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Masculinidades em constantes (des)construções

O artista Elilson participa da Mostra Todos os Gêneros do Itaú Cultural com tributo ao irmão morto

Barrela, de Plínio Marcos. Foto: Marta Santos

Bola de Fogo, de Fabio Osório Monteiro. Foto Patricia Almeida

Existe uma única forma de ser homem? É claro que não!!! Mesmo que alguns insistam em assumir o papel de troglodita, esse tipo não serve mais, se é que um dia prestou. A encrenca do termo sexualidade apareceu no século 19, como aponta Foucault, n’A História da Sexualidade, portanto é um conceito que ocupa as sociedades modernas e pós-modernas. Se já houve um tempo em que a mulher era percebida como um homem invertido, ao longo desse trajeto, o masculino passou de modelo de perfeição, domínio e superioridade à crise de masculinidade. Outros corpos exigiram o protagonismo e repeito às singularidades. Muitas lutas travadas em vários campos abalaram a virilidade hegemônica do modelo macho-man.

Então, masculinidades, no plural, é o mote da sétima edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade promovida pelo o Itaú Cultural deste 24 a 30 de agosto (segunda-feira a domingo) integralmente online, no site do www.itaucultural.org.br. Essa programação gratuita reúne exibições de cenas encomendadas, peça de Plínio Marcos, rap paulistano, músicas do interior do país, dança e debates.

“Cada edição desse projeto recupera os temas das mostras anteriores para agregar outras perspectivas de existência. Nunca partimos do zero, mas de um histórico de vozes que ecoam novamente a cada edição”, defende Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, no material de divulgação. “Assim chegamos nesse momento de colocar em foco as tantas possibilidades de construção – e, mesmo, desconstrução – a fim de refletirmos a pluralidade de uma existência homem”.

A programação inicia com Filho Homem, uma investigação do ator carioca Bernardo de Assis nos cruzamentos entre violência, amor e a descoberta da transexualidade, na ficção que mostra dois irmãos, que foram forjados um para ser homem e o outro para ser mulher. Encerra com shows carregados da sonoridade queer. O cantor pernambucano do Agreste Ciel Santos, autodenominado brincante de saia e batom, apresenta faixas do disco Enraizado. O  rapper paulista Rico Dalasam toca músicas do recém-lançado disco Dolores Dala Guardião do Alívio.

São muitos mergulhos no universo de identidade de gênero, sexualidade, corpo e afetividade. Faz parte da programação o espetáculo Barrela, de Plínio Marcos (1935-1999), encenado pela companhia Cemitério de Automóveis, dirigida por Mário Bortolotto. A peça aproveita um fato real de um jovem preso por um pequeno delito e violentado pelos companheiros de cela.

Já em Bola de Fogo, o baiano Fábio Osório Monteiro exibe uma performance de si mesmo como baiana de acarajé, função que abraçou em 2017, inclusive contando com registro oficial na Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau, ABAM.

Oboró. Foto: Julio Ricardo

A realidade e a subjetividade de homens negros, marcadas por questões como a hipersexualização do corpo numa sociedade de estrutura racista formam as cenas de Oboró, com os atores Cridemar Aquino, Drayson Menezzes e Sidney Santiago Kuanza, gravadas especialmente para esta edição de Todos os Gêneros. Oboró tem texto de Adalberto Neto e direção de Rodrigo França.

Cenas encomendadas

Cinco artistas convidados respondem à provocação “a masculinidade que me deram e a masculinidade que criei” com cenas criadas para web.

O dramaturgo e ator paulista Ronaldo Serruya utiliza a reza tradicional judaica em homenagem aos mortos, permitida aos filhos homens da pessoa falecida, para aproximar-se desse padrão masculino judaico-cristão que o formou. Kaddish, uma Oração para os Homens que Eu Matei, manifesta a urgência de acabar com esse modelo para afirmar, diante do mundo, o seu corpo queer e portador de HIV.

O pernambucano Elilson explora a representação do número 24 usado como ofensa contra os gays na cena C(h)ancela 24. Ele ergue uma ação-tributo a um irmão, também homossexual, que se suicidou aos 24 anos. O amazonense Odacy Oliveira indaga sobre a couraça como efeito do medo e da vergonha de ser livre. Em CorazA o artista libera a musculatura e se assume.

Já o performer André Vitor Brandão, de Petrolina, Sertão de Pernambuco, discute a a construção de uma masculinidade hegemônica no sertão em Para Não Dançar em Segredo. A masculinidade se torna um princípio energético dinâmico que pode ser alterado em Nkisi Hongolô – A Divindade do Arco-Íris, do coreógrafo gaúcho Rui Moreira.

Para não dançar em segredo, de André Vitor Brandão

Debates

A mesa Masculinidades em Trânsitos vasculha a construção das masculinidades dos participantes – o jornalista gaúcho Airan Albino, que atua nos campos da cultura e das questões de identidade racial com o grupo MilTons, Lino Arruda, quadrinista transmasculino paulista e doutor em literatura com tese sobre autorrepresentação travesti/trans em zines latino-americanos, e o escritor pernambucano Marcelino Freire – numa conversa mediada por Thiago Rosenberg, produtor e editor de conteúdo do Itaú Cultural. O poeta pernambucano Miró faz uma participação especial, lendo um poema de sua autoria.

O carioca Jordhan Lessa, primeiro homem trans publicamente reconhecido da Guarda Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, o terapeuta baiano Marcus Boaventura, que atua como facilitador de grupo de homens, e o antropólogo pernambucano Sirley Vieira, coordenador da Rede de Homens Pela Equidade de Gênero (RHEG) e do Instituto Papai participam da roda de conversa A Construção das Masculinidades. A mediação é do mineiro Guilherme Valadares, fundador do Papo de Homem, portal de conteúdo e de formação e transformação das masculinidades.

O debate Paternidades vai compartilhar as experiências do paulista Luis Baron, criador do Canal Topassado, voltado ao bem-estar e ao elevação da autoestima das pessoas LGBTQIA+ idosas; do capoeirista e bailarino pernambucano Orun Santana, filho do mestre de capoeira Meia-Noite, que criou um espetáculo solo dedicado ao pai, e o naturólogo gaúcho Tiago Koch, criador do projeto Homem Paterno, que ajuda homens que anseiam exercer a paternidade integral. A mediação é de Viviane Duarte, fundadora e CEO da iniciativa Plano Feminino e presidente do Instituto Plano de Menina.

Publicação

Uma publicação associada à mostra busca agregar, aprofundar e trazer outras perspectivas sobre a temática masculinidades em um leque de gêneros textuais. Ensaios, contos e poemas criados para o canal digital estão ilustrados com a arte do uruguaio Troche e uma HQ do quadrinista paulista Lino Arruda. Assinam os textos o escritor moçambicano Mia Couto (Um Corpo Extracorpóreo) e o paulistano Ferréz (Patriarcado no Meu Crucifixo).

O pernambucano Miró comparece com o poema Agora Recolho-me a Mim, Marcelino Freire contribui com a publicação com a prosa A Última Flor. Há ainda as reflexões sobre identidade do jornalista Airan Albino em Carnaval Não se Pula Sozinho e os pensamentos sobre o legado da figura paterna descritos pelo psicanalista carioca Tiago Mussi em A Carta (roubada) ao Pai. A jornalista e cineasta Luiza Fagá escreve em Desde a Fronteira, seu percurso por terrenos das masculinidades.

TODOS OS GÊNEROS: MOSTRA DE ARTE E DIVERSIDADE

Sétima edição
De 24 a 30 de agosto
No site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br

Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural

PROGRAMAÇÃO, SINOPSES E SERVIÇO

24 de agosto (segunda-feira)

18h30
Cenas Teatrais – Filho Homem
Um documentário ficcional sobre as diferenças e proximidades entre dois irmãos – um criado
para ser homem e outro criado para ser mulher. Violência, amor e a descoberta da
transexualidade estão entre os temas abordados em cena.
FICHA TÉCNICA:
Concepção e atuação: Bernardo de Assis (RJ)
Duração aproximada: 10 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos
Interpretação em Libras

19h
Mesa de abertura – Masculinidades em trânsitos
Com Airan Albino (RS), Lino Arruda (SP) e Marcelino Freire (PE)
Mediação: Thiago Rosenberg (SP)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras

25 de agosto (terça-feira)

17h
Roda de Conversa – A construção das masculinidades
Com Jordhan Lessa (RJ), Marcus Boaventura (BA) e Sirley Vieira (PE)
Mediação: Guilherme Valadares (MG)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 10 anos por conter diálogos
não estimulantes sobre sexo dentro de um contexto educativo
Interpretação em Libras

20h
Cenas Teatrais – Oboró
A obra expõe a realidade e a subjetividade de homens negros, marcadas por questões como
a hipersexualização do corpo e a busca por perfeição em troca de um lugar ao sol numa
sociedade de estrutura racista.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Adalberto Neto
Direção: Rodrigo França
Atuação: Cridemar Aquino (RJ), Drayson Menezzes (RJ) e Sidney Santiago Kuanza (SP)
Produção: Fábio França e Mery Delmond
Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento
Duração aproximada: 40 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos
Interpretação em Libras

26 de agosto (quarta-feira)

17h
Roda de Conversa – Paternidades
Com Luis Baron (SP), Orun Santana (PE) e Tiago Koch (RS)
Mediação: Viviane Duarte (SP)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação Indicativa: livre
Interpretação em Libras

20h
Espetáculo – Bola de Fogo
Devidamente trajado, o ator e diretor Fábio Osório Monteiro prepara e frita a massa do
acarajé enquanto performa a si próprio e a outros corpos negros. O trabalho explora questões
de política, espiritualidade, memória, afeto e ancestralidade.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Fábio Osório Monteiro (BA)
Codireção: Leonardo França
Colaboração: Jorge Alencar e Neto Machado
Produção executiva: Natália Valério
Produtor assistente/contrarregra: Gabriel Pedreira
Interpretação em Libras: Cintia Santos
Produção: Dimenti Produções Culturais
Duração aproximada: 45 minutos
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem
imprópria
Interpretação em Libras

27 de agosto (quinta-feira)

20h
Espetáculo – Barrela
Encenação do primeiro texto do dramaturgo paulista Plínio Marcos (1935-1999), a peça traz a
história real de um menino que, preso por um pequeno delito, foi violentado por
companheiros de cela – os quais, mais tarde, foram mortos por ele. O espetáculo discute o
estado de exceção que se cria em determinados ambientes e o código de conduta entre
criminosos.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Plínio Marcos
Direção e trilha sonora: Mário Bortolotto
Elenco: Mário Bortolotto, Walter Figueiredo, Marcos Gomes, Nelson Peres, Paulo Jordão
(Rodrigo Cordeiro), André Ceccato (Marcos Amaral), Daniel Sato e Alexandre Tigano
Iluminação: Caetano Vilela
Cenário e arte do cartaz: André Kitagawa
Assistentes de direção: Marilia Medina e Gabriela Fortanell
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Fotos: Marta Santos
Duração aproximada: 55 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Interpretação em Libras

28 de agosto (sexta-feira)

20h
Cenas Encomendadas
Duração: 30 minutos no conjunto dos vídeos
Kaddish, uma Oração para os Homens que Eu Matei
Partindo da reza tradicional judaica em homenagem aos mortos, que só pode ser recitada
pelos filhos homens da pessoa falecida, Ronaldo Serruya ficcionaliza elementos
autobiográficos para abordar o modelo masculino judaico-cristão que o formou e a
necessidade de matá-lo para afirmar diante do mundo seu corpo queer e que convive com o
HIV.
FICHA TÉCNICA:
Criação, dramaturgia e atuação: Ronaldo Serruya (SP)
Direção e edição de imagens: Luiz Fernando Marques
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem
imprópria e descrição de violência
Interpretação em Libras

C(h)ancela 24
Partindo do uso recorrente no Brasil do número 24 – que remete à figura do “veado” e à
condição de ser “viado” – como xingamento contra homens gays, o artista vê essa herança
vocabular da normatividade hétero-masculina e traz na performance e texto ação-tributo que
fez aos 24 anos para um irmão, também homossexual, suicidado com a mesma idade.
FICHA TÉCNICA:
Criação e performance: Elilson (PE)
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos por conter citação de ato violento que pode causar angústia
Interpretação em Libras

29 de agosto (sábado)

20h
Cenas Encomendadas
Duração: 45 minutos no conjunto dos vídeos
Para Não Dançar em Segredo
A obra revisita memórias e construções identitárias de gênero do performer André Vitor
Brandão, abordando as problemáticas da construção de uma masculinidade hegemônica no
Sertão. O vídeo é um convite para a celebração das masculinidades na dança e um desejo de tornar manifesta a pluralidade imanente dos corpos masculinos, sobretudo aqueles que
habitam o Sertão.
FICHA TÉCNICA:
Roteiro, direção e interpretação: André Vitor Brandão (PE)
Direção de fotografia, montagem e edição: Fernando Pereira e Robério Brasileiro
Direção de arte: Ana Paula Maich
Trilha sonora original: Gean Ramos
Assessoria criativa: Jailson Lima
Produção: Alan Barbosa
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras

CorazA
“A couraça era o medo e a vergonha de ser livre. Eu resolvi soltar e liberar minha musculatura
para respirar e ser o que sou!”
FICHA TÉCNICA:
Direção e interpretação: Odacy Oliveira (AM)
Auxiliar de direção: Alan Panteón
Produção e consultoria artística: Valdemir Oliveira
Iluminação: Alan Panteon e Odacy Oliveira
Cenografia: Odacy Oliveira e Alan Panteón
Filmagem: Alan Panteón
Paisagem sonora: Moncho Bunge
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras

Nkisi Hongolô – A Divindade do Arco-Íris
Uma abordagem da masculinidade como um princípio energético dinâmico e que pode ser
alterado. Assim, os padrões sociais deixam de ser dados para serem construídos e formatados
pela individualidade de cada um. Hongolô é um Nkisi – uma divindade – de princípio
masculino. Está ligado às mudanças e recebe vários nomes, dependendo do seu local de culto
em terras bantus. É também Hongolô que auxilia na comunicação entre os seres humanos e as
divindades.
FICHA TÉCNICA:
Concepção: Pablo Bernardo, Ricardo Aleixo e Rui Moreira (RS)
Câmeras e atuação: Rui Moreira e Ricardo Aleixo
Concepção de design sonoro: Ricardo Aleixo
Montagem de vídeo e áudio: Pablo Bernardo
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras

30 de agosto (domingo)

20h
Show
Ciel Santos (PE)
Rico Dalasam (SP)
Duração aproximada: 30 minutos
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos por conter diálogos
sexuais e nudez velada.
Interpretação em Libras

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Festival Arte como Respiro começa nesta sexta (17)

Palhaça Zanoia abre programação de festival. Foto: Olga Ferrario

Diante do número assustador de mais de 70 mil mortos no Brasil, em quatro meses de pandemia da Covid-19, deve demorar muito até que uma sala de teatro possa estar lotada novamente. Desse cenário desolador, questões se desprendem e multiplicam – desde as práticas, que dizem respeito à sustentação da cadeia produtiva até aquelas mais conceituais, que questionam, por exemplo, se o teatro que estamos vendo, de nossas casas, nas plataformas digitais, pode ser considerado de fato teatro. Para além desse debate teórico-prático, as ações de instituições culturais e dos próprios artistas nas redes se multiplicam. O Itaú Cultural, com o edital Arte como respiro, foi um dos primeiros a incentivar a produção cênica neste momento. Entre os dias 6 e 10 de abril, o instituto recebeu mais de 7.200 propostas artísticas.

A partir desta sexta-feira (17), os trabalhos selecionados no edital participam do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas. Nesta primeira formatação, 26 obras serão exibidas no site do Itaú Cultural, permanecendo disponíveis ao público por 24 horas cada uma delas. O festival será realizado em dois blocos – de hoje a domingo (19) e entre os dias 22 e 26 de julho (de quarta a domingo).    

Quem abre a programação l é Lívia Falcão, com sua palhaça xamânica Zanoia. Os vídeos Rezos da Xamãe Zanoia também estão no instagram da atriz. São respiros de sensibilidade e possibilidade de mergulho, mesmo que você esteja por trás de um celular. Com uma produção simples, a índia-palhaça Zanoia faz vídeos-chamada nos deixando saberes ancestrais do seu povo, lições importantes de como sobreviver neste tempo-espaço.

Na quinta-feira (23) da semana que vem, às 20h, Hermínia Mendes apresenta o vídeo Pedaços – poesia performática, uma proposta de refletir a partir de um corpo inquieto nesta situação de caos e pandemia. Há quanto tempo mesmo estamos doentes? No dia 24, outra atração pernambucana é o Teatro de Fronteira, com uma intervenção literária, performática e audiovisual – Cenas teatrais: #Queerantena – Puro Teatro. São duas leituras-performadas, baseadas “nas vidas daqueles que escapam ao padrão, dos considerados estranhos, esquisitos”, diz a sinopse.

Batata Quente, cena da Caravana Tapioca

Para matar a saudade da Caravana Tapioca (de Anderson Machado e Giullia Cooper, que moraram no Recife por sete anos, mas voltaram para São Paulo há um tempo), tem também a cena Batata Quente, que faz parte do espetáculo Chá Comigo, mas foi adaptada para esta versão em vídeo. O público vai acompanhar a palhaça Nina fazendo uma receita deliciosa – certamente vem risada e trapalhada por aí.

Outros destaques – Um dos trabalhos pensados neste momento é Mil e uma noites século trans 21, de Ave Terrena, Aretha Sadick, Leo Moreira Sá e Verónica Valenttino, artistas transvestigêneres. Outra sugestão dentro da programação diversa do festival é o espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, uma ótima oportunidade para ampliar o alcance do espetáculo, que estreou com temporada no Sesc Bom Retiro no ano passado.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL NO SITE DO ITAÚ CULTURAL

Mil e Uma Noites Século Trans 21

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Renato Borghi exibe Fim de Jogo no Palco Virtual e outras novidades no site do Itaú Cultural

Fim de Jogo, peça de Samuel Beckett. é apresentada em cinco episódios por Élcio Nogueira Seixas e Renato Borghi (foto) com direção de Isabel Teixeira. Foto: Roberto Setton / Divulgação

O mundo virtual anda tão pleno de ofertas – algumas incríveis – que ficamos perdidos, maravilhados ou até sufocados. Mas algumas experiências são incontornáveis, seja qual for o resultado que provoquem. Um dos artistas que buscamos acompanhar os passos é o ator Renato Borghi, um furacão criativo do teatro brasileiro. Ele é a figura central de duas atrações online promovidas pelo Itaú Cultural em seu site (www.itaucultural.org.br).

De 3 a 7 de julho (sexta-feira a terça-feira), reestreia o espetáculo Fim de Jogo, peça de Samuel Beckett sobre uma situação de isolamento, especialmente gravado em vídeo e dividido em cinco episódios, nas sessões noturnas do Palco Virtual. Já no dia 4 (sábado), Borghi é a personalidade entrevistada no primeiro episódio da terceira temporada do programa semanal Camarim em Cena.

Na peça original do dramaturgo irlandês, Hamm, Clov, Nagg e Nell formam o quarteto imerso nas profundezas de suas consciências. Eles estão isolados em um abrigo e Hamm e Clov compõem diálogos herméticos sobre a condição humana. Artista fracassado, Hamm está cego e paralítico. Clov é seu “empregado” e sofre de uma doença que o impede de sentar-se. Nagg e Nell também têm os corpos deteriorados. Atingidos pelo apocalipse emocional, esses personagens espreitam o mundo pela luneta de Clov.

O texto de Samuel Beckett (1906-1989) foi reformulado para o período atual, em que vivemos isolados por causa da pandemia da Covid-19. Com Borghi e Elcio Nogueira Seixas, o espetáculo foi registrado em vídeo para ser exibido sequencialmente em cinco episódios. Sob direção de Isabel Teixeira, Borghi interpreta o cego e paralítico Hamm e Seixas, Clov. Eles dividem o espaço com os mutilados Nagg e Nell, pais de Hamm e simbolicamente representados por fotografias de Adriano e Maria de Castro Borghi, pai e mãe de Renato.

Nessa terra devastada, eles refletem sobre a causa da situação em que se encontram, se seria um vírus, aberrações sociais, a queimada de florestas ou a automação do emprego, entre outras teorias.

Chapeuzinho Vermelho para crianças e adultos. Foto Adriana Marchiori

Édipo Rei representado pelo toy de Simba, personagem do filme Rei Leão. Foto Walmick Campos

Outras novidades –  Mais dois episódios para a série de curtas-metragens do Quarentena Filmes são disponibilizados com os toymovies criados pelo ator Walmick de Holanda a partir de clássicos do teatro – usando bonecos e outros objetos inanimados. Uma adaptação bem-humorada da tragédia Édipo Rei, de Sófocles leva o personagem-título a ser representado pelo toy de Simba, personagem do filme Rei Leão, que contracena com bonecos dos Ursinhos Carinhosos e Power Ranges, entre outros, em busca por respostas sobre sua origem.

A adaptação de Casa de Bonecas, do texto de Henrik Ibsen, encerra a série e utiliza um tabuleiro de jogo como cenário, para expor os conflitos de uma dona de casa presa ao conservadorismo social e à hipocrisia no final do século XIX.

A peça Chapeuzinho Vermelho, do Projeto GOMPA, do Rio Grande do Sul, entra no ar no sábado, às 11h, numa versão contemporânea feita pelo autor francês Joël Pommerat. A história é narrada em paralelo à produção de imagens e sonoridades diante do espectador, focando no fascínio da transição do mundo infantil ao adulto.

Após a data inicial de apresentação, toda a programação do Palco Virtual fica disponível no site do Itaú Cultural até 10 de julho, com exceção da peça Fim de Jogo, que pode ser assistida até o dia 3 de agosto.

Crítico teatral Valmir Santos entrevista Renato Borghi para o programa Camarim Em Cena. Foto Agência Ophélia

Renato Borghi é protagonista do primeiro episódio da terceira temporada da série Camarim em Cena, que entra no ar no site do Itaú Cultural, a partir das 14h do sábado, 4. O ator de 83 anos conta ao crítico teatral Valmir Santos episódios marcantes de sua vida e carreira, desde o final da década de 1950, quando fundou, ao lado de José Celso Martinez Corrêa, o Teatro Oficina. No Teatro Oficina protagonizou o Rei da Vela (1967). Nos anos de 1970, fundou o Teatro Vivo com Esther Góes, e juntos produziram vários espetáculos entre eles O que Mantém um Homem Vivo, de Bertold Brecht. Na década de 1980 se consolidou também como dramaturgo e escreveu sucessos como Lobo de Ray Ban. Em 1993 fundou o Teatro Promíscuo, com o ator Élcio Nogueira Seixas.

Durante o mês de julho prossegue a terceira temporada do Camarim em Cena, iniciada em maio. Ao todo são 16 entrevistas gravadas, entre 2016 e 2019, com personalidades do teatro, da dança, do circo e da música sobre o ofício e suas particularidades.

No dia 11 é a vez da exibição da conversa é entre o bailarino japonês Tadashi Endo, um dos principais nomes do Butoh no mundo, e a jornalista Marcia Abbos. No episódio que entra o ar dia 18, a crítica Beth Néspoli bate um papo com o diretor, professor e ator Antonio Januzelli, Janô, uma das referências da formação teatral em São Paulo.

A entrevista do jornalista Jotabê Medeiros com a cantora Angela RoRo – única convidada do universo da música no programa – encerra essa terceira temporada no dia 25. .

A última temporada online do Camarim em Cena poderá ser vista em agosto. Os convidados são a atriz Laura Cardoso, o ator Fernando Sampaio, da Cia LaMínima de Circo e Teatro, a atriz, diretora e dramaturga Grace Passô. A série fecha com uma edição especial com José Celso Martinez Corrêa, gravada na sede do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, em São Paulo.

PROGRAMAÇÃO PALCO VIRTUAL

3 de julho (sexta-feira), às 21h
Abertura: Édipo Rei
Quarentena Filmes/ Walmick de Holanda
Duração: 5 minutos
Classificação indicativa: 10 anos

Espetáculo: Fim de Jogo (episódio 1)
Com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Duração: 23’17’’
Classificação indicativa: 12 anos

4 de julho (sábado)
Às 11h, espetáculo infantil: Chapeuzinho Vermelho
Com Projeto GOMPA
Duração: 48 minutos
Classificação Indicativa: 10 anos
https://www.itaucultural.org.br/presskit/mostra-rumos-2017-2018/images/resized_libras.jpg?crc=3894348923

Às 21h, abertura: Casa de Bonecas
Quarentena Filmes/ Walmick de Holanda
Duração: 7 minutos
Classificação indicativa: 10 anos

Espetáculo: Fim de Jogo (episódio 2)
Com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Duração: 29’32’’
Classificação indicativa: 12 anos

5 de julho (domingo), às 21h
Espetáculo: Fim de Jogo (episódio 3)
Com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Duração: 20’02’’
Classificação indicativa: 12 anos

6 de julho (segunda-feira), às 21h
Espetáculo: Fim de Jogo (episódio 4)
Com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Duração: 21’43’’
Classificação indicativa: 12 anos

7 de julho (terça-feira), às 21h
Espetáculo: Fim de Jogo (episódio 5)
Com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Duração: 31’10’’
Classificação indicativa: 12 anos

SERVIÇO:
Palco Virtual
De 3 a 7 de julho (sexta-feira a terça-feira)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br

Camarim em Cena com Renato Borghi
Mediação: Valmir Santos
Dia 4 de julho (sábado), a partir das 14h
No site www.itaucultural.org.br

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Edital de emergência confere ânimo para artistas

Alguns selecionados do edital Arte como respiro: múltiplos editais de emergência: Herminia Mendes, PE (foto: Rogério Alves); Jéssica Teixeira, CE (Reprodução do FB); Núcleo Bartolomeu de Depoimento, SP (foto: Divulgação); Clowns de Shakespeare, RN (foto: Bruno Soares): Maikon K, PR (foto: reprodução do FB)

O número de inscritos no edital Arte como Respiro: múltiplos editais de emergência – Artes Cênicas, do Itaú Cultural, nos oferece uma dimensão da crise no setor cultural diante da paralisação das atividades relacionadas à área. Entre os dias 6 e 10 de abril, na busca por sobrevivência, mais de 7.200 propostas foram recebidas.

Dessas, o instituto escolheu 200, 80 a mais do que estava previsto. A grande maioria dos projetos – 158 – já foram ou serão produzidos neste período de quarentena; outros 42 são gravações prévias ao isolamento.

No Nordeste, 37 propostas foram selecionadas, sendo dez de Pernambuco. Uma delas é da atriz e diretora Hermínia Mendes, que escrutina os sintomas dessa época através de janelas possíveis, inclusive dos aplicativos da Internet. Poesia Performática – Pedaços questiona perspectivas de olhares e cria paralelos dos retalhos de gentes e coisas, deixando rastros, as mortalidades pelos cantos, cabelos pela casa, unhas cortadas, os lençóis amarfanhados, escritos na parede, o reflexo no espelho. 

Onde está todo mundo? é a proposta de montagem de um “espetáculo virtual” do Coletivo Angu de Teatro, do Recife, com texto inédito de Marcelino Freire. A encenação será dirigida virtualmente por Marcondes Lima, que está morando em Portugal. Os atores André Brasileiro, Gheuza Sena, Ivo Barreto, Luis Cao, Lilli Rocha e o próprio Marcondes atuam de suas casas, utilizando como cenografia, figurino e maquiagem o material de que dispõem neste momento. O trabalho dos atores vai ser gravado e depois editado por Tadeu Gondim.

A proposta é exibir uma “Live farsesca”, que não ocorre, porque ninguém chega para o programa, nem o autor Marcelino Freire, nem seus personagens. O trabalho brinda uma parceria exitosa entre autor e grupo no ano em que o livro Angu de Sangue completa 20 anos de lançamento – sendo Angu de Sangue o primeiro espetáculo do Coletivo Angu e que deu nome ao bando.

Opá, Uma Missão, é um monólogo da atriz e diretora Lívia Falcão, que convocou para essa investigação artística sua Palhaça Zanoia, uma benzedeira, descendente direta da xamã mais velha, de terras distantes, que já foi lugar de abundâncias e milagres. Para encontrar a dádiva-diamante escondida em seu corpo, Zanoia carrega por missão das antepassadas a de rir de si mesma nas ‘sete direções’: Leste, Oeste, Norte, Sul, Acima, Abaixo e Dentro. É uma criação coletiva, de Lívia, de Silvia Góes e Andrea Macera, que agora aceita o desafio de seguir virtualmente durante o isolamento.

No Ceará, um dos projetos escolhidos é da atriz, produtora e diretora cearense Jéssica Teixeira, que traz para o debate o seguinte questionamento: “Ser artista solo mulher e com deficiência no Brasil antes e durante o isolamento. E depois?”.  Sua investigação pessoal atua no seu próprio corpo estranho, numa pesquisa sobre “Corpo Impossível”, mola propulsora para a criação do seu primeiro solo “E.L.A”. Nesse trabalho, que fez temporada no Sesc Pompeia, em São Paulo, no ano passado, e agora vai estar disponível online, a artista desestabiliza e potencializa outros corpos e olhares. A peça investe em questões como beleza, saúde, política, feminilidade e acessibilidade, utilizando vídeo, artes plásticas e dramaturgia através de colagens e textos autobiográficos que refletem acerca da aceitação e do nosso lugar no mundo.

Confira a crítica do espetáculo “E.L.A”

Um dos projetos aprovados no Rio Grande do Norte é do grupo Clowns de Shakespeare. A atual circunstância de confinamento social imposta pela pandemia do COVID-19 confere à ficção fantástica Abrazo uma curiosa concretude. Imagine um lugar onde estão proibidos os abraços? Há três meses essa ideia só poderia ser encarada como ditatorial. A proposta da montagem era justamente essa: uma obra sem palavra, várias reflexões sobre repressões e cerceamento de liberdade. O espetáculo infanto-juvenil Abrazos – inspirado em O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano – foi censurado na temporada na Caixa Cultural em Pernambuco, em 2019.

O vídeo da encenação será disponibilizado online na íntegra, acompanhado de uma ação de desdobramento a partir de três pontos de vista: do grupo, do público e de convidados. Essas repercussões podem chegar no formato de textos (dramático, poético ou em prosa), vídeo ou canções, propondo uma atualização da provocação de Abrazo. O grupo também vai instigar o público a enviar material para os Clowns. Alguns parceiros, como Eduardo Moreira (Grupo Galpão/MG), Maurice Durozier (Théâtre du Soleil/França), Ana Correa (Yuyachkani/Peru), e outros, participam da ação.

No Sul, 19 projetos serão apoiados. Um deles é do artista da performance, Maikon K, que vive em Curitiba, e pesquisa formas de expansão da consciência, tendo o corpo e sua capacidade de alterar percepções como centro. O trabalho Proteja-se (Meditação) é o um registro de uma performance curta, feita com o celular, com cerca de 4’30’. Maikon K propõe uma ação de limite e resistência, ao vestir um preservativo na sua cabeça, respirando até que o látex se rompa. Com o trabalho, o artista fricciona tempo atual em meio à solidão, necessidade de proteger-se do mundo exterior e do contato com outrxs, a angústia, o sufocamento, a persistência, a busca por sobrevivência e fôlego.

Da região Sudeste, 126 projetos foram aprovados, sendo 82 de São Paulo, estado com o maior número de selecionados no país. Um deles é do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, que avança nas proposições do espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias. Na peça, nove atores e dois DJs ensaiam confinados em um teatro. O debate deriva da dramaturgia de Bertolt Brecht para aventar a falência contemporânea. Novas questões foram colocadas com o advento da pandemia. Inspirada nas ideias do filósofo camaronês Achille Mbembe, o grupo desafia o neoliberalismo/ necroliberalismo como sistema que sempre operou com um aparato de cálculo, e agora expõe outra face ainda mais terrível: o que é mais importante a economia ou a vida? A necropolítica segue operando de maneira global para decidir quem tem direito à vida. 

Confira matéria sobre Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias.

Galiana Brasil. foto André Seiti / Divulgação

ENTREVISTA // GALIANA BRASIL, gestora de Artes Cênicas do Itaú Cultural

Primeiramente acredito que os artistas reconhecem o esforço do Arte como respiro: múltiplos editais de emergência, mas de que forma o instituto pretende avançar no apoio aos artistas durante o período de pandemia da Covid-19?
Penso que as ações de apoio começaram ainda antes do edital, com a decisão de manter pagamentos de cachês de todos os grupos e artistas que tinham agenda confirmada para apresentação neste semestre, para que pudessem contar com esse respiro financeiro com compromisso de mais adiante, a partir do segundo semestre, acomodarmos nova agenda de programação. Passado o edital – ou em paralelo à execução dos trabalhos selecionados, ainda faremos curadorias, convites e manteremos programação no site e plataformas parceiras.

Foram mais de 7,2 mil inscrições de todo o país, sendo selecionados 200 trabalhos de 25 estados. Que análise é possível fazer desses números? Sobre políticas culturais no Brasil? Sobre a atuação do Itaú Cultural? 
Olha, eu penso que já havia uma crise instaurada antes, pré-pandemia, e esse estado agora  sangrou mais vivamente um setor que já vinha sofrendo com a ausência de políticas públicas, de interrupções e falta de continuidade de projetos, orçamento incerto e precarizado e tantos ataques que maculam a noção de política pública.

Quais os critérios foram adotados para escolher esses selecionados?
O edital foi concebido em dois eixos. No primeiro, que permitia inscrição de trabalhos produzidos antes da pandemia, tínhamos um único requisito de partida que era uma solicitação para que o artista olhasse para essa obra “antiga” e propusesse algo que pudesse refletir no tempo presente, na forma que tivessem melhor condição de fazer – um texto crítico, uma reflexão, um bate-papo com os criadores que poderia ser através de live – achamos importante essa inserção porque subir um vídeo de um trabalho feito lá atrás – registro filmado de espetáculo – é algo bem menos complexo do que conceber e se desafiar a criar algo em situação de isolamento, com os recursos e possibilidades que se tenha, como foi o eixo segundo do edital. Afora esse critério mais objetivo que aplicamos no eixo 1, para ambos os eixos consideramos a relevância da proposta para o momento, a capacidade de comunicação com diferentes públicos, o histórico do grupo/artista e sua relação com aquele segmento.

O que podemos entender como “ampla representatividade” do resultado?
A diversidade de territórios, de segmentos nas linguagens. De termos contemplado trabalhos de performance, teatro de animação, dança e teatro para crianças. O fato de termos artistas com corpos desviantes, LGBTs, em especial trabalhos com protagonismo de artistas trans, artistas com deficiência, proponentes indígenas, trabalhos de cultura popular – mamulengo, maracatu -, trabalhos vindos de favelas, zona rural, agreste, circo tradicional. Os trabalhos de intérpretes e coletivos negros com força de número e conteúdo. Essa tentativa real de interferirmos nas assimetrias que ainda parece tímida nos números finais, mas que sabemos que é uma batalha frente às forças hegemônicas de séculos, basta considerar, apenas no quesito regionalidade, que mais de 64% dos inscritos foram da região Sudeste.

Como vocês estão trabalhando no Itaú Cultural durante esse período de quarentena?
Estamos trabalhando remotamente tanto quanto intensamente, desde uns dias antes do anúncio oficial de isolamento aqui em São Paulo. Estamos também em articulação com grupos, artistas, veiculando e programando diversos projetos no nosso site, que tem sido palco virtual de todas as linguagens artísticas. Apenas alguns exemplos das Artes Cênicas, encerramos recentemente as inscrições para a EAD Dramaturgia Negra – A Palavra Viva, com a professora Dione Carlos e, a partir de sábado (dia 9), estrearemos a série virtual “Camarim em Cena”, sendo este primeiro programa com a atriz Maria Alice Vergueiro.

Já existe uma agenda para a exibição dos projetos selecionados? Serão divididos por blocos? Quais serão as categorizações?
Estamos trabalhando justamente nessa acomodação, nesse momento pós anúncio dos selecionados. Em breve teremos essas informações.

Você consegue vislumbrar ações (articulações, pensamentos), dentro ou fora do instituto, do que fazer para que os artistas, nesta realidade de capitalismo, não fiquem tão vulneráveis economicamente, como a maioria vive agora?
Essa é a pergunta mais difícil de ser respondida, Yolandas. A pessoa que vos fala também nunca viveu algo assim e, porque humana, também se sente vulnerável e sente medo. Desde que começou o isolamento trabalhamos intensamente na busca de formas de apoio e rede de proteção para o setor, que não se encerrará na criação de um edital, até porque a situação parece longe de suavizar. Vamos combinar que, se a ideia é despertar a espécie, vemos que ainda tem muita gente dormindo ou num estado de nem uma coisa nem outra, o que é um tanto pior. Penso que precisaremos rever pensamentos de base (que tem a ver com tua próxima pergunta), e isso vale para toda a cadeia – do artista ao gestor. É nesse ponto que estamos agora, e isso é mais difícil porque não há distanciamento, então a tendência é encarar o momento com os instrumentos do “antes”. Porém, certamente, eles parecerão insuficientes, então precisaremos de novos significados para apoio, aporte, parceria… eu não tenho essas respostas, mas outras tantas dúvidas, eu tenho problemas e eles são motor para quem pesquisa, então vamos juntes criar formas para nos conectarmos com esse devir.

A discussão do momento é se o material que circula online por artista da cena, performance, pode ser considerado teatro. Se realmente existe teatro sem presença, sem o compartilhamento do tempo que arde no calor da hora entre artistas e público. O que você pensa sobre isso?
Acho a discussão pertinente, e não apenas pelo momento, mas, considerando a origem e natureza do teatro que é sim arte do encontro, da presença. Tal tensionamento, inclusive, não tem nada de novo, porém, a chegada desse vírus, forma de contágio e suas consequências trazem um caráter de imposição, de urgência que sim, nos atravessa como algo inaugural. E penso que vai ser interessante – ou condicionante -, deslocar esse desconforto e tentar “encarná-lo” em formas de fazer, porque o horizonte próximo sugere a criação de novos protocolos para convivência. Particularmente não estou pronta para imaginar uma existência sem encontro, mas preciso estar preparada – e mesmo motivada – a ampliar essa noção de encontro, o que talvez seja chave importante para acessar essa nova dimensão de nossa existência.

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Vagas para os cursos Dramaturgia e Cultura no Itaú

A dramaturga Dione Carlos ministra curso Dramaturgia Negra. Foto: Athos Souza.

A segunda turma do curso Dramaturgia Negra: a Palavra Viva vai funcionar de 11 de maio a 23 de junho de 2020, oferecida em plataforma on-line para interessados de todo o país. É uma prática do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural em parceria com o Observatório Itaú Cultural. As aulas serão ministradas pela dramaturga Dione Carlos, autora de 15 textos encenados. As inscrições ficam abertas por apenas dois dias, terça, 28, e quarta-feira, 29 de abril, até às 23h59 – horário de Brasília. A submissão deve ser feita exclusivamente pela internet, mediante preenchimento de formulário, disponível no site itaucultural.org.br, e carta de interesse.

São disponibilizadas 40 vagas dirigidas a artistas, dramaturgos, pesquisadores e estudantes em geral, com experiência profissional ou amadora nas artes cênicas. A lista dos selecionados será divulgada, também no site do Itaú Cultural, no dia 8 de maio de 2020.

O programa gratuito propõe encontros e exercícios para pensar a dramaturgia negra numa configuração ampla, multicultural, articulando influências do teatro egípcio à dramaturgia negra contemporânea, além das heranças indígenas-afro-brasileiras. Além do panorama histórico do teatro negro no Brasil, o curso mergulha na obra de três dramaturgas contemporâneas: Fernanda Júlia Onisajé, da Bahia; Viviane Juguero, do Rio Grande do Sul; e Cristiane Sobral, do Distrito Federal.

Do conteúdo temático constam As Matrizes Negras da Dramaturgia, Entre Teatros e Dramas: Universos Cênicos, Teatro Brasileiro: Indígenas e Negros como os Primeiros Atores e Dramaturgias e Escrevivências.

Cultura e Desenvolvimento

Com o intuito de analisar maneiras de incluir a cultura na agenda política de desenvolvimento e dirigido a produtores, agentes culturais, artistas, pesquisadores e professores com experiência profissional na área cultural, o programa Cultura e Desenvolvimento cultiva o debate inesgotável da relação entre os dois conceitos que qualificam o curso. Professores de diferentes segmentos e formações na área cultural vão conduzir os trabalhos: Adriana Barbosa, gestora de eventos e idealizadora da plataforma Feira Preta, Alfons Martinell, professor emérito da Universidade de Girona, o sociólogo mexicano Enrique Glockner, a jornalista e ativista cultural Marta Porto, e Paula Moreno, ex-ministra da Cultura da Colômbia.

As inscrições podem ser feitas pelo site www.itaucultural.org.br , a partir de quarta-feira (29 de abril), às 10h, até se esgotarem as vagas. As aulas de Cultura e Desenvolvimento serão realizadas nos dias 12, 19 e 26 de maio e 2 e 9 de junho (terças-feiras). No dia 12 de maio será também lançada a edição 27 da Revista Observatório Itaú Cultural, que traz reflexões sobre como a cultura pode ser capaz de influenciar de forma relevante a Agenda 2030 – conjunto de objetivos e metas criado em 2015, em encontro na sede da ONU, e que integram um plano de ação para erradicar a pobreza e proteger o planeta.

SERVIÇO
Curso Dramaturgia Negra: A Palavra Viva
Inscrições: Dias 28 e 29 de abril (terça-feira e quarta-feira)
Pelo site www.itaucultural.org.br
Número de vagas: 40
Anúncio dos selecionados: 8 de maio
Curso: De 11 de maio a 23 de junho

Curso Cultura e Desenvolvimento
Inscrições: A partir de 29 de abril (quarta-feira), às 10h, até se esgotarem as vagas
Pelo site www.itaucultural.org.br
Número de vagas: 350
Anúncio dos selecionados: 6 de maio
Curso: Dias 12, 19 e 26 de maio e 2 e 9 de junho (terças-feiras)

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