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Everybody é culpado?

A Deus, Todomundo: Uma imoralidade do nosso tempo. Foto: Hans von Manteuffel

A Deus, Todomundo: Uma imoralidade do nosso tempo. Foto: Hans von Manteuffel

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Pós teatro, enquanto esparramada no sofá comendo um sanduíche, assisto ao Fantástico. Uma matéria explica quase didaticamente quais são e como agem os grupos extremistas que deturpam a religião islâmica e fazem milhares de vítimas. Imagens mostram execuções em série; uma das informações que me chocam é a de que o Estado Islâmico possui um aparato de 200 mil homens. Logo adiante, a reportagem fala do Boko Haram e lembra que eles sequestraram em abril do ano passado 276 meninas numa escola.

Faço mentalmente uma breve retrospectiva das notícias dos últimos dias. Lembro do traficante brasileiro executado na Indonésia. Do ataque ao Charlie Hebdo. Da imagem destruidora do terrorista atirando no policial. Das imagens de como ficou o jornal depois do atentado. A mobilização na França. A intervenção do Théâtre du Soleil, a boneca sendo atacada por corvos, mas resistindo (Fernando Yamamoto, obrigada por compartilhar esse momento e nos permitir estar lá, através de você).

Volto a pensar no espetáculo que vi – pela segunda vez – enquanto coloco roupas na máquina de lavar. A Deus, Todomundo: Uma imoralidade do nosso tempo, trabalho de conclusão da turma 2012 do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc Piedade. Texto, direção, cenário, figurino e maquiagem são assinados pelo professor João Denys.

A montagem é uma versão de Everyman, peça de moralidades, escrita em fins do século XV, não se sabe ao certo a autoria. O objetivo é didático e está a serviço da religião. A moralidade se constitui no meio para alcançar a salvação.

O enredo é simples. Todomundo recebe a inesperada visita da Morte; ela quer levá-lo para prestar contas a Deus. Mas a vida que Todomundo teve até então não demonstra nenhuma relação próxima com o divino. Apavorado, Todomundo pede que a Morte deixe que ele leve alguém, para ajudá-lo nessa tarefa de repassar os feitos com Deus. Pedido aceito, Todomundo vai, em vão, tentar a ajuda das Amizades, dos Parentes, da Riqueza. Até que encontra a Caridade – e essa não tem forças nem pra se levantar – a Sabedoria, a penitência, a remissão e, enfim, o sagrado.

Diante de um mundo de conflitos intensos com a moralidade como o nosso, no século XXI, me pergunto os motivos de uma turma de concluintes ter tido tesão em voltar a Everyman. Remontá-lo. Nenhum texto teórico – do programa ou não – conseguiu me responder.

Ok, pensar no modelo da moralidade, nas consequências dele até hoje, no cristianismo, nas culpas carregadas na cruz do corpo, na exploração disso nos dias atuais. Precisa de muito não. Liga a televisão e vê por três minutinhos os programas evangélicos. Assiste a uma procissão católica, com milhares de pessoas se arrastando de joelhos para receber a graça, a remissão, a salvação.

Ao invés de tudo isso, o enredo de Everyman é reproduzido em cena tal e qual. E toma uma dimensão muito maior do que todas as discussões que poderia suscitar. Ao mesmo tempo, a encenação também não consegue nos levar para outros lugares. Estamos presos ao modelo pronto. Ao que era na Idade Medieval – e pelo jeito é até hoje.

João Denys, falando sobre os alunos e o processo, no programa, a certa altura explica e questiona: “Como resposta ao que eles e elas queriam dizer com o teatro, apontavam os caminhos do expressionismo e eu perscrutava o erotismo na superfície de seus corpos e de suas ações adolescentes. Impressionava-me com a relação que todos mantinham com a religião e mais: a mistura indiscriminada de devoção religiosa e profana. O desejo de ofertar seus corpos nus no altar do teatro e o desejo de ocultarem-se nos seus relicários individuais e narcísicos. (…) Devassos ou místicos? Ambos impuros e exagerados”.

Esses questionamentos todos do mestre na sala de aula se refletiam realmente nos alunos, jovens atores, com pouquíssima ou quase nenhuma experiência? De que forma essa inquietação de Denys – barroca – fazia sentido para eles? Havia pertinência – para eles – em serem devassos ou místicos?

A encenação é apoiada em grande parte no cenário, móbiles que são deslocados pelos próprios atores em cena, pequenos palcos elevados, onde a vida desregrada principalmente pelo sexo assume lugar elevado, a Riqueza, assim como a Caridade, por exemplo, estão num nível superior ao personagem Todomundo.

Atores se esforçaram para cumprir proposta da encenação

Atores se esforçaram para cumprir proposta da encenação

Se há algo para se admirar nessa montagem, trata-se do empenho dos atores na execução de uma tarefa. É difícil encontrar eco no que está sendo dito e, mesmo assim, estão todos lá, os corpos desnudos e, mais do que isso, expostos, entregues à paixão pelo teatro. O esforço e a superação são nítidos principalmente em Bruna Bastos e Moisés Ferreira Júnior, que interpretam juntos o personagem título da peça. Há uma potência para ser desbravada em Luciana Lemos, que faz personagens como a Morte e a Riqueza. Ela consegue passear melhor pela ironia, fazer sentir a palavra, arrancar uma risada. Mas todos – o grupo inclui ainda Gabriel Albuquerque, Patrick Nogueira, Sheila Mendonça, Marco Antonio Lins, merecem os parabéns. Pela dedicação, pela coragem. Ouvi de um diretor meses atrás algo do tipo: “uma peça é só uma peça. Vamos adiante, fazer a próxima”. Já foi a primeira – só a primeira, espero, do restante da vida de vocês.

03:15. A máquina de lavar já parou faz tempo. Porque nem tudo é tão sagrado, nem tudo é tão profano. Vou lá estender a roupa no varal.

Ficha técnica:
Texto, direção, cenário, figurino e maquiagem: João Denys
Elenco: Bruna Bastos, Gabriel Albuquerque, Luciana Lemos, Marco Antonio Lins, Moisés Ferreira Jr., Patrick Nogueira, Sheila Mendonça
Assistente de direção: Durval Cristovão
Direção geral de cenografia: Manuel Carlos
Adereços: Manuel Carlos e João Denys
Iluminação: Eron Villar
Sonoplastia ao vivo: Adriana Milet
Direção de produção: Ana Júlia da Silva
Assistência de produção: Almir Martins, Daniela Travassos, Gabriela Fernandes, Diogo Barbosa e Ivana Motta

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O beijo de Nelson

O beijo no asfalto tem direção de Claudio Lira. Foto: Pollyanna Diniz

O beijo no asfalto tem direção de Claudio Lira. Foto: Pollyanna Diniz

Ah, Nelson Rodrigues. O nosso clássico tão controverso. Que nos desestrutura com suas posições ideológicas, suas frases de efeito, seus textos de palavras ditas na hora certa, no momento exato, sem excessos. Que usa os instintos mais primitivos para falar de quem somos nós, das nossas capacidades, dos limiares da moral. Em O beijo no asfalto, o enredo tem muitas nuances. Da sujeira da imprensa em busca da venda de exemplares até a polícia corrupta, a relação entre duas irmãs, a confiança no outro, a homossexualidade.

O diretor pernambucano Claudio Lira, que estreou a sua versão de O beijo no asfalto no dia em que Nelson Rodrigues comemoraria seu centenário, ano passado, no Rio de Janeiro, tem sensibilidade e perspicácia para lidar com o texto de Nelson. Criou uma pequena vila de casas todas juntinhas. As fachadas são passagens que abrem possibilidades para a história, que permitem o olhar invasivo ou discreto dos espectadores da vida dos outros – embora a execução dessa ideia se deixe levar pelo caminho mais fácil: homens e mulheres de óculos escuros, jornal empunhado, figurinos cinzas, uma relação cinematográfica desnecessária.

Dona Matilde, a vizinha fofoqueira, é desdobrada em várias outras que participam da discussão através da projeção de vídeos. Há também a participação de Gino César e de Cardinot, o primeiro um popular apresentador de um programa de rádio e o segundo de televisão, comentando o caso. O bordão “durma com uma bronca dessas” levou a plateia ao delírio na primeira apresentação que o elenco fez no Recife, no Teatro de Santa Isabel. Afinal, os julgamentos continuam sendo feitos a priori e como é difícil destrinchar o real.

O elenco cresceu bastante (já vi a peça em três oportunidades – no Teatro de Santa Isabel, no Teatro Luiz Mendonça e no Barreto Júnior), mas as nuances e gradações ainda precisam ser perseguidas. Selminha, interpretada por Andrêzza Alves, vai da felicidade idealizada à desestruturação. Mas, principalmente no início da montagem, nas primeiras conversas com o pai e a irmã, o texto nem sempre consegue ter ressonância na atriz: “papai, papai” soa falso e descolado aos ouvidos dos espectadores.

Pascoal Filizola, Andrêzza Alves e Ivo Barreto

Pascoal Filizola, Andrêzza Alves e Ivo Barreto

Os principais destaques estão no elenco masculino. Pascoal Filizola, como o delegado Cunha, e Ivo Barreto, interpretando Amado Ribeiro (embora estereotipado principalmente pelos figurinos, um problema de toda a montagem) têm um jogo muito interessante em cena. Há ainda Arthur Canavarro (Arandir), numa atuação bastante convincente, Eduardo Japiassu (Aprígio), Sandra Rino (Viúva, D. Judith e Aruba), Daniela Travassos (Dália) e Lano de Lins (Barros, Werneck e travesti).

O mais interessante é realmente ouvir esse texto sendo dito na íntegra e o quanto ele consegue nos atingir, causando as reações mais diversas. Os diálogos são as pérolas desse espetáculo e o diretor sabe muito bem disso. Não precisa de enfeites. Precisa de sutilezas e nuances para que o texto possa nos inquietar ainda mais. Todo o resto é quase dispensável – inclusive a última cena da montagem. O texto termina no seu ápice. Não tem sentido colocar adendos que não agregam à dramaturgia, à encenação, que parecem sem objetivo.

*Este texto é fruto de uma parceria entre o Sesc Piedade e o Satisfeita, Yolanda? para a apreciação crítica de alguns espetáculos que participaram da mostra Aldeia Yapoatan.

O Beijo no asfalto será encenado hoje (27) e amanhã (28) no Teatro Marco Camarotti (com a proximidade é possível que o espetáculo ganhe bastante), no Sesc Santo Amaro, às 20h, dentro da programação do Festival Recife do Teatro Nacional. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)

Arthur Canavarro e Daniela Travassos

Arthur Canavarro e Daniela Travassos

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Aldeia Yapoatan movimenta Jaboatão

Aldeia Yapoatan começou com cortejo cultural. Foto: Jefferson Figueirêdo

Aldeia Yapoatan começou com cortejo cultural. Foto: Jefferson Figueirêdo

Começou nesta sexta-feira o projeto Aldeia Yapoatan – II Mostra de Artes em Jaboatão dos Guararapes, realizado pelo Sesc Piedade. A abertura foi com um cortejo que saiu da Igreja de Santo Amaro e reuniu grupos de teatro, dança, circo, música e cultura popular. Foi só uma amostra do que virá durante o festival, que acontece até o dia 22 de setembro, com 13 polos e cerca de 60 grupos envolvidos.

Fazem parte da programação, por exemplo, o Grupo Teatro VentoForte, idealizado por Ilo Krugli, com três montagens: As 4 Chaves (dia 14, às 15h, no Sesc Piedade), História de lenços e ventos (dia 15, às 15h, no Sesc Piedade) e Ladeira da memória ou Labirinto da cidade (dia 16, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão).

Mas a maior parte da grade é mesmo composta por grupos pernambucanos. Só para citar alguns espetáculos de teatro há, por exemplo, Luiz Lua Gonzaga (dia 14, às 16h, no Parque Dona Lindu), O beijo no asfalto (dia 17, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça), As confrarias (dia 18, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça) e ainda Algodão doce (dia 14, às 16h, no Espaço Criança Esperança), O menino da gaiola (dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão) e Pluft, o fantasminha (dia 21, às 16h, no Espaço Criança Esperança).

Apenas os espetáculos que acontecem no Teatro Luiz Mendonça são pagos. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).

As confrarias será apresentada dia 18, no Luiz Mendonça. Foto: Pollyanna Diniz

As confrarias será apresentada dia 18, no Luiz Mendonça. Foto: Pollyanna Diniz

O menino da gaiola terá sessão no dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão. Foto: Divulgação

O menino da gaiola terá sessão no dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão. Foto: Divulgação

Confira a programação completa do Aldeia Yapoatan.

Entrevista // Daniela Travassos, supervisora de Cultura do Sesc Piedade

Como foi pensada a programação do Aldeia Yapoatan?
A programação foi pensada a partir da ideia de Aldeias Culturais, implantada pela Gerência de Cultura do SESC Nacional, cujo interesse é descentralizar ações culturais nas diversas linguagens artísticas, possibilitando que comunidades mais distantes dos grandes centros recebam ações culturais gratuitas. Dessa forma, montamos a programação contemplando teatro, dança, cinema, circo, cultura popular, artesanato, literatura e música, distribuídos em cerca de 10 bairros da cidade de Jaboatão.

Qual a importância do festival para os diversos polos que recebem a programação?
A importância está justamente na oportunidade do acesso à cultura, que é um direito de toda a população e que estamos dando a diversas comunidades da cidade. Muitas delas estão recebendo pela primeira vez espetáculos artísticos. É comum percebermos que o Projeto Aldeia é o primeiro contato que algumas crianças e adultos têm com a arte. E poder discutir e saber deles a impressão e o encantamento que isso traz à comunidade, transformando-a, levando saber e formação, é de importância ímpar.

Qual a atuação do Sesc Piedade, não só na unidade, mas nesses polos? E como isso pode ser incrementado a partir do festival?
Não queremos que a realização do Aldeia seja uma ação pontual, efêmera. Queremos que essa ideia de formação e fruição perpasse toda a programação de cultura da Unidade ao longo do ano. Tanto que estamos sempre mantendo cursos dentro e fora do SESC e realizando ações artísticas nos bairros. Além disso, mantemos nossa Escola de Teatro profissionalizante, realizamos Seminário de Arte-Educação, lançamento de livros que seguem gratuitos para bibliotecas de diversos bairros. Enfim, o nosso trabalho segue no intuito de levar para a cidade de Jaboatão a oportunidade não só da apreciação artística, mas principalmente da formação e do debate. Essa é a orientação do Programa de Cultura do SESC Pernambuco, através da gerência de Cultura de José Manoel e da gerência do SESC Piedade, que é de Rudimar Constâncio.

Sabemos que são muitas atrações na programação, mas quais destaques você faria?
Na verdade, tenho muita dificuldade de destacar alguém da programação porque é uma programação muito consistente no que diz respeito à qualidade dos grupos em suas diversas linguagens. Mas posso arriscar um destaque: as ações que estamos realizando dentro das escolas públicas de Jaboatão, com cursos e apresentações, além do polo circo, que não conseguimos realizar na primeira edição e este ano volta com uma programação também com oficinas e espetáculos circenses.

*O Satisfeita, Yolanda? e o Sesc Piedade fizeram uma parceria para a publicação de duas edições do Jornal Aldeia Yapoatan e para a apreciação crítica de alguns espetáculos. Continuem acompanhando a cobertura da mostra aqui no blog.

Algodão doce será encenada neste sábado (14), às 16h, no Espaço Criança Esperança. Foto: Ivana Moura

Algodão doce será encenada neste sábado (14), às 16h, no Espaço Criança Esperança. Foto: Ivana Moura

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Premiados Apacepe – Teatro Adulto

Montagem de Viúva porém honesta, do Magiluth

Montagem de Viúva porém honesta, do Magiluth

Melhor Espetáculo Pela Comissão Julgadora:
Indicados:
Auto do Salão do Automóvel (Página 21)
Duas Mulheres em Preto e Branco (Remo Produções Artísticas)
O Beijo no Asfalto (Produção: Renata Phaelante e Andrêzza Alves)
Um Inimigo do Povo (Grupo de Teatro Cena Aberta do SESC Caruaru)
Viúva, Porém Honesta (Grupo Magiluth)
Vencedor: Viúva, Porém Honesta (Grupo Magiluth)

O grupo  Magiluth na entrega do prêmio da Apacepe

O grupo Magiluth na entrega do prêmio da Apacepe

A Pena e A Lei, de Petrolina, foi escolhida a melhor montagem pelo júri popular

A Pena e A Lei, de Petrolina, foi escolhida a melhor montagem pelo júri popular

Melhor Espetáculo Pelo Júri Popular: A Pena e a Lei (Teatro Popular de Arte/TPA)

Melhor Diretor:
Indicados:
Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Kleber Lourenço (Auto do Salão do Automóvel)
Moacir Chaves (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Moisés Gonçalves (Um Inimigo do Povo)
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)

Diretor Pedro Vilela fez uma montagem frenética de Viúva, Porém Honesta

Diretor Pedro Vilela fez uma montagem frenética de Viúva, Porém Honesta

Melhor Ator:
Indicados:
Carlos Lira (Vestígios)
Erivaldo Oliveira (Viúva, Porém Honesta)
Giordano Castro (Viúva, porém honesta)
José Ramos (Auto do Salão do Automóvel)
Pedro Wagner (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Erivaldo Oliveira (Viúva, Porém Honesta)

Erivaldo Oliveira concorreu com Carlos Lira (Vestígios), José Ramos (Auto do salão do automóvel), além de seus colegas de elenco de Viúva, porém honesta Giordano Castro  e Pedro Wagner

Erivaldo Oliveira concorreu com Carlos Lira (Vestígios), José Ramos (Auto do salão do automóvel), além de seus colegas de elenco em Viúva, porém honesta, Giordano Castro e Pedro Wagner

Melhor Atriz:
Indicados:
Andrêzza Alves (O Beijo no Asfalto)
Bruna Castiel (A Filha do Teatro)
Paula de Renor (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Sandra Possani (Duas Mulheres em Preto e Branco),
Stella Maris Saldanha (Auto do Salão do Automóvel)
Vencedor: Bruna Castiel (A Filha do Teatro)

Atuação de Bruna Castiel foi destacada em peça com texto de Luís Augusto Ries

Atuação de Bruna Castiel foi destacada em peça com texto de Luís Augusto Ries

Ator Revelação:
Indicados:
Adailton Mathias (A Pena e a Lei)
Godoberto Reis (A Pena e a Lei)
Paulo Henrique Reis (A Pena e a Lei)
Roberto Brandão (Vestígios)
Vencedor: Godoberto Reis (A Pena e a Lei)

Atriz Revelação:
Indicados:
Francine Monteiro (A Pena e a Lei)
Inês Simões (Auto da Compadecida)
Rosa Félix (Cinema)
Vencedor: Rosa Félix (Cinema)

William Smith ganhou ator coadjuvante por Um inimigo do povo, montagem de Caruaru

William Smith ganhou ator coadjuvante por Um inimigo do povo, montagem de Caruaru

Melhor Ator Coadjuvante:
Indicados:
Ivo Barreto (O Beijo no Asfalto)
Lucas Torres (Viúva, Porém Honesta)
Mário Sérgio Cabral (Viúva, Porém Honesta)
Pascoal Filizola (O Beijo no Asfalto)
William Smith (Um Inimigo do Povo)
Vencedor: William Smith (Um Inimigo do Povo)

Atriz Coadjuvante:
Indicados:
Daniela Travassos (O Beijo no Asfalto)
Manuela Costa (A Filha do Teatro)
Rosa Amorim (Auto da Compadecida)
Sandra Rino (O Beijo no Asfalto)
Vencedor: Daniela Travassos (O Beijo no Asfalto)

Daniela Travassos ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante por O beijo no asfalto

Daniela Travassos ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante por O beijo no asfalto

Melhor Maquiagem:
Indicados:
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Tiche Vianna (Daquilo Que Move o Mundo)
Vinícius Vieira (A Filha do Teatro)
Wemerson Diaz e Sheila Costa (A Pena e a Lei),
Vencedor: Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)

Melhor Figurino:
Indicados:
Andrêzza Alves e Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Júlia Fontes (Olivier e Lili: Uma História de Amor em 900 Frases)
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Walter Holmes (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Vencedor: Andrêzza Alves e Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)

Alegria de  Claudio Lira e Andrêzza Alves, de O Beijo no Asfalto, ao ganhar prêmio de melhor figurino

Alegria de Claudio Lira e Andrêzza Alves, de O Beijo no Asfalto, com o prêmio de melhor figurino

Melhor Cenografia:
Indicados:
Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Doris Rollemberg (Vestígios)
Fernando Mello da Costa (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Moisés Gonçalves e Alex Deplex (Um Inimigo do Povo)
Vencedor: Fernando Mello da Costa (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Melhor Iluminação:
Indicados:
Aurélio di Simoni (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Cleison Ramos (MARéMUNDO)
Játhyles Miranda (Auto do Salão do Automóvel)
Luciana Raposo (O beijo no Asfalto)
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Aurélio di Simoni (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Melhor Sonoplastia:
Indicados:

Adriana Milet (O Beijo no Asfalto)
Missionário José (Auto do Salão do Automóvel)
Moisés Gonçalves e Wayllson Ricardo (Um Inimigo do Povo),
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta),
Tomás Brandão e Miguel Mendes (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Vencedor: Tomás Brandão e Miguel Mendes (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Tomás Brandão e Miguel Mendes criaram a trilha sonora de Duas Mulheres em Preto e Branco

Tomás Brandão e Miguel Mendes criaram a trilha sonora de Duas Mulheres em Preto e Branco

Comissão Julgadora Teatro Adulto: Anamaria Sobral, Elias Mouret, Maria Rita Costa, Magdale Alves e Quiercles Santana

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A experiência do invisível

O presente, com Kellia Phayza e Paula Carolina. Foto: Rodrigo Moreira

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.
(Mateus 6:19-21)

Homens e mulheres invisíveis. Estão bem perto de nós, mas é muito difícil que consigamos enxergá-los. A vida é mesmo tão corrida. Não posso perder o ônibus, a aula, o horário do trabalho, a sessão do cinema. Será que a vida acontece tão depressa assim para todos? Os atores da companhia Fiandeiros dizem que, para os moradores de rua, é como se o tempo simplesmente não passasse. Uma eterna espera por algo que não se materializa. Não bastava que esses atores pesquisassem, discutissem. Precisavam ver de perto, sentir na pele – mesmo sabendo que voltariam para as suas casas depois – o que era ser um morador de rua. Essa vivência se transformou no espetáculo Noturnos, apresentado na V Mostra Capiba de Teatro.

A experiência da invisibilidade – como contam, pessoas conhecidas cruzaram com eles nas ruas, mas nem notaram – é comum aos três quadros dramatúrgicos independentes que compõem a montagem. No primeiro, O presente, a relação entre duas mulheres (Kellia Phayza e Paula Carolina); em A cura, a loucura de um homem (Jefferson Larbos); e, por fim, dois artistas frustrados (Manuel Carlos e Daniela Travassos) em Salobre.

Escrevi sobre esse espetáculo, que à época ainda era só a conclusão do projeto de pesquisa Paralelas do tempo – A teatralidade do “não ser”, em maio, quando ele foi apresentado no próprio espaço da Fiandeiros, na Boa Vista, durante o Palco Giratório. Já ali, me provocava. Por expor algo que normalmente não queremos ver. Por trazer ao palco o dedo na ferida. Mas não a partir de uma visão elitista. Claro que sempre será um olhar externo; mas pelo menos há a tentativa de se desatar da relação opressor – oprimido.

Jefferson Larbos em A cura

Um dia depois do espetáculo no Capiba, ouvi um questionamento: “será que a montagem, no caso de ser apresentada para moradores de rua, iria reverberar? Eles iriam se identificar com aquele discurso?”. Seria uma experiência bastante interessante. E eu me arrisco a dizer que não é preciso que os atores falem como os moradores de rua ou que o texto, em toda a sua poesia, seja captado por completo. Acho que algumas teias de aproximação se formariam sim.

O tema não é fácil. Pelo contrário, traz o desafio, que esses atores souberam superar. Manuel Carlos, também responsável pela cenografia, maquiagem (estava um pouco exagerada…todo mundo ficou igual, branco!) e figurino, dá todas as nuances de um palhaço que não tem mais graça, mas teima, como num ritual, em se despedir do ofício. Segurar um monólogo sobre a loucura também não é nada fácil, mas percebo que Jefferson Larbos cresceu desde a última vez que o vi, está caminhando com muito mais naturalidade pelo seu personagem. Ah…não podia também esquecer a luz, pesquisada por Suzana Vital, e a sonoplastia, que ficou sob responsabilidade de André Filho.

Estamos vivos ou mortos? Sentir fome é bom, é sinal de que ainda se está vivo. Embora castigo de morte seja não saber para quê se vive. Qual o endereço da rua onde existe amanhã? Todo mundo tem um pedaço invisível dentro de si. (colagem de trechos da peça)
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Fui ao teatro Capiba na última quinta-feira de carro, com uma amiga. Passávamos numa rua esquisita, não sei nem que bairro era aquele, quando vi algumas poucas pessoas na calçada e um homem tendo um ataque que parecia ser de epilepsia. Paramos o carro. O homem parecia voltar, aos pouquinhos. Recusou remédio. Disse que morava muito longe dali. Que tinha ido fazer uma visita. Alguém disse para termos cuidado naquela área. De repente um motoqueiro para: “isso é mentira. Já vi esse homem fazer isso três vezes só para ganhar algum dinheiro. Vão embora”. Saímos todos, rapidamente. O homem ficou na calçada, sentado. Não sei se era mentira, se era verdade. Senti um vazio, uma tristeza.

Daniela Travassos e Manuel Carlos

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