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Temporada de Obscena no Teatro Capiba

Solo com Fabiana Pirro. Fotos: Renta Pires

Solo com Fabiana Pirro. Fotos: Renta Pires

Libertária, enigmática, irreverente, densa, lírica, radical, sedutora, trágica, obscena, lúcida, amargurada, satírica, charmosa, estranha, subversora de conceitos. São tantas as facetas da escritora Hilda Hilst que os adjetivos se multiplicam. Sua obra causa assombros. E arrebatou atriz Fabiana Pirro, que mergulhou no universo poético de Hilda para construir Obscena, em temporada às sextas e sábados, às 20h30, no Teatro Capiba do SESC Casa Amarela, no Recife, até o final deste mês. O monólogo tem direção, dramaturgia e encenação de Luciana Lyra. A peça estreou no último Janeiro de Grandes Espetáculos.

Líria, uma mulher de 40 anos, que transborda de desejos, dialoga com presentes e as ausências. Esse desejo se expõe em convergência entre o sagrado e o profano. Como outros narradores-personagens de Hilst ela está mergulhada num fluxo de consciência fragmentado, num lugar em que surgem os homens fantasma de sua vida: Avô, Pai, Filho, Deus.

Como há ecos do encontro de Hilda com o pai, a esquizofrenia do poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst de Apolônio; Pirro também enfrentar suas questões com o seu pai, traduzidas de forma poética na cena e no corpo da atriz.

E nessa experiência cênica, Fabiana Pirro também enfrenta suas assombrações existenciais. Pela primeira vez sozinha em cena para celebrar seus 15 anos de teatro.

O projeto, que não recebeu nenhum patrocínio público, é encampado pelos grupos artísticos Duas Companhias (PE), Unaluna (SP) e Coletivo Lugar Comum (PE). A direção de arte leva a assinatura da atriz Nara Menezes e a preparação corporal foi traçada pela bailarina/performer Silvia Góes. A direção musical, criação da trilha e paisagens sonoras são de Ricardo Brazileiro. Os figurinos são de Virgínia Falcão, design de luz de Luciana Raposo, filmografia de Ernesto Filho e Renata Pires.

Além das apresentações no Janeiro de Grandes Espetáculos de 2015, Obscena fez um ensaio aberto em outubro de 2014, no Teatro Capiba. Em julho a Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum realizaram a Mostra Hilda Hilst: poesia e prosa, na Galeria Castro Alves, no Recife. A obra da autora foi investigada, discutida e corporificada em pequenas leituras dramáticas nas vozes da própria Fabiana Pirro, Luciana Lyra, Ceronha Pontes, Silvia Góes, Samarone Lima e Conrado Falbo.

Várias facetas do desejo são incorporadas pela intérprete

Várias facetas do desejo são incorporadas pela intérprete

SERVIÇO
Espetáculo Obscena
Com Fabiana Pirro
Quando: sextas e sábados, às 20h30, até o final de abril
Onde: Teatro Capiba do SESC Casa Amarela
Quanto: R$ 30,00 e R$ 15,00

FICHA TÉCNICA:

Idealização do projeto e atriz-criadora: Fabiana Pirro
Dramaturgia, encenação e direção: Luciana Lyra
Trilha sonora: Ricardo Brazileiro
Preparação corporal: Silvia Góes
Direção de arte: Nara Menezes
Design de luz: Luciana Raposo
Operação de luz: Leo Ferrario
Figurino: Virgínia Falcão
Colaboração artística: Conrado Falbo
Produção: Fabiana Pirro e Lorena Nanes
Filmografia: Ernesto Filho e Renata Pires
Design gráfico: Tito França
Fotos: Renata Pires
Realização: Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum

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Encontro com Hilda Hilst

Fabiana Pirro estreou primeiro monólogo. Foto: Renata Pires

Fabiana Pirro estreou primeiro monólogo. Foto: Renata Pires

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A peça teatral contraria o seu próprio título e é pouco pornofônica, lasciva, desbocada, devassa, libidinosa, indecente, despudorada, escandalosa. Outro jeito de ser Hilda Hilst. A obra da criadora paulista é rica e ampla, escapa de rótulos. Seus textos estão além, porque ela é múltipla. É certo que a fase mais popular de escritura de Hilda é de conteúdo deliberadamente erótico e pornográfico. Mas a encenação cria deslocamentos e lembra que a palavra “Obscena” também remete para aquilo que está fora da cena.

O espetáculo agrega trechos dos escritos e de entrevistas de Hilst, rasgos de memória e dos estudos da atriz Fabiana Pirro e de Luciana Lyra (atriz, diretora e dramaturga pernambucana radicada em São Paulo, que assina a dramaturgia e encenação) para criar sua poética cênica.

Os questionamentos íntimos da intérprete vão buscar ressonância na elaboração criativa da escritora, que articula um eixo propagador de invenção no teatro – e através do teatro. É assim que a relação com os homens de sua vida, principalmente o pai, passa por ajustamento ficcional e friccional da composição de personagens de teatro, que estabelecem diálogos e buscam respostas.

Na cena, as complexas relações com Deus, com o pai, com a natureza, com os animais são apresentadas em camadas. A personagem Líria, uma mulher de mais de 40 anos, investiga desejos e lacunas; revezando com a figura da própria Fabiana, que dá espaço para a voz narrativa da atriz em solilóquio ou em diálogos com interlocutores fictícios.

A representação de uma árvore assume as forças divinas e da natureza, de extrema importância para o desenvolvimento da encenação, seja como cenografia ou elemento articulador do discurso.

No espetáculo, Fabiana Pirro vive Líria

No espetáculo, Fabiana Pirro vive Líria

Obscena é o primeiro solo de Fabiana Pirro e costura sentimentos. É um espetáculo de desenho bonito no palco, palavras fortes. A montagem apresenta uma intérprete que se jogou de cabeça nesse projeto. Que faz reluzir desejos, vindos da experiência. Que cresceu como atriz. A montagem deve amadurecer. Mas já nasceu bonita.

A expressividade da atriz ainda pede uma modulação mais definida do seu repertório vocal que, em muitos momentos, está impregnada das vozes de espetáculos anteriores. Não vejo acréscimo nos breves momentos de nudez e isso me fez lembrar um show de Gal Costa dirigido por Gerald Thomas, em que a cantora aparecia de peitos à mostra.

As sutilezas também podem ser intensificadas com uma possível temporada e o azeitamento do espetáculo. A poesia inundou a equipe de criação, mas a emoção, a intensidade, o que arde de misto de loucura e invenção, amor e desejo são comportas que não foram liberadas totalmente para atingir o público nas duas sessões.

Obscena foi apresentada no Teatro Marco Camarotti, como parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Montagem tem direção e dramaturgia de Luciana Lyra

Montagem tem direção e dramaturgia de Luciana Lyra

Ficha técnica:

Idealização do projeto e atriz-criadora – Fabiana Pirro
Dramaturgia, encenação e direção – Luciana Lyra
Trilha sonora – Ricardo Brazileiro
Preparação corporal – Silvia Góes
Direção de arte – Nara Menezes
Design de luz – Agrinez Melo
Operação de luz – Leo Ferrario
Figurino – Virgínia Falcão
Colaboração artística – Conrado Falbo
Produção – Fabiana Pirro e Lorena Nanes
Filmografia – Ernesto Filho e Renata Pires
Design gráfico – Tito França
Fotos – Renata Pires
Realização – Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum

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A palavra cortante de Hilda Hilst

Hilda Hilst é homenageada em mostra no Recife

Hilda Hilst é homenageada em mostra no Recife

Com palavras, gestos e atitudes Hilda Hilst (21 de abril de 1930 – 4 de fevereiro de 2004) deixou sua marca revolucionária na literatura. Mas não foi fácil o reconhecimento tanto na poesia, quanto na dramaturgia e na prosa narrativa.

“Quero ser lida em profundidade e não como distração, porque não leio os outros para me distrair mas para compreender, para me comunicar. Não quero ser distraída. Penso que é a última coisa que se devia pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde, no carro, no avião. Parece que as pessoas querem livrar-se assim de si mesmas, que têm medo da ideia, da extensão metafísica de um texto, da pergunta, enfim”, argumentou a escritora em entrevista publicada no Estado de São Paulo, em 1975.

Mesmo uma obra profunda, complexa e rica, suas peças não eram montadas nem seus livros ganhavam novas edições. Ela resolveu, então, apelar para o que chamava de “bandalheira” e escreveu livros pornográficos. Mas não era uma pornografia qualquer, e sim textos repletos de ironia, com críticas afiadas a esse mundo dominado pelo capital.

Hilda Hilst escreveu a trilogia obscena e pornográfica: O caderno rosa de Lori Lamby (1990), Cartas de um sedutor (1991), Contos d’escárnio/ Textos grotescos (1992).

Surtiu efeito e toda sua obra foi relançada pela Globo Livros a partir de 2001. Mas ela veio a morrer em 2004,

A escritora teve uma vida social intensa na São Paulo dos anos 1950. Ela participou das farras da alta sociedade paulistana desfrutando de viagens, festas e amantes.

Quando cansou dessa roda, optou por um exílio voluntário, na década de 1960, numa propriedade da mãe, em Campinas, batizada de Casa do Sol.

Os grupos artísticos Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum, em parceria com a Decanter Articulações Culturais e patrocínio da Inteligência XXI, celebram Hilda Hilst com uma programação de dois dias, na Galeria Café Castro Alves, com leituras dramatizadas, desenhos, instalações e cenários inspirados na escritora e sua obra. Vão entrar em cena Fabiana Pirro, Ceronha Pontes, Luciana Lyra, Silvia Góes, Samarone Lima e Conrado Falbo.

polêmica e deliciosa, obra da escritora ganha leitura dramatizada na Galeria Café Castro Alves Obra da escritora ganha leitura dramatizada na Galeria Café Castro Alves
Serviço:
Mostra Hilda Hilst
Onde: Café Castro Alves (Rua Capitão Lima, 280, Santo Amaro)
Quanto: R$ 10 por noite

Terça-feira, às 20h – Fabiana Pirro, Ceronha Pontes, Luciana Lyra fazem leituras dramáticas. Em seguida, o Grupo Obscena conversa com o diretor do Instituto Hilda Hilst e amigo pessoal da escritora, Jurandy Valença

Quarta-feira, às 20h – O professor e psicanalista Pedro Gabriel fala sobre o Eros na obra de Hilda Hilst. Silvia Góes, Samarone Lima e Fabiana Pirro fazem leituras dramáticas

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Palhaças cheias de graça

Divinas, na VI Mostra Capiba. Foto: Pollyanna Diniz

Estas palhaças nos ensinam muito com a leveza e a poesia despretensiosa. Elas seguem o mesmo caminho. Contam histórias. Trocam farpas. Consentem e negam – até um golinho de água. Muitas vezes pensam em desistir. Mas algo é maior; e Uruba (Fabiana Pirro), Bandeira (Odília Nunes) e Zanoia (Lívia Falcão) continuam a jornada juntas. Divinas é um espetáculo simples, singelo e delicioso.

A dramaturgia de Marcelo Pelizzoli, Samarone Lima e Silvia Góes é a ponta de um novelo de lã para o que se vê no palco com a Duas Companhias. São pequenas histórias de palhaças que não sabem para onde vão, mas seguem. Com humor e sensibilidade na medida, o texto é o suporte para que as atrizes se aproximem do público; já a quase inevitável conquista é resultado do trabalho de atrizes que amadureceram com a experiência, mas ao mesmo tempo esbanjam frescor.

Já tinha visto Divinas em pelo menos duas ocasiões: quando elas fizeram um ensaio aberto no Teatro Marco Camarotti e durante uma temporada no Teatro Barreto Júnior. E pude comprovar que o espetáculo só cresceu. Na apresentação na Mostra Capiba Fabiana Pirro estava impagável: Uruba tem um humor mais ácido, é lindamente egoísta e comilona. Lívia Falcão nos seduz com Zanoia, sua pedrinha mágica e a história da mulher touro. E como Odília Nunes é uma ótima aquisição para o grupo! A experiência de anos na arte da palhaçaria está no palco com Odília e seus estratagemas para conseguir o que quer.

Quando digo que o espetáculo é simples me refiro também a soluções cênicas que vão desde um lenço que simula uma fogueira. Tanto o cenário quanto o figurino e os adereços são assinados pelas próprias atrizes. A trilha sonora original é de Beto Lemos e Luca Teixeira está em cena com vários efeitos de percussão que complementam as histórias engraçadas e fantasiosas.

Logo quando a Duas Companhias começou o processo de montagem de Divinas, lembro que conversei com Lívia Falcão; Odília ainda não estava nem no elenco. A ideia inicial era tratar do feminino. E quem guiava esse caminho era o diretor Moncho Rodriguez, que mora em Portugal. Tempos depois, veio um projeto de formação de palhaças na Zona da Mata e o consequente encontro com Adelvane Neia, de Campinas, responsável pela preparação das palhaças-atrizes para este espetáculo.

O feminino continua em cena, claro. Mas a opção pela investigação dessa identidade dos clowns das atrizes se estabelece de forma determinante. Pode até nem ter sido o mais fácil. Pode ser que esse caminho tenha sido de muitas curvas. Mas o resultado é gratificante. O público sai do teatro feliz. Simples assim.

Zanoia (Lívia Falcão)

Uruba (Fabiana Pirro)

Bandeira (Odília Nunes)

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Que o baile continue…

O Natal comemorado com o Baile do Menino Deus, no Marco Zero, no Recife, passa ao largo das fórmulas prontas que envolvem Papai Noel e afins. Nessa celebração, o nascimento de Jesus é lembrado através da cultura popular. Com texto de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima e músicas de Antônio Madureira, o Baile do Menino Deus é considerado uma ópera popular, congregando imagens diversas da tradição natalina do Nordeste como reisados, pastoris e lapinha. A curtíssima temporada do espetáculo começou ontem (com ótimo público) e segue até o dia 25, sempre às 20h.

Neste auto de Natal, dois Mateus procuram a casa em que nasceu o menino; mas quando finalmente acham, a porta não abre; e quando abre, eles precisam da autorização dos pais da criança e donos da casa para realizar o baile. Sóstenes Vidal e Arilson Lopes interpretam os dois Mateus com graça e muita poesia. Dá para perceber o quanto eles se divertem em cena e o público é agraciado com esse jogo.

Crianças e adultos são tomados pela história, pelas imagens construídas no palco e pela musicalidade do espetáculo. Um dos solistas é Silvério Pessoa, alguém que já carrega consigo – o ano inteiro – o espírito de brincadeira, celebração e cultura popular do baile. Há ainda as belas vozes de Virgínia Cavalcanti e do casal Isadora Melo, que interpreta Maria, e Zé Barbosa, que faz José. Lindo o dueto de Isadora e Zé.

A trilha sonora é executada ao vivo por 15 músicos, regidos pelo maestro José Renato Accioly. Para completar, um coro adulto com 13 cantores e um coro infantil, coordenado por Célia Oliveira, com 12 crianças cantoras; fundamental, aliás, a participação delas no espetáculo.

As coreografias são assinadas por Sandra Rino. No palco, os bailarinos Isaac Souza, Inaê Silva, Jáflis Nascimento, José Valdomiro, Juliana Siqueira, Marcela Felipe, Renan Ferreira e Rennê Cabral. O elenco tem ainda Otávio Guerra, como o Mestre Rabequeiro e a atriz Fabiana Pirro como mestre de cerimônias.

A direção de arte é de Marcondes Lima e este ano merecem destaque os figurinos (pensado em todos os detalhes e de um efeito lindo). A direção geral é do próprio Ronaldo Correia de Brito e a assistência de direção de Quiercles Santana. A produção é da Relicário, com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco e da Prefeitura do Recife.

Baile do Menino Deus
Quando: hoje (24) e amanhã (25), às 20h
Onde: Marco Zero, Bairro do Recife

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