Arquivo da tag: Teatro Luiz Mendonça

Uma comédia que quase ri da nossa insanidade
Crítica: Simples Assim

Georgiana Góes e Julia Lemmertz em Simples assim. Foto: Victor Hugo Ceccato.

Uma falha no sistema de microfones nos primeiros minutos da apresentação quase comprometeu a estreia de Simples Assim no Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, no Recife, na última sexta-feira – ironia não planejada para um espetáculo que justamente discute nossa dependência tecnológica. A peça, que ainda cumpre duas sessões no fim de semana, abre com uma cena alegórica: um âncora de telejornal (Pedroca Monteiro) que, ao noticiar uma sequência infindável de tragédias – “militares disparam mais de 80 tiros contra um carro com família”, fogo no parquinho, corrupção,  – gradualmente esmorece até confessar: “Cheguei no meu limite”. O quadro sintetiza a proposta do espetáculo: retratar com humor leve as pequenas insanidades de nosso cotidiano. Essa cena toda, que deveria chegar por cima para provocar a indignação e risos, perdeu a força devido ao problema de microfones, o que dificultou a recepção desses primeiro quadro.

Baseada nas crônicas de Martha Medeiros e adaptada pela própria autora em parceria com Rosane Lima, a montagem apresenta dez cenas inspiradas nas coletâneas Quem Diria que Viver Iria Dar Nisso e Simples Assim. As crônicas, conhecidas por seu tom leve e ocasionalmente divertido, não trazem revelações surpreendentes, mas capturam pequenos dramas cotidianos com precisão. O elenco, composto por Julia Lemmertz, Georgiana Góes e Pedroca Monteiro, transita por diferentes personagens que se interconectam através de uma engenhosa estrutura circular onde cada cena compartilha um personagem com a seguinte, criando uma teia narrativa que conecta diferentes neuroses atuais.

O apresentador de telejornal exausto pelas notícias trágicas surta no ar e deixa contrariada sua produtora, que vai ajudar uma amiga que diz que vai viajar para outro planeta; esta amiga abandona o amante executivo viciado em tecnologia; este homem, que só consegue dialogar através das telas, é marido da mulher que, sobrecarregada pela rotina, contrata uma dublê para substituí-la em compromissos familiares; e assim segue a cadeia de personagens, conectando cada quadro ao seguinte numa estrutura que espelha o ciclo de desencontros.

Não se trata de uma comédia de reflexões profundas, mas sim um retrato bem-humorado do cotidiano da classe média branca brasileira, com seus problemas e privilégios específicos. No entanto, as cenas sobre nossa relação com a tecnologia, o isolamento social e a superficialidade das relações contemporâneas acabam se tornando, ironicamente, superficiais demais. A expectativa era que a cena como um todo tivesse mais humor e provocasse mais risos, como prometido nos anúncios, o que não se concretiza durante boa parte da apresentação.

Veterano nos textos de Martha Medeiros, Ernesto Piccolo apresenta sua terceira montagem da autora com uma direção conservadora. Conhecido por trabalhos mais ousados em outras produções, o diretor aqui opta por uma abordagem que contradiz a irreverência sugerida pelo tema. Seu trabalho oscila entre lampejos de inspiração e longos trechos de marasmo cênico que drenam a energia cômica. Quando aposta na interação direta com o público ou em soluções mais arriscadas, a comédia respira; quando se acomoda em escolhas mais convencionais, a dinâmica desacelera. As transições entre os quadros, embora tecnicamente funcionais, carecem de efeito cômico, principalmente na primeira parte do espetáculo especialmente morosa.

As crônicas de Martha, que cintilam na intimidade entre leitor e página com sua precisão do trivial, enfrentam no palco o desafio da adaptação literária: transformar o que é sussurro confidencial em voz projetada. O que no papel convida à reflexão solitária e sorrisos de reconhecimento exigiria no teatro uma tradução cênica mais provocativa, capaz de recriar coletivamente aquela faísca de identificação que a autora alcança tão naturalmente na solidão da leitura.

Os figurinos de Helena Araújo são um dos pontos altos da produção, com peças coloridas e versáteis que auxiliam na rápida transformação dos atores entre personagens. A iluminação de Felício Mafra cria ambientes distintos com sutileza, conseguindo delimitar espaços dentro do palco aberto sem quebrar o ritmo das transições. A cenografia tem poucos elementos no palco além de algumas cadeiras e um grande telão ao fundo. Este telão projeta cenas de notícias e, por vezes, imagens dos próprios atores em diferentes situações.

Pedroca Monteiro e Julia Lemmertz. Foto: Victor Hugo Ceccato

Há um jogo interessante entre as duas atrizes e o ator em cena, que transitam entre diferentes personagens com alguma versatilidade. Esta energia entre eles, contudo, nem sempre consegue contagiar o público. Quando isso acontece, principalmente na segunda metade do espetáculo, a peça ganha a leveza prometida.

Julia Lemmertz leva pro palco a sofisticação e a credibilidade conquistadas em décadas de atuação na TV e no cinema. Conhecida por personagens de maior densidade dramática, a atriz segura o cômico com elegância. Um de seus momentos mais desafiadores acontece quando desce à plateia para interpretar uma mulher com “nomofobia” – o medo irracional de ficar sem celular. Lemmertz estabelece um vínculo especial com os espectadores, mesclando a familiaridade de seu rosto conhecido à capacidade de capturar, com delicadeza, as pequenas neuroses do nosso tempo.

A versatilidade é a marca do trabalho de Georgiana Góes nesta montagem. Quando encarna a personificação da Morte – vestida de branco, – a atriz cria um dos raros momentos de tensão genuína do espetáculo. Enquanto esquadrinha a plateia procurando “alguém”, Góes provoca um riso nervoso, quase desconfortável, transformando o quadro em uma experiência emocionalmente ambígua.

Já Pedroca Monteiro inicia com uma energia inconsistente que afeta o ritmo inicial do espetáculo. O que parece insegurança revela-se, aos poucos, como uma escolha para alguns personagens mais exaltados. O ator encontra seu melhor momento na pele do já mencionado apresentador de telejornal que, diante da enxurrada de notícias trágicas, tem um colapso existencial em pleno ar, mas que depois retorna como uma versão transformada de si mesmo.

Plateia: termômetro de uma comédia que hesita

A recepção do público funciona como um infalível indicador da eficácia de uma comédia, e aqui os sinais foram preocupantes: silêncio predominante na primeira metade, com risos escassos e educados. O espetáculo só ganha vivacidade quando os atores começam a improvisar, soltar “cacos” sobre locais, personalidades e situações específicas da cidade, provocando finalmente as gargalhadas espontâneas.

Simples Assim, que iniciou sua trajetória em São Paulo em setembro de 2019 e agora percorre o Brasil, oferece 90 minutos de uma pausa agradável em nosso frenético cotidiano. Com classificação indicativa de 12 anos, a montagem cumpre seu papel ao retratar com honestidade e alguns momentos de graça as neuroses e ansiedades de uma classe média que se vê cada vez mais desconectada apesar (ou por causa) de toda sua hiperconexão digital. E oferece um espelho onde parte do público consegue se reconhecer – às vezes com um sorriso, outras com um desconfortável aceno de cabeça.

Pedroca Monteiro e Julia Lemmertz em cena de acerto de contas. Foto: Victor Hugo Ceccato

Ficha Técnica
Texto e adaptação: Martha Medeiros e Rosane Lima.
Direção Artística: Ernesto Piccolo.
Elenco: Julia Lemmertz, Georgiana Góes e Pedroca Monteiro.
Produção e idealização: Gustavo Nunes.
Cenografia: Clivia Cohen.
Projeções Cênicas: Rico Vilarouca / Renato Vilarouca.
Figurino: Helena Araújo e Alfaiataria Conrado.
Luz: Felício Mafra.
Trilha Sonora: Rodrigo Penna.
Visagismo: Uirandê Holanda.
Produtora de Elenco: Yolanda Rodrigues.
Preparação Corporal: Cristina Moura.
Designer
Fotos: Victor Hugo Ceccato.

 

 

 

 

Postado com as tags: , , , , , , , ,

Entre o humor e a falta de sentido

Cia Atores de Laura, do Rio de Janeiro, reapresenta hoje o espetáculo Absurdo. Fotos: Pollyanna Diniz

Alguém calunia você em praça pública e você em vez de procurar o advogado, a polícia ou os “capangas” continua a conviver com esse crápula com a educação que sua mãe e as rígidas freiras do colégio caríssimo lhe deram. Outra cena, um fulano sempre que lhe encontra lhe abraça e lhe beija, diz que você é sensacional, mas na verdade ele lhe odeia e quando você vira as costas fala coisas horríveis e até faz campanha para ocupar o seu lugar na firma; ou quer que você morra – real ou simbolicamente. Um espectador normal, que não seja tomado pela ganância e pela inveja em doses cavalares possivelmente achará essas cenas absurdas.

O diretor do grupo Atores de Laura, Daniel Herz diz que “as questões do teatro do absurdo estão camufladas no cotidiano”, que a peça que foi apresentada ontem e será reapresentada hoje no Teatro Luiz Mendonça, do Parque Dona Lindu, mostra que “quanto mais conhecemos alguém, mais se abre um abismo de desconhecimento”. É, muitas vezes…Um paradoxo a se enfrentar.

O espetáculo Absurdo traz um texto de criação coletiva da companhia carioca. A peça tem como referência o Teatro do Absurdo e as obras de Eugène Ionesco e outros mestres desse movimento. A criação coletiva do texto traz rasgos de humor e inteligência que conseguem a aderência da plateia, mas isso não ocorre o tempo todo. Há uma frouxidão na dramaturgia que contamina todo o jogo dramático.

Uma mesa de jantar e quatro cadeiras compartilhadas por dois casais. Eles habitam o mesmo espaço cênico. Mas cada casal só dialoga entre si, cada marido com sua própria mulher. Os dois casais vivem o mesmo dilema da sobrevivência da relação amorosa após 20 anos.

Direção é de Daniel Herz e dramaturgia é coletiva

Essas pessoas da sala de jantar também dividem o mesmo e único filho. E também podem trocar de parceiros. A revelação desse filho é uma das cenas que vale o espetáculo. A outra é quando o homem caído no chão é carregado até a mesa. Algumas cenas de repetição também são muito interessantes.

O elenco dos atores de Laura é ótimo: Ana Paula Secco, Anderson Mello, Luiz André Alvim, Márcio Fonseca e Verônica Reis. Mas a montagem recai num abismo monótono e até chatoso, na gangorra de afirmações e negações sem avanços estilísticos para tratar do desatino e de um círculo vicioso de falta de soluções. Eles partem de situações aparentemente bem comuns para chegar à incomunicabilidade ou às circunstâncias ilógicas.

Montagem faz parte das comemorações dos 20 anos do grupo

O espetáculo ganha quando tem mais agilidade e perde quando emperra no contraste. O jogo de contrários não tem força suficiente para que a montagem flua com a proposta do grupo de ir na corrente do humor de Ionesco e afastado do peso de Beckett. As escolhas do dramaturgo irlandês e sua consciência do vazio de sentido não passam perto da montagem, mas a leveza e o humor irresistível de Ionesco também não ganham fôlego nas opcões do grupo pelo ilógico e irracional.

Na encenação Absurdo a palavra mente. Frases são ditas e a outra pessoa escuta outra coisa. O simulacro do casamento nao alcança a distorção cênica gerada pela intimidade. Falta uma maior sustentação. Os diálogos ganham um aspecto mais superficial e falta uma amarração das cenas como um todo.

Apesar do humor, diálogos geralmente não conseguem fugir da superficialidade

Postado com as tags: , , , , , , , , , ,

Edwin Luisi é o show

Edwin Luisi em Tango, bolero e cha cha cha. Fotos: Pollyanna Diniz

Da primeira vez que protagonizou Tango Bolero e Cha Cha Cha, em 2000, Edwin Luisi arrebatou cinco prêmios de melhor ator (Associação Paulista dos Críticos de Arte-APCA, SHELL, Quality Brasil, Governador Estado Rio de Janeiro e o Mambembe). Ao completar 40 anos de carreira o artista volta com Lana Lee/Daniel, transexual que magnetiza o espetáculo. A montagem faz a terceira apresentação hoje, no Teatro Luiz Mendonça, do Parque Dona Lindu, dentro do projeto Janeiro de Grandes Espetáculos.

O texto é de Eloy Araújo e a direção de Bibi Ferreira. Na trama, Daniel abandonou a família 10 anos antes e volta como o transexual Lane Lee para dar explicações à família sobre o que aconteceu. Ele se transformou numa estrela nos palcos de Paris e Nova York. A mulher mora no mesmo lugar, mudou pouco a disposição dos móveis e é meio lentinha para entender as coisas (ah, está também mais gordinha). O filho, agora adolescente, é revoltado com a atitude do pai, mas ao mesmo tempo mostra-se imaturo e carente.

Esse conflito perde o ar grave com a interpretação de Edwin Luisi – o Genaro da novela Rebelde (Record) – “sarocoteando daqui pra acolá”. Ele pula, dança, grita, explora tiques, e se diverte neste espetáculo.

Edwin Luisi já fez personagens inesquecíveis na televisão, como o protagonista Álvaro da primeira versão de A Escrava Isaura ou o assassino do personagem Salomão Hayala na primeira versão da novela O Astro. A última vez que esteve no Recife, que me lembro, foi com Eu Sou a Minha Própria Mulher, peça em que se multiplicava em 22 papéis diferentes, entre eles, um travesti.

Em Tango Bolero e Cha Cha Cha ele expõe seu talento e o sacrifício de passar quase duas horas “amarrado” por meias, espartilho, sutiã, em cima de um salto. Sua diva é cheia de cacoetes. O humor cáustico e a ironia da protagonista provocam gargalhadas que têm um efeito de onda na plateia.

Daniel volta ao Brasil como Lana Lee e trazendo o noivo Peter

Confesso que não achei tanta graça assim. Apesar de reconhecer o talento, o valor interpretativo do ator principal, prefiro um humor mais sofisticado, mais ao tipo de O deus da carnificina.

Mas o público adora Lana Lee e suas excentricidades. E se diverte com uma dramaturgia que transforma um problema grave em comédia para rir mesmo. Embarca nas tiradas previsíveis, nas piadas infames.

O elenco usa e abusa das gags com alto teor sexual. São personagens caricatas. A que mais se destaca é Carolina Loback, no papel da empregada doméstica “folgada” Genevra, que lembra algum personagem do Sai de Baixo. Ela provoca muitos mal entendidos no espetáculo. O ator que interpreta o filho (Johnny Massaro) é o mais fraco e não dá contraponto a esse humor escrachado, de ritmo frenético.

A folgada empregada Genevra entendeu tudo errado

É demorada demais a revelação. Fica parecendo que a mulher (Alice Borges) que foi trocada pelo bofe é um pouco retardada ou não vive neste mundo. Estica demais o que está óbvio. E o final também promete bem mais do que dá. E aquela enrolação do Peter (Pedro Bosnich) na frente das cortinas como apresentador é demais.

Clarice quase não consegue entender que Lana Lee é Daniel

A peça é recheado de clichês. Mas pode ser encarada como uma comédia de costumes, que questiona com humor o preconceito, inclusive dos que estão rindo.

Lana Lee fazendo sucesso nos palcos de Paris

Momento "eu sou é macho"

Postado com as tags: , , , , , , , , , ,

Quebra-nozes no Dona Lindu

O quebra-nozes. Foto de Teresa Maia

É hoje, 18h, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu, Boa Viagem), a apresentação da versão pernambucana do balé de repertório O quebra-nozes. O palco estará aberto para a esplanada. A direção geral do espetáculo é de Fátima Freitas, que selecionou 43 bailarinos, inclusive 12 crianças em audição. No elenco tem artistas do Ballet da Cidade do Recife e do corpo de baile da escola Fátima Freitas, além de integrantes do Stúdio de Danças, Ballet Cláudia São Bento, Carol Lemos, Aria Social.

Nos papéis principais, Luana Gondim (Clara), que dança no Bolshoi de Joinville (SC); Alexander Kaden (Quebra-Nozes); Juliana Siqueira e o cubano Luís Ruben Gonzalez. A trilha sonora será executada ao vivo, pela Orquestra Sinfônica do Recife, sob a regência do maestro Osman Gioia.

A realização é da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura do Recife.

Postado com as tags: , , , , , , , ,

É rock and roll na veia e no palco

Narrativa é costurada por fantasma de ator que interpretou Hamlet. Foto: Pollyanna Diniz

Quando estavam criando a peça Antes da coisa toda começar, os atores da Armazém Companhia de Teatro assistiram ao documentário O equilibrista. A história de um homem que, em 1974, queria atravessar as Torres Gêmeas se equilibrando num cabo de aço ajudou a despertar aqueles intérpretes. Era o limite tênue entre o mágico e o fatal. Quais os momentos em que nos sentimos capazes de tudo ou os opostos, quando perdemos o chão? São essas as sensações evocadas na montagem que será apresentada no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, de hoje até sexta-feira, sempre às 21h.

Antes da coisa toda começar é a peça mais recente desta companhia surgida em Londrina e radicada no Rio de Janeiro. Ano que vem, o grupo comemora 25 anos (com uma peça nova, que estreia em setembro). “A gente queria falar sobre o que chamamos de ‘primeiras sensações’, esses primeiros momentos na vida em que a gente se sente único, potente, indivíduo, capaz de tudo. Esse momento talvez esteja ligado à juventude, mas está ligado também totalmente à questão da criação. Percebemos que, para a maioria de nós do grupo, esse momento estava relacionado ao teatro, quando a gente acreditou que era importante, que tinha algo a dizer e que as pessoas iriam se interessar em ouvir a nossa voz”, explicou o diretor Paulo de Moraes.

É uma montagem de pegada muito mais rock and roll do que a penúltima, Inveja dos anjos, apresentada no Santa Isabel ano passado. “Inveja dos anjos tinha uma relação direta com a delicadeza, tanto na história quanto no trabalho dos atores. Quando fomos iniciar o novo trabalho, ficou claro que a gente queria ir para outro lado, a gente queria o rock’n’roll, queria uma estética mais cortante. Acho que isso tem a ver com essa tentativa de se reinventar a cada novo trabalho, de não se acomodar com o que já foi conquistado. Aos poucos fomos percebendo que a gente estava falando muito sobre nós mesmos, sobre nossos medos, desejos. Acho que a gente se expõe bastante, corta na própria carne”.

Patrícia Selonk como Zoé

Antes da coisa toda começar tem uma narrativa costurada pelo fantasma de um ator que interpretou Hamlet. E ele quem encontra os três personagens principais, de histórias independentes: Zoé, uma garota apaixonada pelo irmão; Léa, uma cantora doente; e Téo, um ator. Estão em cena Patrícia Selonk (em ótima interpretação como Zoé), Thales Coutinho, Simone Mazzer (Simone foi substituída em muitas apresentações por Rosana Stavis, mas está de volta ao elenco), Ricardo Martins, Marcelo Guerra, Verônica Rocha e Karla Tenório.

A dramaturgia foi construída, mais uma vez, em parceria por Paulo de Moraes e o poeta Maurício Arruda Mendonça. Esse é, aliás, o décimo texto produzido pela dupla. “É vital para o grupo esse tipo de construção. A gente parte de uma pesquisa temática, trabalha com ela durante alguns meses, até que começam a surgir alguns personagens e situações de cena. Quando isso acontece, eu e Maurício nos juntamos para começar a pensar num roteiro. Com o roteiro estabelecido, continuo trabalhando com os atores, tentando aprofundar as questões e os personagens contidos ali. Ao final, eu e Maurício nos trancamos alguns dias pra escrever a peça”, conta o diretor.

A trilha sonora é executada ao vivo pelos próprios atores, o que seria uma influência do grupo Galpão, de Minas Gerais. “A gente fez uma troca de experiências com o Galpão no início de 2010. Os atores dos dois grupos passavam exercícios que tinham a ver com a forma de cada grupo construir seus espetáculos.Os exercícios do Galpão eram muito ligados à música e isso reacendeu um desejo antigo dos atores do Armazém de cantar e tocar instrumentos em cena”. Os atores formam uma banda (Ricco Viana, pernambucano que assina a direção musical, também está em cena) que fica em plataformas construídas nas laterais do palco, a dois metros do chão. A cenografia é de Paulo de Moraes e Carla Berri; a iluminação de Maneco Quinderé e os figurinos de Rita Murtinho.

Passado e presente se misturam nessa que é mais uma tentativa do grupo de contar histórias, mesmo que, como diz um dos personagens, a vida não siga em linha reta e os fatos não se encaixem uns nos outros como peças de um quebra-cabeças. “A gente não sabe viver sem fazer teatro. A gente quer entender um pouco melhor a vida, o homem, o nosso tempo. E o jeito como a gente se sente mais útil nessa ideia de reconstrução constante da humanidade é no palco”, finaliza Moraes. No início do ano que vem, a peça Antes da coisa toda começar será apresentada em Natal, João Pessoa e Fortaleza; e o grupo ficará em cartaz no Rio com três montagens do seu repertório: Alice através do espelho, Toda nudez será castigada e Inveja dos anjos.

Antes da coisa toda começar, da Armazém Companhia de Teatro
Quando: de hoje a sexta-feira, às 21h
Onde: Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 3355-9821

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,