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Possíveis transgressões em Genet

Foto: Lígia Buarque / Divulgaçao

Santo Genet e as Flores da Argélia faz curta temporada no Teatro Hermilo Borba Filho. Foto: Lígia Buarque 

Jean Genet (1910-1986) dizia que sua existência de roubos, exercícios homoafetivos e traições era um pretexto para a poesia. Figura verdadeiramente transgressora, ele recusou o trabalho, o “direito de propriedade”, rejeitou regras e horários, e deu vazão à sexualidade reprimida. Ao abraçar a liberdade, Genet propõe outra “ética” e outra “estética” alimentadas no (i)mundo dos abismos.

No Diário de um Ladrão (1949), sua autobiografia com traços de ficção, o escritor registra a trajetória repleta de crimes, paixões e escatologia. Lá habitam prostitutas, homossexuais, travestis e marginais de alçados à categoria de heróis.

O romancista, poeta e dramaturgo francês é apontado como uma das principais vozes da então chamada literatura marginal do século XX. E ele viveu intensamente a delinquência, a ladroagem, os pequenos crimes, a vagância como mendigo pela Europa e as traições com seus amantes malandros.  

Inspirado nesta obra literária, o espetáculo Santo Genet e as Flores da Argélia se ergue sobre os pilares da pederastia, furto e traição para vasculhar as relações de poder – opressores e oprimidos; religiosidade e santificação; violência e miséria.

A encenação assinada por Breno Fittipaldi é composta de quadros/cenas, com os relatos projetados na atualidade, mas também com a evocação do próprio Genet e os personagens que conviveram com o escritor naquela época. O diretor articula as possíveis transgressões de Genet na contemporaneidade e vamos conferir esse alcance.

Santo Genet e as Flores da Argélia faz curta temporada no Teatro Hermilo Borba Filho, de hoje até o dia 19 de março, de sexta a domingo.  

Foto: Lígia Buarque / Divulgaçao

Montagem do Grupo Cênico Calabouço. Foto: Lígia Buarque / Divulgação

Ficha técnica
Elenco – Alcides Córdova, Alexia Silva, André Xavier, Binha Lemos, Diogo Gomes, Diôgo Sant’ana,  Fábio Alves, Giovanni Ferreira,  Hypolito Patzdorf, Ito Soares, Lucas Ferr, Luiz Carlos Filho, Marcos Pergentino, Natália Oliveira, Roberio Lucardo, Shica Farias, William Oliveira
Dramaturgia, encenação e sonoplastia – Breno Fittipaldi
Assistentes de encenação – Hypólito Patzdorf e Nelson Lafayette
Preparação corporal – Hypolito Patzdorf
Assistente de preparação corporal – Hálison Santana
Preparação vocal e execução de sonoplastia – Nelson Lafayette
Figurino – Paulo Pinheiro
Assistente de figurino – Natália Oliveira
Maquiagem – Vinícius Vieira
Assistente de maquiagem – Sabrina França
Iluminação – Dara Duarte
Execução de luz – Dom Dom Almeida / Tomaz Mazzi
Identidade visual / Plano de mídia artística – Alberto Saulo e Alcides Córdova
Fotografias – Li Buarque
Ações formativas – Alberon Lemos
Equipe de Apoio – Adriane Lacerda, Lorenna Rocha, Nayara Cybelle e Paulo César Pereira e Rafael Motta
Produção executiva – Alcides Córdova, Binha Lemos e Luiz Carlos Filho
Produção geral – Grupo Cênico Calabouço
Classificação indicativa – 18 anos

SERVIÇO
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quando: De sexta a domingo, Dias 10,11, 17 e 18 de março, às 19h e 12 e 19 de março, às 18

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A barra pesa na prisão

Sistema25 aborda a vida na prisão. Na foto de Camila Sergio, Will Cruz e Ricardo Andrade

Sistema 25 aborda a vida na prisão. Na foto de Camila Sergio, os atores Will Cruz e Ricardo Andrade

Sistema 25 é um experimento cênico no sentido mais potente desse termo. Que vai se transformando. Que encara o risco para não cair na acomodação. Com um elenco de 25 atores, com direito a revezamento de papeis e com entradas e saídas de vários integrantes. O espetáculo foi urdido em 12 meses de ensaios para a construção de 30 cenas e 7 canções originais. Os intérpretes compartilham a situação de encarceramento com 25 espectadores que ocupam a mesma geografia. O sistema prisional brasileiro é a camada macro exposta nesta montagem dos grupos Cênico Calabouço e Teatral Risadinha, com direção de José Manoel Sobrinho.

Num dia de visitas no presídio ocorre uma rebelião. E é nesse ambiente tenso, opressor, que esses personagens revelam suas individualidades contaminadas pelo coabitação tão próxima em celas minúsculas.

“Vinte e cinco homens empilhados, espremidos, esmagados de corpo e alma entre grades de ferro e paredes úmidas e frias, num cubículo onde mal caberiam oito pessoas e seus desesperos, seus tédios, suas desesperanças e o tenebroso ócio”, escreveu o dramaturgo Plínio Marcos em texto que inspirou a peça.

A “Cena da Origem” da encenação é o conto Em Osasco, do livro Inútil Canto e Inútil Pranto pelos Anjos Caídos, que forneceu o mote para a criação das narrativas. E para encorpar essa dramaturgia foram somadas pesquisas sobre homens presos. Para criar esse estado-limite de intimidade e de desumanidade

A encenação foi erguida sem patrocínio. Foram mais de 12 meses de ensaios, idas e vindas. Já fez algumas curtas temporadas no Teatro Marco Camarotti, no Espaço Experimental. Faz 16 apresentações na CAIXA Cultural Recife, de quinta a sábado, de 4 a 27 de agosto.

As sessões acontecem às 19h nas quintas e sextas-feiras e às 15h e 19h aos sábados. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia) e estarão à venda nas quartas-feiras que antecedem o primeiro dia de apresentação da semana, respectivamente: 3, 10, 17, e 24 de agosto. O espetáculo dura 2h40 minutos.
Espetácuo faz 16 apresentações na Caixa Cultural Recife. Foto. Camila Sergio

As partituras de ação foram edificadas pelos atores-dramaturgos-narradores, sob o comando do encenador José Manoel Sobrinho continua em processo.

Criaturas que em condições indignas mas que mantém códigos de honra. Entre lutas por pequenos e podres poderes, os encarcerados expõem também suas fragilidades, afeto, desejo de proteção, medo, lealdade, cumplicidade, traição. Há de tudo, exposto com uma lupa da degradação do ser humana.

A direção musical é de Samuel Lira, e no elenco estão atores Alberto Braynner, André Xavier, Beto Nery, Breno Fittipaldi, Bruno Britto, Cláudio Siqueira, Eddie Monteiro,Edinaldo Ribeiro, Emanuel David D´Lúcard, Flávio Santos, Geraldo Cosmo, Guto Kelevra, Hypolito Patzdorf, Marcílio Moraes, Neemias Dinarte, Nelson Lafayette, Nildo Barbosa, Normando Roberto Santos, Otacilio Júnior, Paulo André Viana, Pedro Dias, Ricardo Andrade, Robson Queiroz, Samuel Bennaton e Will Cruz.

Seminários –  A encenação agrega a ações de debate político-social sobre os sistemas existentes dentro e fora das grades, com três encontros, sempre às 19h. Ensaio sobre o Amor, no dia 10/08, Ensaio sobre a Força, dia 17/08 e Ensaio sobre a Dor, no dia 24/08. Haverá trechos da peça para incitar o debate com especialistas. A entrada é gratuita, com senhas distribuídas a partir das 18h.

Ficha técnica:

Encenação José Manoel Sobrinho
Assistente Direção Breno Fiitipaldi e Neemias Dinarte
Dramaturgia Beto Nery, Breno Fittipaldi, Billé Ares, Bruno Britto, Cláudio Siqueira, Edinaldo Ribeiro, Eddie Monteiro, Emanuel David D´Lúcard, Geraldo Cosmo, José Manoel Sobrinho, Marcílio Moraes, Neemias Dinarte, Robson Queiroz, Samuel Bennaton, Will Cruz
Direção Musical Samuel Lira
Músicas André Filho, Eduardo Espinhara e Geraldo Maia
Letras André Filho, Eduardo Espinhara, Emanuel David D´Lúcard, Marcílio Moraes, Romildo Luis, Samuel Bannaton, Thyago Ribeiro e Will Cruz
Coreografia do Tango Rogério Alves
Elenco Alberto Braynner, André Xavier, Beto Nery, Breno Fittipaldi, Cláudio Siqueira, Eddie Monteiro, Edinaldo Ribeiro, Emanuel David D´Lúcard, Flávio Santos, Gleison Nascimento, Geraldo Cosmo, Guto Kelevra, Hypolito Patzdorf, João Neto, Marcílio Moraes, Neemias Dinarte, Nelson Lafayette, Nildo Barbosa, Normando Roberto Santos, Otacilio Júnior, Paulo André Viana, Pedro Dias, Ricardo Andrade, Robson Queiroz, Samuel Bennaton, Sandro Sant´na e Will Cruz
Design e operação de Iluminação Luciana Raposo
Assis de Operação Júnior Brow
Arte VisualBeto Saulo
Produção Executiva de Carminha Lins, Virginia Grécia e Paulo Ferrera.

Serviço:
SISTEMA 25
Local: CAIXA Cultural Recife
Endereço: Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE
Data: 4 a 27 de agosto de 2016, de quinta a sábado.
Horário: 19h nas quintas e sextas-feiras e 15 e 19h nos sábados.
Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia) – vendas nas quartas-feiras que antecedem os dias de apresentação da semana, respectivamente: 3, 10, 17 e 24 de agosto, a partir das 10h e exclusivamente na bilheteria do espaço.
Informações: (81) 3425-1915

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Quando o assunto é homoerotismo, a faca é afiada

Faca de dois gumes. Foto: Ivana Moura

O último Leia-se: Terça!, no Espaço Muda, estava lotado. A edição batizada de Faca de dois gumes juntou a leitura de dois textos – Febre que me segue, de Breno Fittipaldi e Sodomia song, de Wellington Júnior, ambos com direção assinada por Wellington Júnior.

O tema comum às duas leituras é a relação gay, ainda tão incendiária quanto no tempo de Oscar Wilde.

As recentes manifestações de repúdio à união homoerótica ou à relação de amor entre pessoas do mesmo sexo – como as protagonizadas por Myrian Rios (que disse em alto e bom som que tem o direito de não contratar funcionários gays) e de Jair Bolsonaro (que distribuiu panfletos em escolas no Rio de Janeiro contra um kit que combatia a violência contra homossexuais) serviram de elementos na dramatização.

Sem dúvida, a temática desperta paixões, inclusive àquelas mais irracionais contra o direito inalienável de cada um “escolher” sua forma de prazer.

Quando Wellington Júnior abriu a portinha da sala que abriga as montagens e leituras, ele avisou que a teatralização já estava valendo. Enquanto o público buscava um cantinho para sentar – e era muita gente no corredor, quatro atores assumiam o discurso mais conservador, reverberando posições evangélicas, direitistas, reacionárias, para aquecer a plateia. O clima estava pronto.

Febre que me segue conta a história dos encontros amorosos entre Pedro e Lui, um homem de quarenta e um e um garoto de dezoito anos, seus conflitos e desejos. Em volta de uma mesa, os os atores se revezaram entre os personagens. Breno Fittipaldi assume o papel do que faz as pontuações/ interdições dos diálogos e devaneios dos personagens. Além dele, participaram do elenco Nelson Lafayette, Rodrigo Dourado e Tiago Gondim.

É interessante que esses assuntos saiam do gueto e reverberem no teatro. Público para isso existe.

O texto de Breno oscila entre entusiasmos juvenis de descoberta emocionais, dialeto da tropa e clichês do palavrório amoroso. Tem uns insights bons, mas precisa ser bastante trabalhado.

Leitura foi feita no Espaço Muda

Sodomia song é mais desbocado, irreverente, agressivo, quase explosivo para tratar da relação carnal, das fantasias com pai, e de toda a imaginação de falos, e até mesmo a iconaclastia de convocar Jesus Cristo e seus apóstolos.

O elenco diz que o quadro é uma masturbação ao som de Lady Gaga. Um dos atores fica ao fundo, Tiago Gondim, em uma simulação mais explícita, mas não tão visível do ato solitário, enquanto os outros três atores se revezam numa ejaculação de palavras e sutis gestos de orgasmo. Como o texto é mais punk, mais pancada, ele tem um efeito mais eletrizante na plateia. Mas como dramaturgia requer também fugir dos caminhos fáceis.

De todo modo, essas leituras às terças funcionam com um laboratório em que experimentos podem ser testados para plateias atentas e dispostas a participar do jogo.

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Um registro

Na última terça-feira, o Leia-se:Terça, no Espaço Muda, no bairro de Santo Amaro, no Recife, foi com dois textos de temática homoafetiva. Febre que me segue, de Breno Fittipaldi, e Sodomia Song, de Wellington Júnior. A leitura intitulada Faca de dois gumes teve direção de Wellington Júnior e estiveram no palco, além de Breno Fittipaldi, Rodrigo Dourado, Nelson Lafayette e Tiago Gondim. Conversando com Rodrigo Dourado, ele falou que existe sim a possibilidade de que a peça seja mesmo montada pelo grupo, que essa seria uma primeira experiência. E aí, Rodrigo? Vai rolar?

Espaço Muda ficou lotado para a leitura. Fotos: Ivana Moura

Dois textos foram lidos pelo elenco

Rodrigo Dourado e Tiago Gondim

Segundo texto da leitura

Nelson Lafayette e Rodrigo Dourado

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