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Experiência e graça de Caetana

Fabiana Pirro (em pé) e Lívia Falcão na peça Caetana. Foto: Ivana Moura

Madura, mas sem perder o viço. A peça Caetana, do Grupo Duas Companhias, de Pernambuco, mostrou no Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas, que tem as qualidades da experiência e também uma vivacidade, uma ludicidade que a montagem exige. O espetáculo que se apresentou ontem no Teatro Túlio Piva lotado, faz mais duas sessões, uma hoje e outra amanhã. O público encarou a chuva e o frio para conferir as artimanhas dessas personagens de sotaque nordestino.

O termo Caetana é a poética forma de denominar a morte, utilizada pelo dramaturgo Ariano Suassuna em suas obras e poemas. A montagem de Moncho Rodriguez agregou o título e algo da estética armorial. A peça expõe a saga da encomendadora de almas Benta (Lívia Falcão), para driblar a morte/ Caetana (Fabiana Pirro).

Espetáculo participa do Porto Alegre em Cena com três apresentações

A rezadeira já facilitou a passagem e indicou o caminho do além para várias almas perdidas, em troca de dinheiro, é claro. Mas dessa vez é ela mesma quem se vê diante da morte, e vai parar no Reino do Invisível. Lá, Benta reencontra as almas anteriormente encomendadas por ela que aparecem em forma de bonecos.

A encenação faz referências ao circo, ao teatro mambembe, à literatura de cordel, ao mamulengo e a outras manifestações populares. Parte da ação se passa dentro da estrutura em formato circense. A trilha sonora, composta pelo português Narciso Fernandes, modula os climas do espetáculo com uma partitura que junta sonoridades da música ibérica e nordestina.

Caetana estreou no dia 17 de julho de 2004, no Festival de Garanhuns/PE. Tem, portanto, oito anos, mais de 150 apresentações e já foi vista por aproximadamente 55 mil pessoas, segundo a produção. Nesse percurso, o texto, de Moncho Rodriguez e Weydson Barros, ficou mais orgânico e ajustado às necessidades da cena.

A temática do inevitável encontro com a morte e a tentativa de fuga desse destino existe desde que o mundo é mundo. Esses arquétipos narrativos remetem para a tradição ibérica, suas lendas e contos maravilhosos. Nesse universo mágico, Benta traça círculos pelo espaço com Caetana no seu encalço. Outros personagens constróem outros desenhos num enredo de situações engraçadas, inclusive a aflição de Benta.

As atrizes foram aplaudidas com entusiasmo pela plateia gaúcha

As atrizes estão cada vez mais afinadas. Lívia Falcão explora de sua Benta a graça das figuras espertinhas e o carisma do palhaço. Ela imprime leveza, ousadia e ironia à sua personagem encantadora. Fabiana Pirro interpreta Caetana com sobriedade e peso e traça com seu corpo coreografias para a personagem. Pirro também faz as outras almas que foram recomendas para o além pela benzedeira, por trás de bonecos que ganham vida nas várias vozes da atriz. As duas nos divertem com nossas próprias assombrações.

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Engrenagem frágil

Atores ainda precisam recorrer a outras atividades profissionais, mesmo que relacionadas à arte, para sobreviver

1943, Rio de Janeiro. Foi o polonês Ziembinski o diretor do primeiro sucesso de Nelson Rodrigues no teatro – Vestido de noiva. Exigia uma dedicação espartana dos atores de Os Comediantes. Segundo Ruy Castro, biógrafo de Nelson Rodrigues, o elenco era formado por funcionários públicos, advogados, jornalistas, bancário, contador. No Recife, os atores do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) também conciliavam carreiras profissionais que não necessariamente tinham relação com a arte. Reinaldo de Oliveira, por exemplo, protagonista e diretor de diversas peças da companhia, é médico. Nos dois casos, os grupos eram amadores. No teatro profissional, no entanto, nem sempre a realidade – mesmo tantos anos depois – é diferente.

O ator pernambucano Sóstenes Vidal participou ano passado das gravações de Preamar, que deve estrear no segundo semestre na HBO. Na série, primeiro projeto longo de ficção da produtora Pindorama, com direção de Estevão Ciavatta, Vidal interpreta o porteiro de um prédio em Ipanema. Mas não é só como ator que Sóstenes Vidal, que participou de programas e séries como Amazônia e Malhação – e ainda do filme Lula, o filho do Brasil –, sobrevive. Ele é corretor de seguros. “Na realidade, sempre trabalhei com vendas. No teatro, eu não só atuava, mas produzia e vendia os espetáculos para escolas, montava espetáculos de fim de ano. Mas mesmo trabalhando como corretor, nunca deixei de fazer teatro. O espetáculo Auto da Compadecida, por exemplo, é apresentado há 20 anos”, conta o ator que interpreta João Grilo na montagem pernambucana do texto de Ariano Suassuna que tem produção de Socorro Rapôso e é ainda um dos Mateus em O baile do menino Deus, auto de Natal escrito por Ronaldo Correia de Brito e Francisco Assis Lima.

Além de ator, Sóstenes Vidal é corretor de seguros

Sóstenes Vidal conta que não é difícil conciliar as carreiras, já que “como corretor sou um profissional autônomo. Não tenho que dar satisfação a patrão, respeitar um horário fixo, apesar de ter que cumprir uma meta. Mas quando eu não ganho dinheiro com teatro, ganho com seguros”, explica. Ainda assim, ele admite: “você não tem aquele tempo todo de construir o personagem, de se dedicar ao texto como queria”.

Profissionalmente, Germano Haiut, 74 anos, precisou fazer a opção entre o teatro e o comércio. “Eu brincava que eu era artista durante o dia e ator à noite. Quando a gente montou Jogos na hora da sesta, no Teatro de Amadores de Pernambuco, a temporada foi até um período de dezembro. E eu dizia: ‘Geninha (Geninha da Rosa Borges, que era a diretora), não posso chegar essa hora, às oito horas, porque a loja ainda fica aberta’. E a loja era atrás do Cinema São Luiz, no Centro do Recife. Aí eu tinha um táxi me esperando e, quando dava determinada hora, eu dizia que ia ao banheiro. Pegava o táxi, Geninha ficava me esperando na porta do teatro, eu trocava de roupa na coxia, o espetáculo já tinha começado e eu entrava em cena! Mas não deixei de ir nenhuma noite”, relembra.

Germano Haiut fugia do comércio para entrar em cena no TAP. Foto: Ivana Moura

Com mais de 20 peças até a década de 1980, Germano diz que o seu primeiro cachê foi quando interpretou o papel de Herodes, na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em 2003. “Lembro como se fosse hoje: R$ 1.500. Fiquei feliz!”. Hoje, o ator que participou de filmes como O ano em que meus pais saíram de férias, dedica-se mais ao cinema. “A negociação geralmente depende de quanto tempo vou ficar fora do Recife. No teatro isso é mais difícil, não dá para marcar ensaio, comprometer um grupo se, de repente, por conta da vida comercial, preciso viajar”, explica.

Paula de Renor, atriz e uma das produtoras do festival pernambucano Janeiro de Grandes Espetáculos, atesta que é mesmo difícil sobreviver só de teatro: “Não se vive só de atuação”. Ainda assim, enxerga avanços: “Antigamente, as pessoas se dedicavam a outras profissões. Hoje, estão buscando possibilidade dentro da própria cadeia das artes cênicas. Estão fazendo produção, dando aula”. Para Paula, uma das saídas é a organização do teatro de grupo. “Procurando subsídios, incentivos, parcerias. E algumas leis já possibilitam a manutenção de grupos. Mas, ainda assim, é complicado. Porque, às vezes, quando o grupo não consegue o edital, se dispersa”, avalia.

Não foi o que aconteceu com o coletivo teatral pernambucano Magiluth, que tem oito anos de estrada e nunca foi aprovado no Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) ou no Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife. Ano passado, eles participaram do Rumos Itaú Cultural Teatro e, durante seis meses, fizeram intercâmbios e um processo de trabalho continuado com o grupo Teatro do Concreto, de Brasília. “Com esse projeto, tivemos a possibilidade de sobreviver só de teatro, mesmo com um orçamento mínimo. Mas a lógica é que o ator precisa passar o dia na repartição, na sala de aula e, à noite, vai trabalhar ensaiando”, diz o ator e diretor Pedro Vilela.

A partir do Rumos Itaú Cultural, Magiluth montou novo espetáculo. Foto: Mariana Rusu/divulgação

“Sei que fazemos parte de um recorte muito específico, por conta da idade, já que dos compromissos financeiros. Não sei por quanto tempo vamos conseguir. E olhe que já teve um momento em que até pensamos em parar as atividades. Estamos agora aprendendo com um processo da autogestão, fazendo articulações com outros grupos. Mas é uma mudança de mentalidade. A nossa atividade não consegue sobreviver por ela mesma; e é papel do estado desenvolver esse sistema”, alega.

A atriz Lívia Falcão diz que optou por permanecer no Recife mesmo que, no Rio de Janeiro, com a proximidade das emissoras de televisão, a realidade para os artistas parecesse mais fácil. “Não é um problema do mercado pernambucano. É a centralização das grandes empresas que cria isso em todo o país. Eles não contam com a mão de obra das outras regiões. Para ter trabalho na televisão, precisa estar lá. O Brasil inteiro sofre com isso, porque cada região tem o seu potencial, os seus artistas, diretores, produtores”, diz.

A pernambucana que fez sucesso, por exemplo, como Francisquinha, namorada do cabo Citonho (Tadeu Mello) no filme Lisbela e o prisioneiro; e como Regina da Glória na novela global Belíssima, atesta que são vários os fatores que contribuem para que ela continue morando em Pernambuco. “É aqui que eu me abasteço artisticamente. Os mestres da cultura popular estão aqui pertinho. Fico muito feliz de ir a Glória do Goitá e ver o mestre Zé de Vina”.

A atriz conta que a Duas Companhias, que mantém em parceria com a atriz Fabiana Pirro, é uma possibilidade de experimentar. “É uma tarefa árdua convencer o patrocinador de que a arte é importante. Por outro lado, cada vez mais tenho vontade de correr atrás dos nossos sonhos. Sempre tive a certeza de que não queria estar encostada no emprego. E isso depende da forma como cada um encara a sua profissão”. Apesar de a publicidade fazer parte do cotidiano de muitos artistas no Recife, Lívia conta que, ano passado, “fiz alguns poucos comerciais. Vivo mesmo do trabalho da companhia”.

Lívia Falcão, Odília Nunes e Fabiana Pirro em Divinas. Foto: Ivana Moura

Além da publicidade, outra possibilidade clara – embora esporádica – para os artistas pernambucanos é o cinema. “De alguma forma, a ponte entre o cinema e o teatro sempre existiu, mas agora está muito mais clara. Mas só temos três, quatro produções longas-metragens por ano, então geralmente não dá para viver só de cinema”, explica o produtor de elenco Rutílio Oliveira, que trabalhou ainda mais de perto com atores de teatro nas gravações do longa Tatuagem, primeiro de Hilton Lacerda. “O universo do filme era o teatro, então o elenco tinha mesmo muitas pessoas do teatro. Mas as produções normalmente agregam esses profissionais. É uma realidade que serve inclusive como aprendizado”, avalia. Para o produtor, uma das opções para preparar melhor os profissionais que vão trabalhar com cinema – e aí essa realidade nem é específica para atores – é levar estudantes ao set de filmagem. “As pessoas fazem um curso de cinema e não sabem bem o que é um set”, diz.

Emprego, no entanto, não é o único problema para aqueles que se dedicam às artes cênicas. Para Paula de Renor, é preciso primeiro haver formação de plateia – já que durante os festivais o público é incentivado pela divulgação, pela quantidade de atrações, e comparece aos teatros, mas essa nem sempre é a realidade, quando as produções locais entram em temporada. “Precisamos de boas casas de espetáculos, com equipamentos adequados, para que a qualidade técnica dos espetáculos melhore; precisamos de um curso superior de artes cênicas. Como não temos, as pessoas acham que podem aprender no palco, com o tempo, e pelo contrário, o tempo só solidifica vícios, erros”, diz. Paula explica que a existência de um curso superior, pleito antigo dos artistas da cidade (já que o curso disponível na Universidade Federal de Pernambuco forma arte-educadores), está no centro da questão sobre a engrenagem das artes cênicas em Pernambuco. “Quando existe uma escola superior, existe efervescência, público e vamos construindo um mercado e a independência do dinheiro público. Vira negócio, mercado e aí começam a surgir empregos para toda a cadeia”, avalia.

Pedro Vilela, por outro lado, acredita que os artistas precisam se organizar para conseguir melhorias para a classe e, consequentemente, para o público, que poderá acompanhar nos palcos as mudanças. “A grande luta de todos os coletivos, em todo o Brasil, em tentar emplacar leis de fomento que dêem conta de suas produções locais e que abarquem a manutenção dos coletivos teatrais. No Brasil, podemos dizer que São Paulo é o local mais avançado nessa questão”.

(Texto publicado na revista Continente do mês de fevereiro)

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Retrô 2011

Os artistas aguardaram: apoio, resultados dos editais atrasados, pagamento de fomentos. Como – ainda bem-diz a música de Marcelo Camelo (Casa pré-fabricada), “nessa espera, o mundo gira em linhas tortas”. Os caminhos não serem retos não é, definitivamente, ruim para a arte. Se o atraso no resultado do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) prejudicou a cena teatral pernambucana em 2011, serviu também ao propósito de mostrar que o teatro continua sendo uma arte de resistência; e que é possível sim levar ao palco produções de qualidade, a duras penas, mesmo sem incentivos oficiais. Para 2012, se as promessas e os prazos de editais forem realmente cumpridos, é bem provável que tenhamos um panorama de peças mais amplo, pelo menos em quantidade. Qualidade não foi o problema.

No Janeiro de Grandes Espetáculos, que começa na próxima quarta-feira, teremos pelo menos três estreias: Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, Caxuxa, da Duas Companhias, e O pássaro de papel, com direção de Moncho Rodriguez e produção de Pedro Portugal e Paulo de Castro. Para o Magiluth, que tem sete anos de atividades, 2011 foi um ano de aprimoramento e, mais ainda, de alargar as possibilidades criativas. Estrearam a peça O canto de Gregório, sem apoio estadual ou municipal, “o que não é um mérito, é porque fazer teatro é mais forte do que a gente, mas é muito difícil”, conta Pedro Wagner, que interpreta Gregório. Ainda participaram do projeto Rumos Itaú Cultural, que possibilitou, através de edital, intercâmbios entre grupos.

Magiluth vai estrear Aquilo que meu olhar guardou para você. Foto: Thaysa Zooby

O Magiluth trabalhou com o Teatro do Concreto, de Brasília. E daí surgiu o novo espetáculo, que tem direção de Luis Fernando Marques, do grupo paulista XIX de Teatro. O grupo passa por um momento limite. “Eles já não são um grupo ‘de novos’. E precisam se manter. Espero que eles consigam esse equilíbrio de produção. Além de ser artista, tem que ter estrutura de produção, gestão”, complementa o professor Luís Reis.
Caxuxa, outra estreia, é uma remontagem, uma adaptação do texto de João Falcão. “Foi uma ideia de Claudio Ferrario. Fizemos essa peça, um musical, há 20 anos”, conta Lívia Falcão, que fez parte do elenco de Divinas, ao lado de Fabiana Pirro e Odília Nunes, que estreou ano passado.

Luiza Fontes, Regina Medeiros e Sofia Abreu estão no elenco de O pássaro de papel. Foto: Pedro Portugal

Ao longo de 2012, outras produções estão previstas. Jorge de Paula, Thay Lopes e Kleber Lourenço devem trabalhar a partir de um texto de Luiz Felipe Botelho, com direção de Tiche Vianna, do Barracão Teatro, de Campinas. Rodrigo Dourado está na direção de Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases, que tem no elenco Fátima Pontes e Leidson Ferraz. A Cênicas Companhia de Repertório, que fez o infantil Plutf – O fantasminha, está em fase de pré-produção do espetáculo baseado na formação de clowns, e deve montar outro infantil.

Cinema é uma coprodução entre a Cia Clara e o Espaço Muda. Foto: Nilton Leal

Jorge Féo, do Espaço Muda, está trabalhando em parceria com Anderson Aníbal, da Cia Clara, no projeto Cinema, com estreia prevista para abril. A Fiandeiros deve abrir o seu espaço, na Boa Vista, para a realização de temporadas, planeja fazer o infantil Vento forte para água e sabão, e ainda vai lançar o Núcleo de Teatro Novelo, com alunos saídos dos cursos ministrados pela companhia. Breno Fittipaldi e Ana Dulce Pacheco devem estrear, em maio, Encontro Tchekhov, também sem incentivos.

– Colaborou Tatiana Meira

Alguns registros:

Carla Denise fez documentário sobre Hermilo Borba Filho

Leda Alves, viúva de Hermilo Borba Filho, acalenta o projeto de lançar um livro sobre a obra de Hermilo e o Teatro Popular do Nordeste (TPN). “Seria uma obra envolvendo vários pesquisadores”, conta. No último mês de dezembro, a dramaturga e jornalista Carla Denise lançou o DVD Coleção Teatro – Volume 3 – Hermilo Borba Filho, que além de entrevistas com atores, diretores, pessoas que conviveram com Hermilo, traz ainda uma entrevista antiga com o próprio diretor.

O livro TAP – Sua cena & sua sombra: O Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991), de Antonio Edson Cadengue, foi lançado em novembro. Esse regaste, fundamental para entender a trajetória do teatro em Pernambuco, está disponível em edição rica em detalhes e fotos. Outra publicação importante foi o livro Transgressão em 3 atos: Nos abismos do Vivencial, escrito por Alexandre Figueirôa, Stella Maris Saldanha e Cláudio Bezerra.

O Teatro Experimental de Arte de Caruaru comemora 50 anos em 2012 com muitos motivos para comemorar. Se neste ano o Festival de Teatro do Agreste (Feteag) não ocorreu por falta de apoio e recursos, a Câmara Municipal de Caruaru já aprovou, no mês de novembro, uma verba de R$ 100 mil para que a mostra seja realizada. O grupo deve ainda estrear O pagador de promessas e lançar um livro. Neste ano, pela primeira vez, o TEA participou do Festival de Curitiba.

A publicitária Lina Rosa Vieira está com a agenda lotada para 2012. Em junho, o Festival Internacional de Teatro de Objetos (Fito) será realizado em Belo Horizonte e deve passar por Florianópolis e Curitiba. Está quase certo que o Fito, que foi sucesso de público no Marco Zero, seja realizado aqui, em setembro, trazendo o espetáculo francês Transports Exceptionnels. Já está confirmado é que o Sesi Bonecos do Mundo virá a Pernambuco em novembro.

Lina Rosa Vieira deve trazer o Sesi Bonecos do Mundo e o Fito novamente ao Recife


Pé na estrada

O compromisso com o teatro de grupo está levando as produções pernambucanas para outras cercanias. Não são peças organizadas apenas para cumprir uma temporada, mas fruto da pesquisa, da investigação de uma linguagem e estéticas próprias de cada coletivo. O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, que estreou em 2010, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, rodou vários festivais do país e deve circular em 2012.

O grupo já está em fase de pesquisa para o novo projeto, que encerra a trilogia em homenagem ao diretor e professor Marco Camarotti. “Crescemos esteticamente. Começamos como um coletivo, mas não tínhamos organização de grupo, gestão. E conseguimos perceber o quanto isso é importante. Nós nos mobilizamos e conseguimos levar o público ao teatro”, conta o diretor Jorge de Paula.

Já o grupo O Poste Soluções Luminosas está comemorando a aprovação nos editais do Myriam Muniz e Procultura, que vão possibilitar que o espetáculo Cordel do amor sem fim, que estreou também em 2010 e passou por vários festivais, faça circulação por lugares cortados pelo Rio São Francisco. Nessas cidades, o grupo também fará formação e já deve começar a pesquisar sobre os jogos e brincadeiras das crianças do Nordeste e as africanas.

Circuito

Valmir Santos, curador deste ano do Festival Recife do Teatro Nacional, fez uma mostra ousada. Em vez de trazer grupos renomados, que de alguma forma sempre fazem parte do festival, como o Galpão e a Armazém Companhia de Teatro, optou por trazer peças que dificilmente viriam ao Recife, por conta da falta de apoio e das distâncias, e que compõem o repertório de alguns grupos com propostas e trabalhos estéticos interessantes. Vimos por aqui, por exemplo, duas montagens que depois foram premiadas pela Associação Paulista de Críticos de Arte: Luis Antonio – Gabriela, da Cia Munguzá, e O jardim (Cia Hiato).

O Jardim, da Cia Hiato, de São Paulo, emocionou o público. Foto: Ivana Moura

Ainda assim, os grupos tradicionais não deixaram de vir ao Recife. A Armazém trouxe o novo trabalho Antes da coisa toda começar; bem antes disso, Marieta Severo e Andrea Beltrão apresentaram, finalmente, a peça de Newton Moreno, com direção de Aderbal Freire-Filho, As centenárias; Marco Nanini trouxe sua premiada Pterodátilos; e Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Débora Evelyn vieram ao Recife com Deus da carnificina.

Para 2012, a produtora Denise Moraes já promete novas produções. Velha é a mãe, com Louise Cardoso e Ana Baird, e direção de João Fonseca, deve ser apresentada no Recife de 9 a 11 de março, no Teatro de Santa Isabel. Já de 11 a 13 de março, Denise Fraga encena Sem pensar, direção de Luiz Villaça.

Muitos planos, pouco tempo

Muitas promessas e projetos, mas um prazo apertado. Afinal, este ano é de eleição municipal. Só no último mês de agosto, o diretor de teatro Roberto Lúcio assumiu oficialmente a Gerência Operacional de Artes Cênicas da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, e agora a correria é grande para que os projetos possam sair do plano das ideias. No fim de novembro, a gerência fez uma reunião com a classe (João da Costa nem de longe tem a aprovação dos artistas, como ficou claro nesse encontro). Maria Clara Camarotti, gerente de serviço de teatro, apresentou um plano que contempla, entre muitas ações, um seminário de políticas públicas para as artes cênicas, o lançamento de edital específico para ensaios dos grupos nos equipamentos da prefeitura, a elaboração de uma proposta de criação de uma escola técnica (que será apresentado ao governo do estado), a realização do Mascate: Mercado das Artes Cênicas, ações formativas em gestão, produção e elaboração de projetos, e a realização do Fórum dos Teatros.

Perdemos

José Renato Pécora
Faleceu em maio, aos 85 anos. Fundador do Teatro de Arena de São Paulo e responsável pela peça Eles não usam black-tie, que marcou os anos 1950. Morreu após sessão de 12 homens e uma sentença, dirigida por Eduardo Tolentino.

No mês de agosto, perdemos Ítalo Rossi


Ítalo Rossi

Mais de 400 montagens e 50 anos de carreira estão no legado de Ítalo Rossi, que morreu aos 80 anos, em agosto. Nascido em Botucatu, em São Paulo, seu último personagem foi no humorístico Toma lá dá cá, da Globo.

Enéas Alvarez
Jornalista, crítico de teatro, ator do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), advogado, padre da Igreja Siriana Ortodoxa de Olinda, Enéas Alvarez morreu aos 64 anos, em 21 de novembro. Há 20 anos, sofria com problemas de saúde agravados pela obesidade.

Sérgio Britto
Considerado um mestre do teatro brasileiro, o ator e diretor Sérgio Britto faleceu no dia 17 de dezembro, de problemas cardiorrespiratórios. Tinha 88 anos e 60 anos de carreira. Atuou e dirigiu mais de 130 peças e apresentava na TV o programa Arte com Sérgio Britto.

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Leveza dá o tom de Divinas

Fabiana Pirro, Lívia Falcão e Odília Nunes em Divinas. Fotos: Ivana Moura

O texto é um pretexto, um fiozinho de dramaturgia tênue e frágil, para as três artistas desenvolverem seus talentos de comediantes. Ou melhor, da arte da palhaçaria. Divinas, espetáculo em cartaz no Teatro Barreto Júnior junta no mesmo palco a elegância de Fabiana Pirro, a ingenuidade de Odília Nunes e a experiência em arrancar risos de Lívia Falcão numa montagem graciosa e divertida.

O espetáculo mostra a trajetória de buscas. Das três contadoras de histórias que ao destrincharem um rosário de coisas preciosas (pequenas ações do cotidiano, um gesto, uma lembrança) também traçam uma metáfora com a Duas Companhias, que persegue e constrói sua própria linguagem dentro desse universo artístico da contemporaneidade.

A cultura popular dá o alicerce para essas conquistas. Foram quase dois anos de pesquisa. Além do ‘mergulho’ no universo do circo e dos palhaços, com a oficina de palhaças com a atriz Adelvane Neia.
As contadoras de histórias e palhaças Uruba (Fabiana Pirro), Zanoia (Lívia Falcão) e Bandeira (Odília Nunes) procuram um mundo melhor, buscam um utopia. Eles fazem parte do povo brasileiro, carente, com fome e com uma alegria de viver que desbanca qualquer tristeza. E instala-se o lirismo.

Montagem está na programação do Festival de Circo do Brasil

Uma malandragem aqui outra ali, por coisa pouca e até parece que o elo vai quebrar. Essas palhaças destacam o valor da amizade, o respeito pela memória. E com isso elas desenham uma geografia delicada para não esquecer dos sonhos.

Nesta temporada, a trupe conta com percussão ao vivo de Lucas Teixeira e trilha sonora de Beto Lemos. Os figurinos são simples e bonitos, os sapatos de Bandeira e Zanoia são de Jailson Marcos.

Odéilia é Bandeira, Fabiana é Uruba e Lívia é Zanoia

O palco do Barreto Júnior parece que ficou grande para ação da trupe, sem cenários. A pré-estreia no Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro) criava uma cumplicidade maior com plateia, pela proximidade. O espetáculo entrou na programação do Festival de Circo do Brasil. As últimas sessões gratuitas são hoje, às 20h, no Barreto Júnior; e quinta-feira, dia 20h, às 20h, na Praça do Arsenal da Marinha, no Recife Antigo.

Fabiana Pirro como a palhaça Uruba

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Pra curtir o restinho do fim de semana

Cênicas Cia de Repertório estreou Pluft - O fantasminha. Foto: Valdemir Rodrigues

O fim de semana está já acabando, mas ainda dá pra curtir a programação nos teatros da cidade! Tem muita coisa legal, inclusive opções de dança:

Divinas – Lívia Falcão (a palhaça Zanoia) divide a cena com Fabiana Pirro (Uruba) e Odília Nunes (Bandeira) no ambiente circense. As palhaças contam histórias, seguindo em uma estrada, em busca de seus sonhos e crenças. Teatro Barreto Júnior. Hoje, às 20h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Informações: (81) 3355-6398.

Lasanha e Ravioli in casa – Conduzido pela atrizes Ana Barroso e Mônica Biel, que formam a dupla Lasanha e Ravioli, peça narra o cotidiano de duas palhaças que decidem comemorar dez anos de carreira montando uma nova peça. Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife). Hoje, às 16h30. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (crianças, artistas, estudantes e maiores de 60 anos). Informações: (81) 3355-3318.

Pluft – O fantasminha – Pirata rapta a Menina Maribel e a esconde no sótão de uma casa abandonada, onde vive uma família de fantasmas. Produção da Cênicas Companhia de Repertório. Teatro Barreto Júnior (Rua Estudante Jeremias Bastos, Pina). Hoje, às 16h30. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Informações: (81) 3355-6398.

Amanhã é depois, hoje é brinquedo – Espetáculo tem como foco as brincadeiras de criança e a interação coma plateia. Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu, Boa Viagem). Hoje, às 16h30. Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Informações: (81) 3355-9821.

Lua Cambará – Espetáculo de dança contemporânea do grupo Ária Social. A história de sofrimento, morte e vingança de Lua Cambará, é contada por 52 bailarinos. Nesta semana, montagem integra o projeto Luz para a Psiquiatria. Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n – Centro). Hoje, às 16h. Ingressos a partir de R$ 20, na bilheteria do teatro. Informações: (81) 3355-3324.

Palhaças Lasanha e Ravioli fazem última sessão de espetáculo. Foto: Daniel Torres

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