Arquivo da tag: 23º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco

Coletivo Angu flerta com afetos de canções

Elenco Angu de Canções. Fotos: Pedro Portugal / Divulgação

Elenco Angu de Canções. Fotos: Pedro Portugal / Divulgação

Isadora Melo e André Brasileiro. Foto: Pedro Portugal /Divulgação

Isadora Melo e André Brasileiro. Foto: Pedro Portugal /Divulgação

Marcondes Lima. Foto: Pedro Portugal /Divulgação

Marcondes Lima. Foto: Pedro Portugal /Divulgação

Almérico Foto: Mery Lemos /Divulgação

Almérico Foto:  Mery Lemos /Divulgação

Nínive Caldas e Ivo Barreto. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Nínive Caldas e Ivo Barreto. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

“Que descuido meu / Pisar nos teus espinhos / É essa mania minha / De olhar pro céu…”, as músicas de Juliano Holanda não saem da minha cabeça desde que assisti Angu de Canções. E a linda voz de Isadora Melo (que o Brasil inteiro ainda vai descobrir e reverenciar) embalam meus pensamentos. Ouriço, Morrer em Pernambuco, Pés, Altas Madrugadas, Cinema embaralhando minhas ideias sobre amor, abandono, sofrimento, salvação, superação, sublimação, morte. Potente, forte, doído.

Com elenco do Coletivo Angu de Teatro – Nínive Caldas, Hermila Guedes, Marcondes Lima, André Brasileiro e Ivo Barreto – além dos convidados Isadora Melo, Almério e Henrique Macedo – traz aquela revolta do amor ferido, um pouco da sujeira do rock sem rock e a política do ato de existir e se expor.

É show marcado pela melancolia que está presente principalmente no espetáculo Ossos. A vida é bruta e o seu pior inimigo pode ser aquele a quem você entregou seu coração, como acontece com o protagonista da peça, o dramaturgo Heleno de Gusmão. É dessa vida sem floreios, de um Recife manchado, atingido na sua honra, violento, que os seres dessas canções buscam sobreviver.

Marcelino Freire, autor de três peças montads pelo coletivo: Rasif, Ossos e Angu de Sangue. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Marcelino Freire, autor de três peças montadas pelo coletivo: Rasif, Ossos e Angu de Sangue. Foto: Pedro Portugal 

As intervenções poéticas do escritor Marcelino Freire davam o tom da tragicidade desses tempos. “Merece um tiro quem inventou a bala”, alardeou com os versos de Miró da Muribeca para emendar com o posicionamento político “E quem inventou Temer e Trump merece o quê?”, para voltar a Miró com suas frases de efeito, em Reflexões sobre a construção civil: “Cimento na cabeça dos outros é isopor”.

Freire articulou na voz novas leituras da poesia Testamento, de Manuel Bandeira, escrita em 1943: “O que não tenho e desejo / É que melhor me enriquece..”. Os textos declamados por Marcelino se encaixavam às interpretações musicais do Coletivo Angu de Teatro e convidados.

E os textos corriam entre músicas, a pontuar e se irmanar com as trilhas sonoras (de Juliano Holanda, Henrique Macedo), a iconografia, os figurinos de Ossos; Angu de Sangue, Rasif – Mar que Arrebenda, Ópera e Essa Febre que Não Passa. A prosa contundente de Macelino assumiu sua leitura de autor em Amor Cristão, dos contos de Rasif: “Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca. (…) Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor”.

Marcelino com aquele vozeirão, com uma autoridade de rebelião, com a pertinência na corpo e na postura das coisas impreteríveis que beliscam e arrancam pedaços. Sobre negros e pobres dos cantos da injustiça social, o escritor saca Trabalhadores do Brasil, do livro Contos negreiros com a urgência do grito represado: “Hein seu branco safado? Ninguém aqui é escravo de ninguém”.

E os atores-cantores soltaram a voz, com seus erros e acertos. Em modulações quentes e apaixonadas. Com uma falha aqui outra ali, que tornam mais humanas e calorosas essas canções. 

Hermila Guedes e Henrique Macedo lembrando Socorrinho lá do início da carreira do Angu, sobre o abuso à inocência, essa composição em parceria entre Macedo e Carla Denise.

Lágrimas com Marcondes Lima, De onde você vem, com Ivo e Nínive, Cinema, com Ivo e elenco, Tire seus olhos de mim, com André Brasileiro Ouriço, com Isadora e Juliano Holanda e a marchinha tristíssima e encantadora Morrer em Pernambuco.

Hermila Guedes e Henrique Macedo. Foto: Mery Lemos /Divulgação

Hermila Guedes e Henrique Macedo. Foto: Mery Lemos /Divulgação

Banda formada por Juliano Holanda, Marcondes Lima. Foto: Mery Lemos/ Divulgação

Banda formada por Juliano Holanda, Rafa B e Rogê Victor. Foto: Mery Lemos /Divulgação

Com arranjos de Juliano Holanda, as músicas foram tocadas pela banda composta pelo próprio Juliano (violão, voz e guitarra), Rafa B (bateria) e Rogê Victor (baixo). Uma dramaturgia que corria num fluxo sonoro envolvente, com suas letras imagéticas que carregam reflexões poéticas e existenciais. Que toca a pele mas atinge o osso.

Angu de canções foi apresentado no Teatro de Santa Isabel, em 26/01, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos.

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Indicados ao Prêmio Apacepe 2017

Ossos, Mascate, Alguém para fugir e Paideia são indicados a melhor montagem

Ossos; Mascate, Alguém para fugir comigo e pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação são indicados a melhor peça 

Depois de uma maratona de quase um mês, o 23º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco divulga as produções indicadas ao Prêmio Apacepe de Teatro e Dança deste ano. Os vencedores serão conhecidos na festa de entrega que ocorre na próxima sexta-feira (03/02), às 19h, no Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife. Fone. 3355 3321). Não existe gratificação em dinheiro, mas as estatuetas são de grande valia para os artistas pernambucanos.

Mas para que serve um prêmio no campo das artes do espetáculo? É uma distinção, funciona para criar acontecimento midiático, incentivar novas criações, consagrar projetos ou projetar artistas individuais ou coletivos.

Anos atrás questionei a validade da premiação a Apacepe. Houve reações fortes. Hoje entendo que o teatro pernambucano precisa realçar o talento, a atuação dos artistas dentro de um determinado contexto e é também o momento de confraternizar (que às vezes funciona, às vezes não). Isso acontece no cinema, que proteja cineastas e atores e outras funções da indústria, com muito dinheiro e um concursos espalhados pelo mundo. No jornalismo os prêmios alavancam carreiras.

Mas em todas essas disputas, é fundamental pensar no perfil de quem julga. Isso vale para uma sessão num tribunal, os destinos da Lava Jato, o resultado do Oscar ou da premiação da Apacepe.

Então meus caros, o resultado é uma combinação da sensibilidade, percepção de quem viu, comparou e atribuiu um valor de prêmio. Com outros avaliadores, os resultados possivelmente seriam diferentes. 

Segue a lista dos indicados

INDICAÇÕES TEATRO ADULTO

Melhor Espetáculo
Alguém Pra Fugir Comigo – Resta 1 Coletivo de Teatro (Recife)
O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas Com Objetos (Paulista)
Ossos – Coletivo Angu de Teatro e Atos Produções Artísticas (Recife)
pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação – Coletivo Grão Comum e Gota Serena (Recife)

Melhor Diretor
Analice Croccia e Quiercles Santana – Alguém Pra Fugir Comigo
Júnior Aguiar – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Marcondes Lima – Ossos

Melhor Ator
André Brasileiro – Ossos
Diógenes D. Lima – O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros
Gil Paz – Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade
José Neto Barbosa – A Mulher Monstro
Júnior Aguiar – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação

Melhor Atriz
Apenas uma indicação

Melhor Ator Coadjuvante
Arilson Lopes – Ossos
Daniel Barros – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação

Melhor Atriz Coadjuvante
Não há indicação

Melhor Ator Revelação
Não há indicação

Melhor Atriz Revelação
Não há indicação

Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora
Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Katarina Menezes e Kleber Santana – Alguém Pra Fugir Comigo
Juliano Holanda – Ossos

Melhor Iluminação
Elias Mouret – Alguém Pra Fugir Comigo
Játhyles Miranda – Ossos
Júnior Aguiar – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Natalie Revorêdo – A Rã
Natalie Revorêdo – Olhos de Café Quente

Melhor Cenário
Charles Eugênio – A Rã
Diógenes D. Lima, Gustavo Teixeira, Triell Andrade e Bernardo Júnior – O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros
Marcondes Lima – Ossos
Otto Neuenschwander – Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade

Melhor Figurino
Agrinez Melo – Histórias Bordadas em Mim
Manuel Carlos de Araújo – Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade
Marcondes Lima – Ossos
Resta 1 Coletivo de Teatro – Alguém Pra Fugir Comigo

Melhor Maquiagem
Álcio Lins – Baba Yaga
Diógenes e José Neto Barbosa – A Mulher Monstro
Manuel Carlos de Araújo – Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade

*Haverá três Prêmios Especiais do Júri.

Corpo de Jurados Teatro Adulto: Breno Fittipaldi, Jorge de Paula e Rita Marize
Coordenação/Produção de Corpo de Júri: Augusta Ferraz

INDICAÇÕES TEATRO PARA A INFÂNCIA

Vento Forte para Água e Sabão; Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo; Brinquedos & Brincadeiras e DORalice

Vento Forte; Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo; Brinquedos & Brincadeiras e DORalice

Melhor Espetáculo
Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo – Cia. Biruta de Teatro (Petrolina)
Vento Forte Para Água e Sabão – Companhia Fiandeiros de Teatro (Recife)

Melhor Diretor
André Filho – Vento Forte Para Água e Sabão
Antonio Veronaldo – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo

Melhor Ator
Antonio Veronaldo – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
Tiago Gondim – Vento Forte Para Água e Sabão

Melhor Atriz
Juliene Moura – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
Daniela Travassos – Vento Forte Para Água e Sabão

Melhor Ator Coadjuvante
Ricardo Angeiras – Vento Forte Para Água e Sabão
Victor Chitunda – Vento Forte Para Água e Sabão

Melhor Atriz Coadjuvante
Geysa Barlavento – Vento Forte Para Água e Sabão
Kéllia Phayza – Vento Forte Para Água e Sabão

Ator Revelação
Não há indicação

Atriz Revelação
Beatriz Cavalcanti – Brinquedos & Brincadeiras
Gabriela Melo – Brinquedos & Brincadeiras

Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora
André Filho e Samuel Lira – Vento Forte Para Água e Sabão
Mateus Marques – DORalice
Moésio Belfort & Carlos Hiury – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo

Melhor Iluminação
Beto Trindade – DORalice
Carlos Tiago Alves Novais – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
João Guilherme de Paula – Vento Forte Para Água e Sabão

Melhor Cenário
Antonio Veronaldo e Uriel Bezerra – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
João Denys e Manuel Carlos – Vento Forte Para Água e Sabão

Melhor Figurino
Apenas uma indicação

Melhor Maquiagem
Não há indicação

*Haverá dois Prêmios Especiais do Júri.

Corpo de Jurados Teatro Para Crianças: Ana Elizabeth Japiá, Márcia Cruz e Samuel Santos
Coordenação/Produção de Corpo de Júri: Augusta Ferraz

INDICAÇÕES DANÇA

Amor, Segundo as Mulheres de Xangô;  Enchente; Os Superficiais; e Segunda Pele

Amor, Segundo as Mulheres de Xangô; Enchente; Os Superficiais; e Segunda Pele

Melhor Espetáculo
Amor, Segundo as Mulheres de Xangô – Grupo Grial (Recife)
Enchente – Flávia Pinheiro (Recife)
Os Superficiais – Cia. Etc. (Recife)
Segunda Pele – Coletivo Lugar Comum (Recife)

Melhor Coreografia
Não há indicação

Melhor Bailarino
Apenas um indicado

Melhor Bailarina
Iara Campos – Microclima
Maria Agrelli – Segunda Pele
Marcela Felipe – Enchente
Maria Paula Costa Rêgo – Amor, Segundo as Mulheres de Xangô

Bailarino Revelação
Não há indicação

Bailarina Revelação
Não há indicação

Melhor Iluminação
Cleison Ramos – Dúvido
Luciana Raposo – Amor, Segundo as Mulheres de Xangô
Luciana Raposo – Segunda Pele

Melhor Figurino
Gustavo Silvestre – Amor, Segundo as Mulheres de Xangô
Marcondes Lima – Os Superficiais

Melhor Cenário
Não há indicação

Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora
Caio Lima e Hugo Medeiros – Segunda Pele
Tarsísio Resende – Amor, Segundo as Mulheres de Xangô

*Haverá dois Prêmios Especiais do Júri.

Corpo de Jurados Dança: Dielson Pessôa, Nadja Maria e Viviane Ferreira
Coordenação/Produção de Corpo de Júri: Augusta Ferraz

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O que ver no Janeiro – parte 1

Puro Lixo é uma das atrações desta terça-feira. Foto: Ana Araújo

Puro Lixo é uma das atrações desta terça-feira. Foto: Ana Araújo

A 23ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco chega à última semana. A programação extensa e intensa é composta por 58 produções, entre exemplares de teatro adulto, teatro para a infância, dança, circo, shows musicais e duas leituras dramatizadas e outras ações. Além da programação paralela com mais dez peças ou performances diferentes. E a exposição de quadros do artista Cleusson Vieira, ainda em cartaz no foyer do Teatro de Santa Isabel. Diante desse mapa, amigos e leitores têm pedido sinalizações sobre o que ver. Sabemos que arte não é receita de bolo de rolo ou Souza Leão e a recepção de cada obra é algo subjetivo e intransferível. Mas vamos pontuar alguns aspectos do nosso ponto de vista, com pitadas de nosso gosto.

Neste ano, o Janeiro de Grandes Espetáculos apostou na estreia de 10 produções pernambucanas, sendo três inéditas em dança, seis de teatro adulto e um para a infância, além de uma leitura dramatizada inédita. Desse fluxo que segue até o dia 29 deste mês, sete ainda podem ser vistos: Microclima, com Iara Campos; Grito, com Anne Costa e Marta Guimarães; Terror e Miséria no Terceiro Reich – O Delator, com Germano Haiut e Stella Maris Saldanha; Martelada, com texto e interpretação de Cláudio Ferrário; Alguém Pra Fugir Comigo, com encenação de Analice Croccia e Quiercles Santana; A Gaivota, do Curso de Interpretação Para Teatro do SESC Piedade (Jaboatão dos Guararapes/PE), com direção cênica de Sandra Possani e Baba Yaga, da Cênicas Cia. de Repertório, interpretação de Sônia Carvalho. Dessas estreias já conferimos dois espetáculos: O Delator e Martelada, que falarei brevemente na sequência.

Temos ainda as atrações em Caruaru com sessões de Angelicus Prostitutus e Olha para o Céu meu amor.

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Dinho Lima Flor interpreta o bispo Dom Helder Camara,  no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Do festival sugiro com entusiasmo O Avesso do Claustro, da Cia do Tijolo, uma montagem em homenageia Dom Helder Camara, o saudoso arcebispo emérito de Olinda e Recife, que se apresenta no Santa Isabel nos dias 28 e 29. O espetáculo recria episódios da vida do bispo católico progressista, mas explora essas passagens em sintonia com inquietações atuais, explorando de forma magistral as substâncias utópicas e poéticas do teatro. Como grupo é sediado em São Paulo (mas tem no seu elenco e direção o pernambucano Dinho Lima Flor) e este é um espetáculo custoso para circular acho uma oportunidade imperdível. Sobre a montagem publicamos Peça sobre Dom Helder Camara vem ao Janeiro

Vamos falar das atrações por data, Vanessinha.
Terça-feira

Josildo Sá no Show Sons de Latada. Foto: Normando Siqueira

Josildo Sá no Show Sons de Latada. Foto: Normando Siqueira / Divulgação

TEATRO: Puro Lixo , o Espetáculo mais Vibrante da Cidade, inspirado no Grupo Vivencial. Humor, deboche e música com um talentoso elenco pernambucano.

DANÇA: Microclima. As políticas e o viver no Recife impregnado no corpo da bailarina Iara Campos. Não está totalmente descartada as motivações do Ocupe Estelita, da resistência e de que a luta continua.

MÚSICA: Sons de Latada, com Josildo Sá. Ano passado fez uma década que Josildo e o maestro o maestro Paulo Moura gravaram juntos o CD Samba de Latada. O samba nordestino ganhou uma carga mais emocional, de raiz suingada, que se mistura a muitos ritmos. No repertório do show sucessos da carreira do cantor como Pra não morrer de tristeza, Quixabinha, Tem frevo na Latada e Forró de Mané Vito.

Sons da Latada – Josildo Sá – Samba de Latada Produções (Recife/PE)

FICHA TÉCNICA
Direção e produção musical: Herbert Lucena
Produção executiva: Luciane Ferraz e Rita Chaves
Assistentes de produção: Gabriel Oliveira e Cláudia Macena
Coordenação: Josildo Sá/Samba de Latada Produções
Coordenador técnico e iluminação: Antônio Antunes
Cenário: Leopoldo Nóbrega
Figurino: Período Fértil e Jailson Marcos
Técnico de som: Fumato Snaidefight
Músicos: Josildo Sá (voz), Lu Miliano (acordeon e vocal), Adilson Bandeira (clarinete e sax), Pablo Ferraz (zabumba, congas, surdo, ilú e vocal), Nino Silva (congas, prato, caixa, pandeiro, tonel, caxixi, alfaia, chocalhos), Daniel Coimbra (cavaquinho e vocal), Danillo Silva (contrabaixo), Karine Vieira (bateria) e Andreza Karla (backing vocal e pandeiro)

SERVIÇO
Sons da Latada – Josildo Sá – Samba de Latada Produções (Recife/PE)
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quando: Dia 24 de janeiro de 2017 (terça-feira), às 20h
Quanto: R$: 40,00 (Inteira) e 20,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 12 anos
Duração: 1h20

Stella Maris Saldanha, em Puro Lixo. Foto: Ana Araújo

Stella Maris Saldanha, em Puro Lixo. Foto: Ana Araújo

Puro Lixo – O Espetáculo Mais Vibrante da Cidade tem como provocação/ inspiração a ousadia e o espírito anárquico do Vivencial, grupo do teatro pernambucano que abalou as estruturas caretas da cena nas décadas de 1970/ 1980. Como os fenômenos ocorrem no tempo e no espaço, as vivecas exerceram um fascínio naquela época e esse ideário foi esticado por estudiosos, fãs e os próprios integrantes na esteira de uma imagem de liberdade incondicional (se isso funcionou ou não, não sabemos. Ou eu não sei. Mas a aura persiste!). No cinema essa glamourização da trupe se faz presente no filme Tatuagem, de Hilton Lacerda.

Com poucos recursos, mas muita criatividade, as vivecas criavam a cena dos restos, fazia arte com o lixo. Talvez venha daí a sugestão do título da peça que tem texto de Luís Reis, criado a partir do artigo Vivencial Diversiones: Frangos Falando Para o Mundo, de João Silvério Trevisan, que registra a experiência de uma noitada na sede do grupo, no final dos anos 1970.

Com encenação de Antonio Cadengue, Puro Lixo – O Espetáculo Mais Vibrante da Cidade traça uma alegoria queer, carnavalesca, entre o camarim e a cena de um bando para extrair alegria na pulsação da necessidade de brilhar e no desejo do luxo. O ser marginal das vivecas fica na periferia da montagem. Mas a ânsia de pontuar o que é criar nessa época de outros tremores e temores se ergue nas várias cenas em que o metateatro potencializa a narrativa.

Da trilha sonora, a derradeira canção celebra os transgressores do passado/presente servindo (metaforicamente) como objeto de consumo. Como eu pontuei em outro texto sobre o espetáculo Puro Lixo diz até já  :“Do espelho do camarim até o público vira simulacro de si mesmo…”.

Ainda nessa seara musical, o ator Gil Paz dubla Elza Soares em um trecho da canção de Chico Buarque Meu Guri. Esse quadro ganha outras projeções do mundo cotidiano recifense com a exaltação da negritude. E expõe as injúrias do passado escravocrata da passagem cênica Meu Sobrado no seu Mocambo.

A peça traz um acabamento estético, nos figurinos, no cenário que distancia do Vivencial original. Mas Puro Lixo – O Espetáculo Mais Vibrante da Cidade investe no protesto velado e declarado, no deboche, na cumplicidade e intriga de bastidor, no glamour e na crítica da crítica.

Stella Maris Saldanha representa as mulheres do Vivencial. E os rapazes Gil Paz, Eduardo Filho, Marinho Falcão, Samuel Lira e Paulo Castelo Branco desfilam de salto alto para garantir o humor e brilho da montagem.

Outros textos postados sobre Puxo Lixo:
Uma festa para o Vivencial, no dia 11 de agosto de 2016.
Desbunde, transgressão e poesia do Vivencial, no dia 13 de agosto de 2016.
“A liberdade era vivida na imediatez daqueles tempos”, uma entrevista com o encenador Antonio Edson Cadengue, publicada em 15 de agosto de 2016.
E As nervuras do luxo, crítica ao espetáculo publicada no dia 28 de agosto de 2016.

FICHA TÉCNICA
Texto: Luís Augusto Reis
Consultoria: João Silvério Trevisan
Encenação: Antonio Cadengue
Dramaturgismo, assistência de direção e operação de som: Igor de Almeida Silva
Figurinos, adereços e maquiagem: Manuel Carlos de Araújo
Cenografia: Otto Neuenschwander
Trilha sonora original e gravação: Eli-Eri Moura
Música ao vivo (acordeão): Samuel Lira
Vozes em off: Valdir Oliveira, Cássio Uchôa e José Mário Austregésilo
Iluminação: Luciana Raposo (Coletivo Lugar Comum)
Coreografias, direção de movimentos e preparação corporal: Paulo Henrique Ferreira
Preparação vocal: Leila Freitas
Operação de luz: Luciana Raposo e Sueides Leal
Assistência de produção executiva: Antonio Cadengue, Manuel Carlos de Araújo
Produção executiva: Clara Angélica e Jô Conceição
Produção geral: Stella Maris Saldanha
Elenco: Eduardo Filho, Gil Paz, Marinho Falcão, Paulo Castelo Branco, Samuel Lira e Stella Maris Saldanha

SERVIÇO
Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quando: Dia 24 de janeiro de 2017 (terça-feira), às 20h
Quanto: R$: 40,00 (Inteira) | 20,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Duração: 1h15

Iara em Microclima. Foto

Iara Campos em Microclima. Foto

O caos urbano fruto da falta de planejamento domina cidades brasileiras. O crescimento desordenado, o trânsito insuportável, a natureza arrasada, verticalização predatória, a violência assustadora são golpes contra o planeta. A resposta chega em catástrofes, picos de calor ou de frio em nível global.

A partitura corporal da bailarina Iara Campos traduz essas sensações no espetáculo Microclima, pensado a partir do Recife e suas contradições. E mostra como o corpo também é afetado nesse processo.

Recife, Cidade Lendária, nas suas noites sem fim de Capiba. Constructo humano de sonhos, mas também sítio cruel de Carlos Pena Filho; cidade do mangue, onde a lama é a insurreição com seus homens caranguejos de Chico Science. Capital de muitas revoluções, essa urbe sofre em sua beleza açoitada.

Para erguer o espetáculo, que tem direção de Sebastião Soares, a artista fez experimentações na rua e na sala de ensaio, mergulhou em leitura bibliográfica de arquitetura e urbanismo. E o solo prossegue em mutação. Inquietações e vivências urbanas em diálogo com a cidade e seus problemas, E o reflexo das mudanças dessa paisagem, que geram instabilidade física e emocional nos seus habitantes.

FICHA TÉCNICA

Microclima, com Iara Campos
Concepção:
Iara Campos e Sebastião Soares
Direção: Sebastião Soares
Música original: Júlio Morais
Figurino: Carlito Person
Design de luz: Eron Villar
Intérprete: Iara Campos

SERVIÇO
Microclima, com Iara Campos
Quando: 24 de janeiro, terça-feira, às 20h
Quanto: R$: 20,00 (Inteira) e 10,00 (Meia)
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista – Fone: (81) 3184.3057 )
Classificação etária: a partir dos 12 anos
Duração: 45 min.

                                                                                                       CONTINUA no próximo post

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O amor tem feito coisas…

OE, peça inspirada na obra do escritor japonês Kenzaburo Oe, com Eduardo Okamoto. Foto: Fernando Stankus

Mesmo o amor imperfeito opera milagres no universo. Mas muitas vibrações duelam para processar esse fenômeno. Da raiva de ver sua vida atrelada ao filho eternamente dependente, passando pelo medo do futuro. Até a superação e abertura de visão para os sentidos de uma vida comprometida com o aprendizado do outro. OE é poema cênico com o ator Eduardo Okamoto, inspirado na obra do escritor Kenzaburō Ōe, – Nobel de Literatura de 1994 – que trata desses tsunamis internos do autor japonês.

A peça foi apresentada sábado e domingo, no Teatro Apolo, dentro da programação do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos. Com direção perfeccionista de Márcio Aurélio e atuação minimalista de Okamoto, a montagem explora os processos vertiginosos de um pai que reinventa o mundo e a si próprio quando nasce seu primeiro filho com uma deficiência intelectual congênita.

Do susto passando pelo desejo de morte e culpa à construção de um afeto supremo, o intérprete explora os estados desse pai, e desse filho, com extremo rigor. Para cuidar da criança – Hikare Oe – que até os seis anos de idade não falava uma palavra e que se tonou pianista e compositor famoso no Japão, o escritor diminuiu o ritmo de trabalho.

A peça tem direção de Márcio Aurélio. Foto: Fernando Stankus / Divulgação

A peça tem direção de Márcio Aurélio. Foto: Fernando Stankus / Divulgação

OE usa poucos recursos em cena, tem um desenho coreográfico milimetricamente executado e poucas oscilações vocais. A montagem embarca na poesia, para expor o sentimento do mundo em quase 30 cenas curtas. Imagens que se abrem para a miséria e o esplendor do ser humano, num rasgo de solidão e profunda incompletude. Okamoto modula a dor do existir, num breve painel de afetos, de alegrias e tristezas.

O dramaturgo Cássio Pires criou pequenas narrativas, tradução de imagens recriadas a partir de 400 páginas do livro Jovens de um novo tempo, despertai!. Nesse livro, Kenzaburō Ōe busca definições para coisas aparentemente simples como um pé e supostamente complexas como o sonho, num procedimento que sintetiza mitologia, ensaio literário, ficção e registros autobiográficos. É um fluxo da vida, da determinação de um pai em catalogar o real para seu filho e deixar-se subverter por esse rebento.

O corpo do ator Okamoto está impregnado do butoh que foi buscar em Yokohama, no Japão, onde treinou no Kazuo Ohno Dance Studio, conduzido atualmente pelo filho de Kazuo Ohno, Yoshito Ohno. E da ancestralidade japonesa que até a montagem do espetáculo tinha ignorado.

Ficha Técnica
Encenação, iluminação, figurino e cenografia: Márcio Aurélio
Dramaturgia: Cássio Pires, inspirado na obra de Kenzaburo Oe
Assistência de direção: Lígia Pereira
Assistência de iluminação: Silviane Ticher
Orientação corporal: Ciça Ohno
Assistente de figurino e cenário: Maurício Schneider
Orientação pedagógica do projeto: Suzi Frankl Sperber
Coordenação técnica: Silvio Fávaro
Assistência de produção: Mariella Siqueira
Direção de produção: Daniele Sampaio e SIM! Cultura
Atuação: Eduardo Okamoto

Confira conversa com o ator Eduardo Okamoto realizada após a apresentação do espetáculo no Recife

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Nos territórios da delicadeza

Alaíde Costa e Gonzaga Leal no show Porcelana, dirigido por Ceronha Pontes. Foto: Geórgia Branco

Alaíde Costa e Gonzaga Leal no show Porcelana, dirigido por Ceronha Pontes. Foto: Geórgia Branco

Há mais de uma década a parceria entre a carioca Alaíde Costa e o pernambucano Gonzaga Leal é nutrida em encontros anuais, em shows e resultou no CD Porcelana, um presente de aniversário de Gonzaga Leal a Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, quando ela fez 80 anos (a moça nasceu em 8 de dezembro de 1935). O encontro musical entre os dois começou em 2006, quando a cantora foi convidada para participar do álbum E o Nosso Mínimo é Prazer. Desde então, ela dá brilho à carreira dele e ele alavanca a dela.

O repertório de Porcelana, marcado para esta quarta-feira no Teatro de Santa Isabel, é formado por pepitas garimpadas por Leal para celebrar o bom da MPB. Capiba, Zé Miguel Wisnik, Caetano Veloso, Alceu Valença, Consuelo de Paula, Socorro Lira, João Cavalcanti, entre outros.

Alaíde passeia há 60 anos por uma trilha musical eclética. João Gilberto a convidou para a patota da bossa nova quando a ouviu no estúdio, gravando seu segundo 78 rotações. Negra, suburbana da Zona Norte, Alaíde Costa destoava do perfil dominante dos bossanovistas brancos, abastados da Zona Sul carioca . Mas compôs em parceria com Tom Jobim Você é amor, e Amigo Amado, com Vinicius de Moraes, entre outros. Também foi acolhida na seleta confraria predominantemente mineira do Clube da Esquina, e fez um antológico dueto com Milton Nascimento em Me Deixe em Paz, gravação no álbum Clube da Esquina, de 1972.

Com sua sensibilidade, Leal sabe identificar e explorar preciosidades musicais como poucos. Em Porcelena, os dois sacam Quando Um Amor Vai Embora, de Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba; Divinamente Nua, a Lua, parceria de Caetano Veloso com Orlando Morais. Também exibem outra versão de Solidão, de Alceu Valença; Delicado, da paraibana Socorro Lira; Água Doce, de Consuelo de Paula; Fim do ano, de Zé Miguel Wisnik e Swami Jr. e incorporam o sotaque português de Zeca Afonso com O Meu Menino É D’oiro.

O time de músicos – Maurício Cesar (piano), Cláudio Moura (violão), Alexandre Rodrigues (clarinete e sax), Adilson Bandeira (clarinete), Aristide Rosa (viola nordestina), Fabiano Menezes (violoncelo), Júlio César Mendes (acordeon), Marcos FM (contrabaixo), Tomás Melo e George Rocha (percussão) – garante que a voz suave e sussurrada de Alaíde Costa flutue. E sublinha o melhor do canto de Gonzaga.

Ficha Técnica
Repertório e intérpretes: Alaíde Costa e Gonzaga Leal
Direção cênica, roteiro, cenografia e figurino dos artistas e músicos (estilo): Gonzaga Leal
Assistente de direção cênica: Ceronha Pontes
Direção musical e regência: Cláudio Moura
Arranjos: Maurício César, Adilson Bandeira e Marcos FM
Criação de luz e operação: Cleison Ramos
Vídeo: Ítalo Lima
Técnico de som: Júnior Evangelista
Roadie: Josué Silva
Produção geral: Jorge Féo
Músicos: Maurício Cesar (piano), Cláudio Moura (violão), Alexandre Rodrigues (clarinete e sax), Adilson Bandeira (clarinete), Aristide Rosa (viola nordestina), Fabiano Menezes (violoncelo), Júlio César Mendes (acordeon), Marcos FM (contrabaixo), Tomás Melo e George Rocha (percussão)

SERVIÇO
Porcelana – Alaíde Costa e Gonzaga Leal
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quando: 18 de janeiro, às 20h
Quanto: R$: 40,00 (Inteira) | 20,00 (Meia)

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