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Até sempre Vavá Schön-Paulino

Heliogábalo & Eu (1990). Foto: Deborah Valença

Um artista de muitas frentes: ator, poeta, artista plástico, performer e gestor público.

Vavá morreu tragicamente neste 11 de setembro de 2025 em um incêndio em sua residência, em Floresta (PE)

Vavá Schön-Paulino entrava em cena como quem entra em casa. Sem alarde, sem pedir licença, mas com o cuidado de quem sabe onde cada objeto repousa e que luz acende primeiro. Havia algo de menino no gesto — o riso fácil, os olhos atentos, uma curiosidade que não se gastava com o tempo. Ele  atuava como quem oferece água a quem chega cansado: com generosidade, precisão e uma confiança íntima na partilha. Essa confiança moldou sua presença de ator, de educador, de provocador de processos, de artesão de encontros. Nos trabalhos marcantes — da secura luminosa de Fim de Jogo (Beckett), em montagem dirigida por João Denys à Rasif – Mar que arrebenta, a partir de textos de Marcelino Freire, à do ritual instável de Heliogábalo & Eu (1990) à medonha constatação capitalista de A carne mais barata  — sempre se reconhecia um fio: Vavá habitava a cena, deixando que alguns sentidos aparecessem no atrito entre corpos, palavras, silêncio e tempo.

É com esse cuidado que hoje, inevitavelmente, escrevemos no passado. Vavá morreu tragicamente neste 11 de setembro de 2025 em um incêndio em sua residência, em Floresta, no Sertão de Pernambuco, um mês depois completar 65 anos. A tragédia expôs um problema antigo: a ausência de um quartel do Corpo de Bombeiros no município, o que retardou o atendimento e agravou o desfecho. Nascido em Floresta, o artista mudou-se para o Recife em 1978 e, por mais de quatro décadas, foi presença articuladora e generosa na cena cultural pernambucana; há cerca de dez anos, voltou à cidade natal, onde seguiu como gestor, formador e artista — costurando pessoas, ideias e territórios com a mesma delicadeza com que entrava no palco.

Vavá foi um artista de muitas frentes: ator, poeta, artista plástico, performer e gestor público. Na gestão cultural, assumiu papéis decisivos — coordenador do Centro Apolo-Hermilo, diretor do Teatro de Santa Isabel, diretor de Cultura em Floresta e vice-presidente do SATED-PE. No teatro, ergueu uma trajetória vasta e variada. Atuou em A carne mais barata (2005), Espetacular & Espetaculoso (2014), performance De Profundis, Cenas Abissais (1987), Cinderela, a história que sua mãe não contou (1999), Em nome do desejo (1990), O balcão (1987), O burguês fidalgo (1988), Os palhaços da Rua da Alegria (1992) e Quarteto (1988). Não é uma lista exaustiva, mas aponta a extensão do gesto: do popular ao experimental, da farsa à poesia cênica, da pedagogia à prática cotidiana de teatro.

Talvez por isso suas aulas-oficinas ressoassem como ensaios de vida: “Consumo e Práxis Criadora” era um método. Ensinar, para ele, era encostar o ouvido no chão até sentir o trepidar do que vem — e, então, convidar todo mundo a experimentar junto. Primeiro o jogo, depois a tese; primeiro o risco, depois a palavra. Quando provocava “Estarei esperando Godot?”, havia ironia e ternura na mesma medida: não a resignação de quem aguarda o que não chega, mas o impulso de montar um espaço comum onde o encontro, esse sim, aconteça. O que Vavá propunha era simples e exigente: trabalhar a partir do “nosso quintal de subjetividades”, insistindo que a tal Internet das Coisas só faz sentido quando começa no chão compartilhado da presença, do erro, do gesto que ainda não sabe o nome. Da sala de ensaio ao corredor, do pátio à rua, sua obra parecia dizer que a arte não “representa” a vida: ela a curva um pouco, o bastante para que possamos passar.

E é nesse ponto que a transitoriedade se impõe, não como lamento, mas como claridade. O teatro, por definição, passa — e é no passar que ele nos toca. Vavá parecia saber disso desde sempre: não colecionava certezas; colecionava instantes. O palco, para ele, era o lugar onde o agora se dá por inteiro. Vavá armava a cena, no processo de preparar o terreno, arejar o ar, abrir passagem para que o extraordinário do agora possa, quem sabe, acontecer. E, se o tempo é o tecido do teatro, Caetano Veloso o nomeia com alegria grave: “Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos, tempo, tempo, tempo, tempo.” Vavá marcava esse compasso com a paciência de quem sabe que o ritmo não é a pressa; é a escuta — a cadência comum que faz de muitos um coro.

Transitoriedade é matéria. O que passa nos forma. Em Rasif – Mar que arrebenta, com ele, aprendemos que a maré não repete o desenho, mas insiste no gesto: vem, toca, recua, volta. Em Fim de Jogo, descobrimos ao seu lado que o palco é um laboratório de ruínas onde a vida insiste em brotar. Em Heliogábalo & Eu, dançamos na instabilidade. A pedagogia que deixou — feita de encontros, partilhas, cansaços honestos e um humor que desembaraça — foi um convite: experimentar o presente com inteireza. Talvez seja esse o maior legado: uma ética da presença que não perde tempo lutando contra o tempo, mas o transforma em parceria de criação.

Se perguntarem o que fica quando a luz desce, diremos talvez o exercício da atenção, que Vavá cultivou na cena e na vida; talvez a coragem de experimentar antes de entender; quem sabe o riso que desata nós; quisera a delicadeza firme de quem sabe a hora de falar e a hora de ouvir; fica, sobretudo, a certeza de que o teatro é uma arte do encontro, e que o encontro só existe porque somos, todos, passagem.

E se a notícia dura precisa caber num texto — a morte em incêndio, em casa, em Floresta; a cidade sem quartel de bombeiros; os muitos amigos e alunos desamparados — então que caiba junto o que a sustenta: a trajetória de um artista que fez do palco uma casa e da casa um lugar comum. O que fica agora é que a cena é encontro: esse foi o norte. E, enquanto o tempo compõe destinos e a cena se refaz, seguimos o conselho implícito que sua trajetória nos deixou: primeiro a partilha, depois o conceito; primeiro a vida, depois o nome. Porque a matéria passa, mas o gesto como resíduo drummondiano — esse sim — aprende a ficar. O resto a gente tenta aprender, como ele, em comum.

 

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Nova temporada de Breguetu

Grupo Experimental. Fotos: Camila Sergio

Encenação do Grupo Experimental, com direção de Mônica Lira. Fotos: Camila Sergio

Brega é um estado de espírito. De festa e de vida. Alguém duvida? O Grupo Experimental dança essa celebração no espetáculo Breguetu. A montagem estica a temporada por mais três fins de semana, no Espaço Experimental, no bairro do Recife, às sextas e sábados, às 20h, de 1º a 16 de maio.

Sabemos que a palavra brega carrega significados, história, classe social e rótulos de exclusão. Pode ser apontada como algo cafona, feio. Na moda pode ser o exagerado. Na música, a melodia simples, de fácil apelo popular, que traga um conteúdo de “sofrencia” em suas letras. Pode ser um pensamento menos elaborado. Dizem que até o amor é brega.

A bailarina e coreógrafa Mônica Lira captou que todos somos bregas em alguma coisa na vida. E teceu sua narrativa de dança-teatro de forma intimista, com a leveza de quem se entrega à felicidade de rostinho colado, dos românticos populares que enchem os salões de baile. Mas inclui o pensamento crítico para encarar o gênero e sua relação com as classes sociais.

Breguetu começou com a pesquisa A dança no corpo desse lugar, quando o Experimental investigou os movimentos e as manifestações culturais do Recife. Desse trabalho, a equipe identificou o brega como um fenômeno que cresce atualmente, em festas de todas as facções. O espetáculo é resultado desse diagnóstico e das experiências individuais de cada bailarino.

A montagem estreou no 21º Janeiro de Grandes Espetáculos, e ganhou o prêmio de Melhor Espetáculo pelo júri técnico do festival.

Serviço
Espetáculo Breguetu
Quando: Sextas e sábados, sempre às 20h, de 1º a 16 de maio, ,
Onde: Espaço Experimental – Rua Tomazina, nº 199, 1º andar, Recife Antigo
Ingresso: R$ 20 e R$10 (meia), à venda no local, uma hora antes do espetáculo
Informações: (81) 3224-1482

Breguetu é resultado de pesquisa e experiência dos bailarinos

Breguetu é resultado de pesquisa e experiência dos bailarinos

Ficha Técnica
Concepção e Direção: Mônica Lira (Grupo Experimental)
Intérpretes Criadores: Lilli Rocha, Jorge Kildery, Jennyfer Caldas, Rafaella Trindade, Gardênia Coleto e Márcio Filho
Projeto de Iluminação: Beto Trindade
Produção musical: Marcelo Ferreira e João Paulo Oliveira
Design Gráfico: Carlos Moura
Produção: Emeline Soledade
Assessoria de Comunicação: Paula Caal
Figurino: Carol Monteiro
Concepção e produção de cabelo e maquiagem: Jennyfer Caldas
Cenotécnico: Eduardo Autran
Ator convidado: Vavá Schön-Paulino
Colaboração: Adelmo do Vale
Duração: 60’
Indicação: 16 anos

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Aprendizes frustrados

Elenco do projeto Terra Queimada, proposto pelo Aprendiz Em Cena

No último mês de fevereiro, escrevi uma matéria sobre o projeto Aprendiz Em Cena, promovido pelo Centro Apolo-Hermilo. É um projeto bastante importante, de experimentação e fomento às artes cênicas, que já teve vários formatos. Ano passado, a ideia foi que um diretor estreante pudesse formar um elenco e, sob a coordenação e orientação artística/pedagógica de Vavá Schön-Paulino (que dirige o Centro), montar o texto Terra queimada, o mais premiado do dramaturgo pernambucano Aristóteles Soares (1910-1989). Era condizente, aliás, com outro projeto da Prefeitura do Recife, o relançamento da obra de Aristóteles, que aconteceu durante o Festival Recife do Teatro Nacional de 2010.

Em fevereiro, a matéria era sobre o ensaio aberto da montagem – que tinha previsão de estrear, na realidade, no Janeiro de Grandes Espetáculos, o que não aconteceu. Depois do ensaio, o que foi anunciado é que o espetáculo iria cumprir temporada em abril no Teatro Hermilo Borba Filho, mas isso também nunca saiu do campo das promessas.

Além do diretor Ivan Ferreira, que trabalha com teatro desde 2005 e mantém um espaço chamado Engenho de criação, o processo envolvia, como atores, Aryella Lira, Daniel Barros, Dulce Pacheco, Durval Cristóvão, Rodrigo Félix e Marinho Falcão. A direção, criação e execução musical eram de Diogo Lopes.

Diante da inexistência de uma temporada, do retorno de um projeto supostamente (será que ainda?) tão importante para a cidade, mandamos uma entrevista para os atores de Terra queimada, que foi respondida por Daniel Barros e Dulce Pacheco.

ENTREVISTA // Daniel Barros e Dulce Pacheco

Como foi o processo de montagem? Pessoalmente, houve crescimento? Foi o que vocês esperavam nesse sentido?
A melhor coisa desse projeto foi poder encontrar novas pessoas. Ivan, Ary, Dulce, Durval, Rodrigo, Marinho e Diogo foram como um copo de água gelada no meio do deserto. Especialmente Ivan que, com muita gentileza e amor incondicional pelo teatro, teve a capacidade de semear coisas boas no meio desse caos todo, que foi a produção do Aprendiz. Passamos muitos meses mergulhados no universo de Terra queimada, estudando e descobrindo a nossa forma, juntos, de fazer teatro. Isso foi mais importante dentro do processo: a possibilidade do encontro, a possibilidade das ampliações de consciência propostas por Ivan. Saímos muito modificados e, consequentemente, machucados disso tudo. Esperávamos cuidado e respeito do Centro Apolo-Hermilo. Foi como um filho abortado. Quase um estupro pro artista. Mas pelo menos uma coisa boa aconteceu: crescemos muito e ainda hoje estamos juntos e vivendo essa nossa experiência de se encontrar, independente do Centro.

Qual foi a participação de Vavá Schön-Paulino?
Vavá é o coordenador do centro Apolo/Hermilo. O primeiro dia de reunião do elenco foi com ele, todas as informações do projeto inteiro foram dadas por ele; quanto e quando iríamos receber, quanto tempo de ensaio, espaço cedido pra ensaio, data de estreia, data de temporada. Tudo foi dito no primeiro dia. E também ele seria o orientador pedagógico do Aprendiz. Nada do que foi dito aconteceu. Vava só viu um ensaio nosso, não encontrava Ivan pra falar da parte artística do projeto, não atendia os telefonemas ou respondia e-mails. Nem os cachês foram pagos, nem estreamos no Janeiro de Grandes espetáculos e só fomos informados disso que a programação do festival saiu no Facebook. Não houve uma preocupação em avisar por telefone ou e-mail. A grande participação de Vavá nisso tudo foi na falta de informação, que era grande e total. Não sabíamos de mais nada quanto à produção do projeto, quando iríamos receber ou quando iríamos estrear. Nada!! E não adiantava procurar. Orientador? Produção? Com a gente nunca existiu. Ele tinha uma assistente – Daniela Mastroianni – que teoricamente era pra facilitar a ponte entre Vavá e o grupo, mas que, na prática, sumiu tanto quanto ele. O que mais revolta é a falta de consideração com o profissional da arte. No Recife, nós lutamos tanto pra sairmos do patamar de “amadores” (no sentido não profissional), mas não somos tratados como profissionais. Nem um pouco. Nem por um Centro que deveria cuidar melhor dos profissionais que ali estão.

Porque o projeto nunca foi encenado?
Depois da frustração de não estrearmos no Janeiro de Grandes Espetáculos, procuramos o coordenador para uma reunião. Pressionamos e conseguimos uma data uma semana antes do carnaval para fazer um ensaio aberto, pois foi muito tempo de trabalho, muita dedicação, muito dinheiro gasto por todos pra estarmos ensaiando o projeto Aprendiz Em Cena. Não era um projeto nosso, era um projeto do Centro Apolo-Hermilo. Enfim, no meio disso, vai batendo uma indignação, pois foi muita falta de respeito. Dia 10 de fevereiro foi realizado o ensaio aberto, sem figurino, sem cenário…mas com muita vontade de mostrar para as pessoas nosso processo, mostrar o resultado de nossos quatro meses de trabalhos intensos. Foi engraçado que, ao final da apresentação, com casa cheia, o orientador enfim apareceu, com toda pompa de orientador, batendo no peito e falando: “nós criamos!”. Nós onde? Que a pessoa nunca viu nada, nunca orientou? É o efeito plateia. E então depois do ensaio aberto teríamos uma temporada marcada para os finais de semanas de abril. Vejam bem, isso foi dito ao final do ensaio para as pessoas que presenciaram nosso ensaio aberto e combinado com todo elenco. Nos programamos para essa temporada. Mesmo sem receber um centavo fizemos o ensaio aberto. E logo depois retomamos os ensaios para a temporada em abril. Como Recife é uma cidade muito pequena, todo mundo sabe e se conhece, ficamos sabendo que já teria outro grupo no mês de abril ocupando o mesmo horário que foi prometido à temporada de Terra queimada. Esperamos uma informação e nada aconteceu. Nada foi dito e passou o mês e a gente nunca soube de nada. Então resolvemos parar o projeto, até hoje, dia 9 de agosto de 2012 (dia em que a entrevista foi concedida, por e-mail). É importante ressaltar que o grupo tentava incessantemente entrar em contato com o “coordenador” e ele nunca atendia os celulares. Parecia que tudo estava jogado, não só o nosso grupo com o projeto do Centro, mas vários outros que, em conversas informais, nos informavam que estavam na mesma situação.

Vocês receberam pagamento? E cenário, figurino, foram pagos?
Depois de muito esquecimento, perguntas sem respostas, falta total de respeito aos artistas envolvidos estamos no processo de recebimento do cachê, mas somente os cachês do elenco e do diretor. O projeto, isso dito pelo coordenador, é de 20 mil. E juntando os cachês do elenco e do diretor só chega a 13 mil. Para onde vão os outros 7mil? Não sabemos. E iremos receber sem nunca fazer uma temporada. É dinheiro público. Esse dinheiro, talvez, nunca volte para o povo. Pois quase um ano depois ainda não sabemos se iremos fazer uma temporada.

Qual o sentimento que fica?
Frustração, todo mundo muito frustrado, decepção. Decepção com relação aos tipos de profissionais que estão no poder. Que tomam conta da verba pública e do espaço público como quem toma conta de uma coisa qualquer, sem importância.

O grupo não pensa em apresentar o projeto por iniciativa própria?
Sim, mas temos o entrave de ser um projeto que leva o nome do Aprendiz em cena. Não é nosso, teoricamente, ainda tem o vínculo com o Centro. E ficamos desestimulados.

Procuramos uma resposta da Prefeitura do Recife e publicamos na íntegra a nota que recebemos:

“A Secretaria de Cultura do Recife e o Centro Apolo-Hermilo estão empenhados em solucionar pendências do projeto Aprendiz Encena. A equipe da Secult entrou em contato com o responsável pelo grupo selecionado para a retomada do projeto e para efetuar o pagamento do valor previsto para o desenvolvimento das atividades. Atenta a importância do processo de formação, característica do projeto, a Secult convidará um coordenador artístico-pedagógico para dar continuidade a criação da montagem”.

Ah, também recebemos outro e-mail da assessoria da Prefeitura do Recife. E, qual a surpresa, convocando para uma “ouvidoria”. Qualquer semelhança não é mera coincidência, caro leitor. Segue, então, a convocatória:

“A Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura, convida a classe artística e Entidades Representativas do Teatro e da Dança, para a Ouvidoria que irá proceder no dia15 de agosto próximo, às 18:30h, na Sala Beto Diniz do Teatro Hermilo BorbaFilho, na Rua Martin Luther King s/n, Bairro do Recife, onde irá ouvir os anseios e necessidades acerca do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo e, na oportunidade, apresentar as ações e providências já realizadas.
Atenciosamente,
Secretaria de Cultura do Recife”

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Na boca de Matilde

Todos os anos, os erros do festival são apontados na avaliação pública. Foto: Val Lima/Divulgação

Uma figura da prefeitura me provocou dizendo. “Você deu uma barrigudinha”. Respondi: “ué, a confirmação veio da equipe de artes cênicas”. Mas não importa como as informações foram obtidas. Na verdade, o diretor e ator Francisco Medeiros não aceitou o convite de ser o curador, ou cocurador do Festival Recife do Teatro Nacional, que chega ao 15º ano abalado por denúncias de não pagamentos de cachês de edições anteriores e perda de importância para o público.

Sendo ou não sendo Medeiros, a questão levantada por mim no outro post permance. Existia um curador apalavrado, o crítico, pesquisador, jornalista, escritor Valmir Santos (que por boa-fé não fez um contrato com a Prefeitura do Recife antes de inciar sua curadoria do ano passado). E se outro ou outros convidados não aceitaram, INSISTO, a equipe da prefeitura não teve um posicionamento ético, elegante, de dispensar os serviços do anterior, antes de partir à cata de um novo.

Fiquei muitos dias esperando que alguém da Secretaria de Cultura/ Fundação de Cultura Cidade do Recife se pronunciasse, explicando o que aconteceu, reconhecendo que errou. Só os grilos cri-cri-cri…

Agora, o diretor Francisco Carlos distribuiu via internet uma carta de cobrança e denuncia do Festival Recife do Teatro Nacional.

Se as pessoas utilizaram o silêncio para calar algumas vozes, dessa vez ficou difícil. Francisco Carlos apresentou Jaguar Cibernético e diz que não recebeu o cachê. O festival foi em novembro do ano passado. Bom, o diretor enviou o e-mail para centenas de pessoas, que por sua vez reenviam para outras e isso virou uma bola de neve. O nosso querido festival de teatro, que tem um reputação a zelar corre em boca de Matilde pela falta de planejamento, gestão política ou algo pior. Não sei. Só sei que isso não pode continuar. Nem o silêncio que o órgão público dá como resposta a qualquer crítica e o não pagamento do que se deve.

Outro questionamento importante: mais uma vez o festival será realizado com um cronograma apertadíssimo? Sim, porque se até agora nem o curador foi escolhido, o que diremos da programação? Ou quem pensa que os grupos do país estão com milhões de datas livres ansiando pelo convite do nosso festival? Vai ser feito as pressas e, mais uma vez, isso repercute em público. Porque não há divulgação, o programa não sai..enfim…

Porque o Festival de São José do Rio Preto, por exemplo, tem uma média de público de 90 mil pessoas? Nós sabemos quais são as nossas debilidades. Temos as soluções – ou quem acompanha todos os anos as avaliações do festival sabe quais são – o que falta é colocar em prática.

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Diretor de teatro resolve fazer cobrança pública

Francisco Carlos apresentou repertório no Recife, mas até agora não recebeu pagamento

Recebemos a seguinte carta por e-mail, assinada pelo diretor de teatro Francisco Carlos e sua equipe:

Caro Coordenador do descoordenado Festival Recife do Teatro Nacional, Vavá Paulino.

Esta nossa correspondência tem duas finalidades: cobrança e denúncia.

Pois se tornou insuportável a espera do pagamento referente a nossa apresentação no desrespeitoso Festival de Recife no final de novembro de 2011, com a peça JAGUAR CIBERNÉTICO no Teatro Marco Camarotti do SESC-Recife. Nos apresentamos no XIV Festival Recife do Teatro Nacioal, em novembro com a promessa de que receberíamos em dezembro (um mês depois no máximo) e até a presente data, mais de 6 meses após não fomos pagos. Já não sabemos o que fazer para que que a Secretária Municipal de Cultura de Recife pague o que nós deve. Nos próximos dias estarei dando uma entrevista num programa de televisão, de grande repercussão nacional, e aproveitarei com toda a raiva teatral consciente, para denunciar pública e nacionalmente a Secretaria Municipal de Cultura de Recife e seu vergonhoso e caloteiro Festival de Recife do Teatro Nacional, o Brasil inteiro vai ficar sabendo do qual desrespeitoso é o festival de Recife com os artistas, dignos, reconhecidos e grandemente respeitados que ele(o indigno Festival) convida, fecha contrato e não paga.

Gostaríamos que o Sr. Coordenador do Festival que ficou por meses sumido e que há dois meses reapareceu com desculpas telefônicas esfarrapadas e mentirosas se pronunciasse publicamente a respeito de nosso pagamento, pois essa carta que lhe envio já está sendo tornada pública, através da internet, imprensa escrita falada e televisada. Inclusive já estamos promovendo uma campanha contra a Secretaria Municipal de Cultura do Recife e seu horrendo Festival, aconselhando os artistas de teatro a não participarem desse desrespeitoso Festival. Em todos os meus discursos públicos inclusive nos que fiz no RJ durante a nossa programação na Rio+20, do qual participamos, disparei essa denuncia. Não dá mais, passou dos limites.

E o pior de tudo é que temos que passar por humilhações. Há três semanas atrás o Sr. Sérgio Farias, se dizendo Assessor da Secretaria Municipal de Cultura do Recife, entrou em contato com nossa produção pedindo documentação que provasse a nossa participação no festival. Só o que nos faltava Sr. Sérgio Farias, o SR. invertendo a situação. Quem tem que provar alguma coisa é o SR. e sua Secretaria Municipal de Cultura, provar e pagar já e urgente. Se o Sr. tivesse o mínimo de trabalho daria uma olhada no site de seu Festival.

Num país como o nosso em que as verbas para a cultura são irrisórias, mínimas e miseráveis, os órgãos oficiais de cultura ainda ficam com o pouco que de direito é nosso. Assalto público.

Sabemos que o secretário de Cultura da época do Festival saiu para se candidatar a alguma vaga nas próximas eleições municipais de Recife. Quem vai votar nesse Sr.? Ele vai defender que cultura e que forma de gerencia publica da Cultura caso por infelicidade coletiva seja eleito? E a Sra. que assumiu no lugar dele, o que anda fazendo que faz vistas grossas as dividas absurdas da Secretaria.

Então a nossa pergunta é muito simples. VÃO PAGAR? NÃO VÃO PAGAR? QUAL O MOTIVO REAL DE NÃO PAGAREM? PARA ONDE FOI A VERBA QUE PARA O NOSSO PAGAMENTO ESTAVA DESTINADO?

Sr. Vavá Paulino nos pague, não nos venha com desculpas esfarrapadas que somos artistas mas não somos tontos, e nos pague mais que imediatamente que já estamos cansados de tanto desrespeito vosso e de sua Secretaria-de-calotes-e-mentiras. Sejam corretos, como fomos artisticamente com vocês.

E MAIS VERBAS PARA A CULTURA, PARA A ARTE E PARA O TEATRO NO BRASIL. VERBAS, RESPEITO, ÉTICA, DEVERES E DIREITO, DIGNIDADE E DECÊNCIA.

Em protesto.

Francisco Carlos, equipe, elenco, parceiros, publico e simpatizantes.

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