com a diversidade, com a pluralidade de tradição popular, com mestres e mestras, com uma produção contemporânea riquíssima. Nesse sentido, estamos pulsando numa mesma ambiência, digamos, de muitos outros espaços do restante do Brasil. Mas que se diferencia disso que inventaram para a gente, que é essa imagem estática, amarelada, seca, rachada, com bichos e gente morrendo. Essa é a invenção. Esse é o projeto inventado, e querem nos encaixotar, mas a gente sabe que, estando aqui, existe um Nordeste diferente a cada cidade, a cada bairro de uma cidade. É um pouco por aí.

Cristiane Crispim, da Cia Biruta de Teatro. Foto: Rayra

CRISTIANE CRISPIM, atriz Cia Biruta de Teatro, de Petrolina, Pernambuco

Penso que o que me inspira a criar e a fazer arte, a mim e ao meu grupo, nesse processo coletivo, colaborativo, é uma coincidência com o que afeta todo e qualquer artista em qualquer lugar do mundo. A gente cria, somos motivados a criar, a partir do que nos afeta, das coisas que atravessam a nossa vida, as coisas com as quais a gente se relaciona, para entender a nossa existência. E isso tudo existe dentro de um contexto. Nossa existência no mundo se relaciona com um contexto. É uma vivência atravessada muito pelo sentido de comunidade, de coletividade, no nosso caso. Nunca foi individual, nunca foi um processo só pessoal. Muito por minha formação tanto na igreja, pela Pastoral da Juventude, Teologia da Libertação, quanto passando a ter contato com os estudos culturais, com as ciências sociais, com a militância política, isso tudo vai nos afetando, me afetando, e a gente cria muito motivado por isso, porque isso é o que atravessa a nossa existência, nossa caminhada no mundo. Parte desse lugar de se perceber quem é, se entender nessa existência e entender que essa existência faz parte de um processo histórico e cultural.

Sobre as diferenças desse fazer no Nordeste, além de pensarmos esse lugar histórico e social que a gente ocupa, na prática, sabemos que tem semelhanças com diversos outros lugares, mas também diferenças, que partem desse contexto. Porque esse contexto é marcado por uma construção política, social, que centraliza recursos, orçamento público, no Sul e Sudeste, e isso afeta obviamente a nossa produção, as dificuldades que a gente enfrenta para criar, para produzir, além das questões de identidade que a gente problematiza. Mas a dificuldade é a falta de recursos, de condições. É a ideia de que se relegou à região Nordeste menos recursos, mais precariedade em tudo. A forma como se entendeu, inclusive na produção cultural, o Nordeste como um lugar de exploração de mão de obra barata, nega a gente a ideia de um lugar de desenvolvimento de cidadanias diversas, múltiplas. Além disso temos uma construção interna mesmo, de uma lógica colonialista, de negação das presenças indígenas, dos movimentos sociais, dos quilombolas, e tudo isso afeta a criação, porque como eu te disse, se pensamos esse nosso lugar, essa nossa existência, vamos acabar fazendo todas essas relações, não só enquanto temática, mas enquanto produção de existência, enquanto grupo teatral. E, ao mesmo tempo que isso nos afeta gerando dificuldades, gerando restrições, também nos motiva a criar formas de resistência, que motivam essa produção. Acaba sendo muito em torno disso, da luta por existir.

E aí quando pensamos interior do Nordeste, vamos para outras camadas dessa lógica colonialista e centralizadora. Temos a situação de marginalização da região Nordeste diante de um “centro” do país, que seria o Sul e o Sudeste, e dentro do Nordeste existem também as capitais, que acabam ocupando esse lugar do centro, e o interior. Essas coisas acabam se multiplicando, essas negações acabam se acumulando no processo, porque vai tendo um afunilamento. E é a periferia da periferia da periferia, a margem da margem da margem. Você tem uma reiteração o tempo todo desse processo, exigindo ainda mais mobilização, ainda mais articulação, ainda mais projeto de resistência, porque é uma tendência em reproduzir a lógica internamente.

Quando falo que há essa relação com a coletividade, com a comunidade, não é nunca em oposição à pessoa, ao sujeito. Mas é saber que essa pessoa, com as suas subjetividades, que não devem ser negadas, pelo contrário, também devem ser estimuladas, para compor essa multiplicidade, essa diversidade. Essas subjetividades devem ser o tempo todo convocadas. Elas são atravessadas por relações, por ser nosso, do ser humano mesmo e não é uma briga, o individual e o comunitário. Não é pra ser. É só uma consciência desse corpo, que se coloca no palco e na vida, e que está sempre em relação. Nunca é só uma dor individual. Mesmo que seja individual, é sempre resultado de um processo maior e negar isso é a gente ceder a uma lógica de pensamento individualista, neoliberal.

Vamos no sentido de não descolar esse subjetivo do coletivo, do comunitário. Mas de forma alguma desconsiderando, inclusive produzindo as tensões que a gente precisa produzir o tempo todo nesse entendimento, nessa caminhada no mundo, de ser, estar e criar.

Grupo Magiluth. Foto: Pedro Escobar

GIORDANO CASTRO, ator do Grupo Magiluth, do Recife, Pernambuco

O que inspira a gente a criar e fazer arte é observar a vida. E aí quando falo de observar a vida não é nesse sentido poético. É observar o que acontece, as coisas que nos afetam. E aí começamos a entender que, de fato, a gente está completamente conectado. Pensamentos revolucionários, progressistas e emancipatórios, por exemplo, são pensamentos que atingem uma Primavera Árabe e um movimento como o Ocupe Estelita. As coisas estão conectadas. E aí temos que ver como é que essas coisas nos afetam, como é que a gente se coloca perante essas coisas e entender que problemas que são universais, são problemas também dentro do nosso quintal. É estar atento à vida, às coisas que estão acontecendo, estar atento ao movimento natural das coisas. Isso é o que nos motiva a estar criando, dialogar com o nosso tempo, que é universal.

Não faz diferença nenhuma criar em São Paulo, criar em Recife, criar num sítio no interior. A diferença, eu acho, é o depois de criar. É fazer com que esse trabalho se mantenha e, de alguma forma, seja bem remunerado por isso. E aí a gente não tem como negar que São Paulo, principalmente, existe muito mais investimento, injeta muito mais dinheiro nisso, do que outros lugares, até pelo tamanho da cidade, pelo próprio movimento. Mas enquanto criar não faz muita diferença. Não é somente uma diferença geográfica, estar criando em São Paulo. É onde está minha cabeça criadora quando eu estou em São Paulo. E a minha cabeça criadora está sempre em Recife, de alguma forma.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Guaramiranga valoriza a cena nordestina há 27 edições

A Casatória C’a Defunta, da Cia Pão Doce (RN), integra a programação da Mostra Nordeste. Foto: George Vale

O 27º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga – FNT começa com a programação da Mostra Nordeste, de 26 a 30 de setembro, em formato adaptado a esses tempos de pandemia da Covid-19, com transmissões online. Essa ação do FNT deste ano inclui apresentações de 10 companhias, sendo duas de Pernambuco (Grupo Magiluth e Teatro de Fronteira), duas da Bahia (Pico Preto e Teatro dos Novos), duas do Rio Grande do Norte (Clowns de Shakespeare e Cia Pão Doce) , três do Ceará (Inquieta Cia., Flecha Lançada Arte e Paula Yemanja / Zéis) e uma de Sergipe (Grupo Caixa Cênica). Além de cinco espetáculos suplentes: Memórias de Cão, do Alfenim (PB); Velòsidades, do Território Sirius Teatro (BA); Bixa Viado Frango, d’As Travestidas (CE); Marlene dos Espíritos online com o No Barraco da Constância Tem (CE) e Pas de Temps, da Companhia de Teatro Epidemia de Bonecos (CE).

A produção teatral do Nordeste recebe destaque e valorização desde a primeira edição do FNG, que impulsionou a trajetória de grupos e faz da cidade cearense um ancoradouro potente da arte e da renovação dos sonhos. Nilde Ferreira, coordenadora geral do FNT, anunciou em uma live os selecionados da Mostra Nordeste e as outras estações do festival. Em outubro está previsto um webnário com o tema Desafios Sustentáveis para o Século 21 no Âmbito de Festivais e Mostras, além do Encontro com Artistas pesquisadores e Música no FNT, uma panorâmica.

A Mostra de Dramaturgias está agendada para novembro bem como o programa de formação. Em dezembro, a organização planeja, e torce que possa ser presencial, a Mostra FNT para Crianças e o Palco Ceará.

Realizado pela Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga (AGUA), com apoio cultural do Governo do Estado do Ceará e apoio institucional da Prefeitura de Guaramiranga, o FNT priorizou, segundo Nilde, o compromisso de manter o festival no calendário, entendendo o papel da grande rede de festivais.

A seleção da Mostra Nordeste foi feita sob a coordenação de Paulo Feitosa, do Ceará, e contou com as curadoras e os curadores Celso Curi, de São Paulo, Thereza Rocha, do Ceará e Paula de Renor, de Pernambuco.

 

Bruno Parmera em ação no experimento sonoro Tudo que coube numa VHS, do Grupo Magiluth

Mário Sergio Cabral, integrante do Grupo Magiluth

Entrelinhas, com Jaqueline Elesbão. Foto: Ives Padilha

O Grupo Magiluth, do Recife (PE) integra a mostra com o experimento sonoro Tudo o que coube numa VHS. Os atores utilizam várias plataformas virtuais de comunicação e entretenimento, numa relação individual com o espectador. O público se torna cúmplice das memórias de um personagem, que fala sobre amor e relacionamento, no percurso dessas recordações.

A violência psicológica, emocional e sexual sofrida pela mulher, especialmente a negra, numa sociedade patriarcal, racista, machista e misógina há mais de 500 anos faz mover o espetáculo Entrelinhas, com Jaqueline Elesbão, do grupo Pico Preto, de Salvador (BA). A coreógrafa, diretora e performer usa máscara de flandres, que calava a escravizada Anastácia nas sessões de tortura. Outra elemento emblemático do trabalho é o sutiã, como símbolo da luta pela liberdade feminina na década de 1960.

 

Paula Queiroz, atriz da viagem cênico-cibernética Clã_Destino, do Clowns de Shakespeare. Reprodução do Face

Metrópole, com Silvero Pereira e Gyl Giffony

O grupo teatral sergipano Caixa Cênica discute a violência urbana no espetáculo Respire 

A proposta do Grupo Clowns de Shakespeare é fazer um passeio lúdico conduzido por seis agentes, por trilhas tão desconhecidas quanto divertidas rumo ao redescobrimento da alegria. O passageiro Clã_Destino dessa viagem cênico-cibernética responde a perguntas, participa de algumas situações e faz escolhas que determinam o caminho de cada um.

Silvero Pereira e Gyl Giffony são dois irmãos na peça Metrópole. O mais velho dos dois, Caetano, está às voltas com as encomendas de bolo e com prazos estourados. Ele busca garantir o sustento e esquecer os sonhos. O jovem ator Charles aparece de surpresa e nesse encontro afloram antigos conflitos em torno do mercado artístico, terreno onde “não há garantias”. Também do Ceará, a Flecha Lançada Arte apresenta Influxo.

Respire – Manifesta, do Grupo Caixa Cênica (SE), é uma instalação-vivência cênica com uma dramaturgia expandida composta por palavras, sons, cheiros, movimentos e corpos políticos dançantes que escavam a violência predominante na sociedade. A montagem tem direção de Sidney Cruz e texto de Marcelino Freire.

Dante Olivier, Joe Andrade, Jailton Júnior e Rodrigo Cavalcanti participam d’O Evangelho Segundo Vera Cruz

Peça Um São Sebastião Flechado é inspirada em conto de Nelson Rodrigues

Religião, política, arte, moral e hipocrisia compõe um cenário explosivo. Foi em 2018 que o espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – com a atriz trans Renata Carvalho – foi alvo de boicotes e de censura no Festival de Inverno de Garanhuns, no interior de Pernambuco. A peça tem uma lista de perseguições em outros locais, mas a atriz chegou a dizer que esses ataques foram os mais traumáticos. O Evangelho Segundo Vera Cruz é uma ficcionalização do episódio pelo grupo Teatro de Fronteira, com dramaturgia e direção de Rodrigo Dourado. Entre outras coisas, a peça reflete sobre as potências das artes para enfrentar o reacionarismo.

Durval é um sujeito que se divide em dois para agradar a esposa e a amante. Um São Sebastião Flechado é inspirado no conto Mártir em Casa e na Rua de Nelson Rodrigues. Os atores Paula Yemanjá & Zéis misturam música, teatro e literatura, num jogo provocador para apresentar a história.

 

A Casatória c’a Defunta. Foto: George Vale

Fragmento de um teatro decomposto, com texto do romeno Matéi Visniec, encenada por Marcio Meirelles

O medroso Afrânio vai se casar com a romântica Maria Flor, mas acidentalmente se junta com a temível Moça de Branco, que o conduz para o submundo. Mas ele não desiste do amor e os atores da Cia Pão Doce contam essas peripécias no espetáculo A Casatória C’a Defunta.

Fragmentos de um teatro decomposto é uma série de monólogos do dramaturgo romeno Matéi Visniec traduzidos por Alexandre David e encenada por Marcio Meirelles, com a Companhia Teatro dos Novos (CTN) , do Teatro Vila Velha, de Salvador. A peça exibe um mundo distópico, mas que soa familiar depois da pandemia. De gente que se enclausura para se proteger e isolar do mundo, de alguém que conserta uma máquina de enterrar cadáveres, ou de outro que acorda numa cidade onde todos os habitantes sumiram.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , ,