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Dança investiga “a pele que habitamos”

Foto: Divulgação

Espetáculo pernambucano Segunda Pele questiona padrões que oprimem. Foto: Divulgação

Foto de Leandro Lima

Sobre fortalezas e delicadezas. Foto de Leandro Lima

Agre . Foto: Leandro Lima

Maria Agrelli em cena . Foto: Leandro Lima

Cena do espetáculo de dança contemporânea Segunda Pele. Foto: Divulgação

Cena do espetáculo de dança contemporânea do Coletivo Lugar Comum. Foto: Divulgação

Maria Clara Camarotti em cena. Foto: Divulgação

Maria Clara Camarotti em cena. Foto: Divulgação

O espetáculo pernambucano de dança contemporânea Segunda Pele é povoado de afetos. Desses que o mundo carece. De respeito pelas singularidades; de amorosidade nas relações, nos toques; de humor que valoriza. Para chegar a esse território, as atrizes-bailarinas expõem com coragem as feridas provocadas por intolerâncias sociais. É forte, é terno, é includente. Isso vem desde o nascedouro, da escolha do nome do grupo – Lugar Comum, inspirado num conceito do escritor Edouard Glissant, da criação de espaço que conectem realidades multiétnicas, plurivocais, não etnocêntrica, com vistas a forjar novos parâmetros para a arte e para a vida nos tempos que seguem. Não é pouco.

As peles que habitam o corpo, o corpo nu, o corpo social, o corpo casa – cidade, pelo, olhar, prazer, toques, cortes, pudor, memória. Troca de peles, desnudamentos, a peça de dança coloca no centro um debate sobre a diversidade dessas matérias que nos compõem. Traça um mapa emocional sobre infinitas possibilidades de estar no mundo e questiona os padrões que oprimem, ofendem, dilaceram.

Em desnudamentos, em transformações, as artistas Liana Gesteira, Maria Agrelli, Maria Clara Camarotti e Renata Muniz escamam suas cascas, compartilham experiências de suas vidas. Algumas bem dolorosas como traduz o depoimento de Maria Clara, de suas cirurgias e as facas mais afiadas dos olhares e julgamentos de parcela da sociedade.

Segunda Pele trafega por identidades, pertencimentos, intimidades e coletividades. Investiga a políticos dos corpos e os discursos avessos. A reação do contato com outros materiais humanos e de outras naturezas como elástico, velcro, plástico, arame, poliestireno. Cada uma das artistas tem seu momento de protagonismo e também de cumplicidade feminina, amparo, proteção, amizade.

O Coletivo Lugar comum foi instigado pelas ideias de Friedensreich Hundertwasser, o arquiteto ícone da Viena mais vanguardista, para montar esse trabalho. O pensamento do artista austríaco – que desenvolveu sua obra numa perspectiva mais humanizada e ecológica-, defende que o terráqueo tem cinco peles: a epiderme, o vestuário, a casa, o meio ambiente – social e cultural – onde vive e, a última, a pele planetária ou crosta terrestre ou a natureza ou o planeta Terra.

Também Segunda Pele vivencia transformações desde sua estreia, em 2012. Mutações que acompanham os debates de resistência e empoderamento da mulher que passam por vestimentas em sentido ampliado.

A peça combina a força expressiva dos corpos, em suas peculiaridades. Com entusiasmo reivindica o poder, de fala e de atuação, mas reparte com a plateia suas inquietas pulsões. Exercita idiomas de muitas gestualidades. Toma posição e responde ao mundo a partir de lugares do feminino com habilidade de quem está na luta política. Cada uma com seus registros de vida. Engajam espaço e tempo para fazer circular na cena questões urgentes. Chega como um breve manifesto pela liberdade plena.

Ficha técnica
Concepção: Liana Gesteira, Maria Agrelli, Maria Clara Camarotti, Renata Muniz e Silvia Góes
Interpretescriadoras: Liana Gesteira, Maria Agrelli, Maria Clara Camarotti e Renata Muniz
Preparação corporal: Silvia Góes
Concepção e Criação de figurino: Juliana Beltrão, Maria Agrelli e Maria Ribeiro
Execução de figurino: Xuxu e Fatima Magalhães
Colaboração na execução de figurino: Ilka Muniz e Maria Lima
Trilha sonora original: Rua (Caio Lima e Hugo Medeiros) + convidados (Cyro Morais e Paulo Arruda) + letra de Silvia Góes
Criação e execução de iluminação: Luciana Raposo
Operação de Luz: Luciana Raposo
Assistente de iluminação/ cenotécnico: Sueides Leal (Pipia)
Execução de cenário/estrutura: Gustavo Araújo e Marcos Antonio
Produção geral: Vi Laraia
Design gráfico: Thiago Liberdade
Fotos e vídeo: Ju Brainer e Tuca Soares
Realização: Coletivo Lugar Comum

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Partilhas de afeto

Silvinha Góes em Diário corporal . Foto de Daniela Nader

Silvinha Góes em Diário corporal . Foto: Daniela Nader

Estar vivo a cada dia é um novo milagre, constata Silvinha Góes, depois de muitas andanças em que pedaços seus ficaram pelos caminhos. Mas também o reencontro com seus antepassados, com as raízes indígenas da tribo Fulni-ô , abasteceu seu coração, fortificou as pernas para outras danças.

Seu corpo-história está marcado de fluxos de vida, entre dores profundas e necessárias, e alegrias abençoadas por toda a beleza concedida pelo universo.

Nesta segunda-feira a artista expõe sua esperança no encontro verdadeiro, humano, embalado por afetos de pessoas que insistem em acreditar que não é preciso ferir o outro para ser feliz.

A mostra Diário corporal – um caminho de retorno é encarado como uma possibilidade de troca, mais do que um espetáculo. É a pulsão Vital de Silvinha Goes que acolhemos, acalentamos, num movimento mútuo de alegria e gratidão pela existência.

Neste 12 de junho, às 19h, no Coletivo Lugar Comum (Rua Capitão Lima, 210 – Santo Amaro).

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Muitas peles ligam o eu ao universo

Espetáculo Segunda pele. Foto: Renata Pires/Divulgação

Espetáculo Segunda pele. Fotos: Renata Pires/Divulgação

Vestir e desnudar faz parte de uma experiência complexa e na recriação do espetáculo Segunda Pele, mais radical. Está povoada de significados. De descascar. Dos adornos que comunicam muito além das roupas – de prisões e liberdades, épocas e memórias. Do corpo como espaço expandido. Do toque e do que isso desperta. Texturas, alucinações, voos, raízes. Com sua arte, o Coletivo Lugar Comum provoca reflexão na cena que vai da superfície ao avesso. Esse agrupamento de diferentes linguagens (dança, teatro, música, artes visuais, performance e literatura) aposta na potência de transformação, deles próprios e de quem pode ser afetado, esteticamente, politicamente, culturalmente e artisticamente.

Segunda Pele está em cartaz aos sábados, domingos e segundas, até o dia 9 de maio, sempre às 19h, na Casa do Coletivo Lugar Comum, em Santo Amaro. Com duração de 70 minutos, a peça de dança performática explora uma dramaturgia cênica não linear e apresenta cenas simultâneas nos vários espaços, na tentativa de estimular uma percepção mais sensorial.

Esta temporada recebe o incentivo do Funcultura – Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura.

Montagem é do Coletivo Lugar Comum

Montagem é do Coletivo Lugar Comum

O universo artístico do pintor, arquiteto, ativista e idealista austríaco Friedensreich Hundertwasser (1928-2000) é a inspiração para o trabalho. Ele rejeitava as linhas retas, no que isso tem de mais conservador e os autoritarismos. Sua teoria das 5 peles aponta para uma nova concepção de mundo.

A epiderme é a área que fica mais próximo do eu interior, que carrega a nudez e a infância. Hundertwasser fabricava suas próprias roupas para combater os três males da segunda pele: uniformidade, simetria e tirania da moda. A terceira pele, a casa, deveria harmonia natureza e humanos. O arquiteto defendia que “Tudo o que se estende horizontalmente debaixo do céu pertence à natureza”.

A identidade para Hundertwasser (a quarta camada) se amplia para o ambiente social, da família, amigos, passando pelo bairro até o país. A quinta pele inclui a Humanidade (e campanhas contra o racismo e a favor da paz, contra a energia nuclear, a favor da utilização dos transportes públicos e do plantio de árvores) a ecologia.  A quinta pele estica até ao infinito.

A teoria das 5 peles de Friedensreich Hundertwasser é uma das inspirações

A teoria das 5 peles de Friedensreich Hundertwasser é uma das inspirações

A concepção e criação do espetáculo é da bailarina e pesquisadora Liana Gesteira, em conjunto com as bailarinas Renata Muniz, Maria Agrelli, Maria Clara Camarotti e Silvia Goes. Na primeira versão do espetáculo, as bailarinas trabalharam mais  a vestimenta, a segunda pele. Nesta remontagem é feita uma conexão com todas as peles.

A temporada é dedicada à costureira Xuxu, que participou do grupo desde a criação do espetáculo, em 2012.  Nos dias 30 de abril e 1º de maio, as apresentações de Segunda Pele contarão com audiodescrição e intérprete de Libras, seguidas de bate-papo entre artistas e público.

Serviço
Temporada do espetáculo Segunda Pele
Quando: Sábados, domingos e segundas, às 19h até o dia 9 de maio
Onde: Casa do Coletivo Lugar Comum (Rua Capitão Lima, 210)
Quanto: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Mais informações: (81) 9 9229 5620

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Encontro com Hilda Hilst

Fabiana Pirro estreou primeiro monólogo. Foto: Renata Pires

Fabiana Pirro estreou primeiro monólogo. Foto: Renata Pires

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A peça teatral contraria o seu próprio título e é pouco pornofônica, lasciva, desbocada, devassa, libidinosa, indecente, despudorada, escandalosa. Outro jeito de ser Hilda Hilst. A obra da criadora paulista é rica e ampla, escapa de rótulos. Seus textos estão além, porque ela é múltipla. É certo que a fase mais popular de escritura de Hilda é de conteúdo deliberadamente erótico e pornográfico. Mas a encenação cria deslocamentos e lembra que a palavra “Obscena” também remete para aquilo que está fora da cena.

O espetáculo agrega trechos dos escritos e de entrevistas de Hilst, rasgos de memória e dos estudos da atriz Fabiana Pirro e de Luciana Lyra (atriz, diretora e dramaturga pernambucana radicada em São Paulo, que assina a dramaturgia e encenação) para criar sua poética cênica.

Os questionamentos íntimos da intérprete vão buscar ressonância na elaboração criativa da escritora, que articula um eixo propagador de invenção no teatro – e através do teatro. É assim que a relação com os homens de sua vida, principalmente o pai, passa por ajustamento ficcional e friccional da composição de personagens de teatro, que estabelecem diálogos e buscam respostas.

Na cena, as complexas relações com Deus, com o pai, com a natureza, com os animais são apresentadas em camadas. A personagem Líria, uma mulher de mais de 40 anos, investiga desejos e lacunas; revezando com a figura da própria Fabiana, que dá espaço para a voz narrativa da atriz em solilóquio ou em diálogos com interlocutores fictícios.

A representação de uma árvore assume as forças divinas e da natureza, de extrema importância para o desenvolvimento da encenação, seja como cenografia ou elemento articulador do discurso.

No espetáculo, Fabiana Pirro vive Líria

No espetáculo, Fabiana Pirro vive Líria

Obscena é o primeiro solo de Fabiana Pirro e costura sentimentos. É um espetáculo de desenho bonito no palco, palavras fortes. A montagem apresenta uma intérprete que se jogou de cabeça nesse projeto. Que faz reluzir desejos, vindos da experiência. Que cresceu como atriz. A montagem deve amadurecer. Mas já nasceu bonita.

A expressividade da atriz ainda pede uma modulação mais definida do seu repertório vocal que, em muitos momentos, está impregnada das vozes de espetáculos anteriores. Não vejo acréscimo nos breves momentos de nudez e isso me fez lembrar um show de Gal Costa dirigido por Gerald Thomas, em que a cantora aparecia de peitos à mostra.

As sutilezas também podem ser intensificadas com uma possível temporada e o azeitamento do espetáculo. A poesia inundou a equipe de criação, mas a emoção, a intensidade, o que arde de misto de loucura e invenção, amor e desejo são comportas que não foram liberadas totalmente para atingir o público nas duas sessões.

Obscena foi apresentada no Teatro Marco Camarotti, como parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Montagem tem direção e dramaturgia de Luciana Lyra

Montagem tem direção e dramaturgia de Luciana Lyra

Ficha técnica:

Idealização do projeto e atriz-criadora – Fabiana Pirro
Dramaturgia, encenação e direção – Luciana Lyra
Trilha sonora – Ricardo Brazileiro
Preparação corporal – Silvia Góes
Direção de arte – Nara Menezes
Design de luz – Agrinez Melo
Operação de luz – Leo Ferrario
Figurino – Virgínia Falcão
Colaboração artística – Conrado Falbo
Produção – Fabiana Pirro e Lorena Nanes
Filmografia – Ernesto Filho e Renata Pires
Design gráfico – Tito França
Fotos – Renata Pires
Realização – Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum

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# Curtinhas

Aquilo que meu olhar guardou para você. Foto: Ivana Moura

# O Magiluth está terminando uma temporada curtinha de Aquilo que meu olhar guardou pra você neste fim de semana. As apresentações são hoje (9) e amanhã (10) no Teatro Arraial, às 20h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Leia aqui a última crítica que escrevemos sobre o espetáculo.

# A IV Turma de Iniciação Teatral da Cênicas Cia de Repertório apresenta o seu trabalho de conclusão neste domingo (11), às 20h, no Teatro Barreto Júnior. Eles encenam A Incrível Confeitaria do Sr Pellica, texto de Pedro Brício, com direção de Antônio Rodrigues e assistência de Sônia Carvalho. Na montagem, o proprietário de uma confeitaria do século XVIII, a família dele, os criados e amigos pensam numa maneira de salvar o negócio. É uma comédia com arquétipos da sociedade burguesa decadente e um final que promete surpreender. No elenco estão Bárbara Brendel, Cláudia Shinoby, Dani Medeiros, Diego Nascimento, Douglas Dantas Jajá Rodrigues, Jandson Miranda, Lídia Lins, Manoel Francisco, Nice Lima e Pollyanna Cabral. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).

A incrível confeitaria do Sr Pellica . Foto:Toni Rodrigues

# Com direção de Adriana Madasil e texto de Caio Andrade, o grupo Repertório de Teatro apresenta hoje (9) e amanhã (10), às 20h, o espetáculo Quadro em branco. Será no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela. A peça retrata as lembranças de Flora, estudante de artes plásticas e filha de militar, que viveu a juventude em plena ditadura, no auge dos movimentos contracultura e da defesa da liberdade de expressão. Juntamente com mais cinco amigos, Flora revive esses momentos de sensibilidade, emoção e tragédia. Ingressos: R$ 10.

Cegonhas e rodovalhos

# Samuel Bennaton apresenta o seu primeiro projeto solo no Teatro Joaquim Cardozo, no Centro Cultural Benfica. Cegonhas e rodovalhos fala sobre um pai que se mantém vivo, personificando as intempéries da vida que acabaram por deixá-lo sozinho e isolado. A obra surgiu a partir do poema homônimo de Machado de Assis. A assistência de sireção é de Samir Benjamim, a assistência de produção de Weldjane Mary e a concepção de iluminação de Natalie Revorêdo, Luiz Gutemberg e César Jeansen. Toda sexta-feira, às 20h, até 14 de dezembro. Ingressos: R$ 7 (preço de meia-entrada para todos).

# O Coletivo Lugar Comum estreou espetáculo semana passada, na Casa Mecane (Av. Visconde de Suassuna, 338, Boa Vista). Segunda pele surgiu do estudo do figurino, que se desmembrou em muitos questionamentos sobre aquilo que usamos sobre o corpo, o que nos adorna ou o que vestimos; informações culturais, sociais, políticas, as reivindicações, prisões e liberdades, a identidade de um povo, de uma época ou de um homem, de uma criança, de uma mulher. O espetáculo é das bailarinas Liana Gesteira, Maria Agrelli e Renata Muniz. Fica em cartaz sextas, sábados e domingos de novembro, sempre às 20h. Ingressos: R$ 15 e R$ 7 (meia-entrada).

Segunda pele. Foto: Ju Brainer

# Semana passada também foi inaugurado um espaço novo – o Sobrado das Artes, na Travessa Tiradentes, no Recife Antigo. Afar, da Sete&Oito Companhia de Dança, está em cartaz lá até o dia 25, com sessões sábados, às 20h, e domingos, às 19h. O trabalho é fruto da pesquisa dos bailarinos e arte-educadores Carlla Amaral e Cleisson Barros, que viram no barro um canal ideal para expressar as dúvidas, anseios e conflitos causados pela fome de criação do homem. Ingressos: R$ 10.

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