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Ela enfrentou a ditadura
Lady Tempestade abre
24º Festival Recife do Teatro Nacional

Andrea Beltrão estrela monólogo sobre defensora de presos políticos em Pernambuco, abrindo festival que celebra vozes femininas nas artes cênicas.  Foto: Nana Moraes / Divulgação

Embarque na história de uma mulher que dedicou sua vida a defender aqueles que o Estado considerava inimigos. Mércia Albuquerque foi uma advogada corajosa que, durante os anos mais sombrios da ditadura militar, enfrentou tribunais, burocracias e ameaças para garantir direitos básicos a centenas de presos políticos em Pernambuco. Sua trajetória está no palco através de Lady Tempestade, com Andrea Beltrão, espetáculo que inaugura o 24º Festival Recife do Teatro Nacional, com sessões entre 20 e 22 de novembro no Teatro de Santa Isabel.

Mércia Albuquerque era uma ponte entre famílias desesperadas e um sistema jurídico militarizado. Durante os 21 anos da ditadura civil-militar (1964-1985), ela esteve na linha de frente da defesa dos direitos humanos, documentando violações, organizando defesas e mantendo viva a esperança de inúmeras famílias pernambucanas.

Com texto de Silvia Gomez e direção de Yara de Novaes, a obra baseia-se nos diários pessoais e registros profissionais deixados pela própria Mércia. Trata-se de um trabalho de arqueologia da memória que revela os bastidores da resistência jurídica durante um dos períodos mais sombrios da história brasileira.

Lady Tempestade” oferece uma aula de história viva, demonstrando como funcionava na prática a máquina repressora e, principalmente, como pessoas comuns encontraram formas de resistir dentro da própria lei. Mércia enfrentava verdadeiras tempestades burocráticas e políticas para fazer valer os direitos de seus defendidos.

Andrea Beltrão, uma trajetória de escolhas inteligentes. Foto: Gil Tuchternhagen / Divulgação

Com mais de 40 anos de carreira, Andrea Beltrão conquistou reconhecimento tanto na televisão quanto no teatro, sempre priorizando projetos de relevância artística e social. Na TV, destacou-se em produções como Armação Ilimitada, A Grande Família e Um Lugar ao Sol, enquanto no cinema brilhou em Hebe, A Estrela do Brasil.

No teatro, a atriz emocionou plateias em montagens como “A Prova” e As Centenárias“, demonstrando versatilidade para transitar entre drama e comédia com igual maestria. Essa trajetória sólida reflete uma carreira pautada pela inteligência na escolha dos trabalhos.

Em Lady Tempestade, Beltrão enfrenta um de seus papéis mais desafiadores: interpretar uma mulher real, com responsabilidades históricas e familiares que ainda guardam a memória de Mércia Albuquerque. O monólogo demanda técnica refinada e resistência emocional, já que a intérprete permanece em cena por aproximadamente 90 minutos, conduzindo uma narrativa densa sobre um período traumático da história nacional.

No cenário atual, Lady Tempestade oferece algo raro, que são fatos documentados apresentados através de uma perspectiva humana e acessível. A montagem ganha relevância especial por mostrar o papel crucial da advocacia em momentos de crise democrática. 

Para plateias mais jovens, o espetáculo atua como janela para um período histórico frequentemente reduzido a dados estatísticos nos livros didáticos. Dessa forma, através do relato pessoal de Mércia, eventos históricos ganham rostos, nomes e consequências humanas concretas.

Expectativa de alta procura

A organização do festival prevê alta demanda para as três sessões de Lady Tempestade. A produção acumula histórico de salas lotadas em temporadas anteriores, enquanto a combinação do nome de Andrea Beltrão com a relevância do tema tem atraído atenção em várias temporadas.

Há relatos de caravanas organizadas em estados vizinhos interessadas em acompanhar a abertura do festival. Tal expectativa se justifica: além da importância histórica do material, a montagem oferece a rara oportunidade de ver uma das maiores atrizes brasileiras em ação no palco, em um espaço histórico como o Teatro de Santa Isabel.

Festival celebra protagonismo feminino

Tudo que Eu Queria te Dizer, solo de Ana Beatriz Nogueira. Foto: Divulgação

O 24º Festival Recife do Teatro Nacional consolida-se como um dos principais eventos teatrais do país, apresentando 24 espetáculos em onze dias de atividades, sendo 16 deles inéditos na capital pernambucana. Com o tema “Vozes Femininas – Histórias que ressoam”, a edição deste ano celebra as criadoras e criativas do teatro brasileiro, entre dramaturgas, atrizes, diretoras e pesquisadoras.

Entre as principais atrações nacionais, além de “ady Tempestade, está Tudo que Eu Queria te Dizer, solo de Ana Beatriz Nogueira inspirado no best-seller de Martha Medeiros, onde a atriz se desdobra na pele de cinco mulheres distintas para falar sobre amor, rejeição e desejo. A apresentação acontece nos dias 22 e 23, no Teatro do Parque.

Também inédita na capital pernambucana é Mary Stuart, protagonizada por Virginia Cavendish, trazendo um olhar contemporâneo sobre as últimas 24 horas de vida da rainha escocesa, numa trama sobre conspiração e jogos de poder. A montagem paulista estreia no Recife nos dias 28 e 29, também no Teatro do Parque.

116 Gramas: Peça para Emagrecer, solo da paulista Letícia Rodrigues, explora a jornada de uma mulher em busca do emagrecimento, questionando pressões sociais sobre a imagem corporal. A protagonista tenta, a cada apresentação, perder exatamente 116 gramas, utilizando o espetáculo como uma aula de academia performativa. As sessões acontecem nos dias 22 e 23, no Teatro Apolo.

A Cia do Tijolo, companhia paulista reconhecida nacionalmente, traz duas produções inéditas na cidade: Corteja Paulo Freire, celebração poética e musical no Parque Dona Lindu, e Restinga de Canudos, que reconstrói a vida em Canudos a partir da visão feminina de duas professoras do povoado, que eram professoras em tempos de paz e enfermeiras em tempos de guerra. A montagem apresenta uma perspectiva inédita sobre a comunidade, destacando o cotidiano, as resistências e as histórias que ficaram submersas na narrativa oficial sobre o conflito. A apresentação acontece no dia 23, no Teatro Luiz Mendonça.

Homenagens

Augusta Ferraz. Foto Rogério Alves / Divulgação

Auricéia Fraga. Foto: Divulgação

A edição presta tributo a duas grandes atrizes pernambucanas: Auricéia Fraga e Augusta Ferraz, com 50 anos de trajetória cada uma, cujas vidas em cena contam a história do teatro local.

Augusta Ferraz apresenta Sobre os Ombros de Bárbara, mergulho na vida de Bárbara Alencar, heroína da Revolução Pernambucana e considerada a primeira presa política do Brasil. A montagem acontece nos dias 29 e 30, no Teatro de Santa Isabel.

Auricéia Fraga convida o público para  abertura de processo de Não se Conta o Tempo da Paixão, onde narra sua longa relação com o teatro. A abertura de processo acontece no dia 21, no Teatro Hermilo Borba Filho.

Diversidade de propostas e territórios

Das que Ousaram Desobedecer, do Ceará. Foto de Pattie Silva / Divulgação

O festival distribui sua programação estrategicamente por teatros municipais, parques e espaços públicos da cidade. Além dos tradicionais palcos do Santa Isabel, Teatro do Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, a programação alcança o Marco Camarotti, Luiz Mendonça, Espaço Cênicas e Casa de Alzira, chegando também aos parques da Macaxeira e da Tamarineira.

Shá da Meia Noite, com Sharlene Esse. Foto: Divulgação 

Entre as produções locais inéditas, sobressai Helô em Busca do Baobá Sagrado, espetáculo infantil que narra a história de uma menina em missão para encontrar o fruto sagrado e curar seu povo da “doença da tristeza”. As apresentações acontecem nos dias 22 e 23, no Teatro Hermilo.

Outras montagens nacionais inéditas incluem Das que Ousaram Desobedecer (CE), que relembra a luta de mulheres cearenses contra a ditadura; Zona Lésbica (RJ), que enfrenta estereótipos de gênero para reivindicar o direito ao amor; A Mulher Bala (SP), com a palhaça Funúncia tentando se tornar uma bala humana; e Ella (AM), solo de palhaçaria que aborda violência de gênero.

A Mostra OFFRec amplia o alcance do festival com produções locais e nacionais  contemporâneas, incluindo Mi Madre, solo autobiográfico de dança de Jhanaina Gomes; HBLynda em Trânsito, sobre as vivências de uma pessoa gorda, preta e não binária; e Shá da Meia Noite, celebrando os 40 anos da artista que participou do irreverente Grupo Vivencial.

O festival mantém sua vocação pedagógica através de quatro oficinas gratuitas sobre temas como teatro e sagrado feminino, dramaturgia feminista e criação de solos teatrais. As atividades acontecem entre os dias 20 e 27, em diversos equipamentos.

Toda a programação é gratuita, com distribuição de ingressos nas bilheterias dos teatros uma hora antes de cada espetáculo, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível. Serão 37 sessões ao longo dos onze dias, convidando a cidade inteira a celebrar o teatro brasileiro.

📅 SERVIÇO 

LADY TEMPESTADE
🎭 Com: Andrea Beltrão
✍️ Texto: Silvia Gomez
🎬 Direção: Yara de Novaes
📅 Datas: 20, 21 e 22 de novembro
⏰ Horários: 20h (todas as sessões)
📍 Local: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, Santo Antônio, Recife/PE
🪑 Capacidade: 570 lugares
🎟️ Ingressos: Gratuitos com 1kg de alimento não perecível
♿ Acessibilidade: Libras (todas as sessões) + Audiodescrição (dia 22)

24º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL
🎨 Tema: “Vozes Femininas – Histórias que ressoam”
📅 Período: 20 a 30 de novembro de 2024
🎭 Programação: 24 espetáculos (16 inéditos na cidade) + 37 sessões
🎟️ Acesso: Gratuito com 1kg de alimento não perecível
🏛️ Equipamentos: 9 teatros e 2 parques da cidade
📱 Informações: @culturadorecife (Instagram) | Canais oficiais da Prefeitura do Recife

OUTROS DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO:

 Abertura de processo de Não se Conta o Tempo da Paixão (Auricéia Fraga) – dia 21, no Teatro Hermilo Borba Filho.
Tudo que Eu Queria te Dizer (Ana Beatriz Nogueira) – 22 e 23/11, Teatro do Parque
Mary Stuart (Virginia Cavendish e elenco) – 28 e 29/11, Teatro do Parque
116 Gramas: Peça para Emagrecer (Letícia Rodrigues) – 22 e 23/11, Teatro Apolo
Restinga de Canudos (Cia do Tijolo) – 23/11, Teatro Luiz Mendonça
Sobre os Ombros de Bárbara (Augusta Ferraz) – 29 e 30/11, Teatro de Santa Isabel

OFICINAS GRATUITAS:
Teatro, Dança e Sagrado Feminino (20-21/11)
Dramaturgia para Infâncias (21-23/11)
Criação de Solos Teatrais (24-27/11)
Dramaturgias Feministas (26/11)

⚠️ INFORMAÇÕES IMPORTANTES:

Chegada com 1h de antecedência recomendada
Programação sujeita a alterações – acompanhar canais oficiais
Espetáculos com classificação indicativa variada
Sessões com recursos de acessibilidade sinalizadas na programação

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24º Festival Recife do Teatro Nacional
celebra vozes femininas
que ecoam através da história

Alguns espetáculos da programação do festival

Entre os próximos dias 20 e 30 de novembro, o 24º Festival Recife do Teatro Nacional transforma palcos e outros espaços da capital pernambucana em território de celebração das vozes femininas que há décadas protagonizam movimentos de produção e insurreição cultural. Sob o tema Vozes Femininas – Histórias que Ressoam, o festival reverbera perspectivas, criatividades, forças e esperanças de grandes mulheres das artes cênicas pernambucanas e brasileiras, numa elaboração delicada e potente de lutas e lutos sociais.

Como já antecipamos aqui no Satisfeita Yolanda?, o festival abre com Lady Tempestade, protagonizada por Andréa Beltrão, montagem que tem causado furor por onde passa e despertou interesse impressionante do público recifense. O espetáculo tem três sessões nos dias 20, 21 e 22 de novembro, no Teatro de Santa Isabel, buscando acomodar o maior número possível de espectadores, já que toda a programação é gratuita, trocada por um quilo de alimento no dia da apresentação.  

Em onze dias de atividades oferecidas pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, serão apresentados 24 espetáculos – 16 deles inéditos na capital pernambucana – distribuídos em 37 sessões que convidam o Recife a aplaudir e celebrar o teatro feito no Brasil. Além das produções locais, o festival inclui debates, performances e oficinas gratuitas que fortalecem a vocação pedagógica do evento.

Entre os destaques nacionais inéditos na cidade estão Tudo que Eu Queria te Dizer com Ana Beatriz Nogueira, Mary Stuart dirigida por Nelson Baskerville, com Virginia Cavendish e Ana Cecília Costa e elenco, 116 Gramas: Peça para Emagrecer, as duas montagens da Cia do Tijolo (Restinga de Canudos e Corteja Paulo Freire), Zona Lésbica e Tem Bastante Espaço Aqui, do Rio de Janeiro, Das que Ousaram Desobedecer do Ceará, A Menina dos Olhos D’Água do Rio Grande do Sul,A Mulher Bala, de São Paulo e Ella do Amazonas. Das peças locais inéditas temos o infantil Helô em Busca do Baobá Sagrado, além dos trabalhos das homenageadas Não se Conta o Tempo da Paixão e Sobre os Ombros de Bárbara, abertura de processo de Auricéia Fraga e estreia de Augusta Ferraz, respectivamente. O único espetáculo internacional desta edição estabelece ponte franco-brasileira: On Veut / A Gente Quer apresenta roteiro francês interpretado por elenco recifense selecionado especialmente para o projeto.

Andréa Beltrão abre a programação do FRTN na quinta-feira, 20/11. Foto: Nana Moraes

Em diálogo com o tema do festival, Lady Tempestade reconstrói uma história fundamental da resistência brasileira através da trajetória de Mércia de Albuquerque, advogada que defendeu mais de 500 presos políticos durante a ditadura militar. Ao testemunhar a tortura de Gregório Bezerra nas ruas do Recife em 1964, sua vida foi transformada em missão de defesa dos direitos humanos.

Com texto de Sílvia Gomez e direção de Yara de Novaes, o monólogo parte dos diários que Mércia escreveu durante os anos mais duros da repressão. Andréa Beltrão interpreta A., mulher que recebe misteriosamente os escritos e gradualmente se envolve com aquelas histórias, numa estrutura narrativa que embaralha temporalidades através de um “diário dentro do diário”. A escolha dramatúrgica amplifica o impacto emocional ao criar camadas de identificação entre diferentes gerações de mulheres.

Homenageadas do ano

Augusta Ferraz e Auricéia Fraga as homenageadas desta edição

Auricéia Fraga e Augusta Ferraz são as homenageadas desta versão, duas artistas dedicadas conseguem atravessar décadas mantendo relevância criativa. Juntas, essas trajetórias mostram como a continuidade de uma tradição teatral se constrói através do trabalho persistente de seus intérpretes mais experientes, influenciando gerações e garantindo a renovação constante da cena local.

Augusta Ferraz é uma das figuras mais emblemáticas do teatro pernambucano, com carreira que ultrapassa cinco décadas e mais de 70 produções. Sua jornada artística, iniciada nos anos 1970, construiu-se através da versatilidade e compromisso inabalável com a arte cênica. Nos anos 1980, pela companhia Ilusionistas, encenou clássicos infantis que marcaram gerações; na década seguinte, tornou-se pioneira em espetáculos solo no estado, dirigindo e atuando em monólogos como Malassombro (2001) e Sexo, a arte de ser censurada (2014).

O reconhecimento de sua importância culminou em 2015, quando foi homenageada no 21º Janeiro de Grandes Espetáculos com a mostra Augusta Ferraz: 40 Anos de Resistência, apresentando quatro trabalhos em sequência. Atualmente, mantém engajamento ativo nas lutas pela cultura pernambucana e expandiu seu talento para a televisão, estreando na novela Guerreiros do Sol como Dona Berenice.

Nesta 24ª edição do FRTN, Augusta Ferraz defende a personagem Bárbara de Alencar (1760-1832), primeira presa política brasileira e protagonista da Revolução Pernambucana de 1817 em Sobre os Ombros de Bárbara, nos dias 29 e 30 de novembro. Com dramaturgia criada pela própria Augusta em parceria com Brisa Rodrigues e direção de José Manoel Sobrinho, o espetáculo explora a luta de uma mulher republicana durante a monarquia, apresentando um corpo violentado e uma resistência ao arbítrio que estabelece conexões diretas entre passado e presente.

Auricéia Fraga, por sua vez, representa a memória viva do teatro recifense. Ela acumula mais de cinco décadas de carreira com mais de 40 montagens teatrais. Iniciada em 1972 na Escola de Belas Artes da UFPE, conquistou prêmios de melhor atriz e colaborou com diretores de prestígio como Antônio Cadengue, Milton Bacarelli e Marco Camarotti, transitando também pelo cinema em filmes como Tatuagem e Árido Movie.

Não se Conta o Tempo da Paixão oferece à homenageada Auricéia Fraga a oportunidade de compartilhar memórias e reflexões sobre mais de 50 anos dedicadas às artes cênicas. O trabalho, dirigido por Rodrigo Dourado, funciona como abertura de processo que narra sua relação profunda com o teatro, criando espaço de intimidade entre a veterana atriz e o público.

Dupla Perspectiva de Resistência e Educação

Restinga de Canudos. Foto: Alecio Cesar

Corteja Paulo Freire, da Cia do Tijolo. Foto: Alecio Cesar

A presença da Cia do Tijolo no festival traz duas montagens complementares que dialogam com a pedagogia freireana e a memória histórica brasileira, demonstrando como uma companhia pode abordar temas correlatos através de linguagens distintas.

Restinga de Canudos propõe uma inversão de perspectiva radical sobre um dos episódios mais controversos da história nacional. Sob direção de Dinho Lima Flor, ao invés de partir do massacre documentado por Euclides da Cunha, a montagem escolhe iluminar a vida pulsante que existia antes da guerra, mostrando Canudos como vitória, não como derrota.

A dramaturgia reconstrói o cotidiano de uma comunidade que inventou formas próprias de existência no sertão baiano, revelando a complexidade social de Belo Monte muito além da figura de Antônio Conselheiro. O olhar parte de duas professoras – Odília Nunes e Karen Menatti – que em tempos de paz educavam e em tempos de guerra transformaram-se em enfermeiras e combatentes. Esta escolha narrativa reafirma, inspirada na ética freireana, o papel fundamental dos educadores na formação de consciência crítica.

Complementarmente, Corteja Paulo Freire chega como celebração poética, musical e itinerante que flexiona o conceito de cortejo no feminino. A montagem homenageia o educador pernambucano através de uma proposta que se movimenta pelos espaços, criando experiência imersiva que dialoga diretamente com a pedagogia freireana, falando sobre coletividade, respeito e caminhada como processos de construção coletiva de conhecimento.

Poder, Conspiração e Espelhos Contemporâneos

Mary Stuart, direção de Nelson Baskerville com Virginia Cavendish e Ana Cecília Costa. Foto: Priscila Prade

Transitando dos movimentos sociais para os jogos palacianos, Mary Stuart estabelece pontes temporais entre disputas do século XVI e embates políticos atuais. Nelson Baskerville transporta as tensões entre duas monarcas para uma linguagem que espelha questões contemporâneas, aproveitando o potencial da adaptação de Robert Icke que Virginia Cavendish descobriu em Londres.

Virginia Cavendish e Ana Cecília Costa interpretam as rainhas que historicamente nunca se encontraram, mas que no palco representam mulheres que pagaram caro por viver segundo suas convicções. A direção planeja recursos cenográficos que conectem passado e presente: um cronômetro permanentemente projetado marcará os últimos momentos de Mary Stuart, aprisionada há 18 anos.

A montagem dialoga com questões urgentes como o estímulo à misoginia, guerras religiosas que ressurgem periodicamente e mecanismos de enfraquecimento daqueles que não compactuam com estruturas de dominação. Esses temas ecoam tanto no impeachment de Dilma Rousseff quanto na crescente exploração da religião como ferramenta de manipulação política, demonstrando como clássicos teatrais podem iluminar conjunturas atuais.

Ana Beatriz Nogueira em Tudo que Eu Queria Te Dizer

Tudo que Eu Queria Te Dizer traz Ana Beatriz Nogueira revisitando textos baseados no livro de Martha Medeiros, sob direção de Victor Garcia Peralta. O solo apresenta cartas femininas sobre amor, rejeição, saudade, ética e desejo, com a atriz se desdobrando na pele de seis mulheres de universos distintos, todas vivendo momentos-limite de desabafo. A montagem, despojada cenograficamente, aposta inteiramente na força interpretativa.

Questionando Padrões Corporais e Sociais

116 Gramas: Peça para Emagrecer com Letícia Rodrigues

Ella, com Ana Oliveira da Cia Cacos, reflete sobre violência simbólica. Foto Heldemar Castro

Duas montagens se dedicam especificamente a questionar padrões impostos socialmente, pensando corpo e identidade através de perspectivas complementares mas distintas.

116 Gramas: Peça para Emagrecer apresenta Letícia Rodrigues em solo que mergulha na experiência de um corpo considerado “fora do padrão”. O título, que se refere ao peso específico que separava a personagem de um objetivo aparentemente simples, revela-se ponto de partida para investigação mais ampla sobre as pressões que a sociedade exerce sobre determinados corpos. A dramaturgia vai além da questão estética, problematizando os rituais obsessivos da busca por adequação social.

Ella, produção de Manaus com Ana Oliveira da Cia Cacos, utiliza a linguagem do clown para mirar a violência simbólica de gênero. A personagem, obcecada pela busca do amor romântico, combina humor e crítica, provocando questionamentos sobre autocuidado, padrões de beleza e os limites invisíveis da violência que perpassa o cotidiano feminino. A escolha pela palhaçaria como linguagem permite abordar temas delicados através do riso, criando pontes de identificação com o público.

A Menina dos Olhos D’Água (RS) mistura teatro de formas animadas com teatro documentário para crianças

Helô em Busca do Baobá Sagrado é montagem recifense que estreia no festival 

O festival apresenta para o público infantil montagens que tocam em temas complexos através de linguagem acessível, conectando, por exemplo, tradições ancestrais com questões contemporâneas.

Helô em Busca do Baobá Sagrado representa a produção local através do trabalho de Agrinez Melo, Cecília Chá, Ester Soares, Fábio Henrique e Talles Ribeiro. A montagem narra a jornada de uma menina que deve encontrar o fruto sagrado do Baobá para curar seu povo da “doença da tristeza”, conectando tradições africanas com questões sobre saúde mental coletiva e cuidado comunitário.

A Menina dos Olhos D’Água, com Liane Venturella do Rio Grande do Sul, vem com proposta que mistura teatro de formas animadas com teatro documentário para crianças. A montagem mistura temas como exílio, pertencimento, perda e superação, demonstrando como linguagens híbridas podem tornar questões complexas acessíveis às infâncias.

A Mulher Bala adiciona a perspectiva da palhaçaria feminina através do trabalho da paulista Funúncia (Priscila Senegalho e Renato Paio), que tenta se tornar uma bala humana usando canhão confeccionado por ela mesma. A proposta aposta no humor circense para questionar padrões de feminilidade, oferecendo às crianças referências de empoderamento feminino através do riso.

Fechando este núcleo, Tem Bastante Espaço Aqui chega do Rio de Janeiro com Carolina Godinho, Juliane Cruz e Monique Vaillé, propondo investigações intimistas sobre família, convivência e afeto. As histórias transitam entre humor e emoção, a partir dos jogos e dinâmicas familiares contemporâneas e suas narrativas que dialogam .

Laboratórios Internacionais e Memórias Regionais

Das que Ousaram Desobedecer, que resgata lutas de mulheres cearenses contra a ditadura militar entre 1960 e 1979. Foto: Pattie Silva

Montagem carioca Zona lésbica reivindica direitos afetivos 

A companhia francesa ktha veio ao Recife para desenvolver a peça On Veut / A Gente Quer com artistas locais, como parte da programação do Ano Cultural Brasil-França 2025. Após analisar mais de 100 cartas de intenção, a companhia selecionou artistas locais para construir versão específica que dialogue com particularidades pernambucanas. A metodologia da ktha funciona através de dramaturgia aberta – uma extensa lista de desejos e reivindicações que ganha forma específica através do trabalho com performers locais, criando rituais coletivos de partilha de anseios urbanos. Participam do trabalho Guaraci Rios, Rodrigo Herminio, Anna Batista, Maria Pepe, Ana Carolina dos Santos, Lucas Vinicius Silva de Lima.

A programação também valoriza memórias regionais através de Das que Ousaram Desobedecer, que chega do Ceará com Liliana Brizeno, Marina Brito e Marina Brizeno. A montagem resgata lutas de mulheres cearenses contra a ditadura militar entre 1960 e 1979, iluminando histórias de resistência que frequentemente permaneceram na sombra dos relatos oficiais, reconstruindo trajetórias de mulheres que enfrentaram a repressão através de diferentes formas de insurgência.

Ainda na programação principal, Zona Lésbica enfrenta estereótipos de gênero e reivindica direitos afetivos através do trabalho de Carolina Godinho, Dandara Azevedo, Dani Nega, Jessica Lamana, Monique Vaillé, Nely Coelho e Simone Beghinni. A montagem carioca propõe discussões necessárias sobre diversidade sexual e afetiva, uma afirmação direta sobre direitos fundamentais.

OFFRec: Ampliando Vozes Emergentes

Mi Madre, com Jhanaina Gomes. Foto: Morgana Narjara

Ensaio do Agora. Foto: Rogério Alves

HBLynda Morais apresenta vivências interseccionais. Foto: Rafael Quirino

Shá da Meia Noite, com Sharlene Esse, primeira dama trans do teatro pernambucano

A vocação pedagógica do festival segue sua trilha com a mostra OFFRec, que apresenta produções locais escolhidas pela curadoria para formar o panorama da cena contemporânea. Esta programação paralela funciona como vitrine para artistas emergentes e propostas experimentais que buscam visibilidade.

Mi Madre, solo autobiográfico de dança criado por Jhanaina Gomes, honra ancestralidade através do movimento corporal. HBLynda Morais apresenta vivências interseccionais de uma pessoa gorda, preta, candomblecista e não binária, oferecendo perspectivas múltiplas sobre identidade contemporânea.

Ensaio do Agora constrói narrativas sobre memória através do trabalho conjunto de Analice Croccia, Domingos Júnior e Natali Assunção, contando histórias de nove mulheres. Avós permite que Olga Ferrario celebre ancestralidade feminina através de trabalho poético sobre as mulheres que a antecederam, criando pontes geracionais através da arte.

Àwọn Irúgbin confirma protagonismos afro-indígenas através do trabalho de Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo, demonstrando como jovens artistas conseguem articular identidades étnicas com propostas cênicas contemporâneas.

As intervenções Silêncio, de Célia Regina, ocorre na Casa de Alzira na mesma ocasião que Shá da Meia Noite, de Sharlene Esse, que celebra os 40 anos do Grupo Vivencial. As ações conectam a história do teatro alternativo pernambucano com propostas atuais de experimentação cênica.

Formação

Quatro oficinas gratuitas fazem parte deste festival. Teatro, Dança e o Sagrado Feminino com Sandra Rino explora conexões entre espiritualidade e criação cênica. Corpo e Escrita de Si com Paula Lice investiga relações entre experiência corporal e criação dramatúrgica.

Da Ideia à Cena oferece com Malú Bazán território de experimentação para criação de solos teatrais, enquanto Dramaturgias Feministas permite que Luciana Lyra aprofunde discussões sobre o papel das mulheres na criação teatral contemporânea.

Paralelamente, o Ciclo de Dramaturgia Feminista inclui leituras cênicas e debates que fortalecem a vocação pedagógica do festival, criando espaços de reflexão sobre os avanços e desafios da representação feminina nas artes cênicas.

PROGRAMAÇÃO

24º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL
De 20 a 30 de novembro

DIA 20 (QUINTA-FEIRA)

20h – Abertura + “Lady Tempestade”, com Andréa Beltrão (RJ)
No Teatro de Santa Isabel
Com Libras

DIA 21 (SEXTA-FEIRA)

19h – Abertura de processo “Não se Conta o Tempo da Paixão”, com Auricéia Fraga (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho
Com Libras

20h – “Lady Tempestade”, com Andréa Beltrão (RJ)
No Teatro de Santa Isabel
Com Libras

DIA 22 (SÁBADO)

16h – “Helô em Busca do Baobá Sagrado”, com Agrinez Melo, Cecília Chá, Ester Soares, Fábio Henrique e Talles Ribeiro (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

16h30 – “On Veut / A Gente Quer”, com Guaraci Rios, Rodrigo Herminio, Anna Batista, Maria Pepe, Ana Carolina dos Santos, Lucas Vinicius Silva de Lima (FR/PE)
No Bairro do Recife
Com Libras

16h30 – “Corteja Paulo Freire”, da Cia do Tijolo (SP), com Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Karen Menatti, Artur Mattar, Odilia Nunes, Danilo Nonato, Jaque da Silva, Vanessa Petroncari e João Bertolai
No Teatro Luiz Mendonça

18h – “116 Gramas: Peça para Emagrecer”, com Letícia Rodrigues (SP)
No Teatro Apolo
Com Libras

20h – “Tudo que Eu Queria te Dizer”, com Ana Beatriz Nogueira (RJ)
No Teatro do Parque
Com Libras

20h – “Lady Tempestade”, com Andréa Beltrão (RJ)
No Teatro de Santa Isabel
Com Libras e Audiodescrição

DIA 23 (DOMINGO)

16h – “Helô em Busca do Baobá Sagrado”, com Agrinez Melo, Cecília Chá, Ester Soares, Fábio Henrique e Talles Ribeiro (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

16h30 – “On Veut / A Gente Quer”, com Guaraci Rios, Rodrigo Herminio, Anna Batista, Maria Pepe, Ana Carolina dos Santos, Lucas Vinicius Silva de Lima (FR/PE)
No Bairro do Recife
Com Libras

18h – “Restinga de Canudos”, da Cia do Tijolo (SP), com Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Karen Menatti, Odília Nunes, Artur Mattar, Jaque da Silva, Danilo Nonato, João Bertolai, Marcos Coin, Dicinho Areias, Jonathan Silva, Juh Vieira, Vanessa Petroncari, Mayara Baptista, Roma Oliveira, Maria Alencar Rosa, Nanda Guedes e Leandro Goulart
No Teatro Luiz Mendonça

18h – “116 Gramas: Peça para Emagrecer”, com Letícia Rodrigues (SP)
No Teatro Apolo
Com Libras e Audiodescrição

19h – “Tudo que Eu Queria te Dizer”, com Ana Beatriz Nogueira (RJ)
No Teatro do Parque
Com Libras e Audiodescrição

DIA 24 (SEGUNDA-FEIRA)

OFFRec
19h – Espetáculo “Mi Madre”, com Jhanaina Gomes (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

DIA 25 (TERÇA-FEIRA)

OFFRec
16h – Ciclo de Dramaturgia Feminista – Leitura cênica: “Deus da Carnificina”, com o Ato Teatro (PE)
No Espaço Cênicas

17h – Debate: “O Olhar da Mulher – Trânsito entre Teatro e Cinema”, com Andréa Veruska e o Ato Teatro (PE)
No Espaço Cênicas

19h – Espetáculo “HBLynda”, com HBLynda Morais (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

DIA 26 (QUARTA-FEIRA)

OFFRec
16h – Ciclo de Dramaturgia Feminina – Leitura cênica: “A Peça do Vulcão”, com a Cênicas Cia de Repertório (PE)
No Espaço Cênicas

17h – Debate: “O Trabalho da Cênicas Cia e a Presença da Mulher”, com Sônia Carvalho e Toni Rodrigues (PE)
No Espaço Cênicas

19h – Espetáculo “Ella”, com Ana Oliveira (AM)
No Teatro Hermilo Borba Filho

DIA 27 (QUINTA-FEIRA)

OFFRec
16h – Ciclo de Dramaturgia Feminista – Leitura cênica: “Josephina”, com Arilson Lopes, Fabiana Pirro e Ana Luiza D’Accioli (PE). Participação: DJ Vibra
No Espaço Cênicas

17h – Debate: “Feminismo, Teatro e Dramaturgia”, com Luciana Lyra e grupo (PE)
No Espaço Cênicas

18h – Lançamento de livro: “Coleção Dramaturgias Feministas”/Numa Editora, com Luciana Lyra
No Espaço Cênicas

19h – Espetáculo “Avós”, com Olga Ferrario (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

20h – Espetáculo “Ensaio do Agora”, com Analice Croccia, Domingos Júnior e Natali Assunção (PE)
No Teatro Apolo

DIA 28 (SEXTA-FEIRA)

20h – “Mary Stuart” com Virginia Cavendish, Ana Cecília Costa, Letícia Calvosa, Adilson Azevedo, César Mello/Anderson Müller, Eucir de Souza, Joelson Medeiros, Johnnas Oliva/Iuri Saraiva, Fernando Vitor, Alef Barros e Julia Terron (SP)
No Teatro do Parque
Com Libras

OFFRec
16h – “ÉdypusD’Yocasta”: abertura de processo – Dramaturgia em progresso”, com Cia do Ator Nu (PE)
Na Casa de Alzira

17h – Debate: “Escrituras Femininas – Entre Teatro e Literatura”, com Flávia Gomes e Cia do Ator Nu (PE)
Na Casa de Alzira

19h – Espetáculo “Àwọn Irúgbin”, com Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

DIA 29 (SÁBADO)

11h – “A Menina dos Olhos D’água”, com Liane Venturella (RS)
No Teatro Marco Camarotti
Com Libras

16h – “Tem Bastante Espaço Aqui”, com Carolina Godinho, Juliane Cruz e Monique Vaillé (RJ)
Teatro Apolo

16h – “A Mulher Bala”, com Priscila Senegalho e Renato Paio (SP)
No Parque da Tamarineira
Com Libras

20h – “Sobre os Ombros de Bárbara”, com Augusta Ferraz (PE)
No Teatro de Santa Isabel
Com Libras

20h – “Mary Stuart”, com Virginia Cavendish, Ana Cecília Costa, Letícia Calvosa, Adilson Azevedo, César Mello/Anderson Müller, Eucir de Souza, Joelson Medeiros, Johnnas Oliva/Iuri Saraiva, Fernando Vitor, Alef Barros e Julia Terron (SP)
No Teatro do Parque
Com Libras e Audiodescrição

OFFRec
16h – Diálogos Crítico-Pedagógicos: “OFFRec em Perspectiva – Tendências Contemporâneas”, com Fátima Pontes e Emanuela de Jesus (PE)
Na Casa de Alzira

19h – Espetáculo “Das que Ousam Desobedecer”, com Liliana Brizeno, Marina Brito e Marina Brizeno (CE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

21h – Intervenção performática “Silêncio”, com Célia Regina (PE)
Na Casa de Alzira

22h – Espetáculo “Shá da Meia Noite”, com Sharlene Esse (PE)
Na Casa de Alzira

DIA 30 (DOMINGO)

11h – “A Menina dos Olhos D’água”, com Liane Venturella (RS)
No Teatro Marco Camarotti

16h – “A Mulher Bala”, com Priscila Senegalho e Renato Paio (SP)
No Parque da Macaxeira
Com Libras

18h – “Noite”, com Sônia Biebard, Fátima Aguiar e Karine Ordônio (PE)
No Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Zona Lésbica”, com Carolina Godinho, Dandara Azevedo, Dani Nega, Jessica Lamana, Monique Vaillé, Nely Coelho e Simone Beghinni (RJ)
No Teatro Apolo
Com Libras

20h – “Sobre os Ombros de Bárbara”, com Augusta Ferraz (SP)
No Teatro de Santa Isabel
Com Libras e Audiodescrição

OFICINAS

“Teatro, Dança e o Sagrado Feminino – A Dança dos Elementos” – Com Sandra Rino (PE). Dias 20 e 21, das 8h30 às 12h30, no Paço do Frevo. 20 vagas (só para mulheres)

“Corpo e Escrita de Si – Dramaturgia para e a partir das Infâncias” – Com Paula Lice (BA). Dias 21, 22 e 23, das 14h às 18h, Teatro Marco Camarotti.. 20 vagas

“Da Ideia à Cena – Território de Experimentação Cênica para Criação, Desenvolvimento e Pesquisa de Solos Teatrais” – Com Malú Bazán (SP). Dias 24, 25, 26 e 27, das 9h às 13h, no Teatro de Santa Isabel. 12 vagas

“Dramaturgias Feministas: Panorama Brasileiro, Agendas e Modos de Fazer” – Com Luciana Lyra (PE). Dia 26/11, das 14h às 18h, no Teatro de Santa Isabel. 20 vagas

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Companhia francesa Ktha seleciona elenco recifense

Montagem de On Veut em Séoul, na Coreia do Sul, em 2023. Foto: Reprodução

Espetáculo On Veut apresenta uma lista de desejos coletivos. Foto: Reprodução 

Uma convocatória está aberta para seleção de artistas pernambucanos para integrar o espetáculo da companhia francesa Ktha durante o 24º Festival Recife do Teatro Nacional, programado para novembro. A iniciativa faz parte da temporada Ano Cultural Brasil-França 2025, um intercâmbio cultural oficial entre os dois países que promove colaborações artísticas bilaterais ao longo do ano.

Conforme anunciado pela Secretaria de Cultura do Recife no perfil do Instagram culturadorecife : “Atenção, trabalhadores da cena e das cênicas recifenses! Trazemos duas boas novas sobre a 24ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional. A primeira é que a programação gratuita, que será realizada em novembro, pela Prefeitura do Recife, contará com a participação da companhia francesa Ktha, que fará sua estreia na capital pernambucana, apresentando-se em espaço público, acessível a todas as plateias, com o espetáculo A Gente Quer / On Veut. A segunda é que o grupo está em busca de elenco recifense para a curta temporada de dois dias, que fará durante o festival..”

Para se candidatar, os interessados devem enviar carta de interesse, foto e mini bio (não são necessários portfólio, nem vídeos) para o e-mail projetoagentequer@gmail.com, com cópia para festivalteatronacionalrecife@gmail.com, até o próximo dia 10 de setembro. Um aviso importante da organização: é necessário que os interessados tenham disponibilidade para trabalhar com a companhia, em tempo integral, de 10 a 23 de novembro, e também que tenham boa memória, porque o texto é longo. O resultado da seleção, feita pela própria companhia, será anunciado por e-mail. Uma reunião on-line já está agendada para o dia 24/09, às 9h30, com as pessoas selecionadas.

Outra versão de On Veut / A Gente Quer. Foto: Divulgação

A companhia Ktha, fundada em 2000 e credenciada pela Prefeitura de Paris, desenvolveu ao longo de mais de duas décadas uma linguagem teatral singular que acontece em espaços urbanos não convencionais. Seus espetáculos são realizados em contêineres, caminhões de mudança, telhados, túneis subterrâneos, estacionamentos, gramados de estádios, varandas e rotatórias, sempre com atores que se dirigem diretamente ao público, estabelecendo um contato visual direto e sem mediações. A companhia explora a cidade através de projetos coletivos e laboratórios de pesquisa, adotando um olhar engajado e ativista sobre questões urbanas contemporâneas.

O espetáculo que será apresentado no Recife é A Gente Quer, versão brasileira de On Veut. Descrito como uma longa lista de desejos e reivindicações, o espetáculo trabalha com a presença e o reconhecimento mútuo entre performers e espectadores. Desde sua criação em 2021, On Veut já passou por múltiplas versões e foi apresentado em mais de 15 cidades no  mundo, sempre integrando artistas locais ao núcleo francês e absorvendo as particularidades de cada contexto.

Seria interessante ter também Tu Es Là / Você está Aqui no Marco Zero, à beira do Rio Capibaribe, no Recife

On Veut / A Gente Quer em São Paulo. Foto: Reprodução

A experiência mais recente da Ktha no Brasil aconteceu em agosto na Casa do Povo, em São Paulo, durante o festival ERUV. Durante duas semanas intensas, seis artistas brasileiros trabalharam em residência artística para criar versões paulistas de A Gente Quer / On Veut e Tu Es Là / Você está Aqui, este último um espetáculo que mistura línguas e olhares com a plateia – seria lindo se Tu Es Là pudesse ser encenada no Marco Zero, na beira do rio Capibaribe! A programação incluiu apresentações na Casa do Povo e uma turnê pelos SESCs. Segundo relatos da própria companhia, a recepção foi entusiástica, com casas lotadas e ovações de pé, demonstrando a potência do diálogo entre a dramaturgia francesa e a realidade brasileira. A experiência paulista serviu como laboratório para o que será desenvolvido no Recife, onde a companhia pretende criar uma versão específica que dialogue com as particularidades locais.

A qui tu parles ? , um outro trabalho da companhia Ktha. Foto: Divulgação 

As primeiras reações à convocatória nas redes sociais revelaram questionamentos legítimos da classe artística local. Artistas como Daniel Barros comentaram: “Interessante a proposta, mas não vi nenhuma informação no post sobre a remuneração dos selecionados. É doação ou o que se ganha é ‘experiência’. Seria bom deixar claro quando se convoca a classe trabalhadora.” Paulo Pontes também perguntou diretamente: “Qual é o cachê dos aprovados?”, enquanto Mari Onduras completou: “Faltou o cachê!” A organização respondeu que as informações sobre remuneração seriam fornecidas após a seleção, garantindo que o festival não contrata artistas sem remuneração.

Contrapondo aos questionamentos, a artista Juliana Andrade observou que nunca viu “chamada de elenco de cinema, publicidade ou espetáculo divulgando cachê”, sugerindo que a prática de não anunciar valores antecipadamente é comum no mercado audiovisual e teatral. Esta observação levanta uma discussão interessante sobre as diferenças entre os setores e as expectativas de transparência em cada um deles.

Embora a discussão sobre cachê seja fundamental para a valorização e dignificação do trabalho artístico, outras questões financeiras e conceituais merecem igual atenção. Quanto custará o projeto completo ao Festival Recife do Teatro Nacional? Quais são os valores envolvidos na vinda da companhia francesa, incluindo deslocamentos, hospedagem e produção local? Quem está financiando efetivamente este intercâmbio – recursos municipais, federais, franceses ou uma combinação de fontes? Como se mensurar o retorno deste investimento em termos de “fertilização de subjetividades” e fortalecimento da cena teatral local?

A temporada do Ano Cultural Brasil-França 2025 representa uma oportunidade de intercâmbio cultural que já vem acontecendo, com eventos programados em diversas cidades brasileiras e francesas até o final do ano. O programa oficial articula colaborações em teatro, dança, música, artes visuais e cinema, movimentando recursos significativos de ambos os governos. Algumas ações já foram realizadas em território brasileiro, consolidando esta ponte cultural bilateral.

No caso específico da vinda da Ktha ao Recife, Giovana Soar atua como ponte fundamental entre as duas realidades, trazendo sua experiência como ex-avaliadora do Festival Recife e atual produtora da companhia no Brasil. Sua participação facilita o diálogo entre as expectativas francesas e as possibilidades locais, contribuindo para que este projeto específico se adapte melhor ao contexto pernambucano.

Inserido neste contexto maior de intercâmbio, o projeto A Gente Quer/On Veut no Recife pode configurar-se como um laboratório de experimentação teatral capaz de influenciar futuras produções locais e inserir a cidade na rede mundial de territórios que receberam esta dramaturgia nômade. A proposta de apresentações gratuitas em espaços públicos democratiza o acesso e alinha-se com a vocação da Ktha para o teatro urbano, potencialmente alcançando públicos que normalmente não frequentam espaços teatrais tradicionais.

Paralelamente às potencialidades artísticas do projeto, as questões levantadas pelos artistas nas redes sociais refletem um amadurecimento da classe artística em relação aos seus direitos e condições de trabalho, mas também evidenciam a necessidade de maior transparência em projetos culturais que envolvem recursos públicos. Como garantir que intercâmbios internacionais efetivamente fortaleçam a produção local ? De que forma mensurar o impacto real de projetos desta natureza além do aspecto imediato da experiência artística? Qual o equilíbrio adequado entre investimento em eventos pontuais e políticas culturais continuadas? E que mecanismos de acompanhamento e avaliação poderiam ser implementados para garantir que experiências como esta geram desdobramentos efetivos na formação e profissionalização dos artistas locais?

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Escuta pública para discutir
o Festival Recife do Teatro Nacional

 

Sinapse Darwin, da Casa de Zoé, esteve na programação do 23º FRTN. Foto: Marcos Pastich/PCR

Evento acontece terça-feira (29), às 18h30, no Teatro do Parque

A Secretaria de Cultura do Recife convocou uma escuta pública para construir coletivamente a 24ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN), que acontecerá em novembro. Na próxima terça-feira (29/07), às 18h30, artistas, produtores e demais profissionais da cena teatral recifense são chamados para se reunir na sala da Banda Sinfônica do Teatro do Parque para contribuir com a programação do festival.

“O Festival Recife do Teatro Nacional sobe aos palcos da cidade em novembro. Mas, nos bastidores, a programação já começou. E todos os cênicos da cidade estão convidados a se engajar na produção da próxima edição do festival”, destaca a convocatória oficial.

A iniciativa busca que o festival consiga “apresentar e representar esperanças e necessidades da eloquente cena recifense”, mas enfrenta um desafio que tem se repetido: a baixa participação da classe artística nestes momentos de construção coletiva.

Embora seja comum ouvir reclamações e sugestões da classe teatral recifense nas redes sociais e nas mesas de bares da cidade, a presença física nas escutas públicas tem sido decepcionante. Em 2023, apenas 20 pessoas compareceram. Em 2024, o número caiu para 15 participantes – um quórum que preocupa os organizadores, especialmente considerando que o Recife possui uma cena teatral vibrante e numerosa.

“A hora da grita é essa, mas elas preferem as redes sociais e as mesas dos bares”, observa um integrante da organização, refletindo sobre a contradição entre as críticas virtuais e a ausência nos espaços formais de discussão.

Principais pontos críticos apontados na última avaliação pública 

O encontro de terça-feira ganha ainda mais relevância diante das questões levantadas na avaliação pública da 23ª edição, realizada em dezembro de 2024. Durante três horas de discussão na mesma sala da Banda Sinfônica, artistas, produtores e a avaliadora contratada Giovana Soar debateram os acertos e problemas enfrentados pelo festival.

Infraestrutura e equipe técnica: A avaliação revelou o esgotamento das equipes técnicas dos teatros, especialmente no Centro Apolo-Hermilo. Nathalie Revoredo, iluminadora com 11 anos de experiência no local, alertou: “Temos espaços exaustos e um corpo exausto não consegue realizar muito.” O atraso de uma hora e meia na apresentação de Mulheres de Nínive exemplificou os limites da infraestrutura atual.

Comunicação e divulgação: A avaliadora Giovana Soar identificou a comunicação como “um dos pontos mais delicados”, destacando a necessidade de melhorar a divulgação para alcançar públicos mais amplos. O programa do festival só foi distribuído na segunda semana do evento, comprometendo a estratégia de comunicação.

Ocupação dos teatros: Houve esvaziamento em algumas sessões, especialmente no OFF REC e espetáculos locais da mostra principal, contrastando com a lotação em apresentações com nomes consagrados como Marco Nanini e Othon Bastos.

Democratização do acesso: Foram levantadas questões sobre como atrair o público que compareceu à festa dos 20 anos do Grupo Magiluth (cerca de 2 mil pessoas) para dentro dos teatros durante o festival.

A questão dos pagamentos

Paralelamente aos debates artísticos, a cena teatral recifense tem enfrentado uma crise de confiança relacionada aos atrasos sistemáticos nos pagamentos de cachês por parte da Prefeitura do Recife.

Marconi Bispo, diretor do espetáculo Ọnà Dúdú — Caminhos Negros do Bairro do Recife (destaque do OFF REC 2024), recorreu às redes sociais para cobrar publicamente o pagamento pela participação da peça que envolvia 20 artistas, seis meses após a apresentação.

Não é um caso isolado. Outros artistas também recorreram às redes sociais para fazer cobranças públicas de cachês em atraso, evidenciando um problema que afeta diversos profissionais da cena cultural recifense.

Desafios estruturais e propostas 

A precarização dos espaços teatrais foi outro tema central dos debates. Augusta Ferraz, com 51 anos de dedicação ao teatro recifense, lamenta a situação de equipamentos como o Teatro Barreto Júnior, considerado um “subteatro” na vida cotidiana dos profissionais, e espaços fechados como o Teatro Valdemar de Oliveira (fechado desde 2020 e atingido por incêndio em fevereiro de 2024).

Inês Franco Maia questionou se a cadeia produtiva do teatro em Recife realmente valoriza a cultura local, criticando a tendência de valorizar mais os trabalhos externos: “O Magiluth só conseguiu reconhecimento local após ser legitimado fora de Recife.”

Durante a avaliação, emergiram diversas propostas para fortalecer o festival e a cena teatral local: planejamento antecipado das contratações técnicas e logísticas, melhor distribuição de horários para evitar sobreposições entre espetáculos, parcerias estratégicas com secretarias de Saúde, Educação e Cidadania para formar novos públicos, expansão do “Palco da Aurora” (onde Sinapse Darwin, da Casa de Zoé foi apresentado) para outras áreas da cidade, criação de espaços de encontro e diálogo após os espetáculos e revitalização do Teatro do Sítio da Trindade.

Diante deste cenário complexo, que mistura conquistas artísticas com desafios estruturais e de gestão, a escuta pública de terça-feira representa uma oportunidade crucial para que a classe teatral recifense contribua efetivamente com a construção coletiva da próxima edição do festival.

Milu Megale, secretária de Cultura do Recife, André Brasileiro, coordenador do FRTN, e Alexandre Sampaio, coordenador de produção, estarão presentes para ouvir as demandas e propostas da categoria. A 24ª edição está marcada para 19 a 30 de novembro de 2025.

Serviço

Escuta pública do Festival Recife do Teatro Nacional
Quando: Terça-feira (29/07), às 18h30
Onde: Sala da Banda Sinfônica – Teatro do Parque
Entrada: Gratuita

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Festival Recife mais uma vez na corda bamba

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

O Festival Recife do Teatro Nacional, que começa neste sábado (21) e vai até o dia 29, chega à 17ª edição. Em sua configuração geral, não apresenta uma proposta curatorial, nem traz a excelência da cena brasileira contemporânea, propostas que acompanharam a história do festival. O FRTN foi, ao longo dos anos, um instrumento para fazer chegar ao Recife montagens que dificilmente estariam nos palcos pernambucanos se dependessem apenas de bilheteria ou, sendo mais otimista, que levariam algum tempo para chegar, tendo que depender dos incentivos à circulação, como Myriam Muniz, Caixa Cultural e Petrobras.

Grande parte da programação do festival este ano é formada por montagens locais que estrearam agora em 2015 ou no ano passado. Uns dizem que é um festival da resistência, da coragem. Vamos destrinchar isso melhor…

Em 2014, o Festival Recife do Teatro Nacional não aconteceu por decisão da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR). A determinação foi anunciada sem haver um diálogo com quem faz teatro na cidade e isso provocou perplexidade e polêmica. A justificativa foi econômica. Falou-se em edições bienais. Falou-se em classe teatral para discutir o planejamento e o formato do festival nos anos seguintes.

Vale relembrar o que dizia o release enviado aos jornalistas sobre o cancelamento do evento:

“A partir deste ano o Festival Internacional de Dança do Recife (FIDR) e o Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN), ambos promovidos pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura (Secult) e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR), passam a ser bienais, em caráter de alternância. Desta maneira, em 2014 será realizada a 19ª edição do Festival dedicado à dança, em 2015 será a vez da 17ª edição do Festival do Teatro, e assim sucessivamente.

A decisão foi tomada pela Secretaria de Cultura e pela Fundação de Cultura Cidade do Recife no intuito de possibilitar um planejamento adequado a estas iniciativas, uma vez que a gestão reconhece o importante papel que estas ações cumprem na formação dos realizadores das artes cênicas, no intercâmbio entre diferentes expressões artísticas e ainda na formação de plateia. Contudo, são também Festivais que requerem volumes maiores de recursos da pasta e que precisam ser ajustados às demandas dos respectivos segmentos, garantindo investimento significativo para a produção do Teatro e da Dança na capital pernambucana.”

Palavras ao vento.

A ideia de tornar os festivais bienais, ainda bem, não foi à frente, mas continua faltando, justamente, planejamento. Até 2013, o FRTN era realizado através do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, ligado à Secretaria de Cultura. É preciso que se diga que houve, inclusive, nos dois encontros realizados pela Gerência de Artes Cênicas, ligada à Fundação de Cultura, para discutir as ações da gerência, uma reivindicação da classe artística para que o festival fosse realizado pela Gerência e não pelo Apolo-Hermilo. Mas tudo isso com a antecedência necessária ao planejamento, obviamente.

Não foi o que aconteceu. No fim do mês de julho, o Gerente de Artes Cênicas da Prefeitura, Romildo Moreira, recebeu das mãos do Presidente da Fundação de Cultura, Diego Rocha, a incumbência de fazer o FRTN. Para se ter uma ideia, o Festival Internacional de Dança do Recife, já coordenado pela gerência, e que aconteceu em outubro, estava completamente estruturado.

Além do pouquíssimo tempo para a produção de um festival que já não havia acontecido no anterior justamente “no intuito de possibilitar um planejamento adequado”, o presente de grego recebido pela Gerência de Artes Cênicas veio também com a notícia de que, ao invés do recurso de R$ 400 mil com o qual o festival foi produzido em 2013, agora seriam apenas R$ 200 mil.

Resultado? O FRTN ficou sem a possibilidade de fazer as convocatórias por edital, iniciativa que começou no festival de 2013 (que, convenhamos, não é atraente nem para as grandes companhias nem para os grupos mais experimentais) e sem verbas para trazer espetáculos relevantes do teatro brasileiro deste ano. Quer dizer, a cena contemporânea que permitisse a atualização do público do Recife para um teatro que está sendo criado, impregnado de todas as tendências da cena mundial.

Uma boa pergunta é: para onde foi o dinheiro que seria destinado ao FRTN do ano passado? Bem, a não realização do festival no ano passado deixou um hiato que a edição de 2015 não vai preencher. Teremos outra lacuna este ano, da forma como o festival está sendo realizado. Infelizmente. Não teremos as principais companhias no festival nem os experimentos que dificilmente excursionam em caráter comercial.

O olhar do espectador que não circula por festivais de teatro, nacionais e internacionais, foi prejudicado pela decisão da Secretaria que, por sinal, vem demonstrando que não tem garra ou cacife para lutar por mais verbas para sua pasta. Não, não adianta o prefeito Geraldo Julio alardear que a cultura é prioridade, se a sua gestão está fazendo aquele que já foi um dos festivais mais importantes do país, perder pertinência. Alardear que “a produção pernambucana será a grande atração” é querer fazer os artistas pernambucanos de trouxa. A produção pernambucana precisa sim ter representação no Festival Recife do Teatro Nacional. Isso ninguém discute. Mas, para a classe artística e para o público, a importância do FRTN não é levar à cena a produção local. Para isso, já existem outros caminhos, inclusive o Janeiro de Grandes Espetáculos que, mais uma vez, está lutando por verba.

O FRTN precisava acontecer? Sem dúvidas nenhuma. Isso era vital para que o festival não desaparecesse. Mas, justamente para que o festival não morra, é preciso bradar aos quatro cantos que ele não poderia ser realizado assim: sem prioridade, planejamento, orçamento.

Programação

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

O FRTN este ano homenageia o jornalista, ator e diretor Valdi Coutinho, profissional que durante mais de duas décadas assinou uma coluna crítica de teatro no jornal Diario de Pernambuco.

O festival segue até o dia 29 de novembro, com 16 produções, nacionais e locais, sendo 13 espetáculos pernambucanos (dez adultos e três infantis). Os três espetáculos visitantes são Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP); o Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA); e Presente de Vô, do grupo Ponto de Partida (MG).

A comissão de seleção dos espetáculos não teve muitas opções para fazer as escolhas, já que as propostas esbarravam em cachês e estruturas para trazer os espetáculos. O trabalho foi dirigido por Romildo Moreira e teve a participação de representantes de órgãos e entidades da classe teatral. São eles: Jorge Clésio (Secretaria de Cultura de Pernambuco); Andrea Morais Borges (Secretaria de Cultura do Recife); Ivo Barreto (Centro Apolo Hermilo); Ivana Moura (Apacepe); Roberto Xavier (Feteape) e Ivonete Melo (Sated/PE). Certamente voltaremos a tratar sobre esse assunto.

Programação 17º FRTN

Sábado (21):

Solenidade de Abertura com o espetáculo Rei Lear, da Remo Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 20h

Domingo (22):

Salada Mista, com a Cia. 2 Em Cena (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Como a Lua, da Mambembe Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 16h30

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

Obsessão, Produção de Simone Figueiredo (PE) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Segunda-feira (23):

Na solidão dos campos de algodão, da Cia. do Ator Nu (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Terça-feira (24):

Soledad, com Hilda Torres (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

A Receita, de O Poste Soluções Luminosas (PE) / Teatro Apolo, às 20h30

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Quarta-feira (25):

O canto do cisne, com Manoel Carlos (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Quinta-feira (26):

Cabaré Diversiones, com Vivencial Diversiones (PE) / Teatro Apolo, às 19h

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Salmo 91, com a Cênicas Cia. de Repertório (PE) / Espaço Cênicas Cia. de Repertório, às 20h30

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Sexta-feira (27):

Angelicus Prostitutus; da Matraca Grupo de Teatro (PE) / Forte das Cinco Pontas (Museu da Cidade do Recife), às 20h

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Sábado (28):

 Sistema 25, com produção de José Manoel (PE) / – Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h e 21h30

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA) / Teatro Apolo, às 19h

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Domingo (29):

As Travessuras de Mané Gostoso, Cia Meias Palavras (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

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