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Finalmente, o Funcultura!

Depois de muito atraso e expectativa, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) anunciou que será divulgado nesta sexta-feira (19) o resultado do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). A lista vai ser publicada no Diário Oficial e no site da Fundarpe.

De acordo com os números da Fundarpe, 898 projetos foram habilitados para a fase de seleção, nas áreas de Artes Cênicas (Teatro, Dança, Circo e Ópera); Fotografia; Literatura; Música; Artes Plásticas, Gráficas e Congêneres; Cultura Popular, Artesanato e Folclore; Patrimônio; Gastronomia; Artes Integradas e Formação e Pesquisa Cultural.

O Funcultura anterior foi divulgado há exatamente um ano – no dia 21 de outubro de 2011 – e aprovou 18 projetos de teatro (além daqueles que estavam enquadrados em outras categorias, como artes integradas) num montante de R$1.460.587,65.

Na época, Fernando Duarte, secretário de Cultura de Pernambuco tentou se justificar – e deu um prazo que, mais uma vez, não foi cumprido: “Diferentemente do ano passado (2010), enfrentamos uma fase de transição, de montagem da equipe da secretaria, mas nossa intenção é fazer o Funcultura anualmente e tentar concluí-lo até maio”.

Na solidão dos campos de algodão foi um dos projetos que recebeu incentivo do Funcultura

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To the light

Outro lado, montagem do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum. Foto: Pollyanna Diniz

“É muito triste quando não se morre depois da morte”. Quando tudo antes já tem tons de cinza e a liberdade é uma ilusão. Quando perdemos a noção de há quanto tempo estamos presos. Em nós mesmos? Tentando resolver os nosso cubos mágicos? Algum dia terão solução? Precisam de solução? Porque é esta a realidade a que estamos ligados? Afinal, as combinações matemáticas são infinitas. A montagem Outro lado, do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, é assim. Repleta de questionamentos contemporâneos, de agonias e desesperos de um ser aprisionado, que aguarda o tempo passar, algo mudar.

Lembrei do trecho de um texto de Ítalo Calvino. Foi exatamente assim que a peça reverberou em mim: “Palavras que me fazem refletir. Porque não sou um cultor da divagação; poderia dizer que prefiro ater-me à linha reta, na esperança de que ela prossiga até o infinito e me torne inalcansável. Prefiro calcular demoradamente minha trajetória de fuga, esperando poder lançar-me como uma flecha e desaparecer no horizonte. Ou ainda, se esbarrar com demasiados obstáculos no caminho, calcular a série de segmentos retilíneos que me conduzam para fora do labirinto no mais breve espaço de tempo. Desde a juventude, já havia escolhido por divisa a velha máxima latina Festina lente, ‘apressa-te lentamente’.”

Peça foi encenada semana passada, durante o Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, organizado pelo Magiluth

Na montagem, quatro pessoas (Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria) estão enclausuradas num lugar. Já foi um bar. E todas as noites eles aguardam (ou não? será que acreditam?) que o público venha, se acomode nas cadeiras e a cantora possa, finalmente, depois de dois anos de espera, estrear o seu novo show com músicas de Nina Simone.

Grupo esteve no Recife pela primeira vez

Parece um labirinto. Como a instalação To the light, que Yoko Ono montou na Serpetine Gallery, em Londres, em junho deste ano. Com a diferença de que lá havia luz; mesmo que a saída fosse incerta. E em Outro lado as esperanças vão minguando aos poucos e o medo do que está por vir pode aterrorizar. Porque quem saiu ainda não voltou? O medo engessa. Até provoca lembranças, memórias, questionamentos. Mas engessa de uma tal forma…

Outro lado é fruto de um trabalho de criação coletiva. O texto é de Assis Benevenuto e Marcos Coletta – com interferência dos outros atores que compõem o grupo. E a direção é assinada pelos quatro integrantes. Todos estão bem em cena – embora o trabalho de Ítalo Laureano seja o destaque. A iluminação da peça, criada por Marina Arthuzzi, nos traz o clima de penumbra; e é capaz de compor lindas imagens com o cenário de Daniel Herthel. Os ventiladores no palco são tão simples – e tão poeticamente belos.

Direção do espetáculo foi coletiva

Ficha técnica
Outro lado, do grupo Quatroloscinco – Teatro do comum
Direção e atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria
Texto: Assis Benevenuto e Marcos Coletta
Figurino: Paolo Mandatti
Criação de luz: Mariana Arthuzzi
Operação de luz: Mariana Arthuzzi e Maria Mourão
Criação de cenário: Daniel Herthel
Assistente de cenotécnica: Wallace Colibri
Trilha sonora original: Marcos Coletta
Arranjo e assistência musical: Sérgio Andrade
Oficina em Feldenkrais e direção de movimento: Jimena Castiglioni
Design Gráfico: Marcos Coletta
Produção: Maria Mourão

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Santos Fofos*

* POR TAY LOPEZ

Terra de Santo, novo espetáculo dos Fofos Encenam, estreia hoje no Sesc Belenzinho. Foto: João Caldas

A querida Yolanda Pollyanna Diniz me deu uma tarefa: escrever algo sobre a estreia do espetáculo Terra de Santo aqui em São Paulo. A primeira resposta foi negativa, pois não sou jornalista, não sou crítico e tenho um afeto muito grande pelos integrantes do grupo Os Fofos Encenam. Portanto, não gostaria de ser leviano com artistas que tanto admiro. Resultado: assisti ao espetáculo, e cá estou eu escrevendo algumas singelas palavras a respeito das emoções que a peça me provocou.

“Nos teus olhos eu vi o mundo inteiro Jesuíno.” É através desta frase que noto estar completamente mergulhado nas palavras de Newton Moreno e percebo-me num local onde só a arte é capaz de nos colocar. Aquele espaço de encantamento e poesia onde nos encontramos com nós mesmos. Logo no começo do espetáculo, somos convidados a entrar no alojamento de um grupo de cortadores de cana e, aos poucos, vamos percebendo o entorno: um radinho sintonizado numa transmissora local, mesas, uma pequena cozinha, um telefone público, um beliche, um grande telhado sobre nossas cabeças e objetos pessoais dispostos como num set de cinema, onde os personagens vão surgindo e fazendo valer toda aquela cenografia detalhista.

O público continua apenas como observador e assim vamos acompanhando a história contada como se estivéssemos mortos num espaço cheio de vida pulsante. Sinto-me assim, pois não existe uma relação direta de interação. Apesar de estarmos muito próximos dos atores, somos invisíveis.

A personagem responsável por nos colocar em contato com um fio de história, que começa a fisgar o espectador através de um anzol bastante carismático é Mariene (Kátia Daher). Com um humor sutil de figuras populares que habitam o universo dos canaviais nos envolvemos no enredo.

Dramaturgia é de Newton Moreno

De acordo com a sinopse, um grupo de mulheres ocupa terras de uma usina canavieira, alegando que é uma propriedade dada em cartório a um santo, espaço sagrado, onde rituais são realizados. A essas terras destinadas à cana elas nomeiam como ‘terra de santo’. As máquinas aproximam-se, mas elas, guardiães do lugar, não deixam as terras. Esse é o eixo principal da peça, e a partir dele se dá uma viagem poética e uma conversa com ‘mortos da sociedade da cana’, outras famílias e etnias e suas histórias de resistência ou rompimentos com espaços sagrados, tradições e fé.

Atravessamos uma porta e vamos para um “quintal”, onde a partir de agora, não me sinto mais como um morto que passa desapercebido. Somos olhados diretamente nos olhos e nos sentimos cheios de bençãos pelas figuras que nos recebem na cena. São quatro Santeiras (Carol Brada, Cris Rocha, Erica Montanheiro e Simone Evaristo). Pegam em nossas mãos e nos conduzem para a acomodação em torno do tablado que se apresenta em nossa frente. A Terra de Santo. Fica para trás a ambiência de um espaço coloquial e agora nos encontramos num cenário com cheiros, cânticos místicos, penumbras e luz de velas, típicas de um templo sagrado. Nesse templo, as Santeiras vão, ora representando, ora incorporando, ora apenas nos apresentando a história de seus antepassados a partir dos mortos que fazem, solenemente, ressurgir no espaço. Um passeio, através dos séculos, pela brasilidade que hoje conhecemos, apresentadas como um panorama sacro/social das histórias contadas por índios, judeus, cristãos e negros. História que nos chega aos olhos pela bela proposição de encenação dos diretores Newton Moreno e Fernando Neves.

São essas mães, as Santeiras, responsáveis por nos nos colocar diretamente em contato com nossa própria ancestralidade, formação social, econômica e religiosa. Um espetacular retrato histórico e filosófico do Brasil muito bem alinhavado por um dramaturgo que dispensa elogios. Surgem então metáforas que nos obrigam a ver o mundo através de nossos próprios olhos e que também nos fazem percorrer os labirintos de nosso pensamento em forma de sinapses constantes que trazem à tona as nossas memórias pessoais e despertam um confronto direto com o que hoje chamamos de homem contemporâneo.

Se me percebo um morto invisível no primeiro movimento do espetáculo, me percebo um morto com voz no segundo e ao blackout final resta a pergunta: onde está a minha terra sagrada e o que fazer para que ela não seja destruída? Sim. As reflexões políticas propostas pelo poético espetáculo do grupo de teatro Os Fofos Encenam me põem em contato com algo mais amplo do que a contemplação de uma trajetória épica/trágica de um personagem em busca de sua completude. Terra de Santo nos provoca um dilatar da pupila.

Um elenco, sem dúvidas talentoso, nos presenteia com uma obra que transcende o ato teatral. A pesquisa e processo colaborativo deste grupo inquieto de artistas é bastante perceptível, dando extrema propriedade à toda equipe a respeito daquilo que está sendo dito no sagrado espaço do fazer teatral. Se em Assombrações do Recife Velho, me sinto como uma criança perante o medo das almas que nos assombram e em Memória da Cana, num diálogo bastante intenso com o Pai; em Terra de Santo, me vejo tendo uma sincera e silenciosa conversa com a grande Mãe que nos gerou. Colocando-me num embate direto com a maturidade e com o reconhecimento de uma fertilidade espiritual que nos habita e nos faz caminhar. Colocando-me frente aquilo que nos constrói ou nos destrói.

* texto do ator Tay Lopez. Ele viu ontem uma apresentação só para convidados da peça Terra de santo, do grupo Os fofos encenam. A montagem entra em cartaz hoje, no Sesc Belenzinho.

Serviço:
Terra de santo, da Cia Os Fofos Encenam
Quando: hoje, às 19h. Amanhã (14), às 16h30.
Temporada: terças e quartas-feiras, às 20h30. Sábados, às 21h. Domingos, às 17h. (Exceto dia 28/10 – Unidade fechada ) até 11/11.
Onde: Sesc Belenzinho, São Paulo
Quanto: R$ 24 e R$ 12

Montagem fica em cartaz no Sesc Belenzinho até novembro

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Alecrim, alecrim dourado…

Probido retornar, do grupo Teatro Invertido, no Trema! Foto: Pollyanna Diniz

“Cheiro tem história e memória…”

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Nos últimos dois meses senti cheiro de Sertão. De terra seca, mato e alecrim. Lembrei muito desses cheiros ontem quando vi Proibido retornar, do grupo Teatro Invertido, de Belo Horizonte, dentro da programação do Trema!.

O cheiro do Sertão me trouxe de volta a senhorinha toda arrumada, de blush e batom, que me recebeu com o sorriso mais largo desse mundo, mas logo me disse que não tinha água para cozinhar naquele dia. Que a cisterna estava quase seca. E que precisava visitar a filha, que estava de cama depois de uma crise de epilepsia.

O cheiro me trouxe de volta uma família que mora na principal e única avenida de Caiçarinha da Penha, um distrito de Serra Talhada. O pai, talvez parecesse 70, mas não tinha tudo isso. Sentado na calçada, a vida passando só ali em frente. Engatei uma conversa e logo estava na sala – ele me pedindo para tirar uma foto dele com aquele retrato pintado – ele e a mulher, noutros tempos, bem mais novos. Da época do casamento. A neta na barra da calça com os olhinhos curiosos. Lembro que voltei lá depois disso; recebi um abraço como se há muito fosse conhecida e minha falta tivesse sido sentida.

Lembrei da Extrema – um povoado de dez casinhas coloridas e igreja. No meio do tempo. No meio do tudo. No meio do nada. Um caminho lindo até lá.

Lembrei da jovem mãe de um distrito chamado Malhada. 28 anos. Dois filhos. Olhar envergonhado, mas destemido, se é que essa contradição é possível. Conversávamos sobre a educação dos filhos dela. Lá pelas tantas, escuto algo do tipo: “as minhas esperanças se perderam neste lugar. Tenho medo que com os meus filhos aconteça a mesma coisa. Queria ter saído daqui. Foi a vida que não deixou?”. A jornalista já não estava mais na sala.

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Espetáculo traz a história do retirante Moacir, que vai parar na construção civil

O tempo vai e volta em Proibido retornar. Um movimento que faz muito bem ao espectador, que se desgruda da linearidade na qual o texto poderia cair. É uma história por demais conhecida. De um retirante que saiu do interior, foi parar na construção civil e acabou mendigo nas ruas da cidade grande. Dos pilares que compõem a montagem, o texto é, aliás, o que mais nos deixa a desejar. Porque é um discurso maniqueísta, não apresenta nada de novo e esbarra nas imagens já pré-fixadas na nossa mente. O ingênuo homem do campo que sonha em ser gente, a cidade grande e os seus personagens tão cruéis, o arranha-céu opressor.

Quando o texto toma mais força é quando ele se volta para o interior. Interior geográfico e interior humano. Quando fala de um Sertão que geralmente as pessoas só ouviram falar. Quando deixa que a história alcance a poesia simples. Claro que as quebras são fundamentais à proposta do grupo e à encenação – mas o homem morto atrapalhando o tráfego é uma imagem por demais mastigada.

Leonardo Lessa e Robson Vieira

São quatro atores em cena que se revezam em alguns papéis. Moacir Ferreira da Silva, 22 anos, é o garoto que sonha em estudar e crescer. Que aprendeu com a mãe que estar vestido já é lucro pra quem nasceu nu. Tem a mãe, o pai. A empregadora que oprime. Os atendentes de um bar.

É a encenação que garante a força da montagem. A escolha por atiçar os sentidos. O cheiro – que pode ser de Vick ou um fedor insuportável de carniça. O gosto da rapadura. A zoada da britadeira. A ida e volta no tempo. O ritual da areia preta escorrendo pelo corpo do ator nu.

E também algo que comentei quando escrevi sobre Aquilo que meu olhar guardou para você. Talvez o público não queira convite para estar no meio da encenação. Ele simplesmente está. Proibido retornar é assim. Quando menos esperamos, somos “despejados”. Aqueles locais ocupados serão demolidos – precisamos sair rápido. Não temos mais lugar – a não ser o palco. E olhe que houve quem resistisse muito e brigasse com o ator – o que deixou a encenação muito mais viva. “Ei..não bata nele”, gritava a senhora, antes público, agora ocupando outro papel.

Talvez seja mesmo Proibido retornar. Desse caminho que nos leva a outro teatro, a outra forma de enxergar aquele com o qual lidamos.

Dramaturgia e direção são coletivas

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Os atores do Grupo Teatro Invertido se encontraram, como o Magiluth, na universidade, em 2004. Eles já têm cinco espetáculos no repertório: Nossa pequena Mahagonny (2003), Lugar cativo (2004), Medeiazonamorta (2006), Proibido retornar (2009) e Estado de coma (2010). Proibido retornar é o primeiro espetáculo escrito e dirigido só por integrantes do grupo, num processo de criação coletiva. Esta é a primeira vez que eles se apresentam no Recife.

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Assim como o grupo Quatroloscinco, o Teatro Invertido também fez um oferecimento da montagem à atriz Cecília Bizotto, brutalmente assassinada durante um assalto em Belo Horizonte, na madrugada do domingo.

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Na construção civil

Ficha técnica Proibido Retornar

Direção e dramaturgia: Camilo Lélis, Kelly Crifer, Leonardo Lessa, Rita Maia e Rogério Araújo
Atuação: Kelly Crifer, Leonardo Lessa, Rita Maia e Robson Vieira
Preparação corporal: Leandro Acácio
Preparação vocal: Ana Haddad
Cenários e figurinos: Paolo Mandatti e Camila Morena
Iluminação: Felipe Cosse
Trilha sonora: Ricardo Garcia
Produção executiva: Natália Domas

Serviço:
Proibido retornar
no Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife
Quando: quinta-feira (11), às 19h
Onde: Teatro Marco Camarotti, Sesc Santo Amaro
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Geração Y

Magiluthianos. Foto: Mariana Rusu

O Magiluth é geração Y. Querem viver tudo, intensamente, rápido. Não esperam acontecer. Vão lá e fazem.
São articulados, constróem redes, se jogam. Agora, eles concretizaram mais um projeto: o Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, que começou na última segunda e segue até o dia 14 na capital pernambucana. O Trema! é fruto das andanças do grupo pelo país, do convívio com outros coletivos, da vontade de sair da mesmice. O Satisfeita, Yolanda? adorou a ideia e virou parceiro do festival. Vamos tentar aqui estabelecer um diálogo sobre as montagens e sobre o que é fazer teatro para esta geração. Começamos com uma entrevista com Pedro Vilela, ator e diretor do Magiluth.

ENTREVISTA // PEDRO VILELA – ATOR E DIRETOR DO GRUPO MAGILUTH

Recife já tem muitos festivais! Porque fazer mais um?
O Trema! é pensando não para ser mais um evento que agrega produções distintas na cidade. Ele é pensado com um recorte de pensamento e com uma linha de atuação bastante específica. Antes de ser um evento, é a possibilidade de congregarmos pesquisas e pensamento perante o teatro de grupo. Cada vez mais, os grupos teatrais no país vêm buscando a criação de redes internas de circulação e compartilhamento e não possuímos em nossa cidade nada parecido.

Qual foi o critério que vocês usaram para escolher as montagens?
Esta primeira edição do Trema! esta muito pautada no desejo do encontro. Como unir numa cidade como Recife, sem nenhum edital aprovado, todos estes coletivos? Ativamos uma rede de encontros que só foi possível porque encontramos parceiros desejosos. São grupos que encontramos em nossas circulações e que por afinidades estéticas e de modo de produção resolvemos unir para compreendermos melhor e aprofundarmos estas relações. Também está pautada na possibilidade de oferecer ao público do estado trabalhos que não se encontram nas grandes rotas do teatro. Esteticamente dialogam muito por abordarem questões que passam pela política e pelo existencial. Assim como no Aquilo (nosso espetáculo escolhido), os espetáculos também lidam com questionamentos sobre os limites entre realidade e ficção; sobre a relação entre memória e história; e sobre os conflitos entre o universo particular e o coletivo.

Quando a gente pensa em festival, lembra logo de grana; com que grana vocês vão fazer o festival?
Nosso festival não possui incentivo financeiro de nenhum órgão federal, municipal ou estadual. As parcerias criadas são com instituições e empresas privadas. Recebemos o apoio fundamental de duas instituições: o SESC, que possibilitou a hospedagem para todos os coletivos; e o Programa Rumos Itaú, que nos ofereceu oficinas e o documentário. Os grupo que estão aportando no Recife possuem projetos de circulação aprovados e solicitaram aos órgãos responsáveis para mudarem a rota e virem a Recife. Ou seja, não estamos visando lucros. Estamos todos trabalhando, sem recursos, inclusive colocando dinheiro do Magiluth na produção para ativarmos esta rede de encontro e compartilhamento.

Aquilo que meu olhar guardou para você, na temporada do Teatro Joaquim Cardozo. Foto: Ivana Moura

Pensando que as relações são tão líquidas, como adoramos lembrar no teatro, porque você acha que o teatro de grupo ainda sobrevive?
Simplesmente porque é nele que reside nossa base de subsistência. Estar em Teatro de Grupo é acima de qualquer coisa um posicionamento político, e hoje cada vez mais temos medo de nos posicionarmos. Preferimos a liberdade de estar aqui hoje e amanhã em outro lugar. Tomamos esta decisão há oito anos: a de estarmos juntos em todos os lugares, lutando juntos. Este é o modo de produção que acreditamos e que a história nos mostra todo dia. Se olharmos para a história de nossa arte, tudo que aconteceu de interessante veio de grupos. Até mesmos os grandes encenadores e teóricos precisaram de grupos para colocar em prática seus pensamentos.

Qual o tipo de teatro que o Magiluth quer fazer hoje?
Temos a preocupação de realizar obras que dialoguem com nosso tempo, sem pudores ou limites de abordagens. Desejamos comunicar, sermos ouvidos, dialogar. Compreender também para onde nossa arte aponta e nosso estar no mundo enquanto artistas.

Sei que vocês estão maturando a ideia de ter uma sede que possa abrigar espetáculos; isso já está acontecendo com alguns grupos da cidade. Como está esse projeto?
Estamos em estudos para darmos este próximo passo. Todas as nossas ações, por estarmos em grupo, são pautadas a longo prazo. Não podemos dar passos maiores do que as pernas, pois hoje contamos com uma estrutura física-financeira grande que temos que dar conta. Trabalhamos com um núcleo de cinco atores com salários em dia, plano de saúde, sede alugada, 05 espetáculos em repertório, 05 profissionais colaboradores e atualmente obrigados a nos ausentar muito de nossa cidade. Mas a ideia é sim termos um espaço que abrigue nosso repertório e que principalmente abrigue novas produções da cidade. Queremos muito contactar os novos grupos, aqueles que passam hoje pelo que passamos no início. Mas o projeto da sede esta próxima. Assim desejamos. Quem sabe em 2013?

PROGRAMAÇÃO TREMA!

QUARTA-FEIRA / 10.out

14h às 17h
Oficina Meus delírios, meus delitos
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

Proibido retornar. Foto: Juliana Palhares

19h
Proibido Retornar
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

20h
Lançamento do livro Cenas Invertidas – Dramaturgias em Processo
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

QUINTA-FEIRA / 11.out

19h
Proibido Retornar
Grupo Teatro Invertido (MG)
Local: Teatro Camarotti – Sesc Santo Amaro

21h
Aquilo que meu olhar guardou para você
Grupo Magiluth (PE)
Local: Teatro Apolo – Recife Antigo

SEXTA-FEIRA / 12.out

9h30 às 12h30 e das 14h às 17h
Oficina Rumos Teatro
Narrativas urbanas na terra sem lei
Núcleo Argonautas (SP) e Cia Senhas (PR)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

Dizer e não pedir segredo. Foto: Adalberto Lima

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

SÁBADO / 13.out

9h30 às 12h30 e das 14h às 17h
Oficina Rumos Teatro
Narrativas urbanas na terra sem lei
Núcleo Argonautas (SP) e Cia Senhas (PR)
Local: Espaço Magiluth – Recife Antigo

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

a partir das 22h
Festa de Encerramento do TREMA!
Restaurante Sétima Arte
Local: Rua Capitão Lima, 195, Santo Amaro

DOMINGO / 14.out

15h
Documentário Evoé! Retrato de um Antropofágico
Direção: Tadeu Jungle e Elaine Cesar
110 min/ Classificação: 16 anos
Local: Centro Cultural Correios – Recife Antigo

19h
Dizer e não pedir segredo
Teatro Kunyn (SP)
Local: Espaço Cênicas – Recife Antigo

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