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Camille Claudel em São Paulo

Ceronha Pontes, atriz cearense radicada no Recife, interpreta Camille Claudel. Foto: Marcio Resende

Ceronha Pontes, atriz cearense radicada no Recife, interpreta Camille Claudel. Foto: Marcio Resende

A atriz Ceronha Pontes traz sua Camille Claudel para curtíssima temporada em São Paulo, de hoje (18) a sexta-feira (21), às 21h, no Espaço Viga, em Pinheiros. Internada em um manicômio por três décadas, onde morreu em 1943, aos 79 anos, Camille viu sua genialidade aprisionada. Um espírito livre e revolucionário, abafado pela relação abusiva com Rodin, por uma sociedade hipócrita, pelo tolhimento das suas potencialidades. O trabalho, que toca diretamente em questões como arte e loucura, também trata do preconceito de gênero, do qual a artista foi vítima em várias escalas.

O espetáculo, estreado em 2006, já rendeu à atriz, cearense radicada no Recife, os prêmios de melhor atriz, iluminação e prêmio especial pelo texto no Festival de Guaramiranga. Assinando dramaturgia, direção e atuação, Ceronha Pontes assimila no próprio corpo muitas das obras da escultora, o seu tormento, a sua paixão. “O que nos mobiliza é o clamor de Camille ecoando há mais de um século: ‘exijo em altos brados a minha liberdade’. E são muitas vozes fazendo coro. Porque Camille e sua tragédia pessoal iluminam outras tantas e tantos igualmente impedidos de exercerem a própria natureza”, assinala Ceronha Pontes.

Embora a dramaturgia não seja cronológica, a história passeia por cenários como Villeneuve, território da infância, seu ateliê, o de Rodin, o manicômio. Esquecida pela família, inclusive por seu irmão Paul Claudel, Camille foi vítima de uma sociedade que não conseguia lidar com a obra e o gênio dessa mulher. O barro é um elemento de cena fundamental na construção da trajetória dessa personagem, acusada de reproduzir as obras do seu professor e amante, o escultor Auguste Rodin. Na realidade, Rodin tinha medo do talento de Camille, receio de ser superado por sua amante. A obra de Camille só foi reconhecida de fato depois da sua morte.

Camille Claudel está em circulação pelo prêmio Myriam Muniz.

Serviço:
Camille Claudel, com Ceronha Pontes
Quando: de terça (18) a sexta-feira (21), às 21h
Onde: Espaço Viga (Rua Capote Valente, 1323, Pinheiros, São Paulo)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (11) 3801-1843

Camille foi vítima de uma sociedade que não aceitava a genialidade de uma mulher

Camille foi vítima de uma sociedade que não aceitava a genialidade de uma mulher

A escultora francesa resistiu por 30 anos dentro de um manicômio

A escultora francesa resistiu por 30 anos dentro de um manicômio

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Camille Claudel, uma força da natureza

Ceronha Pontes no papel da escultura francesa, que passou 30 anos numa manicômio. Foto: Camila Sérgio

Ceronha Pontes no papel da escultura francesa, que passou 30 anos num manicômio. Foto: Camila Sérgio

Para levar Camille Claudel aos palcos, a atriz Ceronha Pontes se desdobrou em muitas funções. Concepção do projeto, pesquisa, dramaturgia, atuação, direção, produção. A trajetória da escultora foi bem explorada pelo cinema e pela literatura, mas prossegue como campo fértil. E a relação entre arte e loucura é assunto que não se esgota. A indignação e devoção de Ceronha pela escultura francesa nortearam a montagem, que faz uma sessão especial nesta quarta-feira (06/04), no Teatro Marco Camarotti, às 20h, dentro da programação da Mostra Sesc Teatro e Circo.

Sem seguir uma narrativa cronológica, o espetáculo expõe os estados da artista e sua personalidade complexa e conflituosa. Sozinha no palco ela manifesta os momentos dóceis, mas principalmente a revolta da personagem. Camille Claudel (1864-1943) foi vítima de injustiça e preconceito de gênero, numa sociedade falocêntrica. O escultor Rodin, de quem foi discípula e viveu uma relação amorosa, agenciou a tentativa de tolhimento do talento artístico.

Ela passou mais de 30 anos num hospício, onde morreu em 1943, aos 79 anos de idade, pobre e sozinha. Até a família a renegou. O amor por August Rodin foi o grande tormento de sua vida.

Dor, melancolia, criatividade com o barrro. Foto: Marcio Resende

Dor, melancolia, criatividade com o barrro. Foto: Marcio Resende

Sakuntala (também conhecida como Vertumnus e Pomona (1888), é inspirada no conto do poeta hindu Kalidasa e retrata o momento do reencontro de Sakuntala e seu marido); A pequena Castelã: A Valsa; A Implorante (traduz seu dilaceramento) são esculturas de Camille que a atriz absorve no seu corpo, no seu gestual. Criaturas extraordinárias que a artista deixou para a posteridade, fruto do seu amor e de solidão, seu sofrimento e enorme talento.

A personagem desliza por vários ambientes. Villeneuve, o território de sua infância; seu ateliê e também o de Rodin, o manicômio e o Inferno. Ela brada contra sua internação, um atitude cruel de seus parentes, inclusive seu irmão Paul Claudel. Ela se lambuza no barro em jogos corporais. E nos comove por ter sido punida devido a sua genialidade.

Depois do espetáculo está marcada uma conversa sobre Arte & Loucura com a participação do  terapeuta Gonzaga Leal e do diretor de teatro Rodrigo Dourado junto com Ceronha Pontes.

SERVIÇO

Camille Claudel
Quando: 06/04 (quarta-feira), 20h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua do Pombal, s/nº, Santo Amaro)
Ingressos: R$ 20 (público em geral) e R$ 10 (comerciários e dependentes)

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Coletivo Angu de Teatro reestreia Essa febre no Rio

Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

“(…) Hoje fico pensando se não foi um atraso de vida, essa minha vocação para gostar do longe. Tudo, quanto mais distante daquela nossa realidade pobrezinha, mais eu gostava. Imagina, numa ponta de rua do mundo, uma criatura crescendo completamente em desacordo! Tânia, Fátima, Goreti, todas elas sonhavam com altares, maridos, filhos, um emprego no Banco do Brasil, talvez. Você lembra? E eu não tinha com quem falar sobre como foi bonito o começo, o meio e o fim de Dolores Duran.”

Cinco contos embebidos em sensibilidade, amor, perda, força, ternura. Essa febre que não passa, montagem do Coletivo Angu de Teatro a partir do livro homônimo da jornalista Luce Pereira, transpira tudo isso. Com algumas especificidades e primeiras vezes: o elenco é todo feminino e André Brasileiro estreia na direção, sob o olhar sempre atento de Marcondes Lima, diretor das três montagens anteriores do grupo: Angu de sangue, Ópera e Rasif – Mar que arrebenta.

No palco, Ceronha Pontes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim, Nínive Caldas e também Hermila Guedes ou Lili Rocha. Desde o ano passado, quando Hermila precisou gravar novela que Lili divide o papel com ela; e agora como o filme Era ma vez eu, Verônica terá pré-estreia em alguns lugares, Lili entra em cena novamente.

Ceronha Pontes e Nínive Caldas

A peça é formada por vários quadros; esses personagens são ligados de forma muito sutil; existem de forma independente. Uma mulher que perdeu o grande amor e ouve My way no último dia do ano; outra que fez concessões e achou que um gato poderia restaurar laços rompidos; uma tia que nunca viu o mar. É uma peça entrecortada por sensibilidade, em que o voal do cenário mostra e esconde; vai sendo aberto aos pouquinhos; as memórias vão aparecendo, seja em fotos, palavras, gestos. A música é feita ao vivo, com direito até a tango.

Essa febre que não passa reestreia hoje no Rio de Janeiro dentro do projeto Visões Coletivas, no Teatro Glauce Rocha.

Serviço:
Essa febre que não passa
Quando: De quinta a domingo, até 16 de dezembro, às 19h
Onde: Teatro Glauce Rocha (Avenida Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (21) 2220-0259

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Vou aproveitar para postar um texto que escrevi para a revista Continente de novembro sobre o projeto Visões Coletivas, que está levando Essa febre ao Rio:

Seis meses em cena carioca
Grupos nordestinos mostrarão produção recente dentro do projeto Visões coletivas

Texto // Pollyanna Diniz

Há três anos, o Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro, reabria as portas. A programação que dava as boas vindas ao público tinha sotaque pernambucano: eram montagens do Recife, do Cabo de Santo Agostinho, de Caruaru e de Arcoverde. O Coletivo Angu de Teatro estava nessa seara apresentando Angu de sangue, texto de Marcelino Freire.

A companhia pernambucana que completa dez anos em 2013 voltou ao Glauce Rocha no último mês de março para uma curta temporada que provocou muita fila na porta do teatro – a apresentação de Essa febre que não passa, texto da jornalista Luce Pereira. Depois dessas duas experiências, o Angu agora ocupa a casa de espetáculos carioca por um tempo mais prolongado. Serão seis meses de peças de grupos nordestinos dentro de um projeto proposto pela companhia, intitulado Visões coletivas – Nordeste contemporâneo.

“Já pensávamos em fazer um projeto semelhante desde 2008. Mas não tinha ainda um formato ideal. Isso só veio com o edital de ocupação do teatro, lançado pela Funarte”, explica Tadeu Gondim, idealizador do projeto e produtor do Coletivo Angu de Teatro. Na grade de espetáculos, montagens do Recife, de Fortaleza, de Natal, de João Pessoa e ainda de Salvador. “Assim como no resto do país, o teatro de grupo também está fervilhando no Nordeste. E claro que existe a curiosidade do público do Sudeste sobre o que é feito no Nordeste. Ainda há uma visão, para quem não conhece, de que teatro nordestino é cordel e fala de seca”, avalia Gondim.

Do Recife, a programação inclui três montagens do Angu – Angu de sangue (novembro), Essa febre que não passa (dezembro) e Ópera (janeiro) – e o espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas (novembro), da Trupe Ensaia Aqui e Acolá. Já se apresentaram, na abertura do projeto mês passado, os grupos Mão Molenga Teatro de Bonecos, com O fio mágico, e a Cia. Enlassos, com Assim me contaram, assim vou contando…

Grupo Bagaceira de Teatro apresenta repertório em fevereiro. Na foto, A mão na face, que estreou no Recife. Foto: Pollyanna Diniz

No caso de algumas companhias, o público poderá ter uma visão mais ampla da produção, com a apresentação de mais de um espetáculo do repertório. O grupo Bagaceira de Teatro, por exemplo, do Ceará, participa do projeto com quatro montagens: Tá namorando! Tá namorando!, Meire Love, A mão na face e Lesados. Da Paraíba, está na programação Deus da fortuna, do Coletivo Alfenin de teatro; do Rio Grande do Norte, A mar aberto, do Coletivo Atores a Deriva. E ainda Ricardo Guilherme (CE), com Bravíssimo e A comédia de Dante e Moacir; Fábio Vidal (BA) com o espetáculo Sebastião; Felícia de Castro (BA) com Rosário; e Ceronha Pontes (CE) com Camille Claudel. A única exceção na programação é o francês Maurice Durozier, ator do Théâtre du Soleil que mantém uma relação próxima com o Nordeste brasileiro.

“O nosso mote é discutir o teatro contemporâneo feito no Nordeste. E talvez a gente perceba que as questões contemporâneas são muito parecidas, sejam elas tratadas por espetáculos do Nordeste ou do Sudeste. Nos nossos espetáculos, por exemplo, as referências nordestinas estão sempre muito presentes. Mas se dão de outra forma – não necessariamente no tema, na estética. O discurso é contemporâneo”, finaliza Tadeu Gondim.

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