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Encontro de crítica investiga estampidos do real

Espetáculo cubano Jacuzzi integra programação. Foto: Lázaro Wilson

Peça cubana Jacuzzi integra programa Crítica em Movimento, do Itaú Cultural, na Paulista. Foto: Lázaro Wilson

A Mulher Arrastada. foto: Regina Peduzzi Protskof

A Mulher Arrastada baseada em fato real ocorrido no Rio de Janeiro. Foto: Regina Peduzzi Protskof

A arte se alia ao presente para expandir forças de defesa da democracia e de combate à barbárie. Foi assim em outros tempos nublados no Brasil. Daquela época ficaram as obras e testemunhos de muita gente guerreira. A segunda edição do Crítica em Movimento traz as experiências de Augusto Boal e Plínio Marcos na pisada das ações das atrizes Walderez de Barros e Cecilia Boal.  Carrega os olhares de grupos e coletivos teatrais, a vivência do escritor Marcelino Freire, a atuação da crítica cubana Vivian Martínez Tabares. Durante nove dias o exercício da crítica ocupa o espaço do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, com depoimentos, debates, peças, leitura dramática e um show cênico. A programação ocorre de 26 de setembro (quarta-feira) a 7 de outubro (domingo).

Em que medida o momento sociopolítico influencia as obras e os seus desdobramentos poéticos? é um disparador de uma reflexão que deseja congregar espectador comum, estudantes, profissionais das artes cênicas, da crítica, gestores culturais e pensadores de outras áreas.

O crítico de teatro Valmir Santos, que assina a curadoria destaca que  esta segunda edição absorve o ponto de vista crítico dos artistas. “As obras partem de temáticas urgentes (violências de classe, racismo, misoginia, homofobia, entre outas). E as mesas aprofundam como esse material rente à realidade pode ganhar potência poética. O momento sociopolítico brasileiro atravessa a maioria dos trabalhos”, ressalta.

A mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura (26/09, 20h) inicia a programação com um debate do escritor Marcelino Freire e de Onisajé (Fernanda Julia), diretora fundadora do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas, na Bahia. Com mediação da encenadora, educadora e pesquisadora teatral Verônica Veloso, eles vão tratar da subjetividade que irrompe na manifestação artística carregada de realidades.

O crítico literário, professor e organizador da coleção Plínio Marcos: Obras Teatrais (Funarte, 2016) Alcir Pécora e a atriz Walderez de Barros conversam sobre A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”, na quinta-feira (27/09), às 16h. A mediação é de Valmir Santos. Apontado em algum momento como um autor maldito, Plínio Marcos (1935-1999), foi um dos primeiros a retratar homossexualidade, marginalidade, prostituição e violência com muita crueza em suas peças.

Uma versão de Navalha na Carne, peça de 1968 é apresentada ainda na quinta feira, às 20h. Em Navalha na Carne Negra, o diretor José Fernando Peixoto de Azevedo problematiza o corpo negro e os processos históricos de marginalização social, a partir dos três personagens da peça. A atriz Lucelia Sergio, da Cia Os Crespos (SP), e os atores Raphael Garcia, do Coletivo Negro (SP), e Rodrigo dos Santos, da Cia dos Comuns (RJ), se debatem em cena para questionar quem são esses “marginais” de Plínio Marcos, hoje?

Vivian, Stela e Cecilia participam da mesa

Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal participam da mesa sobre realidade latino-americana

A crítica e pesquisadora teatral, editora e professora cubana Vivian Martínez Tabares, que ministrou o curso Práticas e Tendências da Cena Latino-Americana Contemporânea semana passada na USP, a doutora em artes cênicas e coordenadora do Coletivo Rubro Obsceno Stela Fischer e a psicanalista e atriz que preside o Instituto Augusto Boal, Cecilia Boal integram a mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana

Como conjugar a singularidade estilística e o pensamento crítico da produção artística da América Latina é o mote desse encontro na sexta-feira (28/09), às 16h , mediado por Ilana Goldstein, antropóloga e professora do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Elas vão destacar que as criações artísticas nas mais variadas linguagens – literatura, música, cinema, teatro e artes visuais – têm destaque documental para esses países traumatizados por processos violentos de colonização europeia.

A montagem Jacuzzi, com o grupo cubano Trébol Teatro tem sessões agendadas para os dias dias 28 e 29 (sexta-feira e sábado). Dirigido por Yunior García Aguilera, o espetáculo expõe relatos contraditórios sobre Cuba. O casal Susy e Pepe faz uma festa para despedir-se de Roma e voltar a Havana. O único convidado é Alejandro, melhor amigo de Pepe e ex-namorado de Susy. Entre taças de vinho e a espuma da jacuzzi cada um defende suas posições políticas, sociais e emotivas.

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

A leitura dramática do 1º ato de Bixa Monstra presidenta, da Cia Humbalada de Teatro, ocorre também na sexta-feira, às 23h59. A peça tem influência do texto Gota Dágua, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mídia divulga que o presidente da república tem como amante uma “bicha” prostituta. Isso causa reboliço. O espetáculo, dirigido por Bru César, empreende uma uma crítica ácida, cômica e sentimental ao atual sistema político e ao que toca em questões de gênero e sexualidade. O elenco é formado por 10 atrizes e atores do Grajaú.

O ator, dramaturgo e diretor João Junior, do grupo Estopô Balaio, o diretor, ator e co-fundador da Trupe Olho da Rua, de Santos, Caio Pacheco e a coordenadora de pesquisa do Grupo Caixa de Imagens Mônica Simões vão analisar se projetos arrolados na comunidade criam pontes de cidadania. A mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/ comunitário ocorre no dia 29 (sábado), às 16h.

O diretor José Fernando Peixoto de Azevedo e o ator Rodrigo dos Santos são os convidados da 24ª edição do Encontro com o Espectador, ação em parceria do Teatrojornal – Leituras de Cena e o Itaú Cultural , no domingo (30/09), às 15h. O espetáculo Navalha na Carne Negra é tema do programa com  mediação do crítico Kil Abreu.

A Trupe Lona Preta apresenta O Circo Fubanguinho ainda no domingo, às 19h. Inspirado em charangas, farsas e bufonarias, o espetáculo dirigido por Sergio Carozzi e Joel Carozzi fala de dois palhaços demitidos e expulsos do picadeiro, mas que não medem esforços para voltar à ativa.

Segunda semana

A oficina de Teatro Aspectos Culturais/Religiosos de Matriz Africana para o Processo de Composição de Personagens (inscrições encerradas), ministrada por Hilton Cobra (interpretação), Ana Paula Bouzas (preparação corporal), Valéria Monã (dança afro) e Duda Fonseca (Capoeira) começa no dia 4 de outubro (quinta-feira), às 10h. A proposta é arquitetar com os participantes um repertório de possibilidades (gestuais, movimentos, sabores, paladares, cores, instintos, vestuários, sons, instrumentos etc), relacionados à cultura ancestral de matriz africana, que possam abastecer a criação e construção de personagens.

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar / Divulgação

Também na quinta-feira (04/10), é exibido o show cênico O Avesso do Claustro, às 20h com a Cia. do Tijolo, inspirado na vida e obra de Dom Helder Camara. Os personagens de O Avesso do Claustro (interpretados por Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante e Flávio Barollo, além dos músicos Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, William Guedes e Leandro Goulart) ousam imaginar novos horizontes para esses tempos tenebrosos. No território profano, utópico e poético do teatro se cozinha o alimento da esperança e tonifica o espírito para a batalha. A peça leva ao palco as ideias revolucionárias, as históricas lutas de resistência política durante o regime militar de Dom Helder e ergue uma espécie de vigília coletiva para os dias de hoje. Na ocasião o grupo lança o CD do espetáculo, com os textos e as música apresentadas em cena.
Escrevemos sobre O Avesso do Claustro em:
https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/dom-da-liberdade/
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2016/12/18/peca-sobre-dom-helder-camara
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2017/02/01/no-palco-com-dom-helder/

Sexta-feira (05/10), às 16h, o ator Hilton Cobra, a atriz Naruna Costa e o diretor Rogério Tarifa debatem sobre a Poéticas da Cena Engajada, com mediação do crítico Kil Abreu. O encontro busca abordar a delicada questão dos danos provocados pela sociedade levados à cena, sem estrago da função estética. Os motes sociopolíticos executados no panorama brasileiro contemporâneo, como questões de identidade e de gênero, além dos movimentos antirracismo e em defesa de etnias e pelo feminismo são disparadores dessas reflexões.

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

A Mulher Arrastada, Foto: Regina Peduzzi Protskof ? Divulgação

Em março de 2014, no Rio de Janeiro, Cláudia Silva Ferreira, uma mulher negra, auxiliar de serviços gerais de 38 anos, mãe de quatro filhos biológicos e quatro adotivos foi assassinada pela Polícia Militar ao sair de casa. Seu corpo foi atirado às pressas no camburão da viatura e arrastado ainda com vida pelo tráfego. A peça A Mulher Arrastada é baseada nesse caso real. A dramaturgia é de Diones Camargo, dirigida por Adriane Mottola. O espetáculo convoca a uma repercussão sobre as barbáries cotidianas que a população periférica do país é submetida diariamente e ao apagamento na cobertura jornalística do nome de Cláudia, substituído pela alcunha de “mulher arrastada”. Apresentação no dia 5 de outubro, às 20h.

O sujeito periférico e a luta por políticas públicas é o tema da última mesa desta edição do Crítica em Movimento, que ocorre no dia 6 (sábado), às 16h. Participam da conversa Esther Solano, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Tiaraju Pablo D’Andrea, cientista político e também professor da Unifesp, no Campus Zona Leste/Instituto das Cidades e Alfredo Manevy, gestor cultural e pesquisador em políticas públicas, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A mediação fica por conta de Carlos Gomes, ator e coordenador do Núcleo de Cênicas do Itaú Cultural.

Quando Quebra Queima é uma “dança-luta” coletiva, construída a partir das experiências de 14 estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em São Paulo. É uma montagem da ColetivA Ocupação dirigida por Martha Kiss Perrone. Encerra o programa Crítica em Movimento: Presente com apresentações nos dias 6 e 7 (sábado, às 20h e domingo, às 19h).

PROGRAMAÇÃO

DIA 26 DE SETEMBRO (QUARTA-FEIRA),20h

Mesa Reflexos da vida real na arte e na cultura
Com Marcelino Freire e Onisajé. Mediação de Verônica Veloso.
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

Dia 27 de setembro (quinta-feira),

16h
Mesa A atualidade de Plínio Marcos, “repórter de um tempo mau”
Com Alcir Pécora e Walderez de Barros. Mediação de Valmir Santos
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Navalha na Carne Negra. Foto: Sergio Fernandes / Divulgação

20h
Espetáculo Navalha na Carne Negra
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 50 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Direção Geral e Dispositivo Cênico: José Fernando Peixoto de Azevedo
Atores: Lucelia Sergio, Raphael Garcia e Rodrigo dos Santos
Vídeo: Isabel Praxedes e Flávio Moraes
Iluminação: Denilson Marques
Direção de Arte: Criação Coletiva
Assessoria para o Trabalho Corporal: Tarina Quelho
Programação Visual: Rodrigo Kenan
Produção: corpo rastreado

DIA 28 DE SETEMBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa O gesto artístico e a realidade latino-americana
Com Vivian Martínez Tabares, Stela Fischer e Cecilia Boal. Mediação de Ilana Goldstein
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Jacuzzi. Foto Lázaro Wilson / Divugação

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
FICHA TÉCNICA
Elenco: Yunior García Aguilera, Víctor Garcés Rodríguez e Yanitza Serrano Garrido / Heidy Torres Padilla
Direção: Yunior García Aguilera
Produção e assistência de direção: Dayana Prieto Espinosa

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Bixa Monstra Presidenta. Foto: Denise Eloy / Divulgação

23h59
Sessão maldita – Leitura dramática do 1º Ato: Bixa Monstra presidenta
Com Cia Humbalada de Teatro
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: 18 anos
FICHA TÉCNICA
Direção e Dramaturgia: Bru César
Elenco: Tatiana Monte, Eliane Weinfurter, Rafael Cristiano, Onika Bibiana Soares, Bru César, Paulo Henrique Sant`Anna, Paulo Araújo, Dan Silva, Carlos Lourenço e Samuel Sasso
Figurino: Alene Alves
Assistente de Figurino: Deni Chagas
Cenário: Caio Marinho
Direção Musical: Luciano Antonio Carvalho
Iluminação: Piu Dominó
Produção: Janaína Soares
Assistente de Produção: Amanda Andrade

DIA 29 DE SETEMBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O desafio de concretizar arte no imaginário do espaço público/comunitário
Com João Junior, Caio Pacheco e Mônica Simões
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

20h
Espetáculo Jacuzzi
Com Trébol Teatro (Cuba)
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos

DIA 30 DE SETEMBRO (DOMINGO)

15h
Encontro com o Espectador
Com José Fernando Peixoto de Azevedo e Rodrigo dos Santos, sobre o espetáculo Navalha na Carne Negra. Mediação: Kil Abreu
Sala Vermelha (70 lugares)

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O Circo Fubanguinho. Foto: Lazerum / Easy-Resize.com / Divulgação

19h
Espetáculo O Circo Fubanguinho
Com Trupe Lona Preta
Sala Itaú cultural (200 lugares)
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Direção: Sergio Carozzi e Joel Carozzi
Elenco: Alexandre Matos, Elias Costa, Henrique Alonso, Joel Carozzi, Sergio Carozzi e Wellington Bernado.
Produção: Henrique Alonso, Dona Méris e Xisté Marçal

DIA 4 DE OUTUBRO (QUINTA-FEIRA)

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O Avesso do Claustro. Foto: Alécio César / Divulgação

20h
Show-espetáculo O Avesso do Claustro
Com Cia. do Tijolo
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Direção musical: William Guedes
Dramaturgia: Cia do Tijolo
Atores Cantores: Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Flávio Barollo, Rogério Tarifa e Fabiana Vasconcelos Barbosa
Músicos: Maurício Damasceno, William Guedes, Clara Kok Martins, Eva Figueiredo, Leandro Goulart, Felipe Chacon e Jonathan Silva
Figurinista: Silvana Marcondes
Criação de luz: Laiza Menegassi
Operação de som: Leandro Simões
Fotos de Alécio César
Design gráfico: Fábio Viana

DIA 5 DE OUTUBRO (SEXTA-FEIRA)

16h
Mesa Poéticas da Cena Engajada
Com Hilton Cobra, Naruna Costa e Rogério Tarifa. Mediação de Kil Abreu.
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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A Mulher Arrastada. Foto: Regina Peduzzi Protskof / Divulgação

20h
Espetáculo A Mulher Arrastada
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  50 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA
Texto: Diones Camargo
Direção: Adriane Mottola
Elenco: Celina Alcântara e Pedro Nambuco
Trilha Sonora Original: Felipe Zancanaro
Iluminação: Ricardo Vivian
Cenografia: Isabel Ramil e Zoé Degani
Figurinos: criação coletiva
Fotos de Divulgação: Regina Peduzzi Protskof
Textos de divulgação / mídias digitais: Diones Camargo
Arte Gráfica: Jessica Barbosa
Produção estreia / temporadas: Diones Camargo e Regina Peduzzi Protskof
Produção circulação / festivais: Luísa Barros
Realização: Diones Camargo e LA PhOTO Galeria e Espaço Cultural
Apoio: Cia. Stravaganza e UTA – Usina do Trabalho do Ator

DIA 6 DE OUTUBRO (SÁBADO)

16h
Mesa O sujeito periférico e a luta por políticas públicas
Com Esther Solano, Tiaraju Pablo D’Andrea e Alfredo Manevy. Mediação de Carlos Gomes
Sala Vermelha (60 lugares)
Duração: 120 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

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Quando Quebra Queima. Foto: Mayra Azzi / Divulgação

20h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração:  100 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA
Criação e Performance: Abraão Santos, Alicia Esteves, Alvim Silva, André Dias de Oliveira, Ariane Fachinetto, Beatriz Camelo, Gabriela Fernandes, Heitor de Andrade, Ícaro Pio, Letícia Karen, Marcela Jesus, Matheus Maciel, Mayara Baptista e Mel Oliveira
Direção: Martha Kiss Perrone
Dramaturgia: Coletiva Ocupação
Vídeo: Martha Kiss Perrone, Alicia Esteves e Fernando Coster
Fotos durante a peça: Alicia Esteves
Figurino: Coletiva Ocupação / Lu Mugayar
Iluminação: Alessandra Domingues
Preparação Corporal: Martha Kiss Perrone/ Natália Mendonça
Produção: ColetivA Ocupação/Otávio Bontempo

DIA 7 DE OUTUBRO (DOMINGO)

19h
Espetáculo Quando Quebra Queima
Com ColetivA Ocupação
Sala Multiúso (70 lugares)
Duração: 100 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Toda a programação tem interpretação em Libras
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: 1 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência

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Cadengue deixa um vazio imenso no teatro

Encenador pernambuco estava remontando espetáculo Em Nome do Desejo. Foto: Reprodução do Facebook

Encenador pernambuco estava remontando espetáculo Em Nome do Desejo. Foto: Reprodução do Facebook

Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
                                                 Calderón de La Barca

Antonio Edson Cadengue, um dos mais intensos encenadores brasileiros, morreu na madrugada desta quarta-feira (1). De forma súbita. Assim, de repente, como a morte chega e arrebata quem está muito ocupado com sua arte. O diretor, escritor e professor Cadengue preparava a nova montagem de Em Nome do Desejo, a partir da obra de João Silvério Trevisan. No fim de semana exibiu o primeiro ensaio aberto para o dramaturgo e passearam pelas praias de Pernambuco. Parecia feliz em levar de volta aos palcos seu maior sucesso, da década de 1990.

O que é a vida?, pergunta Calderón. Sabemos pouco. Antonio Edson deixa um vazio imenso e isso não é força de expressão. É real. A paixão pelo teatro exalava por seus poros; os olhos brilhavam. E como todo amante defendia sua arte com toda a força. Discordava, brigava. Nunca foi uma unanimidade. Colecionou afetos e alguns desafetos. Viveu profundamente as emoções, que articulava para os palcos.

Cadengue faleceu às 3h30, aos 64 anos. Levou uma queda em casa. Coisa que pode acontecer a qualquer um. Um acidente doméstico. Foi internado na unidade médica do Hospital Hapvida, no Recife. Complicou e chegou a óbito. “Infarto agudo secundário a uma arteriosclerose coronariana, que levou a um edema agudo do pulmão” é o que diz o laudo oficial como causa da morte.

O Teatro Valdemar de Oliveira será o palco para as despedidas, a partir das 8h de quinta (2). É uma merecida homenagem, já que o pesquisador escreveu sua tese de doutorado sobre o Teatro de Amadores de Pernambuco – TAP, do qual o Teatro Valdemar de Oliveira é sede. No livro ele avalia cinco décadas da história do longevo grupo teatral recifense. O trabalho foi publicado em dois volumes pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

O sepultamento será no Cemitério de Santo Amaro, às 15h desta quinta-feira.

Antônio Cadengue nasceu em Lajedo, no Agreste de Pernambuco. Foi um dos fundadores da Companhia Práxis Dramática, nos anos 1970, e criou no início da década de 1990 a Companhia Teatro de Seraphim.

Montou clássicos, como Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, muitas peças de Nelson Rodrigues – Toda Nudez Será Castigada, Senhora dos Afogados, Viúva, Porém Honesta e Doroteia e textos contemporâneos como os de Luís Reis: A filha do teatro, A morte do artista popular e Puro lixo, o espetáculo mais vibrante da cidade e de Aimar Labaki: Vestígios.

Mas qualquer palavra, essas palavras, tudo isso é muito pouco para falar de um artista tão brilhante, quer se goste ou não da arte que ele fazia. Ele deixa um vazio imenso. O teatro pernambucano está de luto.

Abaixo, um vídeo com um trecho da peça A Morte do Artista Popular, o merengue do Cadengue. Siga na luz.

 

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Peça reconstrói assassinato de João Pessoa

05022016-Antonio_David_104O dramaturgo e diretor do espetáculo De João Para João não compactua com a ideia de que a professora e poeta Anayde Beiriz tenha sido o pivô do estopim da Revolução de 1930, tese defendida por alguns historiadores. A montagem paraibana que faz única apresentação no Teatro de Santa Isabel, no próximo sábado dia 6 de maio, aponta como a mídia incendiou os ânimos já acirrados entre os adversários paraibanos. A peça é construída levando em conta o ponto de vista do assassino. A ação ocorre na tarde do dia 26 de Julho, na confeitaria Glória, no centro do Recife.

Na versão oficial mais oficial do episódio, João Pessoa, da Aliança Liberal, governante da Paraíba e candidato à vice-presidência da República na chapa de Getúlio Vargas, foi assassinado por questões políticas pelo advogado João Dantas, afilhado do principal dirigente do Partido Republicano da Paraíba, o coronel Zé Pereira. A historiografia transformou João Pessoa em herói, Dantas em vilão e Anayde foi apagada do mapa (ou demonizada) por muito tempo.

Eram muitos interesses nesse jogo de poder dos dois partidos. O grupo de João Dantas é apontado como arcaico na defesa dos  negócios tradicionais de latifundiários e comerciantes do Sertão da Paraíba e de Recife. Grupos que recebiam os benefícios da  política do café-com-leite, do governo federal. Os defensores da Aliança Liberal são tidos como os que anunciavam mudanças.

Mas os conflitos se dão no campo oligárquico, com autoritarismo de lado a lado e esferas pública e privada entrelaçadas. Entre as ações truculentas estão invasões a territórios particulares. Um ataque à fazenda da família de João Dantas, com ameaças de morte. A casa do advoga também é violada pela polícia, que confisca os diários íntimos e poesias do casal, além das fotos de nudez de Anayde  para expor publicamente na delegacia.

Por sua vez, João Dantas publicou no Jornal do Comércio, do Recife, um texto com o título Às Voltas com um Doido, com acusações ao governante João Pessoa. A carta é uma dos principais documentos de inspiração da peça de Tarcísio Pereira, que atua ao lado de Flávio Melo.

No cinema a atitude de Anayde ganhou protagonismo no filme Parayba, mulher macho (1983), da cineasta brasileira Tizuka Yamazaki, que é baseado em documentos históricos e no livro no livro Anayde Beiriz, paixão e morte na revolução de 30, de autoria de José Joffily. Anayde é apresentada como uma jovem de ideias libertárias, inconformada com os costumes da sociedade brasileira na década de 1920. Essa obra deixa a  o confronto político entre a Aliança Liberal e o Partido Republicano, como pano de fundo. Tizuka defende em sua obra que a motivação do assassinato foi essencialmente de ordem passional.

Na entrevista abaixo, Tarcísio Pereira fala sobre a pesquisa realizada para a montagem do espetáculo De João Para João, as opções dramatúrgicas para construir cenicamente esse episódio que teve o Recife como cenário, mudou a história do Brasil e desencadeou a chamada Revolução de 1930.

Entrevista: Tarcísio Pereira, dramaturgo e diretor

Tarcísio Pereira, dramaturgo e diretor

Tarcísio Pereira é autor, diretor e ator da peça De João para João. Foto: Reprodução do Facebook

De João para João. O que propõe o espetáculo?
Recontar uma história que abalou a estrutura política deste país há 87 anos, buscando lançar um novo ângulo de visão em torno de um episódio que divide opiniões até hoje. Colocamos o teatro como plataforma de reflexão em torno de fatos ocasionados pela influência da mídia. Recontamos os últimos instantes de um crime sob o ponto de vista do assassino – colocando em cena, pela primeira vez, o vilão e a vítima que entraram para a história do nosso país, num fato ocorrido na cidade do Recife. Além disso, procuramos desenvolver uma experiência cênica sob o foco de uma tragédia nacional que tem levado a diversas interpretações, utilizando o testemunho pessoal de um homem que mudou a história de um estado brasileiro e que redundou numa tomada de poder no âmbito nacional.

A partir da sua pesquisa, o que o senhor conclui sobre a participação da poeta Anayde Beiriz nesse episódio?
Anayde foi inocente em toda essa história, embora tenha se tornado uma grande mártir como consequência desse assassinato. Essa história teve muitos mártires, começando pelo próprio João Pessoa. Depois, o assassino foi também um mártir, pela forma brutal como foi assassinado na prisão, na época a Casa de Detenção no Recife, quando as forças “revolucionárias” de Getúlio (Vargas) tomaram a Presidência da República. Outro mártir, na sequência, foi João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna, que era deputado federal e levou um tiro nas costas, numa rua do Rio de Janeiro. Ele tinha governado a Paraíba antes de João Pessoa, eram aliados e acabou virando adversário. Além de outras famílias e lideranças políticas na Paraíba que eram adversários de João Pessoa.
Mas voltando a Anayde, para mim foi a maior vítima – uma mulher que, ao que parece, não tinha muito envolvimento político e que pagou pelo fato de ser a namorada do assassino de João Pessoa. Ela não suportou a pressão na capital paraibana, sendo chamada de “amante” ou “putinha” de João Dantas e teve que se exilar no Recife num instituto de freiras, onde acabou tomando veneno. Hoje, Anayde é uma mulher reverenciada na Paraíba, tem até escola e conjunto residencial com o nome dela. Mas durante uns trintas anos ela foi um tanto amaldiçoada na própria terra, mesmo depois de morta. Para se ter uma ideia, nenhuma criança que nascesse do sexo feminino podia ser batizada com o nome de Anayde.

Em linhas gerais, o que foi publicado no jornal A União, sobre a correspondência íntima entre João Dantas e Anayde?
Há uma confusão sobre esse fato. Na verdade, a correspondência íntima nunca foi publicada no jornal A União. O jornal oficial apenas noticiou que foram encontradas cartas “comprometedoras” de João Dantas, quando invadiram a casa e o escritório dele. E todo esse material ficou exposto numa das dependências do jornal para quem quisesse ver. O jornal apenas divulgou que o mural estava disponível à visitação, mas não chegou a publicar as cartas propriamente.

O que o senhor diria sobre o filme Parahyba Mulher Macho.
Gosto imensamente desse filme da Tizuka Yamasaki. Muito, muito mesmo. Mas falo enquanto realização fílmica, enquanto obra da nossa cinematografia. Do ponto de vista histórico, particularmente de alguns aspectos abordados na película, eu tenho alguns questionamentos, principalmente em relação à figura de Anayde Beiriz, que o filme apresenta de uma maneira como eu não tenho encontrado em toda a pesquisa que fiz. Mas isso é um detalhe e apenas um ponto de vista meu, não falo como um defeito. Além do mais, talvez o filme não tenha tido o propósito de ser tão fiel assim à história, o que é uma opção e não um problema. Mas, no geral, é um filme bonito e emocionante, muito bem feito e que também integrou a minha fonte de pesquisa para realizar o espetáculo De João para João.

                                          “A encenação é mais simples e direta porque                                                                                    teve esse propósito de focar na palavra                                                                                            e na força da interpretação”

Quais os motivos que o senhor atribui à posição histórica de herói que ostenta a figura de João Pessoa?
O assassinato, por si só (pela formal como aconteceu), já foi algo que causou comoção e contribuiu para a construção desse mito. Mas, além disso, a forma como João Pessoa governou a Paraíba, num momento em que os coronéis davam as cartas, acabou colocando-o como aquele administrador que teve coragem de quebrar os velhos vícios da política de caudilhos. Quando João Pessoa veio do Rio para governar a Paraíba, disse que ia dar uma “vassourada”, e realmente fez. Não sei com que intenção, mas realmente foi um administrador de coragem, organizou as finanças do estado em pouco tempo, colocou a folha dos funcionários em dia (que estava com meses de atraso), e passou a cobrar imposto dos coronéis do Sertão, os quais costumavam exportar o algodão pelas fronteiras com Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. João Pessoa criou uma guerra tributária com a presença intensa do Fisco nas fronteiras, cobrando pedágios até de carroça de burro. Com isso, ele ganhou muita popularidade. Depois, ele teve também a coragem de negar apoio ao presidente da República na campanha presidencial, a ponto de figurar como candidato a vice na chapa de Getúlio Vargas. O tal “Nego”, que ganhou tanta repercussão, também contribuiu para essa popularidade. Depois veio o seu assassinato e, no rastro de tudo isso, a figura de herói. Mas era um homem muito difícil também, de temperamento forte e intransigente.

Qual o teor da carta Às Voltas com um Doido, publicada pelo advogado João Duarte Dantas, no Jornal do Comercio, do Recife?
É uma carta muito, muito violenta. Escrita com muito ódio por quem se sentia perseguido pelo governo. João Dantas traz muitas denúncias nessa carta, questionando a fortuna de João Pessoa e acusando-o, inclusive, de ter tentado matar o pai por duas vezes. Como bem diz o título do artigo publicado (que na verdade era uma carta ao governante paraibano), ele trata João Pessoa como “Doido”. Imagino que João Pessoa deve ter sofrido horrores quando leu esse texto no jornal do Comércio. Por coincidência, dias depois veio a invasão da casa de João Dantas, num momento que este se encontrava em Olinda e se aproveitaram da ausência dele. E depois dessa invasão, veio o crime. Ou seja: uma retaliação atrás da outra, que culminou numa grande tragédia.

Afinal, o assassinato de João Pessoa foi um crime político? Por quê?
Creio que a motivação foi pessoal, por conta da invasão da casa dele. Mas tudo isso tendo a política como pano de fundo. João Pessoa estava no meio de uma guerra com o coronel Zé Pereira, do município de Princesa Isabel, e João Dantas vinha atuando em favor de Zé Pereira, de quem era aliado. Ou seja: João Dantas, pelos jornais, atacava o governo o tempo inteiro devido às medidas duras de João Pessoa, e os artigos dele sempre faz referências à “Guerra de Princesa”. Isso levou a uma situação que extrapolou a seara política e entrou no campo pessoal. Então esse crime foi político e pessoal ao mesmo tempo, uma mistura das duas coisas.

                                       “Outro mártir, na sequência, foi João Suassuna,                                                                              pai do escritor Ariano Suassuna, que era deputado                                                                        federal e levou um tiro nas costas, numa rua do Rio de Janeiro”

Como o senhor situa a encenação? Utiliza os procedimentos convencionais?
Temos uma linguagem que vai da estética convencional ao experimentalismo cênico. Utilizamos elementos que dialogam com a simbologia e aquela forma tradicional do gabinete. Aliás, diria que este último fator tem mais predominância, isso em virtude da própria narrativa e do nosso cuidado com o público alvo. O texto é como um roteiro cinematográfico, que joga com a ação presente e a fantasia numa fusão de tempos alternados. Mas a encenação é mais simples e direta porque teve esse propósito de focar na palavra e na força da interpretação, pois estamos tratando de uma história real que geralmente atrai um público curioso por aquela história e não para ver uma experiência cênica. De toda forma, é um espetáculo que tem agradado aos dois tipos de público.

Quais os principais trunfos da montagem?
Talvez eu seja suspeito para apontar dois trunfos que passam diretamente pelo meu trabalho, mas é como posso avaliar. O primeiro deles está na dramaturgia, por ser um texto de cunho histórico, detalhadamente pesquisado, como uma força dramática que se sustenta do início ao fim, segurando o fôlego dos espectadores. O outro trunfo está na interpretação, são apenas dois atores em cena que não deixam a peteca cair em nenhum momento. E não sou eu que digo, é o público e a crítica que têm nos visto. Atores e texto são os dois grandes trunfos desse espetáculo.

Que aproximações que o senhor faz entre o clima da década de 1930 e os dias atuais?
Tudo a ver. Guardadas, claro, as diferenças entre os acontecimentos, mas o código dramático é o mesmo, o que mostra que a história sempre se repete com capítulos novos. Hoje temos uma situação política instável no Brasil, de muito descrédito e em que se questiona lisuras e procedimentos administrativos. Tínhamos uma presidente que foi banida do poder e um atual administrador que é tido por muitos como golpista ou usurpador, essas coisas… A política de 1930 passava por questionamentos como esses. Houve um presidente que foi banido do poder (Washington Luís), e um que havia sido eleito e não chegou a assumir (Júlio Prestes), quando Getúlio assumiu no lugar dele, embora tenha sido o segundo colocado nas urnas… E essas mudanças aconteceram por causa da morte de João Pessoa. Como João Pessoa tinha sido o vice na chapa de Getúlio, usaram o cadáver dele para comover o Brasil e Getúlio tomou a faixa presidencial. Além disso, todo um clima de instabilidade econômica e mudanças nas leis ocorreram naquele momento. Então o sentimento coletivo é o mesmo dos dias de hoje.

Peça trata de

Qual o papel da imprensa nisso tudo?
Tudo aconteceu por causa da imprensa, é como eu interpreto. Havia uma guerra de mídias entre órgãos de comunicação que pertenciam a facções diferentes. O jornal A União, na capital paraibana, atacava a honra pessoal de João Dantas e este, para não deixar por menos, respondia num jornal pernambucano que era ligado aos Pessoa de Queiroz (por sinal primos de João Pessoa, que mesmo sendo primos eram inimigos dele). Então essa guerra extrapolava os limites da ética, o que era bem comum naquela ocasião. A peça reproduz muitos trechos das notas e artigos publicados na época, um contra o outro, o que ajuda o espectador a tirar uma conclusão sobre as razões dessa tragédia.

O que o senhor diria para atrair um possível espectador para sair de casa e ir até o Teatro de Santa Isabel no dia 6 de maio?
Antes de falar para esse espectador, eu digo o que nós, do grupo, temos conversado sobre o tipo de reação do público recifense. A gente quer ter esse termômetro aqui por uma razão simples: toda a história se passa no Recife; Recife foi o cenário da tragédia política. O núcleo central da ação está na Confeitaria Glória, local em que o crime aconteceu e que ficava na Rua Nova, centro da capital pernambucana. Eu diria isso para o espectador da cidade: nosso espetáculo traz um fato histórico do Recife e não apenas da Paraíba. Os personagens são dois paraibanos, mas o episódio foi no Recife e a cidade está devidamente retratada no espetáculo, concebido e desenvolvido com uma pesquisa rica de detalhes sobre aquele período, o que certamente vai revelar muita coisa que o pernambucano ainda não sabe, principalmente as novas gerações.

SERVIÇO

De João Para João
Quando: 06/05/17, Sábado, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Ingressos: Inteira R$ 40,00 e meia-entrada R$ 20,00.

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Morrer de amor: sobre família e ignorâncias

Morrer de amor. Foto: Lígia Jardim

Morrer de amor. Foto: Lígia Jardim

“(…) extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada,
e nada mais”
Paulo Leminski

As paredes da casa estão impregnadas de história. Sabe aqueles segredos não revelados por anos? Os assuntos escondidos? As conversas que não chegaram nem a acontecer? Em Morrer de amor, segundo ato inevitável: morrer, da Fundación La Maldita Vanidad Teatro, da Colômbia, despontam as dores advindas de relações que se deixaram empalidecer pelo tempo, pela falta de liberdade de nos mostrarmos como somos.

A encenação proposta pelo colombiano Jorge Hugo Marín nos leva a observar de perto os sentimentos e conflitos que se instauram durante o velório de Luís (Miguel González). Estamos ali, sentados na sala da casa onde familiares choram o morto. Somos/estamos cúmplices da encenação. A carga semântica implícita ao local torna-se um dos elementos da teatralidade nessa escritura cênica. Não adiantaria estar dentro de uma casa, do ponto de vista estético, se não houvesse uma apropriação do potencial simbólico do lugar, o que possibilita ao espectador uma mudança de perspectiva da cena. O jovem grupo colombiano, formado há cinco anos e que já tem pelo menos sete montagens no repertório, realmente se empodera da materialidade espacial da encenação. O caixão no meio da sala, como nos velórios de antigamente ou nas casas pelo interior do país, permite que estejamos diante de conflitos familiares que não conseguem permanecer incólumes, mesmo diante da morte.

Espetáculo é realizado dentro de uma casa

Espetáculo é realizado dentro de uma casa

A dramaturgia assinada pelo diretor Jorge Hugo Marín trata de questões arraigadas na cultura não só da Colômbia, mas de toda a América Latina, principalmente posições de intolerância e ignorância diante das diferenças. Muitos jovens homossexuais ainda sofrem sim todo tipo de preconceitos e violência, dentro e fora de casa. Não podemos esquecer o contexto em que estamos inseridos. No Brasil, em 2015, ainda precisamos de uma comissão especial na Câmara dos Deputados para discutir se o conceito de família pode estar restrito à união entre um homem e uma mulher, como prega o Estatuto da Família, projeto de lei proposto pelo deputado pernambucano Anderson Ferreira. Uma lei que desconsidera as relações homoafetivas e ainda veta a adoção de crianças por casais gays.

Como montagem que opta pelo caminho do realismo, Morrer de amor traz atuações que transitam por um limite tênue. Por muito pouco, as interpretações poderiam soar over, exageradas e aí perder a relação com a realidade proposta pela encenação. O que não permite que isso aconteça é o talento dos atores e da direção, aliado à clareza de possibilidades e de compreensão da cena, inclusive a partir da dramaturgia. O texto serve ao propósito de revelar o cotidiano de uma família classe média baixa que não sabe lidar com os seus conflitos. Se todos os atores conseguem trabalhar no mesmo diapasão, um dos destaques é a atriz Juanita Cetina, intérprete da jovem Olga, que foi namorada de Luís (Miguel González) na infância. As oscilações na voz, o medo no olhar, os trejeitos assumidos pela personagem levam muitas vezes a plateia ao riso ou à impaciência diante da ingenuidade.

Morrer de amor nos leva à certeza de que, se não podemos extinguir todo remorso, como propõe o poema Bem no fundo, de Paulo Leminski, é melhor encarar as fissuras causadas pelas ações, ausências e omissões. Como plateia, sentimos não só o morto da família. Choramos não só a ficção. O que lamentamos mesmo é a realidade de Morrer de amor.

Montagem colombiana trata de temas como preconceito

Montagem colombiana trata de temas como preconceito

 

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O aquário absurdo e a profusão de imagens no Woyzeck de Andriy Zholdak

Woyzeck. Foto: Lígia Jardim

Woyzeck. Foto: Lígia Jardim

Enquanto a Ucrânia amarga uma situação de guerra, com 5,2 milhões de pessoas morando em áreas de conflito, o diretor ucraniano Andriy Zholdak, radicado na Alemanha, apresenta um Woyzeck em estado de tensão permanente. Uma sociedade presa dentro de um aquário transparente, que se movimenta em espaços circunscritos e delimitados. Podem ser todos ratos de laboratório ou coelhos, ou simplesmente homens animalizados, acorrentados a situações de dominação e fatalidade.

Assim como o próprio texto do alemão Georg Büchner, a performance midiática proposta pelo diretor ucraniano tem caráter político. A questão no primeiro plano continua sendo o desamparo e as relações de poder num mundo absurdo; no caso da encenação, especificamente, em diversas instâncias: desde as referências mais diretas e facilmente assimiláveis, com imagens que ressaltam a desigualdade social e a citação de que “somos 15 milhões de pobres”, o imperialismo, o militarismo, a globalização, até disputas internas que se dão noutras instâncias, como no campo da própria teatralidade.

Patrice Pavis já dizia no livro A encenação contemporânea que, na concorrência entre a imagem fílmica e o corpo real do ator, não é necessariamente esse último que ganha. No caso do Woyzeck proposto por Zholdak podemos dizer que o que se instaura é uma desorientação (propositada, obviamente) espacial do espectador. Desde o inicio, quando passamos por uma antessala e nos deparamos com a visceralidade da atuação dos performers em deliberada anarquia, até estabelecermos uma relação de frontalidade com o espetáculo, percebemos que o que se revela é uma instalação visual e sonora. O diretor bebe nos campos de várias linguagens, música, cinema, artes visuais, para compor um espetáculo que não se deixa enquadrar por um elemento sobrepujante de condução. Pode ser facilmente estudo de caso da teoria do teatro pós-dramático do alemão Hans-Thies Lehmann.

Cenas acontecem também dentro de aquários

Cenas acontecem também dentro de aquários

Direção é do ucraniano Andriy Zholdak

Direção é do ucraniano Andriy Zholdak

A fricção entre os vários componentes dessa ópera caótica nos deixa inicialmente aturdidos. As camadas vão se sobrepondo a cada instante com signos que não serão compreendidos em sua totalidade. Nem essa é, de maneira alguma, a intenção do diretor, que assina ainda roteiro dramático e coreografia. Assim como os atores, estamos nadando em aquários, perdidos na profusão das imagens que nos remetem a um mundo de seres absurdos no ano de 2108, seja em alguma grande metrópole ou numa nave espacial com destino a Saturno. De qualquer maneira, assim como acontece no palco, somos levados a recorrer a uma edição de imagens, de texto, de expressões e sonoridades, mesmo que, no espectador, os significados possam ser depurados muito tempo depois.

O texto de Büchner, com sua fragmentação de dramaturgia, um “drama de farrapos”, como pontua Anatol Rosenfeld, é um aliado na construção da engenhosa teatralidade de Zholdak. Sobre o texto, Anatol Rosenfeld complementa: “É um fragmento; mas é uma obra que só como fragmento poderia completar-se. Ela cumpre a sua lei específica de composição pela sucessão descontínua de cenas sem encadeamento causal. (…) Tal fato desfaz a perspectiva temporal; boa parte das cenas pode ser deslocada, a primeira cena não é mais distante do fim do que a sétima ou a décima-quarta”.

A escritura cênica no campo visual encontra reverberação no corpo do ator, submetido a uma experiência rigorosa. O caos é orquestrado e coreografo em minuciosos detalhes pelo diretor. Se a escritura cênica é marcada pelo excesso e pela profusão e multiplicidade de imagens, o efeito que isso tudo produz na plateia, no entanto, é de muito distanciamento ao final das duas horas de sessão. Como se toda frieza das relações em cena também fosse transposta para o espectador. A tentativa de humanizar aqueles seres se mostra vã. Os limites do aquário, mesmo que invisíveis, não são rompidos ainda que a cena aconteça no telhado, numa possibilidade frustrada de expansão. Quando, ao final de contas, tenta-se falar de amor, não há laços construídos que se encaixem em padrões a que estejamos minimamente familiarizados. O único ponto de conexão com alguma delicadeza possível é a criança; a esperança remota de que, em 2108, o mundo de Zholdak não esteja definitivamente instaurado em sua totalidade.

Criança participa de encenação

Criança participa de encenação

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