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As lutas pela Terra dos índios

Terra, Maria Paula Costa Rêgo. Foto: Guto Muniz /Dvulgação

Maria Paula Costa Rêgo espalha beleza no espetáculo que fala sobre indígenas Foto: Guto Muniz /Divulgação

Quanta deslealdade, covardia, desumanidade enfrentam os indígenas brasileiros até hoje. Os gananciosos da terra impingem a pecha de inimigo aos povos primordiais. E partem para o ataque pelas vias legais, com criações de leis que retiram direitos das tribos. Operam na parcialidade da mídia e constroem narrativas que tentam justificar o saque aos territórios. As ideias tacanhas de superioridade persistem na mente dos que defendem commodities, manipulados pela política neoextrativista do governo e pelos saqueadores legitimados em ruralistas e poderosas mineradoras. 
Os estragos são medonhos aos recursos naturais do País. É possível que não tenhamos noção.

Um pouco desse quadro inspirou a coreógrafa e bailarina Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial de Dança, a montar o solo Terra. O espetáculo rendeu o prêmio de melhor criadora-intérprete da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) para Maria Paula. Além de cinco troféus do Prêmio Apacepe de Dança 2014, do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, nas categorias Melhor Espetáculo, Trilha Sonora, Figurino, Bailarina e Iluminação. 

A peça coreográfica traz uma radicalidade política dos guerreiros que persistem na luta contra a destruição da Amazônia, suas riquezas e culturas e de outros territórios. Dos que resistem pela terra a dentro desse Brasil afora. Nos passos e gestos pulsam uma ligação com o solo venerável e com a natureza.

Após penúltima apresentação de Terra, sexta-feira (10/02), na curta temporada do espetáculo na Caixa Cultural Recife, pergunto o que Maria Paula encontrou no lugar mais próximo que chegou do índio brasileiro. Ela responde, tristeza. E explica que sua pesquisa ficou à margem de tribos de resistências, que não dão confiança ao “homem branco”, com razão; que sofrem com as manipulações governistas de entidades que deveriam defendê-las. 

Na sua investigação Maria Paula e seu diretor Eric Valença encontraram os indígenas desgarrados de suas tribos, bêbados e degradados vivendo das migalhas do capitalismo e ainda assim levando na bagagem sombras dos símbolos de sua cultura. Dessas raspas, dessas frestas, dos assombros cometidos pela barbárie de grupos anti-indígenas são erguidas imagens de uma força metafísica.

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foto: Guto Muniz / Divulgação

 Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Meia tonelada de areia no palco. Foto: Marcos Aurélio / Divulgação

Maria Paula ocupa o espaço com seu virtuosismo e abraça a luz de Luciana Raposo. Com essa iluminação, o local é povoado de outros seres, a guerrear, brincar e fazer seus rituais. Os movimentos e a materialidade formada pela areia jogada ao ar e a iluminação precisa criam corpos que dialogam com a bailarina. A lona, que ora representa a terra invadida, que resiste, que esconde riqueza, possibilita ótimas combinações coreográficas.

A trilha sonora de Naná Vasconcelos convoca tribos diversas desses Brasil das desigualdades. Elas vão para a guerra, mas também mostram inocência e alegria da descoberta e muitos atributos estéticos, traduzidos nos efeitos sonoros desconcertantes, que criam  onomatopeias e sons da natureza com muito rigor.

São muitas problematizações desse estanho mundo contemporâneo levantadas pela encenação Terra, guiadas nos passos da tradição dos brincantes populares, que já fazem parte da pesquisa do Grial.

Plena e consciente do domínio da emoção que pode extrair do seu corpo, Maria Paula vivencia os vários estados de espírito dos índios nossos irmãos de misérias e de grandezas.

Para o índio, a terra é sagrada. Não pode ser encarada como algo que a cobiça desmedida do homem civilizado sangra até exaurir. A intérprete insiste nesse acorde e cria imagens que traçam um caleidoscópio histórico, desde os exploradores das primeiras colonizações europeias, aos violentados atuais nos seus direitos conquistados.

Esse é um dado aterrador. Mas, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, durante a ditadura militar brasileira, pelo menos oito mil indígenas foram assassinados, por ação ou por omissão do Estado. 

A invasão dos territórios continua, os massacres e todas as violências se inscrevem nos giros no ar desse espetáculo tão repleto de sentidos, nos rolamentos e em toda a habilidade da bailarina de jogar com meia tonelada de areia instalada na cena.

Como defende o organizador do livro Memórias sertanistas: Cem anos de indigenismo no Brasil (Ed. Sesc), “Não é preciso ‘genocidar’ os indígenas para que outros brasileiros, nas cidades, sejam felizes”. Terra grita pela defesa do índio e mostra as armas se for necessário ir pro ataque. Com coragem, humanidade e beleza.

Ficha técnica:
Direção: Maria Paula Costa Rêgo e Eric Valença
Intérprete: Maria Paula
Trilha sonora: Naná Vasconcelos
Figurino: Gustavo Silvestre
Luz: Luciana Raposo
Pintura de cenário: Manuel Dantas Suassuna.

Serviço
Terra – Grupo Grial de Dança
Onde: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Quando: 2 a 4 e 9 a 11 de fevereiro de 2016, às 20h
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)
Informações: (81) 3425-1915
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos

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Coragem de ser Terra para mãos, pés e vistas

 

Maria Paula Costa Rêgo no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz / Divulgação

Maria Paula Costa Rêgo no espetáculo Terra. Foto: Guto Muniz / Divulgação

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As conquistas e perdas dos povos indígenas e a certeza de que a luta continua. Foto: Guto Muniz/ Divulgação

O quanto de índio há em você, cidadão brasileiro? questiona o espetáculo Terra, derradeira parte da trilogia Uma história, duas ou três, do Grupo Grial, concebido e dançado pela bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo. E se posiciona a favor dos povos primordiais, que historicamente foram ameaçados, subjugados e rebelados; que tiveram seus territórios confiscados por leis feitas pelos beneficiários. Resistiu, Resiste.

Terra condena nos passos da dança contemporânea o genocídio desses povos e o preconceito que persiste até hoje. No corpo da bailarina pulsa a identidade e os movimentos das manifestações populares indígenas do Nordeste brasileiro.

Diálogo com o presente e com a luta. A peça coreográfica tem direção assinada por Maria Paula Costa Rêgo e Erick Valença. A trilha sonora, criada pelo percussionista Naná Vasconcelos, está carregada de efeitos sonoros, com onomatopeias e sons da natureza. E o cenário é assinado pelo artista plástico Manuel Dantas Suassuna.

A temporada integra as comemorações de 20 anos do grupo Grial, criada por Ariano Suassuna e Maria Paula Costa Rêgo e vai de 2 a 4 e de 9 a 11 de fevereiro de 2017, na CAIXA Cultural Recife.

A encenação é uma das mais premiadas do grupo. Terra ganhou o Prêmio APCA de 2013, na categoria Intérprete-Criadora, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. O solo também arrebatou cinco troféus do Prêmio Apacepe de Dança 2014, do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos.

Entrevista: Maria Paula Costa Rêgo

 Bailarina e coreógrafa do Grupo Grial. Foto: Victor Muzzi

Bailarina e coreógrafa do Grupo Grial. Foto: Victor Muzzi

Ariano Suassuna criou junto com você o Grupo Grial em 1997. Que falta faz Ariano Suassuna para você?
Eu gostava de mostrar a obra finalizada para Ariano, e discutir aquele material. A conversa era sempre muito maior, ele mostrava vídeos e músicas e dava muitas voltas em torno da arte almejada por nós. Este PAR, está me fazendo muita falta.

Qual a importância do Balé Popular na sua vida?
Foi minha segunda grande vivência, e sem ter passado pelo Balé Popular do Recife, eu certamente não teria chegado ao Grupo Grial.

Prêmio é importante? Por quê e para quê?
Quando uma instituição de respeito reúne pessoas conceituadas na sua área, para decidirem quem deve ganhar um prêmio pela sua obra, este prêmio tem um valor imensurável. Abre portas, chama olhares, além de confirmar que as suas escolhas estéticas reverberam de alguma forma.

Como você ultrapassou os limites territoriais e venceu o Prêmio APCA de 2013?
Os limites territoriais são ultrapassados quando acreditamos que ele não existe. Existe a dificuldade financeira, mas criamos espetáculos pensando em alcançar o mundo, então estas dificuldades diminuem.

Qual o seu pensamento em dança e como ele foi construído?
A minha primeira experiência de dança foi com Improvisação, e com o aprimoramento desta técnica, eu tive conhecimento do meu corpo e da capacidade que este corpo tem de materializar sentimentos através da qualidade dos seus movimentos. Ao vivenciar o Balé Popular, eu me joguei naquilo que, para mim, era muito mais que o movimento da dança popular, era o jogo cênico da brincadeira. Estava largada a minha jornada no universo das tradições.
Quando viajei para a França, meus estudos giravam em torno desta questão, mas eram sempre na teoria que eu evoluía. A prática deste discurso veio a se concretizar com a criação do Grupo Grial em 1997. De lá para cá, são as criações que me dão as respostas para minhas questões de construção de uma dança onde o cerne é a tradição popular. Cada criação coreográfica, uma pergunta e, certamente, 2500 respostas!

Poderia elucidar a frase de que o Grupo Grial faz criações com temas e inspirações populares trabalhadas numa chave erudita, porque isso parece um bordão.
O Grupo Grial trabalha com o UNIVERSO DAS TRADIÇÕES festivas e sagradas brasileiras. Quando adentramos nestes universos, os percebemos pelos nossos “olhos” de estrangeiros. Vivenciamos de dentro, ao mesmo tempo que ligamos uma segunda intenção que fica no alerta, “à cata” de elementos de criação contemporânea, de composição coreográfica (e tudo que ela engloba). Essa percepção pode acontecer muito rápido, como pode durar anos! Esse material (imaterial) se amalgama com nosso fazer de dança diário (estudos técnicos e teóricos), e que, juntos, ficam à serviço das nossas criações coreográficas.

Terra é um solo da Maria Paula, criação do grupo Grial que leva para a cena uma discussão densa sobre as origens do Brasil, através da metáfora da terra, do chão que pisamos. O que você acrescenta para falar de Terra.
TERRA, é também uma metáfora do homem moderno que tem se deixado roubar seus espaços (a palavra espaço significa também conquistas sociais).

O tempo traz experiência, mas deixa suas marcas no corpo, na presteza do gesto. Como criadora o que significa dançar hoje? Quais as diferenças de 20 atrás?
TODAS AS DIFERENÇAS! Antes eu colocava o vigor à serviço do que eu estava interpretando, hoje eu coloco a minha dramaturgia corporal a serviço da história.

Sempre me parece muito estranho traduzir corpo em movimento, energia, desenho coreográfico, a dança contemporânea para texto. Colocações como “O trabalho aborda temáticas como memória, tempo e transformações da nossa história” me parecem muito vagas.
Então o que significaria: “As coreografias trazem referências das manifestações populares do Nordeste transformadas em DNA para os passos de Maria Paula Costa Rêgo”?

DNA é algo que nos pertence, do que somos feitos. O Brasil tem muita dificuldade de assumir sua descendência indígena ou africana. Para a maioria de nós, somos descendentes apenas dos povos europeus!! Quando falamos que trago nos meus movimentos este DNA é que assumo a minha herança e a do lugar em que vivo, e coloco minhas criações à serviço deste norte.

Ficha técnica:
Direção: Maria Paula Costa Rêgo e Eric Valença
Intérprete: Maria Paula
Trilha sonora: Naná Vasconcelos
Figurino: Gustavo Silvestre
Luz: Luciana Raposo
Pintura de cenário: Manuel Dantas Suassuna.

Serviço
Terra – Grupo Grial de Dança
Onde:CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE)
Quando: 2 a 4 e 9 a 11 de fevereiro de 2016, às 20h
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)
Bilheteria: vendas a partir das 10h do dia 1/02 (para os dias 2 a 4) e do dia 8/02 (para os dias 9 a 11)
Informações:(81) 3425-1915
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos

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Estreias pernambucanas no Janeiro 2014

Depois de anunciar na semana passada os espetáculos locais não-inéditos que vão compor a grade do Janeiro de Grandes Espetáculos 2014, a produção do festival divulgou agora quais vão estrear durante a 20º edição do evento. A programação deve ter ainda espetáculos pernambucanos que já participaram do festival e serão convidados; e montagens nacionais e internacionais, também convidadas pela curadoria. O Janeiro de Grandes Espetáculos será realizado de 8 a 26 de janeiro.

Grupo Grial estreia Terra. Na imagem, Maria Paula Costa Rêgo, bailarina e diretora. Foto: Léo Caldas/Divulgação

Grupo Grial estreia Terra. Na imagem, Maria Paula Costa Rêgo, bailarina e diretora. Foto: Léo Caldas/Divulgação

Categoria Dança:

Os sete buracos (Compassos Cia de Dança)

Terra (Grupo Grial)

Categoria Teatro para infância e juventude:

Era uma vez um rio (Cênicas Companhia de Repertório)

Categoria Teatro adulto:

Anjo negro (O Poste Soluções Luminosas)

Antônio Rodrigues, da Cênicas Cia de Repertório, assina a direção de Era uma vez um rio. Foto:

Antônio Rodrigues, da Cênicas Cia de Repertório, assina a direção de Era uma vez um rio. Foto: Pri Burh/Fundarpe

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