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Entre o humor e a falta de sentido

Cia Atores de Laura, do Rio de Janeiro, reapresenta hoje o espetáculo Absurdo. Fotos: Pollyanna Diniz

Alguém calunia você em praça pública e você em vez de procurar o advogado, a polícia ou os “capangas” continua a conviver com esse crápula com a educação que sua mãe e as rígidas freiras do colégio caríssimo lhe deram. Outra cena, um fulano sempre que lhe encontra lhe abraça e lhe beija, diz que você é sensacional, mas na verdade ele lhe odeia e quando você vira as costas fala coisas horríveis e até faz campanha para ocupar o seu lugar na firma; ou quer que você morra – real ou simbolicamente. Um espectador normal, que não seja tomado pela ganância e pela inveja em doses cavalares possivelmente achará essas cenas absurdas.

O diretor do grupo Atores de Laura, Daniel Herz diz que “as questões do teatro do absurdo estão camufladas no cotidiano”, que a peça que foi apresentada ontem e será reapresentada hoje no Teatro Luiz Mendonça, do Parque Dona Lindu, mostra que “quanto mais conhecemos alguém, mais se abre um abismo de desconhecimento”. É, muitas vezes…Um paradoxo a se enfrentar.

O espetáculo Absurdo traz um texto de criação coletiva da companhia carioca. A peça tem como referência o Teatro do Absurdo e as obras de Eugène Ionesco e outros mestres desse movimento. A criação coletiva do texto traz rasgos de humor e inteligência que conseguem a aderência da plateia, mas isso não ocorre o tempo todo. Há uma frouxidão na dramaturgia que contamina todo o jogo dramático.

Uma mesa de jantar e quatro cadeiras compartilhadas por dois casais. Eles habitam o mesmo espaço cênico. Mas cada casal só dialoga entre si, cada marido com sua própria mulher. Os dois casais vivem o mesmo dilema da sobrevivência da relação amorosa após 20 anos.

Direção é de Daniel Herz e dramaturgia é coletiva

Essas pessoas da sala de jantar também dividem o mesmo e único filho. E também podem trocar de parceiros. A revelação desse filho é uma das cenas que vale o espetáculo. A outra é quando o homem caído no chão é carregado até a mesa. Algumas cenas de repetição também são muito interessantes.

O elenco dos atores de Laura é ótimo: Ana Paula Secco, Anderson Mello, Luiz André Alvim, Márcio Fonseca e Verônica Reis. Mas a montagem recai num abismo monótono e até chatoso, na gangorra de afirmações e negações sem avanços estilísticos para tratar do desatino e de um círculo vicioso de falta de soluções. Eles partem de situações aparentemente bem comuns para chegar à incomunicabilidade ou às circunstâncias ilógicas.

Montagem faz parte das comemorações dos 20 anos do grupo

O espetáculo ganha quando tem mais agilidade e perde quando emperra no contraste. O jogo de contrários não tem força suficiente para que a montagem flua com a proposta do grupo de ir na corrente do humor de Ionesco e afastado do peso de Beckett. As escolhas do dramaturgo irlandês e sua consciência do vazio de sentido não passam perto da montagem, mas a leveza e o humor irresistível de Ionesco também não ganham fôlego nas opcões do grupo pelo ilógico e irracional.

Na encenação Absurdo a palavra mente. Frases são ditas e a outra pessoa escuta outra coisa. O simulacro do casamento nao alcança a distorção cênica gerada pela intimidade. Falta uma maior sustentação. Os diálogos ganham um aspecto mais superficial e falta uma amarração das cenas como um todo.

Apesar do humor, diálogos geralmente não conseguem fugir da superficialidade

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Festa para Gonzaga, festa no teatro

Gonzagão – A lenda foi ovacionado no Santa Isabel. Fotos: Ivana Moura e Pollyanna Diniz

Quando soube que o 15º Festival do Teatro Nacional iria abrir com mais uma homenagem a Luiz Gonzaga pensei: Mais uma. A curadoria apostou no fluxo, nada contra a maré. Centenário, musical, Luiz Gonzaga, a primeira participação de João Falcão num festival que já existe há tanto tempo. Depois fiquei assuntando. O festival resolveu abrir com uma atração que contagiasse o público. E os coordenadores pegaram a maré e surfaram bem.

João Falcão sabe juntar como poucos um punhado de clichês que ele transforma numa cena deslumbrante. Sua linguagem é direta e poética. Umas perguntas bestas e respostas tolas com ele funcionam super bem. Isso não é defeito. É estilo. Tem isso na peça A máquina, A dona da história, nas peças lá atrás que ele fez com seu grupo recifense, como Pequenino grão de areia e Muito pelo contrário.

Dramaturgia evita conflitos

Na peça Gonzagão – A lenda o dramaturgo e encenador juntou um bando de ator bom, que canta, dança, interpreta, tem sinergia. E que confiam tanto um no outro que isso possibilita que eles se joguem no espetáculo sem medo. E isso é mais uma marca de Falcão. Além do elenco talentoso, cheio de energia, com corpo e voz disciplinados para a empreitada, com domínio cênico, o encenador contou com músicos danado de bons.

É certo que nessa dramaturgia João Falcão evita os conflitos. Como por exemplo na relação de Gonzagão e Gonzaguinha. Ele tem um olhar mais generoso e acho que prefere contar e cantar a alegria, a esperança, a possibilidade de mostrar que todos tem uma estrela. As peças do diretor que assisti sempre me deram esse conforto, creio que resultado de sua visão positiva da vida.

Além de uma trupe que incendeia o palco, de uma dramaturgia que agrada ao grande público, das músicas bem tocadas e cantadas, de atores cativantes, de um figurino que vem da tradição mas que puxa para o romantismo, de cenário, adereços, e luz que criam um clima para alimentar a alegria.

As pessoas ao meu lado, do outro lado, atrás, nas frisas e camarotes aplaudiram em cena aberta a cada música cantada, tocada, desafiada. (Eu só gosto de aplaudir ao final, é meu jeito). Exagero ou não isso deve ter sido muito bom para o elenco e para o diretor pernambucano que no final estava bem emocionado. Ser acarinhado assim em sua terra. Isso não tem preço (E isso é um clichê!!! Mas tá valendo).

Na saída do teatro, outra fila já estava formada para a segunda sessão. Dos que já tinham visto, muita gente comemorando. Poucos, muito poucos, enciumados, invejosos, torcendo contra. Acontece nos melhores lugares. Deve ter gente que não gostou. Normal. Gonzagão – A lenda é um espetáculo para divertir e toca mais quem gosta das músicas de Luiz Gonzaga e menos das de Madonna. Ou quem uma memória afetiva dessas músicas. Eu gostei muito. ACho que cumpriu a função de abrir um festival que quer agradar o Recife num final de gestão.

Foram duas sessões lotadas. Grupo voltou ontem mesmo para o Rio, onde seguem em temporada

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Musical de João Falcão sobre Luiz Gonzaga abre Festival Recife

Gonzagão – A lenda. Fotos: Silvana Marques/divulgação

O Festival Recife do Teatro Nacional será aberto no dia 21 de novembro com o musical Gonzagão – A lenda, que tem dramaturgia e direção de João Falcão. Serão duas sessões no mesmo dia, no Teatro de Santa Isabel. Vai ser uma passagem bastante rápida da montagem pelo Recife, já que o grupo estreou no dia 19 de outubro no Teatro Sesc Ginástico, no Rio, e ainda está em cartaz por lá.

A peça tem uma hora e meia e um total de 50 músicas na dramaturgia. O elenco é bem jovem e foi montado, em grande parte, seguindo a mesma ideia do projeto Clandestinos, com audições e oficinas.

Dois nomes do elenco são pernambucanos: Eduardo Rios, do Quadro de Cena, e Paulo de Melo, que é de Petrolina. Além deles, estão em cena Marcelo Mimoso, Alfredo Del Penho, Adren Alves, Renato Luciano, Ricca de Barros, Laila Garin e Fábio Enriquez. Uma história interessante é a de Marcelo Mimoso, que funciona como um narrador da história: ele cantava na noite e era motorista de táxi. Nunca tinha ido ao teatro. João Falcão viu o rapaz numa casa de shows na Lapa e ficou encantado.

Espetáculo faz duas sessões no dia 21, no Teatro de Santa Isabel

Ainda durante os ensaios, no mês de setembro, conversamos com o pernambucano Eduardo Rios, que tinha chegado de Londres há bem pouco tempo. Lá ele fez o primeiro ano do curso de Performance e Criação em Teatro na LISPA – London Internacional School of Performing Arts. Perguntei qual seria o personagem dele. “Não sei ainda! Já sabemos fazer vários personagens, mas João vive trocando! E ainda tem muito para aparecer”, respondeu. Duda comentou ainda a construção do texto. Era fim de setembro. “O texto ainda não terminou. É um processo interessante, de muita experimentação. O texto está sendo escrito durante os ensaios, na hora”. Com a peça, o ator decidiu adiar a volta para Londres. “É um projeto que vale muito a pena. Quero deixar que as coisas rendam, talvez circular por festivais. O próprio diretor da Lispa me orientou a ficar”.

João Falcão diz que o espetáculo não é uma biografia de Luiz Gonzaga. “É um ponto de vista mais lúdico e poético do que documental”. É uma montagem baseada não só na história de Gonzagão, a partir da efeméride do centenário, mas na obra dele, seguindo o ponto de vista de uma trupe, que fala de um distante século 20, quando um menino virou rei. Rei do Sertão, que talvez tenha virado mar.

Nessa história, por exemplo, Nazarena, o primeiro grande amor de Gonzagão foi rebatizada de Rosinha; e Odaléa, mãe de Gonzaguinha, de Morena. E ainda há um suposto encontro entre Gonzaga e Lampião. Os atores se revezam em vários personagens.

A direção musical é de Alexandre Elias (o mesmo de Tim Maia – Vale tudo). Claro que tem triângulo, zabumba, sanfona. Mas também bateria e cello, por exemplo. No time de músicos no palco estão Beto Lemos (viola e rabeca – Beto fez a trilha sonora de Divinas, da Duas Companhias), Hudson Lima (cello), Rick De La Torre (percussão) e Rafael Meninão (filho de pais nascidos em Exu) e Marcelo Guerini (Acordeon).

A ficha técnica tem ainda nomes como Duda Maia, que é pernambucana, e fez a direção de movimento e preparação corporal; Andréa Alves (direção de produção e idealização); Sérgio Marimba (cenografia e adereços), Kika Lopes (figurinos), Renato Machado (iluminação), Carol Futuro (preparação vocal e assistente de direção musical) e João Vancine (assistente de direção).

João Falcão e elenco

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A coletiva de imprensa do Festival Recife do Teatro Nacional só será na próxima terça-feira (13), ao meio-dia, na churrascaria Boi e Brasa, no Pina. Geralmente a coletiva era realizada no Teatro Hermilo Borba Filho…

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Este ano, o festival – que comemora 15 edições -, vai de 21 de novembro a 2 de dezembro.

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Depois de muita coisa no meio do caminho, a curadoria do festival ficou com Lúcia Machado. Simone Figueiredo, secretária de Cultura do Recife, e André Brasileiro, presidente da Fundação de Cultura, assumiram a dianteira – são os coordenadores do festival.

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Já estamos sabendo de mais novidades! Em breve, novos posts!!! E aí? Gostaram da escolha de Gonzagão?! Segue o teaser do espetáculo:

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