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Abertura do JGE: Política no segundo ato

Foto: fotos de wellington dantas

Leda Alves, Marcelino Granja, Márcia Souto, Paulo de Castro e Astrogildo Santos . Foto: Wellington Dantas

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O coordenador-geral do festival e a secretária de Cultura do Recife. Foto: Wellington Dantas

A noite de 14 de março de 2017 ficou na minha memória como uma experiência poética e política incrível e inesquecível. Com o Theatro Municipal de São Paulo lotado, os gestores representantes dos secretários municipal e estadual de cultura de São Paulo, e do então ministro da cultura foram silenciados por ensurdecedoras vaias, um festival de apupos, na abertura da 4ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp). Um momento histórico no teatro brasileiro. O produtor da MITsp já havia demarcado a posição do evento contra a precarização da cultura, o congelamento do orçamento e a ameaça de destruição das políticas culturais significativas.

No Recife dos casarões coloniais e estruturas de pensamento conservadoras da elite e classe média que ocupavam as cadeiras do Teatro de Santa Isabel, na quarta-feira, na abertura do Janeiro de Grandes Espetáculos, as reações foram amenas e acanhadas. O coordenador-geral do JGE, Paulo de Castro, falou rapidamente dos desafios desta edição e da alegria em sua realização. Depois foram convidados ao palco o secretário de cultura de Pernambuco, Marcelino Granja; a presidenta da Fundarpe, Márcia Souto; a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves e o diretor de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, Astrogildo Santos.

A fala de Marcelino Granja surpreendeu e provocou uma tensão cognitiva. Ele se posicionou a favor de Luís Inácio Lula da Silva e contra o golpe. Fez um discurso em defesa da democracia, do estado de direito e do ex-presidente Lula. E foi enfático de que a ameaça de condenação de Lula é uma infâmia, que pode se alastrar por todos setores.

A preleção parece boa, para quem se posiciona contra o golpe midiático, parlamentar e jurídico que afastou a presidenta Dilma Rousseff. A não ser por alguns pequenos “detalhes”, que motivaram discretos protestos de “Fora Temer” e ensaios de vaias, que sobraram para outro representante.

Granja é filiado ao PC do B (partido que é contra o golpe), mas é secretário de Cultura do Governo Paulo Câmara, declaradamente a favor do golpe. Então existe aí , pelo menos, uma esquizofrenia política.

Estamos em tempos em que as narrativas são construídas e desconstruídas ao bel-prazer de hábeis oradores. Granja portanto, lembrou dos editais do Funcultura (principal fonte de financiamento da produção cultural pernambucana – audiovisual, música e geral) para enaltecer o governo e e dizer que está do lado dos artistas. Numa estranha passividade, a plateia baixou a cabeça e alguns até aplaudiram o discurso.

Depois dele, a presidenta a Fundarpe, Márcia Souto também do PC do B falou pouco e destacou que a atriz e produtora Paula de Renor (que ficou por 15 anos na coordenação do JGE, junto com Paulo de Castro e Paula Valença), e que estava sentada na plateia, é a nova presidenta do Conselho de Cultura. Uma função merecida para Paula de Renor que luta há anos por políticas públicas mais justas em Pernambuco. Mas o anúncio pareceu uma cortina de fumaça em meio ao fogo cruzado.

A secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, reafirmou que é um soldado na política do PSB e que luta pela cultura pernambucana. Ela tem um histórico, inclusive como artista e gestora que impõe respeito, e é muito querida no setor. Mas a realidade da política cultural recifense não é um palco iluminado e todos nós sabemos disso.

Dessa etapa protocolar, o produtor Astrogildo Santos, que atua como diretor na Fundaj, iniciou sua fala dizendo que estreou como ator no Teatro de Santa Isabel e outros feitos, para depois defender que o Ministro da Educação, Mendonça Filho, está fazendo grandes ações pela educação e cultura. Vaia na certa. Fora Temer! e Golpistas! foram as palavras de ordem gritadas por uma parte da plateia.

Coube a Paulo de Castro arrematar com as palavras de que este ano tem eleição e teremos condições de eleger os nossos representantes. Será? Há muitos meses da campanha política já há apostas de quem será o próximo deputado federal mais votado. Então, será que já saímos da era das capitanias hereditárias?

HOMENAGEADOS

Nesse clima tenso foram convidados os homenageados desta edição Vanda e Renato Phalante, dois queridos atores pernambucanos, com uma trajetória ligada ao Teatro de Amadores de Pernambuco e que ostentam 40 anos de profissão. Eles receberam os aplausos e carinho do público, muitos de seus pares de palco. Palavras de afetos foram transmitidas em vídeo, inclusive as de Geninha da Rosa Borges. E também foram presenteados com um quadro pintado por Cleusson Vieira .

Vanda Phaelante. Foto: Wellington Dantas

Vanda Phaelante. Fotos: Wellington Dantas

Homenageados desta edição ganham quadro pintado por Cleusson Viana

Homenageados desta edição ganham quadro pintado por Cleusson Vieira

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