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Sistema tibetano para atores

Junior Sampaio - Foto de Pedro Portugal

janeiro-de-grandes-espetáculos-SSSSHá mais de 20 anos, Portugal acolheu o pernambucano Júnior Sampaio. Em terras lusas, Sampaio criou o ENTREtanto TEATRO, companhia que já realizou, por exemplo, 18 mostras internacionais de teatro. Em todos esses anos, como dramaturgo, Júnior Sampaio escreveu 20 textos adultos e oito textos voltados para a infância e juventude, e coordenou 45 produções com apresentações nacionais e internacionais.

Nos últimos três anos, o pernambucano com sotaque português, filho mais novo de uma família de sete irmãos de Salgueiro, se dedicou ao mestrado em Interpretação/Encenação na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo, na cidade do Porto. Foi aprovado com nota máxima por unanimidade.

Sampaio estudou as aplicações do método Kum Nye, um sistema da medicina tibetana, na criação artística. O método já foi aplicado numa produção pernambucana: A Troiana Hécuba, que estreou em 2014, com atrizes experientes da cena pernambucana. Neste 22º Janeiro de Grandes Espetáculos, Júnior Sampaio volta a trabalhar o método na oficina A Poética do Equilíbrio: O Método Kum Nye na Criação Artística, que começa nesta segunda-feira (11) e segue até o dia 22 de janeiro. No dia 22, a aula será aberta ao público. São apenas 20 vagas, voltadas para atores com experiência. As aulas serão de segunda a sexta, das 14h30 às 17h30, no Espaço Vila, em Santo Amaro. O investimento é de R$ 100. Outras informações pelo telefone 3048-6066.

Para quem ficou interessado no tema do mestrado de Sampaio, mesmo que não vá fazer a oficina, conversamos com ele sobre o método, as aplicações do procedimento para os atores e os intercâmbios entre Portugal e Brasil.

ENTREVISTA // JÚNIOR SAMPAIO

Do que se trata o método Kum Nye?
O Kum Nye é um sistema da medicina tibetana que envolve técnicas de relaxamento, através de automassagem, meditação, mantras, exercícios de respiração e movimentos sutis, adaptados aos tempos modernos e ocidentais por Tarthang Tulku – Lama-Chefe do Centro Tibetano de Meditação Nyingma e do Instituto de Nyingma de Berkeley, na Califórnia. A referência documental do Kum Nye está contida nos textos médicos tibetanos, bem como nos antigos textos do Budismo, e foca-se no viver de acordo com as leis físicas e universais, incluindo extensas descrições de práticas de tratamento.

Qual era o enfoque da sua pesquisa de mestrado?
A pesquisa A Poética do Equilíbrio: O Método Kum Nye na Criação Artística trata da análise dos resultados da experimentação e aplicação do método Kum Nye na direção de atores em três fases de uma experiência, que resultam em três montagens distintas de A Troiana Hécuba, criada a partir da tragédia grega As Troianas, de Eurípides. A experimentação e sistematização deste método com atores profissionais, formandos e amadores oriundos de diversas áreas, de variadas escolas e de diferentes fazeres teatrais, tem início em 2013, no primeiro e no segundo ano do meu mestrado, com duas fases, na cidade do Porto, em Portugal.

No ano seguinte, a análise e a construção do método são aprofundadas e aplicadas em mais um experimento artístico com atores profissionais, aqui no Recife. A pesquisa do Kum Nye para e na criação cênica é um trabalho estruturado e baseado nas competências técnicas ao nível de corpo, voz, mente, energia e interpretação, que se desenvolve enquanto experimentos dramáticos através de exercícios específicos do Kum Nye, pretendendo que o ator amplie a sua atitude reflexiva nas descobertas dos centros energéticos da vivência teatral a partir do equilíbrio.

A prática do Kum Nye requer honestidade e aceitação, paciência e disciplina e, principalmente, disponibilidade para o desconhecido, deixando o praticante perceber como, e até que ponto, este método pode aprimorar de forma sutil a interpretação versátil dos atores.

Os exercícios do Kum Nye selecionados para a pesquisa encontram-se registados nos livros Gestos de Equilíbrio (Tulku, 2009) e Kum Nye – Técnicas de Relaxamento (Tulku, 1993) e são executados conforme o ritmo suave do Kum Nye, a fim de conduzir o ator a obter um autocontrole corporal e mental, eliminando as zonas de tensões, ultrapassando as dores musculares, reorganizando a postura do corpo, entrando em contato direto com o estado emocional do momento, aumentando a serenidade e, principalmente, vivenciando os experimentos sem se importar com rótulos, visto que, neste método, o mais importante é a experiência em si.

Como o método foi aplicado especificamente no espetáculo A Troiana Hécuba, que estreou no último Janeiro de Grandes Espetáculos?
Apesar de utilizar o Kum Nye na minha experiência profissional – ator, formador e encenador, desde 1986, são as três montagens de A Troiana Hécuba que estruturam esse método para a direção de ator. Os universos do Teatro e do Kum Nye são extremamente amplos e o objetivo principal da pesquisa é apostar na articulação desses dois universos. A montagem no Recife foi intensiva e inserida dentro de um Festival Internacional de Teatro, numa residência artística, com atores profissionais convidados a experimentar o Kum Nye pela primeira vez, resultando em duas apresentações públicas no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. É preciso deixar claro que esta criação foi apresentada ao público como um exercício teatral, mas dado envolver atores reconhecidos, as expectativas geradas no meio teatral da cidade do Recife e no público em geral, com todos os prós e os contras, passam a fazer parte diretamente da experiência.

Auricéia Fraga em A Troiana Hécuba. Foto: Reprodução facebook

Auricéia Fraga em A Troiana Hécuba. Foto: Reprodução facebook

Como foi, na ocasião, trabalhar principalmente com mulheres tão experientes?
O ator, ao longo da sua carreira, pode ir adquirindo vícios – para muitos são verdadeiras descobertas da interpretação – que interferem na criação e o impedem de recomeçar um processo criativo sem as influências de tais ruídos. A necessidade de uma limpeza ordenada, nos processos de criação, torna-se crucial para que o ator adquira uma vivência cénica inusitada. O Kum Nye é por natureza um método de limpeza e a sua prática requer uma convivência espontânea com os processos naturais do cosmo, exercitando o desapego e deixando o novo surgir, tornando-se parte do experimento.

Será que o problema maior do ator, atualmente, passa por não desbloquear os seus pontos/centros energéticos, limitando a sua comunicação com os espetadores e com os outros elementos do universo teatral? Como é que o Kum Nye pode proporcionar, conscientemente, este desbloqueio?

Na nossa experiência, em princípio, cabe a cada participante descobrir, com a autoanálise, os seus limites, vícios e bloqueios, e também cabe a cada um o desejo de ultrapassar as suas próprias descobertas. O melhor mestre, neste caso, é o próprio participante. Aqui, concordando plenamente com Tarthang Tulku: “Em última análise, o nosso melhor mestre somos nós mesmos. Quando estamos abertos, atentos e alertas, então poderemos nos guiar corretamente.” (Tarthang Tulku, Gestos de Equilíbrio).

No caso, por se tratar de uma experiência artística, com prazos determinados, o diretor alerta cada participante para as suas virtudes e as suas falhas, se assim se podem qualificar, para a criação pretendida. Ao mesmo tempo, conclui-se que esta qualificação pode ser invertida na próxima criação: a virtude passa a ser falha e a falha passa a ser virtude.

A experiência comprova que todos os participantes que se disponibilizam para os experimentos, equilibram o seu corpo e a sua psique, melhoram a concentração e renovam a clareza dos sentidos. E mais, estimulam e transformam as energias correntes em energias artísticas, utilizando os exercícios de Kum Nye adaptados para e na criação artística. São encontros momentâneos que não perduram, mas ficam gravados na memória de todos.
E cabe a cada um deles saber se deseja remexer em si mesmo, remexer nos seus sentimentos, nas suas razões e continuar permitindo, mais uma vez, que a sua criatividade e a sua inteligência seja usada em prol da sua arte. E aqui, o equilíbrio pode levar o ator a uma maior versatilidade consciente ao longo da sua carreira artística, desde que fuja dos apegos que inflamam o ego.

O ator deve entrar em cena livre de julgamentos e deixar que a sua intuição, trabalhada por técnicas, o conduza a uma vivência cénica pré-estabelecida por ele e pelo encenador, deixando que as demais criações e os espetador alterem sutilmente as suas emoções. Os espaços a serem preenchidos por essas sutilezas são infinitos e, de maneira alguma, seguir as diretrizes do diretor transforma o ator em marioneta. Não o transforma em comandado porque o Kum Nye é um método que trabalha delicadezas, doses mínimas de energia, sensações e emoções.

No caso particular da nossa experiência, procurou-se a profundeza da alma de uma rainha sem chão e um mensageiro sem voz, ambos sofrendo a dor de uma guerra, onde vencedores e vencidos perdem. Um caminho difícil de percorrer, porque o percurso se dirige para o interior de cada ator, encontrando energias sutis da dor, da destruição, da solidão e do vazio, com o intuito de transformar tudo em poesia cénica, através das técnicas do Kum Nye.

Assim, durante o processo, as experimentações seguiram-se, exaustivas e aprazíveis, dolorosas e suaves, tensas e relaxadas, ricas e pobres, doces e salgadas. E o meu desejo final é de que os participantes mantenham a tão ouvida negação do verbo apegar: Não se apeguem, pois toda experiência se encerra em si e aquilo que cada um consegue hoje é exatamente aquilo que nunca mais se consegue, pois tanto no Teatro como no Kum Nye nada se repete.

Não posso deixar de agradecer publicamente aos 16 atores que participaram nesta experiência… E aqui, registro os nomes dos sete atores, Auricéia Fraga, Fátima Aguiar, Isa Fernandes, Lano de Lins, Nilza Lisboa, Sônia Bierbard, e Zuleica Ferreira. Em primeira e última análise, foram eles que disponibilizaram as suas corporificações – energia, alma, corpo, voz e interpretação… – para refletirmos sobre o ofício do Ator.

Como será a oficina que você vai ministrar no Janeiro? Existe a pretensão de que a oficina gere um espetáculo?
Os exercícios do Kum Nye, de uma maneira geral, têm como objetivo levar o praticante a uma consciência corporal e mental no instante da prática, sem se apegar a conceitos e/ou preconceitos e, ao mesmo tempo, criando e desenvolvendo uma consciência que permita uma análise em tempo real do estado corporal – corpo no sentido do Kum Nye: corpo, existência, maneira de se corporificar.

A prática do Kum Nye tem um enfoque básico na respiração e desenvolve-se pela automassagem, pelos movimentos corporais suaves, pela meditação e pelos mantras, resultando numa sensibilidade energética e possibilitando que o ator ganhe um controle sutil dos seus instrumentos de trabalho durante a sua vivência teatral. Esses exercícios estão interligados e complementam-se constantemente. Nenhum deles pode ser isolado durante a prática: um interfere no outro, que imediatamente pede auxílio a um terceiro e assim sucessivamente, tornando-os, muitas vezes, um único exercício, uma maneira de estar, com um leque ilimitado de possibilidades.

Nesta oficina para atores, A Poética do Equilíbrio – O Método Kum Nye na Criação Artística, será aplicado o método, com as suas devidas adaptações, na comédia Os Filhos da Festa, de Júnior Sampaio, a partir de Lisístrata, de Aristófanes. Os resultados dos experimentos artísticos podem se transformar num novo espetáculo teatral, mas só processo poderá indicar o caminho seguinte.

Há mais de 20 anos, o seu trânsito entre Portugal e Brasil, especificamente Pernambuco, é intenso. Como você enxerga as possibilidades de enriquecimento cultural tanto para Portugal quanto para o Brasil com esses processos de intercâmbio que parecem cada vez mais efetivos?
Esta Oficina para Atores vem dar continuidade às coproduções e aos intercâmbios culturais realizados pelo ENTREtanto TEATRO (Valongo – Portugal) e o teatro pernambucano, iniciados, em 1999, com a homenagem à atriz pernambucana Geninha da Rosa Borges no ENTREtanto MIT Valongo – 2ª Mostra Internacional de Teatro – Portugal.

Ao longo destes anos, já passaram pelos palcos da Mostra Internacional de Teatro de Valongo – Portugal vários espetáculos pernambucanos, com nomes que representam o teatro do estado e do Brasil. Entre muitos, podemos destacar Geninha da Rosa Borges, João Denys, Gilberto Brito, Irandir Santos, Arilson Lopes, Pedro Oliveira, Carlos Carvalho, Quiercles Santana, Vivi Madureira, Soraya Silva, Fabiana Pirro, Asaias Lira, Augusta Ferraz, Severino Florêncio, Andréa Rosa, Andréa Veruska, Iara Campos, Jorge de Paula, Tatto Medinni e Marcelo Oliveira.

Também podemos destacar grupos ou produtores como Remo Produções Artísticas, Trupe Ensaia Aqui e Acolá, Parcas Sertanejas, Duas Companhias, N’Útero de Criação, Unaluna, Grupo da Quinta e Teatro Casa, que levaram os seus espetáculos a Portugal, representando da melhor forma o teatro pernambucano. Estes intercâmbios enriquecem o teatro dos dois países e fortalecem culturas que de alguma forma se irmanam.

A bailarina vai às compras, montagem vista no Recife em 2012

A bailarina vai às compras, montagem vista no Recife em 2012

Desde A Bailarina Vai às Compras você não traz um espetáculo como ator ao Recife. Quando será o próximo?
Muito em breve… Um novo monólogo está sendo criado, mas pouco posso adiantar. Como a estrutura ainda se encontra embrionária, tudo que disser pode ser alterado. Assim, prefiro ir amadurecendo as ideias na solidão da criação artística. Ainda estou nos devaneios, nos sonhos, na imaginação do que pode vir a ser esta nova criação. Nesta fase, encontro-me protegido na casa de criação, na paz da meditação do Kum Nye, tentando dar largas às minhas imaginações poéticas…

Para criar, tenho que está no aconchego dos meus ninhos, interior e exterior… Neste momento, tento me alimentar da poesia cênica… Quando estiver saciado, saio dos meus ninhos particulares e volto a partilhar os alimentos com o universo cênico…

Muito em breve, espero…

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Em defesa do Teatro do Parque

Durante todo o sábado houve manifestação na frente do teatro

Durante todo o sábado houve manifestação na frente do teatro

O Teatro do Parque completou 98 anos no último sábado. Não houve festa até porque o equipamento municipal da cidade do Recife está fechado há três anos. Mas a data não passou em branco. O Movimento Ocuparque, iniciativa da sociedade civil, promoveu ações durante todo o dia, com performances, apresentações musicais e recitais de poesia.

Depois da caminhada, que saiu do Parque 13 de Maio, muita gente fez apresentações em frente ao teatro. Palhaços do Grupo de Teatro João Teimoso, Roger de Renor, S. R. Tuppan e Poetas Contemporâne@s. Pandora, cantora de nove anos, mostrou seu talento interpretando canções de Dalva de Oliveira e Marisa Monte.

A exposição de Painéis Fotográficos em bikedoor Pernambuco: Cultura, e Mar, deHistória Miguel Igreja, andou pela cidade e se instalou em frente ao teatro. O Maestro Gil Amâncio tocou uma música que compôs para o movimento ao piano. Por fim acompanhou a projeção de um filme de Chaplin, como nos tempos do cinema mudo.

Os organizadores do evento estão confiantes. Esta semana a Fundação de Cultura Cidade do Recife prometeu firmar um convênio com o Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (Ceci), para criar uma estratégia de reforma do Teatro do Parque. Os líderes do Ocuparque adiantam que todo dia 24 haverá um evento para reafirmar o movimento.

Maestro Gil Amâncio tocou piano na porta do Teatro do Parque

Maestro Gil Amâncio tocou piano na porta do Teatro do Parque

Assista ao vídeo com ações do Ocuparque.

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Sotaque português não empolgou

O desejado – Rei D. Sebastião abriu o Janeiro de Grandes Espetáculos 2013. Foto: Pollyanna Diniz

Numa conversa com o ator Júnior Sampaio há alguns anos, lembro que ele me falava como são raros os momentos mágicos no teatro, aqueles realmente sublimes. E vivemos em busca deles. É o que faz a trupe teatral da montagem O desejado – Rei D. Sebastião: espera que algo incrível aconteça e o touro adormecido no palco, representando o rei, desperte. A peça, que tem texto, encenação, figurinos, cenografia e iluminação de Moncho Rodriguez, abriu ontem o 19º Janeiro de Grandes Espetáculos.

O espetáculo foi um projeto do produtor Paulo de Castro: cinco atores pernambucanos foram para Portugal ensaiar por três meses e lá estrearam a peça, antes de vir fazer a circulação por aqui. “É uma forma de ampliar mercado para os nossos atores”, sempre defendeu Paulo. É no mínimo um projeto ousado, por todos os custos envolvidos nisso.

As cenas são construídas de forma muito plástica em O desejado. Parecem quadros, fotografias, compostos perfeitamente por cenário, figurino, iluminação. Em alguns momentos lembrei de trabalhos de Gabriel Villela como Macbeth, que me parecem trilhar esse mesmo caminho.

Em cena estão Júnior Sampaio (que é pernambucano, mas vive em Portugal há muitos anos), Gilberto Brito, Rafael Amâncio, Júnior Aguiar, Mário Miranda e Márcio Fecher. De Portugal sobem ao palco, Pedro Giestas, Marta Carvalho, Eunice Correia e Catarina Rodriguez. É muito de Júnior Sampaio, que faz Nóe, a responsabilidade de ‘carregar’ a montagem; ele e Gilberto Brito, aliás, capturam realmente a atenção do público quando estão com o destaque.

Montagem tem a assinatura do encenador Moncho Rodriguez

Mas são o texto, o didatismo, a forte carga histórica e a falta de síntese que atrapalham a montagem. Até determinado momento aquela trama ainda consegue prender a nossa atenção – e o jogo de cena é interessante, a presença da música, artifícios como a utilização de bonecos, a descoberta de referências da nossa cultura no texto – mas isso definitivamente não se sustenta até o fim da montagem. Tanto é que muita gente saiu antes do fim na sessão no Santa Isabel. Porque a peça se torna chata mesmo…

É verdade que foi uma aposta ousada de Paulo de Castro, anunciada com um ano de antecedência, mas não foi acertada a escolha da montagem para abrir o festival. As pessoas não saíram do teatro surpresas, empolgadas, felizes…para uma maratona que, afinal, está só começando.

Cerimônia – Se a peça não ajudou, a cerimônia de abertura do Janeiro também não. As pessoas até entendem que é importante o blábláblá, mas ninguém merece ouvir tanta gente! Depois que os três produtores do Janeiro já tinham falado – Paulo de Castro, Paula de Renor e Carla Valença – Paulo ainda inventou de chamar ao palco Leda Alves (secretária de Cultura do Recife), Roberto Lessa (presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Severino Pessoa (presidente da Fundarpe). E depois ainda teve Josias Albuquerque, do Sesc. Politicamente é importante, mas que é um saco…ah, isso é. Pelo contrário, emocionante e rápida foi a homenagem a Vital Santos, de Caruaru, que recebeu flores (da frisa em que estava mesmo) e foi aplaudido de pé pelo público que lotou o Santa Isabel.

Antes de ser apresentada aqui, peça estreou em Portugal

Programação desta quarta-feira (9):

O desejado – Rei D. Sebastião
Onde: Teatro de Santa Isabel, às 20h30
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

O filho eterno (Cia Atores de Laura/RJ)
Quando: hoje e amanhã (10), às 19h, no Teatro Apolo
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Janeiro de Grandes Espetáculos divulga montagens locais

Viúva, porém honesta, do grupo Magiluth. Foto: Pollyanna Diniz

Saiu a lista dos espetáculos pernambucanos que vão participar do Janeiro de Grandes Espetáculos, que será de 9 a 27 de janeiro.

Dança:

ENCONTRO OPOSTO – TRÊS MOVIMENTOS EM UM ATO (IVALDO MENDONÇA EM GRUPO)
PARA JOSEFINA (GRUPO ACASO)
TU SOIS DE ONDE? (GRUPO PELEJA)

COMISSÃO DE SELEÇÃO: Anderson Henry, Rogério Alves, Saulo Uchôa e Will Robson.
REPRESENTANTE DO FESTIVAL: Paula de Renor

Teatro Adulto:

AUTO DO SALÃO DO AUTOMÓVEL (PAGINA 21)
AUTO DA COMPADECIDA (TEATRO EXPERIMENTAL- TEA)
A PENA E A LEI (TEATRO POPULAR DE ARTE- TPA)
CINEMA (CLARA MUDA- INTERCÂMBIO RECIFE/BH)
DAQUILO QUE MOVE O MUNDO (PEDRO DE CASTRO E VISÍVEL NÚCLEO DE CRIAÇÃO)

Daquilo que move o mundo traz no elenco Kleber Lourenço, Jorge de Paula e Tay Lopez. Foto: Ivana Moura

DUAS MULHERES EM PRETO E BRANCO (REMO PRODUÇÕES ARTISTICAS)
MARÉMUNDO (COLETIVO Á VIDA PRODUÇÕES)
OLIVIER E LILI: UMA HISTÓRIA DE AMOR EM 900 FRASES (TEATRO DE FRONTEIRA)
O BEIJO NO ASFALTO (ANDREZZA ALVES)
VIÚVA, PORÉM HONESTA (GRUPO MAGILUTH).
VESTÍGIOS (CARLOS LIRA)

Vestígios tem direção de Antonio Edson Cadengue. Foto: Pollyanna Diniz

COMISSÃO DE SELEÇÃO: Augusta Ferraz, Fábio Pascoal, Júnior Aguiar e Sebastião Simão Filho.
REPRESENTANTE DO FESTIVAL: Carla Valença

Teatro para Infância:

– PALHAÇADAS- HISTÓRIAS DE UM CIRCO SEM LONA (CIA. 2 EM CENA DE TEATRO, CIRCO E DANÇA).
CANTARIM DE CANTARÁ (GRUPO DRAMART PRODUÇÕES)
AS LEVIANINHAS EM POCKET SHOW PARA CRIANÇAS (CIA. ANIMÉE).

A Companhia Animée apresenta a versão infantil de As levianas. Foto: Luciana Dantas

COMISSÃO DE SELEÇÃO: André Filho, Carlos Amorim, Samuel Santos e Sandra Possani.
REPRESENTANTE DO FESTIVAL: Paulo de Castro

Carla Valença, Paulo de Castro e Paula de Renor, produtores do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Pollyanna Diniz

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Magia luso-brasileira em castelo europeu

O elenco de O desejado - Rei D. Sebastião. Fotos: Rui Pitães/Divulgação

Estreou ontem, com direito a cenário de filme: um castelo e forte nevoeiro em Lanhoso, Portugal, a peça O desejado – Rei D. Sebastião. Com direção de Moncho Rodriguez, a montagem feita a partir de um intercâmbio entre Pernambuco e Portugal deve abrir o próximo Janeiro de Grandes Espetáculos. Agora, os atores cumprem uma temporada de mais 12 apresentações em terras lusas; aqui, a ideia é que o espetáculo seja encenado na capital pernambucana e também em Olinda, Caruaru, Arcoverde, Salgueiro e Petrolina.

Entrevistamos dois atores da montagem: Júnior Aguiar, que estava um pouco afastado dos palcos – a última montagem da qual ele participou foi Quase sólidos; e Júnior Sampaio, pernambucano que mora em Portugal há muitos anos e parceiro do blog.

ENTREVISTA // Júnior Aguiar

Qual o enredo do espetáculo?
O espetáculo conta a história de um grupo de comediantes-atores que procuram pelo Rei D. Sebastião – O Desejado, que desapareceu numa batalha na África. Eles procuram pelo invisível, pelo sonho de viver a liberdade e a poesia, querem o encantamento das coisas, querem a verdade que se manifesta pelo teatro! O espetáculo é uma celebração. É a história da História. Portugal precisava de um herdeiro porque estava prestes a perder o seu poder para a Espanha, por causa da proximidade da morte de D. João III, casado com Dona Catarina (da Espanha). Era necessária e urgente a vinda de um herdeiro! Do amor de seu filho João e Joana nasce D. Sebastião.

Como esse mito é transposto para o espetáculo?
O espetáculo faz um paralelo entre os tempos. A crise que agora desespera os portugueses e as velhas crises que sempre ameaçam a soberania, a disputa pelo poder, o sofrimento do povo, as ironias, os tempos que não mudam! Para nós, pernambucanos, existem alguns elementos importantes, como, por exemplo, saber das influências portuguesas na nossa origem. A questão do Mito sebastianista que se configura até hoje no Nordeste Brasileiro (Belmonte, Lençóis Maranhenses..). A história da Pedra do Reino. De uma certa forma, todo o pensamento de Ariano Suassuna. O contexto da criação em que o espetáculo se configura é muito interessante. É o ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal. Então se estabeleceu um intercâmbio cultural entre atores dos dois paises, uma parceria entre o Centro de Criatividade de Polvoa de Lanhoso (coordenado por Moncho Rodriguez) e a Apacepe. Estamos aqui por dois meses com passagens, hospedagem e alimentação pagos e recebemos uma ajuda de custo.

Como está sendo o trabalho com Moncho Rodriguez?
Moncho Rodrigues é o autor e o diretor da encenação. É o coordenador do centro de criatividade de Polvoa de Lanhoso. É fantástico viver essa experiência e desfrutar com dignidade de todo a estrutura oferecida. Temos salas de dramatuturgia, de figurinos, de adereços, de ensaios, teatros…. Trabalhamos das 14h até meia-noite, com intervalos para as refeições. Durante a manhã, descansamos ou estudamos os textos. Moncho é um homem de teatro que não se esquece. Sua voz atinge nosso coração e pode nos encantar ou pode provocar sentimentos os mais contraditórios. De repente um grito de alerta, uma indicação preciosa, uma pergunta esclarecedora, um abraço. Moncho é claro no que deseja: quer a verdade dos atores. Somente a verdade. Mas a verdade não é fácil, faz doer o corpo inteiro, faz a gente se arriscar até perdermos o controle. É preciso ir além do que se sabe, do que se pode, do que se imagina pretender. Moncho tem o olhar que parece fora do mundo, não quer perder tempo, nem energia em vão. Exige profunda dedicação e disponibilidade. Nenhum ator permanece o mesmo se aceitar as regras do jogo.

Júnior Aguiar e Rafael Amancio

Qual a importância desse intercâmbio?
É preciso viajar pelo mundo. Se o olhar não alcançar longe, se não for surpreendido pelas diferenças culturais, pelas maneiras distintas de ser, pelas possibilidades das histórias, ficamos limitados e corremos o risco de não transcender como seres humanos sensíveis, como atores profissionais com visão ampla e cosmopolita. Trocar é crescer. O grupo de atores portugueses é fantástico. Observamos sua disponibilidade, sua maneira de nos receber, de nos apresentar suas formas de trabalho e de procurar pelas personagens. Eles tambem irão ao Brasil sentir como somos no nosso ambiente, de como incorporamos nossas manifestações culturais. No fim, toda essa experiência se configura em amplo e sólido aprendizado.

Pode nos adiantar algo da montagem?
Abel e Caim abrem o espetáculo. São como João Grilo e Chicó. Espertos, oportunistas, sobreviventes. Abel é feito pelo reconhecido ator português Pedro Portugal. Caim pelo inspirado Márcio Fecher tocando pandeiro, gaita, zabumba. Depois é a vez do casal Cordeiro e Frívola, interpretados perfeitamente por Mário Miranda e Marta. É um casal de espectadores que representam a realidade e que interferem na apresentação do espetáculo. E o grupo de comediantes-atores comandados por Noé (Júnior Sampaio) e Aldonça. Eu interpreto Josué – O ministro Castanheira e Dom Henrique, o cardeal. Rafael Amâncio interpreta Jesus e Gilberto Brito os persoangens Rutílio e Tibia.

ENTREVISTA // JÚNIOR SAMPAIO

Júnior Sampaio e a portuguesa Eunice Correia em cena

Do que trata o espetáculo e qual a importância desse texto para o contexto pernambucano
Trata-se de uma releitura poética do Mito de D. SebastiãO. Uma companhia de cômicos/atores acredita que um dia, para salvar o seu povo, representaria com verdade o sonho do desejado, e com tanta verdade brincaria, que El – Rei, na cena, em pessoa, apareceria para ser a própria personagem. Eles sonham… por ser grande o desejo de num novo tempo de viver. Sendo o que são (atores), porém mais respeitados. A importância do texto para o contexto pernambucano se encontra na constante pesquisa que Moncho Rodriguez atua com o seu teatro: a fusão da cultura do nordeste brasileiro e a cultura ibérica. Os pontos em comum entre as duas culturas estão presentes no texto de forma clara e inequívoca. Uma viagem poética pelas influências ibéricas na cultura nordestina. O texto está recheado de referências culturais nordestinas: o bumba-meu-boi, a pedra do reino, o repente, o martelo… Cidades e regiões são citadas ao longo da peça.

Como tem sido a experiência com Moncho?
A minha experiência com Moncho, mais uma vez, é enriquecedora. Há 20 anos que não trabalhava com ele e é como se tivesse sido ontem. Moncho sabe o que quer para o seu teatro e isto provoca uma segurança compensadora para o ator. O seu rigor e a sua poética comprovam-me que o teatro é uma celebração, que o teatro é magia sagrada.

Qual a marca da direção dele nesse trabalho?
A marca e assinatura de Moncho estão presentes em todo o espetáculo. É um espetáculo de Moncho Rodriguez. Moncho dirigiu-me duas vezes em 1990 em Romance do Conquistador, de Lurdes Ramalho, e em 1992 em A Grande Serpente, de Racine Santos. O Desejado tem toda a poética teatral do Moncho. Costumo dizer, se é que isto interessa, que esta é a sua tese de doutoramento!Dois povos, nordestinos do Brasil e portugueses, em um único universo, e sem distinções. Um trabalho onde a magia de unir é o que importa.

Como é a sua personagem?
A minha personagem é Noé, um ator/comediante, dono da companhia, que acredita no teatro como uma arte de transformação. Apaixonado pela sua função, alucinado pelo palco. Noé é um sonhador… e o seu maior sonho é ver o Desejado através da sua arte. Pode-se dizer que é um D. Quixote, um Merlim. Acredita na arte, na palavra, na fé cênica, no teatro. Sonha com o teatro. Noé pode ser qualquer pessoa que sonha que através da arte podemos chegar ao Desejado…desejo de um mundo melhor. Será que Noé sou eu ou eu é que sou Noé? Já não sei! É esperar e viver o sonho do Desejado.

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