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Uma batalha histórica – e outra atual

Batalha dos Guararapes – assim nasceu a Pátria. Fotos: Ivana Moura

TEXTO: IVANA MOURA

Sábado me mandei rumo ao Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, para conferir o megaespetáculo Batalha dos Guararapes – assim nasceu a Pátria. A peça começa como uma aula de história e foi com alegria que vi Zuleika Ferreira no palco, como uma das alunas.

Com 64 atores atores, fiquei tentando identificar os artistas que conheço e essa busca se tornava mais interessante nas cenas com muita gente. Pedro Francisco de Souza (Nassau), Reinaldo de Oliveira (João Fernandes Vieira), Ivonete Melo (Maria César, esposa de João Fernandes Vieira) – se destaca na cena em que confronta o marido.

Reinaldo de Oliveira e Rogério Costa

As mulheres dessa história são muito infelizes no casamento. A que tinha mais chance de levar uma vidinha feliz, Bárbara (Ana Claudia Wanguestel), mulher de Calabar (Eduardo Filho), vê seu homem ser enforcado por suposta traição.

Como é sabido, a montagem trata da expulsão dos holandeses no Brasil no século XVII. A peça tem texto e direção de José Pimentel, que também atua no espetáculo no papel de Vidal de Negreiros.

Aparecem em cena figuras como, além das já citadas, Henrique Dias (Demétrio Rangel), Felipe Camarão (Felipe Lopes), Barreto de Menezes (Manoel Constantino), Frei Salvador (Rogério Costa), Carlos Mesquita (Tourlon), Ana Paes (Angélica Zenith).

Lógico que as marcas de Pimentel estão lá. A cena do enforcamento, a subida ao céu de Nossa Senhora, na cena em que os heróis pernambucanos rezam para vencer a luta. E também no final, com o show pirotécnico. Mas isso nao é pecado, digamos que é estilo.

José Pimentel atua e dirige a montagem

Acho importante destacar a garra com que os atores defendem o espetáculo. Com algo de idealismo, de paixão, de resistência mesmo. Como dissemos aqui no Yolanda, a prefeitura de Jaboatão deu pra trás no patrocínio e na estrutura que havia apalavrado. Mesmo asim a produtora Métron, de Edivane Bactista e Ruy Aguiar, renegociou caches de atores e serviços de fornecedores para manter a Batalha.

A produtora também faz questão de dizer que A Batalha dos Guararapes faz parte do calendário cultural e turístico do Estado de Pernambuco. Mas se é assim, porque todo ano é essa mesma peleja atrás de patrocínio? Não interessa que essa historia seja contada? O governo não acha importante?

O espetáculo cumpre o seu papel. Com as cenas encurtadas, a montagem ficou mais ágil. E a engrenagem complexa funciona a contento, com gente, som, luz, precisão de tempo, efeitos especiais.

Gostaria de ver essa Batalha com verba suficiente para realizar tudo o que foi planejado. De elenco a efeitos especiais. Uma grande producão.

Reinaldo de Oliveira e Ivonete Melo

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Nelson Rodrigues e as propostas para este milênio na Fliporto

Geneton Moraes Neto conversa com Heloísa Seixas e Ruy Castro. Foto: Beto Figueiroa

A homenagem a Nelson Rodrigues rendeu mesas muito interessantes na 8ª edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco – Fliporto, que terminou no último domingo em Olinda. Perdi duas das mais esperadas – com o filho do dramaturgo, Nelson Rodrigues Filho, na sexta-feira; e com as filhas Sônia e Maria Lúcia, no domingo pela manhã. (Quem viu essas??? Compartilha as impressões nos comentários!)

No sábado, a tenda do Congresso Literário ficou bem cheia pra mesa com Ruy Castro e Heloísa Seixas, mediada pelo jornalista Geneton Moraes Neto. E aí, numa feira literária, as palavras fazem toda diferença. Muita gente (inclusive a pessoa que vos escreve) saiu meio frustrada. Não é que a mesa não tenha sido interessante; mas as perguntas da plateia geralmente apimentam o debate. Só que na programação dizia: “Ruy Castro e Heloísa Seixas ‘conversam’ com Geneton Moraes Neto”. A plateia até fez perguntas…mas elas não rolaram. (E Geneton nem entra na série #mediadoressemnoção. Alguns deixavam a plateia boaquiaberta com algumas pérolas! Uma arte essa a da mediação!)

Ruy Castro falou sobre a feitura da biografia de Nelson. Uma obra que tanto nos aproxima do pernambucano. Que faz com que a gente (mais uma vez, euzinha mesmo) quase não se perdoe por não ter nascido um pouquinho antes…pra ter tido a chance de conhecer, entrevistar, conversar, encontrar no bar esse gênio que era Nelson – mesmo diante da banalização dessa palavra.

Ruy começou contando que aprendeu a ler com Nelson Rodrigues. “Foi aos quatro anos, com minha mãe lendo para mim A vida como ela é, publicada no Última hora. Quando ela viu, eu estava juntando as letras”, contou. Disse ainda o quanto Nelson andava esquecido antes da publicação do livro. Foram a admiração e a curiosidade que impulsionaram o biógrafo. Ruy chegava às livrarias e os atendentes nem sabiam quem era Nelson. Nos sebos, os senhorzinhos diziam logo que não tinham os livros; quando o escritor insistiu, foi pra uma lista enorme de espera, num caderno de páginas amareladas.

Heloísa lembrou que certo dia Ruy a levou para uma conversa com as irmãs de Nelson. A bem da verdade, queria que ela ficasse lá entretendo as irmãs enquanto ele mergulhava nos documentos, fotos, papeis que elas tinham e não emprestavam de jeito nenhum. “Eu me vi transportada para uma peça do Nelson. Aqueles móveis de madeira escura, as cortinas de veludo”. As irmãs lembrariam as tias da peça Doroteia. E falariam dos irmãos e especificamente de Nelson com os olhinhos brilhando; até com certa sensualidade. (No dia seguinte encontrei com duas senhorinhas que tinham visto essa mesa e a das filhas de Nelson. O comentário era: ‘que absurdo! Ele falou de sensualidade das irmãs. Mas Nelson ficou doente várias vezes! E eram as irmãs que cuidavam dele!’).

Tantos as irmãs quanto Dona Elza, a primeira esposa, teriam ficado chateadas com alguns trechos da biografia, conta o próprio Ruy. Dona Elza teria voltado atrás, mas as irmãs morreram ainda arretadas com Ruy.

Geneton contou sobre a entrevista que fez com Nelson. O dramaturgo marcou na mesma hora de um jogo da seleção brasileira. E lá pelas tantas perguntou com quem o Brasil tinha jogado!

Luiz Reis, José Castello e Antonio Cadengue. Foto: Pollyanna Diniz

Nelson em cena – Outra mesa muito interessante, embora com pouco público, foi realizada no início da tarde do domingo: com o jornalista e escritor José Castello, o diretor e professor Antonio Cadengue e mediação do professor e dramaturgo Luis Reis. Castello fez logo a confissão. É Fluminense por causa de Nelson. “Eu sou um torcedor literário”, brincou. E trouxe uma ótima sacada. A partir do livro Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino, Castello elencou as ‘Seis propostas para este milênio’, tomando as crônicas de Nelson como guia. Seriam elas: imaginação, modéstia, obsessão, amizade, serenidade e transcendência.

Já Cadengue fez uma homenagem a Sábato Magaldi, que foi o seu orientador no mestrado e no doutorado, talvez o maior especialista em Nelson. Falou desde a classificação das peças teatrais até os avanços que Nelson propôs em cena, a relação com os diretores, as montagens de Antunes Filho; e peças dirigidas pelo próprio Cadengue, como Viúva, porém honesta, com o grupo Vivencial; e Senhora dos Afogados, com a companhia Teatro de Seraphim.

Ruy Castro – biógrafo e vilão?! Foto: Beto Figueirôa

Polêmica – Voltando à mesa que perdi, com as filhas de Nelson Rodrigues, o que ouvi de algumas pessoas é que elas negaram a versão de Ruy Castro na biografia O anjo pornográfico. Sônia, Maria Lúcia e Paulo César são filhos de Yolanda, que era secretária de um radialista da então rádio Mayrink Veiga, e se envolveu com Nelson na década de 1950.

Um trecho do livro diz: “Em 1967, Nelson foi procurado no Jornal dos Sports por uma menina que se dizia sua filha: Maria Lúcia, filha de Yolanda, a ‘ardente canarina’ com quem ele tivera um longo ‘caso’ nos anos 50. Maria Lúcia tinha agora 14 anos. (Quando Nelson a vira pela última vez, ela tinha quatro anos). A menina falou-lhe de seus dois irmãos. Sônia, de doze anos, e Paulo César, de dez. Durante todo aquele tempo tinham se mantido afastados porque sua mãe os proibira de vê-lo. Mas agora estavam em dificuldades: a mãe se ‘ausentara’, precisavam que lhe desse uma pensão.

Nelson não gostou do que ouviu. Admitia que o garoto fosse seu, mas nunca tivera certeza quanto às meninas. Maria Lúcia alegou que tinham certidões de nascimento, que Nelson os reconhera como filhos. Nelson negou que tivesse feito tal coisa”.

Mais lá na frente ainda diz: “Nelson disse várias vezes a Augustinho (irmão de Nelson): ‘Não me incomodaria de ajudar se elas não fossem tão desagradáveis e hostis. Desse jeito, é uma chantagem’.

Segundo o pessoal da Dupla Comunicação, as mesas gravadas depois serão disponibilizadas na internet. Vou ficar ligada para assim que essa estiver no ar, colocar o link por aqui!

As filhas de Nelson Rodrigues e Yolanda. Foto: Leandro Lima

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Central de Vendas do FRTN ainda não começou a funcionar

Central de vendas vai funcionar no Centro Apolo Hermilo

Uma notinha de utilidade pública para quem já estava se preparando para comprar os ingressos do Festival Recife do Teatro Nacional. A Central de Vendas, no Centro Apolo-Hermilo, ainda não estava funcionando. A organização do festival havia divulgado que a central começaria a vender os ingressos às 10h.

No facebook, algumas pessoas já repercutiram: “Como acontece todos os anos, o Festival Recife de Teatro Nacional começa desorganizado. A venda de ingressos teria início hoje às 10h. Fui comprar e não havia ingressos para vender, nem ninguém da produção para explicar ou dizer uma nova data ou horário. Eu realmente amo muito teatro para todos os anos passar por essa falta de respeito e desorganização”, escreveu Juliana Holanda. Neste mesmo post outra pessoa comentou: “Também fui lá, Ju. O rapaz disse que ficou sabendo que começaria a vender hoje à tarde. A hora? Ele disse: “depois do almoço já é de tarde. Só não sei a hora””.

“O Teatro Apolo estava com as portas fechadas. Pela janela falei com um funcionário que me disse que nem sabia da venda desses ingressos. Ele chamou outra pessoa que me disse pra voltar às 14h, 15h. Mas é um absurdo porque nem as pessoas sabiam dar informação direito e a gente fica à mercê. Dando viagem perdida!”, contou Juliane Planzo, que esteve no Teatro Apolo durante o seu horário de almoço.

Ligamos para o Teatro Apolo e um estagiário muito atencioso explicou que os ingressos ainda não chegaram da gráfica. Disse que não sabia dar uma previsão correta. “Devem chegar hoje, mas não sei a hora”. De qualquer forma, perguntou o telefone e disse que assim que os ingressos chegassem ele avisaria.

Os ingressos do festival custam R$ 10 e R$ 5 e podem ser comprados antecipadamente nesta Central de vendas, que funcionaria das 10h às 16h, sem horário de intervalo de almoço.

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Centenário que rende

“O teatro foi muito importante para mim. E nós (Mia Couto e José Eduardo Agualusa) escrevemos duas ou três peças juntos. Lembro que quando assistimos, foi engraçado. Não sabíamos mais o que tinha sido feito por um ou outro”, disse Mia Couto na Fliporto na manhã de hoje. A mesa, na tenda principal, estava lotada.

Homenageando Nelson Rodrigues, nesses dois últimos dias, a Fliporto ainda tem uma programação que permeia muito as artes cênicas.

Hoje à tarde, às 16h30, Ruy Castro e Heloísa Seixas conversam com Geneton Moraes Neto. O tema é “Segredos e Inconfidências d’O Anjo pornográfico.

Às 20h, Edney Silvestre conversa com Claudiney Ferreira sobre o tema “Romance e drama” e depois haverá a leitura dramática da peça inédita Boa noite a todos, de Edney Silvestre, com Christiane Torloni.

Amanhã, às 10h, a primeira mesa é com Sonia Rodrigues e Maria Lucia Rodrigues (filhas de Nelson) e Adriana Armony, com mediação de Rogério Pereira sobre o tema As mulheres (d)e Nelson Rodrigues.

Ao meio-dia, José Castello e Antonio Cadengue, tratam do tema “Nelson Rodrigues em cena”, com mediação de Luis Augusto Reis.

Os ingressos para cada mesa custam R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).

Christiane Torloni vai ler Boa noite a todos, de Edney Silvestre. Foto: Leandro Lima/Divulgação

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