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Pimentel carrega cruz de Cristo há 40 anos

Paixão de Cristo do Recife chega à 21ª edição. Foto: Laís Telles

Paixão de Cristo do Recife chega à 21ª edição. Foto: Laís Telles

Fico pensando quando o ator José Pimentel parar de fazer o papel de Jesus Cristo. Vai ficar um vazio nesses dias da Semana Santa no Marco Zero. Será que alguém será tão ágil para ocupar o lugar? Não sei. Mas a tenacidade desse artista beira a uma ideia de missão. Não bem entendida por todos. Muitos o condenam por ter se agarrado a esse papel com tanta paixão. Ter colado sua imagem à personagem bíblica, jovem de 33 anos, ele que já passou dos 80. Mas outros (muitos) incentivam e aplaudem sua atuação. Pimentel carrega a cruz de Cristo há 40 anos – 19 em Nova Jerusalém e 21 no Recife. Por prazer. Por acreditar que essa história tem que continuar. Nesta Sexta-feira da Paixão ele sobe mais uma vez ao palco armado na Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, para a temporada 2017 da Paixão de Cristo do Recife. As apresentações ocorrem de hoje (14) a domingo (16), às 20h. E a previsão é que mais de 30 mil pessoas compareçam a cada noite.

Ele é tratado como um pop star por seu público e fãs. Ao terminar cada sessão, muita gente vai falar emocionada com o ator, tirar selfies. Durante muitos anos a produção explorou a “chamada” de “A Paixão de Todos”, por ser gratuita. Concebida em 1997, a Paixão de Cristo do Recife foi encenada no estádio do Arruda durante cinco anos. Depois migrou para o Marco Zero, onde ficou de 2002 a 2005. Em 2006 ocorreu em frente ao Forte do Brum. E desde 2007 ocupa o Marco Zero e se torna uma espécie de renovação de fé em um Ser que se sacrificou pela humanidade. O calvário de Jesus é uma das poucas coisas que comovem esse mundo tão embrutecido. Essa representação mobiliza multidões.

Cena da Crucificação em Nova Jerusalém, onde o ator interpretou Jesus por 19 anos. Foto: Arquivo José Pimentel

Cena da Crucificação em Nova Jerusalém, onde o ator interpretou Jesus por 19 anos. Foto: Arquivo José Pimentel

Pimentel está certo que “encarnar” Cristo o tornou uma pessoa melhor. Gosta de repetir que o mandamento “Amai-vos uns aos outros” deveria ser utilizado em todos os momentos da nossa existência. Agora mais do que nunca, com tanta violência e ódio multiplicado em todas as instâncias. Para ele, a peça também é uma lição de vida.

As dificuldades para fazer o papel foram maiores neste ano. Em dezembro passado, o ator, diretor e autor do texto passou 12 dias internado depois de se submeter à cirurgia para tratar uma hérnia inguinal e de complicações como uma embolia pulmonar. Mas seu histórico como fisiculturista e o hábito de realizar exercícios físicos regulares ajudaram na recuperação.

O papel exige muito. As cenas da crucificação e levitação de Jesus Cristo, por exemplo, são exaustivas. E mesmo que o pulmão não esteja 100%, ele descartou qualquer possibilidade de ter um dublê. “Não iria enganar a plateia com um dublê. Muitas das pessoas que lotam o Marco Zero me acompanham há anos. Não seria justo com elas”.

Temporada em 2017 vai de sexta a domingo, no Marco Zero. Foto: Wellington Dantas/ Divulgação

Temporada em 2017 vai de sexta a domingo, no Marco Zero. Foto: Wellington Dantas/ Divulgação

Cem atores e 300 figurantes ocupam a estrutura montada no Marco Zero, com três plataformas onde as cenas são desenvolvidas. Os cenários são assinados por Octávio Catanho e os figurinos por Edilson Rygaard (saudoso ator da Trupe do Barulho) e Roberto Costa.

No elenco estão Angélica Zenith no papel de Maria; Gabriela Quental faz Madalena; Renato Phaelante, do Teatro de Amadores de Pernambuco, interpreta Caifás; Pedro Souza, Pilatos; e Ivo Barreto, do Coletivo Angu de Teatro, defende o personagem Judas.

José Pimentel investiu sua carreira nos megaespetáculos ao ar livre e também leva sua assinatura como dramaturgo, ator e diretor de O calvário de Frei Caneca, Jesus e o Natal, Batalha dos Guararapes, A Revolução de 1817 e o mais recente, O massacre de Angico – A morte de Lampião, encenado em Serra Talhada, no Sertão pernambucano.

Desde o início da Paixão de Cristo do Recife Pimentel vive nessa peleja. Todo ano é a mesma dificuldade de produção. Os apoios governamentais são insuficientes, segundo o artista. Os patrocínios não chegam. E ele não desiste. Pelo menos até agora. O artista conta que precisaria de R$ 800 mil para cobrir todos os custos, mas a produção só conseguiu metade deste valor. É um milagre que Pimentel realize essa Paixão de Cristo há 21 anos. “Posso segurar a cruz! ”, diz resistente.

SERVIÇO
21ª PAIXÃO DE CRISTO DO RECIFE
Quando: 14, 15 e 16 de abril, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Quanto: Gratuito

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Uma batalha histórica – e outra atual

Batalha dos Guararapes – assim nasceu a Pátria. Fotos: Ivana Moura

TEXTO: IVANA MOURA

Sábado me mandei rumo ao Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, para conferir o megaespetáculo Batalha dos Guararapes – assim nasceu a Pátria. A peça começa como uma aula de história e foi com alegria que vi Zuleika Ferreira no palco, como uma das alunas.

Com 64 atores atores, fiquei tentando identificar os artistas que conheço e essa busca se tornava mais interessante nas cenas com muita gente. Pedro Francisco de Souza (Nassau), Reinaldo de Oliveira (João Fernandes Vieira), Ivonete Melo (Maria César, esposa de João Fernandes Vieira) – se destaca na cena em que confronta o marido.

Reinaldo de Oliveira e Rogério Costa

As mulheres dessa história são muito infelizes no casamento. A que tinha mais chance de levar uma vidinha feliz, Bárbara (Ana Claudia Wanguestel), mulher de Calabar (Eduardo Filho), vê seu homem ser enforcado por suposta traição.

Como é sabido, a montagem trata da expulsão dos holandeses no Brasil no século XVII. A peça tem texto e direção de José Pimentel, que também atua no espetáculo no papel de Vidal de Negreiros.

Aparecem em cena figuras como, além das já citadas, Henrique Dias (Demétrio Rangel), Felipe Camarão (Felipe Lopes), Barreto de Menezes (Manoel Constantino), Frei Salvador (Rogério Costa), Carlos Mesquita (Tourlon), Ana Paes (Angélica Zenith).

Lógico que as marcas de Pimentel estão lá. A cena do enforcamento, a subida ao céu de Nossa Senhora, na cena em que os heróis pernambucanos rezam para vencer a luta. E também no final, com o show pirotécnico. Mas isso nao é pecado, digamos que é estilo.

José Pimentel atua e dirige a montagem

Acho importante destacar a garra com que os atores defendem o espetáculo. Com algo de idealismo, de paixão, de resistência mesmo. Como dissemos aqui no Yolanda, a prefeitura de Jaboatão deu pra trás no patrocínio e na estrutura que havia apalavrado. Mesmo asim a produtora Métron, de Edivane Bactista e Ruy Aguiar, renegociou caches de atores e serviços de fornecedores para manter a Batalha.

A produtora também faz questão de dizer que A Batalha dos Guararapes faz parte do calendário cultural e turístico do Estado de Pernambuco. Mas se é assim, porque todo ano é essa mesma peleja atrás de patrocínio? Não interessa que essa historia seja contada? O governo não acha importante?

O espetáculo cumpre o seu papel. Com as cenas encurtadas, a montagem ficou mais ágil. E a engrenagem complexa funciona a contento, com gente, som, luz, precisão de tempo, efeitos especiais.

Gostaria de ver essa Batalha com verba suficiente para realizar tudo o que foi planejado. De elenco a efeitos especiais. Uma grande producão.

Reinaldo de Oliveira e Ivonete Melo

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Paixão de Cristo do Recife

Pelo 35º ano, o ator José Pimentel carrega a cruz de Jesus numa encenação da Paixão de Cristo. E desde que saiu de Nova Jerusalém, ele comanda a Paixão do Recife pelo 16º ano seguido. É uma façanha, a despeito de qualquer crítica de que o ator está velho para o papel. Aprende-se que no teatro o tempo é mais generoso com os intérpretes do que no cinema ou na televisão.  Essa magia é um acordo estabelecido entre palco e plateia. E, se depender do público da Paixão do Recife, Pimentel pode continuar a ser o Cristo por muitos anos: enquanto ele conseguir convencer os seus fãs, ter força e disposição para encarar uma maratona de duas horas de duração, que exige muito do seu elenco.

Jesus encontra Maria

A temporada deste ano da Paixão de Cristo do Recife foi iniciada nessa quarta-feira, no Marco Zero, com cerca de meia hora de atraso. A chuva que caiu durante os primeiros minutos da apresentação fez o batismo deste ano.

Com a saída de alguns atores, pequenas cenas foram cortadas, o que deu um pouco mais de agilidade à encenação. Foram oito substituições no time principal, mas os que assumiram já participavam da peça em papéis menores. Angélica Zenith ficou com o personagem de Maria, Gabriela Quental, o de Madalena, Mário Miranda, Judas Iscariotes e Demônio do Sermão, Michelline Torres (Mulher do Sermão) e Rogério Rangel (Sacerdote Anás). Principalmente as atrizes dão um sopro de renovação ao espetáculo.

Dos veteranos da montagem estão Renato Phaelante (Caifás), Reinaldo de Oliveira (Herodes) e Roberto Emmanuel (João). De última hora, o ator Pedro Francisco de Souza entrou no lugar de Octávio Catanho, como Pilatos.

A participação de Geninha da Rosa Borges é uma alegria. Com quase 90 anos, que completará em 21 de junho, a presença da atriz é quase um metateatro a repassar décadas de atuação e da história do teatro pernambucano em breve cena.

As cenas coletivas, com a participação de figurantes ganham uma força tremenda. Com suas coreografias. Seus desenhos. E como é destacada a crítica que o espetáculo faz da manipulação das massas pelos detentores do poder.

Cena de Pilatos

As três estruturas armadas no Marco Zero se transformam em nove palcos com diferentes cenários, idealizados por Octávio Catanho.

José Pimentel é o líder que reclama, que briga para manter seu espetáculo, que agrega em torno de si um elenco de 100 atores e 300 figurantes. É dele também a direção e a adaptação do texto.  E ele interpreta um Cristo que se zanga, que desafia os poderosos, que perdoa sem deixar de enxergar os erros humanos.

O texto adaptado guarda elegância sonora e poeticidade. E o grande trunfo da montagem é que ano após ano desperta a emoção do seu público.

Acessibilidade

A produção informa que a apresentação da Paixão de Cristo do Recife desta quinta-feira (05/04) contará pela primeira vez com intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A ação é uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife com a Faculdade Franssinetti do Recife (FAFIRE).

SERVIÇO

Paixão de Cristo do Recife

Quando: De 4 a   8 de abril, às 20h

Onde: Praça do Marco Zero, Recife Antigo

Quanto: Entrada Franca

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