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O teatro para se livrar do sofrimento

isso é para dor

Isso é para dor, peça do repertório da Primeira Campainha, de Belo Horizonte

Do lado de fora ocorre uma guerra e é proibido fazer barulho. Pessoas estão presas no porão de um lugar indefinido. Elas têm a companhia umas das outras; o silêncio e as batatas. Com elementos do teatro do absurdo, Isso é para dor é o segundo espetáculo que o coletivo Primeira Campainha, de Belo Horizonte, apresenta no Trema! Festival de Teatro. Ontem o grupo exibiu Sobre dinossauros, galinhas e dragões, trabalho repleto de referências pop, que celebra a precariedade e a plagicombinação. Isso é para dor faz duas sessões hoje e amanhã, às 19h30, no Teatro Arraial Ariano Suassuna.

No elenco Mariana Blanco, Marina Arthuzzi e Marina Viana. A encenação e dramaturgia são assinadas por  Byron O’Neill, diretor, dramaturgo, fundador e integrante do grupo Cinco Cabeças. O livro O diário de Anne Frank foi a inspiração da peça, que procura mostrar que há opressão em qualquer parte ou época e estratégias de se desvencilhar dela.

Nos momentos de bombardeio, Benjamim Amapola, Shirley Ballantine’s, mais conhecida como Mary, e Vonda YevaPavlova buscam no teatro alívio para a tirania. Margareth, a quarta criatura, dorme há mais de uma semana. O grupo ensaia sobre o mal-estar no mundo e utiliza falas de filmes variados como E o vento levou, O grande ditador, Bambi, King Kong e o Cisne Negro.

Isso-é-para-dor Foto: Wanderson Nascimento

Peça tem texto e direção de Byron O’Neill. Foto: Wanderson Nascimento

 

FICHA TÉCNICA
Concepção: Primeira Campainha e Byron O’neill
Direção e dramaturgia: Byron O’Neill
Atuação: Mariana Blanco, Marina Arthuzzi e Marina Viana
Direção de Movimento: Guilherme Morais
Assistência: Assis Benevenuto
Cenário: Daniel Herthel
Cenotécnica: Daniel Herthel e Thiago Guimarães
Figurino: Cynthia Paulino e Mariana Blanco
Iluminação: Jésus Lataliza e Sabará Orlan
Contrarregragem: Dayane Lacerda
Trilha Sonora: G.A. Barulhista e Ricardo Koctus
Realização: Variável 5 e Primeira Campainha
Classificação indicativa: 10 anos
Duração: 60 minutos

SERVIÇO
Isso é para dor
Quando: Hoje (30/04), às 19h30
Onde: Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, 457 – Boa Vista)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Sobre dragões e excessos

 Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragoes. Foto Rubens Nemitz Jr.

Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões. Foto Rubens Nemitz Jr.

O espetáculo Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões, da Primeira Campainha – coletivo teatral mineiro formado por Marina Viana, Marina Arthuzzi e Mariana Blanco – performatiza a precariedade nas experimentações do Teatro Fanzine. Esse trio toca o deboche e o autodeboche com a livre associação de ideias para unir os três seres do título, que aparentemente não tem nada a ver um com o outro. Plagicombinação (termo que o grupo tomou emprestado de Tom Zé) de linguagens e mídias, comédia absurda repleta de citações, clichês, referências à cultura/contracultura pop, nerd, trash, cinematográfica e musical.

A peça está na programação do Trema! Festival de Teatro desta sexta-feira (29), às 19h30, no Teatro Arraial Ariano Suassuna.

A mistureba é grande. Nesse almanaque teatral elas falam sobre quase tudo. O trio cita desde fragmentos de autores renomados – como Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Carlos Drummond de Andrade – e piadas da Internet, até celebridades do mundo do entretenimento. Vale tudo. Música, dança, manobras de skate, solos de guitarra invisível, rebolados de Elvis Presley, Jim Morisson ou Fred Mercury e lutas de monstros Japoneses.

Nesse teatro político e carnavalesco, com poucos acabamentos e recursos orçamentários, a trupe compartilha imagens, músicas, filmes e informações. Copia e cola, justapõe e subverte pra dar vazão a essa pós-modernidade excessiva de tudo, mas buscando a graça de operar e respirar nesse caos.

SERVIÇO
Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões
Quando: Hoje (29), às 19h30
Onde: Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, 457 – Boa Vista)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada(
Telefone: (81)3184-3057

FICHA TÉCNICA
Concepção, direção e dramaturgia: Primeira Campainha
Elenco: Mariana Blanco, Marina Arthuzzi e Marina Viana
Cenário: Daniel Herthel, Mariana Blanco, Marina Viana e Marina Arthuzzi
Figurino: Mariana Blanco, Marina Viana e Marina Arthuzzi
Iluminação: Marina Arthuzzi
Playback: Ernani Maletta
Vídeos: Joacélio Batista e Luiz Felipe D’Avilla
Consultoria musical: Alex Queiroz, Humberto Augusto e Kiko Ferreira
Consultoria tecnológica e circuit bending: Daniel Herthel
Assessoria de Comunicação: Variável 5
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 50 minutos

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To the light

Outro lado, montagem do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum. Foto: Pollyanna Diniz

“É muito triste quando não se morre depois da morte”. Quando tudo antes já tem tons de cinza e a liberdade é uma ilusão. Quando perdemos a noção de há quanto tempo estamos presos. Em nós mesmos? Tentando resolver os nosso cubos mágicos? Algum dia terão solução? Precisam de solução? Porque é esta a realidade a que estamos ligados? Afinal, as combinações matemáticas são infinitas. A montagem Outro lado, do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, é assim. Repleta de questionamentos contemporâneos, de agonias e desesperos de um ser aprisionado, que aguarda o tempo passar, algo mudar.

Lembrei do trecho de um texto de Ítalo Calvino. Foi exatamente assim que a peça reverberou em mim: “Palavras que me fazem refletir. Porque não sou um cultor da divagação; poderia dizer que prefiro ater-me à linha reta, na esperança de que ela prossiga até o infinito e me torne inalcansável. Prefiro calcular demoradamente minha trajetória de fuga, esperando poder lançar-me como uma flecha e desaparecer no horizonte. Ou ainda, se esbarrar com demasiados obstáculos no caminho, calcular a série de segmentos retilíneos que me conduzam para fora do labirinto no mais breve espaço de tempo. Desde a juventude, já havia escolhido por divisa a velha máxima latina Festina lente, ‘apressa-te lentamente’.”

Peça foi encenada semana passada, durante o Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, organizado pelo Magiluth

Na montagem, quatro pessoas (Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria) estão enclausuradas num lugar. Já foi um bar. E todas as noites eles aguardam (ou não? será que acreditam?) que o público venha, se acomode nas cadeiras e a cantora possa, finalmente, depois de dois anos de espera, estrear o seu novo show com músicas de Nina Simone.

Grupo esteve no Recife pela primeira vez

Parece um labirinto. Como a instalação To the light, que Yoko Ono montou na Serpetine Gallery, em Londres, em junho deste ano. Com a diferença de que lá havia luz; mesmo que a saída fosse incerta. E em Outro lado as esperanças vão minguando aos poucos e o medo do que está por vir pode aterrorizar. Porque quem saiu ainda não voltou? O medo engessa. Até provoca lembranças, memórias, questionamentos. Mas engessa de uma tal forma…

Outro lado é fruto de um trabalho de criação coletiva. O texto é de Assis Benevenuto e Marcos Coletta – com interferência dos outros atores que compõem o grupo. E a direção é assinada pelos quatro integrantes. Todos estão bem em cena – embora o trabalho de Ítalo Laureano seja o destaque. A iluminação da peça, criada por Marina Arthuzzi, nos traz o clima de penumbra; e é capaz de compor lindas imagens com o cenário de Daniel Herthel. Os ventiladores no palco são tão simples – e tão poeticamente belos.

Direção do espetáculo foi coletiva

Ficha técnica
Outro lado, do grupo Quatroloscinco – Teatro do comum
Direção e atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria
Texto: Assis Benevenuto e Marcos Coletta
Figurino: Paolo Mandatti
Criação de luz: Mariana Arthuzzi
Operação de luz: Mariana Arthuzzi e Maria Mourão
Criação de cenário: Daniel Herthel
Assistente de cenotécnica: Wallace Colibri
Trilha sonora original: Marcos Coletta
Arranjo e assistência musical: Sérgio Andrade
Oficina em Feldenkrais e direção de movimento: Jimena Castiglioni
Design Gráfico: Marcos Coletta
Produção: Maria Mourão

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