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Carne ou Vodka? distende a dor do outro

Daniel Barros, Hermínia Mendes e Eric Valença dividem a cena em Carne ou Vodka?

A barbárie marca o percurso da dita humanidade. Já a espetacularização da barbárie ganha menu variado em todas as mídias e é consumida com gosto por muitos ou enfiada goela abaixo. O espetáculo Carne ou Vodka? faz vibrar algumas manifestações dessas violências em três historietas.

A peça tem sessão extra de encerramento da temporada nesta quarta-feira (29/05) no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife, às 20h.

A temática do abuso se desdobra em três eixos alçado ao limite do absurdo: feminicídio, pedofilia e violência contra idosos . Hermínia Mendes, Daniel Barros e Eric Valença dividem a criação coletiva na dramaturgia, na direção e interpretação. O trabalho vem sendo desenvolvido há um ano, sem patrocínios públicos ou privados, e está aberto a novos desdobramentos.

O trio adjunta a potência acusatória de Carne ou Vodka? na violência dos atos que chegam ao limite do suportável. Os corpos dos atores encaram o estado de tensão para provocar o espectador a um posicionamento mais ativo e com mais empatia pela dor do outro.

E sabemos que as possíveis associações entre as cenas do teatro e o acirramento da intolerância não são obras do acaso. Mas sim envenenamentos causados por atitudes preconceituosas do mandatário temporário no Brasil e seus asseclas. 

SERVIÇO
Carne ou Vodka
Quando: Nos dias 08 e 15 de maio às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho – Cais do Apolo
Ingressos: R$ 40 inteira e R$ 20 meia entrada
Classificação Etária: 16 anos.

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Pezinho de galinha para refletir

Nínive Caldas e Eric Valença em Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha). Foto: Renato Filho/Divulgação

Nínive Caldas e Eric Valença em Pezinho de galinha. Foto: Renato Filho/Divulgação

O que estão fazendo com as criaturas de boa-fé? Indução de culpa nos “pecadores” e conversão são técnicas utilizadas pelas igrejas evangélicas e outras instituições bem-sucedidas. A peça de teatro domiciliar Pezinho de Galinha utiliza essa potência explosiva para criticar a sociedade contemporânea e seus mecanismos de persuasão bizarros e eficientes. Outros focos satirizados na peça são as delegacias de polícia. A montagem mira com muito humor os poderes constituídos.

Nínive Caldas e Eric Valença (também diretor do espetáculo) se multiplicam em seis personagens, entre prostituta que zomba do domínio da polícia e as sessões de lavagem cerebral.

Nesta sexta-feira tem sessão no atelier do artista Cássio Bomfim, que além de coproduzir, sonoriza e vira personagem do espetáculo.

SERVIÇO
PEZINHO de GALINHA
Quando:
sexta, dia 7 de abril, a partir das 20h.
Onde:
Atelier de Cássio Bomfim (Rua da Aurora, 1019 Edf. Iemanjá Apt 701)
Quanto:
Contribuições espontâneas a partir de R$15.

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As lutas pela Terra dos índios

Terra, Maria Paula Costa Rêgo. Foto: Guto Muniz /Dvulgação

Maria Paula Costa Rêgo espalha beleza no espetáculo que fala sobre indígenas Foto: Guto Muniz /Divulgação

Quanta deslealdade, covardia, desumanidade enfrentam os indígenas brasileiros até hoje. Os gananciosos da terra impingem a pecha de inimigo aos povos primordiais. E partem para o ataque pelas vias legais, com criações de leis que retiram direitos das tribos. Operam na parcialidade da mídia e constroem narrativas que tentam justificar o saque aos territórios. As ideias tacanhas de superioridade persistem na mente dos que defendem commodities, manipulados pela política neoextrativista do governo e pelos saqueadores legitimados em ruralistas e poderosas mineradoras. 
Os estragos são medonhos aos recursos naturais do País. É possível que não tenhamos noção.

Um pouco desse quadro inspirou a coreógrafa e bailarina Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial de Dança, a montar o solo Terra. O espetáculo rendeu o prêmio de melhor criadora-intérprete da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) para Maria Paula. Além de cinco troféus do Prêmio Apacepe de Dança 2014, do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, nas categorias Melhor Espetáculo, Trilha Sonora, Figurino, Bailarina e Iluminação. 

A peça coreográfica traz uma radicalidade política dos guerreiros que persistem na luta contra a destruição da Amazônia, suas riquezas e culturas e de outros territórios. Dos que resistem pela terra a dentro desse Brasil afora. Nos passos e gestos pulsam uma ligação com o solo venerável e com a natureza.

Após penúltima apresentação de Terra, sexta-feira (10/02), na curta temporada do espetáculo na Caixa Cultural Recife, pergunto o que Maria Paula encontrou no lugar mais próximo que chegou do índio brasileiro. Ela responde, tristeza. E explica que sua pesquisa ficou à margem de tribos de resistências, que não dão confiança ao “homem branco”, com razão; que sofrem com as manipulações governistas de entidades que deveriam defendê-las. 

Na sua investigação Maria Paula e seu diretor Eric Valença encontraram os indígenas desgarrados de suas tribos, bêbados e degradados vivendo das migalhas do capitalismo e ainda assim levando na bagagem sombras dos símbolos de sua cultura. Dessas raspas, dessas frestas, dos assombros cometidos pela barbárie de grupos anti-indígenas são erguidas imagens de uma força metafísica.

tera foto guto muniz

foto: Guto Muniz / Divulgação

 Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Maria Paula ocupa o espaço com seu virtuosismo e abraça a luz de Luciana Raposo. Com essa iluminação, o local é povoado de outros seres, a guerrear, brincar e fazer seus rituais. Os movimentos e a materialidade formada pela areia jogada ao ar e a iluminação precisa criam corpos que dialogam com a bailarina. A lona, que ora representa a terra invadida, que resiste, que esconde riqueza, possibilita ótimas combinações coreográficas.

A trilha sonora de Naná Vasconcelos convoca tribos diversas desses Brasil das desigualdades. Elas vão para a guerra, mas também mostram inocência e alegria da descoberta e muitos atributos estéticos, traduzidos nos efeitos sonoros desconcertantes, que criam  onomatopeias e sons da natureza com muito rigor.

São muitas problematizações desse estanho mundo contemporâneo levantadas pela encenação Terra, guiadas nos passos da tradição dos brincantes populares, que já fazem parte da pesquisa do Grial.

Plena e consciente do domínio da emoção que pode extrair do seu corpo, Maria Paula vivencia os vários estados de espírito dos índios nossos irmãos de misérias e de grandezas.

Para o índio, a terra é sagrada. Não pode ser encarada como algo que a cobiça desmedida do homem civilizado sangra até exaurir. A intérprete insiste nesse acorde e cria imagens que traçam um caleidoscópio histórico, desde os exploradores das primeiras colonizações europeias, aos violentados atuais nos seus direitos conquistados.

Esse é um dado aterrador. Mas, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, durante a ditadura militar brasileira, pelo menos oito mil indígenas foram assassinados, por ação ou por omissão do Estado. 

A invasão dos territórios continua, os massacres e todas as violências se inscrevem nos giros no ar desse espetáculo tão repleto de sentidos, nos rolamentos e em toda a habilidade da bailarina de jogar com meia tonelada de areia instalada na cena.

Como defende o organizador do livro Memórias sertanistas: Cem anos de indigenismo no Brasil (Ed. Sesc), “Não é preciso ‘genocidar’ os indígenas para que outros brasileiros, nas cidades, sejam felizes”. Terra grita pela defesa do índio e mostra as armas se for necessário ir pro ataque. Com coragem, humanidade e beleza.

Ficha técnica:
Direção: Maria Paula Costa Rêgo e Eric Valença
Intérprete: Maria Paula
Trilha sonora: Naná Vasconcelos
Figurino: Gustavo Silvestre
Luz: Luciana Raposo
Pintura de cenário: Manuel Dantas Suassuna.

Serviço
Terra – Grupo Grial de Dança
Onde: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Quando: 2 a 4 e 9 a 11 de fevereiro de 2016, às 20h
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)
Informações: (81) 3425-1915
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos

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Figuras “marginais” e o poder do culto

Nínive Caldas e Eric Valença em Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha). Foto: Renato Filho/Divulgação

Nínive Caldas e Eric Valença em Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha…). Foto: Renato Filho

Da janela do apartamento-ateliê de Cássio Bomfim, estilista da marca Acre, assistimos à primeira cena do espetáculo Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha). Rua da Aurora, defronte ao edifício Iemanjá, a personagem de Nínive Caldas batalha no calçadão. Pede carona. Pode conseguir algo – ou não. Vigiamos seus movimentos. O experimento cênico incorpora as pulsações da cidade: o espaço urbano como necessidade de respiro e o acolhimento de peças teatrais em lugares mais íntimos, engrossando a circulação de teatro em casa.

Isso é bastante interessante pelo confronto das temáticas escolhidas pelo grupo. Trabalhar o histerismo dos cultos neopentecostais, que se instala em qualquer lugar (uma Bíblia na mão, ideias retrógradas na cabeça, e um vozeirão de persuasão), quando pastores tentam convencer as pessoas de uma suposta verdade. A peça faz um trabalho crítico em cima dos estereótipos desses pregadores, que usam e abusam de palavras de ordem, e se dizem emissários, representantes de Deus na terra.

A atuação de Eric Valença amplifica os bordões dessas figuras. Para incorporar o gestual, a prosódia e as falas, a dupla frequentou um templo evangélico do Recife para estudo de personagens. A primeira camada é divertida, engraçada. Mas, observando direitinho, o elenco chama a atenção para coisas assustadoras que ocorrem nas cidades brasileiras.

A dramaturgia, também de Eric, enreda personagens periféricos e marginalizados, como a prostituta, o serviçal gay e a moleca de rua sapata, com o ascendente grupo de dominação religiosa e ideológica. Isso dá um caldeirão. Na primeira parte, o tom é de humor, com boas sacadas dos dois atores e Nínive Caldas explorando bem essa proximidade com a plateia. Na segunda parte, a encenação de Eric Valença provoca uma virada.

A montagem tende para o dramático, para o testemunho social de fome, miséria e desemparo, mas sem a mesma potência crítica dos personagens de Marcelino Freire, especialista em socos de esquerda que nocauteiam.

A produção do espetáculo é de Cássio e Carol Monteiro, que também assinam o figurino e a trilha sonora. O espaço abre às 19h e o público pode comer e tomar uns drinks feitos pelo dono da casa. Hoje é o encerramento desta temporada: última oportunidade para conhecer esses personagens. Como os lugares são limitados, é importante reservar!

Serviço

Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha)
Quando: Hoje, às 20h (Última apresentação dessa temporada)
Onde: ACRE – Rua da Aurora, 1019, apartamento 701, Santo Amaro
Ingresso: Contribuição espontânea
Informações e reservas: pecanoacre@gmail.com ou pelo link Facebook

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Tem gente que adora pezinho de galinha

Experimento cênico com Nínive Caldas e Eric Valença. Foto: Renato Filho

Experimento cênico com Nínive Caldas e Eric Valença. Foto: Renato Filho

A cidade esconde segredos e ostenta mistérios. O espetáculo Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha) expõe as idiossincrasias de personagens urbanos e suburbanos, em explorações clichês e ousadas de tipos que ganham o protagonismo de províncias-metrópoles nas suas desigualdades sociais. Essa galeria ocupa o primeiro plano nos prostíbulos, nas igrejas evangélicas, na periferia e nos presídios nesta montagem. Um pastor perfomático, uma prostituta próspera, um homossexual engajado e um fugitivo são as figuras desse enredo.

Os atores Nínive Caldas e Eric Valença se desdobram em seis personagens, que mostram as tensões e negociações difíceis para sobreviver no asfalto. As cenas são apresentadas no 7º andar do Edifício Iemanjá, na Aurora, e também na rua, mas que podem ser vistas pelas janelas do apartamento.

Esta é a penúltima sessão desta temporada, na casa-ateliê de Cássio Bomfim, estilista da marca ACRE, que tem capacidade para receber 30 espectadores. Menores de 18 anos são barrados, devido à abordagem das temáticas escolhidas.

O espetáculo começa às 20h, mas o espaço abre às 19h para que o público possa apreciar a produção de Cássio e de Carol Monteiro. Os dois estão envolvidos na produção, figurino e trilha sonora da peça.

Serviço
Espetáculo Eu gosto mesmo (de pezinho de galinha, porque eu como a carninha e limpo o dente com a unhinha)
Quando: Dias 1º, 8, 15, 21 e 28 de junho, sempre às segundas-feiras, às 20h
Onde: ACRE – Rua da Aurora, 1019, Edifício Iemanjá, apartamento 701, Santo Amaro
Capacidade: 30 pessoas
Quanto: Contribuição espontânea, a partir de R$ 15
Direção e encenação: Eric Valença
Encenação: Nínive Caldas
Informações: pecanoacre@gmail.com ou pelo evento no facebook

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