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Programação teatral no Recife
em intenso movimento
neste fim de setembro

Focus Cia de Dança celebra marco histórico de 25 anos . De Bach a Nirvana. Foto: Dan Coelho / Divulgação

Carlota. Foto: Cristina Granato

Trupe. Foto: Babi-Furtado

A cena teatral no Recife se mexe em diversidade artística que contempla dança contemporânea, humor, experimentação, teatro infantil e produções nacionais. A programação demonstra vitalidade cultural que posiciona Recife como importante centro de produção e circulação das artes cênicas no país.

Celebrando marco histórico de 25 anos de trajetória artística, a Focus Cia de Dança traz ao Recife uma programação especial dentro do Cena Cumplicidades. A companhia carioca, que possui reconhecimento internacional tendo se apresentado em mais de 100 cidades brasileiras e países como Colômbia, México, Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália, oferece três espetáculos gratuitos que demonstram a maturidade de um dos grupos mais respeitados da dança contemporânea brasileira.

Com 26 obras e 16 espetáculos em repertório, a Focus, sob direção de Alex Neoral, consolidou linguagem coreográfica única que combina técnica refinada com experimentação estética.

Trupe evoca tradição dos artistas mambembes através de cortejo coreográfico onde dez bailarinos fazem um cortejo para transformar espaço urbano em palco. De Bach a Nirvana realiza encontro improvável entre épocas musicais distintas, conectando música barroca de Johann Sebastian Bach (1685-1750) com rock visceral do Nirvana de Kurt Cobain (1967-1994) através de coreografia. Carlota – Focus Dança Piazzolla, criação de 2023, homenageia Carlota Portella (1940-2024) utilizando 11 tangos de Astor Piazzolla para reconfigurar matrizes tradicionais do ritmo argentino, explorando melancolia, abandono e paixão através de linguagem corporal que celebra o corpo como obra de arte suprema.

Anjo Negro combina dança contemporânea, artes circenses, balé clássico e teatro físico

Ave, Guriatã! encerra o festival

O Festival Estudantil de Teatro e Dança de PernambucoFETED representa importante plataforma de formação artística que revela novos talentos enquanto aborda temas urgentes da sociedade brasileira. De 24 a 28 de setembro no Teatro Apolo, sete espetáculos resultam de processos formativos que incluem trabalhos de conclusão de cursos e criações coletivas, evidenciando o caráter pedagógico fundamental do festival.

O Sequestro da Leitura funciona como julgamento cênico onde a “Escola” é acusada de sequestrar a Leitura, questionando métodos educacionais tradicionais. Anjo Negro combina dança contemporânea, artes circenses, balé clássico e teatro físico através de dez cenas intensas com liras e tecidos acrobáticos para explorar trajetória de mulher negra em busca de identidade. Canto de Negro celebra ancestralidade afro-brasileira percorrendo trajetória “dos porões dos navios aos terreiros, quilombos e ruas”, criando diálogo temporal que ressalta resistência cultural.

Para o público infantil, As Crônicas dos Gatos Sem Lar apresenta Sophia, gatinha com autismo que ensina sobre amizade, empatia e respeito às diferenças, funcionando como ponte educativa. Escolinha de Bruxas, resultado do Curso de Iniciação Despertar Teatral da Cênicas Cia de Repertório, adapta Maria Clara Machado para abordar bullying e empatia através da história de Ângela, jovem bruxa bondosa. “Ave Guriatã“, emerge do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc sob direção de José Manoel Sobrinho e Samuel Bennaton, baseando-se em Guriatã, um Cordel para Menino de Marcus Accioly para celebrar cultura brasileira através de narrativa poética sobre menino em busca de identidade.

Sala de Jantar. Foto Mônica Maria

A experimentação teatral encontra uma expressão delicada e envolvente em Sala de Jantar, criação onde Ruy Aguiar realiza alquimia cênica transformando o ordinário em extraordinário. Neste universo, pratos, talheres, toalhas e guardanapos abandonam sua condição de utensílios para se transformar em personagens dotados de desejos, ansiedades e sonhos próprios. O elenco formado por Edivane Bactista, Adilson Di Carvalho, Fabiana Coelho, Ryan Rodrigues e o próprio Ruy Aguiar desenvolve técnica de manipulação que exige simultaneamente precisão e sensibilidade artística aguçada, conferindo alma e personalidade a cada objeto durante preparativos para jantar elegante orquestrado por figura enigmática do lacaio misterioso.

A dramaturgia desenvolve narrativa onde os objetos aguardam ansiosamente a chegada dos convidados, transformando arrumação doméstica em jornada emocional. Lailson Cavalcante desenvolve pesquisa musical que dialoga harmoniosamente com cada metamorfose cênica, criando paisagem sonora que amplifica a magia inerente aos momentos de transformação, enquanto Saulo Uchoa assina desenho de luz buscando dramaticidade essencial aos instantes em que objetos inanimados ganham vida pulsante.

Esta experiência de 45 minutos com classificação a partir de 8 anos acontece no Espaço Cultural Métron Produções (Rua Tabira, 109, Boa Vista) para 30 espectadores por sessão, criando intimidade que potencializa o impacto emocional. Estreada em 2017, a montagem integra o repertório da Métron Produções e foi contemplada pela Lei Paulo Gustavo através do Edital Multilinguagens Recife Criativo. Todas as apresentações contam com interpretação em Libras, garantindo acesso democrático a esta experiência que encontra magia nos elementos mais familiares do cotidiano.

Nega do Babado e Violetas da Aurora. Foto: Renato Filho

A Casa de Alzira sedia Palhacinhas do Brega – Vibrando no Babado, proposta artística inédita que une palhaçaria contemporânea e tradição musical pernambucana. Este evento conecta o coletivo Violetas da Aurora – consolidado através de oito anos de atividades e produções emblemáticas como Violetas da Aurora – o Encontro (2018), Mesa de GlosaR (2019) e Violetas no Parque (2021) – com Nega do Babado (Adriana Araújo da Silva), ícone do brega recifense com mais de duas décadas de trajetória que inclui sucessos populares como Milkshake e consolidação como uma das vozes mais potentes do cenário musical pernambucano.

O Violetas da Aurora, protagonizado por Ana Nogueira (Dona Pequena), Fabiana Pirro (Uruba), Mayra Waquim (Maroca) e Silvia Góes (Sema Roza Madalena), desenvolve ao longo de quase uma década linguagem cênica que articula palhaçaria, crítica social e celebração de encontros com artistas de diferentes linguagens. Colaborações anteriores com poetas como Graça Nascimento e Anaíra Mahin demonstram compromisso do coletivo em criar pontes entre expressões artísticas diversas, fortalecendo redes colaborativas que enriquecem cenário cultural pernambucano através de protagonismo feminino em campos tradicionalmente dominados por vozes masculinas.

Nega do Babado representa transformação paradigmática no universo do brega, gênero que nas últimas décadas assistiu ao surgimento de figuras femininas que redefinem códigos estéticos e narrativos. Reconhecendo conexões naturais entre sua performance musical e elementos da palhaçaria, declara: “No meu Brega, a palhaçaria está sempre presente. Eu tenho essa felicidade de ser palhaça também”. Esta declaração revela consciência artística sobre hibridismos que caracterizam sua estética, onde irreverência, humor e autenticidade popular se fundem criando linguagem única que dialoga naturalmente com propostas do Violetas da Aurora.

DJ Vibra (Virgínia Brasil) atua como ponte criativa fundamental entre universos aparentemente distintos, assumindo simultaneamente funções de diretora artística e produtora musical. Reconhecida nacionalmente por trilhas sonoras que transitam entre eletrônico, popular e afro-diaspórico, coidealizou o selo Discopreta, consolidando-se como voz criativa fundamental da cena independente brasileira. Atualmente conduzindo processo de expansão artística da Nega do Babado rumo à construção de carreira latina, Vibra preserva simultaneamente a força popular que caracteriza a artista, criando equilíbrio entre inovação estética e autenticidade regional.

A narrativa cômica satiriza oportunismo no meio artístico através de personagens que, cansadas de financiar turnês através de vaquinhas, enxergam no sucesso do brega recifense oportunidade de ascensão rápida. Convidando Nega do Babado para colaboração, descobrem que conquistar espaço na cena musical exige muito mais que simples boa vontade, revelando camadas de reflexão sobre legitimidade artística, reconhecimento profissional e complexidades envolvidas na construção de carreiras sólidas no cenário cultural brasileiro.

Inaugurando a noitada, Flávia Gomes apresenta Sarau Eroticuzinho, explorando territórios da poesia erótica que dialogam tematicamente com ousadia proposta pelo encontro principal. Completando a experiência musical, D Mingus participa como convidado especial, ampliando diversidade sonora da celebração através de performance que conecta diferentes vertentes musicais presentes na cena recifense contemporânea.

A Casa de Alzira, localizada no terceiro andar do Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (MUAFRO), ocupa Sala Inaldete Pinheiro, espaço com capacidade para 70 pessoas equipado com recursos técnicos completos, camarim, cantina e lojinha colaborativa. O espaço funciona como laboratório cultural que incentiva experimentação e encontros transformadores entre linguagens artísticas diversas.

Tradição Cultural e Identidade Pernambucana

Canto e Encanto Pernambuco: Folia e Foliões, Carnaval de Alegria representa trabalho do Núcleo Musical Irmã Scheilla, vinculado à Fraternidade Peixotinho, organização que desenvolve atividades de ensino musical utilizando a música como ferramenta de educação e preservação cultural. O espetáculo combina batuques, orquestras, sopros e cordas com encenações teatrais em apresentação que celebra diversidade cultural pernambucana focando em ritmos e tradições carnavalescas. A entrada gratuita para crianças até 10 anos facilita acesso familiar, consolidando função social e educativa da proposta.

Teatro de Rua e Urgência Climática

Grupo Bote de Teatro faz apresentações na Praça do Sebo

Recife, cidade historicamente construída sobre ilhas e aterros, enfrenta destino inexorável ligado às águas que a constituem e ameaçam. Esta geografia insular torna ainda mais urgente a reflexão sobre crise climática numa metrópole que, segundo relatório da ONU, figura como 16ª cidade mais vulnerável do mundo ao aumento do nível do mar. Diante desta realidade alarmante, o Bote de Teatro compreende que abordar tema tão crucial exige proximidade radical com a população: “sendo uma cidade considerada uma ilha, para falar de um tema como a crise climática, não haveria outra forma a não ser ir para a rua, ir para perto das pessoas e ocupar um espaço urbano”.

Ilha:Dois materializa esta urgência transformando a Praça do Sebo em laboratório de teatro de rua, dirigido por Rafael Bacelar com dramaturgia de David Maurity, ambos integrantes da Toda Deseo, companhia mineira de teatro que desde 2013 pesquisa temas LGBTQIAPN+. Esta parceria entre Toda Deseo – com sua experiência consolidada em teatro político e narrativas de resistência – e o Bote de Teatro, do Recife, busca sensibilizar sobre a urgência climática numa perspectiva que conecta lutas identitárias com sobrevivência coletiva.

O espetáculo atua como “confrontação à cidade”, buscando “dizer à população que é preciso se ocupar em pensar sobre a crise climática”. Esta urgência se justifica pelos estudos científicos que apontam Recife como uma das primeiras metrópoles brasileiras a “desaparecer do mundo por conta do nível do mar”. A montagem utiliza estes dados científicos alarmantes para construir narrativa que conecta política, poesia e sobrevivência urbana através de Cardo Ferraz, Daniel Barros, Inês Maia e Pedro Toscano, quatro pessoas reunidas em torno de mesa de bar discutindo tempo de cidade ameaçada.

As conversas, atravessadas por copos de cerveja e cigarros, incorporam memórias locais como a enchente histórica de 1975 e os alagamentos anuais que marcam cotidiano recifense, criando ponte temporal entre experiência vivida e projeções científicas. A dramaturgia entrelaça nostalgia (consciência de que o passado se perdeu), esperança (ousadia de inventar futuros) e presente que se impõe com suas urgências climáticas e sociais.

A equipe técnica revela colaboração multidisciplinar: Aura do Nascimento (direção de arte), Vibra (sonoplastia), Joice Paixão (consultoria ambiental e política), Priscila Siqueira (coordenação de acessibilidade), com participação especial de Nega do Babado e tradução em Libras. Esta configuração demonstra compromisso com acessibilidade integral e conhecimento especializado sobre questões ambientais.

A integração com ambiente natural da praça, onde bares funcionam durante as apresentações, busca dissolver fronteiras entre ficção teatral e realidade urbana. Espectadores são convidados a chegar cedo para garantir mesa, fazendo da experiência teatral parte orgânica do cotidiano do espaço.

Murilo Freire em Esquecidos por Deus. Foto Divulgação

Esquecidos por Deus marca 40 anos de carreira teatral de Murilo Freire, que iniciou aos 7 anos tornando-se profissional aos 8. Com especialização em Arts du Spectacle na Universidade de Paris-8 durante cinco anos de residência na França, atualmente atua como Professor de Teatro no SESC, Supervisor de Cultura e Psicoterapeuta Holístico Integrativo. O monólogo baseia-se em “O Livro das Personagens Esquecidas” de Cícero Belmar, membro da Academia Pernambucana de Letras, abordando memória, identidade, patrimônio, tradição, apagamentos e cancelamentos. A interpretação utiliza “Arquetipia Humanimal”, pesquisa prática de 20 anos que combina pré-expressividade (Barba) e trabalho sobre ações físicas (Stanislavski/Grotowski). A técnica parte da observação de animais domesticados que mimetizam comportamentos humanos, criando hipótese de que humanos podem reproduzir hábitos de outras espécies animais através de reprodução da corporeidade animal (respiração, impulsos físicos, ritmos) até alterar a corporeidade humana, criando arquétipos claramente identificáveis. Com encenação, dramaturgia e iluminação de José Manoel Sobrinho, direção musical de Fellipe Barnabé e figurinos de Ivone Nunes, representa formato intimista que preza proximidade com plateia.

Formação Continuada e Protagonismo Negro

Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo compõem elenco

O Espaço O Poste apresenta resultado concreto de política de formação artística continuada através de Àwọn Irúgbin (Sementes em iorubá), resultado de dois anos de Residência O Postinho. Seis jovens pretos das periferias participaram de processo formativo gratuito que inclui interpretação teatral, voz e preparação corporal, danças afrodiaspóricas, história do teatro negro, dramaturgia a partir de escrevivências, elaboração de projetos culturais, economia criativa e letramento étnico-racial. A equipe pedagógica conta com Naná Sodré (preparação corpo ancestral), Agrinez Melo (preparação poética matricial), Darana Nagô (danças afrodiaspóricas), Jeff Vitorino e Matheus Amador (história do teatro negro-africano). Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo compõem elenco que também assina dramaturgia e produção, demonstrando formação completa em criação teatral. A montagem aborda identidade racial, transformação social e visibilidade da mulher negra, incluindo cenas sobre Bailes Charme, com operação de som e luz ao vivo realizada pelo próprio elenco. O projeto integra Ocupação Espaço O Poste, fomentado pelo Programa FUNARTE de Apoio a Ações Continuadas 2023.

Teatro Infantil e Educação Ambiental

Floresta dos Mistérios utiliza 20 bonecos de diferentes tamanhos criados por Márcio de Pontes. Foto: Silvia Machado

A CAIXA Cultural Recife recebe criação de Márcio Araújo, um dos criadores do programa Cocoricó que marcou gerações na TV Cultura. Floresta dos Mistérios utiliza 20 bonecos de diferentes tamanhos criados por Márcio de Pontes para contar história sobre três crianças – Bel, Rafa e Duda que descobrem planos do prefeito Lúcio Fernando para desmatar área florestal e construir maior fábrica de celulares do mundo na cidade de Micrópolis. Com ajuda de seres encantados do folclore brasileiro como Saci Pererê, Iara e Boitatá, lutam para salvar a Floresta dos Mistérios. As canções originais, compostas por Tato Fischer e Márcio Araújo, são interpretadas ao vivo pelos manipuladores-cantores Clayton Bonardi, Daniela Schitini, Débora Vivan, Joaz Campos, Marcio Araújo, Matilde Menezes e Thalita Passos, com arranjos e direção musical de Gabriel Moreira. Todas as sessões são bilíngues e acessíveis, com tradução em LIBRAS e audiodescrição integradas à dramaturgia, representando abordagem inclusiva que faz parte da concepção artística. Paralelamente, acontece Workshop de Gestão e Produção Cultural Criativa ministrado pela produtora Bia Ribeiro, destinado a artistas, produtores e profissionais culturais maiores de 18 anos.

 

Teatro de urgência: espetáculo sobre violência infantil 

Ator potiguar José Neto Barbosa protagoniza peça com tema sensível

Uma obra que dialoga com uma das realidades mais dolorosas da sociedade contemporânea, Um Depoimento Real faz duas apresentações no Recife nos dias 28 e 30 de setembro, tendo como assunto o abuso infantil através da perspectiva de uma criança.

O ator potiguar José Neto Barbosa é dirigido pela argentina Monina Bonelli, do Teatro Bombón de Buenos Aires, na adaptação do texto Los Titanes, criado pela dramaturga Paola Traczuk.

A diretora define o trabalho como o resultado de um abraço artístico, político e afetivo entre artistas latino-americanos, que se propõem a abordar um tema sobre o qual a sociedade prefere não falar. Segundo ela, trata-se de um assunto doloroso que as pessoas gostariam que estivesse distante de suas realidades, mas que está presente no Brasil, na Argentina e no mundo inteiro, sem distinção de classe, gênero, raça ou povo, exigindo que seja discutido através da arte e outras linguagens.

O espetáculo apresenta a narrativa de uma criança que conta sua experiência. A montagem denuncia a negligência, expõe os silenciamentos e reforça a fundamental importância das redes de proteção na vida das crianças.

José Neto Barbosa, conhecido pelo premiado espetáculo A Mulher Monstro, que se tornou destaque no teatro pernambucano, protagoniza esta urgente discussão social. A classificação indicativa é de 14 anos, considerando a delicadeza do tema abordado.

Todas as sessões contarão com interpretação em Libras. Cada apresentação será seguida de um debate mediado por uma psicóloga especializada.

O acesso ao espetáculo é gratuito, mas requer a doação de 1kg de alimento não perecível, que será destinado a instituições de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.

Fundada em Natal e com atuação também em Recife, a S.E.M. Cia. de Teatro completa 13 anos de atividades voltadas para a arte militante e formação cultural. Sob a direção artística de José Neto Barbosa, a companhia já alcançou mais de 70 mil pessoas em 15 estados brasileiros. Entre suas produções de destaque estão os espetáculos Borderline, Quando a Vela Apaga, Acordo de Paz e o premiado monólogo A Mulher Monstro.

Apoio institucional
O projeto conta com o apoio da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura e Prefeitura do Recife, através da Lei Paulo Gustavo, uma iniciativa do Ministério da Cultura e Governo Federal para fomento das artes cênicas no país.

Universidade Federal: Meio Século de Formação

A 15ª Semana de Cênicas celebra 50 anos do curso de Licenciatura em Teatro da UFPE, meio século de formação de profissionais que atuam como professores, diretores, atores e pesquisadores em todo o Estado. O evento funciona como espaço de resistência cultural reunindo estudantes, professores, artistas e comunidade para discutir desafios e perspectivas do teatro pernambucano. A temática “Raízes Pernambucanas” conecta tradições ancestrais com práticas teatrais contemporâneas, evidenciando continuidade e transformação da arte cênica local através de seis apresentações que transitam entre experimento autobiográfico, teatro histórico, experiência imersiva, dramaturgia indígena, performance feminina e narrativa de resistência.

Humor e Musical para a família

O Teatro Barreto Júnior acolhe propostas distintas. A Fantástica Fábrica de Chocolates reúne elenco misto de amadores e profissionais incluindo crianças e adultos em três atos inspirados nos três filmes do Willy Wonka, seguidos de agradecimentos, sorteio de rifa e sessão de fotos com elenco. Plantão dos Técnicos marca encontro inédito entre Camila Cardoso (técnica de enfermagem) e Gabriel Castanheira (Tequim de Enfermagem), influenciadores com mais de 1 milhão de seguidores que transformam experiências do cotidiano médico em narrativas cômicas, rapidamente esgotando ingressos. A Vida é uma Choice apresenta Scarlat Caluête, reconhecida por timing cômico impecável e sarcasmo inteligente, transformando palco em talk show ao vivo através de stand-up interativo onde cada piada convida à gargalhada e público protagoniza momentos únicos.

O vendedor de sonhos

O Vendedor de Sonhos no Teatro RioMar representa primeira obra de Augusto Cury – psiquiatra mais lido no mundo atualmente – a receber adaptação teatral. O livro, traduzido para mais de 60 idiomas e também transformado em filme, foi adaptado pelo próprio autor com direção de Luciano Cardoso (33 anos de experiência). A montagem, vista por mais de 300 mil pessoas em mais de 400 apresentações, aborda saúde mental e prevenção ao suicídio – tema crescente na sociedade atual – através da proximidade entre atores e plateia que potencializa impacto positivo da obra. A narrativa conecta Júlio César (Mateus Carrieri), que tenta suicídio, com Mestre (Milton Levy), mendigo que lhe vende vírgula para continuar escrevendo sua história, junto a Bartolomeu (Adriano Merlini) na missão de vender sonhos e despertar sociedade doente.

VEM AÍ

Sagração. Foto: Flavio Colker

Sagração é uma releitura ousada de A Sagração da Primavera de Stravinsky, obra que em 1913 causou um dos maiores escândalos da história cultural em Paris. Deborah Colker, Prêmio Laurence Olivier (2001), Prix Benois de la Danse de Moscou (2018) e primeira mulher a criar espetáculo para o Cirque du Soleil (Ovo, 2009), além de dirigir movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016 transmitida para mais de 2 bilhões de pessoas, transforma sacrifício eslavo em cosmogonia indígena brasileira. A inspiração veio de viagem ao Xingu e encontro com cineasta indígena Takumã Kuikuro. 170 bambus de quatro metros (criações de Gringo Cardia) operam como elementos coreográficos ativos desafiando 15 bailarinos. A direção musical de Alexandre Elias propõe arqueologia sonora mantendo estrutura rítmica stravinskyana enquanto sobrepõe sons indígenas, maracá, caxixi e “paus de chuva” tocados pelos bailarinos, criando composição onde boi bumbá, coco, afoxé e samba dialogam com orquestra sinfônica.

Jeison Walace como Cinderela. Foto: Divulgação

Cinderela em: Toda Cidade Tem celebra fenômeno cultural de mais de três décadas. Jeison Wallace se confunde com criação que o tornou famoso: Cinderela não era princesa, mas menina sonhadora de um dos morros do Recife – mal educada, desaforada e engraçada – criada em 1991 na peça Cinderela, a História que sua mãe não contou. Popular em todas as classes sociais e habituado a lotar plateias, o comediante construiu mais de 30 anos de carreira transitando entre rádio, teatro, cinema, TV e sitcom. O espetáculo utiliza esquetes hilárias e interação intensa para abordar peculiaridades do cotidiano encontradas em qualquer cidade brasileira, desde fofocas de bairro até personagens marcantes do dia a dia, mesclando tradicional e contemporâneo através da irreverência que consolidou a personagem como ícone da comédia nacional.

PROGRAMAÇÃO 

SERVIÇOS
FOCUS CIA DE DANÇA – 25 ANOS
Trupe 📅 24/09, 19h – Centro de Artes UFPE | 28/09, 11h30 – Parque da Jaqueira
🎫 Gratuito | ⏱️ 35min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

De Bach a Nirvana 📅 26/09, 20h – Teatro Luiz Mendonça
🎫 Gratuito – teatroluizmendonca.byinti.com | ⏱️ 90min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Carlota – Focus Dança Piazzolla 📅 27/09, 20h – Teatro Luiz Mendonça
🎫 Gratuito – teatroluizmendonca.byinti.com | ⏱️ 75min | 👨‍👩‍👧‍👦 12 anos

FETED 2025
📍 Teatro Apolo – Rua do Apolo, 121
🎫 R22,50(R 20 + R2,50taxa)∣💳4xR 6,12

24/09 (19h) – O Sequestro da Leitura
25/09 (19h) – Anjo Negro
26/09 (19h) – Canto de Negro
27/09 (16h) – As Crônicas dos Gatos Sem Lar
27/09 (19h) – Auto da Barca do Inferno
28/09 (16h) – Escolinha de Bruxas
28/09 (19h) – Ave, Guriatã!

Sala de Jantar 📅 25, 26, 27/09 – 18h e 20h
📍 Espaço Cultural Métron Produções – Rua Tabira, 109, Boa Vista
🎫 Gratuito –
www.metronproducoes.com.br
| 👥 30 pessoas | ⏱️ 45min | 👨‍👩‍👧‍👦 8 anos
♿ Libras em todas as sessões

Palhacinhas do Brega 📅 27/09, 20h – Casa de Alzira – MUAFRO
🎫 1º lote R30∣2ºloteR 50 | 👨‍👩‍👧‍👦 16 anos | 👥 70 pessoas

Canto e Encanto Pernambuco 📅 28/09, 16h – Teatro do Parque
🎫 R$ 30 (gratuito até 10 anos) | ⏱️ 60min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Ilha:Dois 📅 27, 28/09, 19h – Praça do Sebo, Boa Vista
🎫 Gratuito | ♿ Libras | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Esquecidos por Deus 📅 27, 28/09, 19h30 – SESC Goiana
🎫 Gratuito | ⏱️ 60min

Àwọn Irúgbin – o Poste 📅 27/09, 19h – Espaço O Poste
🎫 Inteira R30∣MeiaR 15 | 💳 3x R$ 6,25

Floresta dos Mistérios 📅 26/09 a 05/10 – CAIXA Cultural
🕒 Sextas 19h | Sáb/Dom 11h
🎫 Inteira R20∣MeiaR 10
♿ LIBRAS e audiodescrição em todas as sessões

SEMANA DE CÊNICAS UFPE – 50 ANOS
📅 23 a 26/09 – Centro de Artes UFPE
🎫 Gratuito – Todas as apresentações

TEATRO BARRETO JÚNIOR
A Fantástica Fábrica de Chocolates” 📅 27/09, 17h45 | 🎫 Inteira R55∣MeiaR 27,50 | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Plantão dos Técnicos” 📅 28/09, 20h | 🎫 ESGOTADO

A Vida é uma Choice” 📅 01/10, 19h | 🎫 Duplo R27,50∣IndividualR 22,50 | 💳 6x

Um Depoimento Real, com José Neto Barbosa
📅 28/09 (domingo): 18h – Espaço Cênicas, Bairro do Recife
30/09 (terça-feira): 14h e 16h – COMPAZ Dom Helder Camara, Ilha Joana Bezerra
🎟️ Ingressos: Gratuitos no Sympla (doação de 1kg de alimento não perecível) 🔞 Classificação: 14 anos 🧏🏽‍♂️ Acessibilidade: Interpretação em Libras em todas as sessões

VEM AÍ – OUTUBRO

Sagração” – Cia. Deborah Colker 📅 07/10, 20h30 – Teatro Guararapes, Olinda
🎫 R25aR 200 | ⏱️ 70min | 👨‍👩‍👧‍👦 10 anos
⚠️ Contém luzes estroboscópicas

“Cinderela em: Toda Cidade Tem” 📅 04/10, 18h – Teatro do Parque
🎫 Inteira R120∣MeiaR 60 | Social R$ 80 | 💳 12x
⏱️ 70min | 👨‍👩‍👧‍👦 14 anos

📱 Informações gerais: Consultar sites e redes sociais dos teatros
💳 Vendas: Sympla, bilheterias locais e sites específicos

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21º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco
aposta na criatividade sem limite

Jornada teatral promete encantar público com histórias instigantes como O Segredo da Arca de Trancoso. Foto: Wilson Lima

Pinoquio. Foto: Cesar Almeida

Por que levar as crianças ao teatro?
O teatro é uma arte poderosa para o desenvolvimento infantil. Além de estimular a imaginação e a criatividade, as apresentações teatrais ajudam as crianças a desenvolverem empatia, pensamento crítico e habilidades sociais. Não tem contraindicação. 

“Quando uma criança assiste a um espetáculo teatral, ela não está apenas se divertindo, mas também aprendendo sobre emoções, valores e diferentes perspectivas de vida”, destaca Edivane Bactista, produtora do 21º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco (FTCPE), que neste 2025 tem como tema Criatividade sem Limite.

O universo lúdico e encantador do teatro infantil ganha as principais casas de espetáculo do Recife a partir deste final de semana e traz 14 espetáculos que prometem transportar o público para mundos de fantasia, aventura e aprendizado.

De 5 a 27 de julho, sempre aos sábados e domingos, os teatros de Santa Isabel, Parque e Barreto Júnior serão palco de montagens que celebram a diversidade cultural brasileira e a imaginação sem fronteiras. A programação reúne companhias de Arcoverde, Moreno, Paulista, Recife, João Pessoa (PB), além de uma montagem luso-brasileira vinda do Rio de Janeiro e uma produção olindense com influências egípcias e espanholas.

“O Festival busca oferecer ao público infantil uma mostra das muitas possibilidades que o teatro proporciona através da dramaturgia, da música, das formas animadas e do circo, linguagens que dialogam naturalmente com o universo da criança”, explica Ruy Aguiar, diretor artístico do evento.

Uma novidade desta edição é que todas as sessões contarão com acessibilidade em Libras, tornando o festival ainda mais inclusivo.

A solenidade de abertura acontece neste sábado (05/07), às 16h30, no Teatro de Santa Isabel, dez minutos antes da apresentação do espetáculo Mundo em Busca do Coração da Terra, da Tropa do Balacobaco de Arcoverde. Na ocasião, serão homenageados três artistas pernambucanos que dedicaram mais de 50 anos às artes cênicas, com destaque para as dramaturgias negras e quilombolas: as atrizes Carmelita Pereira e Juraci Vicente, e o ator, diretor e dramaturgo Didha Pereira.

Os espetáculos selecionados para o 21º FTCPE abordam temas relevantes como amizade, coragem, diversidade cultural e respeito ao meio ambiente, sempre de forma lúdica e acessível ao público infantil.

Em 21 anos de atividade, o Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco consolidou-se como um dos mais longevos do Brasil. Até a edição de 2024, foram realizados 270 espetáculos presenciais em mais de 485 apresentações, alcançando 154 mil espectadores e gerando mais de 5.200 trabalhos diretos e indiretos. Além das apresentações, o Festival também promove o Colóquio do Teatro para Infância e Juventude, que em 2025 completará 11 anos.

MUNDO em busca do coração da Terra – Foto_ Kaian Alves 

Programação do Final de Semana de Abertura

Sábado (05/07)
Teatro de Santa Isabel – 16h30

Mundo em Busca do Coração da Terra (Tropa do Balacobaco/Arcoverde-PE) : Uma aventura emocionante sobre um menino sertanejo que sonha conhecer a noite, em um tempo onde o sol reina sozinho. A jornada o leva a encontrar lendas das cinco macrorregiões do Brasil.
Ingressos: R$ 60,00 (inteira)/ R$ 30,00 (meia-entrada)
Duração: 70 minutos
Classificação: Livre

Teatro do Parque – 16h30

O Segredo da Arca de Trancoso (Cênicas Cia de Repertório/ Recife-PE): A história de um menino que recebe a missão de entregar uma arca misteriosa, enfrentando personagens inusitados e descobrindo que o objeto tem poderes surpreendentes.
Ingressos: R$ 60,00(inteira)/ R$ 30,00 (meia-entrada)
Duração: 60 minutos
Classificação: Livre

Domingo (06/07)
Teatro de Santa Isabel – 16h30

Pinóquio (Roberto Costa Produções/ Paulista-PE): O clássico boneco de madeira que sonha em se tornar um menino de verdade ganha vida no palco, em uma adaptação que encanta gerações.
Ingressos: R$100,00 (inteira) /R$ 50,00 (meia-entrada)
Duração: 50 minutos
Classificação: Livre

O Segredo da Arca de Trancoso. Foto: Wilson Lima

Pinoquio. Foto: Cesar Almeida

PROGRAMAÇÃO POR POLO

Teatro de Santa Isabel (16h30)
13 de julhoJoão por um Fio – (Companhia Boto-Vermelho / Rio de Janeiro–RJ e Lisboa–Portugal) Ingressos: R$ 80,00 (inteira) e R$ 40,00 (meia-entrada)

Teatro do Parque (16h30)
12 de julhoPra não dormir – Cutia Coletivo (Recife–PE)
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)

Teatro Barreto Júnior (16h)
12 de julhoO Reizinho Negro – Companhia Fuá de Terreiro (João Pessoa–PB)
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)

13 de julhoO Dia em que a Morte Sambou – Grupo Habib e Valeria (Olinda/Egito/Espanha)
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)

19 de julhoTatu-do-Bem – Catalumari e os Giguiotes (Recife–PE)
R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)

20 de julhoA Batalha de Botas – Trupe Arlequin (João Pessoa–PB)
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)

Serviço
21º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco

Data: De 5 a 27 de julho (sábados e domingos)
Locais: Teatro de Santa Isabel e Teatro do Parque (16h30)
Teatro Barreto Júnior (16h)
Ingressos: Preços variados, com meia-entrada para crianças a partir de 2 anos, autistas e acompanhantes, estudantes, professores, doadores regulares de sangue ou de medula óssea e idosos com apresentação da carteira.
Vendas: Plataforma Sympla (link disponível no site
www.teatroparacrianca.com.br) e nas bilheterias dos teatros a partir das 15h nos dias das apresentações (sujeito à lotação).
O 21º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco é uma realização da Métron Produções, com incentivo cultural do SIC – Sistema de Incentivo à Cultura / Fundação de Cultura Cidade do Recife / Secretaria de Cultura / Prefeitura da Cidade do Recife.

 

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Encontro de avaliação pública
Festival Recife do Teatro Nacional – parte 3
Reflexões e desafios

Momento de escuta e proposta no festival. Foto: Alexandre Sampaio

Exposição da avaliadora Giovana Soar. Foto: Alexandre Sampaio

Com este texto, concluímos esse pequeno retrato do que foi a reunião de avaliação do 23º Festival Recife do Teatro Nacional, realizada no dia 2 de dezembro na sala da Banda Sinfônica no Teatro do Parque. Durante o encontro, diversos assuntos foram debatidos, refletindo sobre os desafios e as conquistas do evento. Um dos principais temas foi a organização e logística do festival, com destaque para a necessidade de ajustes nos horários e melhorias na divulgação, visando aumentar a participação do público, especialmente no OFF REC. A demanda de valorizar e apoiar grupos teatrais locais também foi indicada, com sugestões para fortalecer a cena cultural do Recife e promover maior inclusão e representatividade.

Outro ponto central das argumentações foi a infraestrutura e as condições de trabalho das equipes técnicas nos teatros, principalmente do Centro Apolo-Hermilo. Foram levantadas preocupações sobre a exaustão dos profissionais devido à sobrecarga de trabalho e à falta de recursos adequados, além da necessidade urgente de manutenção e atualização dos equipamentos. 

O encontro também explorou a relevância de criar espaços de diálogo e troca de ideias, inspirando-se em modelos de outros festivais, e a necessidade de uma comunicação mais eficaz para alcançar um público cada vez mais expressivo. Essas conversas refletem uma preocupação coletiva em aprimorar o festival e garantir sua sustentabilidade e relevância no cenário cultural local, regional e nacional.

Cena de ONÀ DÚDÚ Caminhos Negros na comunidade do Pilar. Foto: Ivana Moura

Artur Marinho expõe suas práticas na colaboração com Marconi Bispo no projeto ONÀ DÚDÚ Caminhos Negros. Este programa, que já ocorre nas ruas há dois anos, foi integrado ao FRTN pela primeira vez.

O percurso do ONÀ DÚDÚ começa na Praça do Arsenal e vai até a Cruz do Patrão, um trajeto que pode ser desafiador para pessoas idosas ou com mobilidade reduzida. Para facilitar, parte do caminho foi feita de ônibus, retornando ao Recife Antigo e envolvendo moradores locais e a comunidade do Pilar. A produção inclui integrantes do Pilar, criando um modelo de ocupação das ruas que dialoga com um público diversificado, principalmente composto por pessoas negras.

Apesar do sucesso na execução, Artur observa que o público foi o menor já registrado, o que ele atribui à logística de horário, uma terça-feira à tarde, durante um festival. Artur expressa preocupação com a dependência do virtual para divulgação, reconhecendo que nem todos têm acesso a essas plataformas. Ele sugere que o festival poderia se beneficiar de uma página centralizada para melhorar a divulgação e alcançar um público mais amplo.

Um adendo histórico relevante sobre o desenvolvimento do teatro no bairro do Pilar foi feito por Augusta Ferraz, que destacou a contribuição de Paula de Renor. Com o Teatro Armazém, Paula foi pioneira ao levar o teatro para aquela comunidade, promovendo desenvolvimento e dignidade no local. Augusta defende que ao se aventurar nesse espaço e desenvolver a arte, é essencial lembrar que Paula iniciou esse caminho há 20 anos.

Em resposta, Artur Marinho reconhece a importância do trabalho de Paula de Renor, afirmando que o projeto atual é uma continuação desse percurso. Porém ele assinala que a iniciativa atual com ONÀ DÚDÚ Caminhos Negros no bairro do Recife não está apenas levando algo para a comunidade do Pilar, mas sim se unindo a ela para a realização conjunta das atividades.

Augusta reforça que foi exatamente dessa maneira que Paula de Renor começou, através de uma iniciativa colaborativa, trabalhando lado a lado com a comunidade para criar algo significativo e inclusivo. E que é preciso dar crédito a quem iniciou essa parceria e envolvimento comunitário, que tem sido fundamental para o desenvolvimento cultural e social do bairro do Pilar.

A partir de sua experiência em Cara do Pai, Tatto reflete sobre o público. Foto: Divulgação

Ao discutir a dinâmica do público nos festivais de teatro, Tatto Medinni traz sua reflexão sobre a valorização e visibilidade dos espetáculos locais em contraste com produções de maior apelo midiático. Ele destaca sua experiência pessoal ao tentar divulgar sua peça Cara do Pai, a partir de publicações em veículos de comunicação como o JC e o G1. E observa que essas divulgações tendem a ser homogêneas, enfatizando principalmente estreias com figuras renomadas, como Marco Nanini, e grupos como o Magiluth. Essa prática, segundo ele, acaba direcionando o público para esses eventos, criando uma percepção de que são os principais destaques do festival.

Medinni deixa claro que sua crítica não é motivada por inveja, mas sim por uma preocupação genuína com a forma como a supervalorização de determinados espetáculos influencia a escolha do público. Ele conta que seu trabalho teve pouca audiência em várias ocasiões, inclusive no festival, enquanto outros, com maior apelo midiático, estavam lotados. Essa situação, segundo ele, não é culpa do festival, mas sim um reflexo do hábito do público recifense de priorizar espetáculos com artistas famosos, muitas vezes em detrimento de produções locais de igual qualidade.

No entanto, ele também reconhece que houve ocasiões em que espetáculos locais conseguiram atrair grande público e “bombaram”, demonstrando que há um potencial latente na cena teatral de Recife. Medinni menciona trabalhos passados com o Coletivo Angu e a montagem O Amor de Clotilde por um Certo Leandro Dantas, que conseguiram atrair uma plateia significativa.

Para enfrentar esse desafio, Tatto sugere que a assessoria de comunicação que divulgue todos os espetáculos da programação, mas valorize especialmente os locais. Ele acredita que uma comunicação mais abrangente poderia ajudar a equilibrar a atenção do público entre os diferentes eventos, promovendo um maior reconhecimento da cena teatral local.

Mulheres de Nínive teve um atraso de uma hora e meia devido a problemas técnicos. Foto: Divulgação

Ao relatar suas vivências e preocupações, Nathalie Revoredo fornece um panorama dos desafios enfrentados pelas equipes técnicas nos teatros do Recife. Ela expressa satisfação em ter participado ativamente do festival, tanto como oficineira quanto como iluminadora, destacando que é vital integrar novas pessoas ao processo. A inclusão de novos talentos em áreas técnicas como iluminação, cenário e figurino é vista como essencial para trazer a energia e o entusiasmo necessários à continuidade e renovação do festival.

As oficinas pré-festival poderão desempenhar papel crucial na formação de novas gerações de profissionais técnicos. Na sua perspectiva, essa possível mão de obra poderá contribuir com o evento. Além de ajudar a cultivar uma nova perspectiva sobre a produção teatral, incentivando a inovação e a criatividade.

No entanto, Nathalie expressa uma preocupação significativa com a exaustão das equipes técnicas dos teatros, como o Centro Apolo-Hermilo, frisando que ali são dois teatros distintos. Após 11 anos de trabalho nesse contexto, ela observa que os colegas de iluminação estão visivelmente exaustos, o que impacta tanto a qualidade das tarefas quanto no bem-estar dos profissionais. Essa situação é agravada pela estrutura reduzida das equipes, que frequentemente lidam com múltiplas atividades sem o suporte adequado.

No contexto do festival, ela participou de produções No Controle, Antígona – A Retomada e Mulheres de Nínive. Infelizmente, em Nínive, ela e a técnica de som enfrentaram o contratempo de entregar o palco com uma hora e meia de atraso. “Não foi intencional; estávamos ali, sofrendo com a situação, mas também muito conscientes das nossas escolhas. Chegou ao ponto de eu não poder sequer sair para ir ao banheiro, pois não havia tempo ou espaço para isso, e não podia me estressar com ninguém”, lembra Revoredo.

“Estávamos todos respirando fundo, inclusive os dois profissionais incríveis, Savio Uchoa e Ivo Barreto. Juntos, passamos por momentos de choro, risos, sofrimento, correria e vontade de desaparecer, enquanto tentávamos fazer tudo funcionar”, disse a artista iluminadora. Enfim, ela afirma que temos espaços exaustos e um corpo exausto não consegue realizar muito. Isso se aplica a todos os equipamentos, incluindo o próprio material da casa. 

Nathalie Revoredo entende a necessidade de um planejamento antecipado e de contar com uma equipe técnica bem preparada e descansada para lidar com as exigências artísticas e técnicas das montagens. Para produções que requerem maior delicadeza técnica, como no caso de Nínive, seria ideal montar o palco com um dia de antecedência, permitindo um tempo mais dilatado para ajustes e ensaios.

Além disso, Revoredo sublinha a urgência de aumentar o número de técnicos e técnicas nas casas de espetáculo do Recife, especialmente no Apolo e no Hermilo, onde a equipe atual está sobrecarregada. A exaustão não afeta apenas os profissionais, mas também o equipamento, que pode falhar devido ao uso excessivo e à falta de manutenção adequada. A iluminadora registra também que é crucial tratar essas situações com cuidado e empatia, buscando soluções que garantam a sustentabilidade e a qualidade dos festivais, com práticas que respeitem os limites humanos e materiais.

Savio Uchoa, diretor técnico do festival, corrobora com visão de Revoredo e reforça o quadro sobre os desafios enfrentados na administração dos teatros Apolo e Hermilo. Ele aponta que a responsabilidade de uma única equipe por dois teatros resulta em uma carga de trabalho significativa. Além disso, descreve o equipamento como ultrapassado e menciona que a programação do festival foi particularmente extenuante, com até sete teatros funcionando simultaneamente em certos dias.

Historicamente, aponta, o festival seguia uma prática de ter um dia de montagem seguido por um dia de espetáculo, o que ajudava a gerenciar a carga de trabalho. No entanto, a atual estrutura de turnos, com uma equipe trabalhando entre manhã e outra tarde/noite, não é ideal. Savio sugere que seria mais produtivo se os técnicos pudessem acompanhar todo o processo, desde a montagem até a apresentação, assegurando continuidade e familiaridade com o trabalho.

Ele relata que o equipamento frequentemente apresenta falhas e necessita de manutenção urgente, o que aumenta ainda mais a pressão sobre os técnicos. Savio menciona que alguns técnicos enfrentaram problemas pessoais que afetaram sua disponibilidade, como a necessidade de cuidar de familiares, o que ilustra a falta de flexibilidade e suporte dentro de uma programação tão extensa.

Além do atraso do espetáculo Nínive, Savio menciona problemas logísticos e burocráticos, como dificuldades com fornecedores e especificidades de licitação, que complicam ainda mais a organização do festival. Ele, com mais de 25 anos de experiência como iluminador, reconhece a frustração de lidar com equipamentos prometidos que não chegam ou não funcionam adequadamente.

O diretor técnico observa que o festival cresceu rapidamente, mas as empresas fornecedoras não acompanharam esse crescimento, resultando em desafios adicionais. Para atender à demanda, Savio trouxe ajuda extra, incluindo seu irmão, Saulo, também artista iluminador, na tentativa de suprir as necessidades do festival.

Apesar dos desafios, Savio acredita que a equipe conseguiu atender bem a maioria das demandas e que o processo foi um aprendizado valioso. Ele enfatiza a importância do diálogo e da colaboração entre todos os envolvidos, reconhecendo que cada membro da equipe tem responsabilidade em suas funções. No final, ele expressa um sentimento de realização, apesar de ter atravessador o caos, destacando o esforço coletivo para superar as dificuldades.

Monga fez a abertura do OFF REC no Teatro Hermilo Borba Filho. Foto: Ivana Moura

Rodrigo Dourado, idealizador e curador do OFF REC ao lado de Edjalma Freitas, inicia sua fala expressando gratidão a diversas pessoas e equipes, como André Brasileiro, Alexandre Sampaio, Pascoal Filizola, Ivo Barreto, Savio Uchoa e a equipe da Prefeitura, pelo apoio e acolhimento no festival. Ele destaca especialmente a contribuição de Giovana à Mostra, e o apoio recebido, principalmente da classe artística, mesmo que a recepção do público em geral tenha sido modesta.

Ao refletir sobre a essência do OFF REC, Dourado enfatiza que o festival serve como uma vitrine de processos em andamento, o que demanda uma reavaliação constante de abordagens e soluções para os desafios técnicos e logísticos. As dificuldades enfrentadas com as arquibancadas, que se tornaram caóticas durante a madrugada devido à sobrecarga das equipes técnicas, ilustram bem essa necessidade de adaptação. Muitas vezes, essas equipes precisaram gerenciar múltiplos espaços simultaneamente, o que complicou ainda mais a logística do evento.

Inspirando-se em modelos de outros festivais, como o Mirada com o Boteco Crítico do projeto Arquipélago, Dourado sugere a criação de espaços de encontro e diálogo, onde debates e conversas informais possam ocorrer após os eventos. A questão da participação universitária também foi tocada, com Dourado lamentando a falta de envolvimento mais ativo das universidades e conselhos acadêmicos nos eventos culturais. Ele lembra que, como coordenador da Semana de Artes Cênicas, enfrentou dificuldades em atrair público para debates e discussões, apesar do interesse pelos espetáculos. Como solução, propõe a filmagem e publicação dos debates futuros, transformando-os em registros permanentes que possam ser acessados e estudados.

Reconhecendo a complexidade da dinâmica cultural da cidade, especialmente em um mês movimentado como novembro, Dourado observa que múltiplos eventos culturais ocorrem simultaneamente, o que exige uma adaptação das estratégias de comunicação e engajamento do público. Ele enfatiza a necessidade de compreender essas novas dinâmicas para continuar atraindo e envolvendo a população nos eventos culturais da cidade.

Espetáculo Senhora. Foto de João Pedro Pinheiro

Larissa Pinheiro, assistente do espetáculo Senhora, reflete sobre sua participação anterior com Yerma Atemporal, mas confessa que esta edição do festival foi especialmente marcante. Ela aprecia a fusão entre teoria e prática, especialmente nas rodas de diálogo, onde encontrou um público diversificado e curioso. Um exemplo disso foi uma participante que, após uma oficina no Teatro São Isabel, decidiu espontaneamente assistir ao debate e ao espetáculo Senhora, demonstrando o impacto positivo do evento.

Valorizar os novos talentos da cena local é uma prioridade para Larissa, que destaca o papel crucial de estudantes e formandos de instituições como o SESC na formação cultural da cidade. Ela também enfatiza que a contribuição artística vai além da juventude, mencionando a inspiradora presença de Maria José, uma atriz de 84 anos, que continua a expressar sua paixão pelo teatro na terceira idade.

A recepção calorosa do espetáculo Senhora em cidades do interior, como Caruaru e Surubim, foi comparada à recepção no Recife, onde o público do FRTN se mostrou mais entusiasta do que o esperado. Larissa vê o festival de forma positiva, encontrando vigor e animação tanto dos participantes quanto do público presente.

Participar deste evento proporciona uma sensação única para Janaína Lima, jornalista da assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura e do FRTN. Com uma longa trajetória ligada ao festival, que remonta aos seus tempos de curadoria local e à elaboração de uma monografia sobre o tema, Janaína agora vivencia uma nova fase profissional na Prefeitura, o que lhe oferece uma visão interna do festival.

Observando com satisfação, ela nota as novas ideias e os rostos que estão injetando vitalidade no evento, renovando a cena cultural. Contudo, Janaína também expressa certa frustração ao perceber que muitos problemas antigos ainda persistem. Ela relembra desafios passados, como a busca por espaço e apoio, e reconhece que algumas dificuldades continuam presentes. Ela está na secretaria há pouco tempo, auxiliando a assessora oficial Bruna Cabral.

Janaína Lima explica que, devido à legislação eleitoral, as redes sociais da Prefeitura foram suspensas, o que criou um desafio significativo na articulação dessas plataformas para o festival de teatro. As atividades online só foram retomadas pouco antes do início do festival, o que exigiu uma rápida reorganização e adaptação para garantir uma comunicação eficaz.

Com a retomada, a Secretaria de Cultura assumiu a responsabilidade de gerenciar essas redes, iniciando um processo de reestruturação e planejamento estratégico para maximizar o alcance e o impacto das comunicações digitais. Janaína reconhece as críticas feitas e a necessidade de melhorar a interação com o público.

Refletindo sobre os desafios enfrentados, Janaína comenta da necessidade de lidar com imprevistos, como atrasos na entrega de fichas técnicas e releases. Ela menciona a complexidade de coordenar todos os aspectos do festival e a importância de aprender a gerenciar essas situações.

O momento de avaliação é visto por Janaína como um componente central do festival, onde todos podem se reunir para discutir e debater após as apresentações. Ela considera esse espaço essencial para o crescimento e a melhoria contínua do evento, permitindo que diferentes perspectivas sejam ouvidas e consideradas.

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, ruína acesa e Tudo menos uma crítica

 

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Encontro de avaliação pública
Festival Recife do Teatro Nacional – parte 2
Reflexões e desafios

Pessoas que participaram da reunião. foto: self de Saulo Uchoa

Na segunda parte do encontro, que teve três horas de duração num clima respeitoso e propositivo, os participantes se dedicaram à escuta ativa, compartilhando suas percepções sobre a 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional. Nessa reunião compareceram diversas figuras do cenário cultural de Recife, além da avaliadora contratada Giovana Soar. Entre os presentes estavam a atriz, produtora e diretora Augusta Ferraz, o coordenador do festival André Brasileiro, o coordenador de produção Alexandre Sampaio, o assistente de produção Pascoal Filizola, o diretor técnico do festival e seu assistente Sávio Uchôa e Ivo Barreto, Léo Davino e Marcela Torres, da SECULT, a jornalista Janaína Lima, o ator, bailarino e coreógrafo Raimundo Branco, a jornalista, atriz e produtora cultural Edivane Bactista, o professor e multiartista Marcondes Lima, o conselheiro do Conselho Municipal de Cultura Oséas Borba, a pesquisadora e crítica Ivana Moura, a artista iluminadora Nathalie Revoredo, o diretor e dramaturgo curador do OFF REC Rodrigo Dourado,  a atriz Larissa Pinheiro, o artista e técnico Artur Marinho,  a artista Inês Franco Maia e o ator Tatto Medinni.

Foram apresentadas propostas e debatidas questões cruciais relacionadas ao festival e à cultura local, com foco em como atrair e ampliar o público do evento e, consequentemente, do teatro. Uma das principais preocupações levantadas foi a precarização das casas de espetáculos na cidade, que impacta diretamente a qualidade das produções e a experiência do público.

Durante as discussões sobre a organização e o acesso do público ao FRTN, destacou-se a quesito das plateias reduzidas principalmente no OFF REC e algumas peças locais da mostra principal. Foram sugeridas alterações nos horários da programação do OFF REC para evitar conflitos com outros espetáculos da mostra principal. Além disso, abordou-se a importância da valorização cultural e a necessidade de apoiar grupos teatrais locais que estão comprometidos com a formação de público, enfatizando a relevância de fortalecer a cena teatral local.

Os interlocutores, com suas diversas perspectivas e experiências, enriqueceram o debate sobre os desafios e oportunidades do festival. A reunião foi um espaço de troca de ideias e colaboração, buscando soluções para fortalecer o teatro e a cultura na cidade.

Após os apontamentos da avaliadora do festival, Giovana Soar, a atriz, produtora e diretora Augusta Ferraz iniciou suas considerações agradecendo pela perspectiva da analista contratada, que destacou a importância de integrar o respeito ao público como um ato de cidadania. Para Augusta, o teatro deve ir além da construção cultural, servindo como um meio de transmitir saberes, ensinar a pensar, observar e sensibilizar-se. Ela acredita que essas qualidades são essenciais não apenas para o festival, mas para a vida comunitária de quem trabalha com teatro no Recife e para os públicos que frequentam esses espaços.

A precarização das casas de espetáculos no Recife é uma preocupação constante para Augusta. Ela menciona que, apesar de existirem estruturas prontas, como o Teatro do Derby (Cine Teatro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco, sem funcionar há pelo menos 20 anos) e o Barreto Júnior, que precisam de melhorias significativas. O Barreto Júnior, por exemplo, é visto como um “subteatro” na vida cotidiana dos profissionais do teatro, não oferecendo as qualidades necessárias para apresentações dignas. Augusta lamenta que a luta política para reivindicar melhorias seja tão árdua, levando à aceitação do que é precário e ruim.

Além disso, Augusta destaca a necessidade de revitalizar espaços como o Teatro José Carlos Cavalcante Borges (durante os anos 1980 e 1990, o espaço dividia suas pautas entre o teatro, cinema e música; em 1998 assumiu definitivamente sua identidade como Cinema da Fundação) e o Teatro Valdemar de Oliveira (do Teatro de Amadores de Pernambuco, está fechado desde 2020, foi alvo nos últimos anos de arrombamentos, roubos e depredações; e sofreu um incêndio no dia 7 de fevereiro deste ano), que, apesar de ter sido destruído por um incêndio, ainda possui potencial para outras atividades culturais. Para ela, sem o desenvolvimento desses espaços, não se contribui para a vida cultural da cidade nem para o próprio festival, que deveria ser uma plataforma de expansão e diálogo.

Com 51 anos de dedicação ao teatro recifense, pernambucano e brasileiro, Augusta se sente inquieta com essas questões, pois também é uma apaixonada pelo teatro, tanto no palco quanto na plateia. A falta de divulgação do festival no Conecta Recife foi criticada por Augusta, que o destaca como um aplicativo excelente, que oferece informações sobre a vida civil e os direitos dos cidadãos, além de permitir o agendamento de trocas e procedimentos junto à prefeitura. Ela menciona que, embora tenha visto um vídeo de Rodrigo Dourado apresentando a programação do OFF REC, a divulgação foi insuficiente. 

Augusta relembra momentos em que o festival conseguiu atrair pessoas que não eram tradicionalmente parte do público de teatro, por meio de parcerias estratégicas com as secretarias de Saúde, Educação e Cidadania. Esses esforços colaborativos resultaram em teatros lotados, demonstrando o potencial de inclusão e alcance do festival. Augusta acredita que retomar essas iniciativas seria fundamental para preencher os espaços vazios observados nesta edição. 

Desde os 15 anos, Giovana Soar tem acompanhado o Festival de Curitiba, que já alcançou sua 33ª edição. Mesmo quando esteve fora, ela encontrou maneiras de se manter conectada ao evento. Com essa expertise, ela aponta a impressionante quantidade de teatros que o festival fez surgir, observando que, durante o evento, há apresentações teatrais em todos os cantos da cidade. Giovana brinca que, se alguém deixar a casa aberta, um grupo de teatro pode entrar e começar uma apresentação. Nesse sentido, ela acredita que a retomada do festival do Recife pode gerar uma demanda semelhante, impulsionando o crescimento do evento.

Raimundo Branco, ator, bailarino e coreógrafo, parabenizou o festival, mas expressou sua insatisfação com a falta de público. Ele destacou que o OFF REC, embora superbem-vindo, foi mal divulgado. Ele comentou que muitas pessoas não compareceram por falta de conhecimento e considerou isso um desperdício. No entanto, mostrou-se otimista por se tratar do primeiro ano do evento, que tem potencial para crescer e precisa de apoio.

Giovana interrompeu para acrescentar que o público do OFF REC foi majoritariamente composto pelos próprios artistas que participaram do evento. Ela ressaltou que as redes desses artistas não são suficientes para expandir a discussão para além da mesma bolha.

Branco levantou uma questão delicada sobre a democracia no tratamento dos artistas, questionando se o camarim oferecido aos artistas desconhecidos era o mesmo que o dos artistas mais renomados.  André Brasileiro, coordenador do festival, respondeu que o tratamento era o mesmo, mas que algumas adaptações eram feitas para atender restrições alimentares específicas, como no caso de Nanini, que é vegetariano.

Sinapse Darwin, da CAsa de Zoé, fez duas apresentações no palco montado na Rua da Aurora. Foto Divulgação

O “Palco da Aurora” foi citado como uma iniciativa bem-sucedida e Branco expressou seu desejo de que essa ação se expanda para outras áreas da cidade do Recife. André respondeu mencionando que, neste ano do festival, os bairros da Tamarineira e Macaxeira também receberam seus palcos, nos parques.

A ação do Palco Giratório, que realizou uma sessão nos jardins do Teatro do Parque antes da abertura oficial, foi destacada como uma iniciativa bacana por Raimundo Branco, que sugeriu que o Festival Recife do Teatro Nacional poderia adotar uma abordagem semelhante, organizando uma apresentação preliminar antes do início oficial. No Palco Giratório, o grupo Mamulengo Novo Milênio, liderado pelo Mestre Miro, desempenhou esse papel na ocasião.

Oséas Borba, conselheiro do Conselho Municipal de Cultura, retomou a ideia da democratização dos espaços, lembrando que é preciso pensar no Teatro do Sítio da Trindade. “É importante considerar, até mesmo para a Prefeitura, uma forma de revitalizar aquele anfiteatro ali, que está praticamente fechado.” André respondeu de imediato que “está prevista uma obra para ele, assim, para o ano.”

A questão do público-alvo também foi mencionada pelo professor e multiartista Marcondes Lima que salientou a necessidade de alcançar diferentes segmentos de público. Ele mencionou que, durante o experimento do OFF REC realizado no sábado às 10 horas da manhã, – a abertura do processo de Senhora dos Nossos Sonhos (baseado na trajetória de vida da Dra. Nise da Silveira), uma parte significativa da plateia era composta por usuários de serviços de saúde psicológica. E aventou como o festival poderia considerar esse aspecto. Além de indagar se seria realista esperar que todas as pessoas do Recife se deslocassem até o Sítio da Trindade, por exemplo, ou se seria necessário agenciar o público para garantir sua presença. E problematizou sobre qual seria o público-alvo do OFF REC, se seria o mesmo que frequenta o Teatro do Parque para assistir a espetáculos como o de NaninI.

Ao tratar do know-how do Festival de Curitiba em relação às ferramentas de comunicação, Giovana Soar sublinhou a importância de entender onde e como essa comunicação é disseminada. Ela explicou que organizar um festival envolve o desafio de lidar com uma variedade de espaços e públicos. Isso inclui desde espetáculos que atraem até duas mil pessoas no Teatro Guaíra, geralmente um público mais burguês interessado em comédia ou dança, até apresentações mais alternativas e cabeçudas, destinadas a outros segmentos. Giovana reconheceu a complexidade desse processo e apontou a necessidade de contar com profissionais competentes que possam desenvolver estratégias eficazes para alcançar e engajar esses diversos públicos de maneira adequada.

Oséas levantou que o programa do evento só chegou na segunda semana do festival, um dificultado da divulgação do festival. Outro problema citado por ele foi o calor no local dos debates, nas salas não climatizadas do Centro Apolo-Hermilo. Por sua vez, Giovana comentou que, apesar de não ter incluído isso em seu relato, ela sentiu muito frio em todos os teatros. E reconheceu que, nesse aspecto, faz parte da minoria. André respondeu que é ainda pior quando o ar-condicionado quebra ou não funciona.

A falta de uma cafeteria ou lanchonete no Centro Apolo-Hermilo foi sublinhada por Giovana. Ela expressou seu amor por comida, afirmando que onde há comida, há felicidade e alegria. Giovana elogiou o bar do Teatro do Parque deste ano, mencionando a comida ótima, mas sentiu falta de um espaço semelhante no Hermilo, sugerindo que implementar algo assim seria benéfico.

A jornalista, atriz e produtora cultural Edivane Bactista, da Métron Produções, realizadora do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, parabenizou a equipe do festival, afirmando que o evento foi digno. Mas, apesar dos elogios, reforçou a preocupação em relação ao público. Como conquistar as pessoas que preferem ir à praia ou ao litoral em vez de frequentar o teatro. Como uma pessoa de produção, sugeriu que o planejamento financeiro do festival comece no início do ano. 

A programação do OFF REC, na sua opinião, precisa ser ajustada com relação aos horários, para não conflitar com outros espetáculos da mostra principal. André Brasileiro mencionou que havia conversado com Rodrigo Dourado sobre a possibilidade de realizar eventos durante o dia, mas reconheceu que é um dilema. Mas a intenção é experimentar horários alternativos no próximo ano. Outra preocupação de Edivane é que os artistas da cidade não tenham comparecido em grande número ao festival, que era gratuito. Ela também propôs que o festival disponibilizasse transporte entre os teatros do centro, o que poderia facilitar o acesso. André reconheceu a complexidade dessa ideia.

Diante dessa inquietação com o público, a avaliadora confessou que ficou muito impressionada com a presença de duas mil pessoas na festa do Magiluth, promovida por um grupo de teatro Recife. “Nunca vi algo assim acontecer em nenhum outro lugar do Brasil, talvez apenas com o Grupo Galpão ou Zé Celso”. No entanto, ela percebeu que essas pessoas, que estavam presentes na celebração dos 20 anos do Magiluth, que ocorreu durante o festival, não estavam nos teatros. E reforçou a pergunta: Como podemos trazer essas pessoas para o teatro?

Alguém comentou que, no máximo, essas pessoas tenham ido ao Édipo REC, espetáculo do Magiluth. Outro mencionou que elas também estavam na fila do Bar Bucurau. Giovana retomou a discussão, afirmando que esse é o dilema que enfrentamos: colocar as pessoas dentro do teatro não é fácil. Essa é a nossa missão, e é por isso que ela busca garantir que em Curitiba não haja lugares vazios. Giovana explicou que distribuem 1.500 ingressos no Festival de Curitiba para estudantes de teatro. No caso do festival do Recife, os ingressos já são gratuitos, então não há nem mesmo a opção de distribuir ingressos como incentivo. 

Augusta Ferraz tocou na dificuldade dos artistas em utilizar os espaços destinados ao teatro, que, segundo ela, foram ocupados pela prefeitura para reuniões políticas. E a alternativa que ela encontrou, não a ideal, foi ensaiar em uma sala cedida pela síndica de seu prédio. Ela reforça que apesar de terem recebido recursos dos editais, – Paulo Gustavo e Aldir Blanc – os artistas enfrentam dificuldades para trabalhar devido à falta de espaços adequados.

A jovem artista de Recife, Inês Franco Maia, inicia sua fala concordando com a avaliação de Giovana sobre o uso de totens humanos na divulgação, considerando essa prática desrespeitosa. Em seguida, ela avança para a questão da valorização cultural, questionando se a cadeia produtiva do teatro em Recife realmente respeita e valoriza a cultura local. Inês critica a tendência de valorizar mais os trabalhos que vêm de fora, pois acredita que isso contribui para o afastamento do público recifense do teatro. Ele menciona o Magiluth dizendo que o grupo só conseguiu reconhecimento local após ser legitimado fora de Recife, e salienta a importância de apoiar grupos teatrais comprometidos com a formação de público.

Inês vê o festival como um grande potencial, mas ressalta a necessidade de aprofundar o processo democrático de escuta e posicionamento para entender diferentes perspectivas e enfrentar os desafios coletivos do teatro em Recife. Ela expressa confiança no potencial cultural de cidade, acreditando na capacidade de alcançar novamente uma qualidade técnica, artística e conceitual no cenário nacional.

Mas a predominância de monólogos entre os espetáculos pernambucanos selecionados é vista com ceticismo por Inês, que sugere que isso pode não refletir a diversidade e a riqueza da produção teatral local. Para Inês, condições adequadas para a produção teatral, como ensaios com luz e som, são essenciais para alcançar a excelência artística. 

Giovana esclarece que as inscrições eram majoritariamente de monólogos e que o festival é um retrato da produção teatral do momento, refletindo as tendências e escolhas atuais da cena local. E sublinha que a inclusão dos espetáculos no OFF REC não deve ser visto como um desmerecimento. E atesta que suas melhores experiências no festival recifense, especialmente em termos de representatividade, ocorreram no OFF REC. E reforça que a abertura do OFF REC o impactante espetáculo Monga, de Jéssica Teixeira teve a intenção deliberada de destacar a importância e o valor que o OFF REC traz para a cena teatral recifense.

O espetáculo O Problema é a Cerca enfrentou dificuldades durante a apresentação. Segundo relato de Inês, houve um grave transtorno de comunicação devido a uma falha técnica de som. Ela diz que isso criou uma situação embaraçosa, onde o público presente na plateia pôde ouvir o técnico discutindo com a produção do espetáculo sobre um cabo de som que não estava funcionando corretamente. 

Peça As Charlatonas, do Tocantins, fez sessões nos Parques da Macaxeira e da Tamarineira. Foto: Divulgação

Marcondes Lima sustenta a relevância de se discutir o festival em sua totalidade, ao invés de focar exclusivamente na avaliação dos espetáculos apresentados. Ele acredita que é nesse espaço de diálogo que se pode realmente progredir e implementar melhorias significativas. Mesmo sendo apenas o segundo ano da retomada do festival, ele já percebe alguns avanços notáveis. 

Ao explorar a complexidade de atrair público para o teatro, Lima identifica o receio que as pessoas no Recife têm de se deslocar pela cidade, seja para sair de casa ou para ir de um teatro a outro, como do Teatro Apolo ao Teatro do Parque.  No entanto, Marcondes enfatiza que o verdadeiro desafio está em criar um encantamento que motive o público a superar essas barreiras e vivenciar essas experiências artísticas.

Para Marcondes é essencial que o artista crie uma conexão emocional e intelectual com o público,  produzam um fascínio. Despertem o interesse e o desejo no público de assistir aos espetáculos. Que, ao ver imagens ou cenas de uma peça, as pessoas possam se sentir inspiradas a atravessar a cidade para assisti-la. Esse encantamento é um elemento crucial dentro do projeto de comunicação e divulgação do teatro.

Ao refletir sobre a trajetória do festival, André Brasileiro reconhece que esse evento cênico já atingiu um ápice significativo em termos de público em determinado momento. Ele expressa confiança de que o FRTN tem o potencial de se reconstruir e alcançar novamente esse nível de sucesso. No auge, o festival atraiu um público de 12.800 pessoas, um marco alcançado em um ano em que o grupo Galpão apresentou a peça Till, a saga de um herói torto ao ar livre, na rua. Essa abertura ao público em um espaço aberto foi um fator crucial para o sucesso daquele ano.

Com o desejo de retornar a esse ponto de grande envolvimento e participação do público, André sugere que eventos ao ar livre e acessíveis podem ser uma estratégia eficaz para atrair mais espectadores e revitalizar o festival. Ele acredita que, com planejamento e inovação, é possível recriar essa experiência de sucesso e engajamento comunitário.

O festival, que já conta com 23 anos de história, passou por edições complicadas, mas houve uma retomada no ano passado. Ainda há muito a ser reconstruído e revitalizado, e o festival está em um processo de recuperação, aproximando-se novamente de seu potencial. 

Giovana Soar entende que encher salas grandes como o Teatro Luiz Mendonça e o Teatro do Parque, com capacidade para acomodar até 800 pessoas, não é uma tarefa simples. E traz uma perspectiva interessante à discussão ao mencionar uma prática positiva que acontece em Curitiba, onde o público tem o hábito de ir à bilheteria e perguntar quais ingressos estão disponíveis, confiantes de que qualquer espetáculo proporcionará uma boa experiência.

No Festival de Curitiba, o preço do ingresso é de 80 reais, com a meia-entrada custando 40 reais, tornando-se acessível para a maioria da população. Giovana destaca que praticamente todos em Curitiba pagam meia-entrada, graças a políticas que facilitam esse acesso, como descontos para quem paga contas de serviços públicos. Além disso, artistas profissionais com DRT podem adquirir ingressos por apenas 25 reais, permitindo que, com 100 reais, seja possível assistir a quatro espetáculos.

A demanda por ingressos em Curitiba é tão alta que, atualmente, quando alguém vai à bilheteria e pergunta “o que ainda tem?”, isso reflete o sucesso e a popularidade do festival, com ingressos se esgotando rapidamente. Essa dinâmica demonstra a eficácia das estratégias de acessibilidade e a forte cultura teatral presente na cidade.

Durante o debate, André socializa algumas observações que ouviu de pelo menos cinco pessoas, destacando relatos que merecem atenção. Algumas dessas pessoas expressaram descontentamento com o sistema de troca de alimentos por ingressos, preferindo a opção de comprar ingressos e reservar seus assentos. Elas mencionaram que não gostam de ir ao teatro sem ter um lugar marcado, o que levanta uma questão sobre as preferências do público em relação à organização dos eventos.

Apesar dessas preocupações, André pondera que não houve impedimentos para a entrada de ninguém nos teatros durante o festival. Ele destaca que, ao chegar uma hora antes, todos conseguiram entrar, o que sugere que o sistema atual, embora não perfeito, tem funcionado para garantir o acesso ao público.

Reconhecendo que há uma parte da população que prefere a comodidade de ter um assento reservado, André admite que o atual momento do festival busca democratizar o acesso ao teatro. O único teatro onde os lugares são marcados é o Teatro Santa Isabel, que tem essa característica específica. E destaca que no Teatro do Parque, o festival conseguiu atrair pessoas que normalmente não frequentavam o teatro. Para André, isso é um ponto positivo, pois se a experiência foi boa, há potencial para aumentar esse público no futuro.

Por outro lado, Branco propõe uma estratégia para melhorar a divulgação dos festivais culturais em Recife: a criação de um calendário de eventos divulgado com antecedência pela prefeitura. Ele acredita que essa prática educaria a população sobre as ofertas culturais e permitiria que as informações se espalhassem de maneira mais eficaz.

Refletindo sobre suas experiências pessoais, Branco lembra que, em eventos passados, como o festival de teatro, as oficinas eram realizadas antes do início oficial do festival. Para ele, essa prática é vantajosa, pois já engaja o público e evita conflitos de agenda com a programação de espetáculos, por exemplo. Alexandre Sampaio acrescenta que, embora sejam realizadas escutas prévias para planejar os eventos, a participação é frequentemente baixa. O coordenador de produção aponta que a ideia da doação de alimentos surgiu em uma dessas escutas.

Branco também lamenta a ausência de residências artísticas em Recife, considerando isso uma perda significativa para a cena cultural local. Ele reconhece os desafios em termos de tempo e recursos financeiros, mas acredita que o retorno dessas grandes residências seria extremamente benéfico para o enriquecimento cultural e artístico da cidade.

Continua no próximo post

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, ruína acesa e Tudo menos uma crítica

 
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Encontro de avaliação pública do
Festival Recife do Teatro Nacional – parte 1

Durante três horas essas pessoas ouviram e discutiram a edição do festival. Foto Sávio Uchoa

Giovana Soar, avaliadora do 23º FRTN. Foto: Alexandre Sampaio

Este texto foi elaborado a partir do encontro de avaliação pública do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN). Aqui, apresentamos as considerações da avaliadora contratada pelo festival, Giovana Soar, juntamente com outras falas de pessoas da sociedade civil, diretores, atores e artistas que participaram da conversa pública. Este material é um pouco da memória desse encontro e está dividido em duas partes. A primeira foca nas apresentações da coordenação do festival e no documento produzido por Soar. Na segunda parte, em outros dois posts, destacamos os comentários e depoimentos das pessoas presentes na reunião de avaliação.

No encontro de apreciação desse 23º festival recifense, realizado no dia 2 de dezembro de 2024, às 18h30, na sala da Banda Sinfônica no Teatro do Parque, a coordenação do evento apresentou os resultados desta edição e anunciou a data da próxima: a 24ª edição ocorrerá de 19 a 30 de novembro de 2025.

Na mostra principal deste ano, foram apresentados 34 espetáculos, dos quais 21 eram de Pernambuco e 13 de outros estados, totalizando 43 sessões. O festival também ofereceu cinco oficinas, disponibilizando 90 vagas. Apesar de 275 inscrições, nem todas as vagas foram utilizadas por desistência ou outro problema. As oficinas incluíram Não Caia na Forma?!, ministrada por Wellington Júnior (RJ/PE), com 15 vagas; Teatro Físico e o Corpo Criativo do Intérprete, conduzida por Alexandre Guimarães, com 10 vagas; Caracterização Teatral, por Cleber de Oliveira, com 15 vagas; Iluminação Cênica, liderada por Natalie Revorêdo, com 30 vagas; e Artista, a Palavra e o Abismo, com Luiz Fernando Marques, oferecendo 20 vagas.

Além disso, a Mostra OFF REC, em sua primeira edição, ofereceu um panorama diversificado com nove espetáculos, sete rodas de diálogos, quatro performances e cinco vivências. Esses números refletem a amplitude e a diversidade das atividades realizadas, conferindo credibilidade e relevância à mostra como uma parte significativa do festival.

Neste ano, o festival manteve a iniciativa do ingresso solidário, permitindo a troca de bilhetes por um quilo de alimento não perecível. Essa ação resultou na arrecadação de seis toneladas de alimentos, demonstrando o impacto social positivo do evento. Além disso, o festival atraiu um público expressivo, contabilizando um total de 12 mil espectadores. No entanto, esse número ainda pode crescer, pois algumas sessões não atingiram sua capacidade máxima, indicando potencial para atrair ainda mais participantes em futuras edições.

Nesta edição, o evento contou com a colaboração do Projeto Arquipélago de crítica teatral, que é apoiado pela produtora paulista Corpo Rastreado, desde novembro de 2022. O projeto reúne atualmente as casas virtuais Cena Aberta, Farofa Crítica, Guia Off, ruína acesa, Tudo Menos uma Crítica e Satisfeita, Yolanda? Durante o festival houve ação do Arquipélago com a participação de Kil Abreu, Heloísa Sousa, Fredda Amorim e Ivana Moura. As críticas geradas podem ser acessadas nos sites das respectivas casas e, em breve, estarão disponíveis na íntegra no Guia Off, um canal gerido por Celso Curi e Wesley Kawaai.

O Festival Recife do Teatro Nacional adota um processo de chamamento público para a seleção de grupos e companhias teatrais, que se inscrevem e são habilitados para seleção por uma comissão de pareceristas. Essa comissão técnica de análise artística é composta por profissionais especializados selecionados por edital de credenciamento, que leva em consideração a qualidade e a relevância artísticas, com atenção à diversidade e inclusão, e o histórico profissional do grupo. Além disso, a viabilidade técnica da obra é avaliada. Propostas de proponentes que se declarem negros, trans, com deficiência ou pertencentes a povos tradicionais recebem um acréscimo de 4 pontos, mediante autodeclaração.

André Brasileiro, coordenador do Festival Recife do Teatro Nacional, mencionou que o evento recebeu 343 inscrições de todo o Brasil. Alexandre Sampaio, coordenador de produção do festival, acrescentou que muitos projetos foram inabilitados devido à falta de documentos ou problemas técnicos, como links de vídeos e fotos. 

Sampaio destacou, posteriormente, a total transparência do processo de seleção dos pareceristas, realizado por meio de um sorteio ao vivo, transmitido pelo YouTube, a partir do banco de pareceristas disponível. Ele ressaltou que o edital permite que até 30% dos espetáculos sejam convidados diretamente pela coordenação. Além disso, o edital prevê que um espetáculo, mesmo sendo habilitado e bem classificado no ranking, pode não ser convocado a participar por diversos motivos, incluindo questões logísticas, custos ou temática.

Entre os poucos convidados, destacam-se Othon Bastos e Marco Nanini. Nanini foi convidado por ser o homenageado do festival, enquanto Othon foi escolhido devido à sua relevância em termos de atuação e representatividade. Sampaio enfatizou: “Nós incentivamos as pessoas a se inscreverem. Silvero Pereira é um bom exemplo disso. Tínhamos muito interesse em trazê-lo, mas pedimos que ele se inscrevesse. Ele o fez e obteve uma boa pontuação”.

O mesmo ocorreu com os espetáculos Monga, que abriu a programação OFF Rec e Macacos. Este último, inclusive, foi o melhor pontuado, mas não pôde participar devido a conflitos de agenda, situação que se repetiu pelo segundo ano consecutivo.

Os pareceristas da edição de 2024 foram Éder Sumariva Rodrigues, de Florianópolis (SC), doutor em Teatro pela CEART/UDESC; Marilda Samico da Silva, do Rio de Janeiro, que atua como gestora, produtora e pesquisadora na área da cultura, com mestrado em Comunicação e Cultura pela Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ); Suellen Leal, graduada em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas, e que cursa pós-graduação em Gestão Cultural pela Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina; Vanéssia Gomes dos Santos, do Ceará,  doutoranda em Teatro pela UDESC e Aressa Rios, do Rio de Janeiro, com doutorado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Os cinco pareceristas analisaram 237 projetos habilitados.

Durante a conversa, André ressaltou a prioridade em dar visibilidade às produções locais, mesmo com a existência de outros festivais ao longo do ano. Quando a data do próximo festival foi mencionada, a atriz Augusta Ferraz perguntou animadamente: “Já posso me preparar?” Ao que André respondeu: “Total. Seria ótimo ter você com um espetáculo no festival.” Augusta comentou: “Bárbara.” E André replicou com entusiasmo: “Bárbara! É isso? Vai ser bom. Vai ser bom demais.” Augusta então expressou seu desejo: “Tomara que eu consiga.” Muitos na sala a encorajaram, dizendo: “Vai conseguir. Vai conseguir. E é isso.”

A coordenação do festival reafirmou seu compromisso em apoiar e promover a diversidade e a riqueza da produção teatral local e regional, enquanto busca continuamente aprimorar seus processos organizacionais e de seleção.

Soar destacou os pontos positivos e o que pode ser melhorado no festival. Foto: Alexandre Sampaio

Avaliação de Giovana Soar

Giovana Soar iniciou suas considerações apresentando-se e contextualizando sua trajetória profissional. Ela atua como curadora do Festival de Curitiba, pela terceira edição em 2025. Cofundadora da companhia brasileira de teatro, junto com Márcio Abreu, mas recentemente decidiu seguir carreira solo. Além disso, ela é jurada do Prêmio Shell, representando a região sul do Brasil.

Nos últimos dois anos, Giovana tem se dedicado intensamente à curadoria de festivais, tanto nacionais quanto internacionais. Este ano foi particularmente movimentado, com inúmeras viagens para participar de diversos eventos, o que ela considera um patrimônio pessoal valioso.

Com formação na cena teatral, atuando como atriz, diretora e criadora, e não como crítica de teatro, ela explicou que, ao contrário de outros avaliadores com carreiras mais acadêmicas e experiência na escrita crítica, suas observações vêm de uma perspectiva prática e criativa. E pediu ao público que entendesse suas considerações a partir desse contexto.

Giovana destacou a importância do evento no cenário cultural brasileiro, especialmente no Nordeste. E lembrou que em sua 23ª edição, o festival focou nos temas de Atuação e Representatividade, reafirmando seu papel como um dos encontros mais relevantes das artes cênicas no Brasil. 

Durante a fala de Soar, André Brasileiro fez um aparte para destacar que a organização do FRTN reconheceu a importância de manter uma continuidade na avaliação por dois anos. “Giovana participou da retomada do festival no ano passado e retornou este ano, o que lhe permitiu observar tanto os avanços quanto os retrocessos e desafios enfrentados pelo evento”, afirmou André. Com base nessa experiência, a equipe do festival decidiu adotar a prática de trabalhar com avaliadores por um período de dois anos. “Essa continuidade possibilita ultrapassar uma primeira camada de observação e se aprofundar nas nuances do evento e da cidade”, comentou Giovana.

Ela destacou que, embora conheça Recife há muito tempo, a cena teatral local é vasta e complexa, com uma diversidade de artistas e produções que vão além do que se pode conhecer em uma vinda. No ano anterior, houve uma forte presença de espetáculos da cena de Recife, Pernambuco e do Nordeste, o que foi extremamente enriquecedor para ela. Este ano, ela observou o desdobramento dessa diversidade, agora com a inclusão da mostra OFF REC.

Pontos de destaque da Avaliadora

Homenagens e Participações Notáveis

A avaliadora Giovana Soar enfatizou que o Festival Recife do Teatro Nacional deste ano prestou homenagens significativas a figuras icônicas do teatro brasileiro. Marco Nanini, um dos homenageados, participou ativamente do evento com o espetáculo de abertura, mesmo enfrentando desafios de saúde. O FRTN sublinhou sua contribuição inestimável para as artes cênicas, cinema e teledramaturgia no Brasil. Ivonete Melo, outra homenageada, foi lembrada por meio de sua filha, que recebeu a honraria em seu nome. Ivonete foi uma atriz célebre e uma figura central no grupo Vivencial, celebrada trupe de teatro olindense, e presidente durante anos do SATED-PE.

Os números de espetáculos, públicos e sessões do FRTN estão incluídos no documento de Soar; no entanto, ela optou por não citá-los no seu relato, pois esses dados já haviam sido mostrados pela equipe de coordenação do evento cênico recifense.

Marco Nanini, na abertura do festival, com o espetáculo Traidor. Foto: Divulgação

Espetáculo de Abertura

O festival foi inaugurado com o espetáculo Traidor, um quase solo de Marco Nanini com texto e direção de Gerald Thomas. 

A presença do prefeito João Campos e de autoridades culturais na abertura do festival (secretária de Cultura do Recife, Milu Megale e presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Marcelo Canuto, por exemplo), na visão da avaliadora, simbolizou o apoio institucional à cultura e ao evento, reforçando a importância das iniciativas culturais na gestão atual. Ela pontua que, no cenário contemporâneo, o financiamento de projetos culturais não é suficiente; é fundamental que as autoridades se envolvam ativamente nessas iniciativas, demonstrando engajamento real. A presença de uma figura pública com alto índice de aprovação, como o prefeito, no teatro, constitui-se em um ato político significativo.

Com uma programação mais robusta e geograficamente democrática do que na última edição, o festival contou com a representação de nove estados, tornando mais desafiador acompanhar todos os espetáculos e eventos propostos, incluindo oficinas, mesas e debates.

Equipe Técnica e Logística

Giovana sublinhou a necessidade de aprimorar a equipe logística e técnica do festival. Ela sugeriu que as contratações sejam feitas com mais antecedência para evitar problemas com passagens, hospedagens e equipamentos técnicos. Ela acentuou que a contratação antecipada pode otimizar o uso de recursos públicos e melhorar a experiência dos participantes. A avaliadora  assinalou a importância de trabalhar com fornecedores grandes e diversificados para garantir a disponibilidade de equipamentos essenciais, como microfones e iluminação, evitando comprometer a qualidade dos espetáculos.

Soar também pontoou a importância de uma direção técnica específica, capaz de prever e solucionar problemas em tempo hábil. A avaliadora entende que a presença de produtores responsáveis em cada espaço do festival é crucial para garantir que todos os espetáculos recebam a mesma atenção e suporte, independentemente do renome do grupo ou artista envolvido.

*** O diretor técnico do festival é Savio Uchoa, que falou sobre os desafios do trabalho e da equipe na parte dos debates da avaliação.

Programação e Horários

Giovana observou que, embora a distribuição de horários das peças tenha sido planejada, houve sobreposições que dificultaram a participação do público em múltiplos eventos. Isso foi especialmente desafiador para aqueles que desejavam assistir ao máximo de espetáculos possível, incluindo as equipes de trabalho do festival. Ela sugeriu que um planejamento mais acurado dos horários poderia minimizar essas sobreposições e melhorar a experiência do público.

Monga foi um dos espetáculos que gerou interesse significativo entre o público. No entanto, a peça foi programada para o mesmo horário que Instinto, outro espetáculo de grande interesse. Essa sobreposição de horários obrigou o público a escolher entre duas obras atraentes, o que, segundo Giovana, poderia ter sido evitado com um planejamento mais cuidadoso. Ela sugeriu que, dado que Instinto tinha uma duração de apenas 50 minutos, teria sido relativamente simples ajustar os horários para permitir que o público assistisse a ambos os espetáculos.

Magiluth do Festival

No segundo dia do festival, a estreia do espetáculo Édipo Rec pelo Grupo Magiluth, na cidade-sede da companhia atraiu uma plateia animada, com muitos espectadores vestindo camisetas com o símbolo do coletivo, refletindo o forte vínculo entre a companhia e o público local. A celebração dos 20 anos do Magiluth foi uma festa marcante, reunindo quase duas mil pessoas em um espaço público, em um clima vibrante e amistoso.

Entrada para apresentação do espetáculo Édipo REC, no Teatro Luiz Mendonça, Foto: Ivana Moura

ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, da programação do OFF REC. Foto: Ivana Moura

Inclusão e Diversidade

Giovana frisou a importância da Mostra OFF REC, que, em sua primeira edição, contou com experimentos cênicos, debates e formação, além de uma forte inclusão da cena de Pernambuco. Ela citou o espetáculo ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, que revelou espaços e histórias da cidade de maneira sensível e potente, embora tenha sido apresentado para um público reduzido.

Receptivo e Logística

A equipe de receptivo, coordenada por Amanda Brindeiro, recebeu elogios pela simpatia e eficiência. Soar falou do acolhimento caloroso, que começa no aeroporto e se estende durante toda a estadia dos artistas e participantes. Figuras como Seu Josué, motorista do festival, foram mencionadas por seu papel além da condução, atuando como amigos e guias turísticos, contribuindo para uma experiência positiva e memorável. Essas interações são fundamentais para criar uma impressão duradoura e positiva do festival, tornando a estadia dos participantes mais acolhedora e agradável.

Alimentação

Giovana sugeriu a criação de parcerias com restaurantes próximos aos teatros para garantir refeições de qualidade, especialmente após os espetáculos. A proposta inclui a elaboração de um guia com indicações de locais para alimentação, que poderia oferecer opções variadas, incluindo vegetarianas e veganas. Essa iniciativa visa melhorar a experiência dos participantes e artistas, proporcionando-lhes um espaço seguro e acolhedor para refeições, especialmente em horários tardios ou em dias menos movimentados, como domingos e segundas-feiras.

Impacto dos Atrasos

A avaliadora  indicou que pequenos atrasos podem desencadear problemas maiores, como atrasos em cadeia para os espetáculos subsequentes. Isso não apenas afeta a programação geral do festival, mas também pode comprometer a experiência do público e dos artistas.

Uso de Dispositivos Eletrônicos

Outro ponto eleito por Giovana foi a importância de conscientizar o público sobre o uso de celulares durante as apresentações. O uso inadequado desses equipamentos pode prejudicar significativamente a experiência dos demais espectadores e dos artistas em cena.

Para mitigar esse problema, ela sugeriu a implementação de anúncios mais enfáticos sobre o uso de dispositivos eletrônicos antes do início de cada espetáculo, no intuito de criar um ambiente mais respeitoso e imersivo para todos os presentes.

Ocupação dos teatros e outros espaços 

Giovana observou que a ocupação dos teatros parecia mais esvaziada nesta edição, em relação ao ano passado, exceto para espetáculos com grandes nomes como Marco Nanini e Othon Bastos. Ela apontou que o esvaziamento pode ter sido influenciado pela concorrência com as festividades de fim de ano e pela divulgação insuficiente do festival na cidade. Na sua opinião, para futuras edições, é importante que a programação do festival não coincida com outros grandes eventos da cidade e que a divulgação seja reforçada para alcançar um público mais amplo e diversificado.

Comunicação

Em sua análise, a avaliadora identificou a comunicação como um dos pontos mais delicados, assinalando que é preciso melhorar a divulgação para alcançar um público mais amplo e diversificado. Além de uma comunicação clara e eficaz entre a equipe do festival, os órgãos públicos e os participantes. Ela apontou necessidade da antecedência nas contratações dos serviços , a exemplo do programa, que só foi distribuído na segunda semana do evento.

Quanto à divulgação, ela questionou se a cidade estava ciente da realização do festival e se todas as classes sociais tiveram acesso às informações. Giovana destacou que o festival tem o potencial de agregar toda a cidade, mas isso requer um esforço de comunicação mais robusto e estratégico.

Totens luminosos

Uma crítica específica foi direcionada ao uso de totens luminosos carregados por pessoas para divulgar o festival. A avaliadora considerou essa prática degradante e sugeriu alternativas como o uso de bicicletas, carrinhos de vendedores ambulantes, ou a instalação de totens fixos em locais estratégicos. A crítica se baseia na preocupação com a dignidade dos trabalhadores e a eficácia da comunicação. 

Críticos do Arquipélago

A inclusão de críticos do Arquipélago foi vista como positiva, mas ela enfatizou a necessidade de divulgar as críticas de forma mais ampla, enriquecendo o debate e a reflexão sobre os espetáculos. Além disso, ela realçou a necessidade de um espaço virtual, como o site da Prefeitura, para agregar e divulgar as críticas produzidas pelos críticos do Arquipélago, permitindo um maior alcance e enriquecendo o debate sobre os espetáculos, beneficiando tanto o público quanto os artistas.

Considerações finais

Suas recomendações visam o aprimoramento contínuo do festival, sem desmerecer o grande trabalho já realizado. Ela lembrou da valia de manter práticas democráticas e igualitárias, garantindo que todos os participantes e espetáculos recebam a mesma atenção e suporte. A avaliadora expressou seu desejo de que o festival continue a crescer em qualidade e relevância, sempre alinhado às questões sociais e culturais da cidade de Recife e de representatividade. A avaliadora enfatizou que o festival tem o potencial de promover a cultura e o teatro de forma inclusiva e democrática, sendo um espaço de diálogo e reflexão onde a arte possa ser um catalisador para mudanças sociais e culturais. E que questões democráticas de igualdade e oportunidade, devem ser não apenas temas, mas metas do festival.

Leia na íntegra a avaliação do 23º Festival Recife do Teatro Nacional, por Giovana Soar

Continua no próximo post

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, ruína acesa e Tudo menos uma crítica