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Magiluth reverencia Gonzagão

Grupo Magiluth estreia Luiz Lua Gonzaga. Foto: Ivana Moura

No intervalo de quatro dias, o Grupo Magiluth apresentou seis sessões na rua do espetáculo Luiz Lua Gonzaga. Assisti sábado passado, na Praça da Sé. Uma roda estava formada, com gente sentada e em pé, magnetizada pela trupe, que expunha suas experiências recentes e remotas com a figura e as músicas do sanfoneiro.

A arte de Luiz Gonzaga compõe o imaginário de parte dos brasileiros; está carimbada na sensibilidade de muitos. Por isso mesmo há infinitas possibiidades para levar para a cena algo que tenha alguma ligação com esse homem, esse músico. O pré-texto do espetáculo trata das preparação de uma festa, em que os personagens esperam o retorno de alguém.

O clima é de celebração, mas abre espaço para os questionamentos diretos e pertinentes sobre as angústias do sertanejo diante da aridez, diante da carência de tudo e diante das políticas excludentes que marcam a região Nordeste há seculos. Cada ator contribuiu com suas memórias. A encenação se alimenta da diversidade e do confronto de pontos de vista.

Cada um do Magiluth levou suas referências para a criação das cenas, para a formação do jogo cênico. Isso reverbera das memórias individuais e coletiva, costuradas em dramaturgia por Giordano Castro. A direção é de Pedro Vilela, que também toca zabumba na montagem.

Espetáculo é o primeiro do grupo idealizado para ser apresentado na rua

O ator Pedro Wagner tenta contar várias vezes sua experiência e os motivos de até então detestar São João. Até que consegue falar que a data lembrava a fumaça das fogueiras, e o medo que fazia tremer seu cachorro quando escutava os fogos.

Giordano Castro, um garoto urbano, fala de outras lembranças. Em um determinado momento da peça, ele sobe em uma cadeira e aponta para cima, num gesto parecido com o feito nas montagens Um torto e Aquilo que meu olhar guardou para você , mas que aqui ganha outros significados.

Entre a seca e a espera pela chuva, os atores encontram soluções simples e incrivelmente belas. Uma delas é a utilização de borrifadores de água que eles apertam no ritmo de uma música. Outra é a procura entre o público pelo São Francisco e as bacias de alumínio iluminadas com fotos de santos.

Com o prêmio do edital da Funarte, o Magiluth faz um experimento interessante. Uma poética sempre com humor.

Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth
Dramaturgia: Giordano Castro, a partir das colaborações do grupo
Direção: Pedro Vilela
Elenco: Giordano Castro, Pedro Wagner, Pedro Vilela, Lucas Torres, Erivaldo Oliveira, Mário Sérgio
Banda: João Tragtenberg, Pedro Cardoso e Pedro Vilela
Direção de arte: Guilherme Luigi e Pedro Toscano
Produção executiva: Mariana Rusu

Montagem talvez volte a ser encenada durante o Janeiro de Grandes Espetáculos

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A festa é do Magiluth! O sanfoneiro é catarinense…

Magiluth estreia Luiz Lua Gonzaga. Foto: Magiluth/divulgação

O ator Pedro Wagner detestava São João. Nascido em Garanhuns, a data lembrava logo a fumaça das fogueiras no meio da rua, o cachorro que sofria com os fogos, a obrigação de dançar com menina na escola. Quando começou a ensaiar o espetáculo Luiz Lua Gonzaga, que estreia neste fim de semana, o resgate de memórias tinha sempre um quê de revolta! Mas até Pedro Wagner encontrou o seu lugar na nova montagem do Grupo Magiluth, um trabalho realizado graças a um edital da Funarte, com direção de Pedro Vilela e direção de arte de Guilherme Luigi e Pedro Toscano, e produção executiva de Mariana Holanda Rusu.

O que esses meninos que fazem “teatro contemporâneo” estão se metendo a falar de Luiz Gonzaga? Embarcaram na onda só por causa do centenário mesmo? É isso, produção? Perguntas que vão surgir e que eles respondem muito tranquilamente. “Sim e não. Depois da estreia do Aquilo (Aquilo que meu olhar guardou para você) em janeiro, o grupo levou um banho de água fria inicial. A estreia foi caótica. Pensávamos que as coisas fossem acontecer e elas não aconteceram tão rapidamente. E a nossa ideia de gestão de grupo tem a ver com trabalho continuado. É difícil fazer com que um grupo de teatro gere renda por ele mesmo. E, pra complicar, o processo de montagem do Aquilo praticamente acabou com o nosso caixa. Então quando abriram os editais, vimos sim as possibilidades, tanto no edital com Nelson Rodrigues (que resultou na montagem de Viúva, porém honesta) quanto nesse de Luiz Gonzaga”, explica o ator Giordano Castro.

“As pessoas da cidade sabem que a gente vive do Magiluth. Não fazemos teatro de forma bissexta, não é complemento de renda, não é nada disso. É foda dizer isso, né?”, para por dois segundos pra respirar antes de prosseguir. “Mas é isso mesmo. Quando você joga um produto no mercado e ele começa a não ser aceito, você tem que pensar noutras coisas. É, realmente, se o grupo estivesse riquíssimo, provavelmente não teríamos feito nenhum dos dois trabalhos. Até porque estávamos caminhando pela dramaturgia própria. Mas encontramos nichos dentro disso tudo. Com Nelson era a possibilidade de trabalhar com uma dramaturgia formal e fomos catar o texto que nos era mais próximo. E Luiz Gonzaga faz parte do imaginário de todo mundo”, complementa Pedro Wagner. “Cara, a gente é um grupo de teatro. É o que gostamos de fazer, é o que queremos”, continua Giordano, numa discussão enérgica na sala do grupo, no Bairro do Recife, onde o Satisfeita, Yolanda? conversou com atores e músicos.

A ideia de celebrar Gonzaga já tinha sido proposta ao grupo desde a inscrição no edital, mas eles só tiveram tempo mesmo de se dedicar por inteiro ao projeto depois do Trema! – Festival de Teatro de Grupo do Recife, idealizado e coordenado pela companhia em outubro. “Nos processos de criação as coisas se misturam. E foi um ano muito louco. Com este, é o terceiro espetáculo que estamos estreando este ano. Não são trabalhos pontuais. Não é para fazer e jogar fora. O nosso repertório é vivo, ativo. Sábado passado encenamos Ato“, diz Pedro Wagner.

Quando decidiram homenagear Luiz Gonzaga, partiram de algumas premissas: “a gente não queria fazer um especial da Globo, um Som Brasil, a estética da novela, a espetacularização. Nada disso. Vimos o espetáculo de João Falcão, por exemplo. Eu gostei muito, outros não. Mas não é a nossa pegada”, adianta Giordano. Também não queriam contar a biografia de Gonzagão, embora dentro do processo de pesquisa tenham se debruçado em livros, filmes, documentários.

Montagem reverbera memórias individuais e coletivas

A dramaturgia foi novamente construída por Giordano Castro, assim como em Um torto e Aquilo que meu olhar guardou para você. “São trabalhos que têm uma pegada completamente diferente de O canto de Gregório e Viúva, porém honesta, com dramaturgias prontas. E aí a marca de Pedro Vilela na direção é ainda mais forte, o humor, a rapidez, as soluções”, diz Giordano. No caso do processo de Luiz Lua Gonzaga, segundo Pedro Wagner o lugar é o de um ator muito mais consciente e integrado. “A estrutura da criação foi diferente da do Aquilo. A partir das nossas referências, íamos trazendo as cenas, que podiam contar ou não com a participação de outros do grupo”.

No caso dessa montagem, ao contrário de Aquilo que meu olhar guardou para você, há uma história que acaba por permear toda a dramaturgia: algumas pessoas preparam uma festa; estão esperando o retorno de alguém. O espírito é mesmo de celebração – eles dizem logo que não queriam inventar a roda. “Tivemos muito cuidado mesmo com o trabalho com essa figura, que é quase Jesus Cristo. Até porque é um espetáculo de rua”, diz Giordano, quando pergunto se eles iam fazer a mesma greia que conseguiram com Nelson Rodrigues. “Não. Aqui vamos mais devagar!”, brinca. Para explicar, apesar de Ato também ser encenado não rua hoje, o espetáculo não foi inicialmente idealizado para ser teatro de rua. E este é de rua, embora também possa ser adaptado, o que não é desejo dos atores.

Apesar da celebração e da presença inevitável, bem-vinda, mas ao mesmo tempo difícil da música ao vivo, o espetáculo não pode ser considerado um musical. A trilha sonora e a preparação vocal foram de João Tragtenberg, que toca sanfona no espetáculo. A banda tem ainda Pedro Cardoso e Pedro Vilela. Giordano, que era o que tinha uma proximidade um pouquinho maior com os instrumentos (diz que arranha no violão), até tentou fazer aulas de sanfona. Voltou da terceira incursão dizendo ao grupo pra desistir da ideia (maluca, mesmo!) de tê-lo como sanfoneiro. Aí foi quando surgiu João, que é catarinense, estudou Física, mas ama música e já tinha trabalhado com alguns grupos de teatro em Florianópolis; e Pedro Cardoso, que tem uma proximidade com o teatro; fez artes cênicas, foi amigo de faculdade dos meninos, é bonequeiro. Ele chegou no processo para dar oficina de zabumba e triângulo – mas logo viram que isso também não ia dar certo. “Triângulo é difícil pra caralho”, se diverte Giordano. Bom, resumindo: Cardoso foi incorporado à cena.

O espetáculo Luiz Lua Gonzaga – que eles queriam que chamasse Lembrar só por lembrar (mas como ia ser complicado mudar, por causa do edital) – estreia neste sábado, com duas apresentações. E ainda fará apresentações em Caruaru, Pirituba (distrito de Vitória de Santo Antão), Garanhuns e Caetés. Próximo ano eles juram que não vão montar espetáculo. Já há algumas circulações previstas com o repertório e querem muito apresentar Viúva, porém honesta, fazer uma temporada na cidade, o que ainda não aconteceu. Depois da estreia, Luiz Lua Gonzaga deve dar uma maturada. Mas não se admire se isso mudar…se a força dele for maior do que eles pensam. Podem repensar tudo. Ainda bem! O compromisso é exclusivamente com o amor que eles têm ao teatro.

Confira a agenda de apresentações:

Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth

Dia 8, sábado
16h – Praça Tertuliano Feitosa (Praça do Hipódromo)
20h – Praça da Sé

Dia 10, segunda-feira
16h – Biblioteca Comunitária Amigos da Leitura – Alto José Bonifácio
20h – Biblioteca Popular do Coque – Coque

Dia 11, terça-feira
16h – Terminal do Alto do Capitão
19h – Praça do Arsenal, Bairro do Recife

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Tempo de vida

Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, no Trema! Foto: Cecília Gallindo

“Teatro significa um tempo de vida em comum que atores e espectadores passam juntos no ar que respiram juntos daquele espaço em que a peça teatral e os espectadores se encontram frente a frente”. Essa definição de Hans-Thies Lehmann no prólogo do seu necessário Teatro pós-dramático ficou martelando depois da sessão de Aquilo que meu olhar guardou para você, no festival Trema, ontem à noite. Tempo de vida em comum. Vida que se entrelaça. Vida que pode ser real ou ficção, mas que é verdade, como diz o ator-personagem Pedro Vilela. Vida que emerge não só do palco, mas da plateia.

Geralmente digo isso quando escrevo sobre o Magiluth: como é bom vê-los em cena. Porque eles fazem por completo. São inteiros, se jogam sem rede de proteção. São fieis ao que defendem, não abrem concessões. E assumem as consequências disso.

Nessa montagem, que surgiu a partir de uma troca de fotografias com o grupo Teatro do Concreto, de Brasília, o ponto de partida até poderia ser a memória do lugares pelos quais eles passaram; seja a boate Metrópole ou a Estação Central do metrô do Recife. Essas referências estão lá. Mas são meros detalhes para uma colcha de retalhos; várias cenas curtas que vão compondo um dramaturgia fragmentada, não-linear, que se apoia no episódico e na ação daquele momento.

A dramaturgia é formada por várias cenas curtas

Pode ser um encontro, um desencontro, as partidas, o afeto imediato, a perda, a ilusão de completude, a memória da infância, a música que me traz tanta coisa à mente. Não é novela. Não precisa ter início-meio-fim.

No jogo teatral que se instala no palco e na plateia há cumplicidade. Tudo ali pode ser teatro (ou não, esse é o jogo) – mas é como se ainda houvesse, por parte do público, uma necessária busca pela ficção, por um história a ser contada. E aí nem sempre esses nós se amarram em Aquilo que meu olhar guardou para você. Talvez não fosse necessária a obrigatoriedade de usar o nome dos atores em cena. Pra quê eu preciso saber que aquele personagem é Giordano, Pedro, Erivaldo? Sim, em determinados momentos, quando o jogo se coloca mais declaradamente e eles até trocam de lugar, sim. Mas logo no começo da montagem, já que não é pra ter personagem tradicional, também não preciso de um nome. Seja um nome ficcional ou real.

Também não é sempre que as cenas conseguem convencer. Que o público consegue esquecer do jogo e, numa linha muito tênue, se entregar. Senti isso ontem no abraço entre Pedro Vilela e Giordano Castro; e, mais uma vez, na briga fake no meio do espetáculo. É como se descolasse da dramaturgia. E nesse espetáculo especificamente (senti isso bem menos no mais recente, Viúva, porém honesta, por exemplo) o elenco está em níveis diferentes. Pedro Wagner e Giordano Castro dão um salto na montagem quando estão em primeiro plano. Há ainda no elenco Pedro Vilela, Lucas Torres e Erivaldo Oliveira. A direção é de Luiz Fernando Marques, do grupo XIX.

Talvez o maior mérito da montagem é o que ela consegue fazer com o público. As surpresas que pode causar. A ida ao palco nos faz ver as coisas sob outro ângulo – mesmo que talvez isso pudesse ser melhor resolvido. (É preciso ser convidado a ir ao palco? Ou já estou no palco? Tenho que me predispor a levantar e a aceitar um convite? Ou poderia já estar lá de qualquer maneira? Não tenho nenhuma certeza sobre isso!). Mas ouvir a música predileta, ler uma carta endereçada a alguém da plateia, ter a oportunidade de estar no meio da dramaturgia – tudo isso encanta muito. E ver todo aquele público no Teatro Apolo numa terça-feira para um festival de teatro de grupo é muito, muito bom.

Pedro Vilela

Notes – Já vi Aquilo que meu olhar guardou pra você três vezes. No Hermilo Borba Filho, no Joaquim Cardozo e agora no Apolo. O melhor lugar é definitivamente o Hermilo. O público ganha muito com a proximidade maior com o espetáculo. Ontem a iluminação – que é linda; não funcionou como geralmente funciona. Talvez por problemas técnicos e do teatro mesmo.

Ficha técnica – Aquilo que meu olhar guardou para você

Direção: Grupo Magiluth e Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Atuação: Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Pedro Wagner e Pedro Vilela
Direção de arte: Guilherme Luigi e Thaysa Zooby
Iluminação: Pedro Vilela
Sonoplastia: Grupo Magiluth e Luiz Fernando Marques

Serviço:
Aquilo que meu olhar guardou para você
Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife
Quando: quinta-feira (11), às 21h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Geração Y

Magiluthianos. Foto: Mariana Rusu

O Magiluth é geração Y. Querem viver tudo, intensamente, rápido. Não esperam acontecer. Vão lá e fazem.
São articulados, constróem redes, se jogam. Agora, eles concretizaram mais um projeto: o Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, que começou na última segunda e segue até o dia 14 na capital pernambucana. O Trema! é fruto das andanças do grupo pelo país, do convívio com outros coletivos, da vontade de sair da mesmice. O Satisfeita, Yolanda? adorou a ideia e virou parceiro do festival. Vamos tentar aqui estabelecer um diálogo sobre as montagens e sobre o que é fazer teatro para esta geração. Começamos com uma entrevista com Pedro Vilela, ator e diretor do Magiluth.

ENTREVISTA // PEDRO VILELA – ATOR E DIRETOR DO GRUPO MAGILUTH

Recife já tem muitos festivais! Porque fazer mais um?
O Trema! é pensando não para ser mais um evento que agrega produções distintas na cidade. Ele é pensado com um recorte de pensamento e com uma linha de atuação bastante específica. Antes de ser um evento, é a possibilidade de congregarmos pesquisas e pensamento perante o teatro de grupo. Cada vez mais, os grupos teatrais no país vêm buscando a criação de redes internas de circulação e compartilhamento e não possuímos em nossa cidade nada parecido.

Qual foi o critério que vocês usaram para escolher as montagens?
Esta primeira edição do Trema! esta muito pautada no desejo do encontro. Como unir numa cidade como Recife, sem nenhum edital aprovado, todos estes coletivos? Ativamos uma rede de encontros que só foi possível porque encontramos parceiros desejosos. São grupos que encontramos em nossas circulações e que por afinidades estéticas e de modo de produção resolvemos unir para compreendermos melhor e aprofundarmos estas relações. Também está pautada na possibilidade de oferecer ao público do estado trabalhos que não se encontram nas grandes rotas do teatro. Esteticamente dialogam muito por abordarem questões que passam pela política e pelo existencial. Assim como no Aquilo (nosso espetáculo escolhido), os espetáculos também lidam com questionamentos sobre os limites entre realidade e ficção; sobre a relação entre memória e história; e sobre os conflitos entre o universo particular e o coletivo.

Quando a gente pensa em festival, lembra logo de grana; com que grana vocês vão fazer o festival?
Nosso festival não possui incentivo financeiro de nenhum órgão federal, municipal ou estadual. As parcerias criadas são com instituições e empresas privadas. Recebemos o apoio fundamental de duas instituições: o SESC, que possibilitou a hospedagem para todos os coletivos; e o Programa Rumos Itaú, que nos ofereceu oficinas e o documentário. Os grupo que estão aportando no Recife possuem projetos de circulação aprovados e solicitaram aos órgãos responsáveis para mudarem a rota e virem a Recife. Ou seja, não estamos visando lucros. Estamos todos trabalhando, sem recursos, inclusive colocando dinheiro do Magiluth na produção para ativarmos esta rede de encontro e compartilhamento.

Aquilo que meu olhar guardou para você, na temporada do Teatro Joaquim Cardozo. Foto: Ivana Moura

Pensando que as relações são tão líquidas, como adoramos lembrar no teatro, porque você acha que o teatro de grupo ainda sobrevive?
Simplesmente porque é nele que reside nossa base de subsistência. Estar em Teatro de Grupo é acima de qualquer coisa um posicionamento político, e hoje cada vez mais temos medo de nos posicionarmos. Preferimos a liberdade de estar aqui hoje e amanhã em outro lugar. Tomamos esta decisão há oito anos: a de estarmos juntos em todos os lugares, lutando juntos. Este é o modo de produção que acreditamos e que a história nos mostra todo dia. Se olharmos para a história de nossa arte, tudo que aconteceu de interessante veio de grupos. Até mesmos os grandes encenadores e teóricos precisaram de grupos para colocar em prática seus pensamentos.

Qual o tipo de teatro que o Magiluth quer fazer hoje?
Temos a preocupação de realizar obras que dialoguem com nosso tempo, sem pudores ou limites de abordagens. Desejamos comunicar, sermos ouvidos, dialogar. Compreender também para onde nossa arte aponta e nosso estar no mundo enquanto artistas.

Sei que vocês estão maturando a ideia de ter uma sede que possa abrigar espetáculos; isso já está acontecendo com alguns grupos da cidade. Como está esse projeto?
Estamos em estudos para darmos este próximo passo. Todas as nossas ações, por estarmos em grupo, são pautadas a longo prazo. Não podemos dar passos maiores do que as pernas, pois hoje contamos com uma estrutura física-financeira grande que temos que dar conta. Trabalhamos com um núcleo de cinco atores com salários em dia, plano de saúde, sede alugada, 05 espetáculos em repertório, 05 profissionais colaboradores e atualmente obrigados a nos ausentar muito de nossa cidade. Mas a ideia é sim termos um espaço que abrigue nosso repertório e que principalmente abrigue novas produções da cidade. Queremos muito contactar os novos grupos, aqueles que passam hoje pelo que passamos no início. Mas o projeto da sede esta próxima. Assim desejamos. Quem sabe em 2013?

PROGRAMAÇÃO TREMA!

QUARTA-FEIRA / 10.out

14h às 17h
Oficina Meus delírios, meus delitos
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

Proibido retornar. Foto: Juliana Palhares

19h
Proibido Retornar
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

20h
Lançamento do livro Cenas Invertidas – Dramaturgias em Processo
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

QUINTA-FEIRA / 11.out

19h
Proibido Retornar
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

21h
Aquilo que meu olhar guardou para você
Grupo Magiluth (PE)
Local: Teatro Apolo – Recife Antigo

SEXTA-FEIRA / 12.out

9h30 às 12h30 e das 14h às 17h
Oficina Rumos Teatro
Narrativas urbanas na terra sem lei
Núcleo Argonautas (SP) e Cia Senhas (PR)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

Dizer e não pedir segredo. Foto: Adalberto Lima

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

SÁBADO / 13.out

9h30 às 12h30 e das 14h às 17h
Oficina Rumos Teatro
Narrativas urbanas na terra sem lei
Núcleo Argonautas (SP) e Cia Senhas (PR)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

a partir das 22h
Festa de Encerramento do TREMA!
Restaurante Sétima Arte
Local: Rua Capitão Lima, 195, Santo Amaro

DOMINGO / 14.out

15h
Documentário Evoé! Retrato de um Antropofágico
Direção: Tadeu Jungle e Elaine Cesar
110 min/ Classificação: 16 anos
Local: Centro Cultural Correios – Recife Antigo

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

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Que zona é esta?

Magiluth estreia no Recife versão de Viúva, porém honesta. Fotos: Pollyanna Diniz

“Quando se trata de operar dramaticamente, não vejo em que o bom seja melhor que o mau. Passo a sentir os tarados como seres maravilhosamente teatrais. E no mesmo plano de validade dramática, os loucos varridos, os bêbedos, os criminosos de todos os matizes, os epilépticos, os santos, os futuros suicidas. A loucura daria imagens plásticas e inesquecíveis, visões sombrias e deslumbrantes para uma transposição teatral”. Parece que os atores do Magiluth compreenderam muito bem o que queriam dizer as palavras de Nelson Rodrigues.

No último domingo, na abertura do festival A letra e a voz, eles apresentaram uma versão digna da “falsa irresponsável” que Nelson dizia ser a peça Viúva, porém honesta. Vale dizer que o teatro estava lindo (e foi a primeira vez que o grupo se apresentou no Santa Isabel). Lotadíssimo. Há muito eu não via tanta fila para entrar no teatro mais nobre da cidade; e para conferir a peça de um grupo subversivo, habituado a um teatro que não se deixa prender a convenções, que acompanha o seu tempo – melhor ainda.

O Magiluth fez uma verdadeira zona de Viúva, porém honesta. Foi um mergulho vertical no jogo teatral e também na estética defendida pelo grupo para a montagem. Poderiam dizer que foi demais. Mas nunca agradariam Nelson se ficassem no meio termo – e realmente não ficaram. Na encenação, na cenografia, no sexual, na brincadeira, na picardia.

Os cinco atores – Pedro Wagner, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira, Pedro Torres e o estreante na trupe Mário Sérgio (que é irmão de Pedro Wagner) – passeiam por todos os personagens. No início até parece que haverá alguma ordem, quando Pedro Wagner assume por um bom tempo o papel de Dr. J.B. Mera ilusão. Daí para a frente é uma loucura desenfreada totalmente coerente com a proposta do “jogo” que o Magiluth tanto gosta de fazer entre os próprios atores e com a plateia.

Espetáculo é um jogo. Cada ator representa todos os personagens

Giordano Castro e, principalmente, Pedro Wagner, mostraram maturidade em cena. Eles sempre estiveram muito bem nas peças do Magiluth e aqui não seria diferente. Daria destaque, no entanto, a Erivaldo Oliveira e a Pedro Torres – que nessa temporada de imersão em que o grupo passou morando juntos em São Paulo, no Rio, dedicados exclusivamente ao teatro – cresceram bastante como atores. Acho que quem acompanha o grupo, percebe isso rapidamente.

Giordano Castro brincano de boneca como Ivonete

Deve ser bem difícil conseguir o tom de uma montagem dessas – sim, porque por si mesma ela já é uma profusão de imagens, música, gritos, “sujeira” cênica – e Pedro Vilela, que assina a direção e está no palco comandando a mesa de som e luz e fazendo algumas intervenções em momentos estratégicos, conseguiu. Só ficou exagerada porque era para ficar exagerada mesmo.

É teatro. E os atores fazem questão de mostrar que é teatro o tempo inteiro. Riem, se divertem, entram e saem do personagem, brigam (mesmo que seja fake, tudo bem – aqui não soa falso) porque um deles levou uma puxada no cabelo de verdade. Sobram batatas voando por todos os lados. É uma cena kitsch, carregada, de tons que podem ser bastante vermelhos como o inferno, de flashbacks que são dados apenas com um pulo no palco. Para quem vai ao teatro sem saber do que se trata, querendo a “cena sóbria e quadrada” da década de 1980 (aquela em que insistem permanecer alguns encenadores e parte do público), quebra a cara. Mas a porrada pode fazer tão bem…

Grupo deve fazer duas apresentações no Teatro Arraial dias 30 e 31

Festival A letra e a voz – O festival, que homenageia Nelson Rodrigues, continua sendo realizado na Livraria Cultura, no Bairro do Recife. Hoje, sexta-feira, a Yolanda Ivana Moura vai participar de uma mesa, das 18h30 às 19h45. E tem também Newton Moreno. Confira a programação do festival:

Sexta, 24
17h às 18h15 – A letra e a voz de Newton Moreno (PE) com mediação de Thiago Soares (PE)
18h30 às 19h45 – Nelson Rodrigues: modos de pensar, com Luís Reis (PE), Luís Augusto Fischer (RS) e Ivana Moura (PE)
19h45h às 21h – A letra e a voz de Paulo Henriques Britto (RJ) com mediação de Fábio Andrade (PE)

Sábado, 25
17h às 18h15 – Literatura brasileira contemporânea, como entendê-la? Com Manuel da Costa Pinto (SP) e Lourival Holanda (PE)
18h30 às 19h45 – Como traduzir o presente?, com Rubens Figueiredo (SP) e Diogo Guedes
19h45h às 21h – A letra e a voz de Zé Miguel Wisnik com mediação de Talles Colatino (PE)

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